Inteligência e verdade
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Apostilas do Seminário de de Filosofia - 15
Inteligência e verdade Duas aulas do Seminário de Filosofia , Curitiba, agosto de 1994
Transcrição de Luciane Amato, não revista pelo autor
1 De!inição "ntelig#ncia, no sentido em $ue a$ui emprego a palavra, no sentido $ue tem etimologicamente e no sentido em $ue se usava no tempo em $ue as palavras tin%am sentido, não $uer di&er a %abilidade de resolver problemas, a %abilidade matem'tica, a imaginação visual, a aptidão musical ou $ual$uer outro tipo de %abilidade em especial (uer di&er, da maneira mais geral e abrangente, a capacidade de apreender a verdade A intelig#ncia não consiste nem mesmo em pensar (uando pensamos, mas o nosso pensamento não capta propriamente o $ue ) verdade na$uilo $ue pensa, então o $ue est' em ação nesse pensar não ) propriamente a intelig#ncia, no rigor do termo, mas apenas o dese*o !rustrado de inteligir ou mesmo o puro automatismo de um pensar ininteligente + pensar e o inteligir são atividades completamente distintas A prova disto ) $ue muitas ve&es voc# pensa, pensa, e não intelige nada, e outras ve&es intelige sem ter pensado, numa sbita !ulguração intuitiva A intelig#ncia ) um rgão . digamos assim/ um rgão . $ue s serve para isto/ captar a verdade 0s ve&es ela entra em operação atrav)s do pensamento, s ve&es atrav)s da
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imaginação ou do sentimento, e s ve&es entra diretamente, num ato intelectivo . ou intuitivo . instant2neo, no $ual voc# capta alguma coisa sem uma preparação e sem uma !orma representativa em especial $ue sirva de canal intelecção +utras ve&es %' uma longa preparação atrav)s do pensamento, da imaginação e da memria, e no !im voc# não capta cois3ssima nen%uma/ cumpridos os atos representativos, a intelecção a $ue se dirigiam !al%a por completo dados os meios, a !inalidade não se reali&a A intelig#ncia est' na reali&ação da !inalidade, e não na nature&a dos meios empregados se a !inalidade dos meios de con%ecimento ) con%ecer, e se o con%ecimento s ) con%ecimento em sentido pleno se con%ece a verdade, então a de!inição de intelig#ncia )/ a potência de conhecer a verdade por qualquer meio que seja + conceito da verdade, e as discuss6es todas $ue suscita, podem !icar para outra ocasião 7or en$uanto, e tomando provisoriamente a palavra 8verdade8 em seu sentido vulgar de coincid#ncia entre !ato e id)ia, bastam estas distinç6es elementares para nos levarem a perceber o $uanto ) errnea a direção tomada pela atual teoria das 8intelig#ncias mltiplas8, $ue dissolve a noção mesma de intelig#ncia numa coleção de %abilidades . $ue vão desde o racioc3nio matem'tico at) a destre&a !3sica e o tra$ue*o social ., sem notar $ue todas estas capacidades e outras $uantas similares são meios e $ue a intelig#ncia não ) um meio, mas o ato mesmo, o resultado a $ue tendem esses meios e para o $ual nen%um deles ) por si . nem a soma deles todos ) por si . condição su!iciente A teoria das intelig#ncias mltiplas surgiu como uma reação contra a teoria do (", $ue por sua ve& identi!icava a intelig#ncia, e:clusivamente, com a %abilidade verbal, matem'tica e imaginativo-espacial ;as ) um caso t3pico de substituição de uma !alsidade por outra
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intelig#ncia= >endo sempre a intelig#ncia atuar atrav)s do pensamento, da memria, da imaginação, do sentimento, con!undem portanto o canal com a$uilo $ue por ele passa, o ve3culo com o passageiro, e tomam por 8intelig#ncia8 os meros atos mentais sse e$u3voco acabou por ser o!iciali&ado e legitimado pela educação De modo geral, todas as !ormas de ensino visam a incrementar as %abilidades em $ue a intelig#ncia se apia, como a memria, a imaginação, o racioc3nio etc, e não dão a menor import2ncia a intelig#ncia en$uanto tal + !ato ) $ue a entrada em cena dessas outras !aculdades não acarreta necessariamente a da intelig#ncia 7odemos desenvolver bastante o racioc3nio verbal, ou a imaginação visual, ou a memria, ou a aptidão art3stica, sem $ue %a*a e!etivamente uma intelig#ncia dirigindo os seus passos . a prova ) $ue v'rias dessas aptid6es são mais desenvolvidas em certos retardados mentais do $ue no comum das pessoas Ali's, se ) atrav)s do racioc3nio $ue s ve&es inteligimos, tamb)m ) atrav)s dele $ue nos enganamos Do mesmo modo, s ve&es a imaginação nos leva compreensão real de alguma coisa, mas s ve&es nos leva para longe da verdade + desenvolvimento destas !aculdades, imaginação, memria, racioc3nio etc, não implica portanto necessariamente o da intelig#ncia tamb)m ) verdade o vice-versa/ $ue a intelig#ncia ) independente desses outros processos, $ue l%e servem de canais, instrumentos e ocasi6es e nada mais ;as o vice-versa não deve ser tomado em sentido rigoroso, pois uma intelig#ncia resolutamente decidida a descobrir a verdade sobre alguma coisa acaba em geral encontrando os canais mentais pelos $uais c%egar ao seu ob*etivo, ou se*a, ela desenvolve as 8!aculdades8 de $ue necessita
