Organizadores
Maria Chalfin Coutinho Odair Furtado Tânia Regina Raitz
Psicologia Social e Trabalho: perspectivas críticas
Coleção Práticas Sociais, Políticas Públicas e Direitos Humanos
Coordenação Ana Lídia Campos Brizola Andrea Vieira Zanella
Coleção
Prácass Socas, Pocas Púbcas e Dretos Humanos Práca Coordenação Ana Lídia Campos Brizola Andrea Vieira Zanella
Vo. 1
Pscooga Soca e trabaho: perspecvas crcas Organização
Mara Chain Counho Odar Furado Tâna Regna Raz
UFSC/CFH/NUPPE
Florianópolis
2015
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina
P974
Psicologia Social e trabalho [recurso eletrônico]: perspectivas críticas / organizadores Maria Chalfin Coutinho, Odair Furtado, Tânia Regina Raitz ; coordenadores da coleção Ana Lídia Campos Brizola, Andrea Vieira Zanella. – Florianópolis : ABRAPSO Editora : Edições do Bosque CFH/UFSC, 2015. 292 p.; tabs. - (Coleção Práticas Sociais, Políticas Públicas e Direitos Humanos; v. 1) Reúne trabalhos oriundos do XVII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social – ABRAPSO. ISBN: 978-85-60501-16-8 1. Psicologia social. 2. Trabalho – Aspectos sociais. 3. Política pública. 4. Direitos humanos. I. Coutinho, Maria Chalfin. II. Furtado, Odair. III. Raitz, Tânia Regina. IV. Série CDU: 316.6
Dretora Nacona da ABRAPSO 2014-2015 Presdente: Auso Ferrera de Lma Prmero Secretáro: Marceo Gusavo Aguar Caegare Segundo Secretáro: Leandro Robero Neves Prmera Tesourera: Deborah Chrsna Anunes Segunda Tesourera: Renaa Monero Garca Supente: Caros Eduardo Ramos Prmera Presdenta : Sva Taana Maurer Lane (gesão 1980-1983) ABRAPSO Edtora Ana Lídia Campos Brizola Cleci Maraschin
Neuza Mara de Fama Guaresch Conseho Edtora
Ana Mara Jacó-Vea – UERJ Andrea Vera Zanea - UFSC Benedo Medrado-Danas - UFPE Conceção Noguera – Unversdade do Mnho - Poruga Francsco Poruga – UFRJ Lupcno ÍñguezÍñguez-Rueda – UAB - Espanha Espanha Mara Lva do Nascmeno - UFF Pedrnho Guaresch – UFRGS Peer Spnk – FGV
Edções do Bosque Gestão 2012-2016 Ana Lídia Campos Brizola
Pauo Pnhero Machado Conseho Edtora
Arno Wehng - UERJ e UNIRIO Edgardo Casro - Unversdad Nacona de San Marn, Argenna Fernando dos Sanos Sampao - UNIOESTE, PR José Lus Aonso Sanos - Unversdad de Saamanca, Espanha Jose Muro de Carvaho - UFRJ Leonor Mara Canera Espnosa - Unversdad Auonoma de Barceona, Espanha Marco Auréo Máxmo Prado - UFMG
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Sumáro
A Coeção
1
Ana Lídia Campos Brizola e Andrea Vieira Zanella
Apresentação Pscooga Soca do Trabaho em dos tempos
Mara Chain Counho A práxs da Pscooga Soca do Trabaho: relexões sobre possbdades de ntervenção
2
16
Marca Hespanho Bernardo, Carone Crsane de Sousa, Johanna Garrdo Pnzón e Heosa Aparecda de Souza Impcações da reestruturação da carrera peo “Choque de Gestão” na subjevdade de docentes da Rede Estadua de Ensno de Mnas Geras
Mausaém de Bro Duare e João Lee Ferrera Neo Saúde do servdor púbco federa: poca, dscursos e prácas prescrtas
40
64
Jarde Pessar Machado Pocas púbcas e o ugar do jovem no mundo rura
92
Rosemeire Aparecida Scopinho
Terras, trabaho e paneas coevas: a produção da vda como poca no codano de um assentamento rura do MST em Rondôna
Juana da Sva Nóbrega Todo da é da de festa: os sendos e os sgnicados do trabaho no contexto crcense
118
140
Karnne de Overa Souza e José Eeonardo Tomé Braga Júnor
I
Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
Assédo mora consequêncas
no
trabaho:
compreendendo
agumas
155
Suzana da Rosa Tofo, João Cesar Fonseca e Thago Soares Nunes Pscooga Soca do Trabaho e Educação: uma dscussão a parr da teratura espanhoa recente
172
Moacir Fernando Viegas
Autogestão e “Gestão de Pessoas”: desaios e possbdades para desenvovmento de um sstema a parr dos prncpos da economa sodára
194
Maria das Graças de Lima
Pscooga e formação dos/as trabahadores/as empreendmentos econômcos sodáros
de
215
Marene Zazua Bearz e Mara Lusa Carvaho A conscênca soca dos trabahadores metaúrgcos das empresas de novação tecnoógca do Grande ABC
231
Anôno Fernando Gomes Aves e Savador Anono Mrees Sandova Impasses da reação entre trabaho e gestão na contemporanedade e suas formas de sofrmento capazes de conduzr à morte vountára
Fernando Gasa de Casro Contrbuções da Pscooga Organzacona e do Trabaho para a mpantação de uma poca púbca de atenção à saúde do trabahador
254
270
João César de Freas Fonseca, Suzana da Rosa Tofo, Thaes de Bessa Marques dos Sanos e Grece Vana Marns
Sobre os autores, organzadores e coordenadoras
II
288
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
A coeção
Prácas Socas, Pocas Púbcas e Dretos Humanos reúne rabahos orundos do XVII Enconro Nacona da Assocação Brasera de Pscooga Soca - ABRAPSO, reazado na Unversdade Federa de Sana Caarna em ouubro de 2013. Comemorando 30 anos, ao reazar esse eveno que aou ensno, pesqusa e auação proissona em Pscooga Soca mpcada com o debae aua sobre probemas socas e pocos do nosso pas e sobre o codano da nossa socedade, a ABRAPSO reairmou sua ressênca poca à crsazação das nsuções humanas. A ABRAPSO nasceu compromeda com processos de democrazação do pas, a parr de uma anáse crca sobre a produção de conhecmeno e auação proissona em Pscooga Soca e áreas ains. O horzone de seus aiados é a consrução de uma socedade fundamenada em prncpos de jusça soca e de sodaredade, compromeda com a ampação da democraca, a ua por dreos e o acohmeno à dferença. Nossas pesqusas e ações proissonas vsam a crca à produção e reprodução de desguadades, sejam eas econômca, raca, énca, de gênero, por orenação sexua, por ocazação geográica ou quaquer ouro aspeco que srva para oprmr ndvduos e grupos. Os prncpos que orenam as prácas socas dos aiados à ABRAPSO são, porano, o respeo à vda e à dversdade, o acohmeno à berdade de expressão democráca, bem como o repúdo a oda e quaquer forma de voênca e dscrmnação. A ABRAPSO, como pare da socedade cv, em buscado conrbur para que possamos de fao avançar na expcação e resoução de voêncas de dversas ordens que aenam conra a dgndade das pessoas. Os Enconros Naconas de Pscooga Soca promovdos pea ABRAPSO conssem em uma das esraégas para esse im. Fo um dos prmeros evenos naconas reazados na área de Pscooga (em 1980) e se caracerza auamene como o 3º maor enconro brasero de Pscooga, em numero de parcpanes: nos úmos enconros congregou em méda 3.000 parcpanes e vabzou a apresenação de mas de 1.500 rabahos.
1
O XVII Enconro Nacona da Assocação Brasera de Pscooga Soca fo concebdo a parr da compreensão de que convvemos com voêncas de dversas ordens, com o avameno de dreos humanos e o recrudescmeno de prácas de sujeção. Ao mesmo empo, asssmos à presença cada vez maor de pscóogos(as) auando juno a pocas de governo. Ter como foco do Enconro Nacona da ABRAPSO a emáca Prácas Socas, Pocas Púbcas e Dretos Humanos possbou o debae desses aconecmenos e prácas, das ógcas prvasas e ndvduazanes que geramene os caracerzam e os processos de subjevação da decorrenes. Ao mesmo empo, oporunzou dar vsbdade às prácas de ressênca que nsuem issuras nesse cenáro e conrbuem para a renvenção do poco. Nese XVII Enconro, aém da conferênca de aberura, smpósos, mncursos, oicnas e dversas avdades cuuras, foram reazados 39 Grupos de Trabaho, odos coordenados por pesqusadores/douores de dferenes nsuções e esados braseros. Eses coordenadores seeconaram aé cnco rabahos, enre os apresenados em seus GTs, para compor a presene coeânea e responsabzaram-se peo processo edora que envoveu desde o conve para apresenação dos rabahos compeos, avaação por pares, decsões edoras e documenação pernene. Como resuado, chegou-se à seeção dos exos inas. Organzados, enão, por aindades emácas, passaram a compor os oo voumes desa Coeção. Para nroduzr as edções emácas, foram convdados pesqusadores que esveram envovdos na coordenação de GTs e organzação do eveno, com reconhecda produção acadêmca nas emácas ains. Agradecemos a odos os envovdos nese projeo de dvugação dos rabahos compeos dos parcpanes do XVII Enconro Nacona da ABRAPSO: raa-se de um esforço conjuno não apenas para a dvugação das experêncas e do conhecmeno que vem sendo produzdo na Pscooga Soca brasera, em parcuar no âmbo da ABRAPSO, mas para a ampicação do debae e provocação de deas e ações ransformadoras da readade soca em que vvemos e da qua avamene parcpamos.
Ana Lda Brzoa Andréa Vera Zanea
2
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Apresentação
Pscooga Soca do Trabaho em dos tempos
Mara Chain Counho
De que modo a Pscooga Soca em daogado com rabaho? Gosara de reler sobre essa quesão desde o pono de vsa ano-amercano e, para ano, suo esse dáogo em dos empos: orgens e pensameno conemporâneo. Na mpossbdade de fazer um resgae hsórco exausvo eeg como represenavo do pensameno de uma Pscooga Soca Lano-amercana anda nascene o exo de Ignáco Marn-Baró “Pscooga Poca de Trabajo en Amerca Lana”. Para o segundo empo reomo ouros dos exos sobre a emáca do rabaho presenes na coeânea comemorava de 30 anos da Assocação Brasera de Pscooga Soca (ABRAPSO): Secher (2011) e Sao (2011). O exo de Marn-Baró (1989), orgnamene uma conferênca proferda em Poro Aegre 1 a qua eu ve o prvégo de asssr, quesona a radcona magem de ndoene do rabahador ano-amercano. Para compreender a consrução hsórca dessa magem esereopada, o auor caracerza a suação abora ano-amercana em rês exos: dvsão dscrmnane do rabaho; margnazação e desemprego macço e dnâmca de exporação e repressão. A reeura desse quadro eaborado há ano por Marn-Baró, mas anda ão aua, mosra a mporânca de ohar para as pecuardades dos modos de rabahar com os quas damos em nossos fazeres como pscóogos socas. 1
A conferênca de Marn-Baró “Pscooga Poca de Trabajo en Amérca Lana” fo proferda durane o 1º Enconro Nacona de Pscooga do Trabaho organzado peo Conseho Federa de Pscooga em junho de 1988 e, poserormene, pubcada na Revsa de Pscooga de E Savador.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
A parr de sua compreensão sobre a suação abora ano-amercana, Marn-Baró (1989) dscue dos enfoques pscoógcos do rabaho: ndvduasa e ssêmco. Esses enfoques foram radconamene condconados por: secundarzação do âmbo do rabaho (anáses cenradas na dnâmca famar); adesão à perspecva dos seores no poder (parão, propreáro ec.) e adoção do modeo médco (saúde abora concebda como saúde mena, enquano esado ndvdua e quase orgânco). O auor anasa como os dos enfoques dam com a suação abora ano-amercana, consderando os rês exos acma menconados. Assm, o enfoque ndvduasa expca os probemas que caracerzam nossas suações de rabaho como decorrenes de dicudades pessoas. Já o enfoque ssêmco, cenrado nas organzações sem consderar suas conexões com a socedade na qua se nerem, compreende as dicudades de nosso codano de rabaho como consequêncas do araso ecnoógco ou mesmo de probemas cuuras. Sem rechaçar os conhecmenos orundos dos enfoques radconas, porém quesonando suas deicêncas, Marn-Baró (1989) propõe o enfoque da Pscooga Poca, o qua, quando apcada ao rabaho, “sgnica um esudo dos comporamenos aboras enquano arcuações da ordem soca e, porano, das forças socas” (p. 19). Uma a pscooga deve, de acordo com o auor, esar aena aos aspecos crcos de nossa suação abora, de modo a compreender os seores margnazados, dscrmnados, exporados, enre ouros, não como objeos, mas como su jeos socas. Essa aenção supõe a vaorzação de formas aernavas de reazação abora, endo em vsa o conexo e as caracerscas do povo ano-amercano, bem como requer a superação da vsão radcona de saúde mena, desocando-a de um esado ndvdua para uma concepção soca, cenrada nos vncuos e nas reações socas. A eura de Marn-Baró (1989) se coocava como novadora por propor uma aproxmação do ohar e do fazer da pscooga com o rabaho como efevamene aconece, sem se prender a modeos pronos, orundos de ouros conexos, ou mesmo enar pscoogzar a readade soca. Desse modo o auor se aproxma das pecuardades e dversdades dos modos de rabahar que nos são próxmos. Ao omar o rabaho como caegora de anáse, Marn-Baró (1989) se sua enre aquees para quem não é possve compreender os sujeos e os processos de subjevação que os consuem sem anasar seus modos de rabahar.
