FILOSOFIA Volume 06
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Coleção Estudo
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Epistemologia Moderna Autor: Richard Garcia Amorim
27 Kant Autor: Richard Garcia Amorim
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Epistemologia Moderna Autor: Richard Garcia Amorim
27 Kant Autor: Richard Garcia Amorim
FILOSOFIA Epistemologia moderna A BUSCA PELO CAMINHO QUE LEVA À VERDADE A questão acerca do conhecimento seguro é, sem dúvida, um dos maiores problemas do mundo moderno, o qual difere, essencialmente, do mundo medieval. Neste, o homem estava submetido às verdades reveladas por Deus por meio da Igreja, que se impunha como detentora do saber e do conhecimento em todas as áreas, da moral à ciência do Universo. Temos como exemplo a trajetória de Giordano Bruno, que foi queimado vivo pela Inquisição em 1600, por defender a teoria do heliocentrismo de Copérnico. Outro exemplo é o de Galileu, impedido de falar e publicar suas ideias por estas irem contra as ideias defendidas pela Igreja. Igrej a. Na Modernidade, veremos a gradativa desmisticação do Universo, o chamado desvelamento ou desencantamento do Universo. Assim, a natureza e o próprio homem tornamse objeto do conhecimento, o qual deve ser construído pelo homem, não sendo mais determinado pela autoridade eclesiástica.
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O homem moderno, portanto, recuperou sua liberdade e autonomia para pensar, pensar, apesar da autoridade da Igreja, que ainda exercia grande inuência no mundo e nos meios intelectuais. As ideias aristotélicas, que até então tinham servido como base para a Escolástica, não eram mais sucientes para fundamentar o conhecimento seguro sobre o mundo. As superstições cederam lugar à subjetividade, e o papel preponderante do homem abriu caminho para o conhecimento verdadeiro. O mundo se mostrava agora um livro aberto, pronto para ser conhecido. Nessa nova realidade, surgiu então a questão: qual é o caminho que leva ao conhecimento verdadeiro sobre o mundo? Com isso, a questão do método (do grego Methodos Methodos:: meta: rumo rumo;; hodos: caminho: caminho que leva a algum lugar), ou seja, da da teoria do conhecimento ou Epistemologia, tornou-se urgente. Nesse contexto, ocorre uma inversão de valores e de paradigmas: desde a Antiguidade, acreditava-se no poder do homem para conhecer todas as coisas, ou seja, acreditava-se acreditavase que o homem poderia conhecer plenamente o mundo e a si mesmo. Na Modernidade, entretanto, manifestam-se outras questões: Qual será a capacidade do homem de conhecer? Como ocorre esse conhecimento? Qual é a origem das ideias? Apesar de na Modernidade esse problema apresentar novos contornos, ele não é novo. Basta lembrarmos que a Filosoa tem, em sua origem, a ânsia pelo saber. Desde os seus primórdios, os lósofos naturalistas, como Heráclito e Parmênides, já tentavam solucionar o problema do caminho para o conhecimento verdadeiro, o qual tem t em sido uma das questões mais discutidas e polemizadas na história da Filosoa.
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Monumento erguido em 1889 no local onde Giordano Bruno foi executado. Campo de Fiori, Roma, Itália.
Heráclito, por exemplo, acreditava que as coisas do mundo não possuem uma essência imutável, por isso, a única forma de conhecermos os seres seria através das informações fornecidas pelos sentidos. Já Parmênides, por acreditar que os seres possuem uma essência imutável, defendia que a única maneira de acesso a essa essência era o pensamento puro, a razão. Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 11 Platão e Aristóteles, por sua vez, respeitando algumas diferenças de aspectos menores que podem relativizar o problema, também estavam convencidos de que o conhecimento seguro era garantido pela busca das essências dos seres. Platão buscava essas essências no mundo inteligível e Aristóteles, nas coisas sensíveis. Segundo Platão, o único instrumento que leva a tal conhecimento é a alma, onde está a razão, por meio da ascensão dialética. Já Aristóteles acreditava que a experiência levaria, por meio do raciocínio indutivo, a tal verdade. Na Idade Média, Agostinho, principal representante da Patrística, acreditava que a verdade estava dentro do homem, e esta só seria acessível pela razão, com a ajuda da iluminação divina. Já Tomás de Aquino, importante pensador medieval e maior expoente da Escolástica, valorizava a utilização dos sentidos para as Ciências Naturais e seu papel no conhecimento da natureza. A questão do método, portanto, é um dos mais importantes problemas losócos. Para alguns comentadores, como Caio Prado Júnior, em seu livro O que é Filosoa? 1, essa é a verdadeira questão com a qual a Filosoa deveria se preocupar. Para resolver tal problema, surgem dois caminhos, que ganham destaque na Modernidade: o racionalismo e o empirismo. Mais tarde, teremos também o criticismo kantiano, que consiste em uma síntese entre racionalismo e empirismo.
Racionalismo 1 - [O racionalismo é uma] doutrina que privilegia a razão dentre todas as faculdades humanas, considerando-a como fundamento de todo conhecimento possível. O racionalismo considera que o real é, em última análise, racional e que a razão é, portanto, capaz de conhecer o real e de chegar à verdade sobre a natureza das coisas. Segundo Se gundo Hegel: “Aquilo que é racional é real, e o que é real é racional” (Filosoa (Filosoa do direito,, Prefácio). Oposto a ceticismo, misticismo. direito misticismo. [...] 3 - Contrariamente ao empirismo (valorizando a experiência) e ao fideísmo (valorizando a revelação religiosa), o racionalismo designa doutrinas bastante variadas suscetíveis de submeter à razão todas as formas de conhecimento. Em seu sentido losóco, ele tanto pode ser uma visão do mundo que arma o perfeito acordo entre o racional e a realidade do universo quanto uma ética que arma que as ações e as sociedades humanas são racionais em seu princípio, em sua conduta e em sua nalidade. RACIONALISMO . In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. RACIONALISMO. Dicionário básico de Filosoa. Filosoa . Rio de janeiro: Zahar, 1996.
No nal do século XV e durante os séculos XVI e XVII, muitos filósofos se entusiasmaram pela Matemática (aritmética, álgebra e geometria), acreditando, então, que poderiam aplicar o método matemático, puramente racional, a todas as áreas de investigação investigação,, garantindo a certeza dos conhecimentos alcançados. O que se utilizaria não seriam os números e os cálculos em si, mas o procedimento dedutivo, isto é, o modo pelo o qual a Matemática encadeia as razões ou armações segundo certa ordem, chegando a uma conclusão exata e verdadeira. Essa racionalidade se expressaria de modo geométrico, lógico, dedutivo, caracterizando a visão especíca do racionalismo moderno ou “grande racionalismo”. Podemos apontar como lósofos que seguem a linha dos grandes racionalistas, respeitando as devidas diferenças: Parmênides (pré-socrático), Sócrates e Platão (Antiguidade), Santo Agostinho (Idade Média), além dos modernos Descartes, Malebranche, Espinosa, Leibniz e Hegel. Segundo Nicola Abbagnano, em Dicionário de Filosoa 2, o termo racionalismo foi utilizado pela primeira vez por Kant para se referir à sua losoa transcendental. Já Hegel foi o primeiro a utilizar esse termo para se referir à losoa que começa com Descartes e se opõe ao empirismo de Locke e seus sucessores. Uma das querelas da Filosoa diz respeito à utilização do termo “racionalista”. Anal, os pensadores anteriores a Descartes, conhecido conhecid o como o “o grande racionalista”, podem ser também chamados de racionalista racionalistas? s? José Ferrater Mora, 3 em seu Dicionário de Filosofia , encerra essa questão ao se referir a Parmênides e a Platão como racionalistas. Dessa forma, o termo racionalismo é adequadamente utilizado para se referir ao procedimento de filósofos anteriores à Modernidade, os quais buscavam a verdade ou o conhecimento por meio da razão. Nesse caso, podemos dizer que o procedimento é mais importante que o termo, e, nesse caso, tal procedimento é a busca da verdade por meio do pensamento puro. Não podemos armar, armar, porém, que o racionalismo de Platão seja pensado nos mesmos moldes que o de Descartes. O mundo material ou sensível, para Platão, também é importante, sendo incorreto armar que existe em sua losoa um dualismo que diz que as coisas materiais, sensíveis, empíricas sejam ruins em si mesmas e que as ideias inteligíveis sejam alcançadas sem que o homem tenha qualquer contato com as coisas sensíveis.
PRADO Jr., Caio. O que é losoa?. losoa? . São Paulo: Brasiliense, Brasiliense, 1981 (Primeiros Passos, 37).
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ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosoa. Tradução de Alfredo Bosi. 21. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 822.
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RACIONALISMO. In: MORA, José Ferrater.Dicionário Ferrater. Dicionário de Filosoa. Filosoa . 2. ed. São Paulo: Loyola, 2001
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Epistemologia moderna
Empirismo Doutrina ou teoria do conhecimento segundo a qual todo conhecimento humano deriva, direta ou indiretamente, da experiência sensível externa ou interna. Freqüentemente fala-se do “empírico” como daquilo que se refere à experiência, às sensações e às percepções, relativamente aos encadeamentos da razão. O empirismo, sobretudo de Locke e de Hume, demonstra que não há outra fonte do conhecimento senão a experiência e a sensação. As ideias só nascem de um enfraquecimento da sensação e não podem ser inatas. Daí o empirismo rejeitar todas as especulações como vãs e impossíveis de circunscrever. Seu grande argumento: “Nada se encontra no espírito que não tenha, antes, estado nos sentidos.” “A não ser o próprio espírito”, responde Leibniz. EMPIRISMO. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosoa. Rio de janeiro: Zahar, 1996.
Se os grandes racionalistas modernos ocupam espaço nos séculos XVI e XVII, os empiristas, principalmente Locke e Hume, o fazem nos séculos XVII e XVIII. Com o aumento da produção industrial, que encontrou seu ápice na Revolução originada na Inglaterra em meados do século XVIII, o conhecimento do mundo passou a ter preocupações tipicamente práticas, por isso a ênfase naquilo que é experimentável, nos sentidos e em um saber que privilegia o conhecimento e a dominação da natureza.
RACIONALISMO MODERNO René Descartes Conhecido como o pai da Filosofia Moderna, René Descartes nasceu na França, na cidade de La Haye, região da Touraine, em 31 de março de 1596. Sua família, cujos membros eram comerciantes e médicos, ascendeu socialmente, tornando-se proprietária de terras e de títulos de nobreza, o que levou seu pai, Joachin Descartes, a tornar-se conselheiro no Parlamento da Bretanha. Descartes passou a infância com sua avó, devido à morte de sua mãe quando ele tinha apenas um ano de idade. Aos dez anos, foi enviado para o Colégio Real na cidade de La Flèche. O colégio, fundado pelos jesuítas sob a proteção do rei Henrique IV, logo cou conhecido como uma das melhores e mais importantes escolas de toda a Europa. Descartes frequentou essa instituição durante 12 anos, onde obteve uma sólida formação cientíca e humanística, dedicando-se ao estudo da Lógica, da Matemática e da Filosoa. Logo após, foi estudar na Universidade de Poitiers, onde obteve bacharelado e licenciatura em Direito.
Na linha dos grandes empiristas, encontram-se Heráclito (pré-socrático) e Aristóteles (Antiguidade Grega), além dos modernos Bacon, Pascal, Locke e Hume, sendo os dois últimos os mais importantes representantes do empirismo moderno, chamado também de empirismo inglês. Assim como racionalismo, o termo empirismo é utilizado principalmente para os modernos, porém, podemos estender sua utilização para os antigos. Aristóteles, por exemplo, quando fala de indução, está se referindo à experiência. Da mesma forma, em seu pensamento ético, quando diz que o homem deve tornar-se melhor, também está se referindo à prática, ou seja, à experiência4. Tal como para Platão, não podemos armar que Aristóteles despreza a razão como meio de conhecer as coisas. Pelo contrário, se pensarmos na lógica aristotélica, os argumentos indutivos partem sim de experiências e por meio delas fazem generalizações, já o argumento silogístico ou dedutivo opera de modo puramente racional, o que prova a importância da razão para Aristóteles. Realizada essa introdução à Epistemologia moderna, falemos agora dos principais pensadores desse período: René Descartes, Francis Bacon, John Locke e David Hume.
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Retrato de René Descartes, conhecido como o fundador da Filosoa Moderna.
Descartes foi um aluno brilhante, tendo seu brilhantismo e sua dedicação levado-o a uma crise profunda em relação a todo o conhecimento cientíco e losóco que obteve em seus tempos de estudo. Descartes percebeu que todo o conhecimento que aprendera em La Flèche e na universidade não era tão seguro quanto ele desejava, ou seja, percebeu que, em contraposição a toda e qualquer verdade, sempre havia uma outra ideia, que também se pretendia verdadeira, que a contrariava.
EMPIRISMO. In: MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosoa. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2001.
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Frente A Módulo 11 No Discurso do Método, o lósofo arma: Alimentei-me de letras desde a minha infância, e, devido ao fato de me terem persuadido de que por meio delas podia-se adquirir um conhecimento claro e seguro sobre tudo o que é útil à vida, tinha extremo desejo de aprendê-las. Porém, assim que terminei todo esse curso de estudos, ao m do qual costuma-se ser recebido na leira de doutores, mudei inteiramente de opinião. DESCARTES, René. Discurso do método. Primeira Parte. Lisboa, Ed. Marm, 1989. p. 13.
Dessa forma, Descartes se vê imensamente decepcionado com todo o conhecimento, pois percebe que as ideias que aprendera não poderiam ser satisfatoriamente defendidas pela razão, ou seja, todo o conhecimento aprendido até então era falho. É importante ressaltar que o lósofo não se decepcionou com a escola ou com seus mestres, pelos quais sempre teve grande respeito e admiração, mas com as próprias Humanidades, nas quais se incluia o estudo de Geograa, História, Retórica, Direito, Poesia, Teologia, Lógica, Física, Metafísica, Moral, Medicina e Jurisprudência, dentre outros. Assim, na losoa que aprende – como aliás em todos os domínios das “letras” –, Descartes defronta-se com opiniões inseguras e sem nenhuma utilidade prática: as “Humanidades” não serviam verdadeiramente ao homem. DESCARTES. Vida e obra. In: Descartes. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2000. p. 12. Coleção Os pensadores.
O filósofo pronunciou-se sobre a insegurança das verdades losócas que poderiam ser colocadas em dúvida da seguinte forma:
Da Filosoa nada direi, senão que, vendo que foi cultivada pelos mais excelsos espíritos que viveram desde muitos séculos e que, no entanto, nela não se encontra ainda uma só coisa sobre a qual não se dispute e, por conseguinte, que não seja duvidosa, eu não alimentava qualquer presunção de acertar mais que os outros; e que, considerando quantas opiniões diversas, sustentadas por homens doutos, pode haver sobre uma mesma matéria, sem que jamais possa existir mais de uma que seja verdadeira, refutava quase como falso tudo o que era somente verossímil. Eis por que, tão logo a idade me permitiu sair da sujeição de meus preceptores, deixei inteiramente o estudo das letras. E, resolvendo-me a não mais procurar outra ciência, além daquela que poderia achar em mim próprio, ou então no grande livro do mundo, empreguei o resto de minha mocidade em viajar, em ver cortes e exércitos, em freqüentar gente de diversos humores e condições, em recolher diversas experiências, em provar-me a mim mesmo nos reencontros que a fortuna me propunha e, por toda parte, em fazer tal reexão sobre as coisas que me apresentavam que eu pudesse tirar delas algum proveito. [...] Mas, depois que empreguei alguns anos em estudar assim no livro do mundo, e em procurar adquirir alguma experiência, tomei um dia a resolução de estudar também a mim próprio e de empregar todas as forças de meu espírito na escolha dos caminhos que deveria seguir. DESCARTES, René. Discurso do método. Primeira Parte. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 7
Gravura do século XVIII representando o Colégio de La Flèche.
Empolgado com os avanços da Matemática trazidos por Copérnico e principalmente por Galileu e decepcionado com as Humanidades, Descartes acreditava que o conhecimento seguro deveria ser certo e indubitável, tal como são os conhecimentos trazidos pela Matemática. Dedicou-se, então, a buscar esse conhecimento, não em livros e ensinamentos, mas em si mesmo e no “grande livro do mundo”.
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É nesse contexto que Descartes ingressa nos exércitos de Maurício de Nassau em 1618, ano em que se deu o início da Guerra dos Trinta Anos contra os espanhóis pela liberdade da Holanda, país onde mais tarde Descartes foi morar, devido à tolerância e à liberdade cultivadas ali. Na cidade de Breda, conheceu um jovem, de quem se tornou amigo, chamado Isaac Beeckman, que o incentivou a se dedicar à Física e à Matemática. Com o aprofundamento de seus conhecimentos matemáticos, Descartes decide construir uma Mathesis Universalis (Matemática Universal) , com a qual ele poderia alcançar um conhecimento seguro e claro sobre o mundo, abandonando as incertezas até então reconhecidas nas Humanidades.
Epistemologia moderna Dessa maneira, para Descartes, não era possível conar em nenhum conhecimento cientíco que não fosse claro e distinto, ou seja, que não fosse transparente para quem a ele recorresse e que não fosse inconfundível com qualquer outra ideia. Foi esta a meta cartesiana: encontrar verdades claras e distintas sobre todas as coisas; verdades estas que serviriam como certeza para a constituição do conhecimento seguro. Porém, Descartes sabia que o edifício do saber, ou seja, as ciências, tem como fundamento verdades losócas que, para ele, também são inseguras. Como seria possível construir um novo edifício sobre bases que também eram inseguras? Para Descartes, isso era impossível.
O Discurso do método é uma das mais importantes obras de Descartes. Nela, o lósofo tentará encontrar o caminho que leva o homem ao conhecimento verdadeiro sobre o mundo.
A partir desse momento, Descartes dedicou-se à escrita de suas obras, tendo sido Discurso do Método, Meditações Metafísicas, Regras para a direção do Espírito, Princípios de Filosoa e Tratado das paixões da Alma suas obras mais importantes. Foi nesse período que conheceu Helène Jans, com quem se casou e teve uma lha, Francine, que faleceu com 5 anos, fato que marcou profundamente a vida do lósofo. Depois de passar muitos anos na Holanda e de viajar por muitos outros lugares, as ideias de Descartes já eram internacionalmente conhecidas. Em 1649, o lósofo aceitou o convite da rainha Cristina da Suécia para se abrigar em seu palácio em Estocolmo. De saúde frágil desde a sua infância e tendo que acordar de madrugada durante três dias da semana para lecionar à rainha, Descartes não suportou o clima rigoroso daquele país e decidiu ir embora. Ao abandonar a Corte, o lósofo adoeceu, vítima de uma pneumonia que o levou à morte depois de uma semana de grande sofrimento, em 11 de fevereiro de 1650.
