História da Arte Brasileira: Questões Contemporâneas Proessora auora: auora: Dra. Maria Elizia Borges
História da Arte Brasileira: Questões Contemporâneas Proessora auora: auora: Dra. Maria Elizia Borges
História da arte brasileira: Questões Questões Contemporâneas C ontemporâneas
APRESENTAÇÃO APRE SENTAÇÃO Caro esudane, Na disciplina História da Arte Brasileira: Questões Contemporâneas , nosso diálogo se aproxima do conexo arísico do século XXI, apresenando arisas e movimenos que alicerçaram os princípios conceiuais e consruivos do que chamamos de are conemporânea conemporânea brasileira. Aqui apreseno um recore do período que envolve a década de 60 a 90 do século XX do conexo das Ares Visuais brasileiras. Nesse esudo, reaça percursos, releia os módulos aneriores, conece-se a ouros espaços de inormação e de pesquisa ampliando as inormações aqui apresenadas. Bom esudo!
dados da disCiplina ementa Realismo versus Absracionismo. Are concrea e neoconcrea. Anos 1960 e 1970 e a nova guração na are brasileira — pop ar, o novo realismo e o realismo mágico. Are conceiual brasileira. A are perormáica, o ideário consruivo e procedimenos ecnológicos. Geração 80 e a descenr d escenralização alização do mercado das ares.
142
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
unidade 1: multipliCam-se os proCedimentos artÍstiCos 1.1. realismo Versus abstraCionismo 1.2. a Vanguarda FiguratiVa no brasil unidade 2: a multipliCaÇÃo dos proCedimentos artÍstiCos 2.1. desmaterializaÇÃo da arte 2.2. ideário ConstrutiVo 2.3. alguns proCedimentos artÍstiCos teCnológiCos unidade 3: essa noVa geraÇÃo 3.1. o artista brasileiro Contemporâneo 3.2. o merCado das artes 3.3. o proCesso artÍstiCo 3.4. desCentralizaÇÃo do eixo expositiVo – de norte a sul
143
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
UNIDADE 1 Multiplicam-se os Procedimentos Artísticos 1.1. realismo Versus abstraCionismo
Figura 1 – m b. u t. 1948–1949. aç v.
144
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) oi um marco que levou o homem a modicar o seu modo de pensar e viver. A passagem do guraivismo para o absracionismo não ocorreu em unção da vonade isolada de um arisa ou de um grupo, mas sim do peso desse ao hisórico, que levou os homens a modicarem o modo de ver e de azer. Assim como a are moderna, o absracionismo inernacional chega ao Brasil com uma deasagem de anos. A polêmica realismo versus absracionismo, desencadeada a parir de 1948, consolida-se na 1a Bienal de São Paulo (1951), com a obra Unidade Tripartida (Figura 1) do esculor suíço Max Bill é um exemplo clássico de are concrea, uma expressão cunhada pelo holandês Teo Van Doesburg, em 1930. Ela surgiu como uma enaiva de redenição da pinura não guraiva (absraa). Para o argenino omás Maldonado, ciado por Ferreira Gular (1985), “o processo criador da are concrea inicia-se na imagemideia e culmina na imagem-objeo”. Iso é, o signicado da obra reside na sua esruura. Há um senso de equilíbrio, proporção e rimos conínuos nas ormas de Bill, comunicando-nos uma beleza advinda de uma nova linguagem visual à sombra projeada da obra e seu supore quase impercepível. Em sua obra, Mário Pedrosa oi um deensor da are absraa, uma correne da are moderna que se caraceriza pela represenação não ob jeiva da realidade, que é consruída por meio de manchas, cores e ormas geoméricas. A Bienal de São Paulo é de grande imporância. Ela oi criada nos moldes da Bienal de Veneza pelo empresário Francisco Maarazzo So brinho, homem de visão e sempre vinculado às causas culurais do País. raa-se de uma megaexposição periódica, de caráer inernacional, que oerece um rico e aual maerial para a discussão das quesões que envolvem a are conemporânea. Na época, ampliou os horizones da are brasileira, aculando enconros inernacionais, numa cidade da América Laina, e proporcionando aos arisas e ao público um conao direo com o que se azia de mais “novo” e audacioso nas grandes merópoles do mundo.
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
Passou por diversas ases e eve períodos de boicoe e de exalação, ransormando-se cada vez mais em um eveno insiucional complexo. Ela ainda exise e coninua a propiciar o inercâmbio arísico inernacional. odavia, não em mais o impaco de ourora, porque mudaram as circunsâncias e a maneira de se relacionar com as ares visuais. Os jovens arisas dos grupos Rupura (SP) e Frene (RJ) oram os que enrenaram a hosilidade do meio arísico, ao experimenarem as ares concrea e neoconcrea. O primeiro grupo servia os inroduores da are concrea. Iniciado por Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Luís Saciloto, Hermelindo Fiaminghi, Lohar Charoux e ouros, pregava-se a dinâmica visual, com eeios de consrução seriada, a ideia rímica linear do movimeno, um undo plano onde a orma se desen volve, a eliminação dos vesígios da subjeividade, enm, uma obra de are como produo. Formaram o Grupo Frene os pioneiros da are neoconcrea. Agruparam-se os arisas Ivan Serpa, Abraão Palanik, Franz Weissmann, Lígia Clark, Hélio Oiicica e ouros. Acrediavam na are como uma aividade auônoma, vial e de elevada missão social. endo em visa a necessidade de educar os homens para conhecer suas emoções plenas, a linguagem geomérica apresena-se como um campo abero para alcançar essas experiências e indagações (Ferreira Gullar, 1985). Havia divergências eóricas enre os dois grupos. Enquano o primeiro propunha a are como processo de inormação e elemeno de inserção na sociedade, o segundo concebia a are como processo revializador do relacionameno do sujeio com o rabalho. O arisa Waldemar Cordeiro, auor de Movimento (Figura 2) é considerado “o barroco da bidimensionalidade”. Pode-se observar que a superície da ela esá rabalhada com cores primárias e complemenares, apresenando um movimeno linear horizonal conínuo. Essa rigorosa esruuração das cores alinhadas é consruída segundo os preceios maemáicos que se reporam às sociedades ecnológicas. Você em preerência por algumas dessas cores? Luís Saciloto, auor de Concreção 5629 (Figura 3), sempre eseve preocupado com a organização serial das ormas. Para ano, exerce a unção de desenhisa écnico, ao compor os riângulos de orma binária — brancos ou preos —, provocando um rimo cinéico, desazendo oalmene a relação enre gura e undo. É ineressane olhar primeiramene apenas os riângulos brancos e a seguir os preos. Franz Weissmann, auor de Torre Neoconcreta (Figura 4) é um esculor de grandes dimensões. Para ele a “are deve ser posa na rua, nas praças, para o povo paricipar”, e “a esculura deve nascer do chão como uma árvore” (Ferreira Gular, 1985). Assim, a obra ransorma-se em linhas rímicas leves que uncionam como anoações no espaço, iso é, no espaço vazio. Desaca-se a leveza esruural dessa obra.
Figura 2 – W C. mv, 1951. t , 90,2 c 95,0 c. m a C – usp.
Figura 3 – lí sc. Ccçã 5629, 1956. e í, 60 c 80 c. m a C – usp.
Figura 4 – F W. t cc, 1958. F p (), 140 c 55 c 55 c. m nc b a – rJ.
145
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
Figura 5 – ly Ck. sé bch – 1960/1961. aí . Cç c cv – rJ sp.
Figura 9 – m C. e vh. 1958. ó , 73 c 92 c. Cçã c – sã p.
Lígia Clark, na Série Bichos (Figura 5), rompe com o conceio radicional de quadro e esculura e propõe uma obra — “não objeos mó veis” — sem base e sem moldura. Os bichos são chapas de alumínio que se ariculam por dobradiças e uncionam como a espinha dorsal da esruura. Cabe ao especador manipulá-los e ransormá-los em um processo conínuo de recriação da obra num espaço ridimensional. Assim, a arisa esá provocando novas relações enre o homem e a obra, criando novo vocabulário visual. Para Hélio Oiicica, auor de Bilateral (Figura 6), a orma é um elemeno imporane ao qual se pode dar um senido espacial aravés da cor. Nessa obra, o cromaismo varia em orno do branco, na exura e na inensidade. E assim ela pode ser conemplada de uma maneira silenciosa e ascéica. Essa nova experiência eséica esá calcada nas relações espaçoemporais, em que as superícies sem m indicam múliplas direções do espaço. Você gosaria de passar por enre esses espaços? ocá-los? Ouros arisas oram, aos poucos, aderindo às ormulações absraas, cada um a seu modo, como oi o caso de Amílcar de Casro (Figura 7), Sérgio Camargo (Figura 8), Milon da Cosa (Figura 9), Mary Vieira (Figura 10). odos esavam preocupados em promover novo inercâmbio culural enre o arisa e o público. Deve-se pensar para ver a imporância da linguagem geomérica para essas experiências e indagações.