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pensamento, não ) a ra&ão, nem uma imaginação ou memria e:cepcionalmente desenvolvidas, embora tudo isto %a*a e!etivamente no ser %umano 7ois pensar, um macaco tamb)m pensa/ ele completa um silogismo e at) encadeia silogismos num racioc3nio relativamente per!eito "maginação, at) um gato possui/ os gatos son%am 7or este camin%o não encontraremos a di!erença espec3!ica %umana, a$uilo $ue nos torna %omens em ve& de bic%os , se ) importante arraigar o %omem no reino animal, para não !a&er dele um ser ang)lico sem p)s no solo, tamb)m ) importante saber distingui-lo de uma tartaruga ou de um molusco por alguma di!erença $ue não se*a meramente $uantitativa e acidental + $ue nos torna %umanos ) o !ato de $ue tudo a$uilo $ue imaginamos, raciocinamos, recordamos, somos capa&es de v#lo como um con*unto e, com relação a este con*unto, podemos di&er um sim ou um não, podemos di&er/ 8? verdadeiro8, ou/ 8? !also8
Bão e:iste intelig#ncia arti!icial
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o*e em dia, $uando se !ala de 8intelig#ncia arti!icial8, mais certo seria di&er pensamento arti!icial, ou talve& imaginação arti!icial, por$ue uma determinada se$u#ncia de pensamentos, um con*unto de operaç6es da mente, pode ser imitado de v'rias maneiras m con*unto ) imitado, por e:emplo, na escrita A escrita ) uma imitação gr'!ica de sons, $ue por sua ve& imitam id)ias, $ue por sua ve& imitam !ormas, !unç6es e relaç6es de coisas A escrita !oi a primeira !orma de pensamento arti!icial Toda e $ual$uer !orma de registro $ue o %omem use *' ) um tipo de pensamento arti!icial, uma ve& $ue implica um cdigo de convers6es e permutaç6es, e neste sentido um programa de computador não ) muito di!erente, por e:emplo, de uma regra de *ogo/ como no *ogo de :adre&, onde se concebe uma se$u#ncia de operaç6es com muitas alternativas, cristali&adas num determinado es$uema $ue pode ser imitado, repetido ou variado segundo um algoritmo b'sico :istem muitas !ormas de pensamento arti!icial, ou de imaginação arti!icial 7or)m a intelig#ncia, propriamente dita, não tem como ser arti!icial + pensamento arti!icial ) essencialmente uma imitação de atos de pensamento segundo a !rmula das suas se$u#ncias e combinaç6es Do mesmo modo podemos imitar a imaginação e a memria, se em ve& de utili&ar uma correspond#ncia biun3voca entre signo e signi!icado recorrermos a uma rede de correspond#ncias analgicas D' na mesma/ em ambos os casos, trata-se de imitar um algoritmo, a !rmula de uma se$u#ncia ou rede de combinaç6es, $ue por sua ve& imitam as operaç6es reais da mente Acontece $ue a intelig#ncia não ) uma 8operação da mente8 ela ) o nome $ue damos a uma determinada qualidade do resultado dessas operaç6es, pouco importando $ual a !aculdade $ue as reali&ou ou $ual o cdigo empregado ? leg3timo di&er $ue um indiv3duo inteligiu alguma coisa somente $uando ele captou a verdade dessa coisa, se*a pelo racioc3nio, se*a pela imaginação ou se*a l' pelo camin%o $ue !or At) mesmo o sentimento intelige, $uando ama o $ue ) verdadeiramente am'vel e odeia o $ue ) verdadeiramente odioso/ %' uma intelig#ncia do sentimento, como %' uma burrice do sentimento A intelig#ncia não reside na mente, mas num certo tipo de relação entre o ato mental e o seu ob*eto, relação $ue denominamos 8veracidade8 do contedo desse ato
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mental E notem bem/ veracidade do contedo, e não do ato mesmo F A$ui algu)m poderia ob*etar $ue, $uando um ato de pensamento arti!icial c%ega a um resultado verdadeiro, por e:emplo $uando um computador nos assegura $ue G H 4, este ) um ato de intelig#ncia, uma ve& $ue nos d' uma verdade A di!erença, a$ui, ) a seguinte/ o computador não intelige $ue G H 4, mas apenas reali&a as operaç6es $ue dão por resultado 4, segundo um programa ou algoritmo pr)-estabelecido
Beste sentido, o resultado da conta de G $ue aparece na tela do computador ) uma verdade, mas uma verdade $ue est' no objeto e não ainda na intelig#ncia essa verdade est' na tela como a verdadeira estrutura mineralgica de uma pedra est' na pedra ou como a verdadeira !isiologia do animal est' no animal/ são verdades latentes, $ue *a&em na obscuridade do mundo ob*etivo aguardando o instante em $ue se atuali&arão
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na intelig#ncia %umana Do mesmo modo, podemos pensar uma id)ia verdadeira sem nos darmos conta de $ue ) verdadeira neste caso, a verdade est' no pensamento como a verdade da pedra est' na pedra/ o ato de intelig#ncia s se cumpre no instante em $ue percebemos e admitimos essa verdade como verdade A intelig#ncia ), neste sentido, mais 8interior8 a ns do $ue o pensamento + pensamento, para ns, pode ser ob*eto A intelig#ncia, não + ato de re!le:ão pelo $ual retornamos a um pensamento para e:amin'-lo ou *ulg'-lo ) um outro pensamento, de contedo di!erente do primeiro ;as a recordação de um ato de intelig#ncia ) o mesm3ssimo ato de intelig#ncia, re!orçado e revivi!icado, numa nova a!irmação de si mesmo Bão posso recordar o contedo de um ato de intelecção sem inteligir novamente os mesmos contedos, $uase sempre com redobrada !orça de evid#ncia
