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Introdução Ouvimos falar muito,quando resolvemos abordar os Yorubás , da chamada Nagocracia, significando que outros povos da África os quais igualmente nos constituíram atravs de suas diásporas, não são tratados com a mesma relev!ncia" #ontudo, o que vemos na verdade, em relação aos nag$s, e em parte por responsabilidade do estere%tipo da Nagocracia, algo que nomeio de Nagonomia" &ste povo tão importante na nossa formação e que tem sua inegável marca em nossa constituição cultural e identitária, na maioria das obras a que a eles se referem, são vistos e observados somente no conte'to religioso" (alvo raras e'ceç)es como *isrio, +pine, (alami, uma parte da obra de erger, -bimbola .ande e outros autores da /niversidade de Ile Ife e outros raros autores, como se os Yorubás não pudessem ser ob0eto de estudos em um conte'to hist%rico ou antropol%gico" Inclusive os mitos dos Ori'ás, normalmente são vistos somente no conte'to de sua mística, como se não tivessem tambm um papel civili1at%rio e pedag%gico, que tenham influenciado a sociedades africanas de onde são originários e muito menos os povos que se formaram com a contribuição da diáspora Yorubá, como n%s brasileiros" No sentido de prestar uma pequena contribuição, a fim de combater esta imagem que reforça o que, a meu ver, chamo de Nagonomia que reali1ei este livro a partir de um trabalho de e'tensão #ultural #ultural com o aval aval do N2cleo de #ultura &'tensão da 3iblioteca 4unicipal de Osasco e o #entro #ultural -fricano da 3arra 5unda, em (ão 6aulo" Ofereço este trabalho aos aos 788 anos de Ile -' -' Opo -fon0á em (alvador (alvador e mais especificamente especificamente
9 4ãe (tella , a quem tanto admiro e tive a
oportunidade de visitá:la na ocasião de seus ;8 anos de (anto"
Introdução Ouvimos falar muito,quando resolvemos abordar os Yorubás , da chamada Nagocracia, significando que outros povos da África os quais igualmente nos constituíram atravs de suas diásporas, não são tratados com a mesma relev!ncia" #ontudo, o que vemos na verdade, em relação aos nag$s, e em parte por responsabilidade do estere%tipo da Nagocracia, algo que nomeio de Nagonomia" &ste povo tão importante na nossa formação e que tem sua inegável marca em nossa constituição cultural e identitária, na maioria das obras a que a eles se referem, são vistos e observados somente no conte'to religioso" (alvo raras e'ceç)es como *isrio, +pine, (alami, uma parte da obra de erger, -bimbola .ande e outros autores da /niversidade de Ile Ife e outros raros autores, como se os Yorubás não pudessem ser ob0eto de estudos em um conte'to hist%rico ou antropol%gico" Inclusive os mitos dos Ori'ás, normalmente são vistos somente no conte'to de sua mística, como se não tivessem tambm um papel civili1at%rio e pedag%gico, que tenham influenciado a sociedades africanas de onde são originários e muito menos os povos que se formaram com a contribuição da diáspora Yorubá, como n%s brasileiros" No sentido de prestar uma pequena contribuição, a fim de combater esta imagem que reforça o que, a meu ver, chamo de Nagonomia que reali1ei este livro a partir de um trabalho de e'tensão #ultural #ultural com o aval aval do N2cleo de #ultura &'tensão da 3iblioteca 4unicipal de Osasco e o #entro #ultural -fricano da 3arra 5unda, em (ão 6aulo" Ofereço este trabalho aos aos 788 anos de Ile -' -' Opo -fon0á em (alvador (alvador e mais especificamente especificamente
9 4ãe (tella , a quem tanto admiro e tive a
oportunidade de visitá:la na ocasião de seus ;8 anos de (anto"
ancestrais de diversas diásporas, das quais n%s brasileiros somos filhos" /ns vieram em busca da liberdade que O'ossi buscava ao dei'ar Yeman0á, outros tendo sua liberdade privada neste processo, e tendo que lutar por ela nestas terras de diáspora" - estes não podemos esquecer que nos ensinaram o quanto vale a afirmação da pr%pria identidade e o quanto vale o sentido da palavra mem%ria" &sta mem%ria de onde 0amais será apagado o pranto daquela mãe que foi Yeman0á ao ver seu filho O'ossi ir ao que para ela era um destino incerto e que foi o mesmo pranto de tantas mães que perderam seus filhos, nossos ancestrais, nas diásporas =sobretudo africana>" #ontudo, ao terem atravessado atravessado estes mares das lágrimas de Yeman0á nossos ancestrais africanos e outros chegaram a um novo solo, fi1eram fi1eram uma nova nova pátria e adotaram o espírito espírito destas novas novas terras" ?uando ?uando vou ao -fon0á e ve0o ve0o pelas mãos e pelos olhos de 4ãe 4ãe (tella, que nossas nossas tradiç)es ancestrais ainda estão vivas, ve0o que O'ossi atravessou o mar de lágrimas de nossa mãe Yeman0á e a reencontrou em algum lugar no Orun =cu> entre África e -mrica atravs do -' =lei e força vital> que vem do abraço que nos damos entre n%s que nos dão todos os Ori'ás, de quem n%s brasileiros incorporamos os arqutipos para viver viver nosso dia a dia, independentemente independentemente de de nossas nossas crenças" - todas estas personagens que nos a0udaram a constituirmos como povo povo e nação são a quem dedico dedico este trabalho" trabalho" 0- O que são Orikis? Uma introdução sobre um dos gêneros da Literatura Oral Yorubá 1 – Oriki = !o"ação# Oriki $% antes de tudo% uma das di!ersas tradiç&es literárias da oralidade 'orubá (ob)eto "entral de estudo de um dos "ursos de e*tensão que ministro na bibliote"a de Osas"o e no +entro +ultural ,ri"ano de .ão /aulo% dentro de um dos "ursos do "i"lo de "ultura ari"ana# /ara entendermos melor o que ele signii"a% assim "omo introdu2ir suas "ara"ter3sti"as% 4re"isamos nos ater aos 4ro!á!eis signii"ados etimol5gi"os da 4ala!ra Oriki# O !o"ábulo Oriki $ $ ormado a 4artir de Ori ("abeça ("abeça e ki (saudação% (saudação% o que nos le!a a "on"luir que ele re4resenta uma saudação 6 "abeça# sta "on"lusão% %4ortanto% não elu"ida muito sobre o seu real signii"ado se não esti!ermos 3
atentos ao que esta "abeça re4resenta simboli"amente dentro da tradição "ultural dos 'orubás# O 4roessor nigeriano .alami (1777 deine Oriki "omo sendo uma e!o"ação% a 4artir do sentido de Oriki "omo sendo Ori (origem e ki (saudação# /ortanto% esta e*4li"ação nos le!a a "rer que na +abeça se en"ontra realmente a Origem dos seres segundo os 'orubás# /odemos assim "on"luir que o Oriki di2 res4eito 6 e!o"ação a nossas origens% que% simboli"amente% residem em nossa "abeça# 8- Ori% , "abeça "omo uma di!indade# /ara entendermos melor o que signii"a Oriki e 4orque esta saudação 6 "abeça "onsiste em uma real e!o"ação% $ ne"essário que entendamos 4rimeiramente o que signii"a o Ori e que es4aço este "on"eito o"u4a na m3sti"a e no imaginário 'orubá# 9entro do "on)unto de Odus da /oesia Sagrada de Ifá (outro gênero da literatura oral 'orubá% que agrega em si uma s$rie de 4oemas e lendas m3ti"as á uma ist5ria que e*4li"a bem isto# sta lenda se en"ontra dentre as lendas do 4rimeiro Odu (Ejiogbe) e que trans"re!o abai*o: O trabalho mais importante de Ejiogbe no céu foi à revela!o de como a cabea" #ue era em si uma divindade passou a deter um espao permanente no organismo$ %s divindades foram criadas originalmente sem cabea por #ue a pr&pria cabea era uma divindade$ O a'o (sacerdote) #ue fe divina!o para a cabea (o Ori) é chamado %mure e morava no Orun (céu)$ Orunmila convidou %mure para faer adivinha!o sobre como faer para ter uma fisionomia completa por #ue nenhuma das divindades tinha cabea até a#uele momento$ O %'o disse a Orunmilá #ue esfregasse ambas as palmas das m!os rogando ao alto para ter uma cabea$ Ele disse para faer sacrifcios com #uatro obis (noes de cola)" panela de barro esponja e sab!o$ *isse para #ue guardasse as noes de cola em um lugar sagrado sem parti+las" pois haveria um visitante inconse#,ente #ue posteriormente iria fa-+lo$ Ori (a cabea) convida também %mure para faer divina!o e foi lhe dito #ue servisse ao seu anjo guardi!o #uatro noes de cola #ue n!o poderiam ser compradas e #ue s& comearia a prosperar depois #ue fiesse o sacrifcio$
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*epois de realiar seu pr&prio sacrifcio Orunmilá dei.ou as #uatro noes de cola em seu lugar consagrado como Ifá disse #ue teria #ue ser feito$ /ouco depois E.u anunciou no Orun (céu) #ue Orunmilá havia dei.ado as #uatro noes de cola em seu lugar sagrado e #ue estava procurando uma divindade para parti+las$ 0ideradas por Ogum" todas as divindades visitaram Orunmilá" uma ap&s outra" mas ele disse a cada uma delas #ue n!o eram suficientemente forte para parti+ las$ Elas se sentiram destratadas e retiraram se aborrecidas$ %té mesmo Ori.á 1lá (O.alá o deus filho) visitou Orunmilá" porém este o agraciou com noes de cola melhores diendo #ue as noes de cola em #uest!o n!o estavam destinadas a serem partidas por ele$ 2omo se sabe" *eus nunca perde a calma e O.alá aceitou as noes frescas oferecidas por Orunmilá e foi embora$ 3inalmente Ori (a cabea) decidiu ir visitar Orunmilá$ 3oi rolando ent!o para a c4mara de Orunmilá e logo #ue este viu Ori rolando para sua casa" saiu ao seu encontro para entret-+lo$ Imediatamente Orunmilá pegou um pote de argila" água" sab!o e esponja e comeou a lavagem de Ori$ %p&s secá+lo" Orunmilá levou Ori até o seu local sagrado e solicitou #ue partisse as noes de cola$ *epois de agradecer a Orunmilá por seu gesto honroso" Ori reou para Orunmilá" com as noes de cola para #ue tudo o #ue Orunmilá fiesse tivesse sucesso e para #ue tudo se realiasse$ Ori tornou a usar as noes de cola para rear para si mesmo" para ter um local de resid-ncia permanente e muitos seguidores$ Em seguida Ori rolou para trás e bateu contra as noes de cola #ue se partiram em uma e.plos!o intensa #ue pode ser ouvida em todos os lugares do Orun (céu)$ %o ouvir o som das e.plos5es todas as outras divindades imediatamente compreenderam #ue finalmente as noes de cola haviam sido partidas$ 6odos ficaram curiosos para saber #uem tinha partido as noes #ue haviam desafiado a todos" inclusive a *eus$ 7uando E.u anunciou #ue Ori tinha conseguido todos concordaram #ue Ori era a divindade indicada para fa-+lo$ 7uase imediatamente ap&s" as m!os" os pés" o corpo" a barriga" o t&ra." o pescoo" etc$ #ue até ent!o tinham identidades especficas decidiram viver com a cabea" lamentando+se por n!o terem percebido antes #ue esta era t!o importante$ 8untos todos levantaram sobre si a cabea e ali" no lugar sagrado de Orunmilá a cabea foi coroada como o rei do corpo$ Esta é a ra!o" devido ao papel desempenhado por Orunmilá em sua sorte" pela #ual a cabea tem #ue tocar o solo e mostrar respeito e rever-ncia a Orunmilá até os dias de
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hoje$ Esta também é a ra!o pela #ual apesar de ser a mais jovem de todas as divindades" Orunmilá é a mais importante entre elas$ /ara #ue o filho de Ejiogbe viva muito tempo na terra deve procurar a'os (sacerdotes) de grande saber e intelig-ncia para preparar um sab!o especial com o cr4nio de um animal$ Ejiogbe é a divindade padroeira da cabea" por #ue foi ele #ue no Orun (céu) fe o sacrifcio #ue converteu a cabea em rei do 2orpo$ Ejiogbe provou ser o mais importante Olodu ou ap&stolo de Orunmilá na terra$ %pesar de originalmente ser um dos mais jovens$ Ele pertence a uma segunda gera!o de profetas" #ue se ofereceram para vir a este mundo a fim de torná+lo um lugar melhor para viver$ Ele foi um ap&stolo de Orunmilá muito criativo tanto #uando estava no Orun (céu) #uanto #uando veio para este mundo (%i9e)$
, lenda a"ima elu"ida a questão do Ori ("abeça na m3sti"a e imaginário Yorubá
e nos dá elementos sui"ientes 4ara que 4ossamos introdu2ir
satisatoriamente o "on"eito de Ori # ; – +on"eito de Ori #
al da Uni!ersidade de le $ na @ig$ria quando se reere 6 "abeça: :1a maioria das esculturas africanas tradicionais a cabea é a parte mais proeminente por#ue" na vida real" é a parte mais vital do corpo humano$ Ela contém o cérebro ; morada da sabedoria e da ra!o< os olhos ; a lu #ue ilumina os passos do homem pelos labirintos da vida< os ouvidos ; com os #uais o homem escuta e reage aos sons< e a boca+ com #ual ele come e mantém corpo e alma unidos$ %s outras partes do corpo s!o abreviadas para enfatiar posi5es subordinadas$ 6!o importante é a cabea em muitas sociedades africanas #ue ela é adorada como sede da personalidade e destino do homem$$$ Ori é todo o ase (a.é) #ue uma pessoa tem" e sua sede é na cabea" é ela #ue" geralmente" vem primeiro ao mundo e abre caminho para traer o resto do corpo=
O tre"o a"ima nos dá a dimensão% a 4artir do "on"eito est$ti"o% da im4ortAn"ia que o Ori assume simboli"amente no imaginário Yorubá# Outro 6
4onto im4ortante a se "itar 4ara agregar !alor a este "on"eito se reere a outra lenda relati!a ao Ori$ .egundo $niste% os as4e"tos da e*4eriên"ia umana são 4redestinados 4ela es"ola que a2emos de nosso or # .egundo a tradição m3ti"a 'orubá% a45s sermos modelados 4or O*alá (Orisa 1la% ,)alá $ "on!o"ado "om a tarea de orne"er o Ori ("abeça e "ada an"estral nosso "ede as substAn"ias ne"essárias 4ara a4ereiçoar a orma de nossas "abeças# stas substAn"ias nos a"om4anam
todo o tem4o e são mere"edoras de res4eito e "ulto#
/ortanto% mesmo que ,)alá se trate de um Ori*á% não dei*a de ter suas dei"iên"ias# B esque"ido e des"uidado e de!ido a isto nem sem4re as "abeças saem boas# +omo resultado disso a maioria das 4essoas es"olem 4or si mesmas as "abeças sem re"orrerem a ,)alá e a"abam assim 4or es"oler "abeças ruins e im4restá!eis% assim "omo nos narra $niste# @este "onte*to% re"orrendo a .alami que nos ala que o Ori $ nossa Origem% al$m de nossa sim4les "abeça 3si"a% temos que nosso destino inteiro $ mar"ado 4ela es"ola desta "abeça e 4ara tanto e*istem rituais e 4ráti"as "omo o ori (que quer di2er em Yoruba bo Ori % dar de "omer ao Ori 4ara restabele"er o equil3brio ne"essário nesta nossa "abeça (que nos determina% a 4artir de nossa origem% o nosso destino# Coltando a $niste% ele nos e*4&e que segundo a tradição 'orubá% um omem "om uma "abeça bem eita terá um destino de su"esso% da3 o dito tradi"ional – ,)alá% modelador de "abeça no Orun ("$u% molde uma boa 4ara mim# 9esta orma "ada Ori se "onstitui em uma di!indade 4essoal que regula nossas !idas e n5s mesmos es"olemos nosso Ori rere (bom Ori ou Ori >uruku (mau Ori# +omo nos "ontinuam e*4ondo $niste e .alami $ atra!$s do Dogo de á% que Orunmilá re!elará o ti4o de Ori que está "onos"o e "onseqEentemente este Ori irá de"larar a n5s seus dese)os% sem4re atra!$s do Dogo de á# @este "onte*to% torna-se mais "lara a im4ortAn"ia de se e!o"ar o Ori "omo nos ala .alami# F - Ori Ode e Ori Inu ("abeças interior e e*terior# ,o nos de4ararmos "om a estrutura do Ori% !emos o quanto "om4le*o torna-se este "on"eito# +onorme tamb$m nos e*4li"a $niste a 4artir da Obra de abatunde La>al: 7
Ori ode é a denomina!o da cabea fsica e Ori Inu é a cabea interior$ Sendo #ue a primeira é confiada a Ossain e a Ogum" ou seja" ao saber médico< a segunda está ligada a Ifá e aos demais Ori.ás" ou seja" ao saber divino$ Ori ode é #ue se presta para suporte das obriga5es iniciáticas$ Ori inu é a ess-ncia da personalidade" da alma do homem #ue deriva diretamente de Olodumare$ ? Ele #uem a coloca no homem" mas #ue" ap&s a morte" % Ele @etorna$$$ Ori InA é o ser interior ou o ser espiritual do homem e é imortal$ Ori Ode é a cabea fsica propriamente dita ou filosoficamente" a matéria$ Ela é Bortal e oposi!o a Ori Inu" #ue foi criado por %jalá" um antigo Ori.á" segundo as ordens de Olodumare$ % diferena entre as duas pode ser observada neste 6recho do verso de Ifá do Odu OgbetegundaC % colina proclama" o vale proclama$ % consulta a Ifá realiada para a cabea interior % consulta a Ifá realiada para a cabea e.terior % 2abea interior disse #ue era a mais velha % 2abea e.terior disse #ue era a mais velha Invo#ue minha cabea interior *e modo #ue a interior n!o estrague a e.terior % interior prev- sucesso para o homem *e modo #ue o homem pode construir casas % cabea interior leva o homem a ter uma esposa$ /elo te.to apresentado" é o Ori Inu #ue controla o Ori Ode$ Isto sugere" portanto #ue o sucesso do ser e.terior dependa essencialmente da naturea din4mica interior do homem$
Cale a2er o 4arêntese de que a reerên"ia ao G % cabea interior leva o homem a ter uma esposa= não $ des"one*a% tola ou des4ro4ositada% ainda mais 4or
estarmos tratando de uma so"iedade da Hri"a .ubsaariana% "omo muitas outras% na qual as relaç&es entre as linagens determinam di!ersas "oisas e dentre elas as relaç&es de 4oder# sto que )ustii"a a im4ortAn"ia !ital dos "asamentos e "onseqEentemente de se ter uma es4osa que $ 4ortadora do !entre que dará seqEên"ia 6 estrutura so"ial das linagens# I- Ori na est$ti"a Yorubá# +onorme )á "itei em item anterior% La>al nos e*4&e que na maior 4arte das es"ulturas ari"anas a "abeça $ a 4arte mais 4roeminente# 9esta orma sua 4ro4or"ionalidade nestas es"ulturas a2 )us 6 sua im4ortAn"ia nos 4lanos 3si"o 8
e simb5li"o se retomamos os "on"eitos de +abeça *terior e nterior res4e"ti!amente# +ontudo% 4ara entender melor este ato que se relete es4e"ii"amente na est$ti"a Yorubá% re"orro ao "on"eito de Odara% segundo me e*4li"ou .alami em aula em 177;% no seu "urso de Yorubá na U./# @ormalmente% "onorme "one"emos atra!$s da "elebre mJsi"a de +aetano Celoso% 4odemos tradu2ir Odara 4or belo# /ortanto% .alami nos e*4li"a que al$m de belo% Odara tamb$m tra2 o sentido de Jtil# 9esta orma quando os 'orubás se reerem a suas obras de arte "omo Odara% estão se reerindo a algo que ao mesmo tem4o $ belo e Jtil# sto )ustii"a o ato de que "ertas 4artes do "or4o se)am re4resentadas "om maior 4roeminên"ia do que outras% 4or desem4enarem unç&es de maior utilidade 3si"a e simb5li"a do que as demais# ste ato determina% in"lusi!e% que estas re4resentaç&es 4ossam ser des4ro4or"ionais em relação ao "or4o umano% e tamb$m ao 4adrão est$ti"o 4redominante na arte grega "lássi"a que se auto-determina!a uma re4resentação 4ereita da realidade# .egundo a 4er"e4ção est$ti"a dos 'orubás% uma estátua grega )amais seria Odara na a"e4ção "om4leta da 4ala!ra e do "on"eito% 4ois os e*em4lares da arte grega "lássi"a não "olo"am em destaque as 4artes do "or4o de maior im4ortAn"ia e utilidade !itais 4ara os Yorubás# 9ois e*em4los "laros desta 4er"e4ção est$ti"a que temos são as "one"idas re4resentaç&es de *u e O*um nos
)ustii"a 4elo ato de que% segundo nos airma o oriki de O*aguian% $ 4elo !entre% na tradição 'orubá% assim "omo em outras tradiç&es da Hri"a .ubsaariana%que se e*4ressam nossos sentimentos% quando di2 literalmente% em l3ngua 'orubá: O.aguian n!o tem maldade na barriga (o que Cerger tradu2 4or: O*aguian não $ mau
m resumo% 4er"ebemos atra!$s destas re4resentaç&es de ori*ás que a 4er"e4ção est$ti"a 'orubá se a2 re4resentati!a no que nos liga "om o mundo sensorial do ,i'e (terra% mundo 3si"o atra!$s da orma enáti"a "om que "onstr5i nossos 5rgãos de sentido do mundo 3si"o "omo o de audição% 4aladar% !isão% tato e 5rgãos de re4rodução# /or outro lado esta 4roeminên"ia tamb$m se dá em nossas 4artes do "or4o que nos ligam simboli"amente "om o mundo intang3!el% "omo a "abeça no sentido de "abeça interior% que na !erdade 4erten"e a Orunmilá e ao Orun ("$u e 4ara o qual te"emos orikis e que são o ob)eto "entral neste estudo#
a – Oriki indi!idual de nas"imento e nominação (assume ormas dierentes no "aso de gêmeos% "rianças nas"idas de4ois de gêmeos% "rianças nas"idas "om "ordão umbili"al enrolado no 4es"oço% ou que o Orá"ulo 4re!ê que morrerá antes dos 4ais# ,l$m disso% at$ mesmo animais% 4lantas e olas têm seus orikis% 4ois tudo que têm !ida tem Ori e 4ode ter um Oriki#
Oralidade e Import!ncia da 6alavra dentre os Yorubás" /ara entender melor a e*4ressão oral e im4ortAn"ia da 4ala!ra entre os Yorubás $ ne"essário que a4resente o "on"eito de ,*$# (,se#
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,45s e*4li"ar a im4ortAn"ia ritual do ,s$(,*$ entre os Yorubás% .alami% em sua tese de doutorado% nos deine esse ,s$(,*$ "omo sendo a orça !ital que se e*4ressa tamb$m em toda 4ala!ra# le nos lembra que o signii"ado etimol5gi"o da 4ala!ra ase !em de a se (assim se)a% assim se aça e desta orma "omo a 4ala!ra 4orta o ,se(,*$% ela tem o 4oder de a2er "om o que está sendo airmado se "on"reti2e# .e re"orrermos a Cerger% em algumas o"asi&es ele tradu2 a 4ala!ra ,s$ (a*$ 4or Lei% o que a2 "om que nos remetamos "om4arati!amente e imediatamente aos signii"ados de rta (ordem e !a" (!erbo da "ultura sAns"rita% dos quais os ritos !$di"os de4endem e são eitos 4ara a manutenção da ordem "5smi"a e na qual a 4ala!ra ("orretamente 4ronun"iada ritualmente em sAns"rito% nos dá a"esso aos 4lanos sutis da "riação# ,mbos os "on"eitos% a4esar de estarem 4resentes em uma "ultura tão distante da Yorubá% a4resentam alguma 4ro*imidade "om o "on"eito do ,se Yorubá% se)a no seu uni!erso ritual3sti"o% "omo im4regnado na "arga simb5li"a que a 4ala!ra "arrega 4ara este 4o!o# Outro elemento que de!emos obser!ar na questão da oralidade e no !alor da 4ala!ra 4ara os 'orubá e as so"iedades da Hri"a subsaariana 4ode ser muito bem e*4ressa 4or Mam4atê á quando "ita aobá já e.iste em potencial em sua semente=
,l$m de nos elu"idar melor o "on"eito de ,s$ (,*$% "omo orça !ital que !em da an"estralidade e está 4resente tanto na ritual3sti"a quanto na 4ala!ra entre os 'orubás% esta "itação tamb$m nos a2 "om4reender melor a orça tradiç&es orais dentre os ari"anos subsaarianos% 4ois a es"rita sendo a4enas uma otograia do saber% e não sendo o saber em si% esta não se torna uma "ondição 4ara a transmissão do saber an"estral# is$rio nos ala da "ara"ter3sti"a lu3da e le*3!el das "ulturas da maior 4arte das so"iedades que mant$m as tradiç&es orais na Hri"a subsaariana# le nos mostra que em geral elas se dieren"iam da rigide2 "anNni"a das so"iedades que se desen!ol!eram a 4artir da es"rita# ste ato nos a)uda a "om4reender o que nos airma Mam4atê á quando deende que as tradiç&es orais 4redominantes nas 11
"ulturas da Hri"a .ubsaariana não re4resentam
uma alta de abilidade
destas so"iedades 4ara a es"rita% mas sim uma orma "ara"ter3sti"a de se e*4ressar# ,lgo 4ara o qual nossa "ultura "lássi"a o"idental geralmente não se atentou e "riou muitos 4re"on"eitos% esque"endo at$ mesmo o "aráter oral dos 4oemas $4i"os "lássi"os# @este sentido tamb$m 4odemos% de no!o% "itar "om4arati!amente a ndia e as tradiç&es .Ans"ritas na qual os 4r54rios te*tos C$di"os 4or muito tem4o oram 4roibidos de ser trans"ritos% 4or 4ortarem em si um "onteJdo demasiadamente sagrado 4ara dei*arem de ser transmitidos 4ela tradição oral atra!$s das geraç&es de sa"erdotes# 9a mesma orma% o distan"iamento das tradiç&es de transmissão oral e sobretudo não ter 4ara quem transmitir o "one"imento an"estral $ um grande temor dentre os an"iãos e sa"erdotes nas so"iedades subsaarianas% "onorme nos elu"ida Mam4atê á em seu te*to
Ela fura com sua sineta o ventre do mentiroso( Oriki de O*um 4etu Ele n!o aceita a oferenda do mentiroso (Oriki de Qango em O'o Ele mata o mentiroso e enfia seu dedo no olho dele (Oriki de *angN ,on)á Olha brutalmente de soslaio o mentiroso (Oriki de QangN em Osogbo O mentiroso foge antes mesmo #ue ele lhe dirija a palavra (Oriki de QangN em Osogbo Os daomeneanos s!o mentirosos" eles n!o t-m um talism! como o de O9á (Oriki de O'á
@a ultima "itação temos um e*em4lo ist5ri"o de que esta transgressão moral 4oderia at$ mesmo ser um dos atores legitimariam o dom3nio do reino Yorubá de O'o sobre o 9aom$ no imaginário dos Yorubás% 4elo ato dos daomeneanos% ao serem "olo"ados e ta*ados "om a re4utação de mentirosos% mesmo que i4oteti"amente% seriam% dessa orma% moralmente ineriores aos 'orubá% e 4or isso 4oderiam ser sub)ugados 4ela +oroa do ,lain de O'o#
ABneros da literatura Oral Yoruba" Coltando a deender que não $ 4elo ato da ausên"ia da 4ala!ra es"rita que uma so"iedade não 4ode desen!ol!er ri"os gêneros literários $ que e*4ono% segundo nos enumera .alami% os gêneros da literatura oral 'orubá mais im4ortantes e que são: Oriki- !o"ação# Utili2ado 4ara e!o"ar a 4resença e o es43rito (Ori do seu ob)eto# Um Oriki de Ori*á% 4or e*em4lo% se "orretamente 4ronun"iado% 4ode a2er "om que um ini"iado entre em transe# ,dura – Oração# B utili2ada 4ara a2er 4edidos aos Ori*ás e di!indades ou an"estrais% 4ode "onter tre"os de Orikis% "omo o "aso da ,dura(Oração de QangN % mas diere na orma e na unção de um Oriki# ba- .audação# Utili2ada 4ara se "olo"ar em 4osição de submissão ao Ori*á% rei ou an"estral m3ti"o ou de linagem# Orin – +antigas# Usadas 4ara tra2er á mem5ria e omenagear o ob)eto da "antiga Orin sa- +antigas de omenagem aos an"estrais mas"ulinos Orin e- +antigas em omenagem aos an"estrais emininos )ala e remo)e – Rrandes /oemas# Reralmente 4ara se 4re4arar 4ara determinadas ati!idades dentro de o3"ios "onsiderados nobres ou essen"iais 13
("omo a "aça no "aso dos )ala% que eram basi"amente 4oemas eitos em omenagem aos "açadores an"estrais 4ara que tenam uma boa "aça# sta multi4li"idade de Rêneros nos a2 reletir que enquanto so"iedades da Hri"a .ubsaariana de tradição literária oral "omo a Yorubá desen!ol!em toda esta !ariedade% na ormação "lássi"a de edu"adores no rasil e na diás4ora ainda nos atemos somente ao estudo do 4oema $4i"o das so"iedades da "ultura "lássi"a grega "omo se osse a Jni"a "a4a2 de nos dar uma id$ia dos undamentos do er5i na edu"ação# ,gimos "omo se a Hri"a subsaariana não dissesse res4eito a n5s e 6 nossa "ultura% ignorando toda essa rique2a% somente 4orque nossa "ultura 4re"on"eituosamente at$ o momento ta*ou estas so"iedades "omo ágraas% e que% 4ortanto% não tinam nada a "ontribuir em nossa edu"ação#
Import!ncia da Aenealogia na (ociedade -fricana (ubsaariana" m so"iedades de linagens "omo a maior 4arte das so"iedades da Hri"a .ubsaariana% onde o 4a4el do an"estral m3ti"o muitas !e2es $ ob)eto de "ulto% as genealogias assumem um 4a4el "entral nas relaç&es de 4oder% 4ois quanto maior a 4ro*imidade "om o an"estral m3ti"o mais leg3tima torna-se a liderança dentro das so"iedades ari"anas subsaarianas "omo e*4&e +arlos .errano em suas aulas e no do"umentário o /o!o rasileiro# lustro abai*o "om a genealogia do ,lain de O'o% que "omo 4odemos !er $ des"endente% 4or linagem real% do an"estral m3ti"o que todos n5s "one"emos "omo o 9eus QangN% que era neto de Oran'an% o 4rimeiro ,lain que 4or sua !e2 $ des"endente direto de Odudu>a% o an"estral m3ti"o de todos os reinos Yorubás#
Aenealogia dos -lafins de OCo =retirada e tradu1ida diretamente do site oficial do -lafin de OCo> 7" OranmiCan 2. -0a@a D foi destronado 3. Eango D foi deificado como deus do trovão e raio" 4. -0a0a D re :instalado
F" -gan0u 14
G" Hori ;" Oluaso 8. Onigbogi D condu1iu a evacuação de OCo provavelmente no 7Go
sculo " 9. Ofiran D construiu a cidade de (ha@i 10. &guno0u : fundou OCo Igboho 11. Orompoto D especula:se que foi uma mulher 12. -0iboCede : 13. -bipa : 7F;8:7F8 14. Obalo@un : 7F8:7G88
:::Oluodo D 15. -0agbo : 7G88:7GF 16. OdaranJu : 7GF:7GG8 17. Hanran : 7GG8:7GGF 18. KaCin : =6rimeiro -JuCale de I0ebu Ode> 7GFF:7G;8 19. -Cibi : 7G;:7GL8 20. OsiCango : 7GL8:7GL 21. O0igi : 7GL:7;M 22. Abaru : 7;M:7;M 23. -muniJaCe : 7;M:7; 24. Onisile : 7;:7;F8 25. +abisi : 7;F8 26. -Jonbio0u : 7;F8 27. -gbolua0e : =#elebrou o 3ere 5estival> 7;F8:7;; 28. 4a0eogbe : 7;;:7;;F 29. -biodun : =#elebrou o 3ere 5estival> 7;FF:78F
M8"-ole M7"-debo 32. 4a@u : 78:7M8 33. 4a0otu : =Ilorin tomada pelos 5ulani> 34. -modo : 7M8 35. OlueJu : =?ueda da antiga OCo> 7MM:7M 36. -biodun -tiba : =5undador da -tual OCo, celebrou o 3ere 5estival>
7M;:7FL 15
37. -delu : 7F:7;F 38. -deCemi I : 7;F:7L8F 39. +aJani -gogoi0a : 7L8F:7L77 40. +adigbolu : Kan" 7F, 7L77:Pec" 7L, 7L 41. -deniran -deCemi II : Kan" F, 7LF:(ept" 8, 7LFF 42. 3ello Abadegesin : =+adigbolu II> KulC 8, 7LFG:7LG 43. -deCemi III : =-laafin atual de OCo e #hefe da 7 Kan,
7L;7 at os dias atuais O griot genealogista e o autor de Ori@is genealogista Driot $ um nome que !êm do ran"ês e que $ atribu3do ao Gtro!adorS das
tradiç&es orais entre os Pulas% ambara e os aribá% "omo nos mostra Mam4atê á em seu te*to
sobretudo
dentre
os
4o!os
sudaneses
temos
seus
"orres4ondentes# .egundo a obra de Mam4atê á% e*istem !ários ti4os de Rriots e dentre eles o genealogista que% não raro% !ia)a!a 4or toda Hri"a nas imediaç&es dos reinos !i2inos% 4ara bus"ar as origens que "onstitu3am as genealogias das am3lias e a2er seus 4oemas de genealogia (tal qual os Oriki Orile dos Yorubá que de!eriam ser re"itados e "antados nas "erimNnias im4ortantes e nos ritos de 4assagem# /ortanto% a!ia outros ti4os de Rriots que desem4ena!am 4a4$is similares aos bobos da "orte da uro4a% a quem era 4ermitido mentir ou distor"er a !erdade em nome de sua arte que tina a unção de di!ertir as "ortes e so"iedades "om seus 4oemas% o que e*"e4"ionalmente não era !isto "omo uma transgressão moral% segundo nos airma Mam4atê á# @a tradição Yorubá% mais 4re"isamente no eino de O'o% o 4a4el do griot genealogista es4e"ii"amente $ desem4enado 4ela igura do ,rokin#
&strutura e 5orma dos Ori@is is$rio e L$4ine são dois autores que nos demonstram bem "omo se estruturam orikis e que 4or isso re"omendo ortemente a leitura# L$4ine% que "ito abai*o% "on"eitua bem su"intamente "omo se estruturam os Orikis de orma geral quando di2:
16
:O Oriki comporta habitualmente tr-s partesC uma enumera!o de nomes #ue descrevem o status" os apelidos e a apar-ncia da pessoa< um relato de suas realia5es e de suas faanhas< comentários sobre o item precedente$ S!o elaborados no decorrer da vida de uma pessoa a partir
de
frases"
#ualificativos"
apelidos
criados
por
seus
contempor4neos e amigos ntimos$ Os orikis representam assim a opini!o pAblica sobre uma pessoa=
+omo 4odemos obser!ar% esta estrutura tri4la $ uma "ara"ter3sti"a da maioria dos Orikis% "ontudo se obser!amos muitos Orikis de Ori*ás 4odemos !erii"ar que nem sem4re todas estas três 4artes estão 4resentes ou quando estão nem sem4re seguem ielmente esta ordem de enumeração% reali2aç&es e "omentários sobre reali2aç&es# /ara que obser!emos tal ato trans"re!o abai*o um 4equeno Oriki de O*um "oletado no Tetu 4or /ierre Cerger: Binha m!e é bela" muito bela$ ("omentário 2obre de olhos fulgurantes (enumeração I9alode cuja pele é muito lisa (enumeração 7uando ela sai todo mundo a saAda ("omentário Binha m!e #ue cria o jogo de a9o e cria o jogador # (reali2ação B!e" todo mundo está com voc- ("omentário O filho entregará o dinheiro na sua m!o$ ("omentário
