RELATÓRIO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES
A Dinâmica do Capitalismo Fernand Braudel
Universidade de Santo Amaro UNISA Efar Antonio Mallet de Oliveira RA 2351188 5ª Módulo Serviço Social
Fichamento de livro Efar Antonio Mallet de Oliveira, RA 2351188, 5ª Módulo, Serviço Social 07/05/2011 Esta obra apresenta, com vivacidade e espírito, as conclusões de Fernand Braudel acerca de um campo de investigação que consagrou trinta anos de sua vida: a História da Economia Ocidental. BRAUDEL, Fernand. A Dinâmica do Capitalismo.Lisboa: Editorial Teorema, 1985. 123 p.
Sob determinada perspectiva, toda a história do homem está inserido na chamada história econômica, ainda em construção. É simultâneamente a história dos grandes acontecimentos, dos grandes homens, das crises e das conjunturas e, por último, a história maciça que evolui lentamente no curso da longa duração; Braudel escolheu tratar da análise de equilíbrio e desequilíbrio ao longo prazo, diante da dificuldade em organizar acontecimentos e fatos decorridos em quatro séculos. Temos ao menos dois tipos de vida alheios um ao outro. Por um lado camponeses nas aldeias vivendo de maneira autônoma e por outro uma economia de mercado e um capitalismo em expansão; Mais da metade da vida é condicionada pelo cotidiano que, confusamente acumulado e infinitamente repetido, nos chega aprisionando-nos. Braudel chama a isso de vida material ; Dentro desta vida material a reprodução humana comanda boa parte dos destinos. Dentro do jogo demográfico, os fluxos e refluxos revelam tendências válidas até o século XVIII. Somente a partir daí o número de homens não parou de aumentar e nunca mais inverteu seu movimento; Para estabelecer o equilíbrio existem fomes, carências, duras condições de vida, as guerras e sobretudo, as doenças; Braudel, nos capítulos seguintes, pergunta o que os homens comem, o que bebem, como se vestem, quais suas condições de vida, perguntas inconvenientes pois nos livros de história o homem não come nem bebe. Retrata as diferentes formas de lavoura e explica até o tempo livre do camponês, quando originou as corvéias camponesas e os monumentos ameríndios. As rações e as calorias que cada alimento contém, além das drogas antigas como o álcool e principalmente o tabaco que deu a volta ao mundo; Há um incessante movimento de difusão de técnicas, quando elementos das ciências se trocam e viajam através do mundo; A moeda e as cidades mergulham simultaneamente no cotidiano, fabricando a modernidade. A expansão da moeda construiu a tirania crescente das cidades; De 1400 a 1800 encontramos uma economia de troca muito imperfeita, não abrangendo toda a produção nem todo consumo. A economia de mercado expande-se iniciando a organização da produção e orientando ‘
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o comando de consumo. Os mercados demarcam uma fronteira onde tudo o que se situa fora do mercado apenas tem valor de uso e tudo o que cruza esse limiar adquire valor de troca; O indivíduo, conforme se situe está ou não incluído na troca, na vida econômica , em oposição a vida material ; O século XV, sobretudo após 1450, vai assistir a um relançamento geral da economia em beneficio das cidades favorecidas pela subida nos preços industriais. Por outro lado, os preços agrícolas estagnam ou baixam. Nesse momento o papel de motor da economia cabe as lojas de artesãos, nos mercados urbanos; O século XVI foi o apogeu das feiras pois, com a expansão para o Atlântico, dinamiza-se as grandes feiras internacionais; Houve recessão e estagnação econômica no século XVII. A feira cede lugar às bolsas e a praças de comercio, multiplicando-se lojas e criando apertadas redes de distribuição; No século XVIII houve acelerada expansão econômica, com multiplicação das bolsas, fazendo desaparecerem as feiras, existindo apenas regiões marginais da economia européia; Tudo o avaliado até aqui diz respeito a Europa, mas ao mesmo tempo, em todo o planeta, encontram-se mercados, até nas sociedades incipientes da África e das civilizações ameríndias; Nos países islâmicos, os grandes mercados dispõem-se diante das portas das cidades, onde citadinos encontram-se com o camponês em terreno neutro. Na Índia não há aldeia que não tenha mercado, arrecadando fundos ao seu Grão-Mongol local; A China apresenta-se extremamente organizada em seus mercados, com localizações estratégicas que permitiam aos camponeses irem e voltarem no mesmo dia ao mercado centralizado; Comparando-se a econômica européia e a do resto do mundo, esta deve seu desenvolvimento a superioridade de seus instrumentos e instituições: as bolsas e as diversas formas de crédito. A economia de mercado expandiu-se e manteve-se ativa sobre a enorme massa da vida material cotidiana, e foi sobre a economia de mercado que o capitalismo prosperou; Até o século XVIII os homens permaneceram no domínio da vida material, fazendo distinção entre economia de mercado e capitalismo. É um período de séculos caracterizado por um enorme setor de autoconsumo, alheio a economia de troca; A economia de mercado ainda está em desenvolvimento, caracterizando um capitalismo mercantil. O papel nacional, internacional e mundial do capitalismo já é evidente; Antes do século XIX, a economia de mercado é o a ligação entre a produção e o consumo. As trocas tem papel decisivo, restaurador de equilíbrios, que ajustam a oferta e a procura, corrigindo a imperfeição imposta pelo mercado de produção e consumo; Braudel utiliza a palavra capitalismo por não encontrar definição melhor, mas cai no anacronismo, pois Marx praticamente ignorou esta palavra. Não há capitalismo antes da Revolução Industrial. Capital sim, capitalismo não; ‘
