ETec Carlos de Campos
Tipografia Futurista Professor Antonio Quedas
Denise Portigliotti Denise Silva Barros Diego Assis 1° CVC – T1 São Paulo
2012
A Tipografia Futurista e seus Contextos e Conceitos. 1909 – Manifeste Du Futurisme O futurismo foi um movimento criado por Filippo Tommasso Emilio Marinetti (poeta e editor), o mais importante autor e artista gráfico do Futurismo, que através do Manifeste du Futurisme, publicado no Le Figaro em 20 de fevereiro de 1909, e outros manifestos o teorizou. Um italiano nacionalista, mas repleto de ódio pela harmonia e classicismo da arte e da ordem social de seu país; revolucionário anarquista mas defensor do militarismo, da guerra e da ordem; contra a idéia de luta de classes Marxistas; desprezador da mulher, mas defensor do salário justo para os dois gêneros. Foi sem dúvida um homem polêmico e desestabilizador. Iniciado como um movimento de reforma literária, em breve o futurismo expandiu-se e abarcou outras disciplinas como a pintura, a escultura, a publicidade e o design tipográfico. Para este último, o Futurismo supôs uma ruptura do uso das formas tipográficas tradicionais, onde os criadores buscavam novas formas de expressão. É de se salientar que os conceitos de layout, composição e tipografia não voltariam a ser os mesmos.
Conceitos Nesta era da velocidade ninguém está interessado no desenvolvimento de um alfabeto destinado ao uso comum. O poema tipográfico Futurista normalmente era orquestrado para prover um senso de simultaneidade de sons e eventos e, ao mesmo tempo, um sentimento de avanço físico de um elemento por outro. Não há hierarquia de importância, nenhum princípio organiza a leitura das palavras de modo que concentre a atenção do olho do leitor. O uso do espaço em branco como efeito de silêncio nos designs enfatizava o sentido das palavras para criar um impacto emocional no espectador. Os artistas tentavam capturar a energia da velocidade com arcos dinâmicos e superestruturas na página, o tipo e as letras se convertem em elementos autônomos de design, empregados de maneira livre, utilizando um forte contraste de formas e tamanhos e o uso da linha diagonal com o texto, assim como a repetição sequencial do mesmo faz surgir uma tipografia de símbolos verbais. Os futuristas viram, na possibilidade dos fragmentos de palavras flutuantes, uma oportunidade para manifestar analogias mais profundas: o conjunto de palavras associadas com coisas discrepantes, animar e inanimar, serviria para capturar o senso moderno da simultaneidade de experiências diversas”. Para Filippo T. Marinetti, líder do Movimento, era preciso confundir deliberadamente o objeto com a imagem evocada. O mais importante é que ele percebeu que as letras que compunham as
palavras não eram meros signos alfabéticos, mas, sim, signos portadores de força expressiva e imagética, Ele acreditava na aparência onomatopeica da forma linguística, e sua capacidade de mediação e expressão. O uso da tipografia está relacionado com o musical, a partir da preocupação pelo valor puramente fônico da linguagem .
Conceitos Tipográficos Por cores, Marinetti referia-se antes a tonalidades, a intensidades e a pesos. Duma coisa podemos todos estar certos, aquilo que o poeta vanguardista estava a criar era tumultuoso, revolucionário. E é disso que se trata, de uma Revolução Tipográfica, como o próprio designou, em que o contato entre o autor e o objeto livro, o texto e a sua paginação é de tal ordem, que acaba por resultar numa relação simbiótica entre os dois. Como Marinetti descreve nas passagens do seu manifesto de 1913, quebrar a uniformidade e harmonia da sintaxe da literatura do passado era o seu objetivo, conferindo à leitura dos seus poemas uma paleta sensorial até aí nunca alcançada. Abolindo a pontuação, como os adjetivos, advérbios e conjunções, como refere em outro dos seus manifestos, Manifesto Técnico da Literatura Futurista (Maio de 1912), e privilegiando os elementos que se tornaram a sua imagem de marca, aqueles a que deu nome: adjetivo semafórico, lirismo multilinear, ortografia expressiva e livre , quebrando a hierarquia e o sentido de grelha tradicionais e, acima de tudo, usando predominantemente onomatopéias, tintas de três ou quatro cores, e inclui até vinte tipos de letra, se necessário. Por exemplo: a cursiva, para uma série de sensações similares ou velozmente opostas; a muito negra e carregada, para a onomatopéia violenta, e por aí fora. Um dos suportes mais comuns para a proliferação deste estilo foram alguns dos inúmeros periódicos e panfletos propagandísticos que o grupo produzia e espalhava. CHAIRrrrrrrRR marca os passos iniciais da abolição da grelha. Tentando enfrentar os espaços retangulares que delimitam cada caractere (tipos móveis de metal), Marinetti acaba por lidar astutamente com eles, dando conta das limitações técnicas da época. Repare-se que até a velocidade da comunicação é outra nos seus poemas. Tributo para Guido Guidi Quem, Num Vaivém Italiano, Bate o Recorde Mundial das Alturas , ainda que desenhado à mão, reforça
não só o seu sentido de patriotismo, como mais uma vez o seu fascínio pela velocidade e energia agressiva, transportes modernos e movimentação dinâmica. As influências de Marinetti podem ser rastreadas até Stéphane Mallarmé, em textos como Un Coup de Dés (1897); e pode conceberse a questão parole-en-libertá como uma reação à poesia Simbolista.