Figura 7 – aíc C. s í. 1970. F, 350 c 300 c 250 c 5 c. pç sé – sp.
Figura 8 – sé C. s í. 1978. m, 83 c 83 c 55 c. Cçã .
146
Figura 6 – Hé occ. b. 1959. t .
Figura 10 – my V. pv: c c. 1953-1962. aí , 37 c 37 c 4 c. Cçã maC – usp.
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
saiba mais Plano-piloto para Poesia Concreta. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 403-405. Manifesto Neoconcreto. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 406-411. O que ver: MARTINELLI, Mirella. Novos Rumos. O pós guerra (vídeo). Instituto Cultural Itaú. São Paulo, 1991. (19 min) Produção START Studio de Arte Eletrônica. Memória do corpo: Lígia Clark (vídeo). Rio de Janeiro, 1989. (28 min). MOREIRA, Roberto; CARVALHO, Guto. Caminhos da Abstração (Vídeo). Instituto Cultural Itaú. São Paulo, 1993. (13 min.) •
•
•
1.2. A vAnguArdA figurAtivA no BrAsil
Quando alguém se reere à década de 1960, imediaamene, são lem brados alguns aos gravados na nossa memória, pela vivência ou por inormação poserior: a música conagiane dos Beales; o olhar críico das imagens de consumo apropriadas por Andy Warhol; a busca de li berdade políica e sexual do movimeno hippie, baseada no pensameno de Marcuse e de Macluhan, preocupação com a uilização dos recursos mecânicos e elerônicos, cada vez mais sosicados. No Brasil, iniciou-se, em 1964, um período de domínio miliar. A culura resseniu-se das limiações imposas pela censura que noreou a políica brasileira. Mesmo assim, a década de 1960 oi um período de inensa eervescência arísica. Os arisas procuraram novas esraégias para se comunicarem. Foraleceu-se, no meio jovem e esudanil, a ideia de uma produção arísica mais engajada em quesões políicas. Muios arisas dedicaram suas pesquisas na criação de uma are paricipane e denunciadora, conorme a realidade social do País. A parir das primeiras bienais de are, os arisas começaram a “acerar os poneiros da are brasileira de acordo com o relógio da are inernacional” (Morais, 1997), ao consolidado nas décadas de 1960 e 1970. Eles recebem deniivamene, nesse período, a denominação de arisas de vanguarda — aqueles com ideias avançadas que quesionam: a insiuição arísica burguesa; o circuio arísico como produção, críica e processo de disribuição da obra de are; os supores radicionais da obra, subsiuindo-os por conceios, objeos e/ou ações. Segundo Andreas Huyssen (Ribeiro, 1997), exise uma dierença enre “ser modernisa” e “ser vanguarda”. O modernismo, denro da modernidade, oi um projeo eliisa que pregou um disanciameno enre 147
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
a culura erudia e a culura de massa, dado seu preconceio conra a produção indusrial. A vanguarda oi um eságio subsequene na rajeória da modernidade, que buscou inserir a práica da vida na are, ransormando-a em insrumeno de consrução uópica de uma nova ordem social. A cidade de Nova Iorque ornou-se o cenro produor e o cenro consumidor da are de vanguarda. Para São Paulo e Rio de Janeiro coninuavam a convergir os arisas de ouros esados do País. Houve, a parir da década de 1960, uma ase de explosão criaiva. Conheça a expansão das enidades culurais nos anos de 1960 e 1970. Criou-se o Museu de Are Conemporânea da USP (1963). Prolieraram as galerias de are (São Paulo e Rio de Janeiro). Iniciaram-se os Fesivais de Música Popular Brasileira (1965). O earo de Arena e o Grupo Opinião iniciaram espeáculos musicais que deendiam a liberdade de pensameno e de criação arísica (1965). Bienal da Bahia (1966). Implanaram-se os MIS (Museu de Imagem e Som) no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os Cenros Populares de Culura (CPCs) promoviam espeáculos revolucionários nas ruas, sindicaos e com populações rurais (earólogos — Gianrancesco Guarnieri, Oduvaldo Viana Filho e Auguso Boal). Início do Cinema Novo no Brasil com Nélson Pereira dos Sanos, Robero Sanos, Glauber Rocha, Luís Sérgio Person e ouros. Bienal de São Paulo (da VI à XV). Períodos de crise políica, gerando boicoe inernacional. Exposição no MAM, RJ – Nova Objeividade Brasileira (1967). Primeiro marco da are brasileira de vanguarda. Lançameno do disco ropicália (1968). Coném poemas musicais de Caeano Veloso e de Gilbero Gil; arranjos experimenais da música concrea e aleaória de Rogério Dupra e de Júlio Medaglia. Fundação da Escola Brasil (1970). Eveno: “Domingos da Criação” – MAM, RJ – (1971). Criação da Fundação Nacional de Are – FUNARE (1975). Deparameno de Inormação e Documenação Arísica – IDAR (1975). Fundação da Associação Brasileira de Críicos de Are – ABCA. Fundação do Comiê Brasileiro de Hisória da Are – CBHA. Maniesações mulimídia e mail ar no País – MAC/USP (1974-1977). Houve uma convivência sincrônica enre vários procedimenos arísicos. Esses movimenos oram ambíguos, pois, ao mesmo empo em que assimilavam écnicas, inormações e comporamenos dos mo• • • •
• •
•
•
•
•
•
• • • •
• • •
148
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
vimenos inernacionais, siuavam-se no limiar enre os pensamenos moderno e pós-moderno, devido às peculiaridades hisóricas do País. Assim, criou-se um processo de desconsrução e consrução de várias linguagens arísicas. A are oi usada como orma de proeso, auando ambém nos limies da denúncia, seja na orma de experimenação, no reorno à guração, ou na paricipação aiva do especador. As correnes arísicas oram muias, cada qual se ramicando em várias verenes, e os arisas iveram a liberdade de ransiar enre os vários movimenos. odos conribuíram para uma rupura com os valores arísicos vigenes, ocasionando uma série de surpresas e escândalos. As verenes das correnes arísicas mais relevanes do período oram a pop ar, o novo realismo e o realismo mágico, ambos da chamada Nova Figuração. al verene conempla as correnes arísicas que buscam razer o reorno da guração aravés de uma nova mensagem eséica: a pop ar, o novo realismo e o realismo mágico. A pop ar — movimeno arísico originário da Inglaerra (1950), amplamene diundido nos Esados Unidos (1960) e no Brasil (1965) — inuenciou alguns arisas como Rubens Gerchman, José Robero Aguilar e Nelson Leirner. Suas pinuras apropriaram-se dos signos emblemáicos da culura de massa e da sociedade de consumo, que permeiam o imaginário coidiano do homem urbano. Nesse processo menal, reduzem a are a imagens míicas do coidiano, dos meios de comunicação e da publicidade, vinculadas a maeriais pré-codicados como a oograa, os oudoors e as hisórias em quadrinhos. Em Lindonéia, a Gioconda do Subúrbio (Figura 11), Rubens Gerchman busca o signicado social desse ser anônimo que habia as grandes cidades. A ironia do íulo esá associada aos supores uilizados pelo arisa. Já em Made in São Paulo (pesquisar na inerne), José Robero Aguilar expõe sua criaividade vulcânica e dionisíaca. Na ela — “campo de ação” —, codica carros, pirâmides, bandeiras, aviões, palavras, ec. Enm, expressa uma visão expressionisa e lúdica daquilo que se consome na cidade de São Paulo. O novo realismo, movimeno arísico que emergiu em Paris, no nal da década de 1950, propunha uma nova guração para a naureza moderna, iso é, para a cidade, a culura de massa e a ciência. No Brasil, o novo realismo emergiu como uma críica volada para a realidade políica e social do país. Coube a Pierre Resany e Mário Schemberg congregar os jovens arisas, como Anônio Dias, Carlos Vergara, Flávio Império e Frans Krajcberg. Na obra O Carrasco (Figura 12), Anônio Dias ordena um mundo dilacerado aravés de uma narraiva que envolve sexo, orura e more oralecidos pela ideia de uma culura engajada na políica vigene. Há uma valorização de maeriais indusrializados e uma superação do quadro de cavalee.