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$ue l%e serviu de canal mas, se esta cpia !osse acompan%ada da captação de sua veracidade, não seria uma cpia, e sim o ato mesmo, revivido em modo pleno e, se desacompan%ado dessa captação, seria cpia do pensamento ou da imaginação apenas, e não do ato de intelig#ncia esse pensamento ou essa imaginação, se verdadeiros em seu contedo, teriam apenas a verdade de um ob*eto, a verdade latente de uma pedra ou de um c'lculo e:ibido na tela do computador, aguardando ser iluminada pelo ato de intelig#ncia $ue a trans!ormaria em verdade atual, e!etiva, con%ecida m computador s pode *ulgar veracidade ou !alsidade dentro de certos par2metros $ue *' este*am no programa dele, ou se*a, !alsidade ou veracidade relativas a um cdigo dado de antemão, cdigo esse $ue pode ser inteiramente convencional "sto ), ele não *ulga a veracidade, mas apenas a logicidade das conclus6es, sem poder por si mesmo estabelecer premissas ou princ3pios +ra, a logicidade, a rigor, nada tem a ver com a veracidade, pois ) apenas uma relação entre proposiç6es, e não a relação entre uma proposição e a e:peri#ncia real (uando digo e:peri#ncia real, não me re!iro apenas e:peri#ncia cotidiana dos cinco sentidos, mas ao campo total da e:peri#ncia %umana, onde a e:peri#ncia cient3!ica !eita atrav)s de aparel%os e submetida a mediç6es rigorosas se encai:a apenas como uma modalidade entre uma in!inidade de outras A intelig#ncia, $uando *ulga veracidade ou !alsidade, pode !a-lo em termos absolutos e incondicionais, independentemente dos par2metros usados e da re!er#ncia a um ou outro campo determinado da e:peri#ncia e ) *ustamente este con%ecimento incondicional da verdade incondicional $ue pode !undar em seguida os par2metros da condicionalidade ou relatividade, assim como legitimar !iloso!icamente as divis6es de campos de e:peri#ncia, como por e:emplo na delimitação das es!eras das v'rias ci#ncias
I vid#ncia e certe&a + termo 8intuição8 designa em !iloso!ia um con%ecimento direto, uma intelecção ma:imamente evidente E o $ue não signi!ica $ue deva ser con!undida com o sentimento sub*etivo
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de certe&a F :emplo de um ato de intelig#ncia intuitiva/ o !ato de voc# estar a$ui neste momento ) uma certe&a absoluta e incondicional, o $ue não $uer di&er $ue voc# não possa duvidar dela, $ue voc# não possa at) mesmo, por um *ogo engen%oso de imaginação, ter o sentimento da certe&a de estar em outro lugar signi!ica apenas $ue voc# s duvidar' dela e s acreditar' estar em outro lugar se voc# sentir o seu campo de e:peri#ncia como dividido em blocos estan$ues, se voc# perder o senso da unidade do campo da e:peri#ncia, o $ue s acontece na !antasia, no estado %ipntico ou na es$ui&o!renia (uando sua intelig#ncia admite $ue voc# est' a$ui, voc# est' admitindo como verdadeira uma determinada interpretação $ue voc# !a& do con*unto das in!ormaç6es $ue voc# tem neste momento, mas não s a respeito deste momento e sim a respeito do encai:e entre ele e os momentos $ue o antecederam e os $ue se seguirão >oc# sabe $ue est' a$ui não s por causa das in!ormaç6es sens3veis $ue recebe a respeito do ambiente, in!ormaç6es auditivas, t'cteis, etc, mas tamb)m por$ue voc# sabe $ue estas in!ormaç6es são coerentes com um passado E voc# se lembra de ter vindo at) a$ui F, são coerentes com um pro*eto de !uturo, ou se*a, com uma id)ia $ue voc# tem a respeito do propsito com $ue veio a$ui e tudo isto !orma um sistema tão coeso, tão insepar'vel, $ue a respeito deste con*unto voc# pronuncia o *ulgamento de $ue isto verdade/ Você sabe que você está aqui Bo entanto, não seria impens'vel $ue, estando a$ui, voc# imaginasse estar em outro lugar, e $ue at) mesmo se persuadisse e, um tanto auto-%ipnoticamente, 8sentisse8 $ue est' num outro lugar Tudo isto pode ser produ%ido por)m, se o senso da unidade do campo da sua e:peri#ncia ainda !unciona, algo l%e dir'/ isto falso 7or $ue@ 7or$ue as in!ormaç6es $ue di&em $ue voc# est' a$ui vêm todas juntas ao passo $ue as $ue voc# est' produ&indo para di&er $ue est' em outro lugar v#m por partes :amine + $u# imaginou voc# a respeito do outro lugar onde sup6e estar@ o som@ o visual@ m ou outro@ Certamente não !oram os dois e:atamente no mesmo tempo e em proporção coerente + motivo, o antecedente temporal da sua presença ali, eram-l%e tão claros $uanto as sensaç6es visuais ou auditivas@ Bão/ mas as in!ormaç6es $ue voc# recebe a$ui sobre sua presença v#m todas coladas umas s outras >oc# não pega primeiro o visual,