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
A aproxmação com as formas aboras concreas das socedades em que vvemos, acma esboçada, presene no que aqu chame de prmero empo, se maneve no dáogo da Pscooga Soca com o rabaho nas úmas décadas, sempre em conraposção com pscoogas ouras que adoavam perspecvas ndvduasas e/ou adapavas no campo do rabaho. Na mpossbdade de, nesse espaço, reomar a dversdade das conrbuções da Pscooga Soca para compreensão do rabaho, ope por me desocar para um segundo empo, a parr de dos exos bem mas recenes, cujas anáses conrbuem para uma compreensão mas auazada da suação abora ano-amercana. Esses exos, Secher (2011) e Sao (2011), foram orgnamene apresenados por seus auores no Smpóso “Trabaho” do 16º Enconro Nacona da ABRAPSO. Na busca por suar as arcuações enre ransformações do rabaho e os processos denáros, consderando o conexo ano-amercano, Secher (2011) resgaa um conjuno de nvesgações sobre as mpcações das ransformações produvas ocorrdas desde os anos 1980 para as experêncas e processos denáros dos rabahadores. Tendo como referênca uma dversdade de esudos, o auor apresena duas eses ou nhas de argumenações que orenam grande pare das pesqusas sobre rabaho e dendades na conemporanedade. A prmera ese – “o desmoronameno do rabaho como supore denáro: ncereza, voadade e precarzação dos empregos” - quesona o ugar de cenradade ocupado peo rabaho na produção das dendades conemporâneas, endo em vsa mudanças no mercado de rabaho, na organzação e na cuura empresara. Assm, o rabaho dexara de ser o exo cenra a parr do qua se organzara a vda dos sujeos. A segunda ese - “a reguação da dendade na empresa pós-fordsa: o novo dea de rabahador lexve e empreendedor” – se ancora no novo peri de rabahador requerdo por empresas lexves. As ransformações decorrenes do desenvovmeno capasa observado nas úmas décadas mpcaram na emergênca de modeos lexves de gesão empresara, os quas esaram preocupados em modar a dendade do rabahador. Secher (2011) se aproxma dessas duas eses a parr de parcuardades caracerscas da modernzação capasa nos pases ano-amercanos no sécuo XX e consderando “a hstórca heterogened ade enre
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
e denro dos mundos do rabaho na Amérca Lana” (p. 222). Assm, o auor ponua os rscos assocados a exrapoar essas eses para nossos pases, consderando que, em gera, foram consrudas a parr de ouros conexos (Europa e Esados Undos da Amérca) e oma como referênca as especicdades e heerogenedades ano-amercanas para airmar que o rabaho anda é cenra para a vda dos rabahadores da regão. Por im, Secher (2011) consdera mporane reler crcamene sobre essas eses e, em vez de aceá-as ou rechaçá-as, propõe consderá-as como hpóeses de rabaho, desde que “usadas em esudos de caso especicos e com as ndspensáves medações conceuas que exge o parcuar ra jeo à moderndade da Amérca Lana” (p. 227). Tomando como pano de fundo o rabaho nos espaços urbanos, Sao (2011) focaza as “proissões gnoradas”, para desacar formas cravas de rabaho assocadas a esforços por sobrevvênca. A auora refere-se a suações gnoradas por uma pscooga que “em prvegado o esudo do rabaho dos seores modernos da avdade econômca sob reação de assaarameno na méda e grande empresa, dedcando pouca aenção aos esudos sobre o rabaho crado peos segmenos pobres da popuação” (Sao, 2011, p. 234). Na dreção acma aponada, Sao (2011) mencona suações de rabaho observadas por ea na fera vre, bem como ouros esudos com desempregados, vendedores ambuanes, no âmbo da Economa Sodára e odo um conjuno de avdades pracadas por pessoas dos segmenos pobres, que comporam o chamado seor nforma. A parr da a auora probemaza a dcooma forma/nforma e apona o debae sobre o ema em ouras dscpnas, como a economa e a socooga, já que a pscooga radconamene desconhece o campo das nformadades. Sao (2011) vsa agumas concepções sobre o rabaho nforma e desaca a possema do ermo. Apesar da dversdade conceua, suações de rabaho nforma são sempre assocadas a formas negavas: precáras, desproegdas, egas, crmnosas ec. Para a auora compreender a nformadade, sem goricar ou fazer a apooga dessas suações aboras, conrbu para o reconhecmeno das dversas modadades de rabaho não reguado exsenes. Focazar os modos de rabahar pecuares das socedades ano-amercanas e reavzar as anáses ancoradas em modeos orundos de 6
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
pases do nore são eemenos mporanes nas anáses de Sao e Secher, consundo-se em uma perspecva necessára para uma Pscooga Soca do Trabaho Lano-amercana. Anda que dsanes no empo, os exos desses dos auores daogam com Marn-Baró ao se voarem para as readades ocas, focarem no rabaho a como aconece e nos sujeos que rabaham. Também no XVII Enconro Nacona da ABRAPSO, reazado em Foranópos em ouubro de 2013, o Trabaho consuu um dos exos emácos, o que abru espaço para a proposção de Grupos de Trabaho (GT) cenrados no dáogo enre a Pscooga Soca e o Trabaho, enre ouras avdades. O presene vro reúne exos orundos das apresenações acohdas por dos GTs proposos no exo rabaho, os quas apresenam relexões e reaos de pesqusa e/ou de nervenção, snonzados com a Pscooga Soca do Trabaho apresenada aqu em dos empos e, desse modo, evdencam a iação às perspecvas crcas no campo. A proposa do GT “Pscooga Soca do Trabaho: ohares crcos sobre o rabaho e os processos organzavos” 2 omou como referênca as ransformações ocorrdas nas úmas décadas no regme de acumuação capasa e preendeu “abrr espaços de relexão sobre os processos de subjevação engendrados por esses aconecmenos e sobre as conrbuções da Pscooga Soca do Trabaho e de dscpnas ains para sua compreensão”3. Nessa dreção, a proposa do GT buscou daogar com as prácas codanas e os processos nersubjevos presenes nos conexos de rabaho ano-amercanos e convdou coegas neressados em conrbur coevamene para: consrução de uma pscooga do rabaho arcuada com proposas pocas de superação das desguadades econômcas e socas, com o quesonameno de prácas assenadas em ógcas prvasas e ndvduazanes e com a promoção de pocas púbcas voadas para a popuação rabahadora em odas as suas dferenes face 4. 2
3
4
A proposa desse GT fo eaborada por: Fábo de Overa (Unversdade de São Pauo), Anono Secher (Unversdade Dego Poraes, Che), Mara Chain Counho (Unversdade Federa de Sana Caarna) e Márca Hespanho Bernardo (Poníca Unversdade Caóca de Campnas). A cação fo rerada da proposa de GT, dsponve no se do eveno: hp://www.enconro2013.abrapso.org.br/coneudo/vew?ID_CONTEUDO=753 A cação ambém fo rerada da proposa de GT, dsponve no se do eveno: hp://www. enconro2013.abrapso.org.br/coneudo/vew?ID_CONTEUDO=753
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
A ressonânca do conve acma icou evdencada peo grande voume de proposções encamnhadas ao GT. Como forma de acoher um número maor de apresenações o GT fo desdobrado em dos. O prmero maneve o nome orgna “Pscooga Soca do Trabaho: ohares crcos sobre o rabaho e os processos organzavos” e fo coordenado por Márca Hespanho Bernardo (PUCCamp) e Mara Chain Counho (UFSC). O segundo GT, denomnado “Trabaho e subjevdade”, aconeceu sob a coordenação de Tâna Regna Raz (UNIVALI). Fazem pare da presene pubcação oo exos escohdos enre os rabahos apresenados nesses dos GTs, a segur resumdos. O capuo Márca H. Bernardo, Carone C. de Sousa, Johanna Garrdo Pnzón e Heosa A. de Souza dscue a práxs da Pscooga Soca do Trabaho. A anáse hsórca e conexua das prácas proissonas permu às auoras suá-as em duas verenes: Pscooga Organzacona, que ocorre predomnanemene no campo empresara, e Pscooga Soca do Trabaho, com relexões crcas sobre as vvêncas dos rabahadores. A prmera, apesar de ransformações dscursvas, maném seu anhameno à perspecva gerenca, sem quesonar as reações de rabaho sob a égde do capasmo. Na dreção oposa, os esudos e prácas fundamenados na Pscooga Soca do Trabaho “buscam compreender de forma ampa os múpos aspecos socas e subjevos que compõem o mundo do rabaho”. Por meo da anáse das prácas proissonas, são conraposas as madas possbdades de auação de pscóogos em conexos empresaras com ouras prácas do pscóogo soca mas promssoras, em dferenes conexos aboras: saúde púbca, asssênca soca, cooperavas popuares, enre ouros. Com o propóso de anasar a produção das ecnoogas de sub jevação de docenes da rede esadua de Mnas Geras, decorrene da mpanação de novos modeos de gesão púbca, o exo de Mausaém Duare e João L. Ferrera Neo apresena pare dos resuados de pesqusa reazada em duas escoas esaduas. Os auores anasam esraégas de gesão mpanadas nos úmos anos, denomnadas de “Choque de gesão”, como ecnoogas de subjevação promooras de adapação e conformação dos docenes à readade. A mpanação desse modeo de gesão púbca ocorre em um conexo de precaredade ega dos docenes, no qua se desaca um fore dscurso a favor de mnmzação de gas-
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
os púbcos ao ado da responsabzação dos docenes pea quadade da educação. Dane do aumeno das formas de conroe e da deeroração de suas condções de rabaho, parcuarmene em reação à carrera e à remuneração, os professores desenvovem esraégas de ressênca que, de acordo com Duare e Ferrera Neo, se consuem em formas de dessênca, reveadas no “sencameno enrsecdo dos docenes”. Jarde P. Machado apresena em seu capuo uma nvesgação sobre as perspecvas e os dscursos subjacenes às drerzes da Poca Nacona de Aenção ao Servdor, mpanada recenemene no servço púbco federa. O auor anasa hsorcamene os rês grandes dscursos sobre a reação rabaho-saúde/doença, consderados como arenas dscursvas que produzem prácas: Medcna do Trabaho, Saúde Ocupacona e Saúde do Trabahador. A parr desses dscursos e endo em vsa o modo como conexo de crses e reesruurações produvas afeam o servço púbco, cada vez mas pauado na ógca gerencasa, Machado faz uma anáse documena das drerzes que orenam as prácas de vgânca e promoção da saúde do Subssema Inegrado de Aenção à Saúde do Servdor Púbco Federa (SIASS). Sua anáse evdenca a presença de eemenos dscursvos orundos ano da Saúde Ocupacona como da Saúde do Trabahador, gerando a fasa mpressão de prácas de saúde capazes de concar emancpação dos rabahadores com gerencasmo. Rosemere A. Scopnho dscue o ugar do jovem no mundo rura endo como referênca as pocas púbcas drgdas para essa juvenude, consderando parcuarmene como essa quesão que afea o fuuro de assenamenos ruras. As relexões da auora fazem pare de um projeo que nvesgou as represenações socas de jovens assenados sobre rabaho famar e juvenude. No capuo, a parr de uma revsão sobre a quesão da ruradade e da agrcuura famar, são anasadas as pocas púbcas focadas na juvenude rura no Bras. Scopnho consaou que a educação com caráer proissonazane é o grande avo dos nvesmenos púbcos para jovens e aduos, assumndo no caso do jovem rura uma naureza paava, ncapaz de fornecer educação de quadade. Poucos programas oferecem oporundades de rabaho rura aos jovens, sendo esses mados à concessão de crédo. Assm, a auora consaa os mes dos programas governamenas, os quas não garanem aos jovens assenados formação necessára e nserção abora auônoma.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