O mais rele!ante% sobretudo% a 4artir deste e*em4lo% $ que 4er"ebamos que as regras do Oriki não são i*as "omo em um soneto% 4oema 4arnasiano% ou outros gêneros da literatura o"idental dentro de di!ersas es"olas literárias% este)am eles em !erso ou 4rosa# ,l$m disso% is$rio nos e*4&e outros elementos rele!antes na orma dos Orikis "onorme 4odemos !er em sua obra Oriki% Ori*á "omo quando nos ala: :%s palavras t-m no Oriki uma carga especial$ ma certa densidade energética$ E coisas podem acontecer a partir de sua simples emiss!o$ 7uando recito um Oriki de O9á Fans!" sei #ue ela está me ouvindo ; e #ue" a depender do meu gesto e da minha fidelidade te.tual pode me abenoar $$$ a Altima coisa #ue devemos esperar encontrar em um oriki de Ori.á" é o desenvolvimento l&gico linear de uma idéia ou de um enredo$ Ine.iste a#ui #ual#uer preocupa!o em tecer uma est&ria ou recontar uma hist&ria$$$$ >olanlé %'é nos di
sobre orikis de personagens notáveis #ue :
17
diferentemente de outras tradi5es orais " o oriki n!o conta uma est&ria< apenas delineia um retrato #ue é fre#,entemente incompleto< tal retrato somente ilumina a#ueles aspectos #ue os contempor4neos julgaram dignos de nota na vida de um indivduo" e fa isso algumas vees" numa linguagem t!o sucinta" altamente figurativa e comprimida #ue a tradu!o com fre#,-ncia apresenta+se um problema= $$$%ntes de desenvolver linearmente um discurso" o Oriki opera pela justaposi!o de blocos verbais=
is$rio !ai mais al$m% airmando que o Oriki 4ode ser "om4arado e "om4reendido mesmo "omo um ideograma# /odemos 4er"eber no e*em4lo do Oriki de O*um a"ima que ele te"e e "onstr5i imagens ao reerir-se a Gmãe de 4ele muito lisaS que G"ria o )ogo de a'o e o )ogadorS e 4ara a qual Go ilo entrega o dineiro em suas mãosS# .e ti!ermos a imaginação dos 'orubás 4oderemos at$ mesmo !isuali2ar estas "enas enquanto o re"itamos# stas imagens% tal qual ideogramas% que isoladamente nem sem4re em si tra2em signii"ados% se )usta4&em 4ara ormar% atra!$s deste "on)unto de imagens% uma e!o"ação ao Ori*á (no "aso dos Orikis de Ori*ás ou ao ob)eto que se e2 tema do Oriki em questão# is$rio reorça isto quando airma: :O gosto pelo grandioso é uma trade mark do g-nero$ Em outras palavras" o modo de defini!o do objeto" #ue encontramos no oriki" funda+se na ma.imia!o dos traos da#uilo #ue é representado$ ? a vis!o enfática" superenfática" das personagens" das coisas" fenGmenos e processos$ % hipérbole" figura do e.cesso$$$ A estes traços francamente espetaculosos,
extra-ordinários, somam se os rasgos imagéticos$ O galope de imagens como costuma dier$ S!o imagens amplas e contundentes$$$ a imagerie do oriki se pauta pelo ins&lito" pelo grandioso e pelo e.travagante=
@ão á m$tri"a nem e*tensão 4r$ deinidos 4ara os Orikis% 4odem ser "urtos ou muito longos#
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este)am !i!as no uni!erso simb5li"o e no imaginário da "oleti!idade e que 4ossam ser utili2adas na "onstrução destas imagens que "onstituem o Oriki#
Ori@is de Ori'ás# ,l$m de e*4lorar o "aráter aleg5ri"o e est$ti"o dos orikis% ,>e% em sua obra nos ala do e*em4lo do Oriki "omo do"umento ist5ri"o# /ara e*em4lii"ar o que um oriki 4ode tra2er em inormação e em rique2a simb5li"a em um sim4les !erso% !ou analisar três !ersos de três orikis de Ori*ás em duas situaç&es que se ini"iam na Hri"a e têm seu 4rosseguimento na diás4ora ari"ana no rasil: Oriki de HangGC :Senhor dos D-meosS
ste sim4les% e a4arentemente des4retensioso !erso do Oriki de QangN% nos remete a um "on"eito im4ortant3ssimo dentro da maior 4arte das so"iedades subsaarianas% que $ o "on"eito de geminilidade# @a maior 4arte das so"iedades da Hri"a .ubsaariana a igura dos gêmeos $ de grande im4ortAn"ia e sem4re $ um tema "omum "om a qual estas so"iedades lidam de di!ersas ormas "omo sendo rele!ante em sua estrutura so"ial# ,lguns 4o!os "omo os 'orubás% !êm o nas"imento de Rêmeos "omo algo ben$i"o% outras 4odem at$ mesmo abandonar um deles# Os gêmeos simboli2am 4ara as so"iedades subsaarianas tudo o que $ du4lo e a 4artir do "on"eito de geminilidade desena-se o "on"eito de simetria e assimetria 4ara estes 4o!os#
assim$tri"as#
.egundo
.errano%
este
"on"eito
da
geminilidade
e
"onseqEentemente da simetria e assimetria rela"ionada ao 4oder são uma "onstante na Hri"a .ubsaariana# Coltando ao e*em4lo dos Yorubás e de QangN% entendemos melor "omo se maniesta esta relação do du4lo% da geminilidade e do 4oder% se analisarmos a simbologia do 4r54rio Os$ (O*$%a"ado 9u4lo que $ a erramenta de QangN# @ormalmente o Os$ (O*$ $ simboli2ado 4or um ma"ado sim$tri"o de a"e du4la "om um omem no "entro "omo base% ou "om dois gêmeos (um em "ada lado abai*o das a"es do ma"ado% moti!o 4elo qual ele $ "amado o .enor dos Rêmeos# O Ose (O*$ de QangN% e!identemente "arrega em si tanto os 4rin"34ios da simetria e "omo o da Reminilidade% 4resente no imaginário dos /o!os subsaarianos# /ortanto% o Os$ (O*$ do .enor dos Rêmeos re4resenta o 4oder du4lo% mas 4or ser sim$tri"o% 4ode 4assar a id$ia que este 4oder não $ baseado em relaç&es de o4ressão% mas sim religiosamente undamentado na base da an"estralidade do er5i m3ti"o deii"ado% tal "omo QangN o $ realmente# Os gêmeos% ou a simetria do omem que se en"ontra no "entro do Os$ (o*$ 4ode re4resentar tamb$m o equil3brio e*istente (ou ideal que de!eria e*istir no 4oder du4lo que se instalou em O'o entre o os ,lains a 4artir de QangN (que tamb$m tina origem materna em in!asores dos /o!os @u4e e aribá e a so"iedade Ogboni% que era o "onselo 4o4ular que re4resenta!a o 4oder do 4o!o aut5"tone des"endente somente do an"estral m3ti"o de le e (Odudu>a#m outro "onte*to% segundo estes "rit$rios "riados 4elo 4rin"34io da geminilidade e simetria% o Os$ de QangN simboli"amente tamb$m re4resenta o equil3brio do 4oder du4lo do rei di!ini2ado 4elo Orun ( ,laain e a so"iedade Ogboni que re4resenta!a o 4oder terreno (do ,i'e# Outro ato rele!ante $ que o 4r54rio Orani'an (a!N de QangN e 4rimeiro ,laain tem a 4ele simetri"amente 4intada de bran"o e 4reto% o que )á 4renun"ia!a este "on"eito de 4oder du4lo de O'o em armonia% legitimado na igura do 4r54rio an"estral m3ti"o#
so"iedades de religião aro brasileira tradi"ionais na aia% têm "ru2es "ristãs em seu interior e muitas !e2es têm suas origens em irmandades "ristãs de es"ra!i2ados# (O que não dei*a de ter um 4aralelo "om a re4resentação de so"iedade de resistên"ia que era a so"iedade Ogboni em terras 'orubás% que 4ode% 4or sua !e2 e sem dJ!ida% ter ins4irado na organi2ação e estrutura destas irmandades "ristãs de es"ra!i2ados na aia# Outro ato im4ortante que en"ontramos "om reqEên"ia nos orikis de Ori*á $ a reerên"ia ao 4reguiçoso (ol$% que $ tratado "omo sendo um transgressor moral tal qual o mentiroso% "omo nos e*em4los dos !ersos dos Orikis de O*um 4ondá e Logun de Oriki de O*um 4onda Ela entra na casa do preguioso e este foge Oriki de Logun de O preguioso está satisfeito entre os transeuntes (pois n!o é visto)$
9e qualquer orma% ao estudarmos a dinAmi"a das so"iedades que se ini"iaram no 4ro"esso de "aça e "oleta% e!oluindo 4ara a agri"ultura e o 4astoreio e mais tarde tamb$m se tornando urbanas% 4er"ebemos que não á realmente lugar "onortá!el 4ara o 4reguiçoso na so"iedade 'orubá assim "omo nas so"iedades da Hri"a .ubsaariana# , estrutura de linagens na qual a "onstituição da am3lia e onde o trabalo dos mais )o!ens se a2em im4res"ind3!eis 4ara o sustento dos mais !elos% de sua am3lia e da estruturação do modo de 4rodução desta so"iedade% não 4ode a"eitar realmente a igura do 4reguiçoso (que se re"usa a 4rodu2ir# /ortanto não á outra orma senão transormar esta 4ersonagem em um transgressor moral% "omo o mentiroso# @a diás4ora% os muitos senores 4reeriam etnias de es"ra!i2ados% que tinam desen!ol!ido abilidades es4e"3i"as 4ara su4rir as ne"essidades de 4rodução de suas so"iedades na Hri"a# Outro ator que a2ia "om que 4reerissem determinados gru4os $tni"os era )ustamente o quão e!idente era a !alori2ação do trabalo nas so"iedades de origem dos es"ra!i2ados# /ortanto% em todas as so"iedades ari"anas subsaarianas que se organi2am atra!$s de linagens% "omo a dos 'orubás% o trabalo era !alori2ado 4or ser undamental 6 sobre!i!ên"ia da so"iedade# O que nos e*4li"a% neste "aso% que ao 4reguiçoso era relegado o 4a4el de transgressor moral# 21
Um dos ob)eti!os de to"ar neste assunto a 4artir dos Orikis% $ )ustamente "ontribuir 4ara des"onstruir a id$ia no nosso imaginário "oleti!o na"ional que de!ido 6s nossas origens ari"anas erdadas da $4o"a da es"ra!idão% temos a tendên"ia a ser um 4o!o indolente# @ão 4odemos negar que esta $ uma imagem que muitos a2emos de n5s mesmos% mas ao entender melor as relaç&es de 4rodução dentro das so"iedades da Hri"a .ubsaariana% !emos que se trata de um mero 4re"on"eito# ste 4re"on"eito in"lusi!e ser!e 4ara nos "egar ao ato de que ainda nos dias de o)e% n5s brasileiros trabalamos em m$dia% 4ela +L<% ao menos oito oras semanais a mais que os euro4eus 4or suas leis trabalistas# ste ato dei*a ainda mais e!idente que isto que muito de n5s a"eitamos 4assi!amente sobre n5s mesmos não 4ode ser outra "oisa senão mero 4re"on"eito# Outro ator que me a2 "olo"ar esta airmação $ que tudo isto e!iden"ia que se este imaginário 4re"on"eituoso e de bai*a estima atual ser!e aos 4ro45sitos de algu$m% "ertamente não $ aos 4ro45sitos de quem 4rodu2 em nosso 4a3s% que $ a imensa maioria#
Ori@is de Aenealogia e de Nominação # Oriki Oril$ $ o nome dado ao Oriki de linagem que tem uma relação estreita "om as mar"as a"iais# @a so"iedade Yorubá% ao !er as mar"as a"iais de algu$m que "ega% todos em um gru4o% se dese)am saudá-lo% re"itam seu Oriki Oril$% 4ara e!o"ar sua an"estralidade e seus ante4assados% assim "omo nos e*4li"a .alami em sua tese# +omo nos ala L$4ine% o oriki de uma pessoa é constitudo durante o decorrer de sua vida # Vuando nas"e% o Oriki de nominação $ eito durante uma
"erimNnia que 4ode ser "orrela"ionada "om o que na tradição "ristã o"idental "one"emos "omo batismo# 9urante os ritos de 4assagem são a"res"idos outros elementos e o oriki $ atuali2ado sendo que assim temos um 4anorama de eitos% 4ro!$rbios e at$ mesmo im4re"aç&es que e!o"am a 4ersonalidade# Pa2endo um 4arêntese 4ara tentar e*4li"ar algo que se a4ro*ime de um oriki de nominação e que a"onte"eu "omigo narro que re"entemente meu oriki "omeçou a ser eito% 4ois des"obri meu nome de santo a 4artir de uma oerenda que 4edi 4ara a2er 4ara mina mãe O*um na Hri"a% na o"asião do Pesti!al de O*um em Osogbo ("idade de O*um# 22
,o a2er a oerenda e O*um ter a"eitado% meu nome de ilo de O*um oi re!elado 4ara a .a"erdotisa do
geneti"amente ou se)a ao menos em nossa e*4ressão% mesmo que não tenamos a 4ele negra? Vuem 4ode negar que ao querermos 4are"er uma "54ia mal eita de euro4eus% re"usamos assumir o que somos realmente? Vuem 4ode? ,"o que s5 quem 4ode negar a an"estralidade% es"onder o sorriso% negar o abraço% tro4eçar nos 4r54rios 4assos% ou re"usar a 4reerên"ia 4ela es4ontaneidade% quem quer esque"er o que $ e assim dei*ar de ser brasileiro 4ra ser uma imitação de estrangeiro% 4ode a2er isto# as sem dJ!ida este 4re"isará trabalar 4ra transormar o seu Ori# @ão 4odemos negar que somos ilos da diás4ora ari"ana "omo de outras diás4oras e massa"res% 4ortanto s5 nos resta tentar re"onstruir e resgatar esta nossa identidade 4lena a im de a"armos uma 4ro4osta real de 4rogresso "omum e que não se)a ragmentária ou que sustente e "rie guetos de e*"lusão% ao in!$s de tentar imitar o que não somos% e 4or isso estudo esta "ultura e "reio que de!a ser esta uma das moti!aç&es de quem 4or ela se interessa inde4endentemente de nossas "ores de 4ele#
Neo Ori@is .egundo is$rio temos e*em4lo de @eo-Orikis em di!ersas mJsi"as de "om4ositores "omo Rilberto Ril e +aetano Celoso% o que mostra que o gênero nos inluen"ia at$ o)e e está 4resente em nossa 4o$ti"a oral# Um dos e*em4los que is$rio nos tra2 de neo-oriki $ a mJsi"a ansã inter4retada 4or aria etania e que trans"re!o abai*o ansã (aria etania +om4osição Rilberto Ril e +aetano Celoso .enora das nu!ens de "umbo .enora do mundo dentro de mim aina dos raios% raina dos raios aina dos raios% tem4o bom% tem4o ruim .enora das "u!as de )uno .enora de tudo dentro de mim aina dos raios% raina dos raios aina dos raios% (titulaç&es% a2em 4arte de um Oriki
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n que trans"re!o abai*o a letra#
4aria de erdade 4arisa 4onte +om4osição: +arlinos ro>n /ousa-se toda 4aria no !aral das 88 adas nuas lourinas Postes besouro 4aria e a aba do /ierrot des"osturou na baina (são claros aqui os feitos e
imagens) Parinar bem% derramar a "anção e!irar trens% lou"o mo!er 4ai*ão @as direç&es% 4rogramado e emoldurado s4erarei romAnti"o (4reste atenção nas imagens que se ormam nesta estroe .ou a 4essoa 4aria @a água quente e boa gente tua 4aria Coa quem !oa 4aria 25
e a alma sem4re boa sem4re !ou 6 4aria =preste atenção nos comentários
de reali1aç)es e caracteri1ação do ob0eto do tema da m2sica> Parinar bem% derramar a "anção e!irar trens% lou"o mo!er 4ai*ão @as direç&es% 4rogramado e emoldurado s4erarei romAnti"o n mostra bem "omo se a4resenta um 4ersonagem em um Oriki % ressalta os seus eitos e não quer ne"essariamente ter uma seqEên"ia l5gi"a% mas sim "onstruir imagens que tragam 6 su4er3"ie da 4oesia o es43rito da 4ersonagem#
26
&'ercícios sobre Aenealogias para resgate da mem%ria hist%rica conforme tradição Oral africana" (sugestão de ati!idade esultado do e*er"3"io na ibliote"a de Osas"o e no +entro +ultural ,ri"ano de .ão /aulo# ni"iamos no "urso de e*tensão na ibliote"a de Osas"o no dia 1F de agosto de 8010 um rá4ido e*er"3"io sobre Renealogias# /edi que os 4arti"i4antes es"re!essem em um 4a4el toda a genealogia que lembrassem e anotassem ao lado qualquer "oisa (4ala!ra% 4ro!$rbio% a4elido que les !iesse 4rimeiramente 6 mem5ria sobre "ada um destes seus an"estrais dentro de sua genealogia# Pi2emos de orma "omo se esti!$ssemos simulando uma 4re4aração 4ara es"re!er um oriki de genealogia (Oriki Oril$# +ontinuamos no en"ontro seguinte# ,l$m desse e*er"3"io% sugiro uma ati!idade 4ara 4roessores de ist5ria no ensino undamental que queiram e*er"itar a questão da mem5ria ist5ri"a na tradição oral ari"ana% a 4artir de um e*er"3"io que se a4ro*ime dos orikis# , id$ia $ simular a "onstrução de um neo-oriki de "lasse ou de algu$m da "lasse mesmo a im de e*er"itar# ste oi tema do trabalo que desen!ol!i na dis"i4lina de metodologia do ensino de Mist5ria na Pa"uldade de du"ação da U./# O 4ro"esso se dá em eta4as e que resumo abai*o: 1 – s"ola do tema# 8- Le!antamento das imagens que a2em menção ao tema ;-Le!antamento de
11- .ão !erii"adas quais as imagens que mais se ormam e "omo se rela"ionam entre si# 18- stas imagens são "om4aradas "om otograias# 1;- +ada um tenta desenar a imagem que mais o mar"ou% materiali2ando a otograia 1F- 9is"ute-se a 4artir disso "omo uma !isão 4ode ser sub)eti!a em relação a outra e o que orma a !isão do "oleti!o $ uma !isão "omum % e isto que orma o registro ist5ri"o na mem5ria "oleti!a em uma so"iedade onde a oralidade $ 4redominante# 9a3% de4endendo da sala% 4odem se dis"utir !árias "oisasK 4ode se entrar na temáti"a das lendas e !erii"ar nelas "omo se ormam os mitos% gêneros literários $4i"os 4o4ulares% ou não% que se "onstroem ortemente a 4artir da oralidade e que se baseiam ou se basearam ini"ialmente ortemente na oralidade% et"# (que são ob)etos de outros "ursos que ministro Coltando a nosso e*er"3"io em Osas"o% teno que les di2er que "omo resultado% no má*imo% ti!emos reerên"ias de nossos a!5s (que $ o que "one"emos# O que $ muito 4ou"o se "om4ararmos "om o que !emos "om a genealogia do ,lain que está nesta 4ubli"ação# diga se de 4assagem que normalmente o ,lain tem que saber de mem5ria dos Orikis de grande 4arte dos outros ,lains 4re"edentes% e que na tradição Yorubá tradi"ional o ideal $ saber 4elo menos a 4artir de sua s$tima geração an"estral# +om4arando os dois e*em4los% o nosso e o da so"iedade tradi"ional 'oruba% no "onte*to dos orikis% algo que 4er"ebemos de imediato $ que% sem dJ!ida estas so"iedades baseiam-se em !alores e*tremamente dierentes# /odemos di2er que somos esta so"iedade de "onsumo o"idental sem mem5ria e na qual nem a mem5ria de nossa origem a2 4arte de nossas rique2as ("omo $ eito nas so"iedades subsaarianas# @ossos !alores de "onsumo não "om4ortam a tradição# us"a se o no!o 4elo no!o% sem se undamentar na autoridade que !em da tradição (segundo nos a2 4ensar Manna ,rendt quando lemos seu te*to sobre autoridade# @esse 3m4eto% "onstru3mos uma identidade que não lembre que no nosso 4assado somos ilos desta diás4ora e destas tradiç&es% que a2emos questão de esque"er# 9essa orma nos tornamos sim4les "onsumidores e "54ias mal eitas desta "i!ili2ação o"idental 4ro!eniente su4ostamente a4enas do mundo "lássi"o e que o)e se transormou na 28
so"iedade de "onsumo que "one"emos ou ormamos em nosso imaginário "oleti!o# /ara esta so"iedade a des"oberta de outras an"estralidades e da irmação da identidade integral do que nos ormou não tem es4aço e não interessa# /or outro lado% !emos que temos muito a ganar ao 4er"eber esta no!a so"iedade que não $ ob)eto de estudo de um 4o!o e*5ti"o% "omo 4ara muitos no meio a"adêmi"o o"idental dos 4a3ses ditos "entrais que são quem nos orne"em suas reerên"ias sobre estes 4o!os% e que 4elo "ontrário% estas so"iedades nos di2em res4eito e nos ante"edem em !erdade# 9es"obrimos muito sobre n5s mesmos ao entrarmos em "ontato "om sua est$ti"a% "ultura e !alores# eu ob)eti!o e tamb$m do nJ"leo de *tensão da ibliote"a de Osas"o e do +entro +ultural ,ri"ano% $ "om este trabalo% dar uma 4equena "ontribuição 4ara que os 4arti"i4antes transormem sua 4er"e4ção e resgatem elementos que "onstruam sua 4r54ria identidade ao en*ergar a orma "omo esta "ultura an"estral 4er"ebe sua 4r54ria so"iedade# 9e orma alguma nosso ob)eti!o% e de quem estuda e mergula na des"oberta de uma no!a "ultura% "omo as "ulturas ari"anas 4arado*almente ainda são 4ara n5s% de!e ser a4enas alar bonito 4ara re4rodu2ir o que )á "one"emos e que ormou esta so"iedade e*"ludente e que se irma na "riação de estere5ti4os de outras so"iedades# 9ar uma 4equena e m3nima "ontribuição 4ara a)udar a transormar e agregar elementos no!os 6 4er"e4ção de mundo% "ultura e so"iedade dos 4arti"i4antes e leitores% a im de que "onstruam uma identidade mais "om4leta oi o meu ob)eti!o 4rin"i4al neste te*to e trabalo#
Osunfemi (Ivan da ilva !oli)
O mito de *u na +i!ili2ação Yorubá a 4artir de seus Orikis# :E.u está de pé na entrada= % "om este !erso do Oriki de *J
abro
este artigo 4edindo 4assagem ao .enor do +amino 4ara ini"iar este "i"lo de te*tos sobre os mitos dos Ori*ás na "i!ili2ação Yorubá a 4artir de seus orikis# +onorme "oloquei em artigo anterior sobre os Orikis% 4elo sim4les ato de alarmos dos 'orubás estamos e*4ostos a que digam que estamos deendo a @ago"ra"ia% e que 4or esse mesmo sim4les ato somos ta*ados de estarmos 29
igualmente deendendo uma su4osta su4rema"ia nagN em relação a outros 4o!os ari"anos subsaarianos# +ontudo o que re4ito $ que% na !erdade o que !e)o em relação 6 maioria das 4roduç&es reerentes aos Yorubás
$ algo que "amo de
@agonomia% 4ois estas 4roduç&es s5 ressaltam a unção m3sti"a dos mitos% negligen"iando assim as4e"tos so"iol5gi"os% antro4ol5gi"os e ist5ri"os que o estudo da "ultura deste 4o!o a 4artir de seus mitos 4ode ter# sto a2 "om que o material que nos dê subs3dios de ato 4ara uma análise mais a4roundada sobre a "ultura 'orubá se)a% na !erdade% sal!o 4ou"as e*"eç&es% tão es"asso quanto o de qualquer outro 4o!o da Hri"a subsaariana que tena a)udado a nos "onstituir "omo 4o!o% a n5s brasileiros% no 4ro"esso de sua diás4ora# /ara reorçar e elu"idar a questão trago o que es"re!e +am4bell% quando "itado 4or Qa!ier Duare2 em sua tese de 9outorado sobre 4oemas de á sobre o ito# .egundo o que Duare2 obser!a em +am4bell o ito tem quatro grandes dimens&es que são a m3sti"a% "osmol5gi"a% so"iol5gi"a e 4edag5gi"a# +am4bell nos ala que : Os mitos t-m basicamente #uatro fun5es$ % primeira é a fun!o mstica+ e é isso #ue venho falando" dando conta da maravilha #ue é o universo da maravilha #ue é voc-" e vivenciando o espanto diante do mistério$ Os mitos abrem o mundo para a dimens!o do mistério" para a consci-ncia do mistério #ue subja a todas as formas$ Se isso lhe escapar" voc- n!o terá uma mitologia$ ($$$) % segunda dimens!o é cosmol&gica" a dimens!o a #ual a ci-ncia se ocupa ; mostrando #ual a forma do universo" mas faendo+ o de uma tal maneira #ue o mistério" outra ve se manifesta ($$$) a terceira fun!o é a sociol&gica ; suporte e valida!o de determinada ordem social$ ($$$) a fun!o pedag&gica (ensina)" como viver uma vida humana
sob #ual#uer
circunst4ncia$ Os mitos podem ensinar+lhe isso :
Duare2 ainda nos "on"lui em sua tese elu"idando que a dimensão m3sti"a $ res4e"ti!a 6 relação entre sagrado e 4roano no uni!erso do mitoK a "osmol5gi"a reere-se 6s relaç&es de equil3brio "5smi"o das orças 4resentes no mitoKa so"iol5gi"a% 6 distribuição de 4a4$is so"iais e sua im4ortAn"ia na deinição
do "or4o sa"erdotal e de sua ierarquiaK e a quarta aos
ensinamentos tradi"ionais transmitidos 4elo mito 6s uturas geraç&es# 30
+orroborando "om o que nos elu"ida Duare2% .alami em suas aulas de +ultura Yorubá na U./ em 177; nos resumia a unção dos Ori*ás Yorubanos "omo sendo antes de tudo "i!ili2at5ria# sta !isão de .alami "om4lementa e redeine mais su"intamente as airmaç&es de +am4bell e Duare2% 4ois segundo a mesma 4odemos "on"luir que as unç&es so"iol5gi"as e 4edag5gi"as do mito são intr3nse"as 6 sua unção "i!ili2at5ria# m sua unção so"iol5gi"a o mito 4ode a)udar a deinir não somente o "or4o sa"erdotal mas tamb$m toda uma estrutura so"ial de um 4o!o# Dá em sua unçao 4edag5gi"a 4odemos ter a deinição de um sistema de ra"ionalidade e "omuni"ação dentre outros sistemas# Outro autor rele!ante na organi2ação deste estudo que "ito $ .a"ristán quando nos sugere o sistema La>ton no estudo de "ulturas di!ersas# ste sistema ala de 7 in!ariantes 4resentes em qualquer "ultura e que são : a a estrutura so"ial bsistema e"onNmi"o "sistema de "omuni"ação dsistema de ra"ionalidade esistema te"nol5gi"o sistema moral gsistema de "renças sistema est$ti"o i sistema de maturação# e nos 4ro4una em um dos seus trabalos que !3ssemos os orikis "omo ontes de dados ist5ri"os dentro da dinAmi"a ist5ri"a dos 'orubás% "ontudo% indubita!elmente% 4odemos entender muito sobre todos os 31
t54i"os dos quais nos "ita .a"ristán no sistema de La>ton atra!$s deste gênero da literatura oral 'orubá# sto nos 4ossibilita que a 4artir dos orikis nos a4ro4riemos de elementos que nos a"ilitem a "om4reensão desta "ultura em seu "onte*to so"ial e antro4ol5gi"o% 4ois este gênero igualmente nos re!ela im4ortantes elementos de uma "ultura da Hri"a subsaariana que 4or ter di!ersos atores "omuns "om a maior 4arte de "ulturas de outros 4o!os subsaarianos 4odem nos au*iliar a que se)amos introdu2idos ao estudo etnol5gi"o destes 4o!os que a)udaram a nos "onstituir "omo @ação# /ara melor elu"idar a es"ola de tratar dos mitos 'orubás al$m de sua dimensão m3sti"a e atra!$s das no!e in!ariantes% neste trabalo% 4odemos rela"ionar a unção m3sti"a "om o sistema de "renças e em "erta medida "om o sistema est$ti"oK a unção so"iol5gi"a "om a estrutura so"ial% sistema e"onNmi"o% sistema de maturação e o sistema moralK e a unção 4edag5gi"a "om os demais sistemas que são o de "omuni"ação% ra"ionalidade e o te"nol5gi"o# m nosso estudo% re"orreremos mais 6s dimens&es so"iol5gi"a e 4edag5gi"a do mito atra!$s dos orikis 4ara mostrar que a4esar de estarmos utili2ando te*tos reerentes 6 liturgia tradi"ional Yorubá% que têm seu 4a4el im4ortante na dimensão m3sti"a do mito% não 4odemos negligen"iar sua inegá!el unção "i!ili2at5ria#
&'u, o (enhor do 4ercado e dos caminhos " +omo disse anteriormente% o sistema de "omuni"ação se rela"iona ao mito em seu as4e"to 4edag5gi"o (e em "erta medida tamb$m ao so"iol5gi"o e o mito de *u% entre outras "oisas está diretamente rela"ionado ao sistema de "omuni"ação dos 'orubás# +omo 4odemos obser!ar a 4artir de determinados !ersos dos Orikis de *u ele está diretamente ligado a este sistema de "omuni"ação% na medida em que no imaginário tanto dos 'orubás na Hri"a% quanto nos 4a3ses da diás4ora ele $ asso"iado ao +amino e sendo o 4r54rio .enor do +amino# /odemos "itar "omo !ersos que e*em4lii"am isso: E.u está de pé na entrada" 32
Ele está de pé na entrada atrás da dobradia da porta Ele cultiva o campo no lugar onde o velho pode ir
@ão raro% nas entradas das "asas 'orubás% *u $ simboli2ado de alguma orma% se)a 4or um monte de terra e um alo (que o rela"iona "om a se*ualidade e os sentidos ligados a esta que nos a2em "omuni"ar "om o mundo sensorial% se)a 4or um tridente nos assentamentos nas entradas das "asas de umbanda e "andombl$ na diás4ora# m outra dimensão de seu as4e"to de "omuni"ador% *u $ tido "omo o senor do mer"ado# ,qui o mito 4ende mais 4ara sua unção so"iol5gi"a dentro do "on)unto de unç&es que ormam a grande unção "i!ili2adora do mito# ,ntes de nos a4roundarmos na relação do mito de *u "om o mer"ado $ im4ortante ressaltar que o a4are"imento deste er"ado nas terras 4r5*imas ao Rolo do enim remonta a $4o"as anteriores aos 4rimeiros "ontatos "om os euro4eus "omo nos e*4li"am Cerger e astide
no artigo que tratam da
"ontribuição ao estudo dos mer"ados @agNs no ai*o enim# , "egada dos euro4eus e2 "om que os tradi"ionais bJ2ios ossem substitu3dos 4or dineiro# @este artigo Cerger nos "ita um relato sobre a !iagem do +e!alier de ar"ais ao reino de Uidá atra!$s do que es"re!eu o 4adre Labat que 4or sua !e2 tenta nos des"re!er este er"ado: :6em eles uma semana de #uatro dias" dos #uais um dia é de feira$$$na Europa n!o se encontram feiras t!o bem organiadas e policiadas" onde n!o há nenhuma desordemC cada comerciante e as diversas mercadorias t-m seu lugar pr&prio" separados uns dos outros" cada #ual em determinado setor estabelecido de antem!o e sob pena de confisco" n!o podem instalar+se em outro local #ue n!o o designado
.egundo nos airma Cerger no mesmo artigo% este modelo de mer"ado que en"ontramos at$ os dias atuais no enim% teria sido 4ro!eniente dos modelos de O'o e le e e "onseqEentemente instituiç&es "ara"ter3sti"as da "i!ili2ação Yorubá# Outro ator rele!ante% que nos $ des"rito 4or Cerger% $ que% a4esar de omens e muleres "onstitu3rem este mer"ado% as muleres "ostumam ser maioria e que ati!idades nesses mer"ados se di!idem normalmente 4or gênero (o que estudaremos mais detaladamente em outros artigos mais 6 rente# 33
/ara entender melor a dinAmi"a da "ir"ulação das eiras nos quatro dias da semana 'orubá% nesta instituição do mer"ado nagN% $ ne"essário que saibamos quais são estes dias# O 4rimeiro dia $ O)o ,>o % $ literalmente em Yorubá o dia do .egredo e $ 4or isso dedi"ado a á e *u O segundo $ O)o Ogum% literalmente dia da luta e Ruerra e dedi"ado a Ogum O ter"eiro $ O)o Dakuta % literalmente dia da Dustiça e dedi"ado a QangN o quarto $ o O)o Obatalá e dedi"ado 4or isso a Obatalá# .alami em suas aulas de Yorubá ala de um mito da "riação que rela"iona a maior 4arte destes deuses e nos a)uda a entender melor 4or que são di!ididos assim# .egundo nos "onta .alami% quando Olodumare quis "riar o Uni!erso "riou 4rimeiramente quatro di!indades K a 4rimeira seria Ogum que teria a unção de ensinar os omens os 4rimeiros o3"ios da "aça e da or)a 4re4ará-lo 4ara as guerras
assim "omo
e todas as ne"essidades do ,i'e (undo e
assumindo assim o 4a4el do grande +i!ili2adorK a segunda seria Obatalá que no Orun ("$u seria res4onsá!el 4elo senso de religiosidade e tamb$m os "5digos morais ligados ao Orun dos omensK o ter"eiro seria á que seria o senor do segredo (a>o do Orá"ulo que traria do Orun as di!indades que ormariam este orá"ulo no ,i'e% ligando assim "$u e terraK e o quarto e Jltimo seria *u% que teria "omo unção !igiar a todos os três anteriores 4ara !er se esta!am a2endo tudo "onorme as regras de Olodumare# ste $ o moti!o 4elo qual *u era temido 4elos três anteriores% assim "omo 4or todos os sa"erdotes da religião tradi"ional Yorubá% que se i2erem algo que não esti!er de a"ordo "om as leis de Olodumare% enrentarão as "onseqEên"ias de seus atos# Qango se in"or4ora aos quatro dias da semana 4or ser o mito res4onsá!el 4elo "5digo moral do ,i'e% "omo !eremos "laramente quando estudarmos QangN# +ontudo% !oltando 6s eiras% elas "ir"ula!am dentro de "ada um dos quatro dias em uma "idade dierente ormando uma mala que le!a!a as mer"adorias do @orte ao .ul e do .ul ao @orte% 4ois muitas !e2es os 4r54rios !endedores tamb$m "om4ra!am outras mer"adorias 4ara !endê-las em outras "idades# @ão raro as "idades se desen!ol!iam ao redor das eiras% o que nos dei*a bem "lara a interligação do sistema de "omuni"ação que re4resenta!am e o 4a4el "entral que tinam nestas estruturas so"iais# 34
/ara melor entender o im4a"to da eira na so"iedade 'orubá $ ne"essário que entendamos "omo ela estabele"e em so"iedade de nJ"leos uma real rede de "omuni"ação% "onorme nos alam Cerger e astide: :% sociedade africana é uma sociedade fechada" composta por famlias e.tensas e auto centradas" vivendo em nAcleos residenciais" onde se agrupam aposentos dos diversos nAcleos familiares$ % nuclea!o é tamanha #ue" como sabemos" as mulheres mesmo ao se casarem continuam muito mais ligadas à sua famlia de origem #ue à do marido$ Esta caracterstica representa" pois " uma ameaa de :atomia!o= da sociedade$ /ois ao observarmos o #ue acontece em territ&rio nagG" relativamente mais urbaniado" notamos #ue as rela5es de viinhana se estabelecem no interior da aglormera!o familiar" mais intensas ao cair da tarde" #uando cessam as atividades no campo ou nas faendas$$$%s confrarias #ue estes povos formam" por estarem ligadas no presente e muito mais no passado" as pr&prias famlias uma ve #ue o deus em #uest!o é um ancestral fundador da linhagem$ % isto junta+se o fato " muito provável" da urbania!o ter se dado em conse#,-ncia das feiras #ue reuniam"no cruamento dos caminhos" várias faendas familiares isoladas no meio de seus campos$$$a feira representa" ent!o a contrapartida do fechamento da sociedade africana numa mirade de células independentes" pois permite através de suas redes entrelaadas uma comunica!o entre os grupos familiares=