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No século XV cada cidade teria o equivalente a quatro anos de trabalho acumulado, em reservas, que lhe serviria par fazer progredir sua produção, designada hoje como patrimônio; É possível aceitar duas formas de economia de mercado, as cotidianas, correntes de tráfico locais ou de pequenas distâncias e até ramos de comercio rotineiros e abertos a pequenos e grandes comerciantes, e aquela que traça uma esfera de circulação diferenciada. Ela compra produtos antecipadamente, a lã antes da tosquia, o trigo antes da seara, depois encaminham os produtos para as cidades e cais de exportação e fazem transações individuais, de acordo com a situação dos interessados. Com reduzida concorrência, o comerciante (ou atravessador) desfruta duplamente suas vantagens, em relação ao produtor e ao comprador; Destes grandes lucros provêm acumulações consideráveis de capital, concentrando-se num pequeno número de mãos que conseguem preservar seus privilégios e reservar a si os grandes negócios internacionais; O mundo da mercadoria encontra-se hierarquizado, desde os ofícios mais humildes, aos caixas, lojistas, corretores, usuários e os negociantes. A especialização, a divisão do trabalho, afeta a toda sociedade, excetuando-se a cúpula, os negociantes capitalistas, que não se limitam a uma única atividade. Caso percam numa, ganham noutra; Supõe-se que o capitalismo precisou acumular riquezas para expandirse, mas o epistolário comercial e as memórias das câmaras de comércio mostram que sempre houve capitais que procuraram em vão oportunidades de investimento; Se o comerciante muda tantas vezes de atividade é porque o grande lucro muda constantemente de setor. Ainda hoje, uma das grandes forças do capitalismo é a facilidade de adaptação e reconversão; Desde a idade média até nossos dias, capitalismo e economia de mercado progrediram a par, sendo que toda forma de capitalismo existe em função das economias que lhe são subjacentes; O capitalismo é uma realidade de ordem social e até política, ou mesmo uma realidade civilizacional. É necessário que a sociedade aceite seus valores; O Estado moderno é herdeiro do capitalismo, que ora o favorece, ora o desfavorece. O capitalismo só triunfa quando se identifica com o Estado. Assim o Estado é hostil ou favorável ao mundo do dinheiro conforme seu próprio equilíbrio e sua capacidade de resistência; Para Braudel, os países do norte tomaram lugar dos centros capitalistas do Mediterrâneo. Amsterdã copia Veneza, Londres copia Amsterdã, Nova York copia Londres, estando em jogo a deslocação do centro d a gravidade da economia mundial, que é o triunfo de um país novo sobre um envelhecido; O futuro do capitalismo decidiu-se pelas hierarquias sociais. A hierarquia religiosa, a política, a militar e as diversas hierarquias do dinheiro. Entre umas e outras, conforme as épocas e os locais há oposições, compromissos e alianças e por vezes entre elas confusões; No ocidente, inscreve-se os triunfos individuais no ativo de famílias, apostadas em fazer aumentar pouco a pouco a sua fortuna e influência,
e atentando a esta lenta acumulação de patrimônio e de honrarias, a passagem, na Europa, do regime feudal para o regime capitalista tornase compreensível, pois ao longo dos séculos a burguesia terá sugado, parasitariamente, dissolvendo-se nas famílias senhoriais do regime feudal. E logo outros burgueses estão prontos para voltarem ao assalto, recomeçando a luta, numa luta parasitaria a longo prazo; A sociedade que se deriva do feudalismo é uma sociedade semi-feudal, em que propriedade e privilégios sociais encontram-se protegidos, com desfrutes tranqüilos, visto que a propriedade é tida como sagrada; A sociedade ocidental e a sociedade japonesa são únicos exemplos de sociedades que passaram, quase por si sós, da ordem feudal para a ordem monetária; O estado chinês, sempre hostil ao capitalismo, se estabelece entre mandarins e comerciantes corruptos e é classificado como totalitário. Nos países do Islã, a propriedade da terra é provisória, pois pertence ao príncipe. São terras distribuídas pelo Estado e ficam disponíveis cada vez que seu beneficiário morre. O senhorio e todos os bens regressam a posse do Sultão, que não hesita em mudar de sociedade dominante; Nesse contexto, a cúpula da sociedade renova-se com freqüência, famílias não se instalam nela em definitivo e grandes comerciantes não conseguem manter sua