Figura 11 – r gch. lé, gc úbio. 1966. Serigrafa
c c v , 60 c 60 c. Cçã g Ch, r J, rJ.
Figura 12 – aô d. o Cc. 1965. m víc cíc , 123 c 133 c. Cçã l s, sã p, sp.
Figura 13 – gc r. a b.
149
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
Figura 14 – Wy dk l. a (cç – r a Ch). 1968. a c v, 2 2 2 . Cçã g Ch, r J, rJ.
150
Em Primeira Missa no Brasil (Figura 13), Glauco Rodrigues aproxima-se do hiper-realismo (imagem-oo) ao propor um novo realismo para um ema hisórico grandiloquene, reraado de maneira olclorizane. Aene-se para alguns personagens à direia do quadro, como o banhisa e a pora-bandeira. O Realismo mágico, ermo cunhado pelo críico Pedro Manuel, em 1963, para caracerizar obras de Wesley Duke Lee, do oógrao Oto Supakof, Luiz Paulo Baravelli, Maria Cecília e ouros, que procuravam reomar as raízes do surrealismo anásico para uma ransguração da realidade coidiana, por meio de relações inuiivas e inesperadas. Wesley Duke Lee veio da práica publiciária, oi esimulado pela pop ar e mosra-se sempre envolvido em sua miologia pessoal. Ao reraar Assis Chaeaubriand (Figura 14), compõe uma ressonância mágica inspirada no coidiano irreverene desse grande empresário e na mass média. As suas criações ambienais ornaram-se reerências de renovações eséicas. Luiz Paulo Baravelli ambém é um arisa pesquisador de múliplas écnicas e maeriais. Em O Viajante , busca a associação ambígua do plano à vivência do espaço repleo de humor e lirismo. Farnese de Andrade, por sua vez, reordena ragmenos de maeriais, propiciando uma reconexualização dos objeos, como se pode obser var na obra Formação de um Pensamento.
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
UNIDADE 2 A Multiplicação dos Procedimentos Artísticos 2.1. desmaterializaÇÃo da arte A desmaerialização da are propiciou novas ormulações para o conceio de are, como, por exemplo, reinegrar a are com a vida. Para isso, o arisa propõe ao especador ver as experimenações e ambém paricipar delas. São exemplos dessa verene a are conceiual e a are perormáica (body ar, happenings e ouros). A Are conceiual eve sua primeira mosra, em Berna (1969), quando arisas reuniram inormações, documenos e processos para que os especadores reeissem sobre o que esavam vendo e imaginassem. Segundo Abraham Moles, “o arisa não lua mais com a maéria, mas com a ideia. Não az mais obras, propõe ideias para azer obras” (Morais, 1989). Essa nova maneira de conceber o objeo arísico — como objeo conceiual e auo-reexivo — causou grande esranhameno, como se pode observar em obras de Cildo Meireles, Walércio Caldas, Arur Barrio e Anônio Henrique Amaral. Na obra Campo de Batalha III (Figura 15), de Anônio Henrique Amaral, o componene conceiual esá na meáora da “banana” (o homem laino-americano) espeada pelo “garo” (meal da repressão), ao corriqueiro na época. Barrio, por sua vez, recorre ao Livro de carne (Figura 16) para expressar sua solidariedade com as víimas da repressão políica. Já em Missão, Missões , Cildo Meireles (Figura 17) az reerências ao genocídio dos índios dos erriórios adminisrados pelas missões jesuíicas. Ouro exemplo é a obra Lugar para uma pedra mole, de Walércio Caldas (Figura 18), que simboliza a imensa e incomensurável Amazônia. O arisa enalha e agrupa duzenas vezes o algarismo zero em dierenes madeiras da região. Em odas as obras analisadas, vê-se que o maerial empregado esá em conormidade com a ideia proposa. A exposição Nova Objeividade Brasileira, realizada no museu de Are Moderna do Rio de Janeiro, em 1967, oi considerada o primeiro marco da are brasileira de vanguarda. Conou com críicas de Frederico Morais e proposas perormáicas signicaivas de Lygia Clark e Hélio Oiicica, além da paricipação de ouros arisas ligados à Nova Figuração.
Figura 15 – aô Hq a. C bh iii, 1973. ó , 153 c 183 c. Cçã , sã p.
Figura 16 – a b. lv C. 1979.
Figura 17 – C m. mã, m. içã c 2.000 , 700 h, 600.000 moedas e fló, 1987.
151
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
Are perormáica — O corpo humano orna-se maerial e o elemeno energéico da obra, iso é, o objeo experimenal. As maneiras de conduzir e explorar o poencial humano são inúmeras. Na body ar, o arisa usa o próprio corpo como supore para uma criação arísica, uilizando-se da expressão corporal, do procedimeno riualísico e earal. As experiências de “corpo e ao” de Lygia Clark em O eu e o tu (Figura 19), são exercícios sensoriais que buscam, no gesual, a liberação da imaginação criaiva. A eemeridade do ao é enendida como única realidade exisencial. Figura 19 – ly Ck. o . 1967. r c.
Figura 18 – Wy dk l. a (cç – r a Ch). 1968. a c v, 2 2 2 . Cçã g Ch, r J, rJ. Figura 20 – Hé occ. pé p8. 1965. V .
Figura 21 – Hé occ. b8 b v 2, 1963-1964. m, v .
152
Já, os Parangolés (Figura 20), de Hélio Oiicica, convidam o expecador a paricipar da are perormáica, vesindo as CAPAS, azendo-o seni-las como pare inegrane do corpo e assim podendo expressar a sensação de liberdade do movimeno, ao andar e dançar. Enm, é um processo de “ransmuação expressiva-corporal” — mea corpus. Hélio Oiicica ambém explora experiências do oque em suas Bólides (Figura 21) — “espaços poéico-áceis”. São caixas (de madeira, vidro, plásico ou cimeno), sacos, laas e bacias que conêm maeriais (areia, erra, carvão, anilina, água, ec.) para serem manipulados e visos por denro e por ora. Assim, o especador é conduzido a uma desconsrução do objeo-obra e à ariculação de um novo senido da consrução, por meio da ransormação maerial obida no ao da experimenação áil e sensorial. A cor-luz orna-se ocos de energia que ranscendem o objeo (Favareto, 1992). Há ambém a Bolha Amarela (Figura 22), de Marcelo Nische, doada de uma beleza plásica incomum. Ali, o público vê o objeo inável que em seu ciclo de vida próprio — “em repouso”, um “crescendo”, um “morrendo” — acompanha-o inicialmene com espano; a seguir, deseja ocá-lo, empurrá-lo, dominá-lo e, por úlimo, há o senimeno da perda do gozo lúdico (Amaral, 1983).
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
O Happening é um aconecimeno que ocorre uma única vez, enre o arisa especador e o objeo, como na obra de Flávio de Carvalho. Para Alan Kaprow, o happening ambém é uma críica aos valores de consumo, pois não é comercializável. Um dos primeiros happenings do Brasil oi a exposição Ligas Encarnadas, de Wesley Duke Lee, no João Sebasião Bar, em São Paulo, em 1963. Houve ambém a Exposição-não-Exposição (1967), que conribuiu para o encerrameno das aividades do Grupo Rex, uma vez que odas as obras exposas oram desruídas. A ônica da desmaerialização arísica, pelos exemplos acima ciados, oi uma busca de liberdade da orma e o rompimeno com os reerenciais enão denidos como esculura e pinura. O arisa, nessa sua nova percepção, dependia da paricipação aiva do público, que passou a ser auane. Junos, arisa e público procuravam adquirir, aravés de um comporameno inusiado, a consrução e a condução de impulsos advindos do imaginário coleivo do homem.
Figura 22 – mc nch bh a. 1968. ny, e C gv, 700 c .
olHo ViVo Para relembrar o signicado do termo Happening e a obra do artista
Flávio de Carvalho, consulte o Módulo 5 de seu livro Licenciatura em Arte Visuais e releia a Unidade 2 — Desao dos Modernistas, inserido
no capítulo História da Arte Brasileira — Século XX.
saiba mais O que ver: •
•
•
Barreto, Flávio. O que é isso Companheiro. (lme), 1998. (105 min.) Santos, Nelson Pereira dos. Vidas Secas. (lme), 1962. (103 min.) Rocha, Glauber. Deus e o Diabo na Terra do Sol (lme), 1963-1964.
(125 mim.) •
Gomes, Dias. O pagador de Promessas. (lme), 1960. (95 min.)