9esta orma% "omo nos elu"idam Cerger e astide% a eira torna-se o lugar onde 4ortas e )anelas (de "omuni"ação se abrem entre os gru4os% se)am eles "lAni"os ou inter $tni"os# ,tra!$s das relaç&es de interde4endên"ia que são "riadas entre os di!ersos gru4os $tni"os ou "lAni"os na eira que% 4or sua !e2% a)udam a estruturar o sistema e"onNmi"o e de "omuni"ação da "i!ili2ação 'orubá% estes di!ersos "lãs e etnias que normalmente não se misturam% en*ergam nesta instituição sua "om4lementaridade% o que a2 da eira o "ontra4eso da guerra% "omo nos airma Cerger# B interessante notar que *u "omo o mito que $ o .enor do er"ado e do +amino e 4ortanto "ria a eira no imaginário dos Yorubás% assumindo assim a unção de "ontra4eso da guerra e distan"ia-se% desta orma% muito das unç&es de demNnio que na diás4ora a gre)a o tentou e tenta transormar#
35
sta eira "omo instituição% 4or outro lado% se4ara membros de am3lias e determina relaç&es de 4rodução segundo gênero ao dar a mobilidade 6 es4osa !endedora e torna o omem 4rodutor sedentário# ,l$m disso% as eiras tem grande im4ortAn"ia so"ial% 4ois $ o lugar onde o ei torna 4Jbli"as as de"is&es% as mães a4resentam seus re"$m nas"idos 6 so"iedade% onde a "omunidade toma "one"imento de no!idades de outras terras# , eira tamb$m $ a Jni"a !ia de "ontato entre di!ersos gru4os so"iais% al$m de ser "entro de inormação e diusão de not3"ias e de diusão de inluên"ias "ulturais e da moda#
#ue passam pelo mercado (
quando estabele"e o "ontato que 4ossibilita o "om$r"io e as "omuni"aç&es 36
Ele pode faer com #ue n!o se compre nem se venda nada no mercado até à noite ( quando interrom4e estas relaç&es de "omuni"ação e "om$r"io
@estes dois !ersos !emos a unção so"iol5gi"a do mito no sentido em que o sistema de "omuni"ação inluen"ia o sistema
e"onNmi"o e que terá
"onseqEên"ias na estrutura so"ial% 4ois "omo !imos anteriormente% $ da dinAmi"a do sistema de "omuni"ação que se dá no mer"ado )untamente "om as relaç&es "omer"iais estabele"idas entre os di!ersos agentes que 4or ali 4assam que 4odemos !erii"ar e entender muito da orma "om que esta so"iedade se estrutura em terras @agNs ( e 4orque não tamb$m na diás4ora# Dá no !erso de Oriki : Sua m!e o pariu na volta do mercado % !emos a relação intr3nse"a que *u tem "om esta instituição nagN e "omo não 4ode de orma alguma ser disso"iada da mesma# ndo um 4ou"o mais al$m da l5gi"a linear% ra"ional e "artesiana da "ultura o"idental% se% dentro da dinAmi"a dos Orikis% i2ermos a imagem da mãe que 4ariu de4ois que !oltou do mer"ado e a )usta4ormos e rela"ionarmos 6 imagem de que este se torna senor daqueles
que 4assam 4elo mer"ado e na
sequên"ia "onstruirmos a imagem do mer"ado o dia inteiro sem mo!imento % temos assim nesta sequên"ia de imagens que se )usta4&em "omo ideogramas uma ist5ria que tra2 em si um signii"ado simb5li"o no imaginário Yorubá % tal qual os ideogramas "ineses que isoladamente
têm signii"ados
em si
Outros !ersos de Orikis que lembram a unção 4edag5gi"a do mito
e se
mesmos ao se unirem ormam no!os signii"ados# rela"ionam ao mer"ado % 4odem ser: Ele compra sem pagar (em uma alusão aos que 4ode a"onte"er aos que não
les i2erem oerendas Ele vai com uma peneira comprar aeite no mercado ( em uma reerên"ia de
sua 4resença nos que 4assam 4elo mer"ado e das relaç&es que de!em ser estabele"idas "om estes omem muito pe#ueno #ue volta com eles do mercado á noite (em uma
reerên"ia 6 dinAmi"a que se dá% ou idealmente de!e se dar no mer"ado# ais uma !e2% "om4reendemos melor esta unção atra!$s das imagens que ormamos a 4artir destes !ersos em nosso imaginário e que )untos "om4&em um signii"ado que nos remete a esta unção 4edag5gi"a do mito de *u "omo senor do mer"ado# 37
&'u, O desafio 9 tradição e a (ubversão da Ordem .egundo alandier% as so"iedades tradi"ionais ari"anas são !istas 4or muitos antro45logos tradi"ionais e deterministas "omo sendo so"iedades que atra!$s de sua estrutura m3ti"a mant$m-se em ordem% so"iedades de "onsenso e "onormidade
que não 4ermitem
o questionamento de sua autoridade
estabele"ida# .e re4rodu2em ielmente a "ada geração sem !ariaç&es signii"ati!as em suas estruturas e que al$m de tudo isso se situam ora de qualquer 4ro"esso de istori"idade# +onormidade% "onsenso% re4etição e ine*istên"ia de 4ro"essos ist5ri"os são as "ara"ter3sti"as geralmente a"eitas 4or muitos antro45logos tradi"ionais e deterministas ao se reerirem 6s .o"iedades da Hri"a .ubsaariana# @ão 4odemos questionar que "omo as outras so"iedades subsaarianas% na 'orubá% os "on"eitos de senioridade e an"estralidade são "entrais% 4or$m isto não signii"a que estas so"iedades não
"om4ortem em si 4ro"essos e
dinAmi"as que !enam a desestabili2ar esta ordem e que não e*istam nestas so"iedades "onlitos de !alores e agentes que as "ontestem# alandier nos ala de F "ategorias de "ontestadores da autoridade nas so"iedades tradi"ionais subsaarianas e que são: Os ri!ais – que tentam transgredir as regras estabele"idas 4ara se a4oderar de um 4oder que les $ re"usado# +omo a e*em4lo dos "açulas que ao dis4utar 4or uma unção ou o3"io mono4oli2ado 4elos mais !elos tornam se transgressores em uma relação de ri!alidade# Os 4rodutores – que "ontestam e agem de orma a transgredir as regras estabele"idas quando as mesmas "riam grandes desigualdades na distribuição das rique2as que ameaçam o equil3brio so"ial# Os ino!adores e reormadores religiosos – que atra!$s da tentati!a de uma no!a relação "om o sagrado% transgridem os "ostumes religiosos !igentes em bus"a de uma transormação da so"iedade# Os eiti"eiros e eiti"eiras (sobretudo – na medida em que a eitiçaria re!ela-se uma orma de arontamento so"ial% onde ela 4ode ser a e*4ressão indireta da o4osição# O 4ro"esso de instituição de relaç&es que o4eram ao in!erso das relaç&es "ulturalmente 4res"ritas# la re4orta-se a uma ideologia que se maniesta "omo a "ontestação so"ial e o "aráter 4roblemáti"o da ordem estabele"ida# 38
sto 4ode nos a)udar a entender o 4orquê do 4ro"esso de
"ombate 6s
eiti"eiras% mesmo na Hri"a Yorubá no "aso da so"iedade de 'a mi Osorongá e na !isão dos missionários "ristãos euro4eus na Hri"a que ainda nos dias de o)e "ombatem e "açam os eti"es nas "asas dos ari"anos# Vuando en"ontramos a relação que o mito de *u tem "om o 4a4el de transgressor e "om o ato dele estar ligado 6 .e*ualidade% entendemos melor 4orque na diás4ora ele oi rela"ionado erroneamente "om o diabo 4ela gre)a +at5li"a que oi a mantenedora da ordem estabele"ida naquele momento#
Vuando o Oriki a2 a imagem : :Ele olha calmamente derramarem pimenta na vagina de sua sogra= quer nos "amar atenção 4ara que a relação de res4eito
que a senioridade im4&e está sendo desaiada atra!$s de uma imagem que igualmente de!e "ausar grande im4a"to no imaginário de quem ou!e e re"ita o !erso# Dá quando di2 : :Ele fa #ue a mulher do @ei n!o cubra a nude de seu corpo= % e GEle bate na mulher do rei com um porrete S#
9e qualquer orma os !ersos que a meu !er melor deinem *u "omo o Rrande enim= e G @ei na terra de Jetu G % aludindo a dois reinos ligados diretamente aos 'orubás# sso nos mostra que ao mesmo tem4o que este transgressor a2 o Gtorto endireitar S quando G @eforma >enimS % 4ode a2er o GO direito entortar S quando
or G @ei na 6erra de Jetu S% o que nos remete aos 4a4eis transormadores que tanto os administradores "omo os reormistas e transgressores 4odem desem4enar na estrutura so"ial e todas as outras in!ariantes segundo este ito#
Pepoimento Q #omo &'u transformou minha mãe em protestante como minha av%, e porque nunca abandonou meu pai" Rostaria de a4ro!eitar esta 4arte do te*to 4ara a2er um de4oimento# +reio que se)a im4ortante na medida em que normalmente 4ela maioria de nossas ontes serem euro4$ias% estudamos a Hri"a e os ari"anos assim "omo seus mitos% "omo se ossem um ob)eto de estudo de uma "ultura e*5ti"a que não nos di2 res4eito# sque"emos que 4odem estar 4resentes em nossa "onstituição de alguma orma e 4or isso aço este de4oimento% e ins4iro nas narrati!as que temos nos Odus de á nos tan á que tratam de ist5rias de itos% 9euses e an"estrais# Palo de ist5rias de meus an"estrais e sua relação "om este mito% e sem4re que 4uder e ti!er algo a di2er ao inal de um te*to assim o arei# Rostaria de alar de mina a!5 materna% que nas"eu no .ul de inas Rerais% negra e ila de um omem negro % que 4or sua !e2 oi neta de uma e*es"ra!a e ila de uma muler de 4ele "lara des"endente de "ristãos no!os e negros# /oderia tentar e*4li"ar a religiosidade de mina a!5 4or alguma teoria 40
de a* [eber% e que sua am3lia teria se tornado 4rotestante 4or ra2&es que a teoria e"onNmi"a de ormação de uma ,meri"a Latina "a4italista e*4li"a# as "omo quero re"riar um tan a teno que di2er que não ora outro senão *u que os e2 assim% 4ois ser /rotestante em inas Rerais naquela $4o"a em que todos eram "at5li"os% era ser um transgressor# eu bisa!N negro di2ia que não tina nada demais em "omer "arne na se*ta eira santa e que o que im4orta!a era a relação direta "om aquele que os "riara e não as 5rmulas e "ostumes so"iais# 9esta orma 4assou 4ara mina a!5 uma relação "om o sagrado dierente do senso "omum de onde !i!ia# ina bisa!5 "ega!a a se es"onder dentro de "asa quando os que tinam ome !inam le roubar as galinas no seu quintal 4ara que estes não se en!ergonassem do que esta!am a2endo% ao !ê-la% "omo ela mesma disse ao ser questionada 4elos !i2inos que não a entendiam# *u e2 de mina bisa!5 uma transgressora% 4ois a!ia ugido "om um omem negro que era ilo de uma e*-es"ra!a de seu 4ai% que ora "riado "om ela "omo irmão de "riação e a roubou ugindo 4ara outra "idade 4ra trabalar "omo un"ionário da estrada de erro e assim 4er"orrer os "aminos de *u (assim "omo ala um !erso de seu oriki # +om esses 4ais que ao serem 4rotestantes eram tão legitimamente 4rotestantes no es43rito das leis que Lutero i*ou nos muros% ao "ontestar os abusos da ordem !igente que "riou uma inquisição e esque"eu-se do 4r54rio "5digo moral##/osso airmar que *u tamb$m o quis a2er "ontestar 4ara a2er o G 6orto endireitar S# ina a!5 "asou-se "om um omem "at5li"o e te!e duas ilas% uma "omo sua mãe de 4ele bran"a que $ mina mãe e outra de 4ele negra que $ mina tia# *u e2 mina mãe abraçar a bandeira de ,ruanda )unto "om meu 4ai que oi tamb$m le!ado 4or Ogum 4ra Umbanda# ina a!5% "omo leg3tima 4rotestante 4or graça de *u e de seus an"estrais ari"anos i"ou muito eli2 ao saber que sua ila% atra!$s de seus guias a"onsela!a e "ura!a eridas gra!es dos que não "onseguiam orientação e "ura na so"iedade ormal# /ara ela que !iu meu bisa!N ser morto em embos"ada 4or não a"eitar 4assi!amente regras
e
"ostumes so"iais que 4ara ele não eram rele!antes% não 4odia !er na religião que erdou de meus bisa!5s moti!os 4ra segregar% dis"riminar% dei*ar de se inormar% ter qualquer orma de 4re"on"eito% ou a2er o mal em nome do bem e da ignorAn"ia ou de uma "ul4a que não era de seu 4o!o# la i"ou muito eli2% 4ois% "omo seus 4ais que abraçaram uma religião em nome da transormação 41
da so"iedade% sua ila a2ia magias "om o mesmo 4ro45sito e em uma $4o"a em que a so"iedade em nossa @ação era algo muito distante do que queriam os guias da @ação de ,ruanda# ,"o que ela lembrou tamb$m de seus an"estrais maternos% "ristãos no!os% que ao "egarem em inas tinam que ler a
"omo uma oerenda 4ra mina mãe O*um % ui tra3do 4or
sa"erdotes da religião dos guns que esque"eram que o "aráter ( >á $ mais do que dineiro ( o>o na religião e no "5digo moral de nossos an"estrais nagNs# ,lgo que muitos sa"erdotes ainda esque"em ou nem sabem# /or isso *u le!ou mina mãe á religião de seus an"estrais 4rotestantes% a2endo o direito entortar 4ara que 4re!ale"esse i>á ( o "aráter# Vuando ela !iu que na religião de seus an"estrais% seus 4r54rios 4rin"34ios mais sagrados eram "orrom4idos e O>5 (dineiro tamb$m era mais im4ortante que >á ("aráter e que 4ara isso usa!am a "ul4a da qual sua mãe nun"a a"eitou em nome de nenuma inter4retação do que le era sagrado desde que seus an"estrais da Hri"a em nome desta "ul4a oram 4ri!ados da liberdade% ela a abandonou "om a graça de *u em nome do "ulto aos nossos an"estrais do Oriente# nquanto aqui >á ( "aráter % or maior que O>o ( dineiro *u a manterá a3% "omo boa ila de QangN e Yansã que ela $ e sem4re será# 9e qualquer orma ela i"ou muito eli2 quando meu irmão mais !elo resol!eu abraçar a bandeira de ,ruanda que ela ainda ama e res4eita em nome de *u e Ogum# /or isso que guardou e "olo"ou na 4orta (que *u !igia os di2eres b3bli"os de seus an"estrais 4rotestantes que ouço na !o2 de *u G endito serás quando entrares e quando sa3resS % 4ois de 4$ na entrada está *u e atrás da dobradiça da 4orta está *u ostentando estes di2eres# ,ssim "omo meu 4ai% que mesmo quando quebrou em re!olta% na beira do mar e entregou a sua mãe Yeman)á todas suas estátuas de *u% na mesma desilusão que te!e ,braão quando quebrou seus 3dolos% ele aastou "om esta sua re!olta todas ormas dos Ori*ás de seu "amino% menos *u% que o seguiu em seus "aminos at$ 42
o inal da !ida neste ,i'e# Mo)e está muito eli2 no Orun 4or meu rmão mais !elo resol!eu seguir o "amado de Ogum e abraçar a bandeira de ,ruanda 4ra a4render a "urar eridas no "or4o e nas almas assim "omo ele e mina mãe a2iam quando nas"emos#
O 4ito de Ogum na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is # Ogun Ce remo# +onorme )á alamos no te*to sobre *u % quando Olorun quis "riar a Mumanidade % "riou 4rimeiramente quatro di!indades e a 4rimeira delas oi Ogum# le teria a unção de ensinar aos omens a "aça e as artes da or)a e da guerra% assim "omo tudo o que osse relati!o 6 sua sobre!i!ên"ia no ,i'e# alandier se reere a Ru% o 9eus da Ruerra dos Pon igualmente "omo um "i!ili2ador# B interessante obser!ar que% ao "ontrário da maioria das bases mitol5gi"as o"identais% Ogum "omo deus da Ruerra% dentre os Yorubás tamb$m assume 4a4el de "i!ili2ador% o que e!iden"ia "laramente que a orma de lidar e os "onlitos "om outras etnias e "lãs tamb$m a2% 4ara os Yorubás% 4arte do 4ro"esso de "i!ili2ação de orma muito intensa# +ontudo% "omo 4oderemos obser!ar atra!$s de seus Orikis% al$m da guerra% Ogum tamb$m $ im4ortante em outros 4ro"essos que "onstituem a "i!ili2ação Yorubá#
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Ogum e a 4orte" @ão raro nos Orikis de Ogum !emos em seus del3rios sanguinários sua relação "om a morte e "om4reendemos melor quando !emos Odu O'eku e)i 4or que e*iste esta relação:
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*eus) é o Anico #ue sabe o #ue cada uma das divindades probe$ Ent!o aconselhou aos homens #ue preparassem pur- de inhame ou inhame pilado e adicionar pe#uenos sei.os$ 6ambém aconselhou a colocar um frango vivo na casa de E.u e n!o matá+lo$ 7uando a morte se apro.ima de onde estavam os homens" Orunmilá os aconselhou a comer o inhame esmagado" no #ual eles colocaram as pedrinhas$ Eles também deveriam amarrar o frango na entrada da casa de E.u e n!o matá+lo$ 7uando a morte se apro.ima de onde se encontravam os homens para lanar mais um de seus ata#ues encontrou os as pedrinhas #ue estavam em suas refei5es$ /rovando das cabaas o #ue os homens estavam comendo e n!o podendo mastigar" pensou #ue a#ueles #ue 2omiam coisas t!o duras deviam ser aterradoras criaturas capaes de lutar #uando provocadas$ Embora meditasse sobre o pr&.imo passo #ue daria " a morte ao ver o frango vivo na frente da casa de E.u bradou seu grito (ku Fee) $%o ouvir o grito do frango a morte fugiu" pois era proibida de escutar o grito do frango$ % morte" em seguida" dei.ou os homens em pa e eles agradeceram a Orunmilá por ter lhes mostrado seu segredo$ 3oi a partir desta data #ue a morte descobriu outras formas de atingir os homens$ *esde ent!o a morte n!o pode mais matar o homem diretamente" por#ue passou a ter medo$ /assando a apoiar+se em seus irm!os mais agressivos como Ogum" divindade do ferro #ue mata por acidentes mortais (e pela guerra)" por HangG (*eus do trov!o) #ue mata por fogo e rel4mpago" Obaluai9e #ue mata por epidemias como varola e todo tipo de doenas< a divindade da noite #ue mata através de feitio" etc$ 7uando estas deidades se mostram lentas na busca de alimentos" o rei da morte utilia doena" sua esposa para encontrar comida para sua famlia$ Isto aconteceu ap&s o homem descobrir o segredo de como assustar até mesmo a morte de #uem era presa$ /or isso #uando aparece O9eku Beji na divina!o para a pessoa" podemos dier #ue a morte a persegue" mas deve faer um sacrifcio para E.u com pur- de inhame misturando sal e aeite de dend- carregados com sei.os" e um frango vivo deve ser preso ao santuário de E.u para assustar a morte$=
+onorme 4odemos 4er"eber "laramente no Odu a"ima% a relação que os 'orubás têm "om a orte $ "omo algo ine*orá!el# 9esta"o de que o ato de ela dei*ar de ata"ar diretamente os omens 4ara 4assar a agir atra!$s dos Ori*ás (Ogum% QangN e Obaluai'e s5 4ode se rela"ionar "om a orma de e!itá-la ou
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adiá-la% a 4artir do "one"imento dos dom3nios do ito em questão% "omo sugere o Odu# 9a mesma orma que% no "aso de Ogum% o a"idente ou a guerra 4odem matar o "one"imento dos segredos do ito de Ogum e at$ mesmo a orma de e!o"á-lo 4odem% no imaginário dos Yorubás% e!itar que a morte les !ena 4elas mãos de Ogum (a"identes ou guerras# Cemos "laramente a orma "omo esta morte 4ode agir nos !ersos de oriki: Ele mata o marido no fogo" Ele mata a mulher no lar % Ele mata as pessoas #ue fogem para fora
Cale a 4ena lembrar mais uma !e2 aqui que o Oriki $ antes de tudo uma )usta4osição de imagens que tem o ob)eti!o de e!o"ar o es43rito de seu ob)eto% 4or isso as imagens relati!as 6 morte nos Orikis de Ogum de!em ser ortes e "ausar antes de tudo im4a"to nos que 4ronun"iam os !ersos% )ustii"ando os del3rios sanguinários do .enor da Ruerra quando !emos os !ersos de Oriki# Senhor de Ire" bebe sangue" 6endo água em casa ele se lava com sangue$ 6raendo água ele mata sete pessoas #
O oriki assume sua unção "i!ili2at5ria mais e!identemente quando nos a!isa de 4erigos rela"ionados 6 morte e Ogum% "omo no "aso: Ogum a2 a "riança matar-se "om o erro (que ela brin"a# Ou então: Ogum é o Ori.á #ue mata as pessoas" a#uele #ue ofende o caador" ofende Ogum (o que ele!a o !alor do o3"io dos "açadores dentre os demais o3"ios
entre os Yorubás Outro ator a se ressaltar no que se reere 6 morte e Ogum $ que esta $ ine*orá!el a todos os omens inde4endente de sua 4osição na so"iedade% "omo nos ala o Odu e !emos isto "laramente nos !ersos de Oriki: Ele mata a es#uerda e destr&i a es#uerda Ele mata a direita e destr&i á direita Ogum n!o poupa ninguém Ele mata sem falar com ninguém" Ele mata o ladr!o e mata o dono da coisa roubada" Ele mata o dono da coisa roubada e mata #uem criticou esta a!o 46
Ele mata sem ra!o na cidade$
Outros !ersos que nos mostram "laramente a questão "i!ili2at5ria na relação "om a morte% $ quando o Oriki de Ogum nos ala% 4or e*em4lo de "5digos de se4ultamentos e "ondena a !enda de "or4os 4ara o uso em eitiçaria# Vuando ala: Ele mata sem vender o corpo de #uem #uer #ue seja"
Ou quando ala dos "5digos de tratar os "or4os em situação de guerra Ele mata sem levar o corpo (para vender) m morto balana a cabea no ombro de #uem o carrega
@este ultimo !erso reorça a ne"essidade de não abandonar "or4os em "am4os de batala "onstruindo uma imagem orte que no imaginário deste 4o!o terá muito mais eeito do que uma sentença% e que 4or ser imagem sugere 4or si mesma o que de!e ser eito "om os "or4os dos mortos# +ontudo a relação de Ogum "om a morte não $ somente nesta questão# Ogum tamb$m 4ode sal!ar da morte% )ustamente 4or estar intimamente ligado a ela# Cemos isto "laramente nos !ersos: Ogum salva a#ueles #ue est!o na imin-ncia de morrer" Se Ogum curou as pessoas" elas n!o morrem"
,ntes de "on"luir a questão que rela"iona Ogum e a orte% !ou mais al$m% e 4osso mesmo airmar que todas estas imagens% quando a rela"ionamos "om o tre"o do Odu O'eku e)i que nos ala da inteligên"ia que nos $ dada 4ara e!itar a morte% ser!em 4ara que este 4o!o 4ossa estabele"er atra!$s de Ogum o 4a4el que o 4r54rio medo da morte (ine*orá!el de!e desem4enar 4ara que se e!ite a mesma# Ogum un"ionando "omo a igura daquele que 4ode matar a quem quer que se)a% a2 "om que ao ser in!o"ado% 4ossa at$ mesmo e!itar esta morte 4rematura# sto se torna muito im4ortante em uma so"iedade onde aquele que morre antes dos 4ais (abiku $ "onsiderado at$ mesmo "omo um transgressor moral e da ordem natural e "osmol5gi"a# sta unção de "riador do medo da morte (que 4ode at$ mesmo a2er "om que os omens e!item ou 4ensem antes de tra!ar guerras e dis4utas$ ne"essária 4ara que mortes 4rematuras se)am e!itadas# sto $ bem e!idente no !erso de Oriki: Ele mata para meter medo no homem$ 47
,qui sua unção no imaginário "oleti!o i"a bem "lara# /ara "on"luir "om o 4a4el ine*orá!el da morte "omo "onseqEên"ia da ne"essidade de reno!ação da so"iedade (que Ogum tamb$m re4resenta e que em um 4o!o tradi"ional "omo o 'orubá% no "onte*to das so"iedades subsaarianas% torna-se ine!itá!el no 4ro"esso natural de su"essão das linagens% 4odemos "om4reender o que re4resenta o !erso de Oriki: Ele mata para #ue o %lase (dono do %.é) diga" %ssim Seja (%.é) #
/ortanto a morte% (sobretudo não 4rematura% $ um 4ro"esso natural na transormação das so"iedades 'orubás# Ogum $ a4enas um dos mitos que regulam a relação dos omens "om esta morte e "onseqEentemente 4ro"essos de transormação que um mito "i!ili2ador 4ode desem4enar neste "onte*to# O que nos remete diretamente a estrutura so"ial das linagens# , morte que Ogum a2 "om que a"eitemos não $ senão a 4assagem que 4ermite que os an"iãos se transormem em ante4assados% 4ortanto% sendo assim um 4ro"esso natural que regula as relaç&es e estrutura so"ial% o que não quer di2er que se)a 4or isso dese)ada% sobretudo de orma 4rematura# /er"ebemos isto )ustamente 4elo du4lo 4a4el que assume tanto "omo o que redime as 4essoas "om a morte "omo 4ode re4resentar a 4roteção "ontra a morte 4rematura# ;- Ogum% a sobre!i!ên"ia% os o3"ios e a "i!ili2ação# +omo o ito "riado 4ara ensinar aos omens a !i!er na terra% e assim assumir a unção de "i!ili2ador% não $ outro senão Ogum que $ o res4onsá!el 4elos o3"ios bási"os dentre os 'orubás assim "omo está ligado ao "on"eito de sobre!i!ên"ia e dessa orma delineia "ertos as4e"tos "entrais dentro da "i!ili2ação 'orubá# B muito "lara sua ligação "om o instinto de sobre!i!ên"ia quando ou!imos e a2emos as imagens dos seguintes !ersos de Oriki: Ele cultiva a roa #ue seu dono n!o cultiva" Ele di à pessoa doente #ue se ela morrer tomar!o sua roa$ Ogum senhor do mundo apoio do recém nascido 1!o aceito #ue Ogum venha em v!o Ogum graas a voc- podemos vender os produtos da roa e da caa Ogum é toda folha 48
Ogum é toda rai
@estes dois Jltimos !ersos temos uma alusão unç&es "entrais das olas e ra32es desde os 4er3odos 4redominantes de "aça e "oleta% nas "i!ili2aç&es subsaarianas% na qual o mito de Ogum se re4resenta "omo "i!ili2ador e o instinto de sobre!i!ên"ia% mostrando aqui a unção 4edag5gi"a do mito# Dá nos !ersos a seguir temos uma "lara identii"ação do mito "om o senso de auto-4reser!ação de unç&es !itais que se rela"ionam diretamente "om a sobre!i!ên"ia e mostram igualmente sua unção 4edag5gi"a# Ogum n!o me fira no pé" Ogum" n!o me fira na m!o Ogum" n!o feche os caminhos para mim Ogum n!o me d- mau sono Ogum" n!o se#ue minha m!o (#ue eu possa trabalhar e n!o seja pobre) 1!o é agradável ter sua casa #ueimada$ O caminho do campo é perigoso Se adoramos o Ori.á Sempre teremos dinheiro Sempre teremos filhos (o que $ essen"ial em uma so"iedade que se re4rodu2
atra!$s de linagens 1ossos filhinhos n!o ir!o morrer 1&s ficaremos em pé para o Ori.á Se virmos Ogum o #ue lhe pediremosK /ediremos+lhe tudo$ 1!o sabemos arrancar o olho ao menos #ue ele seja inutiliado$
,inda ligado a sobre!i!ên"ia e a um "5digo de "om4ortamento ligado a ela% o mito assume% atra!$s de 4ro!$rbios% sua unção 4edag5gi"a mais "laramente% "omo no "aso dos !ersos de oriki: 1!o enganem um ao outro como o astucioso 1!o sabemos o #ue o dia de amanh! nos reserva$ Ignoramos o #ue acontecerá amanh! 1!o sabemos se Ogum nos aceitará
Dá se rela"ionando aos o3"ios% Ogum está "laramente ligado 6 suas "riaç&es# .obretudo aos o3"ios bási"os que ormam a so"iedade 'orubá ini"ialmente e 49
aqueles que se rela"ionam "om a e!olução te"nol5gi"a e o sistema te"nol5gi"o% mostrando "laramente sua unção so"iol5gi"a# Cemos nos !ersos de Oriki abai*o e*em4los% "omo: Ogum abra+me caminho para ir à roa" O ferreiro se beneficiará mais no mercado do #ue a#uele #ue trabalha na roa Ogum" ferreiro do céu Ogum é a en.ada #ue abre a terra O general n!o fica no mato L no mato #ue Ogum permanece
@estes e*em4los !emos in"lusi!e que se delineiam dierentes graus de im4ortAn"ia e at$ mesmo uma ierarquia entre os o3"ios de agri"ultor% erreiro e "omandante de armas# .imboli2a tamb$m a 4assagem do 4er3odo de "aça e "oleta 4ara o de agri"ultura e tamb$m 4osteriormente o 4er3odo no qual se ini"ia a !ida urbana (quando se reere ao erreiro no mer"ado% que $ o es4aço a 4artir do qual as aglomeraç&es urbanas se "onsolidaram dentre os 'orubás# Cemos assim os três 4er3odos e sua e!olução assim "omo 4rimeiros o3"ios surgirem a 4artir do mito de Ogum o que "onsolida sua unção so"iol5gi"a quando legitima a "riação de "or4os so"iais de erreiros% "açadores% agri"ultores% "ees de armas na "i!ili2ação Yorubá# .ua unção 4edag5gi"a $ igualmente "onsolidada dentro destes "or4os so"iais quando les sugerem "om4ortamentos e delimitam seu es4aço 4elo o que !emos nos !ersos de Oriki a"ima# Outros 4ontos im4ortantes ligados 6 "i!ili2ação 'orubá em si mesma 4odem ser 4er"ebidas nos seguintes !ersos de Oriki: Segredo #ue fa o /as
Vuando alude 6 4r54ria origem do an"estral m3ti"o que det$m o segredo que orma a nação Yorubá% que se en"ontra "om os an"estrais Ogum" dono da casa do dinheiro
Cerso que ala da organi2ação monetária do 4a3s em questão% e mostra que não oi "om a "egada de euro4eus que se ini"ia esta organi2ação Ogum circuncida o menino e e.cisa a menina$ Ogum dono do homem" dono da mulher
Cersos que aludem aos ritos de 4assagem tanto 4ara omens e muleres os quais 4or de4enderem de ob)etos "ortantes% são de dom3nio de Ogum o que o 50
liga simboli"amente "om sua unção na estrutura so"ial e nas relaç&es de gênero nas di!ersas situaç&es em que se a2em im4ortantes 4ara os 'orubás# 0eopardo #ue vende um saco de ráfia" #ue o compra e #ue ajusta seu preo$
,inda se rela"ionando "om a unção de regulador e "i!ili2ador% em menor grau mostra "omo estas unç&es têm seus as4e"tos no "om$r"io# Ele nos pGs no mundo # Ori.á Onile (senhor da 6erra) #ue possui a terra" Inclino+me Ele pode abenoar alguém 1!o matamos a cabra para comer 1!o matamos o carneiro para com-+lo 2ina dos mortos venham comer massa de inhame
ela"ionando-se "om a lenda da "riação que torna de Ogum o "i!ili2ador o que $ reairmado na titulação de Ogum "omo Ori*á Onile (que estudaremos mais atentamente nos ori*ás ligados 6 terra% que $ o .enor da a# 9essa orma% o mito se rela"iona "om as origens do "ulto de Onile que deine% 4or sua !e2 e entre outras "oisas% a noção de 4erten"imento a uma terra e "omo de!em se dar as relaç&es "om esta terra% a 4artir do "ulto dos mitos Onile#
Ogum, a virilidade e a se'ualidade masculina"
9essa orma% !emos nesta !irilidade de Ogum% ao a2ermos as imagens os elementos que )ustii"am no imaginário dos 'orubás% na 4resença áli"a deste mito a igura do mantenedor da ordem "omo normalmente são !istos os mitos ligados 6 se*ualidade mas"ulina em "ontra4osição ao que 4redomina nos mitos emininos% segundo nos ala alandier# 51
Cersos que tamb$m resgatam a questão do medo que este mito im4&e% sobretudo aos transgressores da ordem#
Ogum e a tecnologia" Ogum re4resenta% al$m dos o3"ios% a te"nologia que 4ossibilita a manutenção e a e!olução destes o3"ios# "omo te"nologia re4resenta 4rimeiramente as estradas e o senor destas estradas# B "lara esta relação no !erso de Oriki: Ogum é o pai do transeunte # (se i2ermos a imagem "omo de!emos nos 4ortar
em relação a esse gênero da oralidade 'orubá% isso se e!iden"ia ainda mais#
+olo"a-se aqui o erreiro "omo um dos res4onsá!eis 4elo 4rogresso te"nol5gi"o% ao qual de!e sua legitimação de 4a4el so"ial ao mito de Ogum# Cemos "laramente a e!olução da te"nologia e da unção do erreiro desde a or)a da en*ada at$ a do u2il% o que e!iden"ia Ogum "omo o mito que 4rodu2 esta e!olução# 9a mesma orma que as ino!aç&es te"nol5gi"as são 4artes da e!olução da so"iedade% os o3"ios que re"orrem aos erreiros (no "aso dos 'orubás tamb$m o são e têm grande im4ortAn"ia neste 4ro"esso "omo um todo# 52
/odemos 4er"eber "omo isto un"iona "laramente no imaginário dos 'orubás e "omo o mito de Ogum se rela"iona "om isto quando "on"reti2amos os !ersos de Oriki: Ogum dos barbeiros" come pelo das pessoas" Ogum dos tatuadores" bebe sangue" Ogum dos aougueiros" come carne$
Ogum e a Auerra # +omo 9eus da Ruerra% Ogum traça em seus orikis um "5digo de "onduta que 4ode ser 4er"ebido nos seguintes !ersos: % espada n!o conhece o pescoo do ferreiro
ostrando que os erreiros 4or serem 4rodutores de armas não de!em ser guerreiros% 4or uma questão estrat$gi"a# ste "5digo de "onduta tamb$m $ 4er"ebido nos !ersos: 2hefe do ferro" homem ferreiro Ogum combate com fora % divers!o de Ogum é a batalha e a briga Ogum mete muito medo no dia em #ue se encoleria e #ue combate #
#onclusão# orte% Ruerra% +i!ili2ação e .obre!i!ên"ia% O3"ios% Cirilidade%
4elo desen!ol!imento te"nol5gi"o da umanidadeK a !irilidade "omo legitimadora da manutenção da ordem que det$m em si mesmo o elemento que transorma e reestrutura a so"iedade atra!$s da Ruerra# .e !irmos desta orma somente e não "onsiderarmos o mito anterior de *u "omo "om4lementar neste 4ro"esso de transormação 4odemos estar su)eitos a uma !isão totalmente 4ar"ial e a uma !ersão Jni"a de uma "i!ili2ação# /er"ebemos que estas "oisas que em Ogum estão ligadas le!am a um 4ro"esso de transormação% mas que 4elo mito de Ogum estar ligado 6 morte e 6 guerra le!a ine!ita!elmente 6 auto-destruição% ou ao menos a 4ro"essos de reno!ação atra!$s da destruição 4ar"ial da so"iedade# +laramente entendemos isto quando rela"ionamos o Ogum da
ser o bem% sem 4erder o 3m4eto transormador que nos "ondu2 6 e!olução de nossas so"iedades# Ogun 'e remo# Osunemi (!an /oli
O 4ito de O'ossi na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is ,ntes de introdu2ir os "omentários sobre alguns !ersos de Orikis de O*ossi $ im4ortante ressaltar que o 4anteão dos Ori*ás tal qual o "one"emos% $ algo muito mais da diás4ora do que da tradição 4uramente ari"ana# @ormalmente na região Yorubá% tradi"ionalmente são "ultuados os Ori*ás rela"ionados "om o er5i m3ti"o da "idade% ou a di!indade da "idade e os que a ela de alguma orma se rela"ionam% o que dá em torno de uma m$dia de seis ou sete ori*ás mais 4resentemente mar"ados em "ada "idade# Outro ator que não 4odemos esque"er $ que muitas di!indades que desem4ena!am 4a4eis similares nas dierentes "idades 'orubás% mais% daomeneanas% )e)es% ta4a% baribá% a"abaram se undindo em um s5 mito na diás4ora% )á que na 4r54ria Hri"a tro"a!am "ara"ter3sti"as# ,qui geralmente 4re!ale"e a di!indade tal qual os 'orubás denomina!am% mas isso não quer di2er que não á inluên"ia de outras di!indades de outros 4o!os !i2inos% aos 'orubás