posição para além de uma única geração; O tempo do mundo sugere vincular o capitalismo a uma história geral, sob o signo da desigualdade com países abastados e países subdesenvolvidos por outro. Os países ricos e os países pobres tem sido imutavelmente os mesmos. O mundo é uma espécie de sociedade tão hierarquizada quanto qualquer outra; Para Braudel, o mundo havia se dividido desde a Idade Média até a Antiguidade em várias economias-mundo coexistentes, não tendo trocas externas, partilhando um espaço habitado do planeta. Essas economiamundo foram matrizes do capitalismo europeu e posteriormente capitalismo mundial; Centramento, descentramento e recentramento parecem estar ligados a crises prolongadas da economia geral. O esplendor, a riqueza, a felicidade de viver concentram-se no centro da economia-mundo, em seu coração. Se evidenciam preços e salários elevados, a banca, as mercadorias, as indústrias lucrativas, as agriculturas capitalistas; Quando chegamos aos países intermediários, vizinhos ao centro, há poucos camponeses livres, poucos homens livres, trocas imperfeitas, organizações bancárias e financeiras incompletas, muitas vezes mantidas no exterior, e sobre as regiões marginais a situação fica ainda pior; Nessa ótica, o capitalismo é uma criação da desigualdade do mundo, onde para se desenvolver, precisa da conivência da economia internacional. Não teria surgido sem o recurso ao trabalho servil dos outros e não teria espaço num espaço econômico restrito; Uma tese bem diferente da interpretação escravidão, servidão, capitalismo, pois destaca o sincronismo dos acontecimentos; Até 1750 os centros dominadores foram sempre cidades. Cidadesestado, tendo Amsterdã como última polis da história quando surge Londres, a capital das Ilhas Britânicas, com força de mercado nacional.
São duas fases, a de cidades essenciais Veneza, Antuérpia, Gênova, Amsterdã; Na economia nacional, o espaço político foi transformado devido a necessidades e inovações, num espaço unificado, com atividades numa mesma direção e a Inglaterra, habituada a revoluções, foi o espaço propício para a criação do mercado nacional inglês; A Inglaterra uniu-se a Escócia em 1701 e a Irlanda em 1801. Libertou-se das alfândegas e de portagens internas. A relativa abundância dos meios de transporte, num território pequeno, favoreceram Londres como centro econômico, político e modelador do mercado de acordo com as conveniências dos grandes comerciantes locais; Com a ascensão londrina, a economia européia vai pretender dominar a economia mundial e identificar-se com ela, sendo a Revolução Industrial Inglesa uma renovação contratual com o poder, tendo o próprio Adam Smith vivido nela sem se dar conta, tamanha lentidão e difícil detecção; O boom das máquinas inglesas desenvolveram-se num fantástico crescimento nacional. O s campos esvaziaram-se da população masculina, mas mantiveram sua capacidade de produção. Os novos industriais encontraram mão-de-obra que necessitavam. O mercado interno desenvolveu-se não obstante a alta nos preços. Os mercados externos abriram-se em cadeia e mesmo os lucros descendentes como o algodão, não provocaram crise, pois os capitais transferiram-se para os caminhos de ferro. Nada bloqueou a aceleração da produção inglesa; Contribuíram para o êxito inglês a Revolução Francesa, as guerras napoleônicas, o boom do algodão extenso e duradouro graças a novos mercados (América, Império Turco, Índias...); Braudel finaliza com a análise do capitalismo de hoje visto a luz do capitalismo de ontem. O atual capitalismo ajustou-se as dimensões de trocas de base dos meios ampliados, porém a natureza do capitalismo não mudou; O capitalismo assenta sobre exploração de recursos e possibilidades internacionais. Aspira ao mundo inteiro, atualmente refazendo esse universalismo; Ele apóia-se ainda, e sempre, em monopólios de direito ou de fato, apesar da violência que desencadeia contra si. A organização continua a conseguir contornar o mercado; O capitalismo, apesar de seu discurso, não abarca toda a economia, toda a sociedade em atividade. Não consegue encerrar nem uma , nem outra, num sistema, o seu, que seria perfeito; Afirma Braudel portanto que o capitalismo decorre das atividades orgânicas de cúpula, ou que tendem para a cúpula. E este capitalismo de grande fôlego paira sobre uma dupla camada subjacente, constituída pela vida material e pela economia corrente de mercado e representa faixa de lucro elevado.
Para mim, o ponto auto da obra está na afirmação da mentira elaborada por capitalistas de que escravidão, servidão e capitalismo são as nuances do sistema econômico. Mais que provado pela vivência de qualquer indivíduo que tenha se submetido ao mercado de trabalho, desde o sistema feudal a sociedade vem sendo enganada, explorada e alienada, gerando lucros a poucos. Como Assistentes Sociais temos a obrigação de alertar aos trabalhadores seus direitos, auxiliando-os a expandir sua visão restrita bem como exigir da classe governante que faça justiça social. A educação é uma das diretrizes de sucesso nesse processo.