O discurso do método Empolgado com os avanços da Matemática e decepcionado com as falhas dos conhecimentos cientícos e losócos aprendidos até então, Descartes deu um passo ousado, tornando-se conhecido e admirado como grande pensador. Segundo ele, o edifício do saber, ou seja, todos os saberes científicos que se pretendiam corretos e verdadeiros sobre o mundo e as coisas, não passava de um conjunto de conhecimentos inseguros e frágeis, os quais poderiam ser contestados pelo uso de argumentos que os abalassem em suas certezas e os tornassem questionáveis.
Assim, tomando como base a Matemática, o lósofo tentou construir a Mathesis Universalis – Matemática Universal –, com o objetivo de, por meio dela, garantir verdades que fossem por si mesmas indubitáveis. Veja que a ideia cartesiana não era aplicar os números à Filosoa ou às Ciências, mas sim utilizar a lógica matemático-dedutiva para elaborar um método, um caminho que pudesse garantir que o conhecimento alcançado pelo homem fosse seguro e realmente verdadeiro. Para isso, Descartes eliminou qualquer tipo de conhecimento obtido por meio das experiências, pois considerava que os sentidos eram falhos e, portanto, o conhecimento alcançado por meio deles era impreciso. É exatamente por isso que Descartes é o grande racionalista moderno, uma vez que, para ele, somente a razão, operando com ideias e deduções matemáticas, concatenações de ideias que não sejam originadas dos sentidos, poderia encontrar as verdades. Y 6 B (6,5)
5 4 A (–5,3)
3 2
–6 –5 –4 –3 –2 –1 –1
1 D (0,0) 1
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4
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X
–2 –3 –4
C (4,5;–3,5)
–5 –6
Os planos cartesianos ou o sistema de coordenadas no plano cartesiano permitiram a criação da geometria analítica. Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 11 Porém, não basta aplicar a geometria e a álgebra separadas uma da outra, para delas encontrar as verdades. Segundo Descartes, é necessário unir as duas, de modo que seja possível traduzir os problemas geométricos em linguagem algébrica para alcançar o conhecimento sobre as formas geométricas através das equações. Dessa forma, Descartes funda a geometria analítica, aplicando a álgebra à geometria e estudando as guras geométricas por meio de equações algébricas. Para Descartes, procedendo dessa forma, seria possível alcançar verdades sobre o mundo que fossem claras e distintas, ou seja, evidentes à mente humana e sobre as quais não se pudesse duvidar. Nesse sentido, ele arma, no Discurso do Método: Aquela longa cadeia de raciocínios, todos simples e fáceis, de que os geômetras têm o hábito de se servir para chegar às suas difíceis demonstrações, me havia possibilitado imaginar que todas as coisas de que o homem pode ter conhecimento derivam do mesmo modo e que, desde que se abstenha de aceitar como verdadeira uma coisa que não o é e respeite sempre a ordem necessária para deduzir uma coisa da outra, não haverá nada de tão distante que não se possa alcançar, nem de tão oculto que se não possa descobrir. DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 14.
Desse modo, Descartes chega à seguinte conclusão: se fosse possível aplicar às Ciências e à Filosoa a mesma lógica utilizada na Matemática, a qual levava a verdades inquestionáveis, seria possível encontrar verdades tão claras e evidentes que nem os homens mais criativos poderiam ousar duvidar. Para isso, uma única coisa era necessária: um método adequado. Portanto, Descartes, antes de buscar conhecer o mundo, oferece regras que, se bem seguidas e adequadamente dispostas, levariam o homem ao conhecimento certo, seguro e verdadeiro sobre tudo aquilo que se pode conhecer, ou seja, elabora um método para alcançar tais conhecimentos.
O método cartesiano O método pensado por Descartes para se alcançar a verdade se baseia em quatro passos ou regras. Segundo o lósofo: [...] [seriam] regras certas e fáceis que, sendo observadas exatamente por quem quer que seja, tornem impossível tomar o falso por verdadeiro e, sem qualquer esforço mental inútil, mas aumentando sempre gradualmente a ciência, levem ao conhecimento verdadeiro de tudo o que se é capaz de conhecer. DESCARTES, René. Discurso do método. Primeira Parte. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 14.
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1ª - Regra da evidência Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que não se reconhece ser tal pela evidência, ou seja, evitar acuradamente a precipitação e a prevenção, assim como nunca se deve abranger entre nossos juízos aquilo que não se apresente tão clara e distintamente à nossa inteligência a ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida. DESCARTES, René. Discurso do método. Primeira Parte. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 13.
É o ponto de partida, mas também o ponto de chegada de todo o conhecimento. Mais do que uma regra, apresenta-se como um princípio norteador de todo o conhecimento. De forma mais simples: o homem só deve acolher como verdade aquilo que aparece ao seu espírito, à sua mente, como uma ideia clara e distinta, que seja evidente e impossível de ser confundida com outra ideia qualquer. Tal como 2 + 2 = 4 e desta conclusão ninguém em sã consciência poderia duvidar, sendo que essa ideia aparece à mente humana com tal clareza que nenhuma outra ideia pode se confundir a ela, toda e qualquer verdade deve obedecer ao mesmo critério de evidência. Essa verdade é intuitiva e se autojustica, não necessitando de nenhuma explicação ou argumento que a comprove. 2ª – Regra da análise [...] dividir cada problema que se estuda em tantas partes menores, quantas for possível e necessário para melhor resolvê-lo. DESCARTES, René. Discurso do método. Primeira Parte. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 13.
Se a intuição da evidência se dá na simplicidade, a segunda regra diz que, diante de um problema, é necessário dividilo em tantas partes quanto for possível, evitando, assim, qualquer ambiguidade que possa aparecer e confundir o homem. De acordo com essa regra, deve-se reduzir o complexo ao simples, de forma que aquilo que era maior seja dividido em partes menores e indivisíveis de um todo. 3ª – Regra da síntese A terceira regra é a de conduzir com ordem os pensamentos, começando pelos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-se, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais complexos, supondo uma ordem também entre aqueles nos quais uns não precedem naturalmente aos outros. DESCARTES, René. Discurso do método. Primeira Parte. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 13.
Essa regra diz que, enquanto a regra da análise divide o problema em partes menores, é necessário que esses problemas sejam resolvidos individualmente, começando dos mais simples até alcançar a resolução dos mais complexos ou mais difíceis.
Epistemologia moderna 4ª – Regra da enumeração A última regra é a de fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais a ponto de se car seguro de não ter omitido nada. DESCARTES, René. Discurso do método. Primeira Parte. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 13.
Essa regra diz que, depois de ter dividido o problema em partes menores e de começar a resolvê-los dos mais simples para os mais complexos, deve-se, de tempo em tempo, voltar-se sobre todo o caminho percorrido e vericar se alguma coisa cou esquecida, ou seja, fazer revisões constantes para vericar se tudo foi dividido na análise e ainda se tudo foi resolvido na síntese. Segundo Descartes, aplicando esse método a toda e qualquer pesquisa natural ou filosófica, o homem encontraria um conhecimento que fosse obediente à primeira regra, ou seja, que fosse evidente e sem qualquer sombra de dúvida. Se observarmos com cuidado, perceberemos que o método cartesiano baseia-se na simplicidade da resolução das questões matemáticas, em que se parte da ideia de que a resposta alcançada com a resolução do problema deve ser exata e indubitável. Depois, partindo para a resolução propriamente dita, divide-se o problema e inicia-se sua resolução das partes mais simples para as mais complexas. No nal ou durante o processo, verica-se todas as operações realizadas, observando cuidadosamente se não cou nada sem ser resolvido ou se não se esqueceu de nenhum detalhe. Procedendo deste modo, pode-se armar com certeza de que a resposta obtida é correta, ou seja, é evidente.
Cogito, ergo sum Uma vez estabelecido o método, Descartes tem certeza de que uma verdade só pode ser aceita como tal se aparecer à mente humana com clareza e distinção. Desse modo, ele estabelece o modelo universal, a Mathesis Universalis, que guiará o homem em busca de todo e qualquer saber, ou seja, que servirá como instrumento ao novo edifício do saber, tendo o antigo desmoronado uma vez que suas certezas eram contestáveis. Porém, para que esse novo edifício do saber seja erguido, é necessário que existam certezas claras e distintas da Filosoa, base de toda e qualquer ciência. Mas, que certezas seriam estas? Que verdades losócas poderiam sustentar esse novo edifício do saber que trouxesse consigo toda clareza e distinção essenciais ao saber nos moldes cartesianos? Buscando a verdade filosófica que sustentaria todo o edifício do saber, Descartes, mesmo não sendo um cético, utiliza-se do caminho dos céticos, acreditando que é possível encontrar uma verdade utilizando-se da dúvida somente como instrumento e não como um m em si mesma. O lósofo coloca tudo em dúvida com objetivo de vericar se, ao nal, alguma verdade que possa ser considerada indubitável resiste. Dessa maneira, Descartes desenvolve um caminho sistemático ao colocar em dúvida tudo aquilo que até então era considerado como certeza, o que cou conhecido como a dúvida metódica, dividida em três passos ou estágios.
Primeiramente, Descartes duvida de todas as verdades que têm como fundamento os sentidos. De acordo com ele, se os sentidos já nos enganaram uma única vez, isto já é o suciente para que desconemos deles todas as vezes. Portanto, não é possível acreditar ou conar em nenhuma verdade que tenha como fundamento os cinco sentidos, ou seja, o empirismo. Em segundo lugar, Descartes duvida das realidades do mundo e de si mesmo, propondo que as ideias que temos de nossa existência e do mundo podem não passar de ilusões ou sonhos. Se algumas vezes temos sonhos tão verdadeiros que parecem realidade, não há nada que assegure que estamos acordados ou dormindo, portanto, não há qualquer instrumento ou ideia que sirva para distinguir realidade de sonho, de ilusão. Assim, ele arma: [...] E, persistindo nesta meditação, percebo tão claramente que não existem quaisquer indícios categóricos, nem sinais bastante seguros por meio dos quais se possa fazer uma nítida distinção entre a vigília e o sono, que me sinto completamente assombrado: e meu assombro é tanto que quase me convence de que estou dormindo. DESCARTES, René. Meditações primeiras. In: Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 87.
Em terceiro lugar, Descartes chega à dúvida hiperbólica, dúvida exagerada ou hipótese do gênio maligno. Até então, o lósofo havia desconado de todo o conhecimento, salvando de sua desconança somente a Matemática, que para ele era o único conhecimento seguro e exato, porque é totalmente racional. Nesse terceiro momento da dúvida metódica, Descartes coloca em dúvida inclusive as verdades matemáticas. E se as verdades matemáticas que aparecem à mente humana de modo intuitivo e evidente não passarem de ilusões coletivas, de mentiras forjadas por um grande gênio maligno que engana todos os homens ao mesmo tempo, fazendo-os acreditar que 2 + 2 = 4 quando isso não passa de uma ilusão? O saber matemático não poderia ser fruto de um ser superior que sadicamente engana todos os homens para deles rir? As próprias coisas do mundo, as imagens que temos delas, as ideias, não poderiam ser também uma ilusão de um ser enganador, ardiloso e astuto? Presumirei, então, que existe não um verdadeiro Deus, que é a suprema fonte da verdade, mas um certo gênio maligno, não menos astucioso e enganador do que poderoso, que dedicou todo o seu empenho em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as guras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos não passam de ilusão e fraudes que Ele utiliza para surpreender minha credulidade. DESCARTES, René. Meditações primeiras. In: Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 88.
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Frente A Módulo 11 Porém, ao nal de seu caminho em que colocou todas as coisas, inclusive as verdades matemáticas, em dúvida, Descartes alcança a verdade clara, distinta e inabalável que sustentará todo o edifício do saber, de forma intuitiva e tão evidente que seria impossível que qualquer homem duvide dela: a verdade do cogito. Assim, ele arma: [...] Somente depois tive que constatar que, embora eu quisesse pensar que tudo era falso, era preciso necessariamente que eu, que assim pensava, fosse alguma coisa. E observando que essa verdade – “penso, logo sou” – era tão rme e sólida que nenhuma das mais extravagantes hipóteses dos céticos seria capaz de abalá-la, julguei que podia aceitá-la sem reservas como o princípio primeiro da losoa que procurava. DESCARTES, René. Discurso do Método. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 46.
Para Descartes, o homem pode duvidar de absolutamente tudo. Pode duvidar dos conhecimentos empíricos, de sua existência e da existência do mundo. Pode duvidar até das verdades matemáticas. Ele só não pode duvidar de que duvida, ou seja, de que pensa. E se pensa, ele existe. Portanto, esta verdade, conhecida como a certeza do Cogito (Cogito, ergo sum! – Penso, logo existo!), é tão evidente e absolutamente verdadeira que mesmo a dúvida, até aquela mais exagerada, serve como conrmação dela, de forma que o lósofo arma que, se deixasse de pensar, ele deixaria de existir. Assim, para Descartes, o que garante a existência humana não são os sentidos, mas o pensamento puro. O homem existe enquanto é substância pensante ou res cogitans. O que garante tanto a existência do homem quanto a existência de todas as coisas é a substância pensante, o eu pensante. [Nesse sentido] existem apenas duas substâncias, claramente separadas uma da outra e irredutíveis uma à outra: a res cogitans (coisa pensante) que é o homem, e a res extensa (coisa extensa que são as coisas do mundo fora do pensamento). A res cogitans é a existência espiritual do homem sem nenhuma ruptura entre pensar e o ser, é a alma humana como realidade pensante que é pensamento em ato, é como pensamento em ato que é realidade pensante. A res extensa é o mundo material (compreendendo obviamente o corpo humano), do qual, justament e, se pode pre dicar como ess encial ape nas a propriedade da extensão. REALE, Giovanni. História da Filosoa Antiga. 2. ed. 7v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume III. p. 293.
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Uma vez atingida a verdade do Cogito, só há uma única instância que garanta a verdade sobre o mundo: o próprio homem. Não há necessidade de se encontrar provas ou justicativas, muito menos empíricas, fora do homem que garantam a verdade. Toda pesquisa deve somente buscar o grau máximo de clareza e distinção, dadas pelo pensamento puro. Se a verdade aparecer à mente humana com clareza e distinção, essa ideia é verdadeira. É justamente por isso que Descartes representa o maior expoente do racionalismo moderno: ele acredita que as verdades são alcançadas unicamente pela razão humana e nada mais. O próprio método cartesiano tem como base a razão, o pensamento claro e distinto que, aplicado adequadamente ao mundo, às ciências, produzirão verdades claras e distintas.
A existência de Deus Descartes chegou à ideia do Cogito, considerando-a indubitável e autoevidente. Porém, surge um outro problema: se o fundamento do conhecimento verdadeiro está na consciência, o homem tem, enquanto ser pensante, uma multiplicidade de ideias em sua mente, e sobre essas ideias a Filosoa deve se debruçar a m de constatar a sua veracidade. E há ainda outro problema: será que as ideias que o homem tem de um objeto do mundo correspondem verdadeiramente a esse objeto? Como é possível sair da ideia em si e alcançar o mundo externo de forma que ele corresponda exatamente ao que se pensou dele? As ideias são puras representações mentais ou elas correspondem exatamente ao mundo externo, à realidade objetiva fora do homem? Para responder a essas perguntas, é necessário, em primeiro lugar, compreendermos como Descartes divide essas ideias. Ele as classica em 3 grupos: 1 – Ideias inatas: são aquelas que nascem com o homem, que são intrínsecas à sua consciência. São as ideias de Deus, de corpo, de formas geométricas – como triângulos, círculos, dentre outras –, que representam em si as essências imutáveis e verdadeiras. 2 – Ideias adventícias: são ideias estranhas, que vêm de fora do homem, como as ideias dos objetos. 3 – Ideias factícias: são as ideias inventadas pelo homem. Essas três classes de ideias existem subjetivamente na mente humana. A questão para Descartes é saber se elas são também objetivas, ou seja, se aquilo que existe na mente também existe no mundo e corresponde à realidade das coisas. Para o lósofo, as ideias factícias são ilusórias e, portanto, arbitrárias, devendo ser ignoradas.
Epistemologia moderna As ideias inatas só existem na mente do homem, portanto, não se referem a nada do mundo externo, já nasceram com o homem e encontram fundamento no res cogitans, não sendo questionáveis. O problema está, então, com as ideias adventícias: será que aquilo que o homem pensa sobre o mundo corresponde à realidade das coisas, ou tais ideias não passam de uma ilusão? Para resolver esse problema, Descartes lançou mão da ideia de Deus. O lósofo considera certo que a ideia de Deus existe, mas questiona: teria sido ela criada pelo homem ou existe por conta própria? A ideia de Deus é objetiva ou subjetiva? Descartes considera, nas Meditações Metafísicas: [que a ideia de Deus se constitui em] uma substância innita, eterna, imutável, independente e onisciente, a qual eu próprio e todas as outras coisas que existem (se é verdade que há coisas existentes) fomos criados e produzidos. DESCARTES, René. Meditações primeiras. In: Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 87.
Nesse sentido, o lósofo concluiu que a ideia de Deus era inata, porque os homens, sendo seres imperfeitos e limitados, não poderiam ser a causa de uma ideia de perfeição e eternidade, uma vez que tal ideia seria o efeito de uma causa, e a causa não traria a perfeição que a ideia exige. De forma mais simples: a ideia de Deus não poderia ter como causa de sua criação o homem, porque este é imperfeito, e um ser imperfeito e limitado não poderia elaborar a ideia de perfeição e eternidade. Portanto, a ideia de Deus é inata e só poderia ter como causa um ser que também fosse perfeito e eterno, nesse caso, somente Deus poderia criar essa ideia e colocá-la na mente do homem, e, assim, pelo raciocínio de Descartes, Deus existe. Nas palavras do lósofo: [...] ca evidente que o autor dessa idéia que está em mim não sou eu, imperfeito e nito, nem qualquer outro ser, da mesma forma limitado. Tal idéia, que está em mim, mas não é de mim, só pode ter por causa adequada um ser innito, isto é, Deus. DESCARTES, René. Meditações primeiras. In: Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 91.
E quando considero que duvido, isto é, que sou uma coisa incompleta e dependente, a idéia de um ser completo e independente, ou seja, de Deus, apresenta-se a meu espírito com igual distinção e clareza; e do simples fato de que essa idéia se encontra em mim, ou que sou ou existo, eu que possuo esta idéia, concluo tão evidentemente a existência de Deus e que a minha depende inteiramente dele em todos os momentos da minha vida, que não penso que o espírito humano possa conhecer algo com maior evidência e certeza. DESCARTES, René. Meditações. Tradução de Jacó Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 297-298.