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depois o auditivo, depois o t'ctil, ou se*a, voc# não comp&e este ambiente, ele l%e vem todo *unto e, embora voc#, por abstração, possa momentaneamente prestar atenção mais a um aspecto $ue a outro, voc# sabe e se recorda de $ue os aspectos preteridos estão a3 presentes e podem ser atuali&ados na percepção a $ual$uer momento, sem um trabal%o interior de construção volunt'ria E $ue voc# l%e seria obrigatrio de modo a completar a imagem do outro lugar suposto, onde supostamente estaria ou se sentisse estar en$uanto est' de !ato a$ui F sta certe&a $ue voc# tem de estar a$ui ) o $ue se c%ama evidência ma evid#ncia ) um con%ecimento ineg'vel, e at) de certo modo indestrut3vel, por$ue, se voc# dissesse $ue não est' a$ui, a quem voc# o diria@ A $uem est' l', ou a $uem est' a$ui@ + ato mesmo de voc# di&er $ue não est' a$ui subentende $ue est' :iste, em certos pensamentos $ue temos, esse car'ter de veracidade, mas não sabemos de!inir bem em $u# ele consiste sabemos apenas $ue con!erimos esta veracidade a alguns pensamentos e $ue a negamos a outros 7or e:emplo, a$ui negamos veracidade ao pensamento de $ue não estamos a$ui ? a esta !aculdade . a $ue di& 8sim8 ou 8não8 aos pensamentos, imaginaç6es e sentimentos, $ue os *ulga como totalidade e di& 8) verdadeiro8 ou ) 8) !also8 . $ue c%amamos de inteligência$
4 "ntelig#ncia e vontade A intelig#ncia, em suma, ) o senso da verdade, e uma intelig#ncia apta, %'bil ou !orte ) uma intelig#ncia $ue est' acostumada a discernir a verdade e a !alsidade em todas as circunst2ncias da vida, a aceitar a verdade e permanecer nela Com isto $uero di&er $ue a intelig#ncia não se esgota no mero aspecto cognitivo/ se a pot#ncia de con%ecer a verdade constitui a semente da intelig#ncia, esta semente s !loresce por iniciativa da vontade, e tamb)m pela vontade ela en!ra$uece e morre >ontade signi!ica o e:erc3cio da liberdade (uando voc# capta $ue algo ) verdadeiro, signi!ica $ue voc# aceitou $ue
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a$uilo ) verdadeiro, e $uando voc# capta $ue ) !also, signi!ica $ue voc# o rejeitou +ra, $uem aceita ou re*eita não ) uma !aculdade em particular, mas ) voc# inteiro, num ato de vontade livre "sto signi!ica $ue a inteligência indissoluvelmente a s'ntese de uma aptidão cognitiva e de uma vontade de conhecer
voltado ao desenvolvimento da intelig#ncia, ele teria de, antes de mais nada, acostumar o aluno a dese*ar a verdade em todas as circunst2ncias e não !ugir dela 7ortanto o e:erc3cio da intelig#ncia possui necessariamente um lado )tico, moral 7latão di&ia/ 8>erdade con%ecida ) verdade obedecida8
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determinadas maneiras, e:plicando esses atos de maneiras e:atamente inversas, precisamente por$ue as motivaç6es verdadeiras, permanecendo ine:pressas e mudas, se !urtam ao *ulgamento consciente "sso !a& com $ue, pelo menos subconscientemente, alimentemos um discurso duplo A partir do momento em $ue voc# admite $ue uma coisa ) verdadeira, mas procede, mesmo em segredo, mesmo interiormente, como se ela não o !osse, est' mantendo um discurso duplo/ num plano a!irma uma coisa, e noutro a!irma outra coisa A verdade tem poucas oportunidades de surgir para ns com toda a clare&a, e a mente %umana !unciona de uma !orma $ue, $uando voc# nega uma determinada in!ormação, o subconsciente suprime todas as in!ormaç6es an'logas, de modo $ue, $uando voc# di& para si mesmo uma determinada mentira $ue l%e ) conveniente, por motivos pr'ticos ou psicolgicos, ou para se preservar de sentimentos desagrad'veis, no mesmo instante em $ue voc# suprime esta in!ormação voc# suprime uma s)rie de outras $ue l%e seriam teis e $ue voc# não tencionava suprimir 7or isto a mentira interior ) sempre danosa intelig#ncia/ ) um escotoma $ue se alastra at) escurecer todo o campo da visão e substitu3-lo por um sistema completo de erros e mentiras(uando nos %abituamos a suprimir a verdade com relação s nossas memrias, nossa imaginação, aos nossos sentimentos e atos, esta supressão nunca !ica s na$uele setor onde me:emos, mas se alastra para outros territrios em volta e, tornando-nos incapa&es de inteligir uma determinada coisa, nos tornamos incapa&es para inteligir muitas outras tamb)m A de!esa contra verdades incmodas se trans!orma tamb)m numa de!esa contra a verdade em geral, contra todas as verdades ;ais tarde, $uando dese*armos estudar um determinado assunto $ue nos interessa, ou entender o $ue est' se passando na nossa vida, e não conseguirmos, di!icilmente perceberemos $ue !omos ns mesmos $ue causamos esta lesão da intelig#ncia Boto em muitos intelectuais de %o*e uma repugn2ncia, uma de!esa instintiva contra a verdade, a tal ponto $ue, mesmo $uando dese*am aceit'-la, tem de met#-la num invlucro de mentiras + pior, nisso, ) $ue com !re$u#ncia essa lesão ) compensada por um desenvolvimento %ipertr!ico das !aculdades au:iliares, numa intil e:cresc#ncia ornamental, tal como os seios $ue crescem em algumas mul%eres aps a
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menopausa ;uitas dessas intelig#ncias lesadas alcançam sucesso nas pro!iss6es intelectuais