na "onstrução desses mitos que temos "omo sendo totalmente
'orubás na diás4ora# O 4r54rio "aráter de a"ulturação muito orte em tradiç&es subsaarianas benei"ia este enNmeno no "aso na região de toda "amada "osta da Ruin$% que $ nosso o"o em se tratando dos 'orubás# Ceremos isso mais a"uradamente ao tratarmos de outros mitos% assim "omo !imos ra4idamente no te*to GO que são OrikisS no tre"o que trata de Orikis de Ori*ás# sso tudo 4ara di2er que o mito que "one"emos "omo O*ossi na diás4ora tem elementos de mitos "omo o daomeneano de ,ge (senor da "aça e rinl$ (deus da "aça de região Yorubá# O*ossi $ "one"ido "omo sendo um rei m3ti"o do Tetu% que "omentarei mais quando or alar de seu 4a4el na ist5ria deste reino Yorubá quando su4ostamente desem4enou as unç&es de ,laketu# ssa unção o torna muito im4ortante no que "one"emos na diás4ora "omo a nação do Tetu (4ois naç&es "omo "one"emos se reerem ao 55
"andombl$% que 4or sua 4r54ria nature2a $ uma religião nas"ida na diás4ora e não $ uma "54ia iel ao que "amamos de ile-orisa da Hri"a Yorubá% ou mesmo o "ulto dos Coduns do 9aom$% onde não e*istem naç&es e nem deram ne"essariamente origem direta 6s naç&es do "andombl$ da diás4ora% "omo nos e!iden"ia .alami em suas aulas# +ontudo tamb$m á o)e uma !ia de mão du4la entre as tradiç&es da ,m$ri"a e da Hri"a% e muito graças 6 unção de O*ossi na diás4ora% ele se torna "one"ido e gana orça de "ulto em "idades ari"anas 'orubás onde normalmente% não osse 4or isso% não de!eria ser "ultuado ou lembrado# Rraças a seu 4a4el na diás4ora ele $ lembrado em "idades e regi&es que tem seus mitos da "aça% "omo me e!iden"iam meus "orres4ondentes ari"anos que me orne"em material de 4esquisa% ao se reerirem a O*ossi (OsoosiK isso mostra que este 4ro"esso de a"ulturação o"orre tamb$m% de modo não tão intenso% e em mão du4la% sobretudo 4or se tratarem de 4essoas de outras "idades 'orubás distantes da inluên"ia "ultural do Tetu#
7 D O'ossi, rei do Hetu e (enhor dos #açadores 9uas 4equenas lendas que e*traio da memorá!el "oletAnea de /randi% itologia dos Ori*ás sinteti2am bem este 4a4el% , 4rimeira trata de um as4e"to im4ortante sobretudo na diás4ora onde O*ossi $ "açador e nos dá "onta de "omo o ito de Ogum ( res4onsá!el 4ela sobre!i!ên"ia%e na maioria das "idades 'orubás senor da "aça% 4or ter ensinado ao omem "omo "açar transere este 4a4el 4ara seu irmão O*ossi# O.ossi é irm!o de Ogum Ogum tem pelo irm!o afeto especial$ 1um dia em #ue voltava da batalha" Ogum encontrou o irm!o temeroso e sem rea!o" 2ercado de inimigos #ue já haviam destrudo #uase toda a aldeia E #ue estavam prestes a atingir sua famlia e tomar suas terras Ogum vinha cansado de outra guerra" Bas ficou irado e sedento de vingana$ /rocurou dentro de si mais foras para continuar lutando E partiu na dire!o de inimigos$ 2om sua espada de ferro pelejou até o amanhecer$ 7uando por fim venceu os invasores"
56
Sentou+se com o irm!o e o tran#,iliou com sua prote!o$ Sempre #ue houvesse necessidade Ele iria até seu encontro para au.iliá+lo$ Ogum ent!o ensinou O.ossi a caar$ % abrir caminhos pela floresta e matas cerradas O.ossi aprendeu com o irm!o a nobre arte da caa" Sem a #ual a vida é muito mais difcil" Ogum ensinou a O.ossi a cuidar de sua gente$ %gora Ogum podia voltar tran#,ilo para a guerra Ogum fe de O.ossi o provedor O.ossi é irm!o de Ogum Ogum é o grande guerreiro O.ossi é o grande caador$
sta lenda e*4li"a assim a atribuição do 4a4el de "açador a O*ossi% sobretudo na diás4ora onde "on!i!e "om o mito de Ogum (que na maior 4arte das "idades ari"anas 'orubás $ tamb$m o "açador al$m do guerreiro# Outra lenda im4ortante a se "itar% dentro da "oletAnea de /randi $ a que atribui a Orunmilá a "oroação de O*ossi "omo ,laketu% que 4ro!a!elmente 4elo sim4les ato de "itar Orunmilá de!e ter origem na !ersão de algum ese á% ou tan á de algum dos 8IX Odus do "or4us dos Odus de á# O.ossi ganha de Orunmilá a cidade do Jetu 2erto dia" Orunmilá precisava de um pássaro raro /ara faer um feitio de O.um$ Ogum e O.ossi saram em busca da ave pela mata adentro" 1ada encontrando por dias seguidos$ ma manh!" porém" restando+lhes apenas um dia para o feitio" O.ossi deparou com a ave e percebeu #ue s& lhe restava uma Anica flecha Birou com precis!o e a atingiu$ 7uando voltou para a aldeia" Orunmilá estava encantado e agradecido com o feito do filho" Sua determina!o e coragem$ Ofereceu+lhe a cidade do Jetu para governar até sua morte 3aendo dele o Ori.á da caa e das florestas$
elembrando as unç&es do mito segundo +am4bell e rela"ionando "om o 4a4el de O*ossi tanto na diás4ora quanto na região onde seu mito tem maior inluên"ia na Hri"a% !emos que a unção m3sti"a tal!e2 tena suas 57
4arti"ularidades em "ada um dos "asos% mas se a4ro*imem de alguma orma# , unção +osmol5gi"a que tem na diás4ora% algumas !e2es $ a que Ogum tem na maior 4arte do undo Yorubá onde O*ossi não $ "one"ido 4o4ularmente% o que le atribui 4a4el Jni"o e de maior im4ortAn"ia na diás4ora no "onte*to do 4anteão de mitos que nossas sen2alas "riaram% a 4artir dos mitos undadores de "idades de onde !inam os ari"anos da "osta da Ruin$ na $4o"a "olonial# ,4esar disso% sua unção so"iol5gi"a% na Hri"a% sobretudo no "onte*to do Tetu e região $ muito mais im4ortante do que na diás4ora% 4ois seu "ulto "omo di!indade de "idade delinea!a toda uma estrutura de "or4o so"ial que o rela"iona "om o 4oder do ,laketu# sso não ne"essariamente o"orre na diás4ora "om a mesma intensidade% se restringirmos o seu 4a4el so"iol5gi"o 6 "riação do "or4o so"ial de sa"erdotes da nação de "andombl$ do Tetu o que não se a4ro*ima nem de longe do signii"ado da "onsolidação de 4oder e tradição de um reino ari"ano "omo o Tetu% a4esar da inluên"ia que esta estrutura da reale2a .agrada ,ri"ana 4ossa ter tra2ido 6 estrutura do "or4o so"ial de sa"erdotes da @ação do +andombl$ que "one"emos na diás4ora# sse $ um moti!o 4elo qual de!emos nos ater a seus Orikis 4ara entendê-lo melor neste "onte*to so"iol5gi"o na Hri"a e não nos "ontentarmos "om suas lendas 4ara de"odii"ação deste mito# Outro ator que torna ne"essária a inter4retação de seus orikis $ este mito em sua unção 4edag5gi"a% 4ois na diás4ora temos o desen!ol!imento deste mito em uma realidade urbana muito dierente da ari"ana# sta realidade ari"ana a2 "om que a unção 4edag5gi"a do mito de O*ossi tena unç&es mar"adamente mais 4ragmáti"as e menos simb5li"as na Hri"a e o in!erso disso na diás4ora#
Ori@is de O'ossi, os c%digos de caça e a import!ncia das linhagens para os caçadores" /ara entender melor os "5digos dos "açadores de!emos nos a4ro*imar dos gêneros literários 'orubás do )ala e remo)e que são 4or sua !e2 os "antos e 4oemas de gl5ria e lamento dos "açadores# .ão grandes 4oemas $4i"os que tratam de todos os as4e"tos das !idas destas 4ersonagens undamentais no "onte*to da so"iedade 'orubá% onde em muitos reinos% não raro% desem4enam tamb$m um 4a4el 4ol3ti"o im4ortante nos "onselos# ste 4a4el torna ainda mais im4ortante e rele!ante o estudo dos remo)e e )ala# 58
as imagens deste !erso temos "laramente a unção do )ogo de Ordem e transgressão da Ordem 4resentes nos mitos dos Ori*ás ,laketu (*u e O*ossi# @o "aso temos o triuno da Ordem sob a sub!ersão da mesma% 4or estarmos alando de O*ossi% que re4resenta a Ordem neste "onte*to dos Ori*ás ,laketu (assim "omo seu 4r54rio instrumento% que $ o ar"o% re4resenta simboli"amente% 4or a4ontar a direção a seguir% em "ontraste ao 4orrete de 59
*u% que destr5i o que se estabele"eu# @estes !ersos temos simboli"amente que o ob)eti!o "omum de um gru4o (de agri"ultores e "açadores no "aso de!e ser adotado 4or "ada um "omo um ob)eti!o indi!idual% 4ois somente se o ob)eti!o "omum or tomado "om a de!ida im4ortAn"ia 4or "ada um dos integrantes% o gru4o en"ontrará su"esso em sua em4reitada# stes !ersos "onstroem a imagem do omem que toma este ob)eti!o "oleti!o "omo um ob)eti!o indi!idual que se rela"iona "om a 4r54ria sobre!i!ên"ia# sto nos a2 entender mais sobre a unção 4edag5gi"a que este mito assume entre esse 4o!o atra!$s da "onstrução deste "5digo de "açadores% (e agri"ultores em outra ase "onseqEentemente 4osterior ao 4er3odo de "aça e "oleta na qual esse mito tamb$m se enquadra no "5digo de sobre!i!ên"ia# /odemos assim !erii"ar o quão im4ortante $ esse mito neste "5digo que ao mesmo tem4o legitima a im4ortAn"ia da "riação de um "or4o so"ial (de "açadores% e delineia "om4ortamentos a"eitá!eis 4ara o trabalo em gru4o (em sua unção 4edag5gi"a e o sentido de Ordem que esse Ori*á ,laketu tra2 em seu signii"ado# Outros !ersos de Orikis de Osoosi que nos remetem a seu sentido 4ragmáti"o rela"ionado 6 sobre!i!ên"ia e e!iden"iam o as4e"to 4edag5gi"o do mito são: :O proprietário da casa conhece o lugar onde a superfcie da terra é seca S e
tamb$m S % erva é boa no lugar altoS # O 4ro4rietário da "asa se reere diretamente a Osoosi "omo Ori*á Onile (que !eremos mais a rente em detales quando ormos estudar Obaluai'e% e que dá o sentido ao que irma suas bases em um lo"al que será sua morada e "ria o 4r54rio sentido de 4átria# sso mostra a ne"essidade de se "one"er o lo"al que irá !i!er e saber o quanto seguro ele $% "omo tamb$m na 4rá*is deste 4o!o saber onde $ Sboa a ervaS 4ode re4resentar e!itar se en!enenar ou não# (assim "omo na 4rá*is dos
squim5s saber a dierença dos di!ersos ti4os de ne!e que se e*4ressam "om nomes dierentes 4ode signii"ar !i!er ou morrer# ,mbos os "asos mostram em situaç&es 4ragmáti"as que as imagens dos !ersos de Oriki ormam o mito em sua unção 4edag5gi"a# ,qui en"ontramos tamb$m o sistema uma semente do sistema de ra"ionalidade deste 4o!o# /ara 4rosseguir dentro das di!ersas unç&es que ormam a grande unção "i!ili2at5ria de um ito de Ori*á% !emos no !erso de Oriki de Osoosi G 7uando alguém n!o tem famlia" ninguém chora sua morte=" a im4ortAn"ia das 60
linagens nos "5digos de "açadores% o que não somente 4ara os 'orubás% mas tamb$m 4ara a maioria das "i!ili2aç&es subsaarianas% assume grande im4ortAn"ia# ,qui a unção so"iol5gi"a está 4resente de orma muito intensa# /ois sugere a 4r54ria "onstituição de uma "$lula so"ial ("omo a am3lia "omo ritualisti"amente undamental no momento da morte# sso simboli2a em si a ne"essidade de dar "ontinuidade 6 so"iedade atra!$s da ormação da am3lia% a im4ortAn"ia de a2er 4arte de uma linagem em um "onte*to so"ial ("omo da maior 4arte das so"iedades subsaarianas# m outra dimensão% alude 6 4r54ria sobre!i!ên"ia das so"iedades a 4artir das linagens que as ormam% e 4elas quais se organi2am# 9emonstra que ora desta estrutura de linagens não á a tradição que mantena !i!o o es43rito daquela "oleti!idade% e não á es4aço 4ara que se desen!ol!a um "or4o so"ial que 4ossa ser des!in"ulado desta estrutura# sso% em Jltima instAn"ia% 4ode a)udar a e*4li"ar muito da estrutura so"ial e in"lusi!e a es"ra!idão dom$sti"a em determinadas so"iedades subsaarianas (o que será tema mais detaladamente dis"utido de outro te*to% e 4resente em outros te*tos de mitos de Ori*ás# @este as4e"to o mito !ai al$m das estruturas so"iais dos 4er3odos de "aça e "oleta e agr3"ola e se a4li"a tamb$m ao "onte*to da urbani2ação% que mante!e sua estrutura igualmente nas linagens que se estrutura!am nestes 4er3odos anteriores nos quais este mito tem suas unç&es mais m ais "laramente mar"adas# /ara "on"luir% !emos no !erso de Oriki de Osoosi: :O alforje está ao nosso lado como um amigo sincero=" algo que tamb$m está muito 4resente nos )ala e
remo)e% e que rela"ionam diretamente o ito de O*ossi "om o o3"io de "açador% e não dei*a dJ!idas desta sua relação "om seu "5digo% "onorme !isto% "omo sendo um dos "5digos que no imaginário "oleti!o deste 4o!o em seus as4e"tos m3sti"os% "osmol5gi"os% so"iol5gi"os e 4edag5gi"os% "onstituem sua unção "i!ili2at5ria que o rela"iona diretamente "om a sobre!i!ên"ia# Oke Oke Osoosi# Osunemi#
O 4ito de +ogun &de na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is# Introdução , +ogun &de 5ilho de O'um e O'%ssi 61
B im4ortante ressaltar no!amente no!amente neste neste te*to que Logun de $ uma das !ariaç&es de mito de "açadores# /or isso ligado diretamente a noção de sobre!i!ên"ia do 4o!o 4o!o 'orubá 'orubá % ,ssim ,ssim "omo Ogum e O*5ssi% este este mito irradia 4ara o restante das terras terras 'orubás 'orubás e 4ara a diás4ora diás4ora a 4artir da região região de lesa% onde Cerger "oletou os Orikis reerentes a ele#
62
Embebeu seu corpo em mel e rolou pelo ch!o da mata$ %gora sim" disfarada de mulher da mata" /rocurou de novo seu amor$ Erinlé se apai.onou por ela no momento em #ue a viu$ m dia es#uecendo+se das palavras do babala'o" O.um Ipondá convidou Erinlé para um banho no rio$ Bas as águas lavaram o mel de seu corpo E as folhas do disfarce se desprenderam$ Erinlé percebeu imediatamente #ue tinha sido enganado E abandonou O.um para sempre$ 3oi se embora sem olhar para trás$ O.um estava grávida< deu à lu lu a 0ogun Ede" 0ogun Ede é metade O.um" a metade rio" E é metade Erinlé" a metade mato$ Suas metades nunca podem se encontrar Ele habita num tempo o rio E noutro habita o mato$ 2om o ofá" arco e flecha #ue recebeu do pai" ele caa$ 1o abebé" o espelho #ue recebeu da m!e " ele se mira$
+omo !emos% o mito de Logun de% 4or se tratar de metade "açador% e metade ilo do rio% 4ode "riar !3n"ulos e a4ro*imação% 4or e*em4lo% entre o "or4o so"ial dos dos "açadores e sa"erdotes dos mitos da "aça e o "or4o so"ial de muleres l3deres l3deres do mer"ado mer"ado ('alodes e sa"erdotisas sa"erdotisas de mitos dos rios "omo O*um O*um
o que ratii"a ratii"a a teoria teoria do mito andr5gino (ou (ou dual equilibra
simboli"amente as relaç&es de 4oder dentro do "onte*to da armoni2ação do du4lo ou mJlti4lo que $ uma "onstante em di!ersas so"iedades subsaarianas# 9essa orma% esse mito% a 4artir de sua unção so"iol5gi"a que 4ode rela"ionar as so"iedades de "açadores "om as das senoras do er"ado% 4ode ter grande inluên"ia no sistema e"onNmi"o das "idades 'orubás onde se estabele"eu ou 4ara onde irradiou sua inluên"ia#
Ori@is de +ogun &de, o c%digo de honra dos caçadores e a fertilidade do filho de O'um" 63
/ara entendermos melor "omo o mito de Logun d$ se insere no imaginário 'orubá $ ne"essário que nos adentremos na análise de alguns !ersos de seus Orikis ari"anos% 4ois somente a re"itação das lendas que "egaram 6 nossa diás4ora não dão "onta disso% 4elas mesmas ra2&es a qual tratamos no mito de O*ossi% que 4or estar !in"ulado 6 "aça 4osteriormente 6 agri"ultura na Hri"a% se insere muito mais em "onte*tos de "omunidades rurais ligadas 6 "aça e "oleta e agri"ultura do que a so"iedades urbanas# +ontudo no as4e"to que Logun de se rela"iona "om as so"iedades de "açadores na Hri"a e que não e*istiram na diás4ora% não teremos idelidade a sua 4lena de"odii"ação se nos atermos somente as lendas que "egaram 6 diás4ora% onde a realidade do "ulto dos Ori*ás está muito mais 4r5*ima de uma realidade urbana# 9e qualquer orma% no que se rela"iona "om O*um e as muleres do er"ado "omo tamb$m ao as4e"to de sobre!i!ên"ia 4resente em O*ossi que são elementos que têm sua e*tensão realidade urbana% 4odemos nos a4ro*imar da "om4reensão do signii"ado deste mito sob estes as4e"tos dentro desta realidade es4e"ii"a# @este as4e"to o mito ari"ano se a4ro*ima de sua unção na diás4ora# ni"iando 4or seu as4e"to de guardião do "5digo de onra dos "açadores% 4odemos entender melor esta unção quando a2emos as imagens do !erso de Oriki de Logun de :m orgulhoso fica descontente #uando o outro está contente= % o que alude a um "5digo moral que tem seus rele*os tamb$m nos
remo)e e )ala dos "açadores quando se reere a 4o4ular igura do orguloso# ,l$m do alerta 4ara a questão moral do orgulo no sentido negati!o que 4ode !ir a "riar "onlitos em um "or4o so"ial "omo o dos "açadores% este !erso de Oriki tamb$m se rela"iona "om os ob)eti!os "omuns dos "açadores ( e agri"ultores em uma
em4reitada igualmente em "omum ligada
a sua
sobre!i!ên"ia "oleti!a e se a4ro*ima a !ersos que analisamos no Oriki de O*ossi que tamb$m alude a "om4ortamentos ideais quando e*istem ob)eti!os "omuns em so"iedades "omo a de "açadores ( que 4or sua !e2 4ode ter uma l5gi"a muito dierente da dos 4roissionais do mer"ado ou outros o3"ios# Dá nos !ersos de Oriki de Logun de : Ele destr&i a casa de um outro e depois cobre sua casa com a#uela #ue destruiu= % temos reerên"ia a 4ro"esso de
o"u4ação de terras e 4ro4riedades ( abandonadas 4elas migraç&es ou não e "onsequentemente reerên"ia a 4ro!á!eis "onlitos que estas o"u4aç&es que 64
gru4os de agri"ultores ou "açadores 4odem o"asionar% o que )ustii"a a alusão ao gru4o que anteriormente !i!ia na região que terá em suas "asas antigas a G cobertura de casas novas S# +ontudo% indo mais al$m deste signii"ado% este
enNmeno a4are"e muito requentemente em di!ersos mitos de Ori*ás de di!ersas ormas# ,o estudarmos a reale2a sagrada em determinados reinos Yorubás% !emos que os 4o!os de in!asores se unem aos 4o!os aut5"tones e se armoni2am a eles# ,o estudar a Mist5ria do Tetu !emos a re"e4ção do 4o!o T4anko ao /o!o Yorubá dando les o seu 4rimeiro ogo% o que signii"a a atribuição dos 4rimeiros meios sobre!i!ên"ia 4ara ada4tação a no!as terras e a integração entre aut5"tones e in!asores# ,o estudar o ito de QangN e o reino de O'o entenderemos isto mais "laramente e teremos mais elementos 4ara nos a4roundar# 9e qualquer orma a imagem que se "onstr5i neste !erso de Oriki de Logun de alude 6 a"eitação de elementos dos 4o!os aut5"tones 4elos in!asores e a integração simb5li"a dos dois 4elo ato de G destruir a casa do outro e cobrir a sua casa com a #ue destruiu=$ sto se airma ainda
mais se nos a4ro*imarmos do sentido que a 4ala!ra GcasaS oi tradu2ida% que em 'orubá $ GOnileS % que em um signii"ado mais 4roundo remete a terra ("asa de nas"imento e ao 4r54rio sentido de 4átria 4ara os 4o!os 'orubás# sso e!iden"ia ainda mais o ato deste mito andr5gino ter a unção de equilibrar o 4oder du4lo ( no "aso entre a 4átria do aut5"tone e a 4átria do in!asor # ntendemos melor isso "omo um 4ro"esso "omum a di!ersos 4o!os subsaarianos e não somente aos 'orubás se estudamos mesmo dentro dos 'orubás as so"iedades de resistên"ia ormadas 4elos 4o!os aut5"tones e a sua relação "om as so"iedades de in!asores% e a 4artir disso 4oderemos entender muito de n5s mesmos na diás4ora em nossos 4ro"essos de a"ulturação (que será tema mais 4roundamente dis"utido dentro do mito de QangN# @o !erso de Oriki de Logun de : Ele dá rapidamente um filho à mulher estéril S entendemos 4rimeiramente sua relação "om a ertilidade que $ um dom3nio de sua mãe O*um% e se"undariamente o que 4ode re4resentar uma muler est$ril em uma so"iedade que se baseia nas linagens e na "$lula amiliar# sso se torna ainda mais im4ortante se "om4ararmos "om o que !imos em !ersos do Oriki de O*ossi% e !emos em di!ersos outros Ori*ás que nos e!iden"iam que $ 4equeno o es4aço 4ara a sobre!i!ên"ia so"ial ora do "onte*to das linagens# 65
( O que $ "omum a di!ersas so"iedades subsaarianas# sso nos a2 4ensar que da mesma orma que aquele que não tem 4ais ou am3lia está adado ao ra"asso so"ial nesta estrutura% aquele que não dá 4rosseguimento 6 linagem tamb$m estará 4or não ter quem le 4ro!ena quando or um an"ião e não 4uder 4rodu2ir da mesma orma# ,l$m de tudo isso% quebrando o "i"lo de "ontinuidade dos "lãs que ormam a "omunidade# , 4artir da3 entendemos em 4roundidade que 4ara esta so"iedade( assim "omo a maioria das outras so"iedades subsaarianas 4ode re4resentar a muler est$ril e a inertilidade em geral# 9a mesma orma ao "onstruirmos as imagens do !erso de Oriki G le e.pulsa os males do corpo da#ueles #ue os t-m S !emos que 4ara esta so"iedade e no
"5digo de "açadores e agri"ultores ( e tamb$m% 4orque não na !ida urbana? a im4ossibilidade de 4rodu2ir de!e ser "ombatida% 4ois tamb$m aeta a estrutura so"ial e e"onNmi"a e )ustamente um mito ligado 6 sobre!i!ên"ia terá unç&es de "riar todo um "or4o so"ial de sa"erdotes 4ortadores de uma medi"ina tradi"ional# (sto não somente nas so"iedades subsaarianas $ "laro% e se torna mais e!idente 4ara n5s 4or que aqui neste o"idente da so"iedade de "onsumo tamb$m nossos males do "or4o aetam a nossa estrutura so"ial e e"onNmi"a # @este mesmo sentido e 4ara "on"luir "om4reendemos atra!$s do !erso de Oriki de Logun de G O preguioso está contente entre os transeuntes S que 4rimeiramente o 4reguiçoso $ um transgressor moral ( "omo !emos em outras situaç&es nos Orikis de O*um e O*ossi# +omo !imos no te*to anterior G O que são Orikis ? G% o 4reguiçoso $ um transgressor moral% 4ois na l5gi"a da 4rodução
4resente nas so"iedades Yorubás ( e de outros 4o!os
subsaarianos de "aça e "oleta e agr3"olas baseiam sua organi2ação so"ial no sistema de linagens e "lãs% onde as 4essoas em idade adulta tem que 4rodu2ir 4ara seus des"endentes% 4ara si mesmos e as"endentes% o 4reguiçoso não tem um
es4aço de "on!i!ên"ia a não ser "omo um
transgressor moral# +omentei in"lusi!e na o"asião que isto tem seus eeitos na diás4ora 4ois os senores de es"ra!os "ostuma!am 4reerir es"ra!os
que% al$m de deter t$"ni"as
etnias de
de 4rodução e o3"ios que les
interessassem% e!iden"iassem mais em sua "ultura que eram trabaladores e que o 4reguiçoso era um transgressor moral ( o que uns 4o!os e!iden"iam mais e outros menos% mas que o"orre na maioria dos 4o!os subsaarianos que 66
tem suas ra32es nas so"iedades de "aça e "oleta % 4assando 4ela agri"ultura e 4astoreio e de4ois se urbani2ando# sso% re4ito aqui mais uma !e2% a)uda a desmistii"ar a !isão 4re"on"eituosa que a2emos de n5s mesmos que somos um 4o!o indolente 4or que temos na ist5ria de nossos 4ro"essos 4roduti!os a origem do trabalo dos es"ra!os e 4rin"i4almente 4or des"endermos deles# +ontudo % se nos "entrarmos na questão do Oriki% 4odemos entender 4orque somente Gentre os transeuntes S o 4reguiçoso
4ode estar "ontente#
6ranseuntes sub-entendem um meio urbano e% "onsequentemente% o Jni"o no
qual o 4reguiçoso 4oderia ser su4ostamente tolerado% 4or esta aglomeração urbana le "onerir algum anonimato# Dá no mundo dos "oletores% "açadores e agri"ultores este anonimato não $ 4oss3!el o que e!iden"ia ainda mais o 4a4el desta igura "omo transgressor
moral# 9e qualquer orma% o Oriki
assume% nesta rase% uma im4ortante
unção so"iol5gi"a
ao "olo"ar em
"ontraste nos meios urbanos e rurais o 4a4el desta 4ersonagem que $ o 4reguiçoso# , 4artir disso 4odemos 4er"eber melor a rele!An"ia "om que são !istos aqueles que se re"usam a 4rodu2ir nos res4e"ti!os sistemas e"onNmi"os dos ambientes rurais e urbanos 'orubás% assim "omo 4odemos obser!ar que e*istem dierenças entre
estes sistemas em "ada um dos
ambientes# ,o nos indi"ar a obser!ação desta 4ersonagem no meio urbano tamb$m "omo um transgressor moral% o Oriki assume igualmente sua unção 4edag5gi"a# 'a Osun >a nie >a aba Logun de Osunemi ( !an /oli #
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O 4ito de O'umar na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is" +onorme )á "itamos ao alar de do mito de O*ossi% muitas !e2es di!ersos mitos de di!ersas "idades de di!ersos 4o!os e tradiç&es dierentes se unem 4ara na diás4ora dar origem a um s5 mito# O*umar$ $ um desses mitos# Originalmente o ito de O*umar$ 4ara os Yorubás era uma ada4tação de di!ersos mitos das tradiç&es Pon e De)e e mais 4ro4riamente ai da ser4ente 9ã# ste mito $ tra2ido 4ara terras Yorubás do Leste assim "omo os mitos de Obaluai'e e @anã tal qual "one"emos# @o imaginário "omum da diás4ora% O*umar$ $ tido "omo o .er andr5gino 4or e*"elên"ia% e trataremos do assunto "om mais atenção no de"orrer deste te*to 4ara e*4ressar "omo essa relação de androginia !em signii"ar uma das e*4ress&es do du4lo nas relaç&es de 4oder na Hri"a .ubsaariana# /ara introdu2ir este mito "ito uma lenda "one"ida na diás4ora em muitos +andombl$s de .al!ador e que a4resentam bem "omo os mitos do 9aom$ se integraram ao 4anteão @agN e "on!ersam de maneira estreita entre si na diás4ora# :1ana >uruku era a esposa de Obatalá e ao engravidar vai consultar o Ifá para saber #ual seria o destino de seu filho$ Ifá lhe revela #ue o filho #ue 1ana traia no ventre seria t!o belo #uanto o Sol e teria o poder do Sol (#ue somente seu pai Obatalá tinha entre os Ori.ás)$ >aseada nisso 1ana acredita #ue com o poder do filho #ue carregava no ventre poderia depor Obatalá do trono e governar através do poder de seu filho$ %o descobrir os planos de 1ana" Obatalá a desterra grávida para o p4ntano dos mangues e disse #ue ai seria seu domnio e nesta podrid!o encontraria seu reino$ 1ana contudo restava esperanosa #ue seu filho ao ser t!o poderoso como o Sol pudesse lhe traer de volta ao poder$ *everia se chamar Obaluai9e ( Senhor da 6erra )$ %o nascer " a criana vem toda coberta de pAstulas de varola e revoltada 1ana a abandona à beira do Bar para #ue servisse de comida aos caranguejos$ 7uando os carangueijos se apro.imarem do menino pelo cheiro de suas pAstulas" os caranguejos " a criana chora e Femanjá ouve seu choro em do seu domnio ( o Bar ) e vem em socorro a ele e o salva da Borte$ Femanjá #ue com o desterro de 1ana torna+se a primeira esposa de 68
Obatalá" cria o menino e o ensina #ue sua m!e deveria ser perdoada$ *o outro lado" 1ana pelo fato de ter abandonado o filho e descrer das palavras de Ifá é castigada pelo *estino$Ifá lhe prenuncia #ue teria outro filho$ Este novo filho seria a criatura mais bela já vista e ao mesmo tempo a mais temida #uando se apro.imasse de sua m!e 1an!$ Este seria seu castigo por ter duvidado de Ifá$ 1asce ent!o O.umaré #ue era ao mesmo tempo %rco Mris em seu aspecto masculino e uma cobra em seu aspecto feminino ( #ue era o Anico aspecto no #ual O.umaré poderia se apro.imar de sua m!e 1an! )$ 1an! sentia grande tristea ao ver o %rco Mris e n!o poder tocá+lo e #ue sempre #ue se apro.imava dele ele desaparecia e restava somente a cobra na e.press!o de seu filho O.umaré$ 1ana percebe #ue no lodo e na lama tudo renasce e se regenera" pois #uando bate o sol no mangue formam+se arco+ris pe#uenos #ue eram a e.press!o de seu filho mais belo e promovia a regenera!o da vida #ue ali se produia$ Ela compreende ent!o o segredo de seus domnios (o p4ntano) e a regenera!o #ue ele promovia e resolve ent!o se regenerar e pedir perd!o a seu filho Obaluai9e por t-+lo abandonado" desistindo de ve de obter o poder de Obatalá e vai procurar Femanjá$ Femanjá prepara Obaluai9e para ver sua m!e" #ue já adulto cobria o rosto e corpo com palhas para #ue n!o vissem seu corpo coberto de pAstulas e n!o o rejeitassem como sua m!e o rejeitou$ %o ver 1ana" Obaluai9e resiste" mas a pedido de Femanjá abraa sua m!e 1ana a perdoa e pede #ue ela nunca mais o abandone$ 1este momento a profecia de Ifá se fa verdadeira e todas as chagas de Obaluai9e se transformam em lues t!o fortes como a do sol" #ue fieram com #ue continuasse a cobrir seu corpo" pois a#uela lu era capa de curar as mais terrveis doenas ou mesmo conduir ao mundo dos mortos a#ueles #ue deveriam para ele prosseguir$ Obaluai9e ganha ent!o com sua m!e 1ana o reino dos Bortos" passa a agir com sua lu para curar ou redimir os homens de suas dores e torna+se o senhor da 6erra$ O.umaré também perdoa sua m!e e passa a representar a#uele #ue tem o caminho entre este e o outro mundo (Orun e %i9e) na e.press!o da 2obra e do %rco+Mris =$
69
+onorme 4odemos notar% O*umar$ nesta lenda da diás4ora tamb$m tem o 4a4el de 4romo!er o equil3brio entre 4oderes atra!$s de seu "aráter du4lo% o que $ uma inluên"ia indubitá!el do 4a4el de 9ã no 9aom$# ,l$m disso% 4er"ebemos na lenda a so"iali2ação e integração dos 9euses Yorubás de "idades dierentes assim "omo outros originalmente do 9aom$ "omo se i2essem 4arte de um s5 4anteão# @isso !emos uma "ara"ter3sti"a muito 4resente na diás4ora e que 4ode nos "ontar muito da ist5ria de "omo as tradiç&es na diás4ora se re"onstru3ram nos es4aços das sen2alas#
O'umar, Pã, a serpente arco:íris, o ser andr%gino e o duplo" #omo nos di2 alandier: :%s mitologias africanas em sua maior parte" atribuem um espao privilegiado à rela!o homensNmulheres e s!o essenciais nas argumenta5es pr&prias destas mitologias$ % rela!o aparece em ao menos tr-s momentos$ 1as lendas da cria!o" aonde ela figura como rela!o primordialC liga!o de significa!o e #ue e.plica esta cria!o$ 1os modelos de interpreta!o #ue revelam por simples compara!o o fre#,ente recurso ao simbolismo se.ualiado a fim de e.plicar a ordem do mundo" da constitui!o da :pessoa= e das primeiras obras civiliat&rias dos homens em sociedade$=
9essa orma% 4odemos 4er"eber que muitas !e2es% "omo re4rodução destas relaç&es se estabele"em relaç&es de 4oder# alandier nos e*4li"a melor sobre o ato% alando )ustamente do 4a4el de 9ã entre os Pon do 9aom$ no "onte*to da "riação 3ti"a do Uni!erso 4ara este 4o!o: Os 3on do *aomé$$$$Suas lendas mticas " apresentam n!o uma cria!o Anica e acabada" mas uma série de cria5es sucessivas$$$% origem se encontra na divindade %ndr&gina" #ue disp5e de proemin-ncia sobre todas as figuras do pante!o daomeneano mesmo #ue ela mesma n!o seja um objeto de culto$6rata+ se de 1ana >uruku" #ue simbolia o comeo absoluto$ %s narra5es mticas a evocam como origem criadora dos materiais a partir dos #uais o :Bundo= se constr&i e se ordena$ Este Altima tarefa pertence ao casal Ba'u+ 0isa$ *o #ual 1ana foi o criador$$$% genealogia dos deuses corresponde à das cria5es " do domnio das foras pelas #uais o universo se mantém em ordem assim como também os homens$$$Ba'u é a f-mea" 0isa o macho< sua defini!o se lhes apresenta como g-meos e às vees como uma pessoa de duas faces capa da auto+fecunda!o$ 7ual#uer #ue seja a interpreta!o" é através de sua uni!o ;
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ou unidade+ #ue consiste a base de toda organia!o no universo e na sociedade$$$Ba'u e 0isa e.primem esta uni!o tensional$ Eles s!o associados a duas séries de atributos e de smbolos contrários e ao mesmo tempo unidos$$$% associa!o dual se apresenta" ao mesmo tempo" sob seus aspectos positivos ( de complementaridade organiadora) e negativos ( a diferena geradora de conflitos)$ Sua interven!o é necessária mais insuficiente$$$ma outra figura " portanto" é responsável pela ordem da cria!o juntamente com Ba'u e 0isa C *!