Capelato, Daniela e Barbosa, Andréa. Baravelli (vídeo). Instituto Cultural Itaú – SP. (12 min.) O que ler: Holanda, Chico Buarque. Roda Viva (peça teatral), 1968. Marcos, Plínio. Navalha na Carne (peça teatral), 1968. Aonde ir: Museu de Arte Contemporânea (MAC) — São Paulo, SP. Museu de Arte Moderna (MAM) — São Paulo, SP. Museu de Arte Moderna (MAM) — Rio de Janeiro, RJ. O que pesquisar: História do Grupo Opinião e do Teatro de Arena O Tropicalismo •
•
•
•
•
•
•
•
153
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
2.2. ideário ConstrutiVo
Figura 23 – l F. lç m p. 1977. aç , 100 c 50 c 50 c. Cçã maC/usp.
Figura 24 – p r l. dv. 1970. acíc , 50 c 50 c 50 c cçã c, r J, rJ.
Figura 25 – m sch. rv. 1954. m , 51 c 66 c. Cçã afh l, sã p, sp.
154
Muios arisas, no m da década de 1960, persisiram no culivo das linguagens consruivas, ão polemizadas no início da década de 1950. Procurava-se, enão, uma dialéica em cada espaço selecionado, como exemplicam as esculuras públicas de Amílcar de Casro (Figura 7) e de Frans Weissmann (Figura 4); as esculuras de Leon Ferrari (Figura 23) e de Paulo Robero Leal (Figura 24); as pinuras de Mira Schendel (Figura 25) e Maria Leonina (Figura 26) e na orma do “livro de arisa” de Lygia Pape. Na obra Lembranças de Meu Pai (Figura 23), Leon Ferrari uiliza os meálicos que sugerem visionários espaços racais, equilibrados e ensos ao mesmo empo. Paulo Robero Leal, no Desmoven (Figura 24) propicia ao especador o manuseio de caixas que conêm ormas em papéis. Em ambas as obras, prevalece a maneira suil da ocupação geomérico-espacial dos elemenos. Mira Schendel, em Relevo (Figura 25), conduz sua experiência gráco-geomérica por meio de signos represenados, no caso, por relevos de maeriais variados, desvelando a exisência do espaço e da exura. Maria Leonina, por sua vez, consrói linhas, ormas e planos de cores, como na obra Os Jogos e os Enigmass (Figura 26). Esas são proposas plásicas com organização espacial, em que o enigma da comunicação ocorre denro de um processo de inerpreação inuiiva. Alguns arisas passaram a se expressar aravés do Livro de arisa — uma are conceiual que ca “na roneira da leiura e da sugesão visual”, segundo Jorge Glusberg (Morais, 1989). Annaeresa Fabris e Cacilda eixeira da Cosa realizaram a mosra endências do livro de arisa no Brasil, no Cenro Culural de São Paulo, em 1985. O Livro do Tempo , obra de Lygia Pape, az uma relação dialéica enre undo e orma, cheios e vazios, luz e sombra; enm, inenções geoméricas que se apresenam visualmene aniconvencionais.
2.3. alguns proCedimentos artÍstiCos teCnológiCos A década de 1970 oi um período em que arisas brasileiros de vanguarda vincularam-se a processos avançados da ecnologia, como já ocorrera aneriormene em ouros países. inha-se como inuio a geração de novas linguagens arísicas, avorecendo, assim, a exploração da imagem por ouras ormas de conhecimeno e de percepção do mundo. Para ano, uilizaram oograa, xerox, vídeo, cinema, correio, heliograa, holograma, raios laser, ec. Esses novos meios oram pesquisados de maneira seleiva e surpreendene, propiciando um relacionameno arísico-ecnológico complexo e rico de possibilidades criaivas. Para a maioria das pessoas, esse
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
ipo de produção arísica é inusiado, uma vez que a maioria das “erramenas” empregadas az pare do coidiano e do rabalho no mundo do homem conemporâneo. Essa proposa de criação arísica, segundo Júlio Plaza, privilegia um ipo de produção coleiva, em que o arisa não pode mais criar sem a ajuda do engenheiro, do maemáico e do programador de dados (Morais, 1989). Percebe-se, enão, que a produção individual pode ser subsiuída pela coleiva, sem, com isso, perder o seu valor plásico, percepivo e comunicaivo na produção da imagem. Mosra Areônica (São Paulo, SP, 1972) — Imagens raadas por compuadores. Waldemar Cordeiro, organizador do eveno, arma: “Se os problemas arísicos puderem ser raados por máquinas ou por equipes que incluam o parner compuador, poderemos saber mais a respeio de como o homem raa os problemas arísicos”. É ineressane azer uma análise comparaiva enre O Homem Amarelo (Figura 27), de Ania Malati, e a obra Portrait o Fabiana (Figura 28), de Waldemar Cordeiro, eia no compuador IBM 360, em 1970. Mosra Expoprojeção (São Paulo, SP, 1973) — Reuniu audiovisuais, lmes “super 8” e discos de 42 arisas, sob a curadoria de Aracy Amaral. Pariciparam Anônio Dias, Décio Pignaari, Olívio avares de Araújo, Rubens Gerchman, Iole de Freias e ouros. O principal núcleo audiovisualisa no Brasil surgiu em Belo Horizone, onde se desacam os regisros das imagens de Maurício Andrés, Paulo Emílio Lemos e Beariz Danas. Ela procura, aravés da guração, desvendar o coidiano de um Matadouro. Recorde-se que era ainda o período de regime miliar, em que a censura persisia no País. Xerografa — implica usar a cópia xerox como orma de are. O arisa Bené Foneles, o “Rei do Xerox” no Brasil, iniciou em 1974 um rabalho de desazer e de recriar imagens pelo processo de xerocopiar o mesmo papel coninuamene (Figura 29). Videoarte — Emprega o vídeo como orma de are em si, dierene da V comercial. Os primeiros vídeos de are brasileiros surgiram com Anna Bella Geiger, Ivens Olino Machado, Fernando Cocchiarale, seguidos por Júlio Plaza, Regina Silveira e ouros, culminando no I Enconro Inernacional de Vídeo no Brasil, em 1978, no Museu da Imagem do Som-MIS, em São Paulo. Como exemplos, podem ser ciados o videopoema O Arco-íris no Ar Curvo , de Júlio Plaza, e o vídeo Moras (Figura 30), de Regina Silveira. No úlimo vídeo, a imagem do objeo alera-se pelo uso de close-up da câmara. Regina Silveira quesiona os códigos de visão: modos de represenação das imagens e suas percepções. Por meio de um processo consruivo rigoroso, a arisa disorce os cânones clássicos da perspeciva — anamorose —, alerando ormas e sombras dos objeos, ransormando-os em anomalias visuais, como se pode vericar em Projectio 2.
Figura 26 – m l. o j . 1958. oé , 73 c 92 c. Cçã Jé p g m .
Figura 27 – a mf. o H a. 1917. ó , 61 c 51 c. i e b usp, sã p, sp.
Figura 28 – W C. p f F. 1970, , . 32,7 c 48 c, c ibm 360. uv sã p, sã p, sp.
155
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
Figura 30 – bé F. Xerografa. 1980.
Figura 30 – r sv. mf, 1981. Vt, c 7.
Arte postal — Para Waler Zanini, a are posal ou mail ar é uma aividade processual que evidencia o enômeno de desmaerialização da are (Morais, 1989). O arisa desenha caras ou inerere em carões posais e envia-os pelo correio. A XVI Bienal de São Paulo (1981) ez uma mosra basane represenaiva da are posal (Figura 31). Anna Bella Geiger (Figura 32), numa série de carões posais, problemaiza quesões ideológicas que envolvem os signicanes de brasilidade. Os arisas brasileiros de vanguarda ambém exploraram ouros processos de inermediação nessa ase de produção ecléica. Denro de uma culura armaiva, que procurou inegrar are e culura de massa, desacam-se ainda obras que uilizaram na expressão maéria os seguines supores: a oograa (Vera Barcellos), maeriais indusriais (Iole de Freias, Nelson Leirner e unga) e maeriais naurais (Frans Krajcberge). Vera Barcellos apresena uma insalação — Exposição e exibição de objeos a parir de uma ideia ou conceio — sobre as Missões Jesuíicas do Rio Grande do Sul. A imagem da sana barroca, sem cabeça, reproduzida em cores, e os ragmenos da imagem reaparecem na pare inerior, enre pedaços de carvão mineral, iso é, no ogo sacricaório, segundo Frederico Morais (1986). Iole de Freias compõe suas esculuras apenas com elemenos necessários para manê-las “de pé” (Figura 33). A esruura do rabalho parece expandir-se além do limie espaço-emporal com volumes exíveis e le vess. São dignas de conemplação as ormas espiraladas na ransparência meálica das elas, a leveza e imobilidade da pedra abrigada no inerior da Coluna riparida.