Desse modo, Descartes elabora um argumento denominado de prova ontológica da existência de Deus: a existência de Deus é parte integrante de sua essência. Assim, é impossível ter a ideia de Deus sem que Ele exista, sendo o próprio criador de sua ideia, perfeita e innita, que a coloca na mente do homem, ser imperfeito e nito. A ideia de Deus, segundo Descartes, é a marca que o artesão (Criador) deixa em sua obra (homem). Nesse sentido, Descartes descarta a hipótese do gênio maligno, visto que o lósofo não havia armado que Deus seria de fato um ser maligno. Para Descartes, Deus é bom, perfeito, eterno e innito. Ele criou o homem e o fez capaz de conhecer o mundo. Não sendo mal, mas sumamente bom, Deus não permitiria que o homem, ao encontrar uma verdade clara e distinta sobre o mundo, estivesse errado, ou estivesse tão enganado que tomasse como verdade aquilo que não passa de uma mentira. Dessa maneira, é Ele que garante que o homem, ao alcançar uma verdade pela intuição intelectiva, encontre a verdade. Assim, o homem, quando alcança alguma ideia adventícia, proveniente das coisas para a consciência, isto é, alcança alguma ideia sobre o mundo e ele mesmo enquanto res extensa, se esta ideia aparece à sua mente com clareza e distinção, quem garante que essa ideia é verdadeira (sua objetividade), correspondendo de fato à verdade daquilo a que se refere, é o próprio Deus. Pelo princípio da correspondência, a ideia subjetiva do homem sobre as coisas do mundo realmente corresponde a essas coisas, e quem garante esse conhecimento verdadeiro é Deus. Mas, então, surge a questão: e se o homem racional não encontra a verdade? Isto signica que ela não existe? A essa questão Descartes responde: [...] o bom senso (a razão) é naturalmente igual em todos os homens; e, destarte, que a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 29.
Assim, o homem racional só não encontra a verdade sobre o mundo se ele não seguir os passos corretos do método. Com duas verdades claras e distintas, a do Cogito e a de Deus, Descartes encontrou os fundamentos rmes e incontestáveis que sustentarão todo o edifício do saber, o qual tem, em sua essência, a ideia de que aquilo que o homem pensa, através do método, sendo uma ideia clara e distinta, é verdade, e quem garante essa verdade é Deus. Editora Bernoulli
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As consequências do pensamento cartesiano para o mundo ocidental Sem dúvida, Descartes foi um dos grandes pensadores da história da Filosoa que mais contribuiu para a formação do pensamento ocidental. Sua preocupação com o método, ao tentar responder à pergunta “O que é possível conhecer?”, o levou aos mais ilustres altares do pensamento losóco, tendo ficado conhecido, inclusive, como o fundador da Filosoa Moderna. Descartes trouxe à baila a questão do conhecimento e como este pode ser alcançado pelo homem, que, por ser racional, pode alcançar a verdade sobre o mundo se seguir os passos corretos para isso. A importância da losoa de Descartes é tanta, que muitos depois dele acreditaram que o objetivo único e verdadeiro de toda a Filosoa seria tratar somente da Epistemologia. Porém, outra consequência do pensamento cartesiano entrou para a história e até hoje é vista como uma questão permanente da Filosoa: o dualismo psicofísico ou dicotomia entre corpo e mente do homem.
Ao chegar à certeza do Cogito, Descartes afirmou que a realidade do pensamento é mais clara e anterior à realidade da existência física ou material do homem. Inclusive, disse que aquilo que garante a existência material do mundo e do próprio homem é o pensamento, por isso, primeiramente, o homem pensa e só depois se conclui que ele existe. Nesse momento, ocorre a divisão entre res cogitans (coisa pensante, substância pensante) e res extensa (coisa extensa ou coisa material), sendo que a primeira garante a existência da segunda. Esse antagonismo entre pensamento e matéria, corpo e alma, foi tido durante pelo menos três séculos como uma verdade incontestável em relação ao homem. De fato, o homem tem em si uma dimensão de puro pensamento, a consciência, e outra dimensão material, o corpo. Essa separação do homem trouxe muitas consequências, por exemplo, para a Medicina, que passou a compreender o homem como duas coisas separadas. A partir dessa concepção, a função do médico passou a ser curar o corpo, os males físicos, sem se importar se tais males estão ligados ou têm como causa algum mal ou distúrbio mental, psicológico. Essa separação corpo-alma, porém, é hoje combatida por muitos pensadores, que tentam unicar o que Descartes separou, buscando uma compreensão mais holística do homem, concebendo-o como uma unidade em que mente e corpo se interligam e se complementam. Será que essas duas instâncias ou substâncias do homem – a res cogitans e a res extensa –, completamente diferentes, se comunicam de alguma forma? Buscando uma possível solução para esse problema, Descartes escreveu duas obras nas quais trata desse assunto: Tratado sobre o homem e As paixões da alma. Nelas, o lósofo encontra o ponto de comunicação entre corpo e mente, entre matéria e consciência, denominado por ele de glândula pineal. A respeito dessa ligação, Descartes arma:
s e t r a c s e D é n e R
Nessa imagem, busca-se mostrar a ligação existente entre a percepção sensorial de uma imagem e a ação muscular. A imagem é transferida dos olhos para a glândula pineal. A reação entre a image m e a glândula deter mina a ação motora.
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Não basta que ela (a alma) seja inserida no corpo como um piloto em seu navio, senão, talvez, para mover seus membros, mas é necessário que ela seja conjugada e unida mais estreitamente com ele, para, ademais, experimentar sentimentos e apetites semelhantes aos nossos, compondo assim um verdadeiro homem. DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Martin Claret, 2002. P.46.
Epistemologia moderna E ainda: É preciso saber que, por mais que a alma esteja conjugada com todo o corpo, entretanto há no corpo algumas partes em que ela exerce suas funções de modo mais especíco que em todas as outras [...] A parte do corpo em que a alma exerce imediatamente suas funções não é em absoluto o coração e nem mesmo todo o cérebro, mas somente a parte interna dele, que é certa glândula muito pequena, situada em meio à sua substância e suspensa sobre o conduto pelo qual os espíritos das cavidades anteriores se comunicam com os espíritos das cavidades posteriores, de modo que os seus mais leves movimentos podem mudar muito o curso dos espíritos [...] DESCARTES, René. As Paixões da Alma. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 238.
Constata-se, portanto, que, embora de uma forma um pouco precária, Descartes une novamente corpo e alma, apesar de, em sua losoa, ter cado mais evidente a separação entre essas duas substâncias.
EMPIRISMO MODERNO Francis Bacon Francis Bacon nasceu em 22 de janeiro de 1561 em York House, Strand, Inglaterra. Devido ao fato de seu pai ter sido tabelião da rainha Elizabeth, Bacon foi introduzido desde cedo na Corte inglesa. Entrou na Universidade de Cambridge aos 12 anos e, em 1575, obteve o título de advogado e jurisconsultor no Gray’s Inn, em Londres. Aos 23 anos de idade, entrou para a carreira política, sendo eleito para a Câmara dos Comuns onde permaneceu durante 20 anos. Ocupou cargos importantes na política da Inglaterra, principalmente quando Jaime I subiu ao trono, tornando-se advogado-geral, procurador-geral da Coroa e lorde tabelião. Recebeu o título de lorde e, depois, de visconde.
Francis Bacon
Em 1620, publicou sua mais importante obra, o Novum Organum, que deveria, em sua opinião, substituir o Organum aristotélico. No ano seguinte, foi acusado de corrupção por ter aceitado presentes de uma das partes envolvida em um processo que ele deveria julgar, e, assim, sua brilhante carreira sofreu um duro ataque do qual nunca se recuperou. Foi condenado por crime de corrupção, permanecendo na prisão por poucos dias, tendo pagado uma multa e sido perdoado pelo rei. Francis Bacon faleceu em 1526. Bacon cou conhecido, juntamente com Descartes, como um dos fundadores do pensamento moderno. Porém, seguiu decididamente o caminho inverso do racionalismo ao defender o método experimental para se alcançar um conhecimento verdadeiro sobre o mundo. Entrou para a História como um dos grandes críticos da Escolástica medieval, uma vez que esta se ocupava de um conhecimento contemplativo sem se preocupar com o aspecto prático e instrumental da Ciência. Também foi um crítico de Aristóteles, considerando a lógica aristotélica, principalmente os argumentos dedutivos, estéril para o conhecimento do mundo. Bacon chegou inclusive a armar que a losoa grega se fundamentava mais em discursos do que em conhecimentos que levariam a algum progresso da Ciência ou do conhecimento do mundo. O Novum Organum trabalha essa problemática ao ser concebido como um instrumento ecaz para o conhecimento e dominação da natureza.
Saber é poder Bacon, ao discutir a forma de se conhecer a natureza eficazmente, faz uma distinção entre os conceitos de antecipações da natureza e de interpretações da natureza. As antecipações da natureza são conhecimentos obtidos por meio de axiomas construídos a partir de poucos dados reais, sendo a razão a guia dessas “verdades”. Para Bacon, este é um conhecimento temerário e prematuro da razão que o homem costumeiramente tem, não passando de ideias obtidas do senso comum e de forma assistemática, já que foram formadas a partir de uma primeira noção pouco precisa sobre os fenômenos da natureza e foram aceitas pelos homens sem antes vericá-las. Essas “verdades” sobre a natureza são precipitadas, obtidas por meio de poucos e insucientes exemplos. Por outro lado, temos as interpretações da natureza, que têm como objetivo interrogar a realidade, subjulgando-a até que se alcance o conhecimento verdadeiro. Para o lósofo, são essas interpretações que levam ao verdadeiro conhecimento do mundo, já que se comprometem com a realidade e se constroem a partir de muitos exemplos e experimentações. Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 11 Para que se alcance a verdade sobre o Universo, é necessário, portanto, que sejam feitas experiências sucessivas por meio do método indutivo, que consiste em partir de um estudo sério e pormenorizado dos casos particulares para se alcançar uma ideia geral que seja fundada em muitos e fartos exemplos. O método indutivo, apesar de à primeira vista parecer difícil, pois não traz imediatamente as respostas, é considerado por Bacon como o mais adequado e o único capaz de garantir um conhecimento de fato sobre o mundo natural, sendo, na linguagem do filósofo, o verdadeiro método do conhecimento. Bacon propõe, assim, a formulação do conhecimento através de uma ciência aplicada, a qual dá ao homem o conhecimento das leis que regem a natureza, permitindo a ele interagir e controlar a natureza de acordo com seus interesses e em seu próprio benefício. Partindo dessa distinção entre antecipação e interpretação da natureza, podemos dividir a filosofia de Bacon em dois momentos: 1º momento – Retirar da mente todo conhecimento que não seja verdadeiro, ou seja, todo conceito ou pré-conceito criados a partir das antecipações da natureza. Essas falsas noções que devem ser eliminadas são chamadas por Bacon de ídolos. 2º momento – Expor as regras do único método correto que pode levar o homem ao conhecimento do mundo de forma verdadeira.
A teoria dos ídolos Quais são as falsas noções que tomam conta do intelecto humano e o impedem de alcançar os verdadeiros conhecimentos sobre o mundo? Para Bacon, o primeiro passo para se chegar à verdade deve ser reconhecer essas falsas noções, tornar-se consciente delas, para mais tarde, através do método correto de investigação cientíca, se livrar delas. Os ídolos e as falsas noções que invadiram o intelecto humano, nele lançando raízes profundas, não só sitiam a mente humana, a ponto de tornar-lhe difícil o acesso à verdade, mas também (mesmo quando dado e concedido tal acesso) continuam a nos incomodar durante o processo de instauração das ciências, quando os homens, avisados disso, não se dispõe em condição de combatê-los à medida do possível. REALE, Giovanni. História da Filosoa Antiga. 2. ed. 7v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume III. p. 269.
São quatro os ídolos que atrapalham o conhecimento verdadeiro.
Tribo, para Bacon, signica a espécie humana, a raça humana. Assim, o homem coloca na natureza exterior aquilo que é de sua natureza própria. Tais ídolos acontecem quando o homem mistura o intelecto humano à natureza das coisas, dando a elas características que são próprias dos homens ou que lhes agradam. O homem dá ao Universo e à natureza relações e ordens que não existem, mas que ele acredita existirem porque lhe convém, enxergando as coisas de acordo com as limitações que são próprias da espécie humana. A natureza não é o que achamos que ela seja, ela tem uma objetividade que se constitui em suas verdades. A diculdade de se encontrar a verdade não se refere às limitações individuais, mas às limitações da espécie humana. 2 – Ídolos da caverna Cada um [...] tem uma caverna ou uma cova que intercepta e corrompe a luz da natureza; seja devido à natureza singular de cada um, seja devido à educação ou conversação com os outros, seja pela leitura dos livros ou pela autoridade daqueles que se respeitam e admiram. BACON. Novum Organum. Livro I, LXXII.
Ao contrário do ídolo da tribo, que diz respeito ao conjunto dos homens, o ídolo da caverna diz respeito às falsas noções ou ideias provenientes dos homens em particular. Desse modo, Bacon arma que “o espírito humano – tal como se acha disposto em cada um – é coisa vária, sujeita a múltiplas perturbações, e até certo ponto sujeita ao acaso” 5. Desse modo, esses ídolos referem-se às concepções e aos pré-conceitos particulares. 3 – Ídolo do foro (ou do mercado) A relação entre os homens ocorre por meio da fala, mas os nomes são impostos às coisas segundo a compreensão do vulgo. Bacon. Novum Organum. Livro I, LXXII.
Esses ídolos dizem respeito à linguagem, e por isso Bacon os considera os piores e mais graves ao entendimento humano. Para o lósofo, as palavras são imprecisas e se referem a coisas cuja natureza os homens não dominam. Dessa forma, eles utilizam termos e palavras sem saber exatamente o que signicam, causando grande confusão. 4 – Ídolo do teatro [Os ídolos do teatro] penetram no espírito humano por meio das diversas doutrinas losócas e por causa das péssimas regras de demonstração.
1 – Ídolo da tribo [os ídolos da tribo] estão fundados na própria natureza humana, na própria tribo ou espécie humana. BACON. Novum Organum. Livro I, LXXII.
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BACON. Novum Organum. Livro I, XCV.
BACON. Novum Organum. Livro I, LXXII.
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Epistemologia moderna Segundo Bacon, esses são os ídolos derivados das diversas doutrinas losócas e cientícas que não são verdadeiras, não passando de representações fantasiosas que poderiam ser representadas em um teatro, pois são ilusórias. Dessa forma, Bacon nos mostra quais são os preconceitos dos quais os homens devem se ver livres. Assim, passamos à segunda parte de sua losoa, que busca mostrar qual deve ser o melhor caminho ao conhecimento verdadeiro.
O método indutivo Quando o homem consegue puricar sua mente dos ídolos, ele deve buscar obter o conhecimento do mundo de forma experimental, por meio da indução. Segundo Bacon, o homem deve se colocar como uma criança diante da natureza para compreendê-la tal como ela é, sem ideias pré-concebidas. O novo método indutivo deve se preocupar com a regularidade dos fenômenos naturais, suas diferenças e seu funcionamento, de modo que, pela observação da experiência, se alcance uma lei geral. Para essas observações, pode ser necessário o uso de instrumentos, vistos como extenções dos sentidos humanos, de modo que se superem as suas limitações. Bacon representou o espírito da Ciência moderna ao defender o progresso da Ciência e sua aplicação na vida humana. Ele buscou uma ciência prática, ativa e atuante, que rompesse, através da crítica, com as antigas concepções ou ídolos, sendo capaz de representar a busca pelo domínio e pela transformação da natureza, a qual deve servir ao homem em suas necessidades.
Porém, o movimento que surgiu no século posterior tomou novos caminhos: não bastava conhecer o mundo, era necessário dominá-lo e transformá-lo de acordo com as necessidades humanas. Tal ideia encontrou seu ápice na Revolução Industrial, nascida na Inglaterra, que teve como base teórica o pensamento do lósofo inglês Francis Bacon. O que interessava aos pensadores dos séculos XVII e XVIII era o conhecimento instrumental que conduziria à descoberta de leis naturais através das quais se poderia dominar a natureza. Nesse contexto, o empirismo moderno se fortaleceu na busca do progresso da humanidade por meio do desenvolvimento das Ciências. As discussões metafísicas cederam lugar às discussões práticas de como a natureza se comporta e como o homem pode interferir nela. Porém, para que isso fosse possível, era necessário responder à pergunta acerca do limite do conhecimento humano, sobre aquilo que o homem pode conhecer, sobre como as ideias são construídas na mente humana e sobre o papel dos sentidos para o conhecimento seguro e verdadeiro da natureza. Apesar de Bacon também fazer parte dessa tradição empirista, os maiores representantes do chamado Empirismo Inglês nos séculos XVII e XVIII foram os pensadores John Locke e David Hume.
John Locke John Locke, um dos mais importantes pensadores da Epistemologia moderna, é considerado o pai do empirismo. Apesar de ter se dedicado também a reexões políticas, a importância de sua losoa deu-se principalmente em relação à teoria do conhecimento.
O EMPIRISMO INGLÊS O século XVI foi marcado pela eminência do racionalismo, corrente losóca que encontrou seu auge com a losoa de René Descartes. O racionalismo representou, por seu modo de tentar compreender o mundo, a valorização da razão em contraposição à força da autoridade medieval e antiga, representada pela Escolástica, que encontrou no Renascimento a sua crítica mais importante. O racionalismo moderno encontrou na Matemática de Copérnico e de Galileu (para citar alguns dos grandes expoentes desse pensamento) o caminho que levaria à verdade sobre o homem e o mundo, tendo, por consequência, a valorização do método dedutivo-matemático como caminho para o conhecimento das essências, das ideias e dos princípios que conduziriam o pensamento humano ao seu pleno desenvolvimento.
r e l l e n K y e r f d o G r i S
John Locke Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 11 Sua obra mais importante foi Ensaios sobre o entendimento humano, publicada em 1690. Locke debruçou-se sobre essa obra durante 20 anos e é nela que ele trata daquilo que é mais caro à sua losoa: os limites, as capacidades e as funções do intelecto humano. Segundo Locke, sua função com essa obra é trabalhar como um “ajudante de jardinagem, preparando o terreno e removendo o entulho que atrapalha o caminho do conhecimento” 6. Desse modo, Locke se propõe a reetir sobre como o homem pode alcançar o conhecimento, buscando entender, primeiramente, como as ideias são construídas na mente humana. É de grande utilidade para o marinheiro saber a extensão de sua linha, embora não possa com ela sondar toda a profundidade do oceano. É conveniente que saiba que ela é sucientemente longa para alcançar o fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem, e preveni-lo de esbarrar contra escolhos que podem destruí-lo. Não nos diz respeito conhecer todas as coisas, mas apenas aquelas que se referem à nossa conduta. LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 32.