Fruo de pesqusa enográica efevada juno a um coevo nserdo em um assenameno rura, o capuo de Juana Nóbrega anasa a experênca de um grupo de famas que vvencavam em seu codano um processo de coevzação da produção. Essas famas, composas por manes de movmenos socas agráros com uma hsóra de uas pea erra, formavam o grupo, enre os assenados, que hava opado por produzr coevamene, anda que o Esado não reconhecesse a propredade coeva da erra. Para esse grupo a erra nha um sendo coevo de rabaho e de vda, em um processo de coevzação que anga dferenes dmensões da vda codana, ornando odos uma só fama. O rabaho coevo aconeca na erra, na mânca e em ouros espaços, como no caso da coznha, mporane ugar de produção de socabdades coevas, embora o grupo anda não consegusse romper com a radcona arbução dos afazeres doméscos às muheres. Para a auora a proposa de coevzação em o poder de se conrapor à raconadade capasa do Esado. O capuo de Karnne de Overa Souza e José Eeonardo Braga Júnor raz os resuados de uma pesqusa cujo objevo fo anasar o sendo e o ugar ocupado peo rabaho para rabahadores crcenses. A nvesgação fez uso de abordagem quaava e eve como ferramenas de evanameno de nformações a observação parcpane de reunões de uma assocação crcense do Ceará e as enrevsas. Fo efevado um esudo de caso de um arsa que à época auava como pahaço, aém de gerencar o crco, mas já hava desempenhado dversas pos de avdades crcenses. Os resuados, obdos por meo de anáse de coneúdo consruvo-nerpreava do maera evanado, aponam para o fore senmeno de coevdade. Em conraparda, a vda no crco é caracerzada pea precaredade no rabaho e pea faa de acesso a servços essencas, como saúde e educação; fo evdencado ambém a fore gação do enrevsado com o crco e seu neresse em permanecer rabahando nesse conexo. O propóso do exo de Suzana da Rosa Tofo, João César Fonseca e Thago Soares Nunes é probemazar o assédo mora no rabaho, suas consequêncas para a subjevdade e a saúde do rabahador e para as organzações, bem como as repercussões na socedade. A parr de uma revsão da eraura e de resuados de duas pesqusas reazadas com servdores de uma unversdade federa e com rabahadores que izeram
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
denúncas juno a um órgão púbco, os auores desacam eemenos para a compreensão do fenômeno em foco, ano do pono de vsa das consequêncas para pessoa assedada como para a organzação e ou rabaho da vma. Enre os eemenos reavos à vvênca da pessoa assedada esão um sofrmeno sencoso e a presença de város snomas íscos e pscoógcos decorrenes do assédo, que caracerzam o ma-esar do rabahador. De acordo com Tofo, Fonseca e Nunes o assédo mora no rabaho ambém afea a organzação, exsndo condções favorecedoras desse po de voênca no rabaho, as como o esmuo à compeção, o poder absouo dos chefes, as reesruurações e ercerzações ec. Por im, quesonam caracerscas da socedade aua, como a hegemona da raconadade nsrumena, a banazação da voênca, do sofrmeno e da ndferença ao ouro. Moacr Fernando Vegas busca nas conrbuções recenes da eraura espanhoa no campo da pscooga soca do rabaho os fundamenos para a compreensão das prácas educavas nas reações de produção. Inca o exo com o resgae da eraura espanhoa em uma perspecva hsórca, desde a radção funconasa aé adoção de perspecvas que coadunam com a pscooga soca crca, que quesonam pscooga organzacona enquano ecnooga de poder. Para o auor, apesar da adoção de referencas crcos, anda permanecem pesqusas com referenes radconas. Vegas ambém dscorre sobre dos campos da pscooga do rabaho espanhoa com mporanes conrbuções para a educação: o conrao pscoógco e a pscooga posva. Em reação ao prmero anasa as modicações conceuas decorrenes das ransformações conemporâneas. Depos, anasa a pscooga posva, que surgu como um conrapono ao ma esar abora, mas desde a perspecva crca pode ser consderada como uma forma de conroe de subjevdades. Por im, o exo concu airmando as conrbuções da eraura anasada para os esudos sobre educação e rabaho. As sessões do GT “Trabaho na perspecva crca” ocorrdas durane o XVII Enconro Nacona da ABRAPSO foram coordenadas por Odar Furado, Fernando Gasa de Casro e Marcos Rbero Ferrera. A proposa do GT eve foco no modo como a pscooga soca rabaha as dmensões objeva e subjeva da ação humana codana, cuja arcuação propca que, ao mesmo empo, o ndvduo vva objevamene e produza sgnos,
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
arbundo sendos pessoas às sgnicações coevas. Nessa dreção os proponenes consderam a pscooga soca como uma “cênca que reacona as condções de produção do ndvduo com suas formas socas e hsórcas” e expcam seu neresse em: r para aém da consução do psqusmo, como apresenado por Vgosk e peos pscóogos russos que o seguram, e pensar a própra consução soca como resuane da vda concrea das pessoas nas condções hsórcas deermnadas. Como o rabaho se nsere nese campo? É a perguna que norea o que esamos consderando o apore da consgna “Trabaho na perspecva crca”5.
Tendo como referênca a concepção acma a proposa do GT buscou acoher rabahos que vessem “como nore a dscussão crca da socedade nas váras verenes possves”. Enre os rabahos apresenados nesse GT foram escohdos cnco para comporem a presene pubcação, a segur brevemene resumdos. Mara das Graças de Lma apresena em seu capuo um projeo de pesqusa-nervenção, com o objevo de desenvover um ssema de “gesão de pessoas” auogesonáro, ancorado nos prncpos, conceos e prácas da economa sodára. A auora apresena um hsórco do desenvovmeno da Economa Sodára no Bras e, depos, sua a compreensão da dmensão subjeva adoada, desde o referenca sóco-hsórco. A parr da arcuação desses dos campos eórcos, Lma eencou caegoras eórcas noreadoras de seu projeo, o qua êm como referênca as conradções enre a chamada gesão de pessoas, caracersca das empresas capasas, mas empregadas em empreendmenos sodáros, que deveram esar snonzados com os vaores e prncpos auogesonáros. Assm, a auora concu apresenando como preende efevar sua pesqusa em dos empreendmenos, de modo a conrbur com o desenvovmeno da economa sodára como uma proposa de ransformação soca. Ouro exo denro do mesmo campo emáco fo produzdo por Marene Zazua Bearz e Mara Lusa Carvaho, que apresenam o reao de uma experênca de formação de rabahadores/as de Empreendmenos Econômcos Sodáros (EES). A experênca reaada fez pare de um 5
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Cação rerada da proposa de GT, dsponve no se do eveno: hp://www.enconro2013. abrapso.org.br/coneudo/vew?ID_CONTEUDO=757
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projeo de exensão de um curso de graduação em Pscooga, que arcuou feras unversáras de economa sodára com oicnas reazadas com rabahadores/as dos empreendmenos. Após um breve resgae das arcuações enre Economa Sodára e a Pscooga, as auoras apresenam a meodooga empregada e, depos, anasam os resuados acançados. Bearz e Carvaho aponam as poencadades e mes dos EES, bem como a necessdade de ampar a formação reacona, écnca e poca sobre o movmeno, apesar dsso os/as rabahadores/as sabem dsngur as dferenças fundamenas enre a Economa Sodára e o ssema econômco capasa. Também fo desacada a mporânca de a Pscooga, enquano cênca e proissão, esar aena a esse po de experênca e as demandas decorrenes. O capuo de Anôno Gomes Aves e Savador Sandova apresena o recore de uma ese de douorado com objevo de compreender as novações na avdade e os desdobramenos pscossocas, endo em vsa o conhecmeno eaborado por rabahadores meaúrgcos sobre seu rabaho e sobre s decorrenes da nserção em empresas de um Arranjo Produvo Loca (APL) focado na novação ecnoógca. A opção meodoógca da pesqusa fo por uma abordagem muméodo, com uso de ferramenas quanavas, por meo de survey com apcação de quesonáros, e quaava, com o uso dos grupos focas. Os resuados foram organzados em um modeo que arcua quaro dmensões: ambene da empresa, reações de rabaho, novação e conscênca. A magem do modeo apresenada evcenca a compexdade da readade esudada, Enre os eemenos anasados esão as mpcações das ransformações ecnoógcas para o codano de rabaho, com a degradação da quadade de vda dos rabahadores. Os dscursos expcados nos grupos focas evdencaram um comparhameno de vaores enre os rabahadores e a empresa. Para os auores o pape da conscênca dos rabahadores passou a ser deermnane na práca novava e se assena na parcpação poca em movmenos socas, uma vez que a reação sndca já não ocupa mas um pape sgnicavo nesse processo. Fernando Gasa de Casro apresena uma relexão eórca, pare de pesqusa em curso, sobre sofrmeno decorrene dos modos de gerr conemporâneos capazes de conduzr à more vounára. O auor desaca o crescene ma esar no rabaho, afeando oda socedade em quaquer
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
ugar do capasmo gobazado, e oma como hpóese para expcar a crescmeno o “mpasse” enre as formas auas de rabaho concreo e absrao. Ancorado em Marx e ouros auores do campo marxsa, Casro dscorre eorcamene sobre o fundameno onoógco do rabaho e sobre o caráer desumanzane do rabaho absrao na socedade capasa. A parr da, anasa os paradoxos enre as ógcas gesonáras que preconzam a reazação de s, ao mesmo empo que fomenam compevdade, ndvduasmo e exceênca, e os processos de consrução de s orundos de formas de rabaho concreo. Como decorrênca dos mpasses produzdos nesse conexo esá a nensicação do ma esar gerado por formas de sofrmeno consanes, faores poencazadores do sucdo. O capuo de João César Fonseca, Suzana da Rosa Tofo, Thaes Marques dos Sanos e Grece Vana Marns ambém em seu foco na mpanação do Subssema Inegrado de Aenção à Saúde do Servdor Púbco Federa (SIASS) e apresena resuados de pesqusa em curso reazada em de uma undade regona no esado de Mnas Geras. O exo anasa as conrbuções de perspecvas crcas da Pscooga Organzacona e do Trabaho para o campo da saúde do rabahador. A abordagem meodoógca empregada prorzou a escua dos envovdos na mpanação do ssema e se efevou por meo de nsrumenos quanavos (anáse dos reaóros nformazados) e quaavos (anáse documena, enrevsas, oicnas). Enre os resuados observados esão: prevaênca do adoecmeno em deermnadas caegoras proissonas, manuenção da ógca medcaocênrca, dicudades de comuncação nernsuconas, eemenos das cuuras organzaconas afeando a mpanação do ssema, enre ouros aspecos. Os auores concuem assnaando os desaios para conrbur com pocas púbcas de aenção ao rabahador. Os reze capuos que compõem essa pubcação são ambém represenavos de uma Pscooga Soca do Trabaho apresenada em dos empos na mnha escra. Ta como Marn-Baró, Secher e Sao focam readades ocas sem dexar de ado as conexões com a socedade, compondo o que Marn-Baró (1989) consderava como uma Pscooga Poca do Trabaho Lano-amercana. Fazem uso de referencas crcos orundos da Pscooga Soca e de dscpnas ains para compreender varadas suações de rabaho, represenando a mupcdade de modos de rabahar que caracerzam nossa readade.
