Conto A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa.
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1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo fazer uma breve análise semântica do conto “A terceira margem do rio”, do aclamado escritor mineiro Joo !uimares "osa #$%&'($%)7*, presente estórias #$%)+* -rata(se de um te.to /ue permite várias interpreta01es em seu livro Primeiras estórias
e análises, motiva diversas discuss1es e refle.1es, al2m de ser fonte para interte.tualidades em outras linguagens art3sticas4 em $%%$ 5aetano 6eloso e ilton 8ascimento lan0aram um poema(can0o poema(can0o de mesmo t3tulo, presente no 59 5irculad: Já no cinema, o cineasta 82lson ;ereir ;ereiraa dos dos est>ria, est>ria, com predomin predominância ância do conto conto A menina de lá #pouco 2 retratado o conto hom:nimo /ue dá t3tulo ao filme* A primeira se0o desta obra apresenta na 3ntegra o conto “A terceira margem do "io” ?ogo ap>s, enfocamos a vida e a obra de !uimares "osa @s dois cap3tulos seguintes falam da linguagem original3ssima desenvolvida pelo autor, e como ele está inserido no conte.to da prosa p>s(moderna #ou B gera0o modernista* Em seguida 2 definido o conceito de conto @ cap3tulo cap3tulo seguinte trata dos elementos elementos narrativos narrativos /ue comp1em comp1em “A terceira margem do rio”4 narrador, personagens, espa0o e tempo A pr>.ima se0o analisa os aspectos marcantes e oferece poss3veis interpreta01es do enredo, em todos os seus /uinze parágrafos @ Cltimo cap3tulo faz um paralelo entre as ideias do psicanalista Jac/ues ?acan e esta obra(prima de !uimares "osa
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2 A TERCEIRA MARGEM DO RIO 8osso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivoD e sido assim desde mocinho e menino, pelo /ue testemunharam as diversas sensatas pessoas, /uando indaguei a informa0o 9o /ue eu mesmo me alembro, ele no figurava mais estCrdio nem mais triste do /ue os outros, conhecidos nossos <> /uieto 8ossa me era /uem regia, e /ue ralhava no diário com a gente minha irm, meu irmo e eu as se deu /ue, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa canoa Era a s2rio Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pe/uena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador as teve de ser toda fabricada, escolhida forte e ar/ueada em rijo, pr>pria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos 8ossa me jurou muito contra a id2ia .ima do rio, obra de nem /uarto de l2gua4 o rio por a3 se estendendo grande, grande, fundo, calado /ue sempre ?argo, de no se poder ver a forma da outra beira E es/uecer no posso, do dia em /ue a canoa ficou pronta sito perguntei4 “;ai, o senhor me leva junto, nessa sua canoaF” Ele s> retornou o olhar em mim, e me botou a ben0o, com gesto me mandando para trás Iiz /ue vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber 8osso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar E a canoa saiu se indo a sombra dela por igual, feito um jacar2, comprida longa 8osso pai no voltou Ele no tinha ido a nenhuma parte <> e.ecutava a inven0o de se permanecer na/ueles espa0os do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela no saltar, nunca mais A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente A/uilo /ue no havia, acontecia @s parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho 8ossa me, vergonhosa, se portou com muita corduraD por isso, todos pensaram de nosso pai a razo em /ue no /ueriam falar4 doideira <> uns achavam o entanto de poder tamb2m ser pagamento de promessaD ou /ue, nosso pai, /uem sabe, por escrCpulo de estar
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com alguma feia doen0a, /ue seja a lepra, se desertava para outra sina de e.istir, perto e longe de sua fam3lia dele As vozes das not3cias se dando pelas certas pessoas passadores, moradores das beiras, at2 do afastado da outra banda descrevendo /ue nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente Ento, pois, nossa me e os aparentados nossos, assentaram4 /ue o mantimento /ue tivesse, ocultado na canoa, se gastavaD e, ele, ou desembarcava e viajava sembora, para jamais, o /ue ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa 8o /ue num engano Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada4 a id2ia /ue senti, logo na primeira noite, /uando o pessoal nosso e.perimentou de acender fogueiras em beirada do rio, en/uanto /ue, no alumiado delas, se rezava e se chamava 9epois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de po, cacho de bananas En.erguei nosso pai no enfim de uma hora, to custosa para sobrevir4 s> assim, ele no ao longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio e viu, no remou para cá, no fez sinal ostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho me.er e a seco de chuva e orvalho Ksso, /ue fiz, e refiz, sempre, tempos a fora se encobrindo de no saberD ela mesma dei.ava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir 8ossa me muito no se demonstrava andou vir o tio nosso, irmo dela, para au.iliar na fazenda e nos neg>cios andou vir o mestre, para n>s, os meninos Kncumbiu ao padre /ue um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o dever de desistir da tristonha teima 9e outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados -udo o /ue no valeu de nada 8osso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem dei.ar ningu2m se chegar L pega ou L fala esmo /uando foi, no faz muito, dos homens do jornal, /ue trou.eram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, no venceram4 nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejo, de l2guas, /ue há, por entre juncos e mato, e s> ele conhecesse, a palmos, a escurido da/uele A gente teve de se acostumar com a/uilo Ms penas, /ue, com a/uilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade -iro por mim, /ue, no /ue /ueria, e no /ue no /ueria, s> com nosso pai me achava4 assunto /ue jogava para trás meus pensamentos @ severo /ue era, de no se entender, de maneira nenhuma, como ele aguentava 9e dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terr3veis de meio(do(ano, sem arrumo, s> com o chap2u velho na cabe0a, por todas as semanas, e meses, e os anos sem