A losoa de Locke possui três interesses principais: 1 – Epistemológico: Locke procura saber a origem das ideias e como elas são construídas pelo homem. Esse é o aspecto mais importante de toda a sua reexão losóca. 2 – Político: Locke busca compreender a formação do Estado e legitimar a propriedade privada. 3 – Religioso: Locke busca estabelecer os traços essenciais da revelação de Deus aos homens. Neste módulo, iremos tratar exclusivamente da Epistemologia de Jonh Locke.
Crítica ao inatismo Ao contrário de pensadores anteriores, Locke inovou ao armar que não é possível conhecer todas as coisas, mas somente aquelas que estão de acordo com as possibilidades humanas de conhecer.
Nesse caminho crítico, Locke contraria a posição losóca de Descartes, ao armar que não existem ideias inatas, como a ideia de Deus, que, segundo a losoa cartesiana, está presente por natureza na mente humana. Ao contrário, Locke defende que a mente humana é uma tábula rasa, uma folha de papel completamente em branco em que não há, absolutamente, nenhuma ideia escrita a priori , ou seja, não há a presença de nenhuma ideia previamente inscrita na mente dos homens. Aqui se faz necessário denir de modo pormenorizado o que Locke entende por ideia. Enquanto na tradição platônica ideia era um ser em si mesmo, uma entidade metafísica, uma substância que existia por conta própria, com Descartes e Locke, essa concepção de ideia se esvai. Para esses dois lósofos, ideia é um conteúdo do pensamento humano, ou seja, é um pensamento sobre alguma coisa, não tendo realidade em si mesma e só existindo enquanto construção mental. A diferença entre a posição filosófica de Descartes e a de Locke é que, enquanto o primeiro acredita que algumas dessas ideias são inatas e outras são adventícias e factícias, para o segundo, as ideias que existem na mente não podem, de forma alguma, serem inatas. Dessa maneira, Locke defende que: A)não existem ideias, princípios ou quaisquer conteúdos inatos na mente humana; B)nenhum intelecto humano é capaz, de forma alguma, de criar ou destruir ideias que existam nele; C) a única fonte das ideias é a experiência, ou seja, todas as ideias são originadas nas experiências humanas. O principal argumento que Locke refuta é aquele acerca da presença de ideias inatas, elaborando, assim, a sua crítica ao inatismo, segundo a qual, se existissem ideias inatas, todos os homens deveriam alcançá-las, o que não acontece, por exemplo, com a ideia de Deus ou com os princípios de identidade e de não contradição7. Se existissem ideias morais inatas – por exemplo a ideia de que matar uma criança é errado por si mesmo e, logo, essa “lei” deveria estar inscrita na mente e no coração de todos os homens –, todos deveriam seguir tais ideias, o que, na prática, não acontece, pois algumas culturas aceitam valores e fatos que para outras seriam absurdos ou antinaturais, agindo, portanto, de modo diferente. Assim, para Locke, sustentar que as ideias inatas existam, mas que não foram encontradas por alguns, seria absurdo.
LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Epístola ao leitor. p. 27.
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Identidade: Na lógica, o princípio da identidade, uma das três leis básicas do raciocínio para Aristóteles, se expressa pela fórmula “A = A”,ou seja, todo objeto é igual a si mesmo. IN: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de losoa. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. Contradição: [...] A ontologia tradicional tem por premissa fundamental o princípio da não-contradição aplicado ao ser mesmo. O pensamento da contradição é insustentável, porque desqualica todo pensamento, que se torna uma opinião sem valor de verdade. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosoa. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. 7
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Epistemologia moderna
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M n a b e t s E é m o l o t r a B
Sagrada família (1650). Segundo Locke, tudo o que conhecemos sobre o mundo chega à nossa mente através dos sentidos. Nessa imagem, a criança, observando o cachorro, chegará à ideia de o que é um cachorro.
Locke arma que não há motivos para crer que a alma pense antes que os sentidos lhe tenham fornecido ideias nas quais pensar.
As idéias, especialmente as pertencentes aos princípios, não nascem com as crianças. Se consideramos cuidadosamente as crianças recém-nascidas, teremos bem poucos motivos para crer que elas trazem consigo a este mundo muitas idéias. Excetuando, talvez, algumas pálidas idéias de fome, sede e calor, e certas dores, que sentiram talvez no ventre,
Suponhamos, pois, que a mente é, como papel branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer idéias; como ela será suprida? De onde provém este vasto estoque, que ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela como uma variedade innita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? Aí eu respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento. Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos percebidos e reetidos, nossa observação supre nossos entendimentos com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas idéias, ou as que possivelmente teremos. LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento Humano. Tradução de Anoar Aiex e E. Jacy Monteiro. 2. ed. São Paulo: Abril Cultura, 1978. p. 159.
É clara a diferença entre a concepção de conhecimento para Locke e para Descartes. Este prioriza o papel do sujeito para o conhecimento, uma vez que aquilo que garante a verdade é a ideia clara e distinta que o sujeito conhecedor alcança, sem interferência do objeto, sobre a coisa que está sendo pensada. Por outro lado, de acordo com a tese empirista de Locke, o conhecimento alcançado sobre algo é fruto das experiências realizadas, as quais dão ao homem os conteúdos essenciais a partir dos quais as ideias serão formadas. Para Locke, a mente humana é como cera quente, que, aos poucos, vai adquirindo a forma do objeto que está sendo experimentado.
não há a menor manifestação de idéias estabelecidas nelas, especialmente das idéias que respondem aos termos que formam proposições universais que são consideradas princípios inatos. Pode-se perceber como, por graus, posteriormente, as idéias chegam às suas mentes, e não adquirem mais, nem outras, do que as fornecidas pela experiência e a observação das coisas que aparecem em seu caminho, o que deve ser suciente para convencer-nos de que não há caracteres originais impressos na mente. LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 51.
Ou seja, são os sentidos, as experiências, que oferecem à mente a matéria-prima das ideias. Defendendo a ideia da tábula rasa, Locke arma:
Segundo Locke, a mente humana é como se fosse uma cera quente que recebe a gura do brasão. O que permanece na mente são as idéias, cópias das experiências realizadas. Editora Bernoulli
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A constituição das ideias Locke acredita que todas as ideias nascem da experiência, por isso é necessário distinguir as experiências, já que não há ideias inatas no homem. Assim, em sua losoa, ele distingui as experiências em dois tipos: A)Experiências externas dos objetos que nos cercam. Essas experiências geram a ideia simples ligada às sensações, como as ideias de cor, odor, sabor, textura, som e cheiro. E, pelo conjunto de sensações, geram as ideias de solidez, extensão, movimento, repouso, número e conguração. Exemplo: Ao se observar uma piscina, percebe-se que sua água está transparente, fria e com odor de cloro. Também é possível perceber que ela é grande, profunda, que a água está em movimento e que foi construída em formato retangular. É necessário deixar claro que as ideias simples, que nascem dos sentidos particulares, são subjetivas, já que podem variar de uma pessoa para outra. Duas pessoas podem, por exemplo, ter sensações diferentes sobre a água da piscina, sendo que para uma a água pode estar extremamente fria e, para a outra, nem tanto. Porém, as ideias simples relacionadas às qualidades físicas do objeto em questão, como comprimento, profundidade, extensão, não variam, uma vez que não dependem de impressões subjetivas, mas dizem respeito às suas características objetivas. B) Experiência realizada pela refexão. Reexão é a capacidade da mente de perceber seus processos internos; logo, esse tipo de experiência refere-se à mente pensando em si própria ao produzir as ideias. A mente humana não possui ideias inatas, mas pode trabalhar com as percepções originadas da sensibilidade do homem. Exemplos: prazer, dor, força, distinção, comparação, etc.
Qualidades primárias e secundárias Os objetos do mundo externo que geram as ideias simples podem ser conhecidos de acordo com suas qualidades primárias e secundárias. No exemplo da piscina, percebe-se que ela possui características objetivas, invariáveis e independentes do observador, as quais estão ligadas a solidez, extensão, movimento, repouso, número e conguração. Tais características invariáveis são as qualidades primárias do objeto. As características variáveis, que podem ser diferentes de acordo com o observador – e que são, portanto, subjetivas, como a cor, o odor, a sabor –, são as qualidades secundárias do ser. Tanto as qualidades primárias quanto as secundárias originam-se do objeto, não existindo por conta própria ou na mente humana sem que o homem tenha contato com o objeto para que elas sejam formadas. Qualidades primárias: São objetivas e produzem no homem a cópia exata daquilo que o objeto é em si mesmo. São qualidades dos próprios seres sem precisar do auxílio do homem para que existam.
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Qualidades secundárias: São subjetivas e, portanto, não se assemelham exatamente àquilo que o objeto traz em si. São qualidades nascidas do encontro entre o homem e o objeto.
Ideias simples e ideias complexas Como vimos anteriormente, as ideias simples são formadas pela capacidade do homem de receber as informações dos objetos, podendo ser constituídas por qualidades primárias ou secundárias do ser. Porém, uma vez que o homem adquire essas ideias simples, elas juntam-se na mente humana das formas mais variadas possíveis. Assim, as ideias complexas são produzidas pelo homem a partir das ideias simples. Em suma, a ideia complexa é a reunião de várias ideias simples. Desse modo, as ideias simples são adquiridas de forma passiva, e as complexas de forma ativa, já que o homem pode ordená-las e compô-las de várias maneiras, formando novas ideias a partir dessas separações, composições, distinções, etc. São exemplos de ideias complexas: o espaço, a duração, as ações morais, as coisas corpóreas e as coisas espirituais, a causalidade, a identidade, as ideias morais, dentre outras.
David Hume Nascido em Edimburgo, na Escócia, David Hume cou conhecido como um empirista radical, devido ao seu ceticismo em relação às ideias que não têm fundamento nas experiências. Membro de uma família pertencente à pequena nobreza de proprietários de terra, desde cedo mostrou-se portador de uma inteligência ímpar. Seus pais queriam que ele estudasse Direito e se tornasse advogado, porém, Hume negou-se a dedicar-se a outra atividade que não fosse a Filosoa. Aos 18 anos de idade, teve a intuição de uma nova “ciência da natureza”. Dedicou-se arduamente aos estudos dessa nova concepção losóca, a ponto de ultrapassar os limites do corpo, caindo em depressão, doença da qual se livrou somente após longo tratamento.
y a s
m a R n a l l A
Hume cou conhecido como um empirista radical, por excluir qualquer forma de conhecimento de coisas que não podem ser experimentadas.
Epistemologia moderna Sua nova “ciência da natureza” levou-o a um novo cenário de pensamento que culminou com sua obra magistral, Tratado sobre o entendimento humano, publicada em Londres em 1739. Em sua 2ª edição, em 1748, a obra sofreu algumas alterações e recebeu um novo nome: Investigação sobre o entendimento humano. Além dessas obras, Hume publicou, dentre outras menos importantes, a História da Inglaterra, um compêndio de 8 volumes ao qual se dedicou durante dez anos. Hume tentou seguir uma carreira acadêmica, sem sucesso, já que não foi aceito como professor em universidades como as de Edimburgo e Glasgow devido a algumas de suas ideias, interpretadas como ateísmo. Porém, gozou de relativo prestígio em outros campos, ocupando importantes cargos no governo. Apesar de seus contemporâneos não terem reconhecido o valor do seu Tratado sobre o entendimento humano, é nele que se encontram as principais ideias de Hume sobre sua nova concepção de Filosoa.
A ciência do homem O objetivo da losoa de Hume era compreender os caminhos e os limites do conhecimento humano. Com Bacon, surgiu um novo método que permitiu ao homem conhecer o mundo e, agora, era necessário utilizar esse método experimental para conhecer o homem e elaborar uma “ciência do homem”. Assim, o objetivo da losoa de Hume era compreender a origem das ideias e como elas surgiam na mente humana. Dessa forma, o lósofo buscou explicar o “alcance e a força do intelecto humano” e também a origem ou natureza das ideias e como se elas comportam dentro da mente humana. Seguindo a posição empirista de Locke e Bacon, Hume toma como ponto de partida de sua losoa a conança nos sentidos como únicas fontes do conhecimento. Assim, para ele, as ideias têm uma única origem, que se dá nas experiências.
Impressões e ideias Uma vez que as ideias originam-se das experiências realizadas pelo homem no mundo sensível, essas experiências são a matéria-prima de todo e qualquer conhecimento ou ideias. Desse modo, todos os conteúdos mentais são originados das impressões sensíveis, que são as percepções imediatas que o homem tem ao experimentar algo. As ideias, por sua vez, são os resquícios das impressões, as lembranças das impressões realizadas no mundo, chamadas por Hume de percepções8. As impressões são mais vivas e têm mais força do que as ideias, já que estas referem-se a lembranças, vestígios mentais daquilo que foi experimentado.
A diferença entre impressões e ideias consiste no grau diverso de força e vivacidade com que as percepções atingem nossa mente e penetram no pensamento ou na consciência. As percepções que se apresentam com maior força e violência podem ser chamadas de impressões – e, sob essa denominação, eu compreendo todas as sensações, paixões e emoções, quando fazem a sua primeira aparição em nossa alma. Por ideias, ao contrário, entendo as imagens enlanguescidas das impressões. [...] Podemos, por conseguinte, dividir todas as percepções do espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem por seus diferentes graus de força e vivacidade. HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1989. p. 69.
Dessa diferenciação entre impressões e ideias, nasce a distinção entre sentir e pensar. O que diferencia uma coisa da outra é o seu grau de intensidade: o sentir é mais forte, e o pensar é mais fraco. Desse modo, a ideia depende da impressão. Primeiro se experimenta e, como resultado dessa experiência, nasce a ideia. Nas palavras de Hume: Todas as ideias simples provêm, mediata ou imediatamente, de suas correspondentes impressões. HUME, David. In: REALE, Giovanni. História da Filosoa Antiga. 2. ed. 7v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume IV. p. 135.
Impressões simples e complexas e ideias simples e complexas Hume faz outra diferenciação importante para a compreensão de sua filosofia, que é a distinção entre impressões simples e complexas e ideias simples e complexas. Impressões simples: são as impressões das características sensitivas particulares do objeto experimentado. Por exemplo: transparente, frio, rígido, etc. Cada uma delas refere-se a um dos sentidos humanos. O vermelho é percebido pela visão, já o frio e a rigidez são percebidos pelo tato. Impressões complexas: são as impressões do objeto como um todo. Exemplo: gelo, fogo, mesa, etc. Ideias simples: são as cópias enfraquecidas das impressões simples. Ideias complexas: são as cópias enfraquecidas das impressões complexas.
Percepção, para Hume, acompanhando o empirismo de Berkeley, refere-se a tudo aquilo que se apresenta à mente humana. Nesse caso, são tanto as impressões (simples ou complexas) quanto as ideias (simples ou complexas). 8
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Frente A Módulo 11 Segundo Hume, a mente humana possui a faculdade da memória, que é capaz de guardar as ideias, as quais são lembranças das impressões. Porém, a mente possui outra faculdade, a imaginação, que é responsável pelos inúmeros modos de compor, combinar, separar e distinguir as ideias. A imaginação combina as ideias das mais variadas formas, e essas combinações podem ser tanto frutos da simples fantasia como de outras formas, chamadas por Hume de “princípio da associação de ideias”.
As associações de ideias Para Hume, as ideias contidas na mente humana associam-se a partir de três princípios mentais, chamados pelo lósofo de propriedades. São eles: 1 – Contiguidade (no espaço e no tempo): associações de ideias que estão ligadas a outras no tempo ou no espaço. Exemplos: um lugar aconchegante que faz o homem se lembrar de sua cama; a chegada do mês de dezembro, que faz o homem se lembrar do Natal e das festas de m de ano; uma música, que faz o homem se lembrar de uma pessoa ou de um lugar, etc. 2 – Semelhança: associações de ideias que se assemelham. Exemplos: uma foto que traz à mente a lembrança da pessoa retratada; a escola atual, que faz o homem lembrar das escolas em que estudou quando era criança pela semelhança da arquitetura da construção; quando o homem entra em uma loja e recorda-se de outro estabelecimento que tinha uma decoração parecida com aquela, etc. 3 – Causa e efeito: associações de ideias que são estabelecidas por causa e efeito. Exemplo: o fogo que faz lembrar o calor; a fumaça que faz lembrar o fogo; o acidente que faz lembrar a morte ou a dor. Embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente connado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 36.
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Desse modo, Hume acredita que as ideias são associadas de distintas maneiras na mente humana. Porém, as ideias verdadeiras são aquelas que têm um correspondente material, ou seja, que nasceram de uma impressão, como a ideia de maçã, de casa, de livro, etc. Essas ideias são verdadeiras porque nascem de impressões sensíveis das coisas. No entanto, é possível a existência de ideias que partam exclusivamente da imaginação humana, a qual associou ideias simples ou complexas formando novos conceitos que não são reais e não passam de fantasia. Como exemplo, podemos pensar nas ideias de sereia e do minotauro, que são associações de ideias fantasiosas, já que não foram originadas da experiência, mas são somente atividade da imaginação, que une a ideia complexa de peixe com a ideia complexa de mulher e forma a ideia de sereia, da mesma forma, une a ideia de homem com a ideia de touro e forma a ideia de minotauro. Nesse mesmo raciocínio, podemos incluir as ideias de montanha de ouro, anjos, demônios, monstros e, inclusive, a ideia de Deus. Para vericar se uma ideia é verdadeira ou falsa, é necessário analisá-la, buscando as impressões que a originaram. Caso não sejam encontradas essas impressões, o homem saberá que tal ideia é falsa e fruto de sua imaginação, uma vez que todo conhecimento ou ideia verdadeira deve ter sua origem nas sensações ou nas experiências. Nessa mesma perspectiva, Hume arma que as ideias de Deus e de “eu” não podem ser denidas. Para o lósofo, a ideia que os homens têm de Deus resulta de várias ideias simples nascidas das impressões obtidas pelos sentidos humanos. Dessa forma, o homem reuniu na ideia de ser superior as ideias originadas de suas experiências particulares de bondade, justiça, compaixão experimentadas nas relações interpessoais. Portanto, para Hume, a ideia de Deus não passa de uma ilusão, assim como a ideia de “eu” enquanto substância ou essência. Segundo o lósofo, essa ideia também não passa de invenção da mente humana, já que é variável e subjetiva, resultando do conjunto de experiências realizadas ao longo da vida do indivíduo. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas idéias compatíveis, ouro e montanha, que outrora conhecêramos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, pois o sentimento que temos de nós mesmos nos permite conceber a virtude e podemos uni-la à gura e forma de um cavalo, que é um animal bem conhecido. HUME, David. Investigações acerca do entendimento humano. Seção II. São Paulo: Abril Cultural, 1989. Coleção Os Pensadores.