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A grande maora dos capuos raz resuados de pesqusas efevadas com dferenes pos de rabahadores: coevos de assenamenos ruras, rabahadores de empreendmenos sodáros, docenes de escoas púbcas, meaúrgcos, servdores federas, arsas de crco, enre ouros. Também esão presenes dos exos focados nas prácas da Pscooga Soca do Trabaho, um dscorre sobre possbdades e mes para auação proissona, enquano ouro reaa uma experênca de formação para empreendmenos sodáros. Dos exos dscuem pocas púbcas de aenção à saúde para servdores púbcos e um ercero as pocas focadas na juvenude rura. Há anda dos exos cenrados nas consequêncas perversas dos modos de rabahar pcos do capasmo conemporâneo, quas sejam: ma esar, sofrmeno, assédo mora e, aé mesmo, a more vounára. O conjuno formado peos capuos que compõem esse vro faz embrar uma magem espreada em um caedoscópo, um conjuno de pequenas peças combnadas de manera neressane e coorda, represenavo da mupcdade presene na vda codana. Basa um pequeno movmeno para a medaa recombnação das peças formando oura magem ambém coorda, mas dferene da aneror. Fca aqu o conve aos eores para as múpas euras e combnações a serem feas desse conjuno. Referêncas
Marn-Baró, I. (1989) Pscooga poca de rabajo en Amerca Lana. Revista de Pscooga de E Savador , 8(31), 5-25. Sao, L. (2011) Pscooga e rabaho: Focazando as “proissões gnoradas”. In B. Medrado & W. Gando (Orgs.), Pscooga Soca e seus movmentos: 30 anos de ABRAPSO (pp. 233-250). Recfe: ABRAPSO/Ed. Unversára da UFPE. Secher, A. (2011) Transformacones de rabajo y procesos denaros en e “nuevo” capasmo: noas para una dscusón em e conexo anoamercano. In B. Medrado & W. Gando (Orgs.), Pscooga Soca e seus mov mentos: 30 anos de ABRAPSO (pp. 207-232). Recfe: ABRAPSO/Ed. Unversára da UFPE.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
A práxs da Pscooga Soca do Trabaho: relexões sobre possbdades de ntervenção Marca Hespanho Bernardo Carone Crsane de Sousa Johanna Garrdo Pnzón Heosa Aparecda de Souza
O presene capuo 1 em como objevo reler sobre as possbdades de nserção proissona do pscóogo soca do rabaho. A necessdade de abordar esse assuno fo desperada nas dscussões reazadas nos enconros do Grupo de Pesqusa Trabaho no Contexto Atua: estudos crcos em Pscooga Soca, da PUC-Campnas. Dane das númeras dscussões que ocorram no grupo sobre as mazeas do mundo do rabaho, surgram os quesonamenos sobre prácas de auação com um enfoque crco que fossem aém das dscussões acadêmcas. E, ao relermos sobre as própras vvêncas dos negranes do grupo, percebemos que eas já snazavam dversas possbdades de auação para os pscóogos socas do rabaho. São essas prácas que preendemos apresenar nese rabaho. Parmos da compreensão de que, na Pscooga, há perspecvas basane dsnas que se ocupam do mundo do rabaho, não sendo possve uma uncdade enre essas perspecvas. Desse modo, a dea predomnane de que odos os pscóogos que focazam o rabaho, em pesqusas ou na auação proissona, ncuem-se no enfoque denomnado Pscooga Organizacional e do Trabalho pode ser quesonada. Acredamos que esse quesonameno se faz necessáro, pos observam-se grandes dferenças epsemoógcas, meodoógcas e, por que não dzer, deoógcas e pocas, enre as dversas verenes da Pscooga que se ocupam com o rabaho. 1
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O coneúdo apresenado é uma versão adapada de Bernardo, M. H., Garrdo-Pnzón, & Sousa, C. C. (2013). Pscooga Soca do Trabaho: possbdades de nervenções. In M. H. Bernardo, R. S. L Guzzo, & V. L. T. Souza (Orgs.), Psicologia Social : perspecvas crcas de atuação e pesqusa (pp. 91-114). Campnas, SP: Ed. Anea.
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Para evdencar as dferenças enre as verenes, opamos por desacar duas deas, que consderamos erem focos basane dsnos. Uma deas é a Pscooga Organzacona 2, que enendemos ser mas anhada aos neresses gerencas, cuja práca predomnane se dá no campo empresara. A oura perspecva, a Pscooga Soca do Trabaho, se orena para a compreensão crca3 das reações socas de rabaho com foco na vvênca de rabahadores. Apesar de nenhuma dessas duas perspecvas apresenarem uma homogenedade nerna, as dferenças enre eas parecem-nos suicenes para mpossbar manê-as sob uma mesma denomnação, como se consussem um únco campo de pesqusa e auação. A posção adoada peas auoras dese capuo pode ser consderada poêmca, odava, propomos apresenar argumenos que demonsrem a necessdade da “demarcação de froneras”, para, enão, pensar as possbdades de nervenções pea Pscooga Soca do Trabaho. O objevo não é defender mas uma csão denro da Pscooga e, sm, demarcar dferenças hsórcas, concepções pocas, eórcas e prácas enre a Pscooga Organzacona e a Pscooga Soca do Trabaho, de forma a possbar maor careza sobre o ugar que cada uma vem ocupando hsorcamene. Assm, pode ser favorecdo o auênco e auônomo desenvovmeno de ambas. Vae dzer, anda, que a Pscooga Soca do Trabaho possu uma hsóra mas recene e carece de maor dvugação de suas avdades. Por sso, anes de apresenar possbdades de prácas proissonas do pscóogo soca do rabaho, faremos uma breve apresenação de agumas caracerscas hsórcas que propcaram a enrada da Pscooga no campo do rabaho aé os das auas. Em seguda, apresenamos agumas possbdades de nervenções pscossocas com o enfoque da Pscooga Soca do Trabaho. 2
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Com reação às denomnações, Preensky e Neson (2002) airmam que, “dependendo do pas e connene, pscóogos empregados por organzações êm sdo chamados de pscóogo ndusra/organzacona, ocupacona ou do rabaho” (p. 133). Essa compreensão ‘crca’ do rabaho consdera que vvemos em uma socedade caracerzada pea assmera de poder, a qua, por prncpo, cooca os ndvduos em condções desguas de rabaho e de acesso às necessdades báscas e aos bens de consumo. Por sso, essa perspecva ambém pode ser denomnada Pscooga Soca Crca do Trabaho.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
Agumas consderações sobre a reação hstórca da Pscooga com o trabaho
Para compreender o hsórco do neresse da Pscooga peas quesões reaconadas ao rabaho, é necessáro enender as ransformações do mundo do rabaho ao ongo do úmo sécuo, sobreudo, com reação às formas de organzação dos processos de rabaho. É necessáro consderar que a Pscooga não focaza quesões écncas e operaconas (por exempo, o funconameno de uma máquna) e, sm, as pessoas que rabaham. Apesar de o rabaho acompanhar a vda do homem em socedade desde seus prmórdos, fo com o surgmeno do capasmo que sua organzação passou a ser avo de maor neresse. Mas especicamene, no ina do sécuo XIX, com o crescmeno das grandes ndúsras, a necessdade de as empresas gerencarem o rabaho de um grande número de pessoas passa a ser prmorda para sua produvdade e, consequenemene, para seu ucro 4. Assm, não é por acaso que nessa época surgram as proposções de Frederck Tayor sobre a “Organzação Cenica do Trabaho”. De forma resumda, podemos dzer que os prncpos geras de Tayor eram (a) a separação enre a concepção do rabaho (que cabera a um deparameno de panejameno) e sua execução (que cabera ao rabahador a parr de nsruções prévas) e (b) o parceameno das avdades de produção, de modo que cada ndvduo se “especaza” em uma arefa smpes (deermnada pea gerênca), endo responsabdade por apenas uma pequena pare do produo e não mas peo odo. Para enconrar o méodo mas rápdo para desenvover as arefas, os responsáves peo seor de panejameno buscavam padronzar os movmenos com base em um esudo de “empos e méodos” (que, em gera, omava como modeo os rabahadores mas rápdos). Assm, de acordo com Braverman (1987), 4
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Esse conexo é essencamene conluoso, pos os neresses dos empregadores e dos rabahadores são oposos. De acordo com Marx (1867/1985), sob o capasmo, o rabaho se orna uma mercadora, ou seja, ago que é venddo no mercado por um vaor deermnado (que, no caso dos empregados, será seu saáro). Desse modo, quem conraa busca reduzr esse vaor e ampar o rendmeno do rabahador ao máxmo. De seu ado, o rabahador quer aumenar seu ganho reduzndo a quandade de rabaho. É o chamado conlo capa-rabaho, que será reomado dversas vezes nese capuo.
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Tayor eevou a dea de conroe no rabaho a um novo paamar. Se anes esse conroe não se dava sobre a forma como o rabahador execuava suas avdades, a parr dee, a gerênca passa a mpor, com absouo rgor, o modo como as arefas devem ser execuadas. Apesar de as proposas de Tayor parecerem essencamene écncas, era necessáro, como ee própro enfazava, enconrar o homem cero para cada poso de rabaho, fazendo uma “seeção cenica do operáro” e essa arefa é ogo assumda pea Pscooga. Parece exsr um consenso enre dversos auores (e.g., Braverman, 1987; Mavezz, 1999; Spnk, 1996; Zane & Basos, 2004), de que o prmero a escrever ssemacamene sobre a reação da Pscooga com o rabaho fo Hugo Münsenberg, sendo seu vro nuado Psicologia e eicênca ndustra consderado “o prmero esboço ssemáco da Pscooga Indusra” (Braverman, 1987, p. 126). Nee, o auor airma que seu objevo era “raçar os esboços de uma nova cênca” que fosse “nermedára enre o moderno aboraóro de Pscooga e os probemas da Economa” e argumena que “a expermentação pscoógca deve ser sstemacamente coocada a servço do comérco e da ndústra” (Münsenberg, cado por Braverman, 1987, grfo nosso). Bem ao espro que mperava em sua época, Münsenberg para do prncpo de que a ndusrazação sera a “aavanca de desenvovmeno econômco e soca” e, assm, não evava em cona as consequêncas que esse desenvovmeno podera razer para a socedade e, ampouco, quesonava as reações socas que produza (Spnk, 1996, p. 178). As prmeras pubcações de Münsenberg focazavam jusamene a seeção de pessoa e ndcavam, com careza, qua era o propóso dessa nova avdade da Pscooga (avdade que, vae dzer, anda nos empos auas é um dos prncpas focos de auação dessa proissão em empresas). Na cação a segur, é possve observar a conluênca das deas desse pscóogo com aqueas defenddas peo engenhero Tayor. Dz ee: escohemos rês prncpas propósos da vda dos negócos, propósos que são mporanes no comérco e na ndúsra e quaquer empresa econômca. Indagamos como podemos enconrar os homens cujas quadades menas os ornam mas aproprados para o rabaho que êm de fazer; em segundo ugar, em que condções pscoógcas podemos ober a maor e mas sasfaóra produção de rabaho de cada homem; e, inamene, como podemos produzr mas compeamene a nluênca nas menes hu-
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
manas desejadas nos neresses dos negócos. (Münsenberg, cado por Braverman, 1987, p. 127)
Segundo Spnk (1996), não se coocavam probemas écos para esse po de auação, pos “quaquer possve ensão enre os vaores do pscóogo e o novo campo em expansão fo avada por uma deooga proissona e gerenca voada à mporânca da sasfação pessoa para o ndvduo num poso de rabaho que sera o mehor para suas habdades” (Spnk, 1996, p. 179). Em resumo, pode-se dzer que o argumeno era (e connua sendo) que o pscóogo devera enconrar o ugar mas adequado às capacdades de cada rabahador e que sso sera neressane ano para a empresa como para o rabahador. No enano, não se coocava em quesão que, auando dessa forma, a Pscooga conrbu para a aenação do rabahador com reação à sua condção soca de subordnação ao poder econômco e às possbdades de mudança dessa condção. Mesmo os auores auas da Pscooga Organzacona reconhecem que sua hsóra “revea uma rajeóra de nerdependênca com as necessdades, vaores e expecavas do processo de ndusrazação” (Mavezz, 1999). A nserção da Pscooga no mundo do rabaho se deu, assm, desde o perodo nca da expansão da ndusrazação e já com o propóso de aender aos neresses capasas. Mas, aém da seeção dos rabahadores mas apos para cada poso de rabaho, ambém era necessáro que as empresas vessem conroe sobre os rabahadores conraados por ea, de modo que aceassem como naura suas condções de rabaho. Por sso, aém de se responsabzar pea seeção daquees que correspondessem aos peris adequados para a maor produvdade, a Pscooga ocupou-se, ambém, da gesão codana do desempenho e das “reações humanas” no rabaho. Dessa forma, no ina da década de 1920, surgem as prmeras deas da chamada Escoa de Reações Humanas, com a dvugação dos expermenos do pscóogo Eon Mayo (Huczynsk, 1993). A parr de enão, a Pscooga do Trabaho passa a focazar não apenas a reação do rabahador com seu poso de rabaho, mas ambém as reações nerpessoas. É neressane desacar que o dscurso de Mayo era o de quem buscava recuperar o ado humano e soca do rabaho, perddo com o ecncsmo