fora en#uanto pessoa e capa de mAltiplas manifesta5es$ Esta nova
entidade se identifica à ordem vivente" aos agentes de prosperidade " a continuidade do curso do tempo$ Ela gera o movimento no sentido da ordem primordial $$$*! é concebida sob forma de divindade andr&gina ao invés de par de g-meos" diem #ue ele é dois em um$=
@o 4anteão 'orubá que "one"emos na diás4ora% á basi"amente três di!indades andr5ginas 4rin"i4ais e que são O*umar$% Logun de ("onorme !imos no ultimo te*to e Ossaim# +omo nos sugere alandier% este ser andr5gino re4resentado 4or 9ã !em legitimar e "ontribuir "om a ordem inal das "oisas e do uni!erso% tendo o mito neste "onte*to% sua unção "osmol5gi"a que a)uda a e*4li"ar o uni!erso e sua ormação# .egundo nos sugere este autor% na maior 4arte das so"iedades subsaarianas% a igura do eminino e das di!indades emininas "omo a>u está rela"ionada 6 desordem e ao "aos# Dá a igura mas"ulina e das di!indades mas"ulinas "omo Lisa e Ogum está rela"ionada 6 ordem# m nosso mundo )udai"o "ristão o"idental e tamb$m no islAmi"o% em nosso imaginário ormado a 4artir destas "i!ili2aç&es a ordem se estabele"e a 4artir do mas"ulino% o "riador $ um 9eus Momem que% assim "omo nas so"iedades subsaarianas% assume no mas"ulino o 4a4el da ordem e no eminino o 4a4el da desordem e do "aos (4odemos tentar a"ar isso no O"idente se nos atermos ao que oram as eiti"eiras na uro4a na dade $dia% ou se analisamos miti"amente os 4a4$is de Lilit e !a nas "i!ili2aç&es onde a4are"em na ,ntiguidade% entendemos isto melor# B "omum 4ara n5s% em nossa so"iedade o"idental% que a"eitemos em nosso imaginário que este mas"ulino% que $ a Ordem% re4rima a desordem do eminino e estabeleça a ordem do Uni!erso% o que 4ode nos es"lare"er das !is&es se*istas que temos em nossas estruturas so"iais# (@ão que na Hri"a .ubsaariana se)a dierente% segundo nos ala alandier# 71
@a l5gi"a dos Pon do 9aom$ e de grande 4arte das so"iedades subsaarianas% este ser andr5gino% no "aso na igura de 9ã% a4are"e "omo o regulador da ordem% 4ois "omo "on"lu3mos ao ler alandier e Cerger% o 4rin"34io do as"ulino (ordem não "one"e a essên"ia do eminino (desordem e não 4ode assim estabele"er a Marmonia nem no "onte*to "osmol5gi"o% nem no so"iol5gi"o ("osmos e so"iedade# sta armonia s5 4ode ser estabele"ida 4or um ser que tena em si os dois elementos% 4ois Ordem e desordem ( transgressão a2em 4arte do 4a4el "i!ili2at5rio dos itos# ntendemos melor quando re"orremos aos 4a4$is de Ogum e *u "onorme !imos anteriormente% que Ordem e transgressão se equilibram e se alternam no 4ro"esso "i!ili2at5rio# 9a mesma orma que o du4lo se equilibra entre ordem e transgressão% $ ne"essário que mas"ulino e eminino se equilibrem e s5 quem tem em si os dois 4rin"34ios 4ode 4romo!er este equil3brio# Pa2endo um 4arêntese% e não querendo a2er uma a4ologia 6 androginia% a"reditamos que este mito andr5gino 4ossa nos a)udar a e*4li"ar o 4orquê na diás4ora% no "andombl$% o omosse*ual não $ !isto "omo um transgressor moral% "ontrariamente ao que 4regam as seitas "ristãs do O"idente# Cemos em 4leno s$"ulo QQ
o l3der da gre)a +at5li"a O"idental alar "ontra os
omosse*uais# sta gre)a% 4or sua !e2% $ a mais inluente no delineamento dos 4rin"34ios morais da so"iedade de "onsumo o"idental# O mais 4arado*al em tudo isso $ que $ )ustamente esta so"iedade "ristã% o"idental e de "onsumo que "ria os estere5ti4os nos quais as
tradiç&es ari"anas e seus rele*os na
diás4ora são atrasados e 4or isso de!em ser "ombatidas# .ão )ustamente estas igre)as "ristãs ao lado do islã e seus 4roselitismos que a2em "om que o)e na região Yorubá% não 4ossamos airmar que os omosse*uais nestas regi&es não se)am transgressores morais% "omo o que a"onte"e "om o "andombl$ na diás4ora# ntendemos melor atos "omo este se não 4erdemos de !ista que na diás4ora% as tradiç&es subsaarianas% "omo as 'orubás% eram e ainda são "onsideradas% em nossa edu"ação% mais "omo atores de resistên"ia da "ultura de 4o!os es4e"3i"os do que elementos "onstituintes das tradiç&es "ulturais !igentes em nossos 4a3ses# m s3ntese% 9ã% ou O*umar$ $ aquele que 4romo!e o equil3brio entre as orças e 4oderes que regem o "osmos e )ustii"am o mito em sua ordem "osmol5gi"a#
sa"erdotes e reis% de so"iedades emininas e mas"ulinas e tem um 4a4el "i!ili2ador# m Logun de !emos o 4a4el da androginia ligado a sua unção so"iol5gi"a de equilibrar o "or4o so"ial das muleres "omer"iantes "om o dos "açadores# m Ossaim !emos o das eiti"eiras "om o do "ulto aos an"estrais (4ois todos utili2am dos 4re"eitos das olas% onde Ossaim está 4resente# m O*umar$ !emos muito mais um 4oder mas"ulino que )ustii"a a sua unção "osmol5gi"a atra!$s do ,r"o ris que o rela"iona "om a trans"endên"ia e ao 4oder do Orun (que "ria um "or4o so"ial de administradores ligados a reale2a em "ontraste "om seu 4oder eminino da ser4ente (que morde o rabo e dá o mo!imento do Uni!erso e que o rela"iona "om o mo!imento so"ial das "oisas do ,i'e (que 4or sua !e2 legitima o "or4o so"ial de organi2aç&es ligadas a o3"ios e ordens de administração 4o4ular## O ito de QangN em O'o tem um 4a4el similar e que inluen"iou a maior 4arte dos outros reinos Yorubás e e*4li"aremos melor o du4lo ao analisarmos este mito% que a4esar de não ser se*ualmente andr5gino "omo O*umar$% tamb$m :6rana os cabelos como uma moa S "omo di2 seu Oriki% em uma alusão aos elementos do 4oder eminino que o egulador da .o"iedade ("omo tamb$m $ QangN em O'o tem que ter em si 4ara 4oder ser eeti!amente este ito egulador da .o"iedade# .egundo nos "ita Cerger em te*to de ernard au4oil% % opini!o vulgar afirma #ue *an %9idok'edo ou *an >ada 'edo( Oshumale em 1agG ) veicula entre o céu e a 6erra os projéteis de evioso" denominam+na comumente serpente ( *an) ou fetiche arco Iris$En.ergam nele o deus da prosperidadeC é o ouro$$$ 1o plano material" seu papel no mundo consiste em garantir a regularidade das foras produtoras de movimento$ /reside a todos os deslocamentos da matéria" mas n!o se identifica obrigatoriamente com o #ue é m&vel$ Se di #ue *an habita o oceano" é por #ue ele representa" para o homem o má.imo de poder em um movimento ininterrupto$% vida é um desses movimentos misteriosos" o movimento por e.cel-ncia" #ue *an tem por miss!o sustentar$
/aul er"ier )á nos dia que : *an é a fora vital sem a #ual Ba'u e 0isa n!o poderiam ter realiado sua tarefa$ *an %9ido 'edo" enrolando+se em torno da terra em forma!o" possibilitou #ue ela se juntasse$ %9ido 'edo tem um duplo aspecto" masculino e feminino" e é concebido como g-meos$ 6odos os demais *an s!o
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descendentes deles$ 1o entanto" mais #ue um par" é uno e possui dupla naturea$ 7uando aparece sob a forma de arco+ris" :o macho é a parte vermelha e f-mea é a parte aul=$ 8untos sustentam o mundo" enrolados em espiral em torno da terra" #ue preservam da desintegra!o$$$Se enfra#uecessem seria o fim do mundo$$$Em sua tarefa de preservar o mundo$ *an é o servidor niversal$ /or si pr&prio nada fa" mas sem ele nada pode ser feito$=
m ambos os "asos% !emos a unção "osmol5gi"a do mito ortale"endo o equil3brio entre os du4los 4oderes que se estabele"em entre os di!ersos "or4os so"iais que ormam a "i!ili2ação Yorubá e que somente o ser andr5gino ou igualmente du4lo 4ode estabele"er# sto mostra bastante da dinAmi"a "om que se estabele"em estes "or4os que re"ebem sugest&es destes mitos du4los e que temos e*em4los bem "laros em so"iedades que se equilibram no 4oder "omo o O'omesi e Ogboni em O'o# 8- Orikis de O*umar$# eorçando o que !imos no que se reere á "riação do undo e unção "osmol5gi"a do mito de O*umar$ temos um "laro e*em4lo quando a2emos a imagem de :O.umaré permanece no céu #ue ele atravessa com o brao S e G ele fa a chuva cair na terra S# Vue são !ersos de seus Orikis#
@esta unção de mantenedor da !ida na terra !emos "laramente no !erso de Oriki# GO pai vem á praa para #ue cresamos e tenhamos longa vida S# @a unção 4edag5gi"a !emos "laramente a obser!ação G O fogo n!o fa a criana calar+se= em um dos seus !ersos#
+ontudo% !oltando ao item anterior% "reio que% este mito% no m3nimo% nos a2 reletir se a !isão de nossa so"iedade de "onsumo erdeira da +i!ili2ação Dudai"o +ristã O"idental na qual um dos elementos% 4ara "ontrolar o outro% o re4rime% não está se desequilibrando "ada !e2 mais neste 4ro"esso# @ossos an"estrais que "ultua!am O*umar$ na Hri"a e que temos na diás4ora tal!e2 tenam muito a nos di2er sobre n5s mesmos a 4artir da !isão que insistimos em "amar de !isão da alteridade# ,ro oboi baba Osumar$# Osunemi (!an /oli
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O 4ito de ObaluaiCe na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is .egundo nos ala Cerger e a tradição Yorubá% na Hri"a en"ontramos di!ersos mitos
similares
que
na
diás4ora
se
transormaram
na
dualidade
Omolu\Obaluai'e# .ak4ata (que oi um rei m3ti"o "one"ido em di!ersas regi&es das terras 'orubás e do 9aom$% .o44ona% ,'inon% .a4ata% Omolu% olu%Obaluai'e são nomes "one"idos tanto em terras Yorubás quanto no 9aom$ que designam o .enor da
Cemos aqui um "urioso en"ontro entre Cerger e .ak4ata e que não dei*a de ser inluen"iado 4or um "5digo moral# @as "antigas @ukuromean que tem uma orma senten"iosa !emos mais "laramente isso: + Se voc- é rico n!o deve rir dos pobres" pois as pessoas pe#uenas tornam se grandes$ +7uando se v-m ao mundo n!o temos mulher" autom&vel ou bicicleta$ ocn!o trou.e nada para esta vida e assim ninguém conhece o futuro$ +Se o trem descarrilhar as bagagens n!o ser!o salvas +6odo mundo vai dier #ue canto contra o povo do pas$ enho" no entanto para dar+lhes conselhos$ + Bulher #ue n!o fica em casa e corre atrás de um homem" em seguida mais uma infelicidade$ +1!o se deve correr assim" pegam+se doenas$ +? preciso ficar em casa$
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+Se voc- se encontrar com a#uele #ue vem de 0onge" é preciso aceitá+lo como amigo$ +Se voc- se encontrar com alguém de sua casa ou de seu bairro" desconfie dele$ +/ois o ratinho #ue está em sua casa come seus panos" sua comida e lhe fa o mal< mas o rato da floresta nada lhe fa$ Ele n!o tem necessidade de voc-$
m 4rimeiro lugar 4er"ebemos "laramente que o ito aqui e*er"e atra!$s destas "antigas sua unção 4edag5gi"a e delineia "om4ortamentos so"iais o que 4ode ter um 4a4el se"undário em sua unção so"iol5gi"a# uito "laro $ o "5digo moral 4resente no mito que tamb$m simboli2a% 4or sua !e2% a an"estralidade# +omo estamos alando de Hri"a .ubsaariana% esta an"estralidade le "onere a autoridade de orientar e at$ mesmo ditar um "5digo moral#
ObaluaiCe, as Poenças e a 4orte # .egundo !imos quando alamos da relação de Ogum e a orte% no Odu O'eku e)i dentro do "or4o literário de á% a orte que "onsumia !idas umanas "omo seu alimento sem e*4li"ação% 4assa a ata"ar os omens atra!$s somente das Ruerras de Ogum% do ogo de QangN% das magias das eiti"eiras e das doenças de Obaluai'e% de4ois da oerenda a *u que $ eita "om o intuito de enganá-la# Cimos tamb$m na lenda da diás4ora que "ontamos ao alar de O*umar$% que a orte no "onte*to dos Yorubás 4ode não ter um "aráter somente terr3!el% mas tamb$m redime os omens# sto a2 "om que a4esar de não ser ne"essariamente dese)ada% se)a ao menos a"eita se não or "ontra os 4re"eitos naturais# 9a mesma orma que tra2 as doenças% Obaluai'e tamb$m as "ura% e tem uma relação amb3gua "om as doenças e a morte% 4ois da mesma orma que o 4oder tem "aráter du4lo nas so"iedades subsaarianas em geral% o binNmio de !ida e morte% de saJde e doença tem que ter a mesma origem e estarem entrelaçados% 4ois ambos regulam in"lusi!e as "ondiç&es de !ida das aldeias# sso a2 "om que tanto a natalidade quanto a mortalidade rela"ionadas a mitos "om4lementares% quando não ao mesmo mito#
76
este)am
9entro dos Orikis de Obaluai'e !emos "laramente as imagens que "onstroem arqueti4i"amente esta relação da orte e das doenças "om o 4oder nas relaç&es so"iais e instituiç&es 'orubás# Vuando ou!imos: :Se eu for e.pulso do pas ele será arruinado= :*oena 6errvel= :Sobre a#ueles #ue s!o responsáveis pelo pas" terrvel doena= :Invocamos todos os grandes= :1!o falamos com alguém #ue mata e come as pessoas= :/aci-ncia" ele parte para a terra de outro=$
, relação de res4eito ao senor da !ar3ola% da orte% das doenças e da
#%digo 4oral nos Ori@is de ObaluaiCe ,l$m da e!idente unção so"iol5gi"a que o mito de Obaluai'e desem4ena na so"iedade 'orubá atra!$s da autoridade de seus sa"erdotes sobre as quest&es rela"ionadas 6 medi"ina tradi"ional e ao "ulto aos ante4assados% que 4or sua !e2 ratii"am e ortale"em a autoridade deste "or4o so"ial% o mito em sua unção 4edag5gi"a delineia um sistema moral e nos mostra 4arti"ularidades de seu sistema de ra"ionalidade# ste sistema moral 4resente nos Orikis de Obaluai'e tamb$m nos desena uma estrutura so"ial e nos dá uma id$ia de um sistema de "omuni"ação onde atua o "or4o sa"erdotal deste ito atra!$s de seu sistema de "renças# Cemos "laramente "omo a autoridade e a ierarquia são re4resentadas atra!$s das imagens do Oriki e que nos dão id$ia do 4a4el desta autoridade na estrutura so"ial: G %ntes #ue o pássaro entre na gaiola deve pedir ao seu superior S Outro momento no qual a ordem estabele"ida se tradu2 no nosso imaginário atra!$s de !erso de Oriki $ quando ou!imos: GO guerreiro n!o tem medo de disparar sua espingarda= 77
sso se reorça ainda mais e se torna ainda mais "laro e direto quando ou!imos os !ersos de Oriki: :olto pra casa=
Genho prestar contas a voc-= G*evemos contar o #ue vimos= :3ui saudá+lo=
@estes !ersos% al$m da autoridade do Codun ou Ori*á "omo an"estral e que determina as relaç&es que os 'orubás têm "om esta an"estralidade% !emos tamb$m a im4ortAn"ia da 4ala!ra !erdadeira dentro desta estrutura so"iol5gi"a% que 4or estarmos em uma so"iedade oral% tem antes de tudo um !alor do"umental# m !ersos des4retensiosos "omo estes 4odemos entrar em "ontato "om 4re"eitos undamentais que rela"ionam o sistema de "omuni"ação "om o "5digo moral e sistema de ra"ionalidade entre os 'orubás e a maior 4arte das so"iedades subsaarianas# Obser!emos os !ersosC :O corpo da#uele #ue injuriou o vodun apodrecerá en#uanto ele ainda estiver vivo$= :%#ueles #ue insultam Omolu no caminho do campo= :eremos seu cadáver voltar inchado S
Cemos "laramente aqui% mais uma !e2% a relação de res4eito ao Ori*á "omo an"estral que legitima o seu 4a4el "i!ili2at5rio atra!$s do seu sistema moral# 9e qualquer orma% nem tudo o que !emos e ou!imos em relação 6 Omolu di2 res4eito somente ao "5digo moral que legitima a estrutura so"ial das "idades onde irradiam seu ito 4ara a diás4ora#
@os !ersos anteriores não 4odemos negar que estamos alando de um "5digo moral% "ontudo nos e*em4los destes !ersos de Oriki% ao "ontrário dos anteriores% a relação de res4eito ao mito an"estral não se im4&e atra!$s do medo% ainda que este)amos alando do .enor da orte e doenças# Cemos indubita!elmente sim4les obser!aç&es a 4artir do quotidiano e $ inegá!el que 4odemos 4er"eber nesses !ersos elementos do sistema de ra"ionalidade deste 4o!o% assim "omo na maior 4arte dos !ersos o mito assume sua unção 4edag5gi"a# sto mostra e "om4ro!a que a4esar dos Orikis serem um elemento litJrgi"o% não 4aram somente a3% e re!elam outras unç&es# Coltando aos Orikis em si% em sua unção 4edag5gi"a% !emos nos !ersos abai*o algo que sem dJ!ida legitima o res4eito ao "or4o so"ial que o mito "ria: :1!o se deve caoar dos adeptos do Ori.á= :Se alguém caoar deles" esta pessoa tornar+se+á esposa do Ori.á=
sto delimita antes de tudo na estrutura so"ial 'orubá% onde de!em se lo"ali2ar os ade4tos e sa"erdotes do Ori*á em relação ao restante da so"iedade das "idades da qual irradia este mito# Obaluai'e tamb$m se rela"iona "om o dineiro% 4ois o senor da orte tamb$m "ria os erdeiros e legitima o 4oder e"onNmi"o dos que erdam os bens dos que dei*am de en"abeçar as linagens e são redimidos 4elo senor da
9e qualquer orma a orte e as doenças não são !istas "om alegria% a4esar de serem a"eitas 4elos 'orubás "omo 4arte de seu 4ro"esso de "onstrução "i!ili2at5ria# Cemos isto "laramente nos !ersos de Oriki# :Ele pesa para todo mundo= :Ensinem me a me divertir para #ue tudo fi#ue bem S em uma alusão a 4r54ria
lenda que enganou a orte no "or4us dos Odus de á em O'eku e)i% "onorme !imos no
:1inguém deve sair soinho ao meio dia=
ste !erso nos ala indiretamente dos 4erigos a se sair so2ino ao meio dia e aumentar o ris"o de "ontrair doenças 4or ser 4i"ado 4or mosquitos "omo o da malária ou outros# esmo que não a!endo diagn5sti"os m$di"os "onorme "one"emos em nossa so"iedade% "omo as doenças são atribu3das a Obaluai'e% intuiti!amente era atribu3da a ele a e4idemia e a ine"ção assim "omo as ormas de e!itar os "ontágios de doenças tamb$m a ele são atribu3das tanto na Hri"a "omo na diás4ora# Pa2endo um 4arêntese neste "aso% $ im4ortant3ssimo que nos atenamos 6 ei"á"ia dos m$todos 4resentes nas bases m3ti"as da Hri"a subsaariana 4ara que 4ossamos realmente "ombater e4idemias naquele "ontinente% sobretudo no interior e nas regi&es menos o"identali2adas# ,s "am4anas de "ombate a e4idemias na Hri"a ("omo a ,9. geralmente são inei"a2es 4ara as regi&es menos o"identali2adas% 4ois as estas "am4anas geralmente são dire"ionadas 4ara uma realidade urbana 4ara os que se mant$m mais 4r5*imos da inluên"ia dos antigos "oloni2adores e% "onsequentemente% das regras da so"iedade de "onsumo o"idental# ,nalisando o e*em4lo de Obaluai'e dentro da "ultura Yorubá% 4odemos "on"luir que s5 teremos o "ombate ei"a2 a e4idemias na Hri"a se le!armos em "onta m$todos% medi"inas e mitos tradi"ionais em armonia "om os m$todos do O"idente# .e o O"idente não souber introdu2ir estes m$todos res4eitando as "renças lo"ais% dii"ilmente terá su"esso# /ara "on"luir este item% ao analisarmos os !ersos de Oriki abai*o 4er"ebemos o quão oni4resente $ a relação du4la de Cida e orte "omo tamb$m o são as relaç&es de 4oder dentre os Yorubás# :Ele fica em casa" manda as pessoas sair e as vigia= :%ten!o na casa" aten!o no caminho" venham faer a cerimGnia=$
sto ratii"a% mais uma !e2 sua 4osição "omo an"estral e res4onsá!el 4elo "ulto destes% uma !e2 que a "asa no "onte*to da "i!ili2ação 'orubá $ a sede das linagens# O que nos e*4&e elementos im4ortantes em sua estrutura so"ial#
ObaluaiCe e a relação com o Onile"
80
+omo !eremos melor no mito de @anã% antes da "egada de Odudu>a% "onorme nos ala L$4ine% não se "ultua!a Olorun no que o)e são as terras Yorubás# @a !erdade se "ultua!a o Onile (que em Yorubá literalmente quer di2er .enor da a% mas tamb$m a Ogum ( 4or ser o "i!ili2ador e o que liga os omens 6 sobre!i!ên"ia 6 terra e a O*ossi tamb$m 4or desem4enar as mesmas unç&es# O Onile em resumo% "omo )á !imos no "aso dos Orikis de Logun de% $ aquele elemento que designa 4ara o Yorubá o seu sentido de 4átria (o que dis"utiremos mais detaladamente em te*tos uturos## O Onile 4ara o Yorubá $ onde está assentado seu Ori*á que geralmente $ onde está baseada a "asa de sua linagem de origem# @ormalmente $ o lugar onde se nas"e# Obaluai'e% no sentido de .enor da
dos omens% meu 4ai Ori*á Onile e .enor da
O 4ito de Nanã na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is"
1- ntrodução# 9e!emos ini"iar es"lare"endo que o mito que temos desta di!indade na diás4ora $ bem dierente do que temos originalmente na Hri"a e ainda nos dias de o)e# /ara entendermos melor o que signii"a o ito de @anã em terras ari"anas de!emos re"orrer ao que !imos bre!emente no ultimo te*to sobre Obaluai'e no que se reere ao "ulto de Onile# @ana segundo nos e*4&e L$4ine% era "ultuada% (ou "ultuado em uma região que ia do atual @3ger at$ o urkina Paso sob di!ersas designaç&es e sob a $gide de di!ersas lendas e simbolismos dierentes# m todos os "asos @ana era ligado(a 6 terra# n"ontramos este mito muito 4resente tanto no "onte*to destas "i!ili2aç&es no 4er3odo de "aça e "oleta quanto no agr3"ola# sto o reairma ainda mais "omo Ori*á Onile e originalmente ligado a este "ulto e anterior a "egada de Odudu>a a le e# ,inda segundo o que nos "onta L$4ine% e*istem regi&es em terras 'orubás nas quais a maior 4arte das 9i!indades que "one"emos no 4anteão dos ori*ás na diás4ora e na maioria das "idades 'orubás $ des"one"ida e s5 se "one"em e "ultuam Obaluai'e e @ana# sto nos mostra "laramente que se o "ulto de Olorun não está em todos os lugares da "i!ili2ação Yorubá% o "ulto ao Onile está% 4or ser mais antigo# .egundo !imos no te*to sobre O*umar$% quando alandier ala sobre os itos da "riação entre os Pon% "ita @ana "omo sendo um ser andr5gino%(e 4eço 82
neste momento que re"orramos ao que !imos no mesmo te*to 4ara entender melor esta questão nas relaç&es do 4oder du4lo na Hri"a# @a questão do 4oder du4lo @ana estará ligada sem4re ao "or4o so"ial que "ultua o Onile e% 4ortanto aos administradores e "onselos 4o4ulares mais distantes do "ulto de Olorun que normalmente estará ligado 6 reale2a# 9esta orma% o "ulto de @ana $ na Hri"a algo que se rela"iona 6 resistên"ia dos "ultos an"estrais dos antigos aut5"tones anteriores a Odudu>a# Cemos elementos "laros disso em uma lenda da diás4ora da "oletAnea de /randi que trans"re!o abai*o: :1ana probe instrumentos de metal em seu culto$ % rivalidade de 1ana e Ogum data de tempos Ogum o ferreiro guerreiro" Era proprietário de todos os metais$ Eram de Ogum os instrumentos de ferro e ao$ /or isso era t!o considerado entre os ori.ás" /ois dele todas as outras divindades dependiam$ Sem a licena de Ogum n!o havia sacrifcio< Sem sacrifcio n!o havia ori.á$ Ogum é o Oluobé" o Senhor da 3aca$ 6odos os ori.ás o reverenciavam$ Besmo antes de comer pediam licena a ele /elo uso da faca" o obé #ue se abatiam os animais E se preparava a comida sacrificial$ 2ontrariada com essa preced-ncia dada a Ogum" 1ana disse #ue n!o precisava de Ogum para nada" /ois se julgava mais importante do #ue ele$ :7uero ver como vais comer" Sem a faca para matar os animais=" disse Ogum Ela usou o desafio e nunca mais usou a faca$ 3oi sua decis!o" #ue no futuro" 1enhum de seus seguidores se utiliaria de objetos de metal /ara #ual#uer cerimGnia em seu louvor 7ue os sacrifcios feitos a ela 3ossem feitos sem a faca" Sem precisar da licena de Ogum$=
83
.e "onsiderarmos que o "ulto a Ogum está ligado ao an"estral Oduduá% que surge somente a45s sua "egada em terras 'orubás% e que "om ele !imos o ad!ento da or)a e "onseqEentemente da !ida urbana que segue as so"iedades agr3"olas e de "aça e "oleta quando 4redomina!a o "ulto de @ana e ao Onile% entendemos melor o que re4resenta esta resistên"ia de @ana em usar a a"a# m uma so"iedade na qual a an"estralidade determina relaç&es de 4oder% !emos neste 4rimeiro e*em4lo mais uma !e2 uma relação du4la entre o 4oder da an"estralidade que resiste 4ara não 4erder seu lugar e o 4oder da te"nologia e das no!as no!as geraç&es que ino!a#
que
res4eitem suas origens 4rimordiais# O mesmo ser!e 4ara n5s ilos de suas diás4oras que relutamos em en*ergar nesta Hri"a nossas origens an"estrais somente 4orque grande 4arte de n5s não têm mais a 4ele negra% e neste 4ro"esso negamos muito de que n5s mesmo ainda somos#
Nana, (enhora dos 4ortos" *elação com a doença # @a maior 4arte das terras na Hri"a onde $ "one"ida% @ana 4or ser rela"ionada 6
sua relação "om a doença e 4roteção aos que 4ade"em de males quando ou!imos: :0ouvo a vida e n!o a doena=
sto tamb$m nos ala da unção so"iol5gi"a do mito atra!$s do "or4o sa"erdotal ligado 6 medi"ina tradi"ional e que se rela"iona ao mito de @ana#
Nana e a ancestralidade" Origens do mito /or estar ligada ao "ulto ao Onile e "onorme obser!amos a"ima% @ana está intrinse"amente ligada 6 an"estralidade% sobretudo a 4artir deste "on"eito segundo o "ulto ao Onile# sto se e!iden"ia quando ou!imos os !ersos: 84
:/resto homenagem aos ancestrais= :Binha m!e estava primeiro em >aribá= :enho saudar o Onile (dono da terra) para #ue ele me proteja$=
#%digo 4oral de Nana e provrbios dos Ori@is" @esta ultima 4arte nos ateremos mais aos as4e"tos do sistema moral e das unç&es 4edag5gi"as e so"iol5gi"as do mito de @ana# .egundo no e*4&e olanl$ ,>e em sua obra% os Orikis 4odem nos alar de atos ist5ri"os e no "aso de dois !ersos de Orikis de @ana !emos% al$m disso% a sua inluên"ia so"ial assim "omo o dom3nio Yorubá dentre os Pon em dois !ersos: :Ori.á #ue impediu o 3on de circuncidar+se S (que 4ode estar rela"ionado "om
sua origem andr5gina entre os Pon tamb$m :Ori.á #ue obriga o 3on a falar 1agG S (/ro!a! (/ro!a!elment elmente e em uma alusão do dom3nio de O'o ao 9aom$ at$ a $4o"a do ei Rlele que ao tra!ar uma guerra "om O'o in!erte a situação no s$"ulo QQ @os "asos a"ima !emos "laramente neste "5digo moral a unção so"iol5gi"a do mito e um 4ou"o da ist5ria da relação entre os Yorubás e os Pon# Cemos em outros !ersos sua unção 4edag5gi"a% "omo 4or e*em4lo: :O covarde n!o tem ttulo=
Cerso que nos mostra "laramente que o "o!arde nesta so"iedade $ um transgressor moral# :O Onile (dono da casa) mete medo no malfeitor=
Outro !erso que tamb$m nos mostra "laramente que o maleitor $ tratado igualmente "omo um transgressor moral nesta so"iedade# :Ele mata a#uele #ue é mau S
Cerso que nos reorça a transgressão moral do maleitor# :1!o se pode saber o #ue e.iste dentro de um saco= 85
ostrando em sua unção 4edag5gi"a que muitas !e2es a "uriosidade 4ode tra2er 4roblemas# :1&s o chamamos sem dormir= :1!o morrer em casa" n!o morrer viajando=
Cersos que rela"ionados ao "ulto da .enora dos ortos alam dos in"on!enientes que a morte em lugares ina4ro4riados 4odem tra2er# :1ada tirar de um centavo n!o o diminui=
m uma alusão "lara ao "on"eito de e"onomia# m outros !ersos !emos atores im4ortantes que ins4iram "om4ortamentos e ao mesmo tem4o des"re!em o mito de @ana% mostrando bastante de sua unção 4edag5gi"a e delineando um "5digo oral# :Ele encontrou dinheiro" chefe devagarinho= :Eu o primeiro a usar uma espada= :3ora para pegar inimigos= :Ele n!o te conhece" ele n!o te felicita= :ma coisa semeada dentro de casa cresce até o lado de fora= :Ele fa tudo= :1!o se pode olhar no olho da morte= :Sabemos o #ue ele fa" n!o sabemos o por#u-= :Ele divide a guerra em dois= (em uma alus!o aos lados de #ue combatem os inimigos" mas #ue independente do lado tem mortes iguais) :Ela fa o #ue bem entende= :Buito elha= :Invocamos depressa o Ori.á= :1&s o vemos divertir+se e n!o conhecemos os seus hábitos= :Ele tem fora sem recorrer a remédios= :1&s o olhamos" mas ele n!o desvenda o segredo= :Ele dá alegria para todo mundo= :Se alguém for muito bom ele o mata= (no sentido da morte como redentora) :Ele é solitário" ele é conhecidoS
/ara "on"luir% temos em um !erso de Oriki uma alusão a lenda que temos na diás4ora e que nos di2: :Ele mata o carneiro sem utiliar a faca= 86
Vue nos a2 4ensar em @ana e "onseqEentemente em "omo na nossa so"iedade de "onsumo e o"idental nos re"usamos ainda em deender tradiç&es que são tão nossas que erdamos desta diás4ora ari"ana# .alubá 'a @ana Osunemi (!an /oli
O 4ito de Yeman0á na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is" 9e!emos% ao ini"iar alar em Yeman)á% que a4esar de tal!e2 ser ela a 9i!indade Yorubá mais 4o4ular em sua diás4ora no rasil e no imaginário dos brasileiros de todas as religi&es% grande 4arte dos seus mitos% assim "omo de outros Ori*ás% oi "onstru3do em terras da diás4ora e não reletem sem4re o mesmo imaginário m3ti"o entre os ari"anos# @ão são em todas "idades 'orubás que Yeman)á se rela"iona diretamente "om o mar% a4esar de estar 4resente na maioria delas#+ontudo está ligada 6s águas% de alguma orma% na maior 4arte# /ois as águas e suas deusas (e deuses a2em 4arte da "osmologia de quase todas "idades 'orubás% o que não quer di2er que todas as águas se)am o ar# á e as di!indades au*iliares terem de se ada4tar 6 ierarquia do ito undador da "idade# .egundo a "osmologia en"abeçada 4or este ito undador% au*iliam nesta "osmologia e "onsequentemente na ordem
so"ial e das instituiç&es destas "idades
"onorme tamb$m me airmam meus "orres4ondentes ari"anos ligados a "or4os sa"erdotais de tem4los em "idades .agradas da egião Yorubá# , Yeman)á que "one"emos no rasil% segundo !emos na obra de Cerger% reJne elementos das di!indades Yorubás Yemo)a% Ye'emo>o e Ye>a ( e outras di!indades menores ligadas 6s águas das !árias "idades 'orubás que se en"ontra!am atra!$s de seus ilos da diás4ora% desde a $4o"a da sen2alas# Yemo)á% era uma das di!indades 4rin"i4ais da "idade de ,beokutá% onde "onta-nos Cerger que se situa!a seu 4rin"i4al tem4lo# .egundo o mesmo autor Yemo)á dentro da l5gi"a aglutinante da l3ngua Yorubá $ a "ontração de 87