5 7e$uenas e grandes verdades (uando se !ala em pblico a palavra 8verdade8, no ambiente c3nico de %o*e em dia, logo aparece algum espertin%o repetindo a pergunta de 7ncio 7ilatos e des!iando ante ns, como se !ossem a maior novidade, os vel%os argumentos c)ticos, cu*a re!utação ) classicamente o primeiro grau do aprendi&ado !ilos!ico ;uitas dessas pessoas t#m da palavra 8verdade8 uma noção um tanto posada, teatral, empostada e romanti&ada < estão dispostas a admitir $ue o %omem pode con%ecer a verdade caso algu)m l%es mostre a verdade total, universal e completa a respeito das $uest6es mais di!3ceis, e, como ningu)m satis!a& a esta e:ig#ncia, elas concluem, com o ceticismo cl'ssico, $ue toda verdade ) incognosc3vel ;as esse tipo de e:ig#ncia não e:pressa uma busca sincera da verdade A busca sincera vai das verdades %umildes e corri$ueiras s verdades supremas, aceitando a$uelas como camin%o para estas, sem e:igir desde logo, despoticamente, as respostas !inais a todas as perguntas m e:emplo de verdade %umilde, por)m segura, !irme, da $ual voc# pode partir como um modelo para avaliar outras poss3veis verdades, ) dado por a$uilo $ue voc# sabe . e $ue somente voc# sabe . a respeito da sua prpria %istria, sobretudo da %istria interior de seus sentimentos, motivaç6es, dese*os, etc
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D, , K, etc A verdade tem sempre um car'ter sist#mico, org2nico, ra&ão pela $ual sua captação pela intelig#ncia pessoal re$uer uma abertura da personalidade, uma predisposição a aceitar todas as verdades $ue como tal se revelem, sem nen%uma seleção pr)via de verdades convenientes Demissão dos intelectuais + $ue aconteceria se, numa determinada sociedade, e:istisse um grande nmero de pessoas capa&es de *ulgar por si mesmas e de perceber a verdade, não sobre todos os pontos, mas sobre os pontos de maior interesse para a sociedade, ou sobre os $ue são mais urgentes@ averia mais sensate&, os debates levariam a conclus6es mais *ustas, as decis6es teriam um sentido mais realista Agora, numa sociedade onde todos estão se persuadindo uns aos outros de coisas de $ue eles mesmos não estão persuadidos, onde todos estão procurando se enganar, ou onde todos estão procurando a*uda dos outros para se enganar mais !acilmente a si mesmos, todas as discuss6es versam sobre !antasmas, as decis6es se esvanecem em meros son%os, as !rustraç6es levam o povo a um estado de e:asperação do $ual ele procura !ugir mediante novas !antasias, e assim por diante "sto acontece no campo religioso, pol3tico, moral, econmico e at) no campo cient3!ico 7odemos partir para uma outra de!inicão, e di&er $ue um pa3s tem uma cultura prpria $uando ele tem um nmero su!iciente de pessoas capa&es de perceber a verdade por si mesmas, e $ue não precisam ser persuadidas por ningu)m stas pessoas !uncionam como uma esp)cie de !iscais da intelig#ncia coletiva m nosso pa3s o nmero de pessoas assim ) escandalosamente redu&ido As pessoas encarregadas de perceber a verdade por si mesmas devem ter uma intelig#ncia treinada para isto, devem ter uma intelig#ncia dcil verdade e ser as primeiras a perceber e compreender o $ue se passa "sto ) $ue constitui uma intelig#ncia nacional, uma intelectualidade nacional A intelectualidade aut#ntica não ) constitu3da necessariamente pelas pessoas $ue e:ercem pro!iss6es ligadas cultura ou intelig#ncia, mas sim pelas pessoas $ue, e:ercendo ou não essas pro!iss6es, reali&am as aç6es correspondentes a elas Bão ) preciso ir muito longe para di&er $ue a sorte global de um pa3s depende de $ue %a*a uma camada de pessoas assim, para poder, nos momentos de
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di!iculdade, dar esta contribuição modesta $ue ) simplesmente di&er a verdade Bo Jrasil temos um nmero assombroso de pessoas $ue trabal%am em atividades culturais, escritores, pro!essores, artistas, em geral subvencionados pelo governo, mas $ue nem de longe pensam em cumprir as obrigaç6es elementares da vida intelectual tudo o $ue !a&em ) apoiar-se uns aos outros num discurso coletivo, rea!irmar as mesmas crenças de origem puramente egoista e sub*etivista, e:pressar dese*os e preconceitos coletivos e pessoais, promover a moda ssas pessoas vivem reclamando de $ue neste pa3s %' poucas verbas para a cultura ;as, para !a&er isso $ue elas c%amam de cultura, *' recebem muito mais din%eiro do $ue merecem +s cineastas, diretores de teatro, etc, constituem uma casta privilegiada, $ue ) estipendiada pelo governo para e:ibir em pblico emoç6es baratas, a!etar indignação e posar como 8pessoas maravil%osas8 em apartamentos da av >ieira
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ao mesmo tempo pregar um relativismo dissolvente, onde os crit)rios do verdadeiro e do !also se diluem a ponto de se tornarem indistingu3veis, e ao mesmo tempo e:igir $ue os pol3ticos se*am %onestos e digam a verdade ao povo@ As pessoas, nessa situação, não poderiam ser %onestas nem mesmo $ue $uisessem, por$ue não sabem o $ue ) certo, não t#m consci#ncia moral, são grosseiras e insens3veis do ponto de vista moral ntão não resta dvida de $ue a corrupção da sociedade começa com a corrupção da camada intelectual, não com a corrupção dos negcios ou da pol3tica/ ao contr'rio, e:istem pa3ses onde os %omens ricos e poderosos são muito corruptos e ainda assim o pa3s !unciona direito e:istem pa3ses onde os pol3ticos são corruptos e no entanto o pa3s não se engana grosseiramente na solução de seus prprios problemas ;as num pa3s onde a camada intelectual, $ue ) a camada encarregada pro!issionalmente de e:aminar a verdade e de di-la, começa a se enganar a si mesma, então não vai adiantar absolutamente nada $ue todos os pol3ticos se*am %onestos