Epistemologia moderna Segundo Hume, a investigação humana, ou seja, os instrumentos com os quais o homem pesquisa e busca conhecer a realidade, divide-se em dois campos de investigação: “as relações de ideias” e “os dados de fato”. A)Relações de ideias: são todas as investigações que se baseiam em conteúdos abstratos e ideias. Trata-se da utilização da álgebra, da geometria e da aritmética como instrumentos para estabelecer uma análise conceitual com base somente nas ideias, uma vez que os números não são reais em si, mas abstrações. Quando o homem alcança a ideia de que 5 + 10 é a quinta parte de 75, esse raciocínio trata somente de relações de ideias sem que haja qualquer experiência envolvida nesta conclusão. Assim, os resultados dessas investigações são certos e evidentes. B)Dados de fato: não apresentam a mesma certeza das relações de ideias, não trazendo em si uma lógica, já que são resultados da associação de fatos e experiências baseados em relações de causa e efeito. Todos os raciocínios que dizem respeito à realidade dos fatos parecem fundados na relação de causa e efeito. É só graças a essa relação que podemos ultrapassar a evidência de nossa memória e dos sentidos. HUME, David. In: REALE, Giovanni. História da Filosoa Antiga. 2. ed. 7v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume IV. p. 138.
Hume critica os dados de fato enquanto fonte de conhecimento, já que, para ele, essas relações de causa e efeito que caracterizam os dados de fato têm sempre um caráter particular, porque nascem de experiências particulares dos seres. Os homens realizam generalizações sobre as experiências particulares, criando ideias gerais que dizem respeito a inúmeros objetos reais e particulares que tenham alguma semelhança entre si. Por exemplo, criamos a ideia geral de homem a partir de experiências particulares de vários homens que observamos ao longo da vida. Dessa maneira, esse conceito universal é resultado somente da força do hábito que nos leva a criar essas ideias generalizantes.
Hábitos e costumes Hume utiliza um exemplo que se tornou clássico para se referir à sua crítica sobre as relações de causa e efeito: se observarmos o movimento de uma bola de bilhar em uma mesa, tudo o que se pode ver é o impacto de uma bola na outra, e desta em outra e assim sucessivamente. A experiência nos mostra apenas as bolas que se chocam e não a existência de algo que faz com que esse acontecimento se torne inevitável, aquilo que os homens chamam de causalidade, ou seja, a relação de causa-efeito
Para Hume, causa e efeito são duas ideias separadas e distintas. Segundo ele, a relação de causa e efeito que os homens, principalmente os cientistas, insistem em encontrar entre os fenômenos não passa de um costume de ver dois acontecimentos sempre unidos, por exemplo, o ferimento e a dor, mas isso não signica que um seja a causa e o outro o efeito. Se assim o fosse, seria possível identicar o efeito de alguma causa mesmo antes que esta acontecesse, ou seja, seria possível saber a priori qual é o efeito de determinado fenômeno antes que ele ocorresse. E mais, se existisse causa e efeito, sempre que ocorresse uma causa, inevitavelmente seu efeito seria vericado, o que não acontece. Pense nesse exemplo: acredita-se que a fumaça é o efeito do fogo; porém, são possíveis situações em que haja fogo mas não fumaça, como quando se acende a trempe de um fogão qualquer. Um outro exemplo dado por Hume é: será que Adão, ao ver a água (causa) pela primeira vez, sabia que ela teria o poder (efeito da água) de molhar ou afogar alguém? Desse modo, o lósofo arma que são as experiências que nos levam às conclusões que temos acerca dos fatos. Por exemplo, chegamos à conclusão de que o remédio sempre curará a dor de cabeça, pois, até hoje, sempre que tomado, tal efeito foi comprovado. Mas, será que sempre será assim? Será que este efeito sempre ocorrerá? Se existir a relação de causa e efeito, toda vez que o remédio for tomado, a dor de cabeça será curada. Mas, se em alguma ocasião isso não ocorrer, signica então que não existem relações de causa e efeito.
Se um objeto nos fosse apresentado e fôssemos solicitados a nos pronunciar, sem consulta à observação passada, sobre o efeito que dele resultará, de que maneira, eu pergunto, deveria a mente proceder nessa operação? Ela deve inventar ou imaginar algum resultado para atribuir ao objeto como seu efeito, e é obvio que essa invenção terá de ser inteiramente arbitrária. O mais atento exame e escrutínio não permite à mente encontrar o efeito na suposta causa, pois o efeito é totalmente diferente da causa e não pode, conseqüentemente, revelar-se nela. HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral . Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: UNESP, 2004. p. 57-58.
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Hábito e crença
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
Hume defende, então, que o costume e o hábito é que levam o homem a acreditar nas relações de causa e efeito, e não algo real e vericável na realidade. Esse costume leva o homem à crença de que tais fenômenos sempre ocorrerão. Essa crença nos dá a ilusão de que estamos diante de um fenômeno determinado por causa e efeito, ilusão esta que nos leva à convicção de que, uma vez ocorrida a causa, o efeito inevitavelmente a sucederá.
01.
Ao fim de sua reflexão, Hume afirma que aquilo que possibilita a relação de causa e efeito não são proposições ou princípios racionais, mas somente um sentimento afetivo-irracional, que é a crença.
O ceticismo de Hume Hume arma que todo o conhecimento humano nasce de impressões sensíveis da realidade e da reexão das ideias que surgem na mente do homem. Porém, essas ideias são sempre variáveis, uma vez que nascem das experiências particulares dos homens, e as relações entre tais ideias são frutos das relações de causalidade, as quais não passam de crenças ilusórias provenientes do hábito. Desse modo, para Hume, nenhum conhecimento é certo e seguro. Toda a Ciência é resultado de induções que não garantem certeza alguma, já que essas induções são generalizações estéreis, sem grau de certeza ou verdade. Portanto, o único conhecimento que o homem pode obter da realidade são probabilidades. A Ciência, que acreditava poder permitir o conhecimento do mundo tal como ele é, que acreditava ser possível encontrar certezas e verdades claras e distintas sobre as coisas, precisa agora contentar-se com hipóteses prováveis, que nunca poderão ser conrmadas como certeza cientíca. É nesse sentido e por esses motivos que Hume é considerado um cético. Nosso conhecimento, nossas pretensões à ciência, em última análise, não podem ser fundamentadas, justicadas ou legitimadas por nenhum princípio ou argumento racional. A maneira pela qual conhecemos e pela qual agimos no real depende apenas de nossa natureza, de nossos costumes e de nossos hábitos. [...] Alguns o consideram [Hume] um cético, na medida em que nega a possibilidade de um conhecimento certo, denitivo e justicado. Outros o consideram um naturalista, na medida em que o ceticismo dá lugar ao naturalismo, isto é, à posição segundo a qual é nossa natureza que nos impulsiona a julgar e a agir. MARCONDES. Danilo. Iniciação à história da Filosoa: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1997. p. 185.
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Tomemos [...] este pedaço de cera que acaba de ser tirado da colméia: ele não perdeu ainda a doçura do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores de que foi recolhido; sua cor, sua gura, sua grandeza, são patentes; é duro, é frio, tocamo-lo e, se nele batermos, produzirá algum som. Enm, todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo encontram-se neste. Mas eis que, enquanto falo, é aproximado do fogo: o que nele restava de sabor exala-se, o odor se esvai, sua cor se modica, sua gura se altera, sua grandeza aumenta, ele torna-se líquido, esquenta-se, mal o podemos tocar e, embora nele batamos, nenhum som produzirá. A mesma cera permanece após essa modicação? Cumpre confessar que permanece: e ninguém o pode negar. O que é, pois, que se conhecia deste pedaço de cera com tanta distinção? DESCARTES, René. Meditações. Tradução de Jacó Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 272.
A partir desse trecho e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a tese defendida por Descartes e explicitando a importância desse problema para a Filosoa.
02.
Para Bacon, o método científico é um conjunto de regras para observar fenômenos e inferir conclusões a partir de tais observações. O método de Bacon é, pois, indutivo. As regras de Bacon eram simples, a tal ponto que qualquer pessoa [...] poderia apreendê-las e aplicá-las. Eram também infalíveis: bastava aplicá-las para fazer a ciência avançar. Naturalmente, nem Bacon nem qualquer outro lograram jamais contribuir para a ciência usando os cânones indutivos – nem os de Bacon, nem os de Mill, nem os de qualquer outro. Porém, a idéia de que existe tal método e de que a sua aplicação não requer talento, e tão-pouco uma extensa preparação prévia, é tão atrativa que ainda existem os que acreditam na sua ecácia. [...] Descartes, que, ao contrário de Bacon, era um matemático e cientista de primeira linha, não acreditava na indução, mas na análise e na dedução. Enquanto Bacon exagerava a importância da experiência comum e ignorava a experimentação e a existência de teorias, pa rt ic ul ar me nt e te or ia s ma te má ti ca s, De sc ar te s menosprezava a experiência. Com efeito, deveria partir-se de princípios supremos, de natureza metafísica e mesmo teológica, para deles obter verdades matemáticas e verdades acerca da natureza do homem. [...] A Ciência Natura l moderna nasce à margem dessas fantasias filosóficas. Galileu não se conforma com a observação pura (teoricamente neutra) e tão-pouco com a conjectura arbitrária. Galileu propõe hipóteses e submete-as à prova experimental. Funda assim a dinâmica moderna, primeira fase da Ciência Moderna. BUNGE, Mario. A Epistemologia. Tradução de Cláudio Navarra. São Paulo: 1980.
A partir desse trecho e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a importância do método cientíco para a Ciência Moderna.
Epistemologia moderna 03.
Se um objeto nos fosse apresentado e fôssemos solicitados a nos pronunciar, sem consulta à observação passada, sobre o efeito que dele resultará, de que maneira, eu pergunto, deveria a mente proceder nessa operação? Ela deve inventar ou imaginar algum resultado para atribuir ao objeto como seu efeito, e é óbvio que essa invenção terá de ser inteiramente arbitrária. O mais atento exame e escrutínio não permite à mente encontrar o efeito na suposta causa, pois o efeito é totalmente diferente da causa e não pode, conseqüentemente, revelar-se nela.
03.
Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos ardiloso e enganador do que poderoso, que empregou toda a sua indústria em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as guras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que ele se serve para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei a mim mesmo absolutamente desprovido de mãos, de olhos, de carne, de sangue, desprovido de quaisquer sentidos, mas dotado da falsa crença de ter todas essas coisas. Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento; e se, po r es se me io , nã o es tá em me u po de r ch eg ar ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está ao meu alcance suspender meu juízo. Eis por que cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma falsidade, e prepararei tão bem meu espírito a todos os ardis desse grande enganador que, por poderoso e ardiloso que seja, nunca poderá impor-me algo.
HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral . Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: UNESP, 2004. p. 57-58.
Exemplo de causalidade: ciclones tropicais formam-se quando a energia liberada pela condensação da umidade em correntes de ar ascendentes causa uma retroalimentação positiva sobre as águas mornas dos oceanos. EMANUEL, Kerry. Anthropogenic Effects on Tropical Cyclone Activity. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Causalidade#cite_note-0. Acesso em: 23 nov. 2010.
De acordo com a losoa de Hume, REDIJA um texto respondendo à seguinte questão: toda causa tem um efeito?
DESCARTES, René. Meditações. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 88-89.
Com base na leitura desse trecho e considerando outras ideias contidas nessa obra de Descartes, REDIJA um texto explicando como o lósofo se mostra capaz de vencer o gênio maligno.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01.
[a razão] é naturalmente igual em todos os homens; e, destarte, que a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suciente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. DESCARTES, René. Discurso do método, para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 29.
A partir do trecho anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Descartes.
02.
O exercício da dúvida é o procedimento identicado com o ceticismo. Descartes, no entanto, utilizou do expediente da dúvida com outro propósito. A respeito de sua conduta e do comportamento dos céticos, Descartes manifestou-se na terceira parte do Discurso do Método: Não que imitasse, para tanto, os céticos, que duvidam apenas por duvidar e afetam ser sempre irresolutos: pois, ao contrário, todo o meu intuito tendia tão-somente a me certicar e remover a terra movediça e a areia, para encontrar a rocha ou a argila. DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 1979. p. 44. Coleção Os Pensadores.
REDIJA um texto explicando que outros propósitos levaram Descartes a utilizar o caminho dos céticos.
(UFMG–2006) Leia este trecho:
04. Senhora, Algumas vezes eu coloquei a mim mesmo uma dúvida: saber se é melhor estar alegre e contente, imaginando que os bens que possuímos são maiores e mais estimáveis do que eles são e ignorando os que nos faltam, ou não parando para considerá-los, ou se é melhor ter mais consideração e saber, para conhecer o justo valor de uns e de outros, e com isto tornar-se mais triste. Se eu pensasse que o soberano bem fosse a alegria, eu nunca duvidaria de que deveríamos dedicar-nos a tornarmo-nos alegres a qualquer preço, e eu aprovaria a brutalidade daqueles que afogam suas mágoas no vinho ou as atordoam com o fumo. Mas eu distingo entre o soberano bem, que consiste no exercício da virtude [...] e a satisfação do espírito que acompanha esta posse. É por isto que é uma maior perfeição conhecer a verdade, mesmo que desvantajosa a nós, que ignorála, e eu confesso que é melhor estar menos alegre e ter mais conhecimento. DESCARTES, R. Carta a Elizabeth, de 6 de outubro de 1645.
IDENTIFIQUE a tese defendida por Descartes nesta passagem e, em seguida, REDIJA um texto posicionando-se contra ou a favor dessa tese. Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 11 05.
Que ninguém espere um grande progresso nas ciências, especialmente no seu lado prático, até que a losoa natural seja levada às ciências particulares e as ciências particulares sejam incorporadas à losoa natural. [...] De fato, desde que as ciências particulares se constituíram e se dispersaram, não mais se alimentaram da losoa natural, que lhes poderia ter transmitido as fontes e o verdadeiro conhecimento dos movimentos, dos raios, dos sons, da estrutura e do esquematismo dos corpos, das afecções e das percepções intelectuais, o que lhes teria infundido novas forças para novos progressos.
Deixe-nos, portanto, usar um pouco de liberdade de denominá-las impressões, empregando essa palavra num sentido de algum modo diferente do usual. Pelo termo impressão, entendo, pois, todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos.
BACON, Francis. Novum Organum. Tradução de José Aluysio Reis de Andrade. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988 p. 48.
Com base na leitura desses trechos e considerando outras informações presentes na obra citada, EXPLIQUE, segundo Hume, a origem da ideia de Deus.
[...] todas as nossas idéias ou percepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas . HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. 5. ed. Tradução de Anoar Alex. São Paulo: Abril Cultural, 1992. p. 69-70. (Os Pensadores).
REDIJA um texto explicando as condições de possibilidade do progresso da Ciência, segundo o trecho anterior.
06.
As idéias, especialmente as pertencentes aos princípios, não nascem com as crianças. Se consideramos cuidadosamente as crianças recém-nascidas, teremos bem poucos motivos para crer que elas trazem consigo a este mundo muitas idéias. Excetuando, talvez, algumas pálidas idéias de fome, sede e calor, e certas dores, que sentiram talvez no ventre, não há a menor manifestação de idéias estabelecidas nelas, especialmente das idéias que respondem aos termos que formam proposições universais que são consideradas princípios inatos. LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 51.
De acordo com esse trecho e com outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando qual é a origem das ideias para Locke.
07.
[...] embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, vericamos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente connado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência.
SEÇÃO ENEM 01.
É de grande utilidade para o marinheiro saber a extensão de sua linha, embora não possa com ela sondar toda a profundidade do oceano. É conveniente que saiba que ela é sucientemente longa para alcançar o fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem, e preveni-lo de esbarrar contra escolhos que podem destruí-lo. LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 32.
John Locke é um dos grandes pensadores da Modernidade, fazendo parte de um seleto grupo de filósofos que receberam o nome de empiristas ingleses. Sua teoria busca responder a um dos problemas losócos mais importantes, tanto para a Filosoa quanto para todas as outras ciências: como o homem pode conhecer? Na citação anterior, ele expressa essa questão utilizando uma metáfora. Por meio dessa metáfora, é possível dizer que Locke acredita que o pensamento humano pode
HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1989. p. 70. Coleção Os Pensadores.
A) conhecer toda a realidade, independentemente de qual ela seja, pois ele é o único ser racional e sua racionalidade constitui exatamente nessa capacidade.
A partir do trecho anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Hume.
B) conhecer somente algumas coisas que estão à sua volta, pois a liberdade de conhecimento é limitada pela capacidade de pensar do homem.
(UFMG–2007) Leia estes trechos:
C) conhecer somente as realidades materiais, de forma que as realidades abstratas, como os sentimentos, não podem ser conhecidos.
08.
Podemos, por conseguinte, dividir todas as percepções do espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem por seus diferentes graus de força e de vivacidade. As menos fortes e menos vivas são geralmente denominadas pensamentos ou idéias. A outra espécie não possui um nome em nosso idioma e na maioria dos outros, porque, suponho, somente com ns losócos era necessário compreendê-las sob um termo ou nomenclatura geral.
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D) conhecer somente aquilo que é experimentável, e o que inclui tanto as coisas materiais do mundo como os sentimentos, como tristeza, alegria, dentre outros. E) conhecer somente os objetos e de forma precária, pois o conhecimento é sempre passageiro e incerto, uma vez que muda de pessoa para pessoa.
Epistemologia moderna
GABARITO Fixação 01. Descartes defende que o conhecimento dos seres não se dá através dos sentidos. Ao contrário, como demonstra no argumento citado, os dados observados por meio da experiência são fugidios, ou seja, não são estáveis, e, portanto, não podem ser a fonte do conhecimento verdadeiro sobre o mundo. Se a cera aparece aos sentidos com algumas características sensíveis próprias, tais características se alteram à medida que é aproximada do fogo. Dessa forma, o conhecimento que se obteve da cera, baseado nos dados empíricos, não pode ser o único, uma vez que os dados empíricos sofreram alterações. Conclui-se, portanto, que a fonte do conhecimento verdadeiro não pode ser a experiência, mas sim a razão. O problema representado pela citação cartesiana diz respeito ao método cientíco que permite o conhecimento verdadeiro sobre o mundo. Empirismo e racionalismo se confrontam, cada um com seus argumentos, para ver qual deles prevalece como caminho seguro para o conhecimento de fato. Esta é a grande questão da Filosoa Moderna e, para alguns lósofos, o problema mais sério de toda a história da Filosoa, começando pelos pré-socráticos, passando por Platão e Aristóteles e chegando até os modernos Descartes, Locke e Hume. 02. Na Modernidade, a natureza passou por um processo de desencantamento, ou seja, foi possível, a partir daquele momento, conhecer o funcionamento da natureza e do Universo por meio da razão investigativa, inclusive com ns de dominação e de modicação da natureza, que deve estar a serviço do homem e não o contrário. O mundo desencantado é um mundo passível de ser conhecido pelo homem e por isso se fala na formação de um mundo antropocêntrico. Porém, isso não signica que tudo o que o homem diz sobre a natureza e seu funcionamento seja verdade, já que a única coisa que garante a verdade é o método. Por método, entende-se o caminho que leva à verdade. Só o método cientíco garante que aquilo que se arma é correto ou incorreto, verdadeiro ou falso. A verdade não é fruto mais da autoridade, mas das razões racionalmente expostas e que são inteligíveis e provadas, principalmente, pela Matemática. 03. Para Hume, a relação causa e efeito é uma ilusão, uma crença nascida do hábito de se ver sempre uma experiência acompanhada de outra, como o fogo acompanhado da fumaça.