4 Obras em Destaque
1. ZANG TUMB TUMB (1914) F. T. MARINETTI Zang Tumb Tumb é a obra maior da Revolução Tipográfica, quiçá a
obra mais icônica de todo o movimento Futurista, assinada por Marinetti em 1912 e publicada em 1914, em formato livro de artista, depois de dois anos de edição contínua de excertos em jornais. As palavras-em-liberdade assumem neste volume um retrato poético e tipográfico da guerra dos Balcãs (1912), entre os búlgaros e os turcos, inspiração típica do autor. O poema, considerado sonoro ou concreto, relata particularmente o cerco dos Búlgaros a Adrianopolis, a que Marinetti assistiu: “Contei-os [aos choques durante os bombardeamentos] seis milhares de vezes, assumindo seis milhares de direções diferentes”. A capa ilustra bem essa ideia, a das ondas de choque, talvez estremecimentos, objetos voadores... E, para que se perceba bem e literalmente a analogia que Marinetti magistralmente tecia entre as suas palavras-em-liberdade e a guerra, há uma bomba que está a demolir um edifício de texto justificado (enfim, ortodoxo). Um dos documentos mais representativos do apoio e do gosto perverso e libidinoso que Marinetti sentia pela violência.
2. GUERRAPITTURA (1915) CARLO CARRÀ Futurismo Político, Dinamismo Plástico , Desenhos Bélicos, Palavras em Liberdade são os elementos que constroem Guerrapittura (Pintura
de Guerra), tal como se encontram descritos na capa de uma das obras mais violentas e intolerantes do Futurismo. Na fase mais intervencionista de Carrà, um ano antes de deixar o movimento e ir trabalhar com Giorgio de Chirico, da Escola Metafísica, este livro pretendia incentivar as massas à participação na guerra, a que muitos dos Futuristas se entregavam, como Boccioni, funcionando como um manifesto que eleva a guerra ao estatuto de “uma arte desenvolvida por outros meios”, como o autor a define.
3. CAFFÈ CONCERTO - ALFABETO A SORPRESA (1915) FRANCESCO CANGIULLO Café Concerto – Alfabeto Inesperado de 1915, publicado em 1919, é
um dos livros mais interessantes que o espólio Futurista tem para expor. Aqui, o muro que separa o poema da ilustração é tão ínfimo que se resume ao fato de os desenhos serem quase integralmente resultantes de composições tipográficas, tendo como principal destaque a abstração da função original dos elementos tipográficos (letras, símbolos, números), dando-lhes formas humanas: cantores, dançarinos, acrobatas. Um documento que demonstra fielmente a atitude lúdica, burlesca e dramática que Cangiullo via na vida moderna.
4. DEPERO FUTURISTA (1927) FORTUNATO DEPERO Depero Futurista é como que uma compilação da ligação que Fortu-
nato Depero teve com o Futurismo desde 1913 a 1927. Sendo o Futurista que mais se poderia conotar como designer gráfico, o grau de profissionalismo técnico (a nível de cor, de escolha de tipos de letra, de composição, de layouts) deste inovador volume é único, de tal forma que não é demais dizer que Depero Futurista é o manifesto definitivo da Idade da Máquina. Até porque este é talvez o primeiro livro objeto da história: Fedele Azari, o editor, lembrou-se de encaderná-lo com recurso a dois parafusos e a duas porcas, deixando pouca margem para dúvidas sobre a que se refere. Acaba também por ser, graças às suas variadíssimas páginas, como que um manual da Revolução Tipográfica. Este volume chegou a ter uma edição de 1000 cópias numeradas, tendo só meia dúzia a tal inovadora encadernação. Depero Futurista é uma obra de arte e uma incontestável masterpiece do design de livros a nível geral.
Fontes Atuais Inspiradas no Futurismo Amputa Bangiz Criada pelo designer e ilustrador Quiccs, seu desenho pouco preza pela legibilidade, com influencias que transitam entre o Futurismo e o Retrô Construtivista. Site do Designer: www.quicccs.com
Plau Italics Criada pelo designer Rodrigo Saiani (Studio Niramekko), é uma fonte em itálico futurista da era da programação. Plau é um sans-serif com personalidade de canto arredondado e formas interessantes e deliberadas. Confortável, lê surpreendentemente bem em passagens de textos mais longas. Site do Designer: www.rodrigosaiani.com.br
Bibliografia •
Dicionário de Pintura do Século XX – Julio Amechea e Vitória
Soto •
História do Design Gráfico – Philip B. Meggs e Alston W. Purris
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Evolução da Escrita – Carlos M. Horcades Design Gráfico Futurista: A Revolução Tipográfica Italiana –
Mauro Santos, Miguel R. Cardoso e Ricardo F. Sousa. www.caligraffiti.com.br www.myfonts.com/fonts/niramekko/plauitalics/