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M 8+pinião prpria8 e 8*ulgamento autnomo8 >istos os ob*etivos do curso, ) preciso, com relação ao indiv3duo, não somente desenvolver a intelig#ncia, mas !a&er com $ue ela se torne a espin%a dorsal do comportamento desse indiv3duo, ou se*a, $ue ele leve uma vida dirigida pela intelig#ncia Com isto ele se tornar' !inalmente autnomo e con!i'vel em seus *ulgamentos, dentro da medida poss3vel ao ser %umanoma distinção importante ) a $ue e:iste entre *ulgamento prprio, ou se*a, voc# ser capa& de pensar por si mesmo, e o $ue ) apenas uma opinião prpria o*e em dia todo mundo !a& $uestão de ter uma opinião prpria, mas isso não ) o mesmo $ue pensar por si mesmo 7ensar por si mesmo não ) apenas voc# ter uma e:pressão, uma opinião $ue e:presse a sua pre!er#ncia, o seu gosto E ali's geralmente muito menos pessoal do $ue se proclama F ou a sua individualidade, mas ) voc# ser capa& de, so&in%o e sem a*uda, e:aminar uma $uestão e c%egar a uma conclusão verdadeira ou su!iciente sobre ela, e $ue, longe de buscar ser di!erente da opinião al%eia, coincida mais ou menos com as opini6es de outras pessoas $ue por si mesmas e:aminaram o assunto, de modo $ue cada um, e:aminando por si e sem nen%uma coerção e:terna, c%egue mais ou menos s mesmas conclus6es 7ensar por si mesmo ) ser capa& de alcançar a verdade so&in%o, e não de inventar apenas uma mentira personali&ada Ali's uma das condiç6es para o desenvolvimento da intelig#ncia ) voc# não fa%er questão de ter uma opinião prpria, ou se*a, voc# não !a&er $uestão de $ue sua opinião se*a di!erente da das outras pessoas, ao contr'rio, apenas !a&er $uestão de e:aminar as coisas por si mesmo, sem precisar de muletas, sem precisar da aprovação da maioria ou de $uem $uer $ue se*a, para no !inal c%egar a uma conclusão, de maneira $ue voc# e:presse menos uma concord2ncia ou discord2ncia natural, mas $ue a concord2ncia ou discord2ncia se*a produ&ida por um e:ame re!letido do assunto
N + estado de dvida
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+ desenvolvimento da intelig#ncia e:ige ainda uma outra coisa, $ue ) a toler2ncia para com o estado de dvida, $ue ) um estado psicolgico $ue se de!ine por duas a!irmaç6es contraditrias e simult2neas de credibilidade aparentemente igual +u se*a, ao e:aminar uma $uestão, di&er um sim e um não com igual convicção, isto ), acreditar tanto numa %iptese como na %iptese contr'ria, ter iguais ra&6es a !avor e contra Ba $uase totalidade dos assuntos com os $uais lidamos, não %' tempo e não %' condição pr'tica de sair do estado de dvida + indiv3duo $ue ou não tem vocação para a vida da intelig#ncia ou se desviou dela por um motivo $ual$uer, sente como muito urgente sair do estado de dvida ele precisa ter uma opinião de $ual$uer *eito, precisa se pronunciar, precisa c%egar a um sim ou um não, e esta necessidade ) vivida como mais urgente do $ue a de con%ecer a verdade Beste caso a intelig#ncia não se desenvolve, pois ela ) substitu3da pela simples busca de segurança, *' $ue a dvida ) um estado de insegurança
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) !il%a do tempo A verdade geralmente demora para aparecer
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acreditam com !) absoluta na$uelas verdades relativas $ue l%es agradam/ %' a3 uma mistura repugnante de relativismo intelectual com um dogmatismo emocional !an'tico Ainda $ue recon%eçamos a di!iculdade de alcançar a verdade com relação $uase totalidade dos assuntos, temos de admitir $ue, pelo menos com relação a algumas coisas modestas, podemos veri!icar a possibilidade %umana de alcançar a verdade, desde o momento em $ue cultivamos a noção da evidência e, sobretudo, cultivamos a norma de *amais negar $ue sabemos a$uilo $ue e!etivamente sabemos
9 A autoconsci#ncia, terra natal da verdade ? importante aprender a admitir a$uilo $ue voc# sabe $ue ) verdadeiro Ainda $ue se*am verdades insigni!icantes, voc# meditar sobre o bvio ) talve& a mel%or maneira de se %abituar verdade e perder o medo dela e a descon!iança in*usta $uanto ao poder da intelig#ncia 7or e:emplo, ainda $ue $uase todos os con%ecimentos $ue e:istam se*am relativos ou duvidosos, voc# sabe $ue não pode duvidar seriamente de $ue est' a$ui neste momento voc# pode !a&er de conta $ue não est', mas não pode duvidar e!etivamente
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atos $ue praticou em segredo, s voc# con%ece os sentimentos $ue não con!essou >oc#, nesses casos, ) a nica testemun%a, e ) a3 $ue voc# vai con%ecer a di!erença radical e intranspon3vel entre verdade e !alsidade As pessoas $ue vivem negando a e:ist#ncia de verdades não con%ecem essa e:peri#ncia, nunca deram senão !also testemun%o de si mesmas ante o tribunal da consci#ncia, mentem para si mesmas e por isto sentem $ue tudo no mundo ) mentira egel di&ia/ a autoconsci#ncia ) a terra natal da verdade Piambattista >ico observava $ue s con%ecemos per!eitamente bem a$uilo $ue ns mesmos !i&emos/ con%ecer per!eitamente bem a nature&a s Deus con%ece, pois le a !e& 7or)m nossos prprios atos somente ns mesmos podemos con%ecer, assim como nossos pensamentos e nossos estados interiores Bão %' ali ningu)m $ue possa nos !iscali&ar, não %' ningu)m $ue possa nos de!ender de ns mesmos