Porém, tal relação não se justica, uma vez que, se ela existisse, todas as vezes que se observasse um fenômeno natural acontecido, ele deveria, sem exceção, vir acompanhado de sua causa; por exemplo, em toda combustão, deveria haver a liberação de fumaça, o que não acontece. Outro argumento utilizado pelo lósofo para contestar a relação causa-efeito é que, se tal relação fosse verdadeira, os homens deveriam ser capazes de determinar os efeitos das causas sem antes tê-las observado em nenhuma outra ocasião, pois se trataria, como no exemplo do ciclone do segundo trecho, de uma lei natural que, por si mesma, não poderia admitir nenhum outro resultado.
Propostos 01. A tese defendida por Descartes é a de que todos os homens possuem as mesmas capacidades e condições racionais ou de pensamento para encontrar as verdades. Se as condições são as mesmas em todos, o que difere entre eles é a aplicação correta dessas condições, ou, dito de outra forma, alguns homens não aplicam sua razão de maneira adequada, resultando, então, em um conhecimento falso do mundo. Observa-se a ênfase que o pensador dá ao método cientíco como caminho adequado que levará o homem ao encontro da verdade. Sendo um racionalista, Descartes defende que só por meio da razão, e não da experiência, é possível encontrar conhecimentos verdadeiros sobre o mundo, desenvolvendo o seu método cartesiano, que se resume em: regra da evidência, regra da análise, regra da síntese e regra da enumeração. 02. Ao contrário do ceticismo (em um sentido geral), que se caracteriza por duvidar de tudo acreditando não existirem verdades absolutas sobre nada, Descartes utiliza-se do caminho dos céticos, ou seja, da dúvida, para encontrar uma verdade que seja irrefutável. O caminho é o mesmo, mas os objetivos são completamente distintos. A dúvida cartesiana tem como objetivo a puricação para, a partir dela, buscar encontrar uma verdade clara e distinta que possa servir como a base para o seu novo edifício do saber. Como o fogo que retira as impurezas do ouro, deixando somente o metal puro, a dúvida tem o objetivo de puricar as ideias ou verdades, deixando somente resistir a ideia pura, ou seja, irrefutável e sem sombras de dúvida. Esse é o propósito da dúvida na losoa cartesiana, manifestada especialmente no processo denominado de “dúvida metódica”, o qual levará à verdade ou certeza do Cogito.
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03. René Descartes parte da ideia de que há um gênio maligno, um Deus enganador, que emprega toda a sua indústria em enganá-lo. Porém, ainda que exista tal gênio maligno, Descartes descobre em si uma única certeza: a de que ele, enquanto coloca todas as coisas em dúvida, para isso tem que pensar, ou seja, duvidar, e, enquanto ser que duvida, arma a sua existência, não restando nenhuma dúvida de que ele próprio é algo, se esse gênio o engana; e, por mais que o engane, não poderá jamais fazer com que ele próprio (Descartes) nada seja, enquanto pensar ser alguma coisa. Assim, Descartes, a partir de uma intuição pura e primeira, chega à conclusão de que, enquanto pensar, ele é, e, se é, logo ele existe, e esta armação seria verdadeira todas as vezes que a enunciasse em seu pensamento. Descartes então chega à seguinte posição: Cogito, Ergo Sum! (Penso, logo existo!). 04. Tese: é melhor ser feliz e ignorar a verdade, ou é melhor ser menos feliz, porém conhecer a verdade. Em outras palavras, essa tese ressalta a dúvida de se é melhor ser feliz na mentira ou, ao contrário, ser infeliz na verdade. A segunda parte da resposta é subjetiva (espera-se que o aluno seja capaz de posicionar-se argumentativamente contra ou a favor dessa ideia.) Em questões neste modelo, não existe resposta certa ou errada. A favor: sou favorável à ideia cartesiana, uma vez que a verdade é um valor soberano e, sem ela, por mais que se queira, o homem não pode ser feliz de fato, mas terá tão somente uma ilusão de felicidade, pois viverá no engano e na ignorância, o que pode levar a uma felicidade ilusória, mas não à verdadeira felicidade nascida do conhecimento verdadeiro sobre si mesmo e sobre o mundo. Contra: sou contrário à tese cartesiana, pois quem determina a felicidade ou a infelicidade do homem não é a posse da verdade em si, mas a atitude do homem diante da vida. Podese pensar, facilmente, em alguém que viva na ignorância de uma traição ou de algo parecido e que seja feliz de fato, não necessitando de conhecimento, uma vez que tal homem ignora inclusive sua própria ignorância. Conhecimento e ignorância dizem respeito a campos diversos daquele que determina ou não a felicidade de um homem. 05. Bacon, faz uma defesa da necessidade da experiência, do empirismo, para o progresso da Ciência. Ao se referir à losoa natural, o lósofo fala sobre o papel dos sentidos para o conhecimento seguro. Tal corrente epistemológica defende que não é possível o conhecimento verdadeiro de todas as coisas se tal conhecimento não tenha como fundamento os sentidos, as percepções das coisas sensíveis.
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Desse modo, não é possível à Ciência progredir se ela não se voltar para a experiência, e essa experiência, que ele denomina losoa natural, não se dedicar ao conhecimento empírico do mundo. A partir da experiência é possível formar ideias, o que Bacon chama de afecções e percepções intelectuais. 06. Locke defende a tese da tábula rasa. Segundo ele, não há na mente humana absolutamente nenhuma ideia inata que nasceu com ele. Desse modo, todas as ideias que temos são provenientes das experiências que fazemos, sejam elas externas, no mundo exterior, sejam internas, como sentimentos de angústia, sofrimento, alegria, etc. Assim, a origem da ideias está sempre nas experiências e em nada mais. Se existissem ideias inatas, todos os homens, independentemente de sua cultura, localidade e tempo, deveriam alcançar as mesmas ideias sobre todos as coisas, e isso não ocorre na realidade. 07. A tese defendida por Hume no trecho da questão refere-se à origem das ideias. Segundo o lósofo, todas as ideias presentes na mente humana nascem das impressões ou experiências que temos dos seres sensíveis na realidade. Essas experiências nos fornecem a matéria-prima das ideias, que são cópias das impressões que temos em nossa mente. Portanto, por mais ideias que o homem possa elaborar, elas sempre serão produtos de nossa capacidade de combinar, transpor, aumentar ou diminuir os dados que foram formados e adquiridos a partir de nossas experiências no mundo sensível. 08. Na visão de David Hume, sempre que analisamos nossos pensamentos ou ideias, vericamos que eles podem se decompor em ideias simples, que são cópias de sensações ou experiências realizadas. Assim, a m de exemplicar sua tese, Hume expõe o seguinte argumento, que legitima que as ideias são cópias das impressões: “se evantássemos a ideia de Deus, no sentido de um ser innitamente inteligente, sábio e bondoso notaríamos que esta ideia é fruto da imaginação ou fantasia humana que, por meio de associações de ideias, toma como fundamento todas as experiências de qualidades positivas e as eleva ao innito, dando a um ser a característica de possuir todas eles. Portanto, Deus seria fruto da imaginação humana e não um ser em si mesmo.”
Seção Enem 01. D
FILOSOFIA Kant ILUMINISMO Kant resume, de forma simples e extraordinária, o espírito e o objetivo do Iluminismo, na sua magistral obra Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? (1784), da seguinte forma: Esclarecimento ( Aufklärung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! (Ousa pensar!) Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?. In: Textos Seletos. Tradução de Floriano de S. Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 103.
O Iluminismo foi um movimento losóco do século XVIII, desenvolvido particularmente na França, na Alemanha e na Inglaterra, que teve como objetivo retirar o homem da escuridão da ignorância e levá-lo ao esclarecimento, tornando tudo claro à razão humana. Por isso, esse movimento recebeu também o nome de Século das Luzes, Ilustração ou Esclarecimento. O ideal iluminista consistia, assim, em tornar tudo perfeitamente claro e compreensível para o homem, de forma que somente ele pudesse ser o grande artíce e protagonista dessas conquistas. O Iluminismo denunciou tudo aquilo que era obscuro, supersticioso e dogmático, acreditando que a luz da razão crítica deveria romper com as amarras da autoridade e da força, transformando o mundo pelo conhecimento.
O Iluminismo é marcado pela busca da verdade pelos homens, os quais devem iluminar as trevas da ignorância.
MÓDULO
FRENTE
12 A
Apesar de ter sua origem como um movimento tipicamente losóco de busca da liberdade de pensamento, o Iluminismo manifestou-se também em outros campos da vida humana, como na literatura, na arte e na política. Nesses campos, o Iluminismo representou a luta do homem contra o abuso do poder por parte das autoridades, de forma que todo tipo de autoritarismo deveria ser combatido como algo irracional e, portanto, inaceitável. A razão, para o Iluminismo, era mais que uma faculdade humana, era uma força que todos possuiam e que poderia levar o homem à plena liberdade de ser e de pensar. Ao se referir à “menoridade da razão”, Kant está dizendo que o homem deve abandonar qualquer tipo de tutela que o impeça de pensar de forma autônoma e livre, livrando-se da tutela da religião cega, da subserviência que leva à escravidão do espírito e da mente, de forma a desenvolver um pensamento livre. Para este Esclarecimento (Aufklärung) porém nada mais se exige senão liberdade. E a mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade, a saber: a de fazer uso público de sua razão em todas as questões. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? In: Textos Seletos. 2. ed. Tradução de Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 104.
Segundo Schopenhauer, lósofo alemão do século XIX, o Iluminismo teve por órganon (órgão, instrumento) a luz interior, a intuição intelectual, a única que pode libertar o homem e fazê-lo construtor de um mundo racional e, sobretudo, humano. É importante ressaltar que, quando o Iluminismo fala da razão e de uma busca racional do conhecimento do Universo, ele não está se referindo ao racionalismo enquanto teoria epistemológica, mas sim à característica universal dos homens que pensam, ou seja, à racionalidade humana. A razão, para o Iluminismo, seria o caminho natural ao qual todos os homens poderiam recorrer, com o intuito de se libertarem dos grilhões da ignorância, a qual perpetuava a razão da força e não a força da razão. Esse movimento filosófico encontrou suas raízes nas concepções mecanicistas dos séculos XVI e XVII e na Revolução Científica do século XVII. Essas concepções mostraram ao homem que a natureza não agia por meio de uma vontade externa acessível somente a poucos iluminados, mas que o Universo era um grande mecanismo que podia ser conhecido por todos. Dessa maneira, pode-se compreender o papel dos enciclopedistas, que tentavam reunir o conhecimento sobre o mundo de forma a torná-lo acessível a todos os homens que dele quisessem se aproximar. Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 12 O Iluminismo manifestou-se, na esfera social, no “despotismo esclarecido”. Na esfera das Ciências e da Filosofia, esse movimento apresentou-se como uma tentativa de conhecer a natureza com a intenção de dominá-la e de transformá-la a favor do homem. No campo da moral e da religião, o Iluminismo atuou como instrumento de conhecimento das origens dos dogmas e das leis que regiam a vida humana, rompendo com toda forma de autoritarismo. Na vida política, o Iluminismo inuenciou a Revolução Francesa de 1789 e os movimentos de emancipação no continente americano a partir de 1776. No Brasil, os ideais iluministas tiveram fundamental papel na Incondência Mineira em 1789. Na Alemanha, um dos berços do pensamento iluminista, o movimento recebeu o nome de Aufklärung, ou Esclarecimento, e teve como principal representante Immanuel Kant.
Seus últimos anos de vida foram marcados por dois terríveis acontecimentos. O primeiro foi a perseguição por parte do rei Guilherme II, que, adepto de ideias reacionárias, ordenou que Kant se calasse, ainda que, a essa altura, o lósofo já tivesse reconhecimento internacional. O segundo foi a interpretação errada de suas obras, fato contra o qual Kant lutou por muito tempo, mas que, por m, acabou por vencê-lo. Kant morreu em 1804, aos 80 anos, cego, sem lucidez intelectual e sem memória. Sem dúvida, um triste m para aquele que cou conhecido como “o maior lósofo da Modernidade”.
KANT Immanuel Kant nasceu na cidade de Königsberg, hoje Kaliningrado, Alemanha, em 1724. Membro de uma família muito simples, recebeu uma educação exemplar que foi crucial para o desenvolvimento de suas obras. Em um de seus escritos, Kant lembra com gratidão a educação recebida de seus pais, principalmente de sua mãe, por quem nutria profundo carinho e admiração. Tanto na escola do pastor F. A. Schultz, local onde estudou por certo tempo, quanto em casa, Kant recebeu uma educação muito severa, marcada pelo rigor religioso protestante, o que inuenciou notadamente sua losoa moral. Kant ingressou na Universidade de Königsberg em 1740, terminando seus estudos em Filosoa em 1747. Esse período foi de extrema miséria para o lósofo e sua família. Em 1755, iniciou o doutorado e tornou-se professor livre-docente na Universidade de Königsberg, assumindo o cargo de professor efetivo somente em 1770. Seu caráter e personalidade foram características de destaque em sua vida. Todos os seus biógrafos armam que Kant era um homem íntegro, extremamente digno, sistemático, disciplinado, desprendido e determinado. Os anos que se seguiram à sua entrada como professor efetivo foram muito importantes para a losoa kantiana. De 1770 a 1781, o lósofo não produziu nenhuma obra. Até então, Kant já havia escrito 17 livros, denominados escritos pré-críticos. A partir de 1781, iniciando a sua fase crítica, Kant produz suas mais importantes obras, começando com a Crítica da razão pura (1781), Crítica da razão prática (1788) e Crítica do juízo (1790), para citar somente algumas.
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Os ideais iluministas guiaram grandes movimentos de contestação ao Antigo Regime, entre eles a Revolução Francesa de 1789.
A filosofia kantiana É possível dividir o pensamento de Kant em dois períodos: a fase pré-crítica e a fase crítica. Na fase pré-crítica, a filosofia kantiana tem como característica um racionalismo dogmático, com bases na tradição cartesiana e, principalmente, com inuência dos alemães Leibniz e Wolff. Porém, após a leitura das obras de Hume, que desenvolveu um pensamento cético em relação à possibilidade de se obter um verdadeiro conhecimento do mundo, as concepções e certezas que Kant trazia foram abaladas, principalmente em relação à forma de conhecer o mundo. Kant percebeu que os questionamentos dos empiristas tinham fundamento e precisavam ser levados em consideração. O lósofo chegou a armar que foi a partir da leitura de Hume que ele despertou de seu “sono dogmático”.
Kant É a partir desse “despertar”, portanto, que sua losoa passa à fase crítica, entendendo por crítica a tentativa de superação da dicotomia empirismo-racionalismo que deve ser realizada exatamente pela crítica. Nesse sentido, a crítica kantiana tinha como último objetivo superar o dogmatismo, buscando, pela investigação, os fundamentos do conhecimento e da ação. É nesse contexto de crítica que ca clara a ideia kantiana de colocar a razão diante de seu próprio tribunal: Um tribunal que, ao mesmo tempo que assegure suas legítimas aspirações, rechace todas as que sejam infundadas. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 4. ed. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. A IX.
Ao se propor o desao da crítica, Kant fez antes de mais nada um exercício de reexão, ou seja, a volta do pensamento para si mesmo. Assim, para o lósofo, antes de o homem colocar-se a conhecer o mundo, ele deveria dedicar-se a olhar para dentro de si mesmo e vericar suas possibilidades e limites de conhecer. Kant dene a Filosoa como “a ciência da relação de todo o conhecimento e de todo uso da razão com o m último da razão humana”. 1 Assim, a Filosoa tem como objetivo responder a quatro questões essenciais, que dizem respeito à vida do homem e ao seu modo de conhecer, correspondendo, cada uma, a uma parte especíca da Filosoa: 1 – O que posso saber? Essa pergunta diz respeito diretamente à seguinte questão: como acontece o conhecimento e como o homem pode alcançar a verdade? Esse é o problema epistemológico da filosofia kantiana, chamada por ele de metafísica. Para Kant, a metafísica, temática tratada em sua obra Crítica da razão pura, é a investigação acerca dos limites e dos caminhos para o conhecimento humano. Buscando solucionar o problema da possibilidade de se obter o conhecimento, Kant realiza a chamada Nova Revolução Copernicana do Pensamento, unindo empirismo e racionalismo em uma nova teoria do conhecimento, o criticismo, e inaugura, assim, sua fase crítica. 2 – O que devo fazer? Essa pergunta refere-se à temática tratada na obra Crítica da razão prática. Nela, Kant busca compreender quais são os fundamentos que orientam o homem em suas ações particulares e, assim, definir sua concepção de moral, que, para ele, baseia-se fundamentalmente na ideia do imperativo categórico. KANT , Immanuel. Lógica. Tradução de Guido Antônio de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. Cap. III, Ak25. 1
3 – O que posso esperar? Essa questão diz respeito à problemática da esperança, da religião. 4 – O que é o homem? Kant busca responder a essa última pergunta em seu tratado antropológico, no qual procura compreender a natureza do homem e suas possibilidades de agir e de conhecer. De certo modo, essa última problemática abarca todas as anteriores, sendo, portanto, a mais importante.
Crítica da razão pura A Crítica da razão pura, obra fundamental de Kant, consiste em sua teoria do conhecimento ou Epistemologia. Nessa obra, o lósofo elabora a losoa transcendental, que consiste na teoria sobre as causas da possibilidade do homem para conhecer o mundo, livrando o entendimento das falsidades das concepções incorretas acerca da verdade e levando o homem ao conhecimento verdadeiro e conável, o qual não é simples especulação, mas, ao contrário, é aquele que alcança a verdade por meio da Ciência.