Figura 32 – a b g. b v. b í. 1977.c , 10 c 15 c.
156
Figura 31 – V . a p. 1981. xVi b sã p.
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
Nelson Leirner, ao recorrer ao obje-rouvé — objeo já prono — no caso, o porco empalhado (Figura 34), eve como objeivo a conesação das esruuras da criação arísica e do esablishmen que os susena. A aceiação dessa obra no Salão de Are Moderna de Brasília, em 1967, causou grande polêmica no ambiene arísico brasileiro da época. unga vale-se da ciência ísica para relacionar maeriais diversos como erro, cobre, ímã, elro, borracha e ouros. Eles passam por uma esranha ransormação de idenidade, como na obra Escalpo, composa por pene e cabelos giganes, que inrigam o especador pelo seu caráer surrealisa. Frans Krajcberg pesquisa a ridimensionalidade com maeriais naurais, como raízes, roncos e solos. Diane dessa relação enre beleza e caos, explicia que a desruição do meio ambiene ameaça ambém as relações eséicas enre o homem e a naureza (Verâncio Filho, 1997). Ao rever os inúmeros procedimenos arísicos gerados a parir da década de 1960 — nova guração, desmaerialização da are, ideário consruivo, are ecnológica, processos inermediários — vê-se que oram proposas eséicas geradas denro de um conexo hisórico singular: vivia-se a repressão do regime miliar. O impulso vanguardisa, inicialmene quesionador e inovador, oi aos poucos ornando-se auorreexivo e coerene nas suas diversidades e nas suas dierenças. O conjuno dessas experimenações não consiuiu uma unidade, oi apenas uma agluinação de pensamenos e conceios. Foram quesionados os supores radicionais, o consumo de massa, o ideário políico e social, o plano picórico e a gura do arisa. Propôs-se uma are inovadora e paricipane, explorando o aleaório, o evenual, o comporamenal e o gesual. A are resulane gerou rupuras, proesos, inconormismo, ironia, humor, sarcasmo e o prazer lúdico. Finalmene, insalou-se uma are mulidisciplinar.
Figura 33 – i F. s t, 1997. a c c, ç , ã, ch c. 320 280 380 c.
Figura 34 – n l. pc h. 1967. pc h , 83 c 159 c 62 c. Cçã pcc e sã p, sã p, sp.
157
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
saiba mais O que ver: Produção START. Studio de Arte Eletrônica. Iole de Freitas (vídeo). Rio de Janeiro, 1989. (4 min). Produção START. Studio de Arte Eletrônica. Lygia Pape (vídeo). Rio de Janeiro, 1999. (43 min). Produção START. Studio de Arte Eletrônica. Perl da Linha — Amilcar de Castro (vídeo). Rio de Janeiro, 1989. (8 min). •
•
•
•
•
Lima Jr., Walter. Brasil Ano 2000 (lme). 1968. Santos, Nelson Pereira dos. O amuleto de Ogum, 1975 (lme).
O que ler: Guarnieri, Gianfrancesco. Um grito parado no ar, 1973 (peça teatral). •
para reFletir “Ai de quem não zer uma visão global do conjunto do fenômeno ar tístico da época, ou não se armar de uma concepção losóca, cien tíca, sociológica, estética e histórica para enfrentar o caleidoscópio
dos ismos, sem faniquitos de impaciência, sem timidez, sem seguismo acrílico ou bocó, sem frustrações de incompreensão, nem negativismos, mas aberto, aberto e crítico.” (Pedrosa, Mário. CATÁLOGO da Primeira Bienal de Artes Visuais do Mercosul, 1997).
158
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
UNIDADE 3 Essa Nova Geração 3.1. o artista brasileiro Contemporâneo Há um senso comum sobre a ransormação do mundo em uma “aldeia global”, com uma universalidade de linguagens. De ao, a parir da década de 1980, a complexidade e a abrangência dos veículos de elecomunicações permeiam osensivamene a maneira de as pessoas relacionarem enre si e com os objeos. Os programas de V e os compuadores on-line colocam odos em conao com odos — os indivíduos, as culuras, as nações —, percebendo-se o rompimeno de roneiras. De casa, odos, de odos os lugares, assisimos ao enraquecimeno de governos miliares; à more de personalidades; aos acidenes ecológicos, às caásroes de odas as dimensões; ao movimeno das organizações em prol dos direios humanos; à ragmenação e união de países e à inerculuralização dos hemisérios ocidenal e orienal. Em oposição a essa globalização, perduram maniesações culurais que procuram maner o seu caráer regional e paricular, propagando-se inclusive aravés dos meios de comunicação. odos esses processos de comunicação inuenciam signicaivamene a produção arísica conemporânea (década 1980 e 1990), caracerizada por uma are mulidisciplinar. As expressões guraivisas e absracionisas convivem lado a lado; as linguagens arísicas vão do inimismo suave à exroversão gesual; as mensagens podem ser ou não de cunho políico; a hisória da are não mais se processa de maneira linear, mas simulânea, e os supores das obras variam do mais simples ao mais sosicado (Cosa, 1991). Diane de amanha diversidade surgem quesões: qual a ormação e a ransormação do arisa conemporâneo? Como enender o seu processo arísico? Como ele se relaciona com o público e o mercado de are? A parir da década de 1980, os arisas, na maioria dos casos, iveram sua ormação arísica em escolas de are, como a Escola de Ares Visuais do Parque Lage (Rio de Janeiro, RJ), a Fundação Armando Alvares Peneado (FAAP, São Paulo, SP), a Faculdade de Arquieura e Urbanismo (FAU-USP, São Paulo, SP) e a Escola de Comunicação e Ares (ECA-USP, São Paulo, SP). Essas escolas conaram com a paricipação de alguns arisas-mes159
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
Figura 35 – i C. núc ã. 1965. ó / , 130 c 225 c. Cçã c, r J, rJ.
res: Regina Silveira, Júlio Plaza, Carmella Gross, Amílcar de Casro e ouros. A nova geração oi ambém inuenciada por arisas como Lygia Clark, Hélio Oiicica, Walércio Caldas, Iberê Camargo (Figura 35), Anônio Bandeira e por movimenos arísicos signicaivos, como o neodadaísmo e o neoexpressionismo. De orma gradual, os arisas brasileiros oram-se inserindo no plano inernacional das ares. Um exemplo disso é que a Revisa Inernacional de Are LAPIZ dedicou, em 1997, os números 134 e 135 à índole consruiva de uma nova vanguarda especicamene brasileira, volada am bém para a culura de massa, as novas ecnologias e o mercado de are. Para caracerizar o arisa brasileiro conemporâneo, pode-se dizer que ele desenvolveu o hábio de reunir-se em aeliês coleivos, idos como locais de rabalho e de discussão; esá sempre em busca de novos maeriais, ineressado em apurar écnicas picóricas, discuir quesões de ordem eséica e conceiual e de relacionar-se com a are inernacional.