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e o ndvduasmo das proposas de Tayor. Assm, ee saenava a mporânca dos senmenos e das reações humanas enre os rabahadores e dees com os gerenes. Mas essa aparene ‘humanzação’ dos ocas de rabaho, na verdade, ambém nega o anagonsmo enre os neresses do empregador e os dos rabahadores, manendo a auação do pscóogo anhada aos neresses da gerênca e favorecendo a aenação dos rabahadores com reação à sua condção de exporado. Spnk (1996) ca o fao de que, na sua prmera e mas famosa pesqusa, Mayo excuu do seu grupo de sujeos duas rabahadoras que revndcavam mehores condções de rabaho, por consderá-as “neurócas”. Desse modo, “a como Münsenberg, ee ambém raçou cudadosamene uma nha enre o soca que he neressava e um soca mas ampo” (Spnk, 1996, p. 181). Preensky (1994) é caegórco ao airmar que Mayo nha “a convcção de que reações humanas cooperavas enre rabahadores e empresáros eram a chave para a produvdade e a ranqudade ndusra. Segundo esse prncpo de cooperação, ee promoveu a écnca aravés da qua os admnsradores seram capazes de conqusar a coniança dos rabahadores e prevenr os conlos nas ndúsras” (p. 132). Huczynsk (1993) ambém airma que “sera ncorreo ver a Escoa de Reações Humanas como uma reação à gerênca cenica (de Tayor) ou descrevê-a como o redescobrmeno dos aspecos socas do rabaho que o gerencameno cenico gnorou”, pos, na verdade, o que ea represena é “uma mudança nas ácas gerencas em vez de quaquer ransformação fundamena nos objevos” (p. 16). Podemos snezar as crcas a essa escoa com a segune airmação de Segmann-Sva (2011): Os objevos da Escoa de Reações Humanas sempre foram formamene airmados como humanscos e emanados de uma vsão crca do ayorsmo. Enreano, na práca, conforme reconhecdo peos que anasaram crcamene as deas de Mayo, os adepos da Escoa de Reações Humanas êm esado empenhados, mas frequenemene, em garanr que a apcação do ayorsmo não seja perurbada peas manfesações de ‘nsasfação’ e de ‘nadapação’ dos assaarados. (p. 164)
Assm, se Münsenberg eve grande nluênca no desenvovmeno nca do campo da Pscooga que, aé os das auas, se ocupa da seeção
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
de pessoa, as deas de Mayo fundamenaram váras correnes da Pscooga Organzacona que se desenvoveram poserormene, com foco de auação nos ocas de rabaho. Huczynsk (1993) ca como exempos aguns auores nluenes, como Masow, Lker e Argyrs, e os ncu em uma mesma correne descendene das deas de Mayo, que denomna Neo-Human Reaons (nova Escoa de Reações Humanas). Segundo ee, essa “escoa” anda nluenca foremene o meo gerenca e, podemos dzer, ambém a Pscooga. Sendo assm, da mesma forma que izemos com referênca ao processo hsórco da aproxmação da Pscooga ao mundo do rabaho, a segur, apresenamos agumas caracerscas da hsóra recene e os modeos de organzação do rabaho predomnanes nesse nco do sécuo XXI, para enender o pape ocupado pea Pscooga no conexo aua. A reação da Pscooga com o trabaho no contexto atua
Devemos escarecer que os modeos de organzação do rabaho predomnanes na auadade são, na verdade, um “aperfeçoameno” do ayorsmo-fordsmo 5. Segundo Anunes (1999), o capasmo sofreu profundas mudanças em decorrênca de uma grave crse enfrenada a parr da década de 1970. A essa crse se somam a expansão da gobazação da economa de cunho neobera e a nrodução de novas ecnoogas nos processos produvos, especamene aqueas reaconadas à mcroeerônca, que caracerzam as úmas décadas. Na maor pare dos ramos produvos, há pouco espaço para a produção em massa de produos padronzados, o que caracerza o perodo em que o modeo ayorsa-fordsa eve seu auge. Desse modo, as empresas passaram a buscar maor “lexbdade”, para aender a uma demanda mas dversicada em menores quandades. E, para consegur sso, fo necessáro adapar as formas de gesão do rabaho, ornando-as, ambém, mas lexves (Bernardo, 2009). Enre os város modeos que surgram, um se desaca pea nluên5
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Os prncpos de Tayor, cados anerormene, foram aprmorados com a nrodução das nhas de monagem deazadas por Henry Ford, mpanadas na produção de auomóves a parr de 1913. Devdo ao sucesso obdo por Ford, essa proposa não ardou a ser ncorporada em escaa munda em odos os processos de produção possves. A somaóra das proposas de Tayor e Ford passou a ser conhecda poserormene como “ayorsmo-fordsmo”. O cássco ime “Tempos Modernos”, de Chares Chapn, mosra as caracerscas desse modeo de forma basane expressva.
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ca que eve em odos os meos de rabaho. Traa-se do chamado modeo japonês de produção, ambém conhecdo como oyosmo6. Uma das caracerscas mas marcanes que dferenca o oyosmo do ayorsmo-fordsmo é o aproveameno da capacdade cognva dos rabahadores no processo de rabaho. Ohno (1997), o engenhero da Toyoa nos anos 1950, deazador desse modeo, avaava que não nha sendo ‘desperdçar’ a apdão neecua do rabahador, coocando-o para reazar apenas rabaho braça em um poso soado na nha de produção, como izera Ford. Desse modo, aém das arefas manuas, ee preconzava que o rabahador ambém devera apresenar sugesões de mehoras do processo de produção e dos produos (o que devera ser reazado enquano exerca suas arefas manuas!). As écncas do oyosmo são egmadas por dscurso gerenca que, enre ouras cosas, desaca que o rabahador podera desenvover suas “compeêncas”. No enano, a possbdade de parcpar de decsões que envovam seu neresse (como redução do rmo de rabaho, por exempo) e a compeênca de crcar as regras mposas connuavam vedadas (Bernardo, 2009). Assm, podemos dzer que a opressão e exporação que caracerzam os modeos de gesão predomnanes na auadade ocorrem de forma mas camulada, “capurando a subjevdade do rabahador” (Aves, 2011) e manendo-o sob um conroe su por meo de ações manpuaóras que o evam a dedcar-se ao exremo à sua função (Anunes, 1999; Boansk & Chapeo, 1999; Bernardo, 2009). Nesse conexo, o enfoque da Pscooga que dervou da Escoa de Reações Humanas passou a er um pape fundamena para que as empresas anjam seus objevos, pos, no conexo aua, é anda mas mporane que o rabahador eseja subjevamene envovdo com sua avdade e com seu empregador. É possve dzer que a auação da Pscooga aada aos neresses gerencas ampou seu campo de ação e, sem dúvda, ambém se soiscou, sobreudo na reórca, que se aproxma do dscurso gerenca hegemônco. Assm, não se observam mas decarações ão dreas de pscóogos em defesa dos neresses econômcos, como aqueas de Münsenberg. Ao conráro, noa-se que o om humansa e aparenemene concador de Mayo esá anda mas enfazado. 6
Para mas nformações sobre esse modeo de organzação do rabaho, ver Anunes, 1995; Bernardo, 2009; Lnhar, 2000, enre ouros.
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Não se pode negar que os auores da Pscooga Organzacona ncorporaram, no seu dscurso, aspecos mas geras da socedade, que ncuem as desguadades socas, as mudanças do mundo do rabaho, ec. Seu campo de auação ambém se ornou mas abrangene, ncundo emas como “cma organzacona”, “quadade de vda no rabaho”, ec. No enano, parece-nos que essas mudanças êm um evdene anhameno com as muações gerencas, que, como dssemos, concenram-se em uma lexbzação muo maor do dscurso do que da práca (Bernardo, 2009). Apesar de auores da Pscooga Organzacona buscarem ncorporar a dea proposa por Spnk (1996) de que seu foco deve esar sobre os “processos pscossocas”, o que se noa é que sua práca connua aada à gerênca. Embora de modo mas soiscado, e apoados na crença de que esão fazendo o mehor por odos, sua aenção, em gera, se maném na adapação do rabahador às regras mposas peo empregador. Spnk (1996) ressaa que “deoogas proissonas e gerencas êm a arefa de represenação posva da auordade de mando frene a quem manda e a quem obedece, de ornar naura aquo que não é naura e de fazê-o de forma convncene” (p. 179). Parece, assm, que, apesar de oda a ransformação dscursva, a deooga proissona da Pscooga Organzacona connua a mesma, como se não coubesse ao pscóogo coocar em quesão a ordem esabeecda, mas apenas auar de forma suposamene neura, com referencas humansas de modo a mehorar a quadade de vda e o bem-esar das pessoas. A parr dessas breves consderações, é possve observar que a Pscooga Organzacona nasceu e se consodou enquano uma cênca de apcação práca, vncuada aos “neresses posos peo corpo gerenca e peo capa, arcuando-se, por exempo, com a admnsração e com a engenhara” (Sao, 2003, p. 167). Não parece haver, porano, por pare dos represenanes dessa área, muas possbdades de que sua auação mude sgnicavamene a suação dos rabahadores, especamene no que dz respeo às reações de rabaho esabeecdas ao ongo da hsóra do capasmo. No enano, a deooga proissona não é acea por pesqusadores e proissonas que se nserem na perspecva que, nese rabaho, esá sendo chamada de Pscooga Soca do Trabaho. Os esudos e as prácas reazados com esse enfoque se fundamenam na dea de que o rabaho
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na socedade ocdena conemporânea pode er assumdo novas conigurações, mas a reação assmérca de poder enre quem emprega e os rabahadores connua. Desse modo, buscam compreender de forma ampa os múpos aspecos socas e subjevos que compõem o mundo do rabaho. Em conraposção à eura naurazane e homogenezane que em prevaecdo em grande pare das ações e dos esudos em Pscooga Organzacona, os pscóogos que se nscrevem na Pscooga Soca do Trabaho omam como base o caráer hsórco, heerogêneo, conradóro e conluoso dessa reação, compreendendo que o rabaho sofre mudanças e desvos ao rmo das dversas ransformações econômcas, pocas e cuuras. As abordagens que se ncuem nessa perspecva são basane ampas do pono de vsa eórco e meodoógco, mas, em gera, omam referencas da Pscooga Soca crca em dáogo com as Cêncas Socas. Uma das prncpas caracerscas dos esudos desse enfoque é que ees não se anham ao dscurso e aos neresses gerencas. Em muos casos, ncusve, se conrapõem dreamene a ee, buscando evdencar aspecos presenes nos modeos de organzação do rabaho que são hegemôncos e suas repercussões para os rabahadores. Também ncuem pesqusas que buscam compreender as ácas codanas e as esraégas (Cereau, 1996) dos rabahadores para se oporem ao modeo vgene ou para se defenderem de seus aspecos negavos. Pode-se dzer, enão, que os pressuposos que conformam a Pscooga Soca do Trabaho ncuem os aspecos subjevos reaconados ao rabaho a parr da perspecva dos própros rabahadores, enendendo que o rabaho é consudo por espaços de socazação, de consrução de dendades, experêncas e sgnicados, possbados por prácas codanas e nerações (Sao, 2003; Sao, Bernardo, & Overa, 2008), que ocorrem em um conexo soca permeado peo conlo de neresses. Assm, se é possve dzer que a orgem da Pscooga Organzacona se deu, sobreudo, na práca vncuada aos neresses gerencas, a Pscooga Soca do Trabaho, por seu ado, se conigura a parr da pesqusa em Pscooga Soca e da aproxmação de pscóogos a movmenos socas de rabahadores que caracerzaram o perodo de aberura poca poseror à dadura mar. Conforme embra Sao (2003), desde a década de 1970,
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emos, no Bras, esudos mporanes, no âmbo da Pscooga, que focazam o unverso soca, os vaores, as rajeóras e asprações de rabahadores e rabahadoras das casses popuares, como os de Rodrgues (1978), de Meo (1988) e de Fonseca (2000) que focazam a vvênca de rabaho e a condção de rabahadores e rabahadoras na socedade herarquzada. (p. 170)