Juízos analíticos e juízos sintéticos Juízos analíticos ou explicativos: são os juízos lógicos, os quais estão ligados à razão humana e que não produzem nenhum conhecimento, apenas reconhecendo alguma característica no objeto do juízo, e, por isso, são a priori , existindo antes de qualquer experiência daquilo que está sendo analisado. Um exemplo é a armação “um triângulo é uma gura de três ângulos”. Essa asserção é universal e necessária e, portanto, é uma verdade incontestável. Para alcançar tal denição, basta analisar a gura do triângulo. Assim, os juízos analíticos nascem da simples análise do objeto, baseando-se exclusivamente na razão – pensamento humano –, sem que seja necessária qualquer interferência dos sentidos – experiência. Juízos sintéticos ou ampliativos: ao contrário dos juízos analíticos, os juízos sintéticos são construídos depois da experiência, sendo, portanto, a posteriori . Eles produzem um conhecimento que está além daquilo que o objeto nos demonstra imediatamente, acrescentando uma informação nova a ele. Um exemplo de juízo sintético é a armação “todo homem é um ser político”. Para alcançar tal juízo, é necessário observar a realidade e fazer experiências. Porém, apenas a observação imediata e instantânea do homem não é suciente para se chegar a tal denição sobre ele. Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 12 O conhecimento produzido por esses juízos, por ser originado de generalizações – que podem ser associações de ideias e não corresponderem à verdade dos fatos e das coisas – não é universal e necessário e, portanto, não é incontestável. Esses juízos se baseiam nas experiências humanas, nos sentidos, no empirismo. Percebe-se, assim, a diferenciação entre juízos analíticos e sintéticos. Enquanto os juízos analíticos são universais e necessários, mas não produzem conhecimento novo, os juízos sintéticos ampliam o conhecimento, mas criam contestações, já que são contingentes, ou seja, podem mudar, e são frutos de generalizações. Para Kant, a Ciência baseia-se em um desses dois juízos, sendo ele insuciente para se ter um conhecimento completo sobre o mundo. Por essa razão, o filósofo almeja alcançar juízos sintéticos a priori , ou seja, juízos que ampliem o conhecimento, correspondam à realidade, mas que, ao mesmo tempo, sejam universais e necessários. Esses juízos teriam valor cientíco e losóco, sendo indubitáveis, ao mesmo tempo que poderiam produzir ideias ou conhecimentos novos sobre o mundo. Tais juízos seriam, assim, as condições de possibilidade de toda e qualquer verdade, independentemente da área na qual eles sejam aplicados. Para que esses juízos sejam alcançados, Kant considera necessário, portanto, unir razão e experiência, racionalismo e empirismo, em um mesmo e único conhecimento.
A Nova Revolução Copernicana do Pensamento Para que fosse possível alcançar os juízos sintéticos a priori , Kant propôs uma Nova Revolução Copernicana do Pensamento. Para o filósofo, era necessário que a Filosoa, antes de buscar conhecer o mundo, procurasse conhecer o homem, buscando descobrir quais são os seus atributos, características e condições enquanto sujeito conhecedor do mundo, ou seja, quais os aspectos que permitem ao homem conhecer aquilo que está à sua volta. Dessa forma, Kant ressalta que a razão, antes de se colocar a conhecer o mundo, precisa pensar em si própria, vericando seus limites, instrumentos e possibilidades de conhecer. Com isso, o lósofo propõe uma mudança radical de perspectiva, segundo a qual o homem deixaria de olhar para fora de si, para os objetos do mundo, voltando-se para dentro de si, para sua própria razão, tentando compreender quais as condições que ele tem para conhecer, como é possível conhecer e como se dá o seu conhecimento sobre o mundo.
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Para exemplicar suas ideias, Kant utilizou-se da imagem da Revolução Copernicana, dizendo que, da mesma maneira que o modelo tradicional de cosmos considerava que o Sol girava ao redor da Terra, e Copérnico sugeriu que o movimento era inverso, sendo que a Terra é que girava ao redor do Sol, não é o homem que deveria se adaptar ao objeto a ser conhecido, mas sim o objeto a ser conhecido é que deveria se adaptar às condições que o homem tem de conhecê-lo. Segundo Kant, sujeito conhecedor e objeto conhecido se relacionam. Não há, portanto, uma predominância do sujeito sobre o objeto, como defende o racionalismo, e nem do objeto sobre o sujeito, como defende o empirismo, mas é na relação entre os dois que se alcança o conhecimento. Para Kant, as condições das quais o homem lança mão para conhecer o mundo são capacidades ou faculdades inerentes à natureza humana e que lhe permitem experimentar o objeto e pensar aquilo que experimentou, chegando, portanto, ao conhecimento verdadeiro. Essas faculdades não são subjetivas, não estando, portanto, em um homem particular, mas fazendo parte da natureza humana. Buscando denir quais as condições universais que permitem ao homem obter o conhecimento, Kant estabelece, então, a denição de sujeito transcendental, o qual, segundo o lósofo, consiste na própria condição humana, comum a todos, a qual fornece as condições ou ferramentas que são as causas de possibilidade para a experiência e o pensamento. A essas condições Kant denomina formas da sensibilidade e formas do entendimento.
As formas da sensibilidade e do entendimento Para Kant, o conhecimento nasce do trabalho conjunto entre o entendimento – a razão – e a sensibilidade – os sentidos.
Formas a priori da sensibilidade As formas a priori da sensibilidade chamadas pelo lósofo também de intuições puras, são o tempo e o espaço. Essas formas não existem como realidades em si mesmas, assim, não seria possível dizer que o espaço e o tempo têm realidades fora do próprio homem, assim como outros objetos do mundo físico. Tais formas existem no homem como ferramentas que tornam possíveis as experiências. Quando percebemos um objeto, por exemplo uma mesa, e pensamos em determinadas situações – em cima da mesa, embaixo, ao lado, antes, depois –, só é possível fazer tais armações porque experimentamos tal objeto, porque temos as condições do tempo e do espaço.
Kant Outro exemplo: quando observamos uma maçã, só podemos fazê-lo porque a maçã se “encaixa” nas condições que temos de experimentá-la. Só podemos dizer que a maçã está longe de mim, é grande ou pequena, é maior que uma uva e menor do que um abacaxi porque temos o tempo e o espaço como formas que nos permitem percebê-la. Assim, os objetos adaptam-se nessas formas – tempo e espaço – e só assim posso experimentá-los, logo, sem tempo e espaço, o homem não poderia experimentar absolutamente nada.
Resolvido esse primeiro problema, surge então a questão acerca da delimitação daquilo que podemos conhecer do mundo e se é possível conhecer a essência das coisas ou somente aquilo que pode ser experimentado. A resposta para essa questão está na diferença entre o nôumeno e o fenômeno, discutidos a seguir.
Formas a priori do entendimento As formas a priori do entendimento, o qual consiste na capacidade do intelecto humano de julgar, são também chamadas por Kant de categorias. Estas são ferramentas das quais o homem dispõe para pensar aquilo que foi experimentado, ou seja, são as diversas formas que o homem tem para alcançar o conhecimento sobre o mundo. As categorias, juntamente com o tempo e com o espaço, constituem o sujeito transcendental.
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Kant apresenta 12 categorias: • Quanto à quantidade: unidade, pluralidade
e totalidade. • Quanto à qualidade: realidade, negação e limitação. • Quanto à relação: inerência e acidente (substância
e acidente), causalidade e dependência (causa e efeito), reciprocidade (ação recíproca entre agente e paciente) • Quanto à modalidade: possibilidade – impossibilidade,
existência – inexistência, necessidade – contingência. As categorias consistem nos modos de funcionamento do pensamento; são as leis do intelecto às quais as coisas que foram experimentadas devem se submeter. O homem ordena as coisas e determina-as de acordo com as categorias, que funcionam como ferramentas com as quais o homem pensa aquilo que os sentidos trazem como informações sensitivas. Assim, através das categorias, é possível criar relações entre tais informações, chegando, então, ao conhecimento (juízo). Ao denir as formas a priori da sensibilidade e as formas a priori do entendimento, Kant buscou tornar possível a formulação de juízos sintéticos a priori . Para o lósofo, se o homem tem em si as faculdades de tempo e de espaço que lhe permitem processar os dados dessa experiência, dados estes pensados pelas categorias – lembrando que tanto tempo e espaço quanto as categorias fazem parte da natureza de todos os homens –, é possível, então, alcançar verdades que ampliem o conhecimento humano e ao mesmo tempo sejam universais e necessárias.
Capa da obra Crítica da razão pura, que gura entre as mais importantes obras de Kant.
Nôumeno e fenômeno Para Kant, o homem só pode ter experiências sensíveis devido ao tempo e ao espaço, e, uma vez tidas essas experiências, ele é capaz, por meio das categorias do pensamento, de criar conexões com aquilo que foi experimentado. O conhecimento é resultado, portanto, da ação ocorrida entre experiência (empírico) e razão (racional). A essa teoria do conhecimento, na qual há uma interdependência entre experiência e razão, chama-se criticismo kantiano. Essa nova epistemologia é uma síntese entre empirismo e racionalismo, pois, segundo Kant, o conhecimento começa com a experiência e termina com a razão, sendo que a ação de uma sem a outra não permite ao homem chegar a um conhecimento verdadeiro do mundo. Logo, se o conhecimento depende da experiência e da razão, então aquilo que não pode ser experimentado não pode ser conhecido, e, com isso, tudo aquilo que não pode ser acessado pelos cinco sentidos não pode ser objeto do conhecimento verdadeiro. Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 12 Fenômeno: são as características do ser que podem ser percebidas pelos sentidos. Não é possível ao homem conhecer nada além do fenômeno (aquilo que aparece) de determinada coisa, o qual pode ser experimentado a partir das formas do tempo e do espaço para, depois, ser pensado pelas categorias. Para Kant, só há ciência verdadeira (conhecimento universal e necessário) no fenômeno. Nôumeno: consiste na realidade última do ser, ou seja,
é a ideia imaterial de uma coisa, aquilo que ela é em si mesma e que ultrapassa a sua materialidade ou aparência, não podendo ser experimentado, mas somente pensado. O nôumeno é a essência, é aquilo que é dado ao pensamento puro sem qualquer relação com a experiência. Como, para Kant, se algo não pode ser experimentado, não pode ser conhecido, o homem, por não ter acesso a essa realidade pelos sentidos, não pode, portanto, conhecê-la. Para Kant, o que se conhece do ser é o que aparece dele aos nossos sentidos. Dessa forma, a ideia de que é possível conhecer o ser em si mesmo, a sua essência última e imutável, não condiz com a losoa kantiana. Para o lósofo, a metafísica, a busca de um conhecimento das coisas que estão além da aparência e daquilo que pode ser experimentado, não é legítima. Se o nôumeno é o objeto da metafísica e ele não pode ser alcançado ou conhecido, logo a metafísica não é possível enquanto conhecimento. Porém, ainda que a metafísica não possa ser conhecida, impossibilitando, assim, um conhecimento universal e necessário do nôumeno, o lósofo considera que ela pode ser pensada.
A metafísica kantiana Segundo Kant, a metafísica consistiu em uma insensatez dogmática, por tentar conhecer aquilo que é impossível ser conhecido, escapando de toda possibilidade de conhecimento humano, uma vez que o homem não dispõe de ferramentas para conhecer aquilo que não pode ser experimentado. No entanto, isso não significa que a metafísica não exista. Para Kant, a verdadeira Metafísica não deveria buscar conhecer o nôumeno, a coisa em si mesma, o “ser enquanto ser”, mas sim buscar conhecer o homem, debruçando-se sobre o sujeito conhecedor para compreender como o conhecimento acontece. A metafísica teria, para Kant, o objetivo de estudar as maneiras como o sujeito encontra o conhecimento; logo, seus objetos de estudo são as condições de possibilidade do conhecimento e da experiência humana, preocupando-se com as condições a priori do sujeito conhecedor de experimentar e pensar o que foi experimentado. Todas as vezes que o homem atreve-se a tentar alcançar verdades sobre aquilo que não pode ser experimentado, ou seja, quando ele se envereda pela metafísica tradicional
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Coleção Estudo
tentando compreender, por exemplo, Deus, a imortalidade da alma ou a liberdade humana, criam-se antinomias (anti-nomía: contradição das leis, conito entre as leis). Estas são “verdades” passíveis de serem defendidas e ao mesmo tempo refutadas por argumentos igualmente robustos, constituindo-se, assim, um uso ilegítimo da razão. Um bom exemplo de antinomia é a discussão acerca da existência ou não de Deus. É possível defender tanto que Deus existe e é a causa necessária do Universo quanto que ele não existe, no entanto, não é possível determinar quem esteja de fato certo sobre esse assunto. Porém, não poder determinar alguma verdade sobre a existência de Deus, a imortalidade da alma ou a liberdade do homem não signica que tais coisas não existam ou que não tenham papel na vida humana. Se elas não encontram espaço na Crítica da razão pura, em que Kant se dedica a discutir como o homem alcança o conhecimento verdadeiro, essas ideias encontram um papel essencial na Crítica da razão prática, em que Kant reete sobre as ações humanas.
A moral kantiana A metafísica kantiana, além de ter se preocupado com a possibilidade de o sujeito conhecer o mundo, ocupou-se também do campo prático da moral humana, buscando responder à seguinte pergunta: como o homem pode agir com liberdade? Para Kant, o mundo exterior ao homem constitui o campo da necessidade, pois todas as coisas da natureza seguem leis naturais de causalidade, estando inseridas em relações de causa e efeito. O homem, ao contrário, enquanto um ser de vontade, tem liberdade para fazer suas escolhas de acordo com os ns que deseja alcançar, não sendo determinado por leis naturais ou instintivas que guiam suas ações. Segundo Kant, no campo da razão teórica, as possibilidades naturais humanas (formas da sensibilidade e do entendimento) limitam seu conhecimento da natureza. O homem não é, então, realmente livre nesse terreno. Contudo, no campo da ação moral, o homem pode agir guiado pela razão absolutamente livre de qualquer determinação natural. Kant trabalha essa problemática moral em suas obras Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), Crítica da razão prática (1788) e Metafísica dos costumes (1797). Nelas, o lósofo procura compreender como a ação humana pode ser verdadeiramente livre, sendo uma ação por “dever”. Por “dever”, Kant compreende a ação ética que deve guiar-se única e exclusivamente pela racionalidade humana, a qual busca princípios ou valores racionais que fundamentarão a ação, livrando-se de todo e qualquer desejo subjetivo que possa desvirtuar a ação correta.
Kant Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem a capacidade de agir segundo a representação das leis, isto é, segundo princípios, ou: só ele tem uma vontade. Como para derivar as ações das leis é necessária a razão, a vontade não é outra coisa senão razão prática. Se a razão determina infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser, que são conhecidas como objetivamente necessárias, são também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade é a faculdade de escolher só aquilo que a razão, independentemente da inclinação, reconhece como praticamente necessário, quer dizer bom. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 47.
Sendo o homem um ser racional, ele deve utilizar sua racionalidade para buscar os princípios que serão a base da ação e nada mais. Esses princípios estão acima de toda e qualquer particularidade, devendo servir a todos os homens sem exceção, uma vez que a racionalidade humana determinará os mesmos princípios para todos eles. Essa é a ética do dever que, em sua natureza, é tanto prescritiva quanto normativa: a ação correta é determinada pela razão e o homem deve segui-la. Não há circunstâncias pessoais ou relativismo moral que diga que o homem deva agir de outra forma. Assim, para Kant, o homem é essencialmente livre porque é racional. Enquanto todos os outros seres seguem leis determinadas pela sua própria natureza, o homem é o único capaz de tomar decisões utilizando sua razão. A moral é, portanto, independente do mundo natural. Kant arma que existem princípios a priori de moralidade, o que signica que o homem não precisa experimentar certa coisa ou viver uma situação concreta para saber o que deve ou não fazer. Utilizando sua razão, o homem é capaz de encontrar os princípios morais que devem ser colocados em prática. Para encontrar esses princípios, o homem deve partir de outro, em uma espécie de “fórmula” racional que Kant denomina imperativo categórico ou imperativo absoluto. O imperativo categórico é portanto, só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 59.
Diante de qualquer questão moral, o homem, utilizando-se do imperativo categórico, chegará inevitavelmente à resposta do princípio que deve guiar sua ação. Por exemplo, ao perguntar: o homem deve mentir para não magoar alguma pessoa? O sujeito, aplicando o imperativo categórico, deve pensar o seguinte: será que mentir pode tornar-se uma lei moral universal, ou seja, será que todos os homens do mundo podem mentir?
A razão nos leva a concluir que não. Se todos os homens do mundo tomassem a mentira como um princípio, o mundo tornaria-se caótico, uma vez que não haveria mais conança entre os homens. Logo, se a razão nos levou a concluir que a mentira não pode ser utilizada como princípio da ação, o homem não deve mentir, nem mesmo para não magoar alguém, uma vez que, se fossem admitidas exceções, os homens agiriam sempre por interesses próprios, atendendo ou não ao princípio moral racional de acordo com seus interesses particulares. [...] uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer rmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: Não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: Quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 130.
Kant, ao propor o imperativo categórico, não armou o que deveria ou não ser feito, fornecendo somente o caminho racional que deveria ser utilizado para alcançar o princípio universal. Se qualquer homem, de qualquer cultura e em qualquer situação, aplicar o imperativo categórico, ele chegará à mesma conclusão de todos os outros homens do mundo. Isso consiste no que Kant chamou de ação por dever, uma ação que não admite exceções e que não leva em consideração necessidades, apetites, interesses, desejos ou circunstâncias pessoais. A razão ordenou por meio do imperativo categórico e o homem deve sempre obedecê-la, ainda que as consequências dessa ação lhe sejam ruins. A lei moral é universal, invariável, insubstituível e determinante das ações. Essa liberdade de qualquer determinação, exceto a razão para a escolha da ação humana, foi chamada por Kant de vontade autônoma. Quando a vontade é autônoma, ela pode ser vista como outorgando a si mesma a lei, pois, querendo o imperativo categórico, ela é puramente racional e não dependente de qualquer desejo ou inclinação exterior à razão. [...] Na medida em que sou autônomo, legislo para mim mesmo exatamente a mesma lei que todo outro ser racional autônomo legisla para si. WALKER, Ralph. Kant : Kant e a lei moral. Tradução de Oswaldo Giacóia Júnior. São Paulo: Unesp, 1999. p. 41. Editora Bernoulli
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A I F O S O L I F
Frente A Módulo 12 Há uma diferença fundamental entre ação por dever e ação correta. O homem pode agir corretamente, sem, no entanto, a ação ser por dever. Se a ação correta é realizada porque o sujeito tem interesses próprios, ele então ganhará alguma vantagem, será bem visto pelos outros homens, tendo agido corretamente, mas não por dever. A ação por dever é totalmente desinteressada, não havendo nela qualquer inuência a não ser a da simples racionalidade, a qual determina que o sujeito deva agir de determinada maneira.
Para Kant, o homem só é realmente feliz e livre quando segue sua razão e, por conseguinte, a lei moral determinada pelo imperativo categórico. A razão é o que separa o homem do mundo natural e é o que nos diferencia dos animais, os quais seguem determinações naturais. Se a razão determina um princípio moral, o homem deve segui-lo. Se, pelo contrário, o homem nega esse princípio racional e decide agir de acordo com seus desejos e necessidades particulares, ele está abandonando aquilo que o diferencia dos outros seres, perdendo, assim, sua própria dignidade.