3.2. o merCado das artes Desde sempre, no curso de sua hisória, mercado de ares impulsionou o meio arísico em ormação. A parir dos anos 1960, aores socioeconômicos singulares conribuíram para a ampliação prossional no campo culural e para o crescimeno do mercado de bens de consumo, como a obra de are. Enre as muias mudanças vericadas no conexo social, as que mais inereriram na circulação da produção arísica oram: o grande crescimeno da população universiária; a elevação do consumo de serviços culurais pela mulher, agora, incorporada ao mercado de rabalho; a inclusão roineira de exercícios “arísicos” na educação pré-escolar; a obrigaoriedade da disciplina Educação Arísica no ensino secundário ocial; um ensino universiário volado para a ormação de proessores de Educação Arísica (Durand, 1989). De orma geral, em decorrência dessas ransormações, odo o mercado culural expandiu seus mecanismos de divulgação para aender esse consumidor, agora mais exigene. Assim, desenvolveu-se, nesse senido, grande movimenação em odos os seores: O mercado editorial — Dedica-se ao produo culural impresso, colocando-o à disposição da sociedade, em bancas e em livrarias: ascículos especícos como Gênios da pinura, ediados pela Abril Culural, a parir 1967; revisas de are como Are Hoje, ediada pela Rio Gráca Ediora, na década de 1970; livros como o Projeo Are Brasileira , da FUNARE, na década de 1980 e a Série de Arisas Brasileiros, da EDUSP, na década de 1990, além dos excelenes caálogos produzidos por galerias, museus e cenros culurais como Panorama de Are Aual Brasileira – 97, do Museu de Are Moderna de São Paulo, em 1997. 160
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
O mercado das galerias — orna-se cada vez mais prossional, especializado em um gênero de produção arísica especíca. Há am bém uma supervalorização de obras criadas por jovens arisas. Das inúmeras galerias voladas para esse público, podem ser desacadas, a íulo de exemplo: Luísa Srina, em São Paulo, Tomas Cohn, no Rio de Janeiro, Geso Gráco, em Belo Horizone, Pasárgada, no Recie e ina Presser, em Poro Alegre. O mercado dos leilões — Caegoriza e amplia o número de obras de are oerecidas ao mercado. Ao longo do empo, criou-se uma hierarquização enre as casas de leilões, as “de caegoria” e aquelas volados para um público menos exigene, pois seu poder é de comercialização de peças de are. As megaexposições — São realizadas para aender a uma grande massa de especadores. Empresas e governos êm ineresse em invesir nesse ipo de eveno, azendo markeing indireo. A 1ª Bienal de Ares do Mercosul, realizada em Poro Alegre, em 1997, oi a maior mosra de are laino-americana já eia no País, com esimaiva de um milhão de visianes. Quaorze dierenes espaços de exposição da capial gaúcha abrigaram 866 obras, além das diversas aividades arísicas paralelas que oram promovidas. Essa megaexposição necessiou de um curador, seis subcuradores, órgãos de promoção e de apoio, além de grandes parocinadores devido à complexidade da monagem da mosra, bem como seus elevados cusos. Os museus de arte — São insiuições cuja unção é colecionar, selecionar, preservar e resaurar obras de are (documenos arísicos) dos seus acervos, as quais são exposas, de modo planejado, ao público. A sua responsabilidade educacional e social advém do ao de eeivar a preservação da memória arísica e de norear a compreensão da leiura visual da obra de are. O museu ambém reorça a “aura” e a “eichização” do documeno arísico exposo. Os centros culturais — Propiciam programações culurais conínuas e diversicadas. Alguns são vinculados a órgãos governamenais, como o Cenro Culural Vergueiro, em São Paulo, e ouros são manidos por empresas e undações, como o Insiuo Culural Iaú, em São Paulo; Cenro Culural do Banco do Brasil, em São Paulo, Rio de Janeiro, Recie e Brasília e o Museu Lasar Segall, em São Paulo. Órgãos culturais ofciais — O Minisério da Culura promoveu uma campanha iniulada “Viva melhor, viva a culura”. Seu objeivo era sensibilizar pessoas ísicas e jurídicas para que invesissem em projeos culurais, valendo-se da Lei de Incenivo à Culura, Lei 8.313/91. As secrearias de culura de esados e municípios são ambém geradoras de projeos culurais. O mercado virtual — A Inerne permie o acesso nas 24 horas do dia, aos acervos dos maiores e melhores museus do mundo. Aliás, hoje 161
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
os evenos arísicos, na maioria dos casos, são ormaados em CD-ROM para serem visos no compuador. Um exemplo é o CD-ROM Inervenções Urbanas 1.0, que regisra a exposição de obras insaladas em vários ponos esraégicos da cidade de São Paulo, em 1997. O mercado das ares em-se expandido em várias direções. Uma delas é a crescene absorção de prossionais com conhecimeno arísico, a saber: hisoriadores da are, marchands, mecenas, críicos de ar e, agenes culurais, curadores, cenógraos, leiloeiros, resauradores, designers grácos e ouros colecionadores. A diusão da imagem da obra de are ornou-se, indiscuivelmene, mais acessível. odavia, é necessário criar condições para que o público possa ver a are e ineirar-se do que esá vendo. Às vezes, o markeing de um eveno arísico ranscende a imporância da are propriamene dia. Há necessidade de dierenciar claramene ao especador valores arísicos inerenes de um deerminado arisa denro do seu período hisórico.
3.3. o proCesso artÍstiCo Num primeiro momeno, a Geração 80 reoma a pinura e redesco bre o prazer de pinar. Para o críico Achille Bonio Oliva, a ela ornouse um depósio de energias, ranspondo as barreiras enre a culura popular e a ala culura (Farias, 1994). Valorizam-se o uso experimenal de maeriais como cera, pigmenos, objeos diversos e ragmenos do universo indusrializado. Há, enm, uma ausência da composição ormal, que leva a valorizar a poesia maérica por um vigor agressivo, ampliado no agiganameno das elas sem moldura e chassis. O enendimeno da pinura produzida pela Geração 80 eve um marco polêmico na megaexposição denominada A Grande ela, ocorrida na XVIII Bienal de São Paulo, em 1985, sob a curadoria de Sheila Leirner. Criou-se um longo e esreio corredor onde oram xadas pinuras, lado a lado, de arisas nacionais e inernacionais. Para Agnaldo Farias (1994), isso resulou em uma cacoonia visual, num nivelameno arbirário de obras com diversos graus de mauridade. al provocação alerava para um enendimeno da pinura como algo esponâneo, que necessia va de renameno écnico e de inerprear quesões eséicas da época. Desacam-se, como exemplo, alguns pinores represenaivos: Jorge Guinle (1947-1987) — Arisa auodidaa, proessor da Escola de Ares Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, e com uma vasa vivência arísica inernacional, de uma maneira gesual, cosumava uilizar-se dos dedos para pinar, endo assim uma relação mais ínima com a ina. Segundo seu depoimeno, “queria colocar udo denro do quadro aé que ele caísse como um ruo podre no chão” (Morais, 1991). Na Figura 36, pode-se observar o absracionismo expressionisa da composição. 162
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
José Leonilson Dias (1957-1993) — Aluno da FAAP, São Paulo, uilizava pincéis para a composição de imagens simplicadas no espaço da ela. Pesquisar na inerne. Daniel Senise — Frequenou a Escola de Ares Visuais do Parque Lage. O arisa az emergir da ela imagens esranhas e enormes. Como se vê, em O beijo do elo perdido (Figura 37), a cor sourna e densa, cria uma amosera que é ruo de uma imaginação conemplaiva e inquieane. Num segundo momeno, muios arisas da Geração 80, que iniciaram sua produção denro de um processo “picórico”, desenvolveram ambém rabalhos ridimensionais e/ou apropriam-se de objeos de dierenes procedências, desvinculados do universo canônico da are (Chiarelli, 1997). O parâmero do arisa é a sua própria obra, desen volvida e exposa de várias maneiras propondo experiências espaçoemporais, mulissensoriais e ineraivas. O imporane é que haja uma comunicação da obra com o especador denro de uma relação analógica. Para Rober Hugres (1998), “a are não é capaz de nos liberar. Mas há uma coisa que se pode azer conra a pressão da culura da mídia. Pode nos induzir a olhar as coisas com aenção e reeir sobre elas, em silêncio. Are é algo muio especíco e consegue limpar as engrenagens da mene”. Algumas obras são desacadas e comenadas aqui com o propósio de aesar o quano elas conribuem para que se compreenda a auonomia da are como geradora de objeos indissociáveis a vida do homem. Chica, a gata, e Jonas, o gato (Figura 38). Lêda Caunda (FAAP- São Paulo) explora o universo maérico eminino, ao cosurar e bordar almoadas, colchas e oalhas. Suas peças (almoadas) são híbridas, pois são objeos do coidiano e, ao mesmo empo, ornecem um novo código de visualização eséica. Os Cem. Jac Leirner ( FAAP-São Paulo) propõe a ordenação de uni versos caóicos quando recicla os maeriais, revalorizando o descarável. Aqui, o dinheiro é paralisado, reirado de seu uso original, assumindo uma oura unção: de ser um elemeno composiivo da orma elaborada. Fachadas e Caatingas. Ana Mariani (oógraa) reraa o nordese brasileiro em busca de uma imagem sinéica. Ela percebe a achada da casa, com simplicidade composiiva. A caainga, por sua vez, é oograada em rimos de linhas emaranhadas. • As afnidades eletivas. Rosângela Rennó (Escola Guignard, Belo Horizone) propõe resgaar aspecos da idenidade culural da sociedade brasileira aravés de oos anigas. Chama à aenção a “oograa bidimensional”, que são reículas oográcas de imagens de casameno. Vê-se, aravés da redoma com óleo mineral, uma superposição de imagens que propiciam a leiura simulânea dos aos. É um exemplo de obra que rompe de vez com as roneiras aneriormene exisenes enre oograa e ares visuais. Instalações 111. Nuno Ramos (Aeliê Casa 7 – São Paulo) associa em seu campo poéico cósmico, pinuras e objeos. As elas conêm vaseli-
Figura 36 – J g. l t th b. (díc) 1986. ó , 150 c 300 c. Cçã g lí s, sã p, sp.