1Q +s graus de certe&a
;esmo em assuntos duvidosos, com um pou$uin%o de re!le:ão voc# pode demarcar o limite entre o con%ecimento poss3vel e o imposs3vel Jastaria $ue consegu3ssemos captar o grau de certe&a ou de dvida $ue e:iste em cada con%ecimento *' possu3do:istem $uatro graus de certe&a poss3veis/ 1 certe&a probabilidade I verossimil%ança 4 con*eturação do poss3vel
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Certe&a ) por e:emplo esta $ue di& 8u estou a$ui agora8 ou 8u sou eu mesmo e não outro8 (ue ) uma opinião prov'vel@ ? uma opinião onde voc# pode s ter uma certe&a evidente E apod3tica F com relação a um grau de probabilidade determinado ou determin'vel m outros casos voc# não pode nem ter isso, voc# s pode ter uma probabilidade indeterminada, isto ), veross'mil , não uma probabilidade rigorosa , !inalmente, em alguns casos s podemos ter con*eturas, como por e:emplo perguntar se %' vida inteligente em outros planetas Alguns dirão $ue sim, outros $ue não, e a$ueles $ue di&em sim t#m tanta ra&ão $uanto a$ueles $ue di&em não A3 con%ecemos somente uma possibilidade gen)rica, imposs3vel de graduar probabilisticamente is a$ui uma boa maneira de voc# !a&er uma !a:ina no seu universo intelectual, para recomeçar em boa ordem Trata-se de !a&er a si mesmo as seguintes perguntas/ Do con*unto de coisas $ue voc# *' estudou, $uais são a$uelas $ue voc# con%ece com certe%a absoluta@ (uais as $ue con%ece como probabilidade ra%oável @ (uais as $ue con%ece como conjetura veross'mil @ (uais as $ue con%ece como mera possibilidade@ m suma/ $uanto vale cada um dos con%ecimentos $ue voc# tem@ is uma verdade amarga/ se! a respeito de um assunto! você crê possuir certo conhecimento mas não sabe se esse conhecimento certo! veross'mil! provável ou conjectural! você não sabe absolutamente nada sobre o assunto A
avaliação dos con%ecimentos !a& parte do prprio con%ecimento
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classi!icasse por ela todas as suas opini6es, imagine a montan%a de con%ecimentos ver3dicos $ue voc# teria no !im Kormar convicção ) !ormar graus de convicção :emplo/ >oc# sabe $ue Deus e:iste com a mesma certe&a com $ue voc# sabe $ue voc# e:iste@ Se Deus e:iste, le ) bom/ isto ) bvio Seria bom $ue Deus e:istisse/ isto tamb)m ) bvio Agora, entre pensar seria bom $ue Deus e:istisse e pensar $ue Deus e:iste e!etivamente %' uma dist2ncia muito grande ntão, por e:emplo, se ten%o uma discussão com uma pessoa e penso $ue eu estou certo e ela errada, o $ue estou $uerendo di&er@ stou $uerendo di&er/ Seria bom que eu estivesse certo e ela estivesse errada! ou melhor! seria bom para mim Agora, entre pensar $ue seria bom $ue eu estivesse certo e estar absolutamente certo de !ato, a dist2ncia tamb)m ) enorme ntão, lamentavelmente, não podemos estar tão certos em tantas coisas como geralmente !ingimos $ue estamos S" que se você e)tirpar de seu universo de crenças um monte de falsas certe%as! vai ver que no fim sobram algumas certe%as inabaláveis! e estas valem muito$ *as se você desejar preservar todas as suas convicç&es igualmente! no mesmo plano! sem escalaridade cr'tica! no fim vão estar todas misturadas! você não vai ter certe%a leg'tima de nenhuma! e vai acabar duvidando at de que dois mais dois são quatro! de que você está aqui neste momento e at de que você e)iste$ A falsa certe%a a mãe da d+vida patol"gica$
;uitas ve&es o $ue acontece ) $ue o indiv3duo acaba tendo certe&a absoluta de coisas inteiramente con*eturais, e tendo dvidas sobre coisa bvias e ineg'veis, por$ue não sabe e$uacionar as suas certe&as e suas dvidas con!orme a segurança maior ou menor do con%ecimento em si ? claro $ue e:istem coisas sobre as $uais gostar3amos de ter certe&a >oc# não gostaria de ter certe&a, por e:emplo, da imortalidade da alma@ ;uitas ve&es precisamos de um con%ecimento, e este con%ecimento se !urta, se nega ;as outras ve&es %' con%ecimentos de $ue voc# cr# não precisar e eles v#m acompan%ados de certe&a absoluta/ então por $ue voc# não os aceita@ m con%ecimento aparentemente intil, mas certo, ) menos pre*udicial do $ue um con%ecimento aparentemente til, mas !also
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não con!orme simplesmente o nosso dese*o, mas con!orme coisa mesma, con!orme o assunto mesmo admita maior ou menor certe&a, teremos !eito da nossa mente um instrumento dcil aos graus de certe&a o!erecidos pela prpria realidade "sso inclusive pouparia um trabal%o enorme 7ouparia o trabal%o de voc# ter de argumentar em !avor de coisas $ue são bvias e $ue não precisam de argumento nen%um para sustent'-las, bem como pouparia o trabal%o de argumentar em !avor do inde!ens'vel, do arbitr'rio, do nonsense ste senso de docilidade verdade apreendida pela prpria consci#ncia ) transmitido aos alunos deste curso como uma pr'tica, não apenas como uma lição de casa para se !a&er de %o*e para aman%ã, mas como uma pr'tica para o resto da vida Dado $ual$uer con%ecimento, o aluno ) convidado incessantemente a !a&er as $uatro perguntas decisivas/ "sto ) ver'dico@ ? provável @ ? veross'mil @ ? poss'vel @+ crit)rio dos graus de certe&a ) usado o tempo todo neste curso ) a primeira lição e tamb)m a ltima a primeira coisa $ue deve ser revista com este crit)rio ) $ual$uer assunto $ue voc# *' ten%a estudado !ormalmente