Ye'e(mãe Omo(ilo )á(/ei*e ou se)a: ãe que os ilos são 4ei*es% ou ãe dos /ei*es# O nome Yeman)á no rasil%e Yema'a em +uba e nas outras ,ntilas % teriam !indo diretamente do nome Yemo)a# +ontudo% "onorme )á dissera% nem sem4re o ito de Yeman)á se rela"iona diretamente "om o ar e% 4ara ilustrar isto% trans"re!o um mito que se reere 6 "idade de O'o ( que não era banada e nem 4r5*ima ao mar que Cerger nos "ita a 4artir dos relato do /adre audin e outros autores euro4eus: :Oduduá deu a seu esposo Obatalá um menino e uma menina C %ganju" #ue significa= lugar inabitado" mato ou floresta= e Femojá( m!e dos pei.es)$ Femojá é a divindade dos rios e preside julgamentos pela água$ ? representada por uma estátua de mulher" amarela" usa contas auis e um traje branco$ O culto a %ganju parece ter cado no es#uecimento ou confundiu+se com o culto prestado á sua m!e" mas di+se #ue ele tem lugar diante do palácio do rei de O9o"onde o deus era adorado antes" e #ue ainda se chama Oju %ganju$ Femoja desposou seu irm!o %ganju" do #ual teve um filho" Orungan" #ue significaria =no alto do céu=$ Seria o ar (entre a terra e o céu)$ Orungan enamorou+se de sua m!e$ Ela n!o #uis dar+lhe ouvidos" mas ele" aproveitando+se da aus-ncia do pai"a possuiu"0ogo ap&s o ato Femojá fugiu" torcendo as m!os" lamentando+se perseguida por seu filho$ Ela repeliu com repugn4ncia todo o consolo #ue ele #ueria dar+lhe$ 1o momento em #ue Orungan ia apoderar+se dela$ Femojá" caiu de costas no ch!o$ Seu corpo inchou imediatamente e de seus seios saram cursos dPágua #ue formaram um lago$ Seu ventre e.plodiu e dele saiu uma série de deusesCQ$ *ada ( deus dos vegetais)< R$ Sango (deus do trov!o)< $ Ogum (deus do ferro e da guerra)< T$ Olokum ( deus do mar)< U$ Olosa (deusa dos lagos)< V$ O9a (deusa do 1ger)< W$Osun( deusa do rio Osun)< Oba ( *eusa do @io Oba) < X Orisa Oko ( deus da agricultura)< QY Osoosi ( deus dos caadores)< QQ Oke ( deus das montanhas)< %je salunga ( deus das ri#ueas)< Q$ Soppona ( deus da arola)< QT$ Orun ( o Sol)< QU Osu (a lua)$ 1o lugar onde o corpo de Femoja inchou foi erigida uma cidade" Ife ( #ue significa distens!o" inchao)" a #ual se tornou a cidade Santa dos Forubá$=
Má alguns 4ontos a se "omentar e e*4li"ar na Lenda da +oletAnea de Cerger#
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1- ,gan)u $ o nome de um dos 4rimeiros ,lains (reis de O'o% e% 4ortanto% deii"ado assim "omo QangN e Orani'an# sto )ustii"a seu "ulto diante do 4alá"io do rei de O'o na lenda a"ima# 8 – Olokum a4are"e aqui "omo deus do mar% o que era "omum na maior 4arte dos reinos Yorubás% sobretudo em O'o# @o rasil% o "ulto de Olokum 4rati"amente não e*iste% mas em +uba resiste e $ "one"ido na .anteria "omo 9eus do ar# ; – e nesta !ersão $ signii"ada "omo sendo um in"aço# +ontudo em Yorubá e $ um substanti!o que se orma a 4artir do !erbo e(querer e a qualidade do querer(e que orma (e e tamb$m designa% em 'orubá% a 4ala!ra ,mor# .egundo o que nos "onta .alami em suas aulas e tamb$m% 4or esta a"e4ção% quer di2er algo muito grande e que não tem tamano ( da3 sua 4ro!á!el "orrelação "om um in"aço# $ $ a "idade Original dos Yorubás% que legitima a reale2a de todos os outros reinos 'orubás atra!$s do 4oder de seu Ooni ( rei que $ des"endente direto de Odudu>a ( an"estral m3ti"o de quem todos os outros reis 'orubás tamb$m des"endem# B interessante ressaltarmos que mesmo nesta lenda% Yemo)a% não sendo a raina do ar% $ a mãe dos Ori*ás e este mito nos e*4li"a a "riação do Uni!erso e a unção +osmol5gi"a deste mito "omo um elemento eminino res4onsá!el 4ela Rênese do undo% 4ois os deuses re4resenta!am em si os elementos que tinam "omo dom3nio# @a diás4ora% tamb$m !emos em "oletAneas de outros autores% Yeman)á 4romo!endo esta Rênese e sendo o elemento eminino res4onsá!el 4or ela# a# 9e qualquer orma% o que $ um "onsenso $ que tanto Yemo)a% quanto a nossa Yeman)á% estão ligadas 6s águas% ao 4oder eminino% ao 4oder "riador e 6 Rênese% 6 maternidade% ertilidade e 6 an"estralidade eminina# 89
stas águas que e*4li"am a unção "osmol5gi"a do mito a 4artir de seu 4oder "riador e de ãe da Rênese% tem seus rele*os no 4oder eminino da maternidade que )untamente "om o 4a4el eminino da an"estralidade nos e*4li"am muito da estrutura so"ial que se "onstr5i istori"amente onde este mito está 4resente# Uma !e2 a4resentados estes elementos 4odemos "omentá-los em seus Orikis#
4aternidade de Yeman0á e -ncestralidade 5eminina em seus Ori@is # 9entro de uma so"iedade que se e*4ressa atra!$s de linagens% a maternidade e a "ondição de mãe e*4ressam% antes de tudo% segundo esta !isão% a "ondição de dar "ontinuidade a um determinado "i"lo que mantena esta ordem e estrutura so"iais# +omo nos e*4&e .errano em suas aulas e alandier em seus te*tos% a matriar"a a 4artir de uma determinada idade 4assa a desem4enar um 4a4el im4ortante dentro das estruturas de 4oder 4redominantemente mas"ulinas% nas so"iedades subsaarianas# sta idade que "onere 6 muler uma determinada antiguidade que a 4ermite 4arti"i4ar das de"is&es dos "onselos mas"ulinos% $ e*atamente o que !emos re4resentado no ito de Yeman)á quando esta maniesta sua maternidade adulta# ,o analisarmos os !ersos de Oriki: :@ainha #ue vive nas profundeas das águas= e G *iante do @ei ela espera altivamente sentada S% !emos no 4rimeiro a
legitimação da unção "osmol5gi"a de seu mito e no segundo a imagem deste 4oder matriar"al% ao a2ermos a imagem da muler alti!a que es4era na rente do rei# Dá no !erso: :3lauta de mulher #ue ao despertar toca na corte do rei= !emos mais uma !e2 a imagem da sua igura eminina ligada ao 4oder# B ine!itá!el alarmos em maternidade e querermos nos desdobrar em suas im4li"aç&es na so"iedade 'orubá% sem antes "itar que ela não e*iste sem a ertilidade das mães e a 4r54ria maternidade% ao que Yemo)á tamb$m a4are"e ligada indubita!elmente nos !ersos de Oriki: : B!e #ue tem os seios Amidos S ( 4ois está amamentando e G Ela tem muitos pelos na agina S ( em uma alusão 6 muler $rtil# Dá quando ou!imos os !ersos: :Bar" dona do mundo #ue cura as pessoas como um médico= e :elha dona do Bar= 4odemos a2er melor a relação
e*istente entre esta igura da atriar"a% do mito que assume sua unção "osmol5gi"a atra!$s do ar
e que tem seu 4a4el na Rênese e que se 90
desdobra em sua unção so"iol5gi"a quando atra!$s do seu "or4o sa"erdotal :cura as pessoas como um médico=$
nega!elmente% todos estes !ersos a4arentemente des4retensiosos tamb$m a2em a imagem da mãe que dá sequên"ia 6 so"iedade de linagens e mant$m assim !i!a a estrutura so"ial que 4or ela se mant$m# +ontudo% o 4a4el so"iol5gi"o do mito de Yeman)á !ai muito mais al$m e 4odemos at$ mesmo entender um 4ou"o das relaç&es
de 4arentes"o e
alteridade ( "om estranos 4resentes nos te*tos de +laude eillassou* (,ntro4ologia da s"ra!idão % autor que nos introdu2 que a 4artir destas relaç&es $ "riada a es"ra!idão linageira na Hri"a .ubsaariana# @ormalmente% segundo eillassou* era a 4artir da alta "onquista eeti!a de es4aço nesta estrutura de linagens 4elos estranos que "omeça a es"ra!idão linageira na Hri"a# +ontudo o mesmo autor% ao mesmo tem4o di2 que nem sem4re estes estranos esta!am adados a este destino% 4ois a!ia a 4ossibilidade de integração destes 6 esta estrutura so"ial# /odemos ter uma id$ia de "omo esta integração se da!a na região onde o ito de Yemo)á irradia!a sua inluên"ia em terras Yorubás quando entendemos "omo desem4ena!a esta sua unção so"iol5gi"a quando ou!imos os !ersos de Oriki: :2riana #ue em grupo #uer ver Femoja= :Binha m!e %'o9o é maior do #ue a#uelas #ue t-m roupas= ( em 4ro!á!el
reerên"ia 6s euro4$ias :Ela cria as crianas vindas de fora=
GSeu filho será alimentado= Cemos literalmente nos !ersos a"ima a "riação da instituição dos agregados amiliares na Hri"a Yorubá% que "ria a 4artir do mito de Yeman)á% um es4aço 4ara que estes% at$ então estranos% 4enetrem nas estruturas linageiras das am3lias e en"ontrem seu es4aço# Má alguns anos me "orres4ondia "om uma amiga que era 4roessora no enim e des"endente de Yorubás% e ela em "arta me "onta a ist5ria de sua 4r54ria am3lia% que des"endia de 4essoas da +orte de O'o# +om a Ruerra do Rlele no s$"ulo QQ seu tatara!N oi es"ra!i2ado 4elo rei do 9aom$ (Rlele e que os Pon ao in!erterem a ordem de submissão que tinam "om o reino de O'o% ao es"ra!i2ar a "orte e grande 4arte dos adultos de muitas "idades% abandona!am 91
as "rianças 6 4r54ria sorte% que eram a"olidas 4or am3lias 'orubás e se torna!am agregadas destas am3lias# .egundo me di2 mina "orres4ondente% sobretudo nesta ase da es"ra!idão% era "omum que am3lias
'orubás
estabele"idas em "idades do que o)e $ o enim adotassem estes agregados 4ara aumentar a orça de suas linagens e mesmo nas "idades Yorubás que o)e são da @ig$ria isto a"onte"ia entre as "idades que guerrea!am entre si# Cemos no Oriki que a instituição dos agregados da am3lia brasileira que di2 res4eito a muitos de n5s% têm ( tamb$m% 4or$m tal!e2 as mais ortes ra32es na Hri"a# /er"ebemos isto muito bem sobretudo no @ordeste onde a inluên"ia dos Yorubás $ maior% mas tamb$m no .ul e .udeste# ina 4r54ria a!5 e suas irmãs (que eram mineiras e negras "uidaram de muitos agregados segundo a tradição de suas an"estrais#
#%digo 4oral de YeCemoJo a partir de seus Ori@is # Outro mito que inluen"iou o que "one"emos "omo sendo nossa Yeman)á% oi a muler de Obatalá que se "ama Ye'emo>o e que "on!ersa diretamente "om o mito de Yemo)a% a4esar de estar mais ligada a unção da muler de Obatalá do que .enora das Hguas# Cemos neste mito um orte "5digo moral% que inega!elmente está ligado a Obatalá e seu "ontra4eso no uni!erso eminino#
:Seu marido n!o deve voltar a casa com outra= :Ela di #ue a lebre assim o fa no mato= :Bulher principal= :Ela é digna de seu marido no dia #ue carrega um fardo= :@ainha #ue encontra o #ue comer= :Ela gosta de ver seu marido com fre#,-ncia=
O mais interessante que obser!amos no ito $ que desena um "5digo 4ara es4osas baseado em obser!aç&es que !em do sistema de ra"ionalidade deste 4o!o e que tem grande inluên"ia 4elo o que "one"emos ser 4erten"ente ao mito de Yeman)á na diás4ora#
O 4ito de Eang$ na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is Palar do mito de QangN na +i!ili2ação Yorubá% tal!e2 se)a um 4ou"o "omo alar em ]eus na itologia Rrega% DJ4iter na itologia omana% ou mesmo Odin entre os Cikings% sobretudo se nos atemos ao "on"eito do que ele re4resenta 4ara o eino de O'o e o que este reino re4resenta 4ara a +i!ili2ação Yorubá e 4ara a diás4ora# O'o in"or4orou e mante!e relaç&es de G!assalagemS e de asso"iação "om di!ersos outros reinos "idades stado Yorubás ( e não Yorubás% tornando se o maior reino Yorubá# , 4r54ria 4ala!ra Yorubá% que designa todo o "on)unto de 4o!os que "one"emos na diás4ora "omo sendo nagNs !em de uma reerên"ia direta aos abitantes do reino de O'o# +omo não 4oderia dei*ar de se re4rodu2ir no ito de QangN temos na lenda abai*o da egião de .a!$ (no atual enim um e*em4lo simb5li"o desta e*4ansão de O'o sobre outros reinos ari"anos 'orubás ou não% na igura de QangN# , lenda e*tra3da da "oletAnea de Cerger di2 o seguinte: 93
:2erto dia HangG se transformou em um menino pe#ueno e foi ver o rei em seu trono$ *isse+lhe #ue lhe cedesse o lugar" pois o rei era ele$ O rei chamou todo mundo e perguntou e #uem era a#uele menininho #ue o incomodava$ 1inguém o conhecia$ O rei ordenou a seus servidores #ue o matassem e o jogassem no rio$ 0evaram+no e" da a pouco" os servidores voltaram$ %ntes #ue eles chegassem à presena do rei" o menino já estava diante do trono$ O rei ficou espantado e disseC= 2omoK Ele foi morto pelos homens e agora voltou$ :Se eu mandar as mulheres matá+lo talve n!o volte=$ O menino ouve essas palavras e pGs se a saltar"a brincar e a operar milagres$ %s mulheres o perseguiram$ Ele viu um grande buraco" saltou por cima dele " pulou em cima de uma grande árvore e desceu$ Saltou em uma floresta pr&.ima e encontrou uma árvore de grande porte$ Saltou nela e apareceu dependurado em um galho" pendendo de uma corda"e morreu$ %s mulheres voltaram e disseram ao reiC :o menininho enforcou+se=$ O rei disse #ue o milagre n!o poderia ter ocorrido desta forma na cidade e anunciou a todo mundo #ue iria faer um sacrifcio$ 2omprou o material para o sacrifcio (como comum em #ual#uer Itan e Ese Ifá dos Odus de Ifá ao #ual essa lenda se assemelha e deve ter origem certamente)$ Ordenou a seus servidores #ue cavassem um buraco debai.o do corpo enforcado e #ue nele jogassem todo o material ad#uirido" ap&s #ue a corda deveria ser cortada$ O corpo ao cair voltou a ser um menino vivo e todo mundo ficou espantado$ O menino declarou #ue n!o havia se enforcado (Joso ; ko (o)so em 9orubá)$ 3oram ver o rei$ Surpreendido" ele foi verificar se a#uilo era verdade$ %o voltar o menino estava sentado no trono$ O rei ordenou+lhe #ue cedesse o lugar$ O menino recusou+se e disse+lhe #ue seu nome era Oba Joso (rei #ue n!o se enforcou) e #ue ele comera o rei" tomando o seu lugar$=
, lenda a"ima nos tra2 elementos simb5li"os im4ortantes a se obser!ar e que "om4lementam bem o que !imos em mitos anteriores# aO ato de os omens que re4resentam a relação de ordem não "onseguirem matar o menino que tra2 em si a desordem% 4ortanto as muleres que re4resentam esta metade 4erigosa e a relação "om o "aos "onseguem segundo nos mostra alandier em sua obra#
94
bsto nos reorça uma relação de 4oder "om o du4lo no mito 4ois tanto o rei quanto QangN se rela"ionam desta orma "om o mas"ulino e eminino em sua su"essão ao 4oder# "eorça tamb$m o que !imos em O*umar$ que em si mesmo se desdobra no mas"ulino e eminino que sustentam a ordem do Uni!erso% 4ois não 4ode a!er "ontrole da ordem do Uni!erso se quem rege não tem em si o 4rin"34io do +aos e da
em grande 4arte das so"iedades
subsaarianas# 9esta orma% ao obser!armos estes 4ontos !emos uma metáora da relação soberana que se estabele"e entre o reino de O'o e os outros reinos que mantinam relaç&es de de4endên"ia ou !assalagem% a 4artir da igura de QangN que era senão uma re4resentação deii"ada do 4r54rio ,lain de O'o# ,ssim% a ist5ria do (não enor"amento de QangN% a 4artir desta !ersão que a4arentemente at$ o)e !emos de orma des4retensiosa e "omo se ti!esse a4enas um signii"ado m3sti"o aos que se interessam 4ela liturgia dos ori*ás% gana no!os signii"ados e nos a)uda a "om4reender "omo se da!am relaç&es entre reinos na Hri"a .ubsaariana assim "omo
4arte do "on"eito de du4lo
nas relaç&es de 4oder entre estes 4o!os e que tamb$m têm seus eeitos na diás4ora "omo !eremos no item seguinte
Eang$ , os ABmeos e o 6apel do Puplo nas estruturas de 6oder da África e seus refle'os na Piáspora" 95
ni"iamos aqui a análise dos Orikis de QangN em seu "aráter "i!ili2at5rio# +itando L$4ine% alandier% .errano e Cerger e "onorme alamos no item 4re"edente e em outros te*tos anteriores grande 4arte das relaç&es de 4oder na Hri"a subsaariana $ mar"ada 4elo du4lo em suas mais di!ersas orma e e*4ress&es# Uma das e*4ress&es mais mar"antes deste du4lo $ simboli2ado )ustamente na igura dos gêmeos% 4ois baseando me nas aulas de .errano e em te*tos de alandier os gêmeos têm sem4re um es4aço es4e"ial de tratamento nas so"iedades de linagens "omo a maior 4arte das subsaarianas# m algumas so"iedades os gêmeos são se4arados e di2em que 4or !e2es um deles 4ode ser at$ mesmo sa"rii"ado# @este "aso% o nas"imento de gêmeos 4ode signii"ar 4ara estas so"iedades o desequil3brio das linagens 4ela im4ossibilidade de determinar relaç&es e o es4aço de quem $ o mais !elo e quem $ o "açula# Dá outras so"iedades% "omo os 'orubás% !êem os Rêmeos de orma ben$i"a# sto de!e se dar% muito 4ro!a!elmente 4elo ato de que gêmeos reorçam% segundo a !isão deste 4o!o% a linagem naquele instante 4elo nas"imento simultAneo que )ustamente "ria dois mais !elos% dois ilos do meio ou dois "açulas% reorçando a linagem "omo um todo# , questão $ que os Rêmeos aludem 6 uma orma sim$tri"a
e assim
igualmente rela"ionada ao du4lo% na qual baseiam-se simboli"amente relaç&es de 4oder na maior 4arte da ^ri"a .ubsaariana# ,o analisarmos os Orikis de QangN !emos esta relação "om os Rêmeos e "om o du4lo nos !ersos: Senhor dos D-meos # Sua divers!o é carregar uma criana 1a cabea de um O.é ele monta e parte$
9e!o e*4li"ar que "onorme !emos na maior 4arte das re4resentaç&es de O*$s de QangN% sobretudo na Hri"a% eles são sustentados 4or dois gêmeos em sua base ou um omem simetri"amente 4osi"ionado a base# O que alude diretamente 6 sua relação "om o du4lo% se)a na igura dos gêmeos ou questão da simetria dos lados do ma"ado# +omo !imos anteriormente% segundo nos ala .errano em suas aulas% geralmente a simetria está ligada a relaç&es armNni"as e es4irituais e a 96
assimetria a relaç&es de 4oder que 4odemos sugerir que tra2endo em si algum grau de o4ressão são 4or si 4r54rias assim$tri"as# O O*$ de QangN ao mesmo tem4o que tra2 seus Rêmeos e sua simetria não 4ode ter% segundo estas "ara"ter3sti"as% no imaginário do 4o!o 'orubá outro signii"ado senão relaç&es de 4oder ( 4or se tratar do ,lain QangN que se estabele"em de orma armNni"a )ustamente 4or tra2erem em si um signii"ado es4iritual e m3sti"o ( 4ois não 4odemos esque"er que QangN oi um dos ,lains deii"ados Outro ,lain deii"ado teria sido Oran'ian% o a!N de QangN que tamb$m tem sua relação simb5li"a "om o du4lo em sua re4resentação de um omem simetri"amente meio negro e meio bran"o# +ontudo% a questão simb5li"a do du4lo tanto no mito de QangN "omo no de Orani'an !em legitimar tamb$m alianças entre reinos e 4o!os dierentes#9e um lado o 4o!o in!asor ou que 4or algum outro moti!o% "omo alianças $ o elemento no!o e de outro lado o 4o!o aut5"tone% re4resentando em si mesma esta relação du4la de 4oder#@o "aso de Orani'an que era meio
aribá
(elemento no!o e meio Yorubá( aut5"tone e QangN que 4or ser des"endente de Oran'ian era meio aribá e meio Yorubá e 4or origem materna ilo de uma raina @u4e (
em toda região que !ai atualmente do urkina Paso ao @iger% sob dierentes denominaç&es# +om o ad!ento de Oduduá $ introdu2ido o "ulto ao Olorun ( .enor do +$u# @este "onte*to são "riadas so"iedades de "ulto ao Onile ( .enor da
4oder du4lo s5 4oderia ser re4resentado 4or algu$m que ti!esse
igualmente em sua "arga simb5li"a o "on"eito do du4lo# Orani'an "om seu "or4o simetri"amente di!idido em 4reto e bran"o e QangN que em seu O*$ que tra2 os gêmeos e a simetria são mitos que simboli"amente "ara"teri2am a armonia entre estes dois 4oderes# O O*$ de QangN que 4or um lado re4resenta o 4oder da so"iedade Ogboni em O'o e 4or outro o do O'omesi $ equilibrado em seu "entro 4or QangN que $ o ,lain% "ada um re4resentando um dos gêmeos (o que tal!e2 nos a)ude a e*4li"ar 4or que os gêmeos são sinal de bom agouro 4ara os 'orubás# ste O*$% neste mesmo "onte*to re4resenta o equil3brio da so"iedade Ogboni dos aut5"tones ('orubás no "aso de O'o que resistem em suas tradiç&es e ao mesmo tem4o in"or4oram no!os elementos das "ortes dos 4o!os "om os quais a2em alianças (aribás e @u4es no "aso de O'o% ou in!asores no "aso de outras so"iedades# O O*$ re4resenta assim em sua simetria e geminilidade o equil3brio que á entre os elementos tradi"ionais e elementos no!os# ,ssim "omo tamb$m re4resenta o mo!imento de resistên"ia dos elementos 98
tradi"ionais que in"or4oram e re-signii"am
elementos no!os dando um
sentido de transormação destas so"iedades subsaarianas# +omo nos ratii"a alandier
em sua obra
!emos neste mais um e*em4lo de que estas
so"iedades subsaarianas% não $ 4or serem tradi"ionais não se transormam e não "riam um sentido de istori"idade e não têm 4or isso uma dinAmi"a de transormação so"ial# , Obra de alandier e este e*em4lo questionam o que 4ensa!am muitos antro45logos deterministas do in3"io do s$"ulo QQ ( +omo o 4r54rio Le!' .trauss sobre as so"iedades G 4rimiti!asS e tradi"ionais
ao
"lassii"á-las "omo a-ist5ri"as# .em dJ!ida% esta "lassii"ação mesmo que não diretamente 4ro4ositada% ser!ia
e era "on!eniente aos 4ro45sitos
"oloniais e 4orque não di2er que ainda ser!em aos 4ro45sitos neo"oloni2adores e o"identali2antes do +a4ital e da 4adroni2ação de uma so"iedade de "onsumo %"onorme nos ins4ira a airmar 9ilma de ello .il!a a 4artir de sua obra na e*4eriên"ia !i!ida "om os i)ag5s na Ruin$ issau# esistir% manter o tradi"ional e% ao mesmo tem4o a"oler% assimilar e resignii"ar o no!o% este $ um 4ro"esso que guia a transormação e dá um sentido de istori"idade a muitas so"iedades subsaarianas tradi"ionais e que temos na 4r54ria diás4ora "omo G4rimiti!asS em um sentido 4e)orati!o# ste mo!imento de transormação que !emos nestas so"iedades 4ode querer tamb$m di2er muito de n5s mesmos na diás4ora em nossas dinAmi"as de transormação de nossa so"iedade brasileira ( e mesmo latino ameri"ana nos 4a3ses onde o"orreram a diás4ora ari"ana% sobretudo no que ela se dieren"ia da euro4$ia em relação 6 manutenção de suas tradiç&es# .em dJ!ida os euro4eus (e alo tamb$m 4or e*4eriên"ia 4r54ria são muito mais resistentes no a"olimento e assimilação e re-signii"ação das alteridades e do no!o do que n5s no rasil e estas so"iedades ari"anas tradi"ionais#Cemos e*em4lo "laro disto quando "om4aramos as dierenças nos tratamentos e a"olimento que n5s e eles demos e damos a maior 4arte dos nossos imigrantes estrangeiros atra!$s da ist5ria dos Jltimos s$"ulos at$ os dias de o)e# sto% inde4endentemente da su4osta origem que di2emos ter% nos a4ro*ima% ao menos neste as4e"to mar"adamente 4resente em nossa "ultura% muito mais destas so"iedades subsaarianas G4rimiti!asS que muitos de n5s insistimos em es"onder do que das euro4$ias que grande 4arte de n5s insistimos em ressaltar em nossas origens# O mais im4ortante de qualquer orma $ que essa 99
"ara"ter3sti"a $ um traço que inega!elmente% 4or ser "omum a nossos es43rito na"ional% nos une "omo 4o!o inde4endentemente de nossa "or de 4ele ou su4ostas origens euro4$ias 4resentes em nossos sobrenomes# /ara a)udar a ratii"ar isso em um 4ro"esso ist5ri"o da diás4ora no rasil% 4odemos !oltar ao simbolismo do O*$ de QangN% e do 4r54rio QangN no "on"eito de resistên"ia de elementos tradi"ionais e assimilação
e re-
signii"ação de no!os elementos nesta nossa diás4ora# .egundo nos mostram os estudos sobre os +andombl$s da aia% a maioria deles se rela"ionam diretamente a rmandades +ristãs e um deles o que eu reqEento em .al!ador que $ dedi"ado a QangN in"lusi!e mant$m uma "ru2 em seus dom3nios e se "ama originalmente .o"iedade da +ru2 .anta do le de O4o ,on)á# ,nalisando a +ru2 e o O*$K +risto e QangN !emos que segundo a leitura simb5li"a dentro da dinAmi"a das so"iedades subsaarianas% "omo a 'orubá% os dois "arregam em si signii"ados simb5li"os similares% e remetem a relaç&es du4las de 4oder em três as4e"tos: a)
b)
c)
100
, 4artir disto% se analisarmos as relaç&es dos es"ra!i2ados "om as irmandades "ristãs% !emos que segundo a !isão da gre)a na $4o"a% muitas somente ser!iam a4arentemente de a"ada 4ara en"obertar os "ultos tradi"ionais de resistên"ia dos ari"anos# +ontudo% se le!armos em "onta que os elementos simb5li"os que aquela "ru2 e aquele +risto re4resenta!am se a4ro*ima!am em signii"ado 4ara os ari"anos% "omo sendo relaç&es de 4oder entre o tradi"ional e o no!o que de!eriam no!amente se armoni2ar e re-signii"ar a 4artir de seu signii"ado es4iritual% 4oderemos entender mais a"ilmente "ertas "oisas "omo 4or e*em4lo: aa "riação do +andombl$ tal qual o $ no rasil% 4ois a religião muitas !e2es tra2 no!os signii"ados e s3mbolos e a di!isão em @aç&es $ um ato que nas"e no rasil# O 4r54rio nome "andombl$ nas"e no rasil ( 4ois na Hri"a o "ulto aos Ori*ás $ "amado de le Orisa e su4ostamente não !em nem do Yorubá% mas de outra l3ngua de rai2 bantu e quer di2er : Tando bele - ater
de elementos
tradi"ionais ( no "ulto aos Ori*ás% in"or4oração e re-signii"ação de elementos no!os "omo as naç&es e o 4anteão tal qual ele o $ na diás4ora# b o su"esso da a"eitação do sin"retismo dentre os es"ra!i2ados% que signii"a em "erta medida a manutenção de uma tradição e a a"eitação e in"or4oração de elementos no!os# " a "riação da Umbanda% )á em um segundo mo!imento de assimilação e re-signii"ação na qual a tradição ini"ial que resiste $ quem 4romo!e e 4ossibilita este mo!imento# , tradição que resiste no "aso $ re4resentada 4ela "entralidade que o"u4a o 4anteão de Ori*ás ari"anos no "onte*to litJrgi"o da Umbanda# Dá o elemento no!o !em da in"or4oração de 4ersonagens que nossa elite "ultural "one"e somente 101
a 4artir das leituras de Ruimarães osa e Dorge ,mado% alguns outros autores romAnti"os e modernistas da segunda ase que geralmente são leituras obrigat5rias quando !ão 4restar !estibular# stes elementos no!os da no!a
e s3mbolos que
aludem deuses da
"omo os inqui"es% )á indi"ando um 4ro"esso anterior de
assimilação do no!o em um +ongo que assimilou o "ristianismo desde o s$"ulo QC # - Os boiadeiros que simboli2am em nosso 4ro"esso ist5ri"o muito do nosso 4ro"esso de mestiçagem na "oloni2ação do interior de nosso 4a3s# - Os "iganos : que não 4odemos esque"er que esta!am entre os 4rimeiros desterrados 4ara o rasil# Má "omunidades "iganas no re"Nn"a!o baiano que
remontam do s$"ulo QC e !ieram "om os
4rimeiros desterrados%e 4or isso tem "om nossa @ação uma relação an"estral o que legitma que se)am assimilados 4ela Umbanda% assim "omo todos os demais anteriores# - á outros gru4os "omo os baianos e baianas
que
e!entualmente não 4oderiam dei*ar de altar uma !e2 que o o"o da diás4ora 'ourbá $ a aia% que a4are"em% muita !e2es% "omo mestiços# m geral 4odemos notar na Umbanda elementos ortes tanto de nossa mestiçagem quanto de nossos elementos an"estrais que nos "onstituem "omo 4o!o e que "om4&em esta mestiçagem# Ora% an"estralidade e mestiçagem não dei*am de ser e*4ress&es que re"riam esta dinAmi"a de transormação so"ial ari"ana que !emos
desde o reino de O'o em QangN
e em seu
simbolismo de relação "om o du4lo# , relação "om a an"estralidade 102
re4resentando a resistên"ia da so"iedade tradi"ional e% no "aso de O'o% aut5"tone e a mestiçagem a in"or4oração do no!o
que ao se misturar
tamb$m se re-signii"a e orma o que n5s somos# /or isso% temos a tendên"ia de di2er que a Umbanda $ a Jni"a religião 4uramente brasileira% 4or re4resentar este nosso es43rito "om idelidade# O que não 4odemos esque"er $ que se !emos estas "ara"ter3sti"as em nosso es43rito% $ que na !erdade esse 4ro"esso no es43rito "oleti!o brasileiro que nos a2 a"oler % a"eitar e re-signii"ar o no!o tem inega!elmente suas origens em nossos an"estrais da Hri"a .ubsaariana# 9essa orma% mais uma !e2 ins4irado 4ela obra de 9ilma de elo .il!a% 4ela !i!ên"ia 4essoal e mina 4r54ria as"endên"ia ari"ana não 4osso dei*ar de airmar que 4erdemos muito em não desen!ol!ermos uma !isão 4r54ria sobre estes 4o!os nossos an"estrais ari"anos que !emos 4elos olos dos que os têm "omo e*5ti"os# sso se dá sobretudo 4or que esta !isão geralmente "omo o a2 na 4r54ria Hri"a% marginali2a o tradi"ional e G 4rimiti!oS # 9essa orma o "i"lo de transormação destas so"iedades subsaarianas% "omo a 'orubá% que ne"essita manter sua base tradi"ional 4ara assimilar e re- signii"ar o no!o% se !ê !iolada% desmantelada e destru3da#sto 4ode e*4li"ar muito do ra"asso das instituiç&es administrati!as ari"anas que se aastam de seu "i"lo natural de transormação re"usando a 4r54ria nature2a 4or a"reditar que esta se)a um atraso e bus"ando modelos euro4eus que re4resentem esta so"iedade de "onsumo o"idental e Gdesen!ol!idaS ( O que n5s na diás4ora tamb$m temos que reletir se não o a2emos% sobretudo a 4artir da elite do nosso meio a"adêmi"o% que ainda reluta em ao menos re"one"er esta origem em n5s a "omeçar 4or si mesma# 9a mesma orma que ao não nos re"one"ermos em nossas origens nestas so"iedades G4rimiti!asS (sobretudo n5s do meio a"adêmi"o brasileiro%dei*amos de ser autenti"amente n5s mesmos% abrindo es4aço 4ara a ragmentação so"ial e identitária que aasta nossa so"iedade não somente do ideal de igualdade mas tamb$m da sustentabilidade e"onNmi"a% 4ois
o que
obser!amos a 4artir dos 4a3ses desen!ol!idos que tentamos imitar e do que !i!emos o)e grandes
$ que dii"ilmente so"iedades que não a4ostem no im de
dis4aridades
4oderão
se
tornar
realmente
sustentá!eis
e"onomi"amente# ,4esar de que "on"ordarmos e a"armos lindo quando o 103
antro45logo ran"ês ale em amoso e bem re4utado do"umentário% sobre nossa matri2 aro que% G somente estas so"iedades 4rimiti!as 4oderão sal!ar o omem "ontem4orAneoS# .o"iedades estas que 4ara ele são tão e*5ti"as e que a4esar de nos terem a)udado a ormar !emos igualmente "omo sendo e*5ti"as#
Aonde estão perdidos os nossos "#meos , en$or dos "#meos% Aonde está nosso Oxé en$or do Oxé % "#meos e Oxé que trarão equil&'rio e igualdade para nossa ação nesta diáspora% iga nos pai *ang+ !recisamos reencontrá-los em nossos antepassados
da mãe
frica Ancestrais que mesmo quando não podemos encontrar na origem de sangue ou na cor da pele, ão podemos negar em nossa expressão, !or mais que queiramos escond#-los Assim como outrora nossos Orixás se escondiam atrás dos antos, . que não deixavam por isso de serem nossos euses e ancestrais das terras que viemos nesta diáspora# !ai *ang+, !ermita que não escondamos mais nossas verdadeiras faces de n/s mesmos Osunemi#