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fazer conta do se(ir do viver 8o pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, no pisou mais em cho nem capim ;or certo, ao menos, /ue, para dormir seu tanto, ele fizesse amarra0o da canoa, em alguma ponta(de(ilha, no esconso as no armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um f>sforo @ /ue consumia de comer, era s> um /uaseD mesmo do /ue a gente depositava, no entre as ra3zes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável 8o adoeciaF E a constante for0a dos bra0os, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, a3 /uando no lan0o da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, a/ueles corpos de bichos mortos e paus(de(árvore descendo de espanto do esbarro E nunca falou mais palavras, com pessoa alguma 8>s, tamb2m, no falávamos mais nele <> se pensava 8o, de nosso pai no se podia ter es/uecimentoD e, se, por um pouco, a gente fazia /ue es/uecia, era s> para se despertar de novo, de repente, com a mem>ria, no passo de outros sobressaltos inha irm se casouD nossa me no /uis festa A gente imaginava nele, /uando se comia uma contida mais gostosaD assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai s> com a mo e uma caba0a pra ir esvaziando a canoa da água do temporal Ms vezes, algum conhecido nosso achava /ue eu ia ficando mais parecido com nosso pai as eu sabia /ue ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pGlos, com o aspecto de bicho, conforme /uase nu, mesmo dispondo das pe0as de roupas /ue a gente de tempos em tempos fornecia 8em /ueria saber de n>sD no tinha afetoF as, por afeto mesmo, de respeito, sempre /ue Ls vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava4 “Ioi pai /ue um dia me ensinou a fazer assim”, o /ue no era o certo, e.ato, mas, /ue era mentira por verdade ele soubesse as minha irm teve menino, ela mesma entestou /ue /ueria mostrar para ele o neto 6iemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irm de vestido branco, /ue tinha sido o do casamento, ela erguia nos bra0os a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda(sol A gente chamou, esperou 8osso pai no apareceu inha irm chorou, n>s todos a3 choramos, abra0ados inha irm se mudou, com o marido, para longe da/ui eu irmo resolveu e se foi, para uma cidade @s tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos 8ossa me terminou indo tamb2m, de uma vez, residir com minha irm, ela estava envelhecida Eu fi/uei a/ui, de resto Eu nunca podia /uerer me casar Eu permaneci, com as bagagens da vida 8osso pai
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carecia de mim, eu sei na vaga0o, no rio no ermo sem dar razo do seu feito as falsas conversas, sem senso, como por ocasio, no come0o, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas /ue no estiavam, todos temeram o fim(do(mundo, diziam4 /ue nosso pai fosse o avisado /ue nem 8o2, /ue, por tanto, a canoa ele tinha antecipadoD pois agora me entrelembro eu pai, eu no podia malsinar E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos o demoramento Eu mesmo tinha acha/ues, ânsias, cá de bai.o, cansa0os, perrenguice de reumatismo E eleF ;or /uGF 9evia de padecer demais 9e to idoso, no ia, mais dia menos dia, fra/uejar do vigor, dei.ar /ue a canoa emborcasse, ou /ue bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abai.o em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte Apertava o cora0o Ele estava lá, sem a minha tran/uilidade fiz, /ue fui lá 5om um len0o, para o aceno ser mais Eu estava muito no meu sentido Esperei Ao por fim, ele apareceu, a3 e lá, o vulto Estava ali, sentado L popa Estava ali, de grito 5hamei, umas /uantas vezes E falei, o /ue me urgia, jurado e declarado tive /ue refor0ar a voz4 “;ai, o senhor está velho, já fez o seu tanto Agora, o senhor, vem, no carece mais @ senhor vem, e eu, agora mesmo, /uando /ue seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor na canoaH” E, assim dizendo, meu cora0o bateu no compasso do mais certo Ele me escutou Iicou em p2 anejou remo nágua, proava para cá, concordado E eu tremi, profundo, de repente4 por/ue, antes, ele tinha levantado o bra0o e feito um saudar de gesto o primeiro, depois de tamanhos anos decorridosH E eu no podia ;or pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado ;or/uanto /ue ele me pareceu vir4 da parte de al2m E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdo
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temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo as, ento, ao menos, /ue, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem tamb2m numa canoinha de nada, nessa água, /ue no para, de longas beiras4 e, eu, rio abai.o, rio a fora, rio a dentro o rio "@
3 A VIDA E A OBRA DE GUIMARÃES ROSA