Os esudos cados por Sao se suavam genercamene na Pscooga Soca, mas pode-se dzer que são precursores da Pscooga Soca do Trabaho, a qua, na auadade, em ganhado um número expressvo de pesqusas e pubcações. Nesse conexo, é muo comum que se quesone se esse enfoque perme agum po de nervenção práca. Em resposa a essa ndagação, não se pode dzer que exsa “um” campo de auação especico da Pscooga Soca do Trabaho, mas o que ea raz de novo para o “quefazer” (Marn-Baró, 1996) do pscóogo é um ohar crco para os processos e reações de rabaho nas suas mas dversas expressões, sem oferecer “receas” ou “modeos” predeindos para a práca. Isso não quer dzer, conudo, que pscóogos não possam reazar nervenções a parr dessa perspecva eórco-meodoógca. Nesse sendo, a segur, vamos exempicar agumas possbdades de auação com o enfoque da Pscooga Soca do Trabaho. Possbdades de atuação da Pscooga Soca do Trabaho
Enendemos que, para pensar a auação a parr da perspecva da Pscooga Soca do Trabaho, é necessáro que o pscóogo compreenda os aspecos mas ampos do conexo em que vve. Quando esses proissonas passam a conceber os fenômenos socas a parr de uma perspecva hsórca e crca, se ornam capazes de reler sobre essa esruura e ransformar sua práca. Para sso, o proissona da Pscooga deve se pergunar permanenemene: sob que condções esou reazando meu rabaho? Quas são as orenações que me nspram? Para quem e para que serve mnha avdade? Quas são as caracerscas do conexo em que esou auando? Eses quesonamenos possbam uma dreção de pensa-
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menos e posções para serem deindas (ou redeindas) na avdade proissona. Conforme já fo desacado anerormene, a Pscooga Soca do Trabaho esuda e promove dscussões sobre as mpcações pocas e socas da reação ndvduo-rabaho no conexo soca (Sao, Bernardo, & Overa, 2008), endo como premssa que as reações de rabaho são permeadas por assmeras de poder. A práca do pscóogo, nessa perspecva, pressupõe que sua nervenção deve se ncar com uma anáse negra das conradções do rabaho denro das condções dadas por seus processos de produção parcuares. Essa ação da Pscooga pare da dea de que as dendades das pessoas não são ixas, peo conráro, correspondem a posções especicas dadas peo conexo soca e nsucona, no qua se consró, da a da, a codandade do rabaho (Sao, 2003; Sao, Bernardo, & Overa, 2008). Ta posura mpca a necessdade de pensar ouras formas de fazer Pscooga com o propóso de esabeecer novas conigurações que possam responder aos probemas reas e auas. Nessa perspecva, um dos prncpas desaios do pscóogo consse em dexar de ado a dea de se pensar como auordade únca, dona de um conhecmeno mco sobre o ouro. Cabe a esse proissona superar os esquemas aenados, que, muas vezes, esão presenes na sua formação, abandonando posuras cômodas que prevaecem em seu exercco e desmonando dscursos egmadores de prácas focadas nos neresses dos mas prvegados. Para Preensky (1994), se os pscóogos não se quesonam acerca da dmensão éco-poca de sua auação, nevavemene, acabam rabahando a favor dos que êm mas poder. O auor airma que é fundamena que a Pscooga que aua no campo do rabaho resova o dema éco abandonando a fasa neuradade, ou seja, dexando de ado a premssa de que as nervenções pscoógcas favorecem guamene aos empresáros e aos rabahadores. O posconameno éco-poco que se espera do pscóogo soca do rabaho enconra eco nas airmações de Marn-Baró (1996), que, apoado em Pauo Frere, airma que o pape do pscóogo no mundo do rabaho, como em quaquer ouro âmbo, é promover a conscenzação. Segundo ee: Propõe-se como horzone do seu quefazer a conscenzação, so é, ee deve ajudar as pessoas a superarem sua dendade aenada, pessoa e
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soca, ao ransformar as condções opressvas do seu conexo. Acetar a conscenzação como horzonte não exge tanto mudar o campo de trabaho, mas a perspecva teórca e práca a parr da qua se trabaha. (p. 7, grfo nosso)
Assm, apesar das dicudades enconradas nesse conexo, ao buscar assumr uma posura éca e berára, o pscóogo dreconará suas ações em favor dos rabahadores, enendendo que suas nervenções podem er repercussões pocas sgnicavas, sendo uma poderosa ferramena para a ransformação do poder na socedade. Em resumo, o conve é para acear a exsênca do conlo capa-rabaho em suas múpas conigurações e afroná-o com dversas esraégas para, assm, consegur um efeo emancpaóro, anda que possa ser um processo exremamene eno, embrando que, “só quando acançamos uma compreensão poca e pscoógca negrada do poder, do bem-esar e da jusça, podemos mudar o mundo a nosso redor” (Preensky, 2004). Consderando esses argumenos, uma ndagação que surge frequenemene quando se apresena a perspecva da Pscooga Soca do Trabaho é a segune: É possve a atuação do pscóogo soca do trabaho no contexto da empresa? Por sso, opamos por apresenar o posconameno das auoras com reação a esse quesonameno anes de dscur ouros conexos em que a auação, de acordo com os prncpos apresenados nese rabaho, parece ser mas exequve. O que pode fazer a Pscooga Soca do Trabaho em empresas?
O argumeno mas uzado por pscóogos que auam em empresas é o de que buscam promover o bem esar ou a quadade de vda dos rabahadores e que sera possve concar esse objevo com os neresses das empresas. Todava, conforme fo dscudo na prmera pare dese capuo, essa posura proissona, anda que bem nenconada, será ngênua, pos, se ver sucesso, o pscóogo rá apenas amenzar os efeos da exporação sobre o rabahador e favorecer o empregador, evando que os conlos apareçam. Assm, consderando a perspecva defendda de que o pscóogo em, enre seus focos, o propóso de promover a conscenzação dos ra-
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bahadores com reação à sua posção na reação capa-rabaho, parece díc pensar em aguma possbdade de auação no cenáro empresara prvado. Por ouro ado, conforme será apresenado no próxmo ópco, o pscóogo pode er um pape mporane em dversos conexos de rabaho, desde que eses não enham como inadade o ucro de aguns sobre o rabaho de ouros. Assm, o mundo do rabaho apoado peos vaores capasas cooca o pscóogo que rabaha em empresas prvadas em uma condção de ensão, cercada por váras mações para reazar um rabaho de emancpação, já que ee mesmo ambém se enconra dreamene subordnado ao poder do capa. Em prncpo, é díc consderar que o pscóogo que enha conscênca das conradções dese conexo possa er uma auação crca em uma empresa na qua ee mesmo é empregado ou conraado como presador de servços auônomos. Evdenemene, em sua condção de rabahador, ee ambém vvenca um conlo, do qua emergem suas própras ensões, que abrange, por um ado, a ameaça de perda do emprego ou do conrao e, por ouro, a possbdade de mudança na assmera de poder nas reações de rabaho. Assm, a quesão esá na condção que em para percebê-o, afroná-o e resovê-o. Tendo em vsa udo o que fo dscudo, pode-se deduzr que, formamene, não é possve para um pscóogo auar em uma empresa com base na perspecva que enendemos esar na base da Pscooga Soca do Trabaho, já que ea adoa preceos que vão na dreção conrára do que é buscado peo seor prvado. Como se pode promover conscênca da exporação do capa sobre o rabaho auando de forma subordnada ao prmero? Poder-se-a responder a essa ndagação dzendo que, no conexo aua, a únca forma de fazer sso sera candesnamene, ou seja, sem o consenmeno do empregador. A parr desse pressuposo, sera o caso de airmar que odo pscóogo que aua em empresas com ins ucravos ocupará necessaramene um ugar pró-capa? Traa-se de uma airmação radca que não cabe nese rabaho. Pode-se dzer que, apesar de não er condções para um “quefazer” dreconado para a conscenzação dos rabahadores, um pscóogo que rabahe em empresas prvadas e enha uma posura crca erá como desaio buscar maner, peo menos, uma posura éca. Desse
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modo, se não é possve promover mudanças, o respeo à dgndade e à negrdade dos rabahadores deverá ser o prncpa eemeno a guar sua auação codana, aém de pauar suas prácas na anáse crca do enorno poco, soca e abora. Ese rabaho deve reazarse sob as premssas da recuperação, revaorzação e auazação de sua mssão frene ao compromsso crco e soca deindo peo Códgo de Éca Proissona, mas não é possve dzer que se rae de uma práca embasada na Pscooga Soca do Trabaho. Em resumo, endo em vsa os pressuposos defenddos, consderamos que as possbdades de auações crcas no ambene empresara icam basane madas para o pscóogo. O que um proissona que compacue com os pressuposos da Pscooga Soca do Trabaho pode buscar são pequenas nervenções codanas, que possam passar despercebdas, mas que se conigurem como ácas (Cereau, 1996), que possam converer o saber pscoógco em um conhecmeno crco das suações que permeam os ambenes de rabaho, ransformando-o em agene facador de modicações socas anda que madas e voadas para o ongo prazo. Enreano, exsem ouros conexos nos quas o pscóogo soca do rabaho pode er uma nervenção promssora. Vejamos aguns exempos. Exempos de contextos em que a atuação do pscóogo soca do trabaho é possve
Compreendemos que a auação em espaços que possbem uma relexão crca, ou mesmo uma parcpação mas efeva no processo de decsão, é mas fér para a auação do pscóogo soca do rabaho, que pode parcpar mas avamene da organzação do processo de rabaho e conrbur para a ransformação do conexo soca. Enreano, ocas que oferecem essa possbdade de auação não são comuns, pos a parcpação dos proissonas na organzação do rabaho não é uma práca compave com o modeo de produvdade mposo pea ordem domnane. Assm, é mporane ressaar que a deooga subjacene ao modeo capasa se expande para os mas dversos âmbos socas, chegando aos seores púbcos (Banch & Canera, 2011) e aé mesmo às nsâncas
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de organzação dos própros rabahadores, como aguns sndcaos, que passam a orenar-se peas pocas neoberas e prncpos do seor prvado. É comum observar-se que formas organzavas que não êm ins ucravos ambém acabem mando a auonoma dos rabahadores, bem como as possbdades de uma práca compromeda com a ransformação das reações de produção. Apesar dessa mporane ressava, com base nas nossas própras vvêncas proissonas, podemos airmar que os espaços de rabaho que não êm por inadade a busca do ucro – como o seor púbco, órgãos de represenação dos rabahadores (sndcaos), cooperavas (ou ouros empreendmenos auogesonáros) e assocações dversas – oferecem mas possbdades de auação compave com os pressuposos da Pscooga Soca do Trabaho do que as empresas prvadas. Nesses conexos, os proissonas podem enconrar mehores condções para maner uma posura crca, pos ees não consuem (ou não deveram consur) o foco dreo de ensão da conradção capa-rabaho, como é o caso de empresas prvadas. Consderando esse pressuposo e omando por base a experênca concrea das auoras, apresenamos aguns exempos de conexos nos quas é possve reazar nervenções compaves com a perspecva da Pscooga Soca do Trabaho. Na saúde púbca, os pscóogos socas do rabaho são convdados a auar na prevenção, promoção e nervenção na saúde negra do rabahador, buscando uma parcpação ava na eaboração e execução de Pocas Púbcas que favoreçam as condções de rabaho. Podemos aponar a Saúde do Trabahador7 como o principal campo da saúde púbca no qua pode auar o pscóogo soca do rabaho. Aém do aendmeno dreo a rabahadores que adoeceram no rabaho, são reazados esudos e vgânca em ambenes de rabaho, buscando formas de prevenção aos agravos na saúde em decorrênca da avdade abora. A auação dos pscóogos no campo da Saúde do Trabahador deve ser orenada no sendo de preservar a saúde ísca e mea dos rabahadores e fomenar a dscussão sobre a “dmensão pscoógca e a compreensão 7
Para uma dscussão mas aprofundada sobre a nserção da Pscooga na Saúde do Trabahador, ver Bernardo e a., 2013.