Eang$ e a relação com os Isl!micos e #ristãos @este item dis"orreremos a 4artir de !ersos de Orikis de QangN da Hri"a% sobre a relação da religião tradi"ional Yorubá e outras tradiç&es religiosas "omo o slã e o +ristianismo#
104
/ara entender a relação "om o +ristianismo ne"essitamos em 4rimeiro lugar alar da relação "om o slã# .egundo o que di2em alguns estudiosos% o ito da relação do 4r54rio Oduduá "om o rei de e"a e a uga dele da ,rábia 4assando 4ela @Jbia e se estabele"endo em terras Yorubás% $ um mito "onstru3do# nde4endentemente do 4osi"ionamento destes estudiosos e os que sustentam a !era"idade deste mito% o que não 4odemos esque"er $ que ele re4resenta de qualquer orma uma relação entre o slã e a religião tradi"ional Yorubá# @a tradução 4ara o nglês de uma s$rie de Odus de á% dentro da Obra a 9i!ination /oetr' de ,bimbola [ande
"onirmamos em Otura e)i esta
relação% 4ois este Odu trata )ustamente da 4enetração do slã em terras Yorubás em determinados tre"os# Cemos nos Orikis de QangN alguns !est3gios desta relação# Vuando ou!imos os !ersos: Ele realia a cerimGnia para o muulmano$ Ele batia novamente o muulmano Ele fa a ablu!o no lugar onde cai a chuva$ Ele sobe no pil!o para faer a ablu!o dos muulmanos$
/randi% em sua memorá!el "oletAnea itologia dos Ori*ás%
tra2 algumas
lendas que alam da relação de QangN "om os malês# Uma delas ala de uma guerra entre QangN e os malês e o ato de QangN dei*ar de "omer "arne de 4or"o em res4eito aos malês# Ou!i )á reerên"ias a lendas 4are"idas de 4essoas na diás4ora# Má alguns anos atrás% esti!e no ,on)á onde ui !isitar a saudosa mãe 4equena do +entro 'a Reorgette e na o"asião ser!iam "arne de 4or"o a 4artir de um ritual que ora eito 4ara *u# Pui "on!idado 4or ela a 4artilar da reeição e re"usei 4or ser al$rgi"o a "arne de 4or"o# 'a Reorgette me disse que se isto o"orria $ 4or que eu tina sangue de ,la4ini e que não 4oderia "omer "arne de 4or"o e nem beber ál"ool
4or "ausa disso% 4ois QangN me 4roibia 4ela mina
an"estralidade% 4edi mais detales e ela me "onta a seguinte !ersão da lenda:
105
: HangG #ueria a pa ( e o respeito) com os mal-s" por isso dei.ou de comer carne de porco para mostrar #ue respeitava a tradi!o deste povo$ Bandava até mesmo
um dos seus sacerdotes do culto dos
ancestrais e de seu conselho ( o %lapini #ue é do conselho do O9omesi) para rear com os mal-s ( muulmanos ) na tradi!o destes e celebrar a pa conseguida" sendo #ue este sacerdote também como HangG deveria evitar a carne de porco assim como seus descendentes=
'a Reorgette não sabia% mas se)a 4or ainidade ou rai2 an"estral des"endo de am3lia de ,la4ini do reino de O'o ( .e)a 4elo o que ala!a mina a!5 da am3lia de meu a!N materno ou se)a 4ela adoção simb5li"a de uma am3lia ari"ana que tamb$m des"endia de linagens ,la4inis de O'o% da qual de estrano 4assei a 4arente 4or ainidade# 9e4ois desta lenda me interessei em estudar mais sobre o slã e as tradiç&es muçulmanas# Origem amiliar a 4arte% esta lenda e*4li"a e dá sentido ao que !emos no Oriki sobre a relação de QangN "om os malês# Dá 4assando 6 relação "om os "ristãos% entendemos melor in"lusi!e ao ler a relação do slã "om +risto des"rita sobretudo nos !ersos e F8 a X0 da .ura ; ( a
Cemos at$ aqui nos !ersos de Oriki muito 4resentes o es43rito de a"ulturação e in"or4oração de elementos no!os a 4artir do tradi"ional do qual tratamos no item 4re"edente# sta !isão de tolerAn"ia e a"eitação da di!ersidade% tal!e2 a)ude a e*4li"ar muito do que !emos no rasil e mais es4e"ii"amente na aia ( onde a 4resença 'orubá está mais mar"adamente 4resente# 9e qualquer orma% tamb$m !emos na relação de QangN "om as alteridades traços de "onlito que 4odem mar"ar 4er3odos ist5ri"os de resistên"ia quando ou!imos os !ersos de Oriki : Ele possua as pessoas antes da chegada dos europeus$ 2om seu brado ele persegue o crist!o (em uma alusão ao tro!ão 106
Ele mata o europeu sem ser culpado (em uma alusão ao raio Ele mata o europeu e destr&i seu autom&vel (em uma alusão ao raio
Eang$ ,a 4orte e seu c%digo de Auerra .egundo um dos tan a do odu O'eku e)i que !imos no te*to sobre Ogum% QangN tamb$m se rela"iona "om a orte% 4ois mata atra!$s do ogo e do raio# +ontudo% "omo nos "onta .alami% dentre os Yorubás não $ bem !ista a morte de um ilo antes de seu 4ais% 4ois desorgani2a a ordem natural de e!olução das linagens# Má a "rença que o es43rito do ilo morto antes dos 4ais i"a !agando e não entra no Orun% o que torna indese)ada a morte dos ilos antes da dos 4ais# m alusão a isto !emos o seguinte !erso de Oriki de QangN: Ele mata o pai e p5e em cima do filho
m relação 6 orte% á tamb$m a unção "i!ili2at5ria e 4edag5gi"a do Oriki quando ad!erte no seguinte !erso: %fastar+se da cobra cuja cabea ainda n!o se cortou #
,l$m da relação "om a morte% !emos nos Orikis de QangN uma relação direta "om um "5digo de guerra# Cemos isto "laramente ao ou!irmos o !erso de Oriki: Ele sente pena do pai de seis filhos e dei.a um deles vivo$
,o re"omendar que um dos ilos de uma determinada linagem 4ermaneça !i!o dentro de uma "omunidade "om qual oi tra!ado um "onlito 4ermite que aquela linagem se re"om4ona e que aquela estrutura dentro do "on)unto de linagens que ormam esta "omunidade se re"onstitua% 4ois "omo sabemos determinados o3"ios são dom3nio es4e"3i"o de "ertas linagens na maioria das so"iedades subsaarianas# Cemos tamb$m em outro !erso de Oriki abai*o uma unção 4edag5gi"a em relação 6 guerra e notamos que se "onstitui em uma !erdadeira instrução: %#uele #ue foi à guerra e usa a roupa do ancestral leproso se lavará com uma infus!o de folhas$
107
Dá o !erso : :Ele fa voto de longa vida a todos os guerreiros= " mostra "laramente a relação de QangN "om a guerra # ,ssim "omo o !erso de Oriki: 6endo fechado a porta com uma perna ele luta contra a cidade inteira" tamb$m !ai no mesmo sentido#
Eang$ e o mentiroso como transgressor moral +onorme )á tratamos tratamos anteriormente no 4rimeiro 4rimeiro te*to% o mentiroso
na
so"iedade Yorubá% assim "omo em grande 4arte das so"iedades subsaarianas% subsaarianas% $ um transgressor oral# sto se e*4li"a e*4li"a 4elo ato de estas estas so"iedades se basearem na tradição Oral% onde a 4ala!ra assume !alor !alor do"umental do"umental e a mentira mentira ameaça dessa orma orma o bom andamento das relaç&es% se)am elas "omer"iais ou as demais relaç&es so"iais# O mito de QangN assume uma unção 4edag5gi"a dentro de sua unção "i!ili2at5ria ao "ondenar a mentira e ratii"ar o 4a4el de mentiroso "omo transgressor moral na so"iedade 'orubá: Cemos e*em4los disto em abundAn"ia abundAn"ia em !ersos seus Orikis e que "ito alguns abai*o 4ara que 4er"ebam esta unção 4edag5gi"a que o mito de QangN assume em 4erseguir 4erseguir o mentiroso mentiroso que sem sem dJ!ida se torna um um transgressor transgressor moral nesta so"iedade so"iedade 4or ameaçar ameaçar a armonia em suas relaç&es relaç&es internas e "om o e*terior: : Ele fende secamente o muro do mentiroso= :Ele mata o mentiroso e enfia o seu dedo no olho dele= :Ele olha brutalmente de soslaio o mentiroso= :Beu senhor #ue fa fugir à#uele #ue tem ra!o= : O mentiroso foge antes mesmo #ue ele lhe dirija a palavra= :Ele se recusa a aceitar a oferenda do mentiroso= :Se ele se encarregar das oferendas o mentiroso n!o as trará= :Ele prefere a#uele #ue di a verdade do #ue a#uele #ue a recusa= :O mentiroso foge foge antes mesmo mesmo #ue ele fale= 108
:Ele toca fogo na casa do mentiroso= :Ele entra por detrás na casa do mentiroso" o mentiroso foge" HangG corre atrás dele=
Cemos que o mentiroso "omo transgressor moral não $ uma e*"lusi!idade dos 'orubás# ,o ,o lermos o
#%digo 4oral de Eang$
ste "5digo oral tamb$m se rela"iona "om a 4ala!ra "orreta ( sobretudo em um "onte*to de so"iedade so"iedade oral onde esta 4ala!ra 4ala!ra assume "aráter "aráter do"umental% "om a im4ar"ialidade e senso de )ustiça# ,o a2ermos as imagens dos !ersos Oriki abai*o 4oderemos 4er"eber a unção 4edag5gi"a destes elementos do mito "laramente: :1!o se pode pronunciar uma impreca!o #ual#uer contra um cachorro #ual#uer para #ue ele morra= :Ele é imparcial= :Sua palavra torna+ se bem estar : : /ai #ue afirma o #ue é justo= :7ue n!o digamos coisas estApidas= :1!o me culpe culpe #ue minha minha palavra seja correta= :Senhor do conhecimento" olho brilhante= :Ele mata a#uele a#uele #ue e.agera e.agera e fecha sua porta= :%lguém #ue n!o é inteligente" #ue n!o pensa em nada=
m seu "5digo oral QangN tamb$m !em a estabele"er relaç&es de "oniança aos l3deres da linagem assim "omo ele se 4osi"iona% 4osi"iona% "olo"ando "olo"ando mais uma !e2 sua unção 4edag5gi"a# Cemos isto "laramente nos !ersos de Oriki: : O cachorro possudo por alguém permanece na casa do dono e n!o conhece suas inten5es= :O carneiro n!o conhece as inten5es e #uem lhe dá farelo para comer= :*a mesma mesma forma n&s caminhamos caminhamos com HangG e n!o conhecemos conhecemos suas inten5es= :7uem é apressado n!o será levado hoje á presena de Olukoso= :Beu cora!o n!o está perdido" partirei com HangG= :@ei #ue se apodera deste e da#uele= 110
:? difcil estar em sua companhia= :Ele di #ue para o proprietário" tudo acabou= :Ogum e HangG n!o revelam fundamento algum= :Ele enfrenta a#uilo #ue nos mete medo= :Ele derrama todo mundo na forja= :Beu senhor a forja torna+se leito dos grandes= :O #ue faemos no mundo n!o passa de fumaa" o fogo está com HangG " o ancestral= :Z#uele #ue respeita o segredo meu senhor facilitará as coisas= :2om HangG n!o se brinca= :m amigo fiel é raro : :Orgulhoso lavrador" #ue usa um turbante ao voltar da roa= :Ele reAne as pessoas mesmo sem ter álcool= :2om m!o comprida tira seu filho da armadilha=
,o estabele"er estas relaç&es de "oniança "om o l3der re4resentado 4or QangN no "on)unto de seu "5digo moral% tamb$m in"ita a que se estabeleçam relaç&es de "oniança entre as 4essoas da "omunidade% entre a linagens% o que "onsolida uma estrutura so"ial% e dita relaç&es entre dierentes "or4os so"iais de uma "omunidade# /or alar em "omunidade% !emos no "5digo oral de QangN a 4artir de alguns !ersos de oriki% o sentido do bem 4Jbli"o e o res4eito e "uidado que de!e-se ter 4elo o que $ de toda "omunidade# /er"ebemos isto nos !ersos: :1!o e.iste ninguém #ue possa destruir minha boa fortuna (destino)" 1!o destruir minha boa fortuna" minha boa fortuna a voc- pertence=
/ara entendermos melor o sentido dos !ersos a"ima% de!emos nos ater ao ato de que Cerger tradu2 Ori (+abeça que determina o 9estino e que !imos
111
em detale no 4rimeiro te*to "omo boa ortuna# m outras 4ala!ras o !erso tamb$m ala em :1!o destruir o meu destino" meu destino a voc- pertence=$ sto al$m do sentido da "oisa 4Jbli"a% !ai mais al$m 4ois ala do ideal de equil3brio que de!e a!er entre os dierentes elementos que "onstituem uma "omunidade aludindo a im4ortAn"ia do 4a4el que os elementos de uma linagem tem em relação a outros de outras linagens % 4ara que ela se mantena# Outro ator im4ortante a se e*4li"ar dentro do "5digo oral de QangN $ a relação entre rique2as (ola % "aráter (i>á e dineiro (o>o # @o "5digo dos babala>os o "on"eito de i>á ("aráter $ realmente muito im4ortante e não á real ola (rique2a que se orme somente de o>o(dineiro# á ("aráter e onra# .em i>á ("aráter não 4ode a!er ola (rique2a e este "on"eito no "5digo dos babala>os está 4resente tamb$m no "5digo moral dos 'orubás# Outros !ersos mostram atos "uriosos que tamb$m aludem a um "5digo moral ou a um modo de obser!ação da so"iedade es4e"3i"o ou uma unção 4edag5gi"a "omo% 4or e*em4lo% quando a2emos as imagens dos !ersos de Oriki: :Ele pega uma criana teimosa e a amarra como um carneiro= :Beu senhor #ue fa marido e mulher lutarem juntos= :%prendi #ue ao acordar n!o veio : :*everá pagar uma multa= :% chuva molha o louco sem lavá+lo= :Ele ri e n!o grita :
/ara "on"luir esta 4arte termino "om !ersos de Oriki que me i2eram largar tudo 4ara lutar "ontra a e*4loração se*ual inantil na aia em oerenda a meus an"estrais da "orte do reino de O'o ( de QangN e que são: :%lguém #ue balana os braos com ostenta!o provoca ciAmes= :Se uma pessoa importante tem dinheiro provoca ciAmes= :Se alguém fa seu penis funcionar" provoca ciAmes= :Ele n!o é como a criana #ue jamais teve rela5es= :Ou como alguém #ue envelheceu= :% vagina #ue n!o é suficientemente formada n!o pode reunir+se ao p-nis=
112
nega!elmente "i!ili2at5ria e 4edag5gi"a a unção do mito aqui assume um !alores "ontra a 4edoilia
neste "5digo moral de QangN# ,l$m disso nos
mostram um "laro sistema de ra"ionalidade# /er"ebemos "laramente que a4esar de temos "omo 4rimiti!o este "5digo moral $ e*tremamente soisti"ado e elaborado# sto tudo nos a2 reletir que se !emos instituiç&es e so"iedades ari"anas que se "orrom4em e degradam% esta degradação está muito longe do que os "5digos morais originários da 4r54ria Hri"a% "omo este% 4regam% e se isto a"onte"e $ muito mais 4ela inluên"ia e modo "omo o o"idente estabele"e relaç&es "om a Hri"a# /or isso ouso a airmar que o resgate dos "5digos an"estrais 4oderá a)udar muito mais a Hri"a a resgatar a dignidade de suas instituiç&es do que
sua o"identali2ação e "ristiani2ação % que ser!e aos
4ro45sitos da im4osição de "ultura de "onsumo o"idental# Rostaria sin"eramente que a 4artir disso relitamos que tamb$m nossas instituiç&es na diás4ora% 4or tentarem igualmente nos querer a2er "om que nos adeqEemos a esta so"iedade de "onsumo o"idental ( euro4$ia% bran"a e "ristã e nos aastam de "5digos morais "omo este de nossos an"estrais que dessa orma igualmente nos "onstituem e 4or isso tamb$m se tornam instituiç&es que tendem a se degradar e "orrom4er# nstituiç&es estas que não reletem nossa identidade integral e que 4or isso !emos "omo se ossem instituiç&es de uma alteridade e não nossas realmente o que nos torna em 4arte estrangeiros em nossa 4r54ria nação# Ta>o kabi'esi l Oba baba .ango ### ba aba .ango Osunemi
O 4ito de Yansã na #ivli1ação Yorubá a partir de seus Ori@is Yansã $ um dos ori*ás mais 4o4ulares no rasil% o que não o"orre em toda a diás4ora# Má !árias tentati!as 4ara e*4li"ar o signii"ado do nome Yansã% 4or$m os dois mais "one"idos são 'a (osan (ãe da @oite e 'a esan (mãe dos no!e % sendo que estes no!e 4odem ser ilos ou "$us# Má uma lenda da "oletAnea de Cerger que ala sobre esta 4ro!á!el relação de Yansã "om a noite: /or #ue O9á se chama Fans!K O.um é a mulher de HangG
113
O9á já está velha" vai ao encontro de HangG e o acha muito belo$ *i #ue #uer se casar com ele $ HangG replica #ue ela é velha demais$ Ela responde #ue sabe #ue é velha" mas #ue está decidida a desposá+lo$ HangG di lhe ent!o #ue ela vá buscar seus pertences e volte" e ele se tornará seu marido$ *epois #ue eles se instalam" O9á n!o #uer #ue HangG saia com outras mulheres$ *i lhe #ue desde o dia #ue ela nasceu e até sua morte pertence a ele e morrerá no mesmo dia #ue ele$ HangG di a si mesmoC : % velha #ue chegou esta noite juntou o amor das outras mulheres em seu cora!o$ ? por isso #ue a chamam de m!e da noite" I9a (o)san$ 1o dia em #ue HangG voltou para sua terra Fans! acompanhou+o$
O'á $ tamb$m o nome do io @3ger e em O'o L$4ine nos narra que Yansã na !erdade era ila do Laguna ( membro da "orte de O'o res4onsá!el 4elas relaç&es "om outros 4o!os e que "asa-se "om QangN# Yansã $ o arqu$ti4o da muler guerreira e entendemos muito sobre o 4a4el das so"iedades emininas e das muleres no "om$r"io a 4artir deste mito# +omo nos "olo"a alandier% sobre a muler "omo metade 4erigosa e a in!ersão de 4a4$is entre omens e muleres% entendemos muito ao estudar o arqu$ti4o deste mito#
-spectos #ivili1at%rios dos Ori@is de Yansã /ara melor entender o mito de Yansã 4odemos !er nas imagens de seus orikis muito de seu 4a4el "i!ili2at5rio% se)a na unção so"iol5gi"a ou 4edag5gi"a deste mito# /er"ebemos elementos sobre a in!ersão de 4a4$is que as muleres de uma determinada idade desem4enam no imaginário "oleti!o ao ou!irmos o !erso de Oriki: O9á é a Anica #ue pode agarrar os chifres de bAfalo$
ste !erso tamb$m alude a uma lenda na qual Yansã se !estia de animal 4ara "açar e alimentar seus no!e ilos# Outros !ersos que aludem a este status de 4oder eminino são: Bulher corajosa #ue carrega uma espada$ Ela é chefe durante o dia 114
ste Jltimo nos ala do 4oder eminino desem4enado 4elas !endedoras do mer"ado e sua "ee (a 'alode# Outro ator im4ortante a se ressaltar $ o 4a4el do mentiroso "omo transgressor moral que tamb$m 4er"ebemos muito ortemente mar"ados nos Orikis de O'á% quando ala: Os daomeneanos s!o mentirosos" n!o tem em casa um talism! como o de O9á# 2om o polegar ela estraalha os intestinos do mentiroso$ Ela bate a cabea do mentiroso com toda fora$
+ontudo tamb$m en"ontramos atores "i!ili2at5rios nos Orikis de O'á% "omo 4or e*em4lo quando a2emos as imagens do !erso: 1!o ande ao sol" ao entardecer volte para casa$
Cemos neste !erso uma "lara 4re!enção intuiti!a em relação ao mosquito da malária que "ostuma ata"ar mais in"identemente no inal da tarde o que nos mostra uma unção "laramente "i!ili2at5ria deste mito# /ara "on"luir !emos outros traços do 4a4el das !endedoras do er"ado inluen"iadas 4elo mito de Yansã% nos seguintes !ersos: 2arregue+me nas costas e n!o me ponha no ch!o" mulher de HangG$ 7uem n!o sabe #ue O9á é mais importante e poderosa #ue o marido$ O9á morre corajosamente com seu marido ( tamb$m em alusão 6 lenda
que ala da morte de QangN e Yansã#
- Reroína -fricana QO -rqutipo da mulher guerreira na civili1ação Yorubá e na nossa sociedade 3rasileira at os dias atuais" .em dJ!ida% os mitos Yorubás são mais mar"adamente 4resentes no rasil no @ordeste% mas tem sua inluên"ia tamb$m de!ido migraç&es% nas maiores "idades do .udeste brasileiro# m suas aulas de Yorubá % .ikiru .alami % ala!a da unção "i!ili2at5ria dos Ori*ás# @o "aso de Yansã temos a legitimação do 4a4el da 'alode% que era a igura eminina que 4arti"i4a!a da so"iedade Ogboni em O'o e outras "idades Yorubás# 115
, 'alode era a "ee das !endedoras do mer"ado e tida 4or sua 4osição "omo uma muler que tina o mesmo 4oder dos "ees mas"ulinos# /ara simboli2ar seu 4oder% Yansã a4are"ia "omo o 4a4el da guerreira# Outro ator que tamb$m legitima!a o 4a4el de Yansã "omo uma ero3na era sua ligação "om a sobre!i!ên"ia e o ato das muleres terem que "açar e guerrear
em
determinadas o"asi&es 4ara sustentar seus ilos# Cerger em sua "oletAnea nos ala de uma lenda que "one"i em terreiros de .al!ador da seguinte orma: :Fans! era casada com HangG " porém tinha nove outros filhos e se disfarava de bAfalo para caar para alimentar estes outros nove filhos$ HangG descobre e desafia Fans! #ue irada o ataca e ele a detém com um prato de acarajés #ue a fa desistir de atacá+lo=
Cemos em outros !ersos de Oriki esta orça de Yansã: 1ada de mentiras para ti= " =Bulher da caa=" :Bulher da guerra= "=Oiá encantada" atrevida #ue vai à morte com seu marido=" =7ue espécie de pessoa é OiáK="=Onde ela está o fogo aflora" Oiá" teus inimigos te viram e espavoridos fugiram=" =6emo somente a ti= "=Esfrega na terra a testa do mentiroso=" :%tiva e altiva Oiá=" =Senhora do templo=" :Senhora do /ensar=" :Ori.á #ue abraou se amor terra adentro=" :2om o dedo tira a tripa do inimigo=" :0igeira mulher guerreira="
116
:Oiá #ue cuida das crianas=" :Drande guerreira=" :Bulher suave como o sol #ue se vai= " : mulher revolta como vendaval=" : *ona do vento da vida=" :%#uela #ue luta nas alturas=" : 7ue doma a dor da miséria=" :7ue doma a dor do vaio=" :7ue doma a dor da desonra=" :7ue doma a dor da tristea=" :>ela na briga" altiva Oiá=" :3echa o caminho dos inimigos=" :*eusa #ue fecha as veredas do perigo=" :7uem n!o sabe #ue Oiá é mais #ue o maridoK= " :Oiá é mais #ue o alarido de HangG=$ (.endo estes Jltimos !ersos uma
reerên"ia 6 in!ersão do 4oder de gênero
"omum em di!ersas
so"iedades ari"anas sub-saarianas% sobretudo de4ois de uma determinada idade% "omo nos ala alandier
Itan Ifa D #omo o 4ito de Yansã nos alimentou na Inf!ncia" O que mais dese)o ressaltar "omo sendo im4ortante dentre todos esses mitos de di!indades ero3nas% $ que eles ins4ira!am "om4ortamentos dentre as muleres 'orubás em suas regi&es na Hri"a e mais ortemente se so"iali2ando entre es"ra!os de dierentes "idades estado ou reinos 'orubás durante a diás4ora 4ara a ,m$ri"a%# e at$ mesmo ouso di2er que ins4iraram e tal!e2 mesmo ainda indiretamente ins4irem "om4ortamentos nas brasileiras mesmo 117
as não negras% inde4endentemente de suas religi&es que se es4elam em suas an"estrais ari"anas 4or estes mitos estarem ainda 4resentes no imaginário do nosso 4o!o sobretudo nas regi&es "itadas anteriormente # Ouso a dar o 4r54rio e*em4lo de quem des"endo% 4elo o que teno registro% á mais de "in"o geraç&es tem muleres "om a mesma bra!ura destas ero3nas ari"anas# esmo no meu "aso que )á á duas geraç&es normalmente nos "olo"a no "enso "omo bran"os% mas que somos des"endentes de muleres negras !indas destas sen2alas onde eram "ultuados estes mitos# ina a!5 que tina a 4ele negra e% diga-se de 4assagem% era e!ang$li"a e não tina nada em sua edu"ação religiosa da tradição ari"ana% não tina um "om4ortamento dierente de suas an"estrais ari"anas que se ins4ira!am nos mitos de ansã 4ra tra2er "omida 4ara seus ilos !estida de bJalo que !em a ser uma metáora 4ara a "ondição de "açadoras e 4ode ser uma metáora 4ra sua "ondição de o4erária em 4lenos anos F0% quando se !iu !iJ!a "om duas ilas em uma so"iedade da!a "ada !e2 menos es4aço 4ra a muler% ainda mais em sua situação# Outro momento no qual renas"eu em mina am3lia a bra!ura deste mesmo mito oi no momento em que meu 4r54rio 4ai não "onsegue mais se re"olo"ar de!ido 6 sua idade e mina mãe% "omo grande 4er"entual das am3lias brasileiras assume as unç&es de "ee de am3lia# .omente quando entrei em "ontato "om o uni!erso dos mitos das ero3nas ari"anas $ que !im a "om4reender sua "oragem e orça% assim "omo a de muitas muleres brasileiras% negras ou não% que são "ees de am3lia# @o "aso de mina mãe a inluên"ia deste mito torna-se ainda mais e!idente% 4ois ela $ ligada a tradição do "andombl$ e na $4o"a que morá!amos em .al!ador e que te!e que desem4enar as unç&es de "ee de am3lia % abre um "om$r"io e oere"e este "om$r"io 6 Yansã% e de!ido a isto seu "om$r"io "arrega!a o nome da Ori*á )ustamente na "idade em que á a maior ta*a de muleres "ees de am3lia do rasil e onde $ inegá!el a inluên"ia deste mito assim "omo outros no imaginário "oleti!o de!ido 6 4redominAn"ia da rai2 'orubá nesta região# /osso di2er% na mina 4osição mas"ulina% que esse mito% da muler guerreira% ada4tado 6 o4erária e "ee de am3lia % segundo a 4ossibilidade de ada4tação 118
dos mitos ari"anos 4ara a realidade atual% "onorme nos airma ,ntonio is$rio %$ que oi res4onsá!el 4or nossa subsistên"ia% 4elo menos nas duas Jltimas geraç&es de mina am3lia# /osso airmar assim que 4elo menos nestas geraç&es Yansã "ontinuou se !estindo de bJalo 4ra "açar e alimentar seus ilos atra!$s destas bra!as muleres% inde4endente de suas 4osiç&es religiosas# ,mbas% "omo dissera% são e oram muleres que se "olo"am na 4ele de bJalo 4ara tra2er "omida aos ilos e se o)e sobre!i!emos em mina am3lia a muitas "rises e dii"uldades% não sei o que teria sido de n5s "omo ilos se não ossem esses mitos ins4iradores de ero3nas ari"anas que inluen"iassem nos brasileiros e inluen"iem nossas muleres negras ou bran"as# _ bom ressaltar que essa $ uma inluên"ia de "ara"ter3sti"as bem dierentes da 4osição submissa das muleres na tradição "lássi"a% sobretudo a grega ( no qual 9iana ou as ama2onas eram uma realidade distante 4ra atenienses e es4artanas que determinou e ainda determina a 4osição egemNni"a dos omens em nossa so"iedade# /osso di2er% em meu "aso 4arti"ular e tal!e2 no de muitos brasileiros de regi&es "itadas% que este mito da ero3na negra que 4resen"iei e omentou mina subsistên"ia na inAn"ia está muito mais 4r5*imo de meu 4ro"esso edu"ati!o e de "onstituição "omo "idadão do que
o distante e abstrato
"on"eito da ,r$t$ grega % que ti!e "ontato na mina ormação de edu"ador e "eguei a obser!ar suas origens e usos na edu"ação o"idental em !isitas a 4a3ses do mar geu "omo na bibliote"a do Beso ( atualmente na
na mina origem 4aterna ter as"endên"ias italiana e grega%
reairmo que o mito da ero3na ari"ana está muito mais 4r5*imo e 4resente em mina ormação edu"a"ional% a4esar de totalmente ignorado 4ela edu"ação ormal% do que o mito do er5i grego e "lássi"o # m suma% o que dese)o e!iden"iar em meu de4oimento $ que ao estudarmos somente os mitos e er5is da antiguidade "lássi"a euro4$ia e ignorarmos assim os mitos e er5is (mas sobretudo ero3nas ari"anos
estamos
inega!elmente nos remetendo a um 4assado muito mais distante e abstrato 4ois os mitos "lássi"os estão á 4elo menos 8000 anos de distAn"ia de nossa 119
realidade ist5ri"a e mitos ari"anos al$m de
estarem mais 4r5*imos
"ronologi"amente e 4or isso mais 4r5*imos no nosso imaginário na"ional% ainda se mant$m !i!os em seus "ultos% moti!o 4elo qual ao in!$s de serem "olo"ados "omo tendo somente sua unção religiosa% de!em ter re"one"ida sua unção !i!a e 4resente no imaginário na"ional# , grande maioria dos brasileiros inde4endentemente de suas religi&es% sobretudo nos estados que "itei% têm alguma reerên"ia do que são estas ero3nas 'orubás% graças ao ato de seus "ultos religiosos ainda estarem 4resentes em nossa so"iedade o que não de!e in!alidar% mas sim reorçar% )untamente "om a base an"estral des"endente de ari"anos de Z7W de nossa 4o4ulação% o 4a4el que estes mitos de ero3nas ainda e*er"em no imaginário na"ional e o 4a4el que tem na edu"ação e ormação de n5s brasileiros# sto não a"onte"e da mesma orma "om o mito do er5i grego ou "lássi"o ou os mitos dos deuses elêni"os ou romanos que tamb$m ti!eram suas origens em bases religiosas% mas que quando estudamos em edu"ação estas bases religiosas são disso"iadas de sua origem e estudamos somente a 4artir do seu 4onto de !ista mitol5gi"o# +ontudo de!o "olo"ar que e*istem
di!ersas dierenças not5rias entre as
ormas "omo os mitos dos deuses elêni"os e do er5i "lássi"o e dos
mitos
e er5is e ero3nas ari"anas % "omo no "aso dos 'orubás e "ito a mais rele!ante que $ que no "aso da maioria dos mitos ari"anos% "omo os 'orubás% estes mitos têm sua origem em um an"estral m3ti"o res4onsá!el 4ela undação da "idade estado e 4or sua !e2 do "lã em questão e que 4or sua !e2 está ligado a um an"estral m3ti"o que $ o as"endente m3ti"o de todos os "lãs de uma mesma etnia% o que )á não a"onte"e "om o er5i e o mito dos grandes $4i"os "lássi"os% 4ois neste "aso não á ne"essariamente ligação de suas origens na an"estralidade dos 4o!os que os "ultua!am ou "ria!am# 9entro da lina de ra"io"3nio que utili2o at$ agora neste te*to isto se torna ainda mais rele!ante 4ara )ustii"ar 4orque 4arti"ularmente me sinto muito mais 4r5*imo ao "on"eito de deesa da onra da ero3na 'orubá do que a aret$ do er5i grego# sto se dá )ustamente 4or que no "aso da ero3na 'orubá% 4elo seu mito ter origem direta em nossa an"estralidade m3ti"a ari"ana e 4elo ato de que 4ara a ero3na 'orubá este "on"eito de onra está mais ligado 6 120
sobre!i!ên"ia de seus des"endentes e a 4artir disso a atores de "onstituição da "i!ili2ação#(ari"ana e não 4odemos negar que brasileira tamb$m de!ido 6 diás4ora deste 4o!o 4elo mundo no 4er3odo da es"ra!idão# 9e!ido a tudo isso deendo a 4osição de que temos direito ao a"esso a nossa 4lena identidade "ultural inde4endente de interesses de "lasses ou "ulturas dominantes que toda !e2 que se ala em outras origens que não as euro4$ias ou "lássi"as insiste em dar menos im4ortAn"ia a estes atos ou at$ mesmo não re"one"er# Pa2 se ne"essário onrar estas ero3nas que são nossas mães% muleres% edu"adoras brasileiras% que mere"em ter re"one"ida sua base mitol5gi"a# Rostar3a antes de tudo de que o re"one"imento da base mitol5gi"a ari"ana% 4elo menos em nossa edu"ação% 4ossa in"enti!ar% neste 4a3s mis"igenado% que esta mesma mis"igenação se)a um ator a mais 4ara que lutemos 4elo 4leno a"esso a nossa identidade "ultural integral% ao "ontrário do que as )ustii"ati!as que o argumento da mis"igenação tem ser!ido nos Jltimos tem4os% que $ disarçar as grandes dierenças so"iais entre "lasses# ste te*to quer mostrar 4ela deesa de nossas bases m3ti"as e an"estrais ari"anas% inde4endentemente de nossas "ores de 4ele% que n5s brasileiros% )ustamente 4or nossa origem mis"igenada% n5s e nossa so"iedade ao utili2armos o "rit$rio de "or de 4ele 4ara dis"riminar% ou sim4lesmente 4ara a"eitar a dis"riminação !elada em nosso 4a3s% estamos indo "ontra não somente o 4rin"34io de igualdade que restringe 6s !3timas de dis"riminação o 4leno direito de e*er"3"io 6 sua "idadania% mas estamos tamb$m dessa orma in"orrendo no erro de negar nossa 4r54ria 4lena identidade e e*4ressão "omo brasileiros% a qual a matri2 ari"ana se a2 tão ou at$ mesmo mais im4ortante que a euro4$ia e 4or isso não 4odemos negligen"iar sua base m3tol5gi"a#