Figura 37 – 1992. técc , 273 c 157 c. Cçã th Ch, r J, rJ.
Figura 38 – l C. Chc, , J, (íc). 1985. acíc úc v, 150 c . Cçã g Ch, r J, rJ.
163
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
na, parana, cera, linhaça e esmale sinéico. Os objeos são iluminados de ormas inusiadas. Sem título. Eser Grinspun (arquiea) desenha uma nova gramáica caligráca: delicada, ímida, rágil e ilusória. As imagens arriscam e promeem simeria; odavia, isso não se cumpre, criando, assim, um eeio de desvanecimeno da orma. A are conemporânea, pelos exemplos aqui selecionados, manémse como expressão aravés do rabalho de areao — colar, pinar, cosurar, monar, ec. Muias dessas obras causam repulsa e escândalo? Sim. Pois bem, é pare do processo. Esse direio deve ser esimulado e garanido ao arisa e a sua obra. A are coninua promovendo uma expressividade ilimiada; logo, compreendê-la é complexo e exige reexão. Hoje, a chamada are conemporânea coninua represenando os dierenes exraos muliculurais, mas de maneira ragmenada — o coidiano, a políica, a amília, os senimenos mais inrínsecos do homem. Assim, a are conemporânea ambém abre caminhos para o desenvol vimeno da sensibilidade das pessoas, não deixando que elas sucum bam ao mio da aldeia global, propiciadora de uma comunicabilidade ideal e não percepiva e real.
saiba mais O que ver: MOREIRA, Roberto. BR/80. Pintura Brasil década 80. São Paulo; Instituto Cultural Itaú, 1991 vídeo. (10 min). MOREIRA, Roberto. Nuno Ramos. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1991. Vídeo. (13 min). Aonde ir: Instituto Cultural Itaú – São Paulo; Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Centro Cultural Vergueiro – São Paulo; Museu da Escultura – São Paulo. O que acessar: Sites de Museus da Internet http://www.memorial.org.br/ http://www.macnit.com.br/ http://www.usp.br/mac/ http://www.visualnet.com.br/cmaya/cc-pr-00.htm http://www.mam.ba.gov.br/ http://www.mamrio.com.br/ http://www.visualnet.com.br/cmaya/ •
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
164
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
3.4. desCentralizaÇÃo do eixo expositiVo – de norte a sul As cidades do Rio de Janeiro e São Paulo coninuam promovendo os maiores evenos arísicos do País. Ao mesmo empo, as capiais dos demais esados e ouras cidades de grande pore, propiciam programas que reeem cero nível de descenralização das ares no Brasil. Pode-se azer, enão, um mapeameno da produção arísica generalizada, levando em consideração as peculiaridades da criaividade plásica de cada região e local. A inrodução da are moderna, que se desdobra aé a are conemporânea, nas cidades idas como “periéricas”, seguem um percurso similar, de acordo com cada conexo hisórico: • Normalmente, no primeiro momento, radicaliza-se na cidade um arisa moderno, com ormação em cenros cosmopolias (décadas de 1930, 1940 e 1950). • Criam-se escolas de arte particulares, que, com o passar dos anos, agregam-se ao ensino universiário local (década de 1960). • Alguns artistas locais exercem o papel de líderes, com uma produção arísica signicaiva, exposa inclusive em grandes evenos nacionais, como as Bienais de São Paulo (décadas de 1950 e 1960). • As universidades estaduais e federais investem no ensino de gra duação e pós-graduação em ares (a parir da década de 1970). Houve grande expansão dos cursos de pós-graduação nas universidades públicas (USP, UNICAMP, UFRJ, UFMG, UFRS, UNESP, UnB, UFB e ouras); • As universidades mais recentes compõem o seu quadro de docenes, inicialmene, com arisas de ouras localidades, com experiência já consolidada. Ese oi o caso da Universidade Federal de Uberlândia, MG, Universidade Esadual de Londrina, PR, Universidade de Brasília, DF e Universidade Federal de Goiás, GO. • Constroem-se locais propícios para investimentos em programa ções arísicas, como o Museu de Are Moderna de Salvador, o Museu de Are da Universidade do Ceará, o Núcleo da Are Conemporânea da Universidade Federal da Paraíba e o Museu de Are e de Culura Popular da Universidade Federal de Cuiabá. • Alguns eventos artísticos tornaram-se marcantes, pois propiciaram um inercâmbio enre a are regionalisa e a nacional: o eveno de vanguarda Do Corpo à erra (Belo Horizone, 1970), a I e II Bienal Nacional de Ares Plásicas (Salvador, década 1960). • Muitas cidades centralizam eventos tradicionais e de repercussão nacional, como as edições da Exposição Inernacional de Esculuras Eêmeras (Foraleza, CE), a Bienal da Gravura (Curiiba, PR), o Salão do Humor (Piracicaba, SP), o Fesival de Inverno (Ouro Preo, MG) e o Fesival de Verão (Nova Almeida, ES). • Os críticos de arte pesquisam, cada vez mais, as cidades periféricas 165
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
Figura 39 – e n. s. 1990. oj , 40 c (). Cçã .
Figura 40 – José Rufno. Sem tí. 1997. lv, fh cc, 23c 19 c 20 c. Cçã .
Figura 41 – Fcc b. Fch . rcf, pe.
Figura 42 – r V. e. déc 1980. m, 100 c . Cçã c
166
brasileiras em busca de jovens arisas com uma produção conemporânea, inegrando-os aos circuios dos cenros cosmopolias. A produção arísica nacional proliera em odas as regiões, incremenando assim o caráer descenralizador das ares. Selecionamos no presene exo, alguns arisas que nos ajudam a vivenciar uma produção arísica produzida de nore a sul do País. • Emmanuel Nassar (Capanema, PA, 1949). Procura manter quase inaca a idenidade dos elemenos que recolhe. A Serra (Figura 39) perdeu sua unção, ao ser reconexualizada em orma. • José Runo (João Pessoa, PB, 1965). Partindo do universo familiar, procura chegar a um universalismo desenraizado. Suas correspondências-objeo, na obra Sem íulo (Figura 40), esabelecem um canal de comunicação enre os elemenos da obra, propiciando um diálogo enre o empo e a memória. • João Câmara Filho (João Pessoa, PB, 1944). Em Olinda (PE), dedica-se à pinura neoguraiva. Ao azer a apologia da diadura geulisa, ransorma a hisória do ao num jogo plásico-políico, em que esranhos objeos, corpos e ambienes ransormam o conceio de verdade e veracidade dos aos num blee assimilado pela imaginação do arisa. • Francisco Brennard (Recife, PE, 1927) também adota a guraividade nas cerâmicas. Seu aeliê (Figura 41) remee a um museu a céu abero, composo por um conjuno esculórico de homens, mulheres e animais exóicos. • Juraci Dórea (Feira de Santana, BA, 1944). No sertão nordestino, o arisa, que é arquieo, ormado pela Universidade Federal da Bahia, ncou esacas oscas, amarrou-as e cobriu-as com couro. Uma obra de are para o iinerane anônimo, para que dela aça uso conorme lhe convier: amarrar animais, recosar-se, servir como marco, enm, um objeo a mercê do empo e de quanos por lá ransiem. • Rubem Valentim (Salvador, BA, 1922 – São Paulo, SP, 1991). Fi xou-se em Brasília por um longo empo. Pesquisou a simbologia mísica aro-brasileira, um dos valores culurais de maior alcance mágico, ransgurando-a em ormas picóricas absraas universais (Figura 42). • Bia Medeiros (Rio de Janeiro, RJ, 1955). É professora do departameno de ares da Universidade de Brasília. Para os arisas envolvidos com are ecnológica, o compuador não é apenas uma nova erramena, os seus disposiivos causam eeios sobre o pensameno, o processo e a realização arísica. Essa nova práica eséica inceniva a revisar os processos conemporâneos de criação arísica e reeir acerca de suas poencialidades. É imprescindível maner-se aualizado para acompanhar e perceber as novas produções, conorme sugere o livro A are no século XXI: a humanização das ecnologias (Domingues, 1997). • Siron Franco (Goiás, GO, 1947). Demonstra grande anidade com os aspecos naurais. Assim, esá sempre alera para denunciar quesões
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