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do sofrmeno psquco reaconados ao processo de adoecmeno decorrene do rabaho” (CREPOP, 2008, p. 32). As nervenções desse po cosumam ser reazadas em avdades grupas, que podem er objevos e caracerscas dversas mas que, em gera, êm inadade erapêuca e nformava, fornecendo nformações e probemazando a reação enre o adoecmeno do rabahador e sua avdade abora, de modo a promover sua conscenzação sobre as reações de rabaho às quas esão submedos. O pscóogo soca do rabaho ambém pode parcpar de avdades reaconadas à vgânca em saúde do rabahador, que compreendem “a denicação, o conroe e a emnação dos rscos nos ocas de rabaho” (CREPOP, 2008, p. 33). As nervenções devem sempre prorzar a vvênca codana dos rabahadores e o conhecmeno acumuado por ees sobre o processo de rabaho e, nesse sendo, o pscóogo pode favorecer a parcpação dos rabahadores no processo de denicação de faores presenes no seu rabaho que podem prejudcar sua saúde ou, mesmo, sua negrdade ísca. Devemos embrar que a nervenção em saúde do rabahador não deve ocorrer apenas em undades especazadas, como são os Cenros de Referênca em Saúde do Trabahador (CERESTs), mas em quaquer po de servço de saúde e, especamene, da saúde púbca. Deve-se desacar que a denicação e prevenção de agravos à saúde dos rabahadores ncam-se no aendmeno básco. Assm, é mporane que os proissonas da rede básca de saúde enham condções de denicar os casos em que o adoecmeno ísco ou o sofrmeno psquco são decorrenes das reações de rabaho nas quas as pessoas se nserem. A conrbução do ohar da Pscooga Soca do Trabaho, porano, sera mporane para fundamenar o quesonameno e a desnaurazação da forma como se organza o rabaho no conexo capasa, mpondo codanamene a superação dos mes íscos e psqucos para os rabahadores. Aém do campo da Saúde do Trabahador, um espaço denro das pocas púbcas no qua o pscóogo soca do rabaho pode er uma auação desacada é o da Assstênca Soca, especamene nos Cenros de Referênca de Asssênca Soca (CRAS). Nesse conexo, aém do rabaho de arcuação com ouros servços, o pscóogo esá em conao dreo 32
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com popuações em suação de vunerabdade soca 8 e que, porano, enfrenam codanamene a faa de acesso a aspecos báscos para sua sobrevvênca, como amenação, morada, saneameno básco, saúde, educação e, ambém, a faa de rabaho. Apesar de se raar de uma área voada para o aendmeno sóco asssenca, a auação do pscóogo com o ohar crco para as quesões do rabaho pode se dar no sendo de ampar as relexões dessa popuação sobre o fenômeno que a ange. Mas do que reazar reunões socoeducavas de caráer dscpnar, orenando a popuação a segur as condconadades dos programas oferecdos peo governo, é possve reazar avdades com foco na quesão do acesso ao rabaho e na probemazação do formao das reações de rabaho, em proposas de cração de novas aernavas de produção, bem como nas nluêncas de fenômenos como a reesruuração produva e a gobazação da economa no agravo dessa probemáca. Oura possbdade de auação com o ohar da Pscooga Soca do Trabaho pode ser enconrada juno às nsâncas de represenação de rabahadores, como assocações e sndcatos. Apesar de ser um campo anda resro (especamene porque a magem que muos sndcaos êm do pscóogo é a do cnco e do proissona de RH, aado das empresas), apresena possbdade de auação compave com os preceos de uma Pscooga compromeda com os neresses dos rabahadores. Uma das funções do pscóogo soca do rabaho sera presar “assessora em avaação de condções de rabaho” (Sao, Lacaz, & Bernardo, 2006), junamene com os rabahadores e ouros proissonas, conrbundo no processo de formação de rabahadores e sndcasas. A auação do pscóogo soca do rabaho nesse campo ambém pode se dar no sendo de efevar prácas que conrbuam para a promoção da auonoma dos rabahadores, no sendo em que pode aponar para a formação de uma conscênca crca sobre as condções socoeconômcas a parr das quas consroem sua rajeóra de rabaho. 8
De acordo com a Poca Nacona de Asssênca Soca – PNAS, o conceo de vunerabdade soca deine o púbco avo da Asssênca Soca. N essa poca, consdera-se que a vunerabdade soca pode se decorrene da “pobreza, prvação (ausênca de renda, precáro ou nuo acesso aos servços púbcos, denre ouros) e, ou, fragzação de vncuos afevos-reaconas e de perencmeno soca (dscrmnações eáras, éncas, de gênero ou por deicêncas ouras)” (Resoução n. 145/2004, p. 33).
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
A práxs dos pscóogos nos sndcaos e assocações de proissonas pode ncur, anda, a nervenção sobre as avdades que provoquem adoecmeno, bem como a denicação de aernavas para prevenr os mpacos prejudcas do processo produvo para a saúde do rabahador. A reazação de pesqusas que vsam à ssemazação do saber acumuado peos rabahadores se conigura como mas uma possbdade de auação no âmbo sndca. Devemos embrar que, na década de 1960, a organzação dos rabahadores aanos para revndcações reavas à saúde no rabaho que acabaram por nluencar o movmeno de rabahadores do Bras e o própro campo da Saúde do Trabahador eve mporane coaboração de um grupo de pscóogos9. As cooperavas popuares10 ambém apresenam uma conigura-
ção neressane para a auação do pscóogo soca do rabaho, pos se caracerzam por apresenar uma organzação de rabaho dferencada. O grande desaio dessas formas de organzação é o de fomenar a auonoma e a parcpação efeva nos processos de decsão de rabahadores que nasceram e consruram sua rajeóra proissona em uma posção de subordnação a uma esruura econômca e soca pauada na exporação. Assm, as conrbuções da Pscooga Soca do Trabaho se coocam no âmbo da relexão sobre esse processo de ransção, no fomeno à parcpação democráca em espaços que anes eram nacessves aos rabahadores. As avdades nesse conexo podem se deinr bascamene pea parcpação e peo envovmeno efevo do pscóogo nos empreendmenos, arcuando espaços de dscussão e conrbuções do coevo no sendo de organzar e não meramene execuar as arefas do processo produvo. Para inazar, desacamos ambém a práca acadêmca, que represena um âmbo mporane de auação para o pscóogo soca do rabaho. Como dscuremos nas consderações inas desse capuo, por meo do ensno e da pesqusa, é possve conrbur para a eaboração e propagação de conhecmenos sobre as condções de rabaho na auadade e sobre suas consequêncas para a saúde ísca e psquca dos rabahadores. A 9 10
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Para mas deahes sobre esse processo, ver Oddone e a. (1986). O uso do ermo “cooperavas popuares” se faz necessáro a im de deermnar a que po de cooperava se refere. Preendemos escarecer que não raaremos de cooperavas que são consudas somene para concorrer com empresas de ercerzação de mão de obra, subocando seus cooperados por vaores muo nferores aos que seram pagos aravés de conraos de rabaho va Consodação das Les do Trabaho – CLT.
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auação na formação de novos proissonas pode proporconar o quesonameno das prácas hegemôncas da reação enre a Pscooga e o mundo do rabaho e oferecer aos fuuros proissonas uma formação crca e voada para o aendmeno das reas necessdades dos rabahadores. Os conexos apresenados são apenas aguns exempos da ampa gama de possbdades de auação do pscóogo soca do rabaho. Mas não se pode esquecer que essa auação ambém sofre a mposção de mes dversos. Uma das prncpas dicudades enconradas é a faa de arcuação enre os proissonas que comparham um ohar crco e a burocrazação das nsuções, ou seja, vsves consequêncas da dvsão soca do rabaho. A auação do pscóogo soca do rabaho ambém é mada peas dicudades que enfrenam as pessoas para as quas seu rabaho se drecona, seja no pano concreo (por exempo, a submssão a condções precáras de rabaho para suprr necessdades báscas) ou no nve deoógco (aceação do deáro capasa como naura e não passve de mudanças). Assm, frequenemene o rabaho dos proissonas compromedos com a emancpação soca dos rabahadores consse em consrur uma relexão sobre as possbdades de ransformação cuura necessára para a consrução de novas reações de rabaho nos conexos acma apresenados. Oura quesão reevane que não se pode esquecer é a ercerzação do rabaho do pscóogo e a consequene precarzação do vncuo empregaco desse proissona, seja no seor púbco ou em nsuções sem ins ucravos, faor que consrange sua auação crca ano quano ocorre nas empresas prvadas. Observa-se, assm, que a auação a parr da perspecva da Pscooga Soca do Trabaho enfrena mes como em quaquer ouro campo. Mas, endo em vsa que se raa de prácas conra hegemôncas e com poucas experêncas anerores que bazem as avdades, as dicudades enfrenadas peo proissona que adoa esse enfoque são anda maores. Apesar dsso, as auoras dese capuo aesam que ambém podem ser basane prazerosas, especamene, por possbar uma ação com vsas à ransformação de uma socedade herarquzada e njusa. Para resumr, podemos desacar que aguns dos prncpas desaios para a auação crca do pscóogo no campo do rabaho são (a) a ógca 35
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capasa que ange odos os seores de auação, ncusve o seor púbco e aguns órgãos de represenação de rabahadores; (b) a faa de neresses e/ou condções para a conraação de pscóogos nesses segmenos, uma vez que os concursos para preenchmeno de vagas de pscóogos no seor púbco são raros e as ouras nsuções cadas, em sua maora, anda não prvegam a conraação desse proissona e (c) a precarzação dos vncuos empregacos e das condções de rabaho oferecdas para os pscóogos. Consderações inas
Não há como negar que o rabaho anda é cenra na socedade em que vvemos e que exerce um mpaco muo grande na subjevdade de odos os ndvduos. Por sso, acredamos que uma vsão crca sobre as condções e organzações do rabaho na auadade deve permear a auação do pscóogo, ndferenemene da sua área de auação. Desse modo, inazamos ese capuo com uma breve relexão sobre a formação oferecda peos cursos de Pscooga para que possamos er proissonas mas aenos e compromedos com as quesões reaconadas ao rabaho. Infezmene, grande pare das unversdades braseras anda organza seus projeos pedagógcos como se a Pscooga que focaza o rabaho fosse uncamene aquea que se ocupa de aspecos gerencas, prvegando, assm, um coneúdo eórco e práco voado para o gerencameno de pessoas em ‘organzações’ dversas, especamene empresas prvadas. Desse modo, oferecem poucas possbdades de eságos em campos que propcem ações a parr da perspecva da Pscooga Soca do Trabaho. Enreano, devemos embrar que, mas do que formar proissonas para o “mercado”, a unversdade em mporane pape na formação de sujeos socas écos (Soares & Cunha, 2010). Desse modo, defendemos que se deve ncur, nos cursos de Pscooga, o conao com uma perspecva crca sobre as reações de rabaho, como aquea apresenada nese rabaho. Para a, é fundamena que a formação enha um caráer nerdscpnar, que ncua a conrbução de áreas do conhecmeno compemenares, como a socooga, a cênca poca, a saúde coeva, enre ouras, para subsdar as prácas e nervenções na readade do mundo do rabaho que é exremamene compexa.