.omente desta orma nossas origens ari"anas ganarão es4aço atra!$s do re"one"imento em 4$ de igualdade entre as bases mitol5gi"as de nossas ra32es ari"anas e euro4$ias do es4aço do er5i e da ero3na# $ )ustamente no "am4o de base da edu"ação que 4oderemos "omeçar a "ombater eeti!amente tanto o ra"ismo e o se*ismo que se "om4ro!am atra!$s dos dados estat3sti"os que em 4leno s$"ulo QQ mais de 180 anos de4ois da ,bolição da s"ra!atura ainda se mostram em nosso 4a3s# 4arre' 'a Deun mi O'á Osunemi
O 4ito de O'um na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is O ito de O*um irradia 4ara o restante das "idades Yorubás assim "omo 4ara a diás4ora a 4artir da "idade de Osogbo# Uma das !ers&es que
tra2 o
signii"ado do nome da "idade e que !em do "or4o de Odus de á nos di2 o seguinte% segundo nos narra Cerger: : % festa anual das oferendas a O.um realiada e" Osogbo" na 1igéria" é uma reatualia!o do pacto #ue o primeiro rei local contraiu com o rioC 0aro o antepassado do atual rei" ap&s prolongadas atribula5es" procurando um lugar favorável onde pudesse instalar+se com seu povo" chegou perto do rio Osun onde a água corria permanentemente$ Segundo se conta" um dias mais tarde uma das suas filhas desapareceu nas águas #uando se banhava no rio e" passado algum tempo " delas saiu" esplendidamente vestida$ *eclarou a seus pais #ue fora admiravelmente recebida e tratada pela divindade #ue ali morava$ 0aro foi faer oferendas de agradecimento ao rio$ Buitos pei.es" mensageiros da divindade" em sinal de aceita!o" vieram comer o #ue o rei jogou na água$ m pei.e de grande tamanho veio nadar perto do lugar onde ele se encontrava e cuspiu água$ 0aro recolheu esta água em uma cabaa e bebeu+a" celebrando assim o pacto de aliana com o rio$ Em seguida estendeu as m!os e o grande pei.e saltou nelas$Ele assume o ttulo de %taojá" contra!o da frase 9oruba : a le'o gba eja=" a#uele #ue estende as m!os e pega o pei.e$ Ele declara C Osun gbo : " ou seja " Osun está em estado de maturidade" suas águas sempre ser!o abundantes$ *a origina+se o nome da cidade de Osogbo #ue é dedicada a Osun$ :
122
O*um tamb$m $ "ultuada em di!ersas outras "idades 'orubás% a 4artir de seu mito ter irradiado a 4artir de Osogbo# .egundo di!ersos mitos oi muler de QangN% Ogum% O*5ssi% Orunmilá e $ mãe de Logun de% o que na Hri"a tem di!ersas !ers&es os mitos de asso"iação desta Ori*á "om estes deuses de4endendo da região em que se en"ontrem e da inluên"ia destes Ori*ás no 4anteão regional# sto tem rele*os na diás4ora onde O*um $ asso"iada a todos eles# @a Umbanda no .udeste O*um $ sin"reti2ada "om @ossa .enora ,4are"ida% 4adroeira do rasilK na aia "om @ossa .enora da +on"eição% 4adroeira da aiaK em +uba "om @ossa .enora da +aridade do +obre% /adroeira de +uba# O ato destes sin"retismos que asso"iam O*um 6 imagem de 4adroeira em di!ersas lo"alidades
4odem estar muito 4ro!a!elmente ligados aos seus
as4e"tos ligados 6 maternidade#
-spectos #ivili1at%rios dos Ori@is de O'um *istem !ários as4e"tos "i!ili2at5rios nos Orikis de O*um# .ele"ionei abai*o os !ersos onde isto se e!iden"ia mais mar"adamente: I9alode muito gorda #ue fende as vagas$ I9alode cuja pele é muito lisa$
*iste no !erso a"ima uma alusão 6 igura da 'alode# 'alode em 'orubá quer di2er : 'a ( mãe l ( da ode ("orte ou 4raça em reerên"ia ao mer"ado# , 'alode $ a lider das muleres no mer"ado e que 4or isso desem4ena 4a4el "entral nas relaç&es "om os omens da so"iedade Ogboni e das so"iedades ligadas 6s reale2as#
123
@os !ersos abai*o !emos uma reerên"ia ao 4a4el que as muleres têm no desen!ol!imento da medi"ina tradi"ional% assumindo o 4a4el de sa"erdotisas ( sobretudo de O*um : Ela fa por #ual#uer um o #ue o médico n!o fa$ Ori.á #ue cura doena com água fria Se ela cura a criana ela n!o apresenta honorários ao pai$ B!e" venha a me ajudar a ter um filho ( uma alusão 6 ertilidade deste mito
tamb$m e o que ele im4li"a no 4rosseguimento da so"iedade de linagens I9abale fa coisas secretas e fa remédios$
la tem rem$dios gratuitos e dá de beber mel 6s "rianças Dá ao "onstruirmos as imagens dos !ersos abai*o !emos suas unç&es de edu"adora % se)a "omo mãe ou "omo muler# Ela di à cabea má para #ue se torne boa Bulher descontente no dia #ue seu filho briga Ela segue a#uele #ue tem filhos sem o dei.ar Ela recusa a falta de respeito Ela permanece na galeria da casa e ensina às crianas as lnguas e tudo a#uilo #ue elas n!o sabem (em uma alus!o direta ao papel da mulher como educadora representada por esse mito) Ela desvenda com as pessoas de onde vem a maldade % m!o da criana é suave$ O.um é suave$ *ona do cobre apodera+se tran#uilamente das crianas ( por seu conhecimento) Ela conserta a cabea má das pessoas$ 2om as m!os compridas ela tira seu filho da armadilha$ Ela chega e a perturba!o se acalma Ologun Ede" a#uele #ue tem medo n!o pode tornar+se uma pessoa importante (em uma sentena e instru!o direta a seus filhos)$ O.um age com calma Binha m!e #ue cria o jogo de a9o e cria o jogador O filho entregará o dinheiro em sua m!o *ei.em a criana rodear meu corpo com as m!os % m!o da criana é suave 124
O.um é suave$
Cemos no e*em4lo dos Orikis de O*um a"ima% reerên"ia ao 4a4el da muler "omo du"adora ins4irada 4or este mito# , unção 4edag5gi"a aqui $ inegá!el# O 4a4el da mãe% 4rotetora% edu"adora e ero3na "ontida no ito
está
inega!elmente 4resente# /odemos in"lusi!e !er nossas mestras e mães na diás4ora desem4enando seus 4a4$is de edu"adoras muito mais 4resentes neste e*em4lo e nestas rases de O*um % do que nos "on"eitos abstratos e distantes dos er5is gregos ou 4ais romanos que !emos em nossa ormação de edu"adores no rasil% mesmo em uni!ersidades tidas "omo de elite da edu"ação# ,l$m destes atores que se reerem 6 unção 4edag5gi"a do ito% 4odemos 4er"eber "laramente a unção so"iol5gi"a que estes "or4os so"iais de G edu"adoras G mães de am3lia tem ao se ormarem nos seios das linagens# @o tem4lo de O*um em Osogbo a unção de edu"ar as no!as e no!os ini"iados $ das .a"erdotisas e di Osun e se baseiam muito no que !emos nestes Orikis# ,t$ mesmo no !erso :Osun lava suas j&ias de cobre e n!o lava suficientemente seus filhos= % !emos uma unção 4edag5gi"a# Vuando esti!e no
gito % !i um "om4ortamento 4are"ido e que in"lusi!e me lembrou este !erso de Oriki% e ao 4erguntar 4ara as "am4onesas da região de Lu*or% 4or que não 2ela!am e 4are"iam des"uidar de seus ilos% ti!e a res4osta : : E.cesso de elo n!o educa= # Lembrei in"lusi!e dos "lássi"os
sobre du"ação de
ousseau ao ou!ir isto% 4ois deendia de alguma orma esta 4arti"ularidade nos 4o!os ind3genas da ,m$ri"a# O*um está ligada tamb$m% de alguma orma ao sistema e"onNmi"o quando alude 6 a"umulação de rique2as e ao 4r54rio ato de e"onomi2ar "onorme !emos nos !ersos de Oriki abai*o# :Ela cavouca areia para nela guardar dinheiro= :Ela cavouca a areia para nela recolher dinheiro= ( Em alus!o direta à necessidade de economiar) O.um dona das profundeas da ri#uea Ela tem muito dinheiro e sua palavra é suave Ela se apropria do feriado" ela se apropria da ri#uea
125
? uma freguesa dos mercadores de cobre ( pois o cobre #ue era o metal mais nobre dentre os 9orubás" e n!o o ouro) Ela fica em casa e estende a m!o às ri#ueas (em relação direta "om
4roiss&es emininas sobretudo ligadas ao artesanato desen!ol!idas
nas
"asas % grande ri#uea agrada Ela come #uiabo caro sem pedir fiado Ela dana nas profundeas da ri#uea Ela é elagante e tem dinheiro para divertir+se Ela manda coinhar sopa de #uiabo e n!o fica endividada O.um inclino+me Ela é dona do ouro$
sa"erdotisas ari"anas
inluen"iadas 4or este mito# sto se torna bem "laro% assim "omo a im4ortAn"ia dos 4a4$is emininos desem4enados 4or elas% quando !emos os !ersos de Oriki abai*o: B!e de %disa Olosun " n!o se es#uea de mim 1!o e.iste lugar onde n!o se conhea O.um poderosa como o rei Ela dana e pega a coroa" ela dana sem pedir Se a mulher está no caminho " o homem foge Ela recebe o mensageiro do rei sem lhe prestar rever-ncias 126
Ela entra na casa do preguioso e este foge ( em clara men!o do preguioso como transgressor moral conforme vimos em te.tos anteriores) *esperta e age como alguém famoso Ela tem um ttulo e viaja ? raro uma mulher coroada Ela caminha com uma postura altiva %joelhem para as mulheres" %s mulheres s!o a intelig-ncia da 6erra O homem n!o pode faer nada sem a mulher m grande poder foi concedido a todas mulheres através de ti" 1!o abusem as mulheres deste poder" Sen!o lhes será retirado$
Itan Ifá: #omo minha mãe O'um nos educa ainda ho0e na diáspora" e0o nas minhas mestras , muito mais do que os pedagogos da Arcia ou de her%is de epopias clássicas ou o pai romano" e0o mulheres, que ficam na galeria da casa e ensinam para as crianças as línguas que elas não sabem" e0o mulheres que querem tornar cabeças ruins e más em cabeças boas ?ue descobrem com as pessoas de onde vBm a maldade e a opressão ?ue nos di1em que se tivermos medo dificilmente nos tornaremos pessoas importantes" e0o educadoras que seguem aqueles que tem filhos sem os dei'ar quando educam estas crianças" e0o mulheres descontentes nos dias em que seus filhos brigam ou são in0ustiçados" e0o aquelas que com seu conhecimento de educadoras
tiram seus
alunos das armadilhas da ignor!ncia, como se fossem seus pr%prios filhos" e0o mulheres mãe e educadoras que agem com calma, que pela pai'ão ao saber acalmam as perturbaç)es de espírito dos que buscam o conhecimento" e0o mulheres que com sua sabedoria criam o 0ogo da vida e atravs de seus ventres dão a lu1 aos 0ogadores" 127
4ulheres que administram lares pois seus filhos dão o dinheiro em suas mãos dos dois lados desta diáspora" 4ulheres que di1em que a mão da criança doce e que dei'am a criança que 0amais morre em n%s rodear seu corpo com as mãos " 4ulheres que são a doçura de nossa inteligBncia" & alm do que vemos em seus versos de Ori@i, mãe O'um e0o mulheres que sobretudo recusam a falta de respeito " O mesmo respeito que buscamos como filhos desta nação e s% conseguiremos quando dei'armos de negar nossas verdadeiras origens dos ventres de nossas mães Negras de África" Ore CeCeo ICa Ori mi Osun""" &mi nife o ICa Ori mi S Ife -se Ja""" &mi Osunfemi ni" Osunfemi
O 4ito de Obatalá na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is Obatalá $ o "ee do 4anteão de Ori*ás na diás4ora% 4or$m na Hri"a se desdobra em uma s$rie de mitos e "om lendas di!ersas em "ada uma das "idades onde se a4resenta# uitas !e2es está ligado 6 Origem da "riação# @a maioria das "idades sem4re á alguma lenda
que o rela"ione a isso#
128
de cultivo" construindo ali uma pe#uena cabana$ Isso impressionou Obatalá" #ue nele depositou toda sua confiana$ Ocorre #ue %to'odá n!o tinha bons prop&sitos$ Seu desejo real era matat Obatalá $ E assim ar#uitetou um plano$ Observou #ue no caminho ngreme #ue levava até a sua cabana
havia muitas pedras grandes #ue poderia#m
facilemente ser empurradas" causando seu rolamento montanha bai.o para esmagar Obatalá$ %lguns dias mais tarde Obatala seguia sua caminhada habitual em visita às suas terras$ *o topo de uma montanha" %to'odá observava$ % habitual roupa branca de Obatalá destacava+se no fundo verde de suas planta5es$ 7uando %to'odá estava certo #ue n!o haveria sada para Obatalá " subitamente deu um empurr!o na maior das pedras $ % pedra comeou a rolar e se dirigiu com toda velocidade para onde estava Obatalá" o #ual" paralisado pela surpresa" n!o pGde escapar$ 3oi atingido em cheio e seu corpo partiu+se em muitos pedaos" ficando espalhado por toda parte$ % notcia correu$ Obatalá havia sido destrudo por homens invejosos$ E.A foi um dos #ue receberam a notcia$ Seguiu rápido até %beokutá para verificar o ocorrido$ Seguiu depois para o Orun relatando a tragédia a Olodumaré " #ue designou Orunmilá para encontrar as partes do corpo de Obatalá e tra-+las de volta$ Orunmilá seguiu para o local imediatamente$ %p&s um certo tempo a lamentar o fato" e.ecutou um ritual
#ue tornou possvel achar todos os
pedaos espalhados do corpo$ Ele recolheu num grande igbá e levou a Iranje" antiga cidade de Obatalá" onde depositou
uma por!o de pedaos #ue
possibilitou fa-+lo renascer no Orun$ O restante espalhou : por todo o mundo=" faendo com #ue fossem surgindo novas divindades" ent!o denominadas Ori.ás ( Orisa ) #ue sintetia a contra!o da fras Ohun ti a ri sa ; : O #ue foi achado e juntado=" alusiva ao fato do recolhimento dos pedaos do corpo de Obatalá$ 2omo outras divindades surgidas do corpo de Obatalá passaram a ter seus nomes derivados dele" tornou+se ent!o necessário destacar seu nome como Orisa 1la ; O grande Ori.á ; #ue representa ai a soma de todos os Ori.ás juntos$ :
Cemos nesta lenda uma semelança muito grande "om o mito do esquarte)amento de Os3ris e a distribuição dos 4edaços do "or4o 4elo gito#
4odemos di2er que são ambos mitos ari"anos que "on!ersam entre si atra!$s dos s$"ulos#
-spectos #ivili1at%rios e #%digo 4oral nos Ori@is de Obatalá *istem di!ersos as4e"tos "i!ili2at5rios 4resentes nos Orikis de Obatalá e dentre estes as4e"tos á um !erdadeiro "5digo oral que se e*4li"ita atra!$s dos !ersos de seus di!ersos Orikis# Obatalá $ tido "omo o 4ro!edor e res4onsá!el 4ela distribuição dos re"ursos em di!ersas o"asi&es% "omo 4or e*em4lo: Obatalá" dono da coisa sagrada % Ele dá a #uem tem e toma de #uem nada tem ( em uma alusão aos im4ostos
que se re"olem em a!or do rei % o que nos ala algo do sistema e"onNmi"o nesta "i!ili2ação# Se ele tem o #ue comer ele nos dá o #ue comer
( em uma alusão ao 4a4el 4ro!edor desem4enado 4or este mito o que nos ala bastante do 4a4el dos 4atriar"as e da unção sedentária dos omens "omo agri"ultores
e "açadores em "ontra4osição 6s muleres !endedoras do
mer"ado O dia em #ue plantamos alegremente o milhete O dia em #ue protegemos o milhete dos pássaros Se retornarmos com o milhete 2hegaremos a Ifon
(@estes !ersos !emos uma alusão
no!amente ao 4a4el do trabalo no
"onte*to da agri"ultura e a ligação deste mito "om esta unção 1&s vestimos as pessoas maltrapilhas 3aemos com #ue a roupa seja abundante O #ue o Ori.á pega da 6erra n!o basta % massa de inhame é o pai do segredo ( em uma alusão ao alimento "omo
sustento da so"iedade e o 4a4el do agri"ultor Ele pega duentos punhados de massa e espera para #ue
a criana se
satisfaa$ Ele pega mil punhados de massa e mantém+se paciente
stes !ersos a"ima aludem no!amente a unção de 4ro!edor e sugerem "om4ortamentos 4ara as nobre2as e res4onsá!eis 4elos go!ernos das 130
"idades# m algumas tradiç&es 'orubás os reis de!em se !estir da orma mais sim4les e se torna res4onsá!el 4ela 4ro!isão dos re"ursos 4ara seu 4o!o# Ele di #ue para guerrear pega um pil!o
Uma reerên"ia ao trabalo em "ontra4osição 6 guerra% o que a!ali2a a 4osição deste mito "omo um dos res4onsá!eis 4ela manutenção da /a2 entre os Yorubás ,t$ aqui 4er"ebemos "laramente a unção 4edag5gi"a do mito de orma mais e*4l3"ita e sua unção so"iol5gi"a de orma im4l3"ita 4elos "or4os so"iais que ele !em a legitimar# @os !ersos abai*o temos e*em4lo da titulação 4r54ria dos Orikis# Obatalá *ono de um ala ( manto) todo branco$ 3amoso na %ssembléia Obatalá" pai de Orunmilá /ai de Orunmilá Duerreiro cuja baraba embelea a boca$
( Cemos "laramente que a autoridade da ama na assembl$ia $ legitimada 4ela 4osição 4atriar"al Ele fa com #ue toda mulher estéril se torne fecunda
Cemos neste !erso uma reêrên"ia ao 4rolongamento das linagens e sua unção so"iol5gi"a e 4edag5gi"a# 1!o se pode recusar a#uilo #ue nos oferece para comer #
.obre este !erso "omento algo que a"onte"eu "omigo no gito# sta!a em um Nnibus entre o +airo e o .inai e me sentei ao lado de um nJbio # le me oere"e bola"as 4ara "omer e eu re"uso# le mesmo dei*a de "omer o que me oere"era # /ergunto a um eg34"io ao "egar ao .inai o 4or que daquilo% 4orque aquele meu amigo dei*ara ele mesmo de "omer a 4artir da mina re"usa e ele me e*4li"a que dentre os nJbios á o "ostume de se G
$
tena sido "onstru3da 4or ra2&es da 131
islami2ação 'orubá % !emos que tal!e2 não a)a um 4aralelo direto entre as duas tradiç&es# +ontudo o que não 4odemos negar $ que a4esar de distantes estas tradiç&es ari"anas "on!ersam entre si% "omo "on!ersam as tradiç&es de todos os 4o!os sudaneses% o que 4ode !ir a signii"ar% dentre outras "oisas% a uma remota origem "omum% senão ao menos uma tro"a de inluên"ias entre estes 4o!os sudaneses do leste e oeste% de!ido tal!e2 mesmo a 4ro!á!eis migraç&es e as rotas de "om$r"io que ai se estabele"eram dentro e ora do "onte*to da e*4ansão do slã# ,l$m disso% sem dJ!ida% este ato nos e!o"a uma unção 4edag5gi"a do mito que !ai muito al$m da liturgia e nos esboça 4adroni2ação de "om4ortamentos dentro desta "i!ili2ação assim "omo "ostumes so"ialmente a"eitos# Dá nos !ersos de Oriki de Obatalá : :3ilho de minha famlia por afinidade n!o é meu filho : e :2onhecemos as coisas com as #uais nascemos=" mostram "laramente a relação que !imos
anteriormente nos orikis de Yeman)á
sobre os 4arentes e estranos dos
quais nos ala eillassou* em sua obra ,ntro4ologia da s"ra!idão# +ontudo aqui !emos o outro lado% não aquele no qual estes estranos se ada4tam 6s linagens e estabele"em assim no!as relaç&es de 4arentes"o# ,qui !emos as situaç&es nos quais estes agregados são de alguma orma im4edidos a desem4enar 4a4eis que somente as relaç&es "onsangE3neas 4ermitem# Cemos aqui o estabele"imento de um limite% 4resente em muitas so"iedades subsaarianas 4ara estes estranos% que mesmo quando tidos "omo 4arentes 4or determinadas tradiç&es não dei*am de ser estranos em outras determinadas situaç&es% sobretudo dentro da linagem 4atriar"al# O que 4ode o"orrer 4or e*em4lo
senão na tradição dos "ees de am3lia omens
quando determinam os 4a4$is su"ess5rios% nos quais os estranos são% neste "onte*to% sumariamente e*"lusos# sto 4ode tamb$m nos alar muito da es"ra!idão dom$sti"a entre di!ersos 4o!os subsaarianos% quando% "omo nos ala eillassou*% estes estranos não se in"or4oram 6s linagens "omo agregados % "riando um "or4o so"ial 6 4arte !ulnerá!el muitas !e2es 6 es"ra!i2ação% mesmo antes do "i"lo "omer"ial que a ,ri"a estabele"era "om o O"idente a 4artir do s$"ulo QC# interessante que obser!emos o 4a4el so"iol5gi"o do mito aqui que legitima 4osiç&es ierárqui"as dentre os gru4os e "ega mesmo a e*4li"ar o 132
surgimento de no!os "or4os so"iais de estranos e no!os 4arentes dentro desta so"iedade em sua dinAmi"a# ,o e*4li"ar a !ersão 4atriar"al dos agregados% entendemos muito de n5s mesmos na diás4ora e do "om4ortamento de nossos an"estrais na adoção de seus agregados ( que era algo muito mais inega!elmente
!oltado 6 unção materna% o que tal!e2
e*4lique tamb$m a im4ortAn"ia da unção 4edag5gi"a da mãe e da muler nas so"iedades subsaarianas e em nossa diás4ora# @os !ersos de Oriki de Obatalá o maleitor a4are"e sem4re "omo um transgressor moral% 4or isso alem do 4reguiçoso e do mentiroso % o maleitor $ o ter"eiro elemento indese)á!el nesta so"iedade% que muitas !e2es nossos meios a"adêmi"os e sobretudo religiosos se re"usam a re"one"er seu "5digo moral e $ti"o "omo undamental ou ao menos e*istente# ( +omo )á ou!i de di!ersos 4roessores uni!ersitários e sa"erdotes religiosos sobretudo "ristãos # +ontudo isto se in!alida ao ou!irmos os !ersos de Oriki: Ele derrama rapidamente fora do alcance do malfeitor Ele inutilia completamente o olho do malfeitor Ele ap&ia a#uele #ue di a verdade /oderoso au.iliar dos homens na terra @ei 8usto como a m!o de Ifá(do destino) O.aguian n!o tem maldade na barriga ( em uma reerên"ia aos intestinos
"omo 5rgão sens3!el onde "on"entramos nossos sentimentos % o que $ muito "omum em di!ersas so"iedades subsaarianas /alavra #ue transforma miséria em alegria" ao despertar ele pisoteia a#ui$ Se ele prejudica" ele repara ( em uma clara fun!o pedag&gica do mito ) @ei #ue tra ao mundo sem es#uecer$ Ele esfrega a nádega do malfeitor como alguém #ue esfrega um saco de estopa$ % morte e.pulsa a guerra sem fugir Ele é paciente e n!o se encoleria ( em clara fun!o pedag&gica do mito) Ele tem felicidade e boa disposi!o Ele #ueima os abcessos ( em clara fun!o pedag&gica e civiliat&ria)
Cemos um as4e"to ligado 6 androginia simb5li"a dos l3deres em um !erso de Oriki de Obatalá quando ou!imos : Oduá é o Barido" Oduá é a mulher$ 133
sto nos alude ao 4rin"34io que a armonia !erdadeira s5 se "onsegue quando temos o dom3nio dos dois 4rin"34ios segundo di!ersas tradiç&es subsaarianas e que !imos nos mitos de O*umar$ e QangN mais detaladamente# Cemos outros as4e"tos "i!ili2at5rios e "laramente delineadores de um "5digo moral nos seguintes !ersos de Oriki de Obatalá: A)
Os 4rimeiros ligados ao alimentoC
O fac!o pega a massa de inhame e usa como roupa % massa de inhame é pai do segredo 7ue joguemos na boca a bola de massa de inhame
Ligada a redenção ou ao 4oder dos l3deres e "ees de linagem ou religiosos Ele mata no pátio a#uele #ue n!o é iniciado e desperta para #ue ele oua as palavras /alavra #ue muito mata Ele é dono da lei e assume o comando Ele desperta e cria duentos hábitos Sua atividade na terra n!o tem limites @edondo como o terreno do mercado Ele cria as pessoas ( em "lara unção 4edag5gi"a
" Ligada a "5digos de "om4ortamento: 1!o se pode ter duas cabeas ( dois destinos ou duas opini5es diferentes sobre o mesmo assunto)$ ejam meu marido" #ue constr&i a casa e a abandona para viajar Beu marido fa o #ue ele #uer % mulher n!o pode fornicar com o cavalo 1!o se deve matar o camale!o ( s3mbolo da di!ersidade e multi4li"idade do
Uni!erso 4ara os 'orubás% ligado 6 "riação do mundo e a O*alá 2usparada de mulher ciumenta n!o racha a parede %lguém ciumento n!o pode rachar a parede cuspindo Ele n!o conta em casa o #ue viu Se ele prejudica" ele repara
Cemos na bele2a deste "5digo moral algo muito ri"o e que a4esar de 4are"er sim4les% $ na realidade um dos guias de uma so"iedade dias45ri"a que nos ormou# nquanto nos aastarmos destas realidades e "5digos 134
morais negando estudá-los e !ê-os "omo "oisas e*5ti"as% estaremos tratando grande 4arte do que nos ormou e nos 4erten"e
"omo uma
!erdadeira alteridade#
6ai que cria as pessoas e nos criou independentemente de nossas tradiç)es, a0ude:nos a que não tornemos nossos parentes ancestrais em estranhos &pa 3aba Osa OgiCan Asé 0a'a Osa Olufon Osunfemi
O 4ito de Oduduá na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is Oduduá e a Origem dos Yorubás Oduduá $ im4ortante no 4anteão dos 'orubás% 4ois $ o 4r54rio an"estral m3ti"o deste 4o!o# ,ntes do ad!ento de Oduduá outros "ultos eram "orrentes em terras 'orubás% assim "omo outras tradiç&es# 9e qualquer orma estas tradiç&es resistem "om a "riação da .o"iedade Ogboni em le e e outras "idades Yorubás# Mo)e a so"iedade Ogboni está ligada a uma determinada so"iedade se"reta de babala>os e tem um 4a4el mais am4lo do que desem4enou no 4assado% "onorme nos delineia a 4r54ria sugestão de obser!ação das dinAmi"as de e!olução so"ial de di!ersos 4o!os subsaarianos "omo tratamos anteriormente# 9e qualquer orma Oduduá tra2 no!os "on"eitos e tradiç&es# Uma das lendas que "ontam a origem de Oduduá e que trans"re!o abai*o da obra de $niste% nos ala de sua relação "om o surgimento do slã# Uma 4esquisadora que tem seu o"o em ,ri"a% uma !e2 me airmou que esta lenda $ um mito "onstru3do de!ido a inluên"ia do islã em terras 'orubás% outros nigerianos me airmaram que esta era a origem de Oduduá ( dentre eles 'orubás islAmi"os in"lusi!e# 9e qualquer orma% esta lenda simboli2a a "on!ersa entre estas tradiç&es% e nos ala muito das relaç&es amb3guas e*istentes entre as religi&es tradi"ionais 135
ari"anas
e o
islã% não s5 entre os 'orubás mas tamb$m em outras
so"iedades sudanesas subsaarianas# ,bai*o o mito: 0amurudu" um dos reis de Beca" tinha como filhos Oduduá e os reis Dogobiri e Juka'a" duas tribos da regi!o de ausa$ Oduduá era o prncipe herdeiro" #ue se mantinha com a idéia de modificar os costumes religioso" introduindo na grande mes#uita formas de dolos criados por %sara" o seu sacerdote e faedor das imagens$ %sara tinha um filho chamado >raima" #ue fora educado como adepto do maometismo e contrário às idéias do pai$ /ela influ-ncia de Oduduá" um mandado real foi e.pedido" ordenando #ue todos os homens fossem caar durante tr-s dias" antes da comemora!o anual das festividades levadas a efeito em honra d#ueles deuses$ %proveitando+se da aus-ncia de todos os homens" >raima invade a mes#uita e destr&i
todas as imagens$ 1o retorno de Oduduá foi
constatada a ocorr-ncia e uma investiga!o foi feita$ >raima comeou a provocar Oduduá" diendoC : /erguntem ao grande dolo #uem fe issoK Ele sabe falarK Imediatamente foi dada a ordem para ele ser #ueimado vivo pela afronta cometida$ 0enha e panelas de aeite foram traidas$ Isso foi o sinal para o incio de uma guerra civil$ 2ada uma das partes era possuidora de muitos adeptos" mas os maometanos levaram vantagem$ O rei 0amurudu foi assassinado" e todos
seus filhos e
seguidores pr&.imos foram e.pulsos da cidade$ Os reis de Dogobiri e de Juka'a seguiram para o Oeste e Oduduá
tomou
caminho do
0este" viajando por XY dias" atravessando a regi!o do Egito e seguindo para o Sul" pr&.imo ao local onde viria a ser fundada a cidade de Ile Ife$ Oduduá e os filhos juraram &dio mortal e vingana pela morte do pai$ 6empos depois" a tentativa de vingana será comandada por Oranmi9an de forma infrutfera" mas com a vantagem de" durante esta e.pedi!o ser fundada a cidade de O9o" #ue viria a faer frente em prestgio a cidade de Ile Ife$ 7uando Oduduá saiu da %rábia" levou consigo duas imagens de divindades$ O rei #ue assumiu o poder resolveu
enviar um e.ercito
para destruir Oduduá e submeter os
demais à escravid!o$ 3oram" porém" vencidos" e dentre a pilhagem assegurada pelos vitoriosos havia uma c&pia do %lcor!o$ Bais tarde
136
isso foi guardado num templo " venerado e cultuado como rel#uia sagrada pelas gera5es seguintes" com o nome de [d" significando fundamento ou algo sagrado$ Entre a#ueles #ue formavam a comitiva de Oduduá estavamC Orunmilá" Oluorogbo" Obameri" Oreluere" Obasin" Obagede" Ogun %lagada" Obamakin" Oba 'inni %je" Erisile" Elesije" Olose" %lajo" Esilade" Olokun e Orisateko$=
+onorme !imos no mito de *u% um dos transgressores
que "onere
mo!imento ist5ri"o 6s so"iedades subsaarianas $ o reormista religioso# Oduduá assume esta unção de reormista religioso tanto na sa3da de e"a ( em alusão á relação "om o slã quanto na "egada a le $ ( "om o ad!ento da so"iedade Ogboni que traça um mo!imento de resistên"ia 6s no!as tradiç&es# Cemos nomes im4ortantes na "omiti!a de Oduduá ( "omo Orunmila e Olokun % os deuses do destino e do mar # Outro ator im4ortante $ a relação de Oranm'ian "om o ato e a undação de O'o ( o que nos a2 lembrar da relação legalista do "5digo moral de QangN% neto de Oranm'ian# .em dJ!ida o que temos aqui e que airmo mais uma !e2 e o diálogo entre as tradiç&es islAmi"as e tradi"ionais# @o "aso dos 4o!os aut5"tones de le e ressaltamos o ato de que a .o"iedade Ogboni 2elou 4elas tradiç&es originas% o que reairma% "omo !imos no te*to de QangN o mo!imento de esistên"ia das tradiç&es originais que in"or4oram e re-signii"am outras tradiç&es no!as ( "omo !emos "laramente no "aso da de"laração do li!ro sagrado dos islAmi"os "omo algo sagrado a4esar de não "ultuado o que sem dJ!ida a2 "om que !enamos a entender muito de nossos 4ro"essos de a"ulturação na diás4ora#
-spectos #ivili1at%rios dos Ori@is de Oduduá" n"ontramos "laras reerên"ias "i!ili2at5rias nos Orikis de Oduduá# stas reerên"ias se a4ro*imam muito do que !emos nos Orikis de Obatalá # Cemos a unção do 4ro!edor em: %lguém #ue n!o me dei.a morrer de fome 7ue n!o dei.a o devedor vir a mim *o benfeitor e sábio emC Ele fa o bem " ele n!o fa o mal" Ele combate o fogo e vence o fogo Ele combate o Sol e vence o Sol 137
iolenta batalha no céu O senhor do mundo tudo sabe
9e qualquer orma este mito tamb$m se rela"iona "om a unção administrati!a 4atriar"al% a4esar de algumas !e2es se rela"ionar "om uma igura eminina# ntendemos% a 4artir desta dualidade do eminino e mas"ulino em Oduduá tamb$m as relaç&es de 4oder e!o"adas 4ela igura do ser andr5gino em di!ersas so"iedades subsaarianas#
A1a nife o .gun 1a 'a'a Odudu1a Ife Ase 1a# Osunfemi
!rincipais autores utili2ados( a quem particularmente agradeço e recomendo o con3unto de suas o'ras) 4osé 0eniste, 5arlos errano( aulas) , "eorges 0alandier, 6oger 0astide, !ierre 7erger, i8iru alami, 0a'atunde 9a1al , A'im'ola :ande, 5laude 9épine, Antonio 6isério, 0olanlé A1é, 6eginaldo !randi, 4osep$ 5amp'ell, "imeno acristán, ilma de ;elo ilva, 5laude ;eillassoux, I3o Ifamara3o, *avier 4uare2,
ibliograia#( +om4leta ABIMBOLA, Wande, Ifa Divination Poet!, "e# $o%, "o% P&'(i)*e) , 1971 ++++++++++++++ Ifa an -/o)ition of Ifa Litea! o/&), I'adan, Ofod nive)it! Pe)) AW-, Bo(an(. Pai)e Poe) a) i)toia( Data t*e -a/(e of t*e $o&'a Oi%i, Afia 44. BABA"D-, La#a( *e Livin Dead). Afia , 1977 BALA"DI-:, ;eoe) Ant*o/oLoi<&e), Pai). Pe))e) nive)itaie) de =ane, 1971. +++++++++++++++++ >oio(oie At&e((e de (?Afi<&e "oie, Pai), Pe))e) nive)itaie) de =ane, 1971 138
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