É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente, e quando o movimento do negócio é grande, o comerciante esperto também não faz semelhante coisa, mas mantém um preço xo geral para toda a gente, de forma que uma criança pode comprar em sua casa tão bem como qualquer outra pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isto ainda não é bastante para acreditar que o comerciante tenha assim procedido por dever e princípios de honradez; o seu interesse assim o exigia; mas não é de aceitar que ele, além disso, tenha tido uma inclinação imediata para os seus fregueses, de maneira a não fazer, por amor deles, preço mais vantajoso a um do que outro. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 112.
Para Kant, a ação digna é apenas aquela que ocorre por dever. Veja o fragmento a seguir, em que o lósofo discorre acerca desse caráter digno da ação. No Reino dos ns, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade. O que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço venal; aquilo que, mesmo sem pressupor uma necessidade, é conforme a um certo gosto, isto é a uma satisfação no jogo livre e sem nalidade das nossas faculdades anímicas, tem um preço de afeição ou de sentimento; aquilo porém que constitui a condição só graças à qual qualquer coisa pode ser um m em si mesma, não tem somente um valor relativo, isto é um preço, mas um valor íntimo, isto é dignidade. Ora a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um m em si mesmo, pois só por ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos ns. Portanto a moralidade e a humanidade enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 77.
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Coleção Estudo
Túmulo de Kant, onde estão escritas as seguintes palavras: “Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre nova e crescente, quanto mais frequente e persistentemente a reexão ocupa-se com elas: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim.”
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01.
Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há além disso muitas almas de disposição tão compassivas que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta, e se podem alegrar com o contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo, porém, que, neste caso, uma tal ação, por conforme ao dever, por amável que ela seja, não tem contudo nenhum verdadeiro valor moral, mas vai emparelhar com outras inclinações, por exemplo o amor das honras que, quando por feliz acaso, topa aquilo que efetivamente é de interesse geral e conforme ao dever, é conseqüentemente honroso e merece louvor e estímulo, mas não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda que tais ações se pratiquem não por inclinação, mas por dever. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 113.
De acordo com a moral kantiana, REDIJA um texto explicando por que uma ação por dever não pode ter qualquer inuência que não seja a da razão.
Kant 02.
isto é um preço, mas um valor íntimo, isto é dignidade. Ora a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um m em si mesmo, pois só por ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos ns. Portanto a moralidade e a humanidade enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade.
É, pois, difícil para cada homem em particular conseguir livrar-se desta menoridade tornada quase uma natureza. Mas que um público se esclareça a si mesmo, isso é bem mais possível e, mais, se é deixado em liberdade, então é quase inevitável. KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é esclarecimento? In: Textos Seletos. 2. ed. Tradução de Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1985.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 77.
De acordo com o texto e com outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto diferenciando a noção de preço e de dignidade das ações que tendem a um m.
REDIJA um texto explicando por que, segundo Kant, o esclarecimento é consequência da liberdade.
03.
É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente, e quando o movimento do negócio é grande, o comerciante esperto também não faz semelhante coisa, mas mantém um preço xo geral para toda a gente, de forma que uma criança pode comprar em sua casa tão bem como qualquer outra pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isto ainda não é bastante para acreditar que o comerciante tenha assim procedido por dever e princípios de honradez; o seu interesse assim o exigia; mas não é de aceitar que ele, além disso, tenha tido uma inclinação imediata para os seus fregueses, de maneira a não fazer, por amor deles, preço mais vantajoso a um do que outro.
02.
(UFMG–2008) Leia estes quadrinhos:
A I F O S O L I F
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 112.
De acordo com o trecho anterior e com outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando por que uma ação por dever deve prescindir de interesses pessoais.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01.
No Reino dos ns, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade. O que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço venal; aquilo que, mesmo sem pressupor uma necessidade, é conforme a um certo gosto, isto é a uma satisfação no jogo livre e sem nalidade das nossas faculdades anímicas, tem um preço de afeição ou de sentimento; aquilo porém que constitui a condição só graças à qual qualquer coisa pode ser um m em si mesma, não tem somente um valor relativo,
WATTERSON, Bill. A vingança da babá. Editora Best News, 1997. v. I. p. 78.
Kant estabelece que as ações das pessoas, para serem realmente éticas, devem pautar-se no seguinte princípio, denominado imperativo categórico: Age ape nas seg und o uma máx ima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 224.
REDIJA um texto relacionando as declarações do garoto Calvin ao imperativo categórico kantiano. JUSTIFIQUE sua resposta. Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 12 03.
A partir da leitura desses trechos e de outras ideias presentes nessa obra de Kant, REDIJA um texto justicando por que, para o autor, a saída da menoridade é difícil para os homens na esfera privada e bem mais possível para os homens como membros de uma comunidade total.
O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 59.
REDIJA um texto explicando a relação entre dever e razão, segundo Kant.
04.
07.
Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem a capacidade de agir segundo a representação das leis, isto é, segundo princípios, ou: só ele tem uma vontade. Como para derivar as ações das leis é necessária a razão, a vontade não é outra coisa senão razão prática. Se a razão determina infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser, que são conhecidas como objetivamente necessárias, são também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade é a faculdade de escolher só aquilo que a razão independentemente da inclinação, reconhece como praticamente necessário, quer dizer bom. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 47.
Disponível em: . Acesso em: 15 maio 2010 (Adaptação).
A partir do trecho anterior, REDIJA um texto respondendo à seguinte questão: a razão realmente determina infalivelmente a vontade?
05.
06.
(UFMG–2004) Leia estes trechos: É, pois, difícil para cada homem em particular conseguir livrar-se desta menoridade tornada quase uma natureza.
36
O texto anterior parece justicar as ações humanas pela sua gravidade ou potencialidade de lesar mais. De acordo com o estudado sobre a ética kantiana como o trecho anterior, REDIJA um texto posicionando-se contra ou a favor do conceito de dever para Kant.
De acordo com Kant, o ato de conhecer é efetuado por meio da relação entre sujeito e objeto, em que se xam dois pressupostos fundamentais. Por um lado, objetos que possam ser percebidos; por outro, o sujeito que assimila a representação dos objetos. De acordo com a epistemologia kantiana, REDIJA um texto explicando a Nova Revolução do Pensamento operada por Kant.
Um rapaz de 23 anos, cozinheiro de uma empresa terceirizada do restaurante da Infraero em São Paulo, havia sido preso por “roubar” três coxas de frango do restaurante onde trabalhava. Detalhe: o alimento iria para o lixo, e o rapaz, que tem em sua cha bons antecedentes, foi preso acusado de furto. Agora me respondam: neste país então é permitido fraudar a previdência, como a tal Georgina fez, praticar as falcatruas como faz o Renan Calheiros, superfaturar obras como o Maluf, assassinar covardemente como fez o Pimenta Neves. Como tantos Lalaus, Suzanes, universitárias “lhinhas de papai” que participam de roubos e sequestros cam impunes? Dá pra ver que neste país quem rouba um pote de manteiga, uma coxinha, um leite para dar ao filho comete crime inaançável. Agora, quem sangra os cofres públicos goza de um bem-estar enorme. O que acham disto?
08.
A razão humana, num determinado domínio dos seus conhecimentos, possui o singular destino de se ver atormentada por questões, que não pode evitar, pois lhe são impostas pela sua natureza, mas às quais também não pode dar respostas por ultrapassarem completamente as suas possibilidades.
Mas que um público se esclareça a si mesmo, isso é bem mais possível e, mais, se é deixado em liberdade, então é quase inevitável.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura (Prefácio da primeira edição, 1781). Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. p. 3.
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é ilustração? In: Textos Seletos. Tradução de Floriano de S. Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1974.
Segundo a teoria do conhecimento de Kant, quais as questões impostas pela natureza humana que não podem ser respondidas? JUSTIFIQUE sua resposta.
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Kant
SEÇÃO ENEM 01.
02. Por esclarecimento, entende-se a atitude humana de sair da menoridade da razão
Esclarecimento (Aufklãrung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! (Ousa pensar!) Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento.
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?. In: Textos Seletos. Tradução de Floriano de S. Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 103.
e ir para a maioridade da razão, processo pelo qual o homem pode pensar por si mesmo, sem tutela de outrem, para alcançar a autonomia sobre suas ações e pensamentos. De forma mais simples: seria a saída do senso comum rumo ao pensamento crítico e individual sobre as ideias e atitudes humanas. Kant afirma, em seu texto “Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?”, que, para o homem sair de sua condição de tutelado, de menoridade da razão, uma única coisa é necessária:
Em seu texto “Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?”, Kant utiliza o termo “menoridade” para se referir à condição daqueles que se submetem ao poder de outros. Nesse sentido, podemos compreender essa menoridade como
a
A) a falta de coragem dos homens que se acostumam à vida e não buscam melhorar de condição. B) a atitude do indivíduo que tenta tornar-se diretor e guia de outros indivíduos que a ele recorrem. C) a situação daqueles que se deixam guiar por outras pessoas e abrem mão de ter ideias próprias. D) a coragem do homem de ousar pensar sem a direção de ninguém, desprezando as outras pessoas. E) o desprezo pela ajuda de outras pessoas na direção da própria vida, pois estas sempre atrapalharão.
possibilidade da crítica e, consequentemente,
liberdade.
Ele
afirma
também
que
tal libertação do senso comum é quase inevitável
se
um
povo
é
livre,
pois
a liberdade do pensamento se manifesta na na
reavaliação
daquilo
que
até
então
constituía os valores e ideias dos homens particulares. 03. A ação por dever é aquela que não tem nenhuma outra fonte a não ser a razão humana. O imperativo categórico determina o que é certo, e tal determinação tem força de lei, sendo, portanto, uma ação por
GABARITO
da
homens mesma
podem forma,
agir sendo
que um age por dever e outro não.
01. Kant propõe em sua losoa um princípio denominado
Dois
exatamente
Fixação moral
dever.
imperativo
categórico.
Por esse princípio, o homem racional pode encontrar princípios morais a priori , que devem, em toda ocasião e independentemente das circunstâncias, guiar as ações humanas.
As
motivações
internas,
os
interesses
desfiguram
dever,
pois,
os
segundo
desejos
a
ação
Kant,
e por
quando
se age, deve-se agir tão-somente a partir das premissas determinadas pela razão. Dessa forma, os interesses pessoais não podem
influenciar
na
decisão
humana
Dessa forma, a ação por dever não pode ser
de agir conforme o dever, pois, mesmo
inuenciada por nenhum interesse particular,
que o merceeiro da citação da questão
por menor que seja, pois perderia, então, a
vendesse
sua dignidade. A ação correta é aquela que
mercadorias pelo mesmo preço, se o faz
obedece exclusivamente à razão que alcançou
com interesses pessoais de ser considerado,
o princípio, a lei moral, fazendo dela o princípio
por
absoluto de toda e qualquer ação.
desfigura a açã o por dever.
para
exemplo,
todos
honesto,
as
tal
mesmas
motivação
Editora Bernoulli
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A I F O S O L I F
Frente A Módulo 12
Propostos 01. O argumento kantiano considera o valor das coisas e a dignidade delas. Se, quando uma ação é realizada, ela puder ser avaliada quanto ao seu valor, essa ação não é digna, já que, para o lósofo, ação digna é aquela que dispensa qualquer avaliação externa para ser cumprida. Portanto, uma ação que pode ser valorada o é a partir de seu resultado. Ao contrário, uma ação digna o é por si mes ma, pois não espera absolutamente nenhuma valoração de quem quer que seja. As ações humanas devem estar no reino da dignidade e não no do valor. Se estiverem no reino da valoração, elas serão realizadas ou não com ns a uma avaliação externa interessada. Ao contrário, se estiverem no reino da dignidade, elas não necessitarão de qualquer valoração, mas serão realizadas por si mesmas, de forma completamente desinteressada, constituindo, portanto, ações por dever. 02. Segundo a posição kantiana, toda ação se faz a partir do imperativo categórico, que consiste na máxima de que o indivíduo age para toda a humanidade em todo o tempo, tendo como base que a sua ação se torne lei universal. Ao analisarmos as declarações do garoto Calvin, notamos que elas vão contra a posição defendida por Kant, pois partem de uma ação de característica individual para o universal: “Então eu vou fazer o que eu tiver de fazer, e deixar os outros discutirem se é certo ou não”. De acordo com Kant, o imperativo categórico funda-se no momento em que a ação não é voltada ao indivíduo, consistindo na máxima de que uma ação particular possa servir de espelho para toda a humanidade. Logo, aquele que realiza a ação deve querer que essa ação sirva para o outro a todo o momento. 03. Segundo Kant, a ação por dever é essencialmente racional. Toda ação baseia-se em valores ou máximas que a fundamentam. Tais máximas devem ser racionais e deduzidas a partir do imperativo categórico. Esse imperativo funcionaria tal como uma fórmula para que o homem pudesse, pela razão, determinar o que é certo ou errado. Diante de uma situação especíca, a razão humana diria o que deve ou não ser realizado a partir de máximas que determinarão a ação.
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Coleção Estudo
Portanto, a ação por dever, que deve ser totalmente desinteressada e livre de fatores externos à própria razão, só é de fato por dever se for produto da razão livre que pensa a partir do imperativo categórico. 04. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja capaz de posicionar-se argumentativamente contra ou a favor dessa ideia.) Segundo Kant, a razão tem o poder de determinar, pelo imperativo categórico, o que deve ser feito. Para o lósofo, as ações humanas devem reetir a racionalidade, uma vez que correto é tudo aquilo que corresponde à capacidade racional humana, e não aos apetites ou inclinações. A favor: Concordo com o pensamento kantiano e argumento a favor de que a razão deve ser, por si, a legisladora da moral humana. Se o que nos diferencia fundamentalmente dos animais irracionais é a nossa capacidade de nos autodeterminarmos com o uso da razão, seria um retrocesso admitirmos que a razão não deve preceder as ações, uma vez que o homem pode controlar seus desejos e impulsos imediatos por sua capacidade racional. Ser dono de si mesmo signica, em última instância, não ser escravo dos instintos ou pulsões e poder controlar tais desejos, tornando-se verdadeiramente autônomo. Contra: Dizer que a razão é importante para a determinação das ações humanas é um dado irrefutável, mas dizer que ela determina infalivelmente as ações humanas é uma ilusão. O homem não é constituído somente de racionalidade, mas também de paixões, vontades, sentimentos, afetos, etc. Sendo uma síntese entre paixões e razão, a racionalidade não é capaz de determinar todas as ações humanas. Santo Agostinho dizia que a razão é incapaz de comandar a vida humana, uma vez que o homem é mau e sua maldade determina muitas de suas ações. Freud dirá que a maior parte das ações humanas é fruto de nosso inconsciente e, por isso, fazemos coisas que não estão sob as rédeas de nossa racionalidade, mas as quais são frutos da busca pelo prazer.
Kant
05. Kant apresenta em sua teoria do conhecimento uma síntese entre racionalismo e empirismo. Segundo o lósofo, tanto a experiência quanto a razão são responsáveis pelo conhecimento verdadeiro sobre o mundo. Porém, o homem deve, antes de se colocar a conhecer o mundo, pensar sobre as suas possibilidades de conhecê-lo. É nesse contexto que se insere sua Nova Revolução Copernicana do Pensamento, em que a atenção se volta antes para o sujeito conhecedor que deve investigar quais são as suas possibilidades de conhecer, aquilo que ele tem a priori que o capacita a conhecer o mundo. É nesse contexto que Kant vai falar das formas da sensibilidade, que permitem ao homem experimentar o mundo e as formas do entendimento, que permitem que o homem pense e forme ideias a partir dos dados fornecidos pelos sentidos. 06. Ao trabalharmos o texto de Kant, não podemos nos esquecer de que, para que ocorra a ilustração, é necessário o uso da razão em condições públicas. Assim, para o homem sair do princípio da menoridade, ele terá que ter contato com novas ideias, as quais serão expostas para o público por pessoas letradas, que necessitam usar sua razão na esfera pública. Dessa forma, o homem teria contato com inúmeras formas de pensamento que iriam levá-lo a uma possibilidade para ir à maioridade. Se tais fundamentos se dão na esfera particular, o processo da ilustração se dará de forma lenta. 07. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja capaz de posiciona-se argumentativamente contra ou a favor desta ideia.) Segundo Kant, a ação por dever é uma ação deliberadamente racional, isto é, uma ação cujo fundamento encontra-se na racionalidade humana ao aplicar o imperativo categórico. Dessa forma, não interessa à ação por dever as consequências da ação, se estas serão mais graves ou menos graves. O que é correto é correto em toda e qualquer circunstância, e o que é errado, ou contra o dever, o é em toda e qualquer circunstância. Desse modo, tomando como exemplo a citação da questão, não importa, para terceiros, a gravidade da ação do rapaz que furtou a comida ou a da ação dos políticos que sangram os cofres públicos, ambas as ações são contra o dever e, portanto, não devem ser realizadas.
A favor: Concordo com a ética kantiana, uma vez que o homem deve agir guiado pela razão e esta é capaz de determinar o que é correto e o que não é. Se assim não fosse, cairíamos no total subjetivismo das circunstâncias, uma vez que cada homem agiria levado por aquilo que acha mais certo ou conveniente para si. A ação por dever, correspondendo à razão, determina as máximas pelas quais as ações devem ser erigidas, impedindo o consequencialismo das ações e levando os homens a uma maior harmonia, pois todos, sendo igualmente racionais, deveriam agir de acordo com essa razão universal. Contra: Não concordo absolutamente com a ética kantiana. Sua ética do dever não considera as situações particulares dos homens. Dessa forma, torna-se necessário pensar que todos os homens são iguais e vivem nas mesmas circunstâncias. Como não acreditar que é legítimo que um pai em situação de extrema pobreza furte do quintal vizinho frutas ou qualquer outra coisa com o objetivo de alimentar seu lho? Nivelar o homem a partir da razão parece fácil para aqueles que têm um mínimo de conforto e não estão em nenhuma situação conitiva. Ao contrário, para aqueles que sofrem, que se encontram sob uma série de diculdades, esta pretensa ação por dever não passa de uma abstração que não corresponde à realidade humana. 08. Segundo a losoa kantiana, o conhecimento é fruto do trabalho conjunto da experiência e da razão. Desse modo, os juízos sobre o mundo são resultados daquilo que se experimentou e que servirá de matéria-prima para o pensamento. Nada que não possa ser experimentado pode ser conhecido. Algumas questões, como a existência de Deus, a liberdade humana e a imortalidade da alma, são dúvidas que se colocam ao homem e que a própria natureza humana busca responder. Porém, um conhecimento verdadeiro sobre essas questões é impossível uma vez que elas não podem ser experimentadas pelos sentidos, mas somente pensadas pela razão.
Seção Enem 01. C
Editora Bernoulli
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A I F O S O L I F