sociais que aigem o homem no conexo goiano brasileiro. A linguagem plásica da Série Césio é vigorosa e alucinane. Pinada com ina auomoiva praeada e osorescene azul, segue as pegadas da are anásica. • Antônio Poteiro (Portugal, 1925). Está radicado em Goiânia. Tam bém abarca, em “sua narraiva esponânea”, emas regionais e religiosos. Seus Deuses são represenados de maneira simples, mas irreverene, em ace da visão peculiar que o arisa em do mundo. • Humberto Espíndola (Campo Grande, MS, 1943). A poética da sua are esá cenrada na bovinoculura, que simboliza a orça econômica, social e políica de sua região. É digna de noa, a sínese das ormas com o apropriameno das cores da Bandeira Nacional e o seu vínculo com a esruura da pop ar (Figura 66), que dá ao produo regional uma ampliude nacional, com agudo senimeno críico. • Shirley Paes Leme (Cachoeira Dourada, GO, 1956), foi professora da Universidade Federal de Uberlândia, MG. Procura adapar o processo de consrução aresanal a uma concepção plásica consruiva, em que a essência maérica da obra se expressa na simplicidade da massa ormal. • Lucimar Bello (Itajubá, MG) também foi professora da UFU, MG. Capa a essência do insino eminino e maerializa-o na orma de desenho. A arisa arma: “o desenho, para mim, independe do maerial e da écnica. É uma esruura espacial, são espaços grácos ísicos e poéicos ranscendenais em si mesmos”. Em Cidades uópicas, há uma sensualidade sugerida na relação dos maeriais (borracha e couro), uma proposa de desenho esculórico. • Marcos Coelho Benjamim (Nanuque, MG, 1952) reside em Belo Horizone desde 1969. Suas peças são objeos aresanais elaborados. Observe o procedimeno consruivo das ormas no espaço, sua projeção sobre o chão, sua policromia e exura. • Bernardo Caro (Itatiba, SP, 1931) foi professor da UNICAMP. Maném um diálogo conínuo com o processo hisórico conemporâneo. Na Série Magia, a “sua imaginação rabalha no senido da energia, da orça e da alucinação conidas no ao do pedir” (Caálogo Bernardo Caro, proposições 1964-1984, UNICAMP, 1984). • Marta Strambi (Ribeirão Preto, SP, 1960) vive e trabalha em Campinas. Emprega silicone, maéria dúcil e maleável para modelagem do corpo. É diícil resisir ao desejo de ocar a obra (Figura 43). Nela, a arisa quesiona a sua genealogia. • Bassano Vaccarini (Itália, 1913) foi professor na Universidade de Ribeirão Preo (UNAERP). Suas esculuras parem de uma guração expressionisa, como se pode observar no grupo dedicado às mulheres. • Eliane Prolik (Curitiba, PR, 1960). Graduou-se em pintura na Escola de Música e Belas Ares do Paraná. Os objeos amiliares, como os sinos são remeidos a um ouro erriório, o da are, no qual as ormas curvas e volumosas insinuam o reconhecimeno do banal, mas de uma maneira minimalisa.
Figura 43 – m s. u. 1996. sc q, 61 c 157 c.
167
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
• Francisco Stockinger (Áustria, 1919) vive em Porto Alegre. Ele cria uma iconograa represenaiva da gene e das lendas do Rio Grande do Sul. Ao represenar os Gabirus — homens nanicos, em consequência da desnurição crônica — ele esá denunciando as proundas desigualdades sociais do País. A variedade de obras aqui mencionadas, a íulo de ilusração, permie deecar ponos comuns da are brasileira conemporânea: a obra de are não em mais roneiras; dogmas e regras da orma deixam de prevalecer; udo se compõe e se recompõe; o sacro e o proano convi vem no mesmo espaço; as opções vão do aresanal ao ecnológico, e o geomérico e o guraivo reciclam-se. Persise o geso criador do arisa e a necessidade premene da inerpreação da obra de are pelo especador. O valor da educação visual az-se essencial, para que se descubram ouros aspecos eséicos que envolvem o m dese milênio.
168
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
olHo ViVo
A Galeria da FAV, espaço Prof. Antônio Henrique Péclat, foi inaugurada em 21 de maio de 2002. É o núcleo responsável pela guarda, catalogação e conservação das obras integrantes do acervo artístico da Faculdade de Artes Visuais, FAV/UFG. Tem sob seu cuidado um conjunto de obras de artistas brasileiros, nas categorias de desenho, pintura, gravura, escultura, objeto, vídeo e fo tograa, abrigando um patrimônio formado por cinco coleções distintas.
Sua missão é atuar como um laboratório estético que promove o diálogo entre a Faculdade de Artes Visuais, outras instituições de ensino e a comunidade em geral. A instituição tem investido no processo contínuo de aquisição de novas peças para o acervo, procurando criar uma identidade pautada a partir da arte contemporânea, uma vez que pretende transformar-se em Museu Universitário de Arte Contemporânea. Sua programação anual é através do edital de seleção, discutido pelo Conselho Consultivo e Curatorial da Galeria da FAV, formado por professores da Faculdade de Artes Visuais, que analisa e seleciona, entre as propostas enviadas à Galeria, quais devem ser exibidas, responsabilizando-se pela manutenção da qualidade da programação. A Galeria da FAV teve, de 2002 a início de 2007, o professor e artista plástico Carlos Sena como coordenador desse espaço, e Selma Parreira, artista plástica e professora da FAV, assumiu a coordenação da Galeria desde então. Para saber mais visite o site da galeria:
169
História da arte brasileira: Questões Contemporâneas
reFerênCias bibliográFiCas ALMEIDA, Paulo Mendes de. De Anita ao Museu. São Paulo: Perspectiva, 1976. AMARAL, Araci Abreu. Artes plásticas na Semana de 22: subsídios para uma história das artes no Brasil. São Paulo: Perspectiva-EDUSP, 1972. ________. Arte e meio artístico (1961-1981): entre a feijoada e o x-burguer . São Paulo: Nobel, 1983. ________. Mario Pedrosa, dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. São Paulo: Perspectiva, 1981. A ARTE BRASILEIRA. Luiz Gonzaga Duque Estrada: Introdução e notas de Tadeu Chiarelli. — Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995. BORGES, Maria Elizia. A Pintura na “Capital do Café: sua história e evolução no período da primeira República ”. São Paulo: Dissertação de Mestrado, Fundação Escola de Sociologia e Política, 1983. _______ Arte funerária no Brasil (1890-1930) ofício de marmoristas italianos em Ribeirão Preto = Funerary Art in Brazil (1890-1930): italian marble carver craft in Ribeirão Preto. Belo Horizonte: Editora C/ Arte, 2002. BR 80, PINTURA BRASIL DÉCADA 80. Instituto Cultural Itaú. São Paulo, 1991. DURAND, José Carlos. Arte, privilégio e distinção . São Paulo: EDUSP, Perspectiva, 1989. CHIARELLI, Tadeu. Arte Internacional Brasileira . São Paulo: Lemos — Editorial, 1999. CHIARELLI, Tadeu. Um jeca nos Vernissages : Monteiro Lobato e o desejo de uma Arte Nacional no Brasil. São Paulo: EDUSP, 1995. CHRISTO, Maraliz de Castro V.”’Algumas observações sobre a pintura em áreas cafeeiras: Juiz de Fora (MG), 1850-1930 ”’ IN: LOCUS, Revista de História, Juiz de Fora: NHR/EDUFJF, 1995. ABRIS, Annateresa. Cândido Portinari. São Paulo: EDUSP, 1996. FABRIS, Annateresa (org.). Ecletismo na Arquitetura Brasileira . São Paulo: Nobel;USP, 1987. FAVARETTO, Celso Fernando. A invenção de Hélio Oiticica. São Paulo: EDUSP, 1992. FROTA, Lélia. Mitopoética de 9 artistas brasileiros Vida, verdade e obra. Rio de Janeiro: Fontana Ltda., 1975. GULLAR, Ferreira. Etapas da arte contemporânea : do cubismo ao neoconcretismo. São Paulo: Nobel, 1985. LOPES, Almerinda da Silva. Arte no Espírito Santo do Século XIX a primeira República.Vitória: Ed. do Autor, 1997. MORAIS, Frederico (Cur.). Missões 300 Anos. A visão do artista, Catálogo. Porto Alegre: Projeto Cultural IOCHPE/Ministério da Cultura, SPHAN e Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 1987.
170