11 A topogra!ia da ignor2ncia
+ desenvolvimento da consci#ncia re!le:iva pode ser e:empli!icado na seguinte pr'tica $ue dou aos alunos deste curso/ + tempo todo estamos ad$uirindo in!ormaç6es $ue nos v#m atrav)s dos cinco sentidos, da leitura, do ouvir-di&er, etc, por)m a algumas delas prestamos atenção e damos um valor, e
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a outras não ntão pergunto eu/ para onde voc# olha sempre, para onde olha com frequência, para onde olha de ve% em quando e para onde não olha jamais@ ? *ustamente a consci#ncia desta seleção $ue l%e dar' a topogra!ia do mundo, do seu mundo Ben%um mundo pessoal coincide e:tensivamente, $uantitativamente, com o mundo ob*etivo ;as um mundo pessoal 3ntegro, dotado de unidade como um organismo vivente, já se parece com o mundo objetivo precisamente por essa unidade org,nica e! essencialmente ao menos! um adequado mapa do mundo! ao passo que o mundo interior quebradiço! fragmentário e mec,nico não se parece com nada senão com ele mesmo! com as fantasias de criação humana$ A di!erença não est' na $uantidade de
in!ormaç6es, mas *ustamente em sua topografia A topogra!ia autoconsciente produ& um sentido de per!il, de clare&a das coisas ? e:atamente isto $ue a consci#ncia re!le:iva !ar' com seus con%ecimentos A partir da %ora em $ue voc# sabe $ue sabe, voc# e!etivamente sabe saber $ue sabe ) tamb)m saber $uando não sabeA proclamação gen)rica e vaga de ignor2ncia ) apenas uma vaidade intertida, mas o repertrio organi%ado e cr'tico da nossa ignor2ncia um con%ecimento, um con%ecimento e!etivo e important3ssimo - desenho da ignor,ncia! o perfil da ignor,ncia! um primeiro saber este per!il da ignor2ncia se !a& e:atamente aplicando a grade dos graus de certe&a
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c%egar aos primeiros princ3pios da$uela 'rea, o resto voc# descobrir' so&in%o, por$ue ter' con$uistado o senso, o 8!aro8 da unidade do con%ecimento, e aprender' muitas coisas de uma maneira mais ou menos sint)tica e simult2nea, onde antes precisava de e:plicaç6es detal%adas, repetiç6es, e:erc3cios, etc ? claro $ue essa maior integração da consci#ncia, com o conse$uente aumento da capacidade de aprendi&ado, não se d' s na 'rea dos estudos !ormais, mas em todas as 'reas da vida, $ue aos poucos irão revelando suas intercone:6es + bene!3cio $ue isto tra& não ) s de ordem intelectual, mas se estende a toda a psi$ue, a toda a personalidade 7artindo do princ3pio de $ue todo mundo *' sabe alguma coisa . sabe por viver, sabe por$ue tem memria, por$ue assistiu a acontecimentos, por$ue leu algum livro, por$ue ouviu !alar, por$ue viu televisão, por$ue leu *ornal, e en!im alguma coisa sempre se sabe ., então resta trans!ormar esse saber em autoconsci#ncia
+u se*a, começar !a&endo uma revisão das coisas $ue voc# acredita $ue sabe >ale ressaltar $ue estes con%ecimentos não se re!erem apenas s coisas estudadas !ormalmente atrav)s de canais o!iciais de educação, mas sobretudo $ueles estudos, e:peri#ncias e pensamentos $ue sedimentaram em voc# determinadas convicç6es+utro ponto importante a ressaltar ) o !ato de $ue $uando voc# dedica, por obrigação pro!issional ou escolar não assumida interiormente mas somente imposta de !ora, uma atenção maior a tpicos $ue não l%e interessam pro!undamente, e não c%ega a desenvolver um interesse aut#ntico, mas trata do assunto com uma atenção peri!)rica e como $ue ligada no piloto autom'tico, voc# pre*udica sua intelig#ncia e se a!asta $uase $ue necessariamente da verdade
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7or$ue, se a intelig#ncia ) capacidade de captar a verdade e de capt'-la numa situação verdadeira, o simples !ato de voc# dedicar ao assunto uma atenção !alsa *' ) um impedimento ao con%ecimento da verdade, ) um v3cio $ue não o a*uda em nada a desenvolver a intelig#ncia< podemos usar a intelig#ncia com cem por cento da sua !orça onde %ouver cem por cento de interesse, e in!eli&mente o interesse não depende inteiramente de ns, por$ue o interesse $ue temos por este ou a$uele problema pode provir de uma situação e:terna, de uma casualidade, de uma conting#ncia, de um temor, de um dese*o !ortuito, e assim por diante 3sto quer di%er tambm que o processo do desenvolvimento da inteligência não pode seguir um programa predeterminado como no estudo de uma disciplina em particular le tem de ir e vir, mais ou menos ao
sabor do !lu:o dos interesses reais do momento e da possibilidade de desenvolver novos interesses
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