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Ouro aspeco mporane é a vvênca em eságos que propcem a reazação de avdades voadas para a conscenzação do rabahador. A experênca de agumas unversdades (nfezmene, anda poucas) que vêm mpanando eságos em cooperavas popuares, sndcaos, servços púbcos de saúde do rabahador e em ouros conexos, que nada êm que ver com a perspecva gerenca, em se mosrado basane rca, oferecendo uma formação abrangene, éca e que possba novos horzones na formação de fuuros proissonas ou pesqusadores. Ceramene, há anda um ongo camnho a ser rhado peos seores da Pscooga que êm uma vsão crca do mundo do rabaho. Enreano, acredamos que a formação seja um mporane passo, apesar de não o únco, para a conscenzação dos fuuros proissonas sobre o ugar do rabaho na socedade capasa e para a necessdade de arcuações que busquem superar os desaios apresenados para a práca proissona. Assm, endo em vsa a mporânca do rabaho na vda do ser humano, acredamos que o oferecmeno de uma formação crca aos esudanes de Pscooga com reação ao rabaho erá mpaco posvo na avdade do fuuro proissona, ndependene da sua área de auação, ncusve naqueas áreas da Pscooga que não esão dreamene reaconadas ao rabaho, como a cnca, a escoar e a hospaar, por exempo. Para encerrar esse capuo, reairmamos que, apesar das mações aponadas, há númeras e vaosas possbdades de auação para o proissona da Pscooga engajado com a vsão crca no mundo do rabaho, como vmos nos exempos apresenados nese capuo. Enreano, essas possbdades precsam ser propagadas, ensnadas e vaorzadas para que possam dexar de ser vsa como nferores, precáras ou exócas. Os própros pscóogos precsam se organzar no sendo de uar peo reconhecmeno e pea vaorzação de campos de auação e enfoques que não correspondem àquees assumdos hsorcamene pea proissão. Referêncas
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Impcações da reestruturação da carrera peo “Choque de Gestão” na subjevdade de docentes da Rede Estadua de Ensno de Mnas Geras Mausaém de Bro Duare João Lee Ferrera Neo
Introdução
Em 2003, em nco no esado de Mnas Geras o projeo de nova gesão púbca, nuado Choque de Gesão, nsprado nos modeos nernaconas de adapação dos modeos prvados para a admnsração púbca. Com o apoo e a consuora do Banco Munda, bem como de especasas defensores dessas reformas, o Choque de Gesão nha como objevo a busca da eicênca no uso dos recursos púbcos, concomanemene com a mehora da eicáca na ofera dos servços púbcos. Na prmera fase do Choque de Gesão, que se esendeu aé 2006, o objevo prncpa era o enxugameno dos gasos púbcos e a maxmzação no uso dos recursos por meo do famoso ema “gasar menos com o Esado para gasar mas com o cdadão”. A segunda fase, que fo de 2007 aé 2010, nuada Esado para resuados, nha como objevo a busca do anhameno das nsuções e dos servdores à práca de admnsração focada nos resuados, e não mas nos processos, buscando na ógca da responsabzação e da pacuação de meas os nsrumenos para a gesão admnsrava e de pessoa. Nesse conexo, ese rabaho em como objevo anasar a produção das ecnoogas da subjevação docene na Rede Esadua de Mnas Geras, a parr da mpanação das pocas do Choque de Gesão e do Esado para Resuados, em Mnas Geras, focando em duas emácas de pesqusa: a carrera docene e a gesão pacuada. O campo consu-se de duas escoas esaduas de Beo Horzone. Ese rabaho é um recore de uma pesqusa de douorado que aborda, aém dessa, ouras emácas pernenes ao rabaho docene e às suas ecnoogas da subjevação.
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Uma vez que o objevo gera da pesqusa é compreender os processos de subjevação docene, faz-se necessáro escarecer que não esamos consderando o ndvduo como uma dendade unicada resuane das nerações exernas. A noção com que rabahamos nessa pesqusa refere-se à perspecva aponada por Nkoas Rose (2001), segundo o qua a subjevação é referda como o nome que se pode dar aos efeos da composção e da recomposção de forças, prácas e reações que enam ransformar – ou operam para ransformar – o ser humano em varadas formas de sujeo, em seres capazes de omar a s própros como os sujeos de suas própras prácas e das pocas de ouros sobre ees. (p. 143)
Assm, nesse rabaho focaza-se a subjevdade em sua dmensão processua, vsando enender como ceros processos de subjevação podem ser produzdos em face de ceras condções dadas em conexos soconsuconas especicos. Esse é o fundameno da anáse dos dscursos e das prácas eencadas durane o perodo da pesqusa e que preende mosrar de que forma as pocas púbcas êm se apresenado enquano esraégas subjevadoras, ou seja, enquano ecnoogas da subjevação. Para o acance da especicdade anaca da readade, Nkoas Rose (2001), cujo arcabouço eórco em sdo consrudo a parr das euras de Mche Foucau, apresena o conceo de ecnoogas da subjevação que nos ajuda a pensar nos afeamenos sofrdos peo docene nos úmos anos, de modo que possamos desvendá-os. Segundo ee, ecnoogas da subjevação são, pos, as maqunações, as operações peas quas somos reundos, em uma monagem, com nsrumenos neecuas e prácos, componenes, endades e aparaos parcuares, produzndo ceras formas de ser-humano, errorazando, esraicando, ixando, organzando e ornando duráves as reações parcuares que os humanos podem honesamene esabeecer consgo mesmos. (p. 176)
Trabahamos com a hpóese de que as esraégas de gesão desenvovdas peo Governo do esado de Mnas Geras razem em seu bojo ecnoogas de subjevação, ao se proporem a consrurem processos de rabaho e modos de funconameno dos docenes, a parr de créros homogêneos por meo dos quas os docenes são avaados e nsados a se conformarem e se adaparem à readade deazada.
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Método
A parr da crca dos eórcos da admnsração púbca ano-amercana e dos pesqusadores das pocas em educação do Bras e de Mnas Geras, anasamos crcamene os mpacos das mudanças na carrera docene com a mpanação do Choque de Gesão, consderando as especicdades da readade brasera e mnera. Para essa anáse são uzados dados de enrevsas e do dáro de campo da pesqusa com docenes de duas escoas esaduas, bem como a egsação da nova carrera dos docenes e exos de consuores governamenas que avaam, do pono de vsa do governo, as pocas mpanadas. Quano às esraégas para seeção da amosra, rabahamos por conrase-aprofundameno, com duas escoas esaduas que oferam o Ensno Médo, ocazadas em regões dsnas de Beo Horzone. Por essa esraéga, buscou-se, como apona Pres (2010), raar cada caso como uma undade auônoma, “mesmo que o fao de jusapor os casos em uma mesma obra possbe acrescenar nformações, esabeecer comparações, ou dar uma mehor vsão de conjuno do probema” (p. 202). Fo reazada uma anáse de coneúdo do maera coeado e das egsações. Como supore eórco-meodoógco, recorremos à esquzoanáse (Deeuze & Guaar, 1996), que possbou uma eura não duasa da readade esudada, e às conrbuções de Foucau (1990) e de Rose (2001) para anáse das ecnoogas de poder e subjevação. Nesa pesqusa fo adoado o recurso à enrevsa em profunddade nos modes semesruurados. O recurso à enrevsa em profunddade compora a vanagem de permr não apenas evdencar o que essas pessoas vvencam no codano, mas guamene dar-hes a paavra e compensar sua ausênca ou sua faa de poder na socedade (Poupar, 2010). A opção pea enrevsa semesruurada fo fea em razão dos objevos do esudo. Como a enrevsa compemenava as observações em campo, novas quesões surgram no percurso das mesmas e foram ncorporadas para mehor enendmeno de aguns processos percebdos. Sendo assm, consrur um roero de enrevsa fechado mara o po de abordagem preenddo das ecnoogas da subjevação no erróro-escoa.
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O processo de codicação para o agrupameno e anáse em caegoras emácas conjugou a codicação baseada em conceos com a codicação baseada em dados, ou seja, há uma eura préva sobre o conexo conexo da educação e do rabaho docene em Mnas Geras que conrbuu para a deinção das caegoras de anáse, porém, por se raar de uma abordagem de nspração enográica enográica e da vaorzação das parcuardades observadas, fo mporane aenar para as snguardades e seu nedsmo conrbuvo para o avanço na eura do ema. O uso da codicação abera, ao demandar do pesqusador o consane quesonameno quesonameno dos dados, “que, quando, onde, como, quano, por que”, e assm por dane, aera para quesões eórcas mporanes e aguça a sensbdade para nves eórcos mas profundos (Gbbs, 2009, p. 72). Ressaamos que, nese argo, apresenamos apresen amos os resuados parcas reavos a duas caegoras emácas. Antecedentes Antecedent es hstórcos
A crse econômca e isca da década de 1980, bem como a ransção poca para governos democracamene eeos abrram o debae sobre a necessdade de ajuses na admnsração púbca nos pases ano-amercanos. Aém da necessdade de resover os probemas de ordem admnsrava e econômca, a consrução de uma socedade mas democráca em suas formas de agr e pensar pensa r ambém fo nserda na paua das da s mudanças necessáras a parr da. No bojo desse debae, modeos de admnsração púbca dos pases desenvovdos servram de base para as mudanças na Amérca Lana, desconsderando a necessdade da consrução de um modeo endógeno de desenvovmeno a parr das caracerscas pecuares dos pases dese connene. Nesse conexo, Jorge Nef (2010) apona rês grandes ensões/desaios esruuras da Amérca Lana que raicam a necessdade da cração de um modeo própro de governabdade: a exrema vunerabdade soca e o crescmeno fraco e nsáve, os mpacos da exrema desguadade que acrram conlos e dicuam consensos e egmdade nerna fraca dos ssemas nsuconas (Nef, 2010). Esses eemenos são de exrema mporânca para a deinção de pocas púbcas e devem ser consderados na eaboração de panos reamene democrácos para as socedades em desenvovmeno. A adoção de mudanças pocas, ncusve na admnsração púbca, só se efevarão democracamene se forem proposas por socedades
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resenes, com cdadãos avos, com massa crca, habdade e coniança, bem como com redes sódas de grupos comunáros mobzados, o que não aconece de fao no cenáro ano-amercano (Bourgon, 2010). No Bras, as orenações da carha do Consenso de Washngon embasaram as decsões admnsravas que se efevaram aravés de ajuses mposos peo FMI – Fundo Moneáro Inernacona - e peo Banco Munda como condção para a concessão de emprésmos. Aém dsso, a crca ao esauo burocráco burocráco do Esado weberano e a defesa da sua mnmzação, em favor do foraecmeno do mercado, foram ncorporadas peos governos pós-dadura, desconsderando desconsderando as pecuardades pocas e das desguadades socas do Bras e demas pases ano-amercanos. Denro do conexo poco munda de mpanação de reformas proposas peos organsmos nernaconas, no pano da educação, em 1990, em Jomem, Taânda, aconeceu a Conferênca Munda sobre Educação para todos. todos. Com o parocno do Banco Munda, a conferênca eve como objevo produzr um documeno com um conjuno de esraégas a serem adoadas peos pases, prncpamene os em desenvovmeno, para o acance da unversazação do ensno e adequação da educação às novas demandas do mercado (Lbâneo, 2012). Denre as prncpas proposas, que passaram a bazar as pocas púbcas nesses pases, desacam-se: a nserção e vaorzação das chamadas compeêncas e habdades, com a adoção de um currcuo mnmo, enquano nsrumeno para aferr a quadade do ensno, a necessdade da unversazação da educação e a nsução de pocas compensaóras (Overa, 2003). Apesar de surgr como um modeo educavo em subsução ao ensno radcona cumuavo de coneúdos, as habdades e compeêncas, as como êm sdo proposas peos organsmos nernaconas, êm sdo avo de crcas de dverso dversoss pensadores da educação. A prncpa crca ao novo modeo deve-se à enava de redução da educação a uma smpes “pusão naura” e a um conjuno mensuráve de objevos uarsas, fazendo fazen do com que o processo educavo de aconecmen aconecmeno o cuura, no qua nervêm o pensameno, a nguagem, a negênca e os saberes, se perca, prncpamene com a massicação da escoarzação (Lbâneo, 2012). Aém dsso, a eura da Decaração Munda da Conferênca de Jonem dexa caro que, para o acance da unversazação é desejáve a adoção das compeêncas para o aendmeno das necessdades mnmas da po-
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puação, aerando o espaço escoar de locus especicamene do conhecmeno para um espaço ampado a novas demandas. Paraeamene à ógca do enxugameno das conas púbcas como snônmo de eicênca admnsrava e da formuação de uma gramáca dscursva consruda para o convencmeno do novo enquano modernzação necessára e naura, város governos naconas ncaram a expansão da rede de educação púbca sem expandr proporconamene os nvesmenos no seor e com agumas especicdades que precsam ser probemazadas. Muas vezes apeando para o vounarsmo e comunarsmo, ou mesmo ncenvando as parceras púbco-prvadas, os programas e projeos educaconas, em nome de um “mas por menos”, conseguram ampar o “acesso” à educação púbca, cupabzando os mes da unversazação do ensno excusvamene ao modeo aneror de gesão. Um ro de ermnoogas e expressões dscursvas, com um fore apeo à necessdade de adequação do espaço escoar para sua efevação, mesmo que conando apenas com a benevoênca dos sujeos proissonas envovdos, se ornou marcane a parr da. Denre essa ermnooga podemos desacar agumas, as como “dreo a educação”, educação”, “educação ncusva”, “educação para a vda”, “formação connuada”, “educação para a cdadana”, “progressão auomáca”, “educação por ccos de aprendzagem”, enre anas ouras, que conrburam para a efevação do que Nóvoa (2009) chama de ransbordameno da escoa . Segundo ese pensador poruguês, a escoa fo assumndo númeras funções da socedade e de ouras nsâncas do poder púbco, aceando a dscpnarzação de ouras esferas da vda, da saúde, da segurança, da fama, do rânso, apresenando-se como nsução “savadora” de odos os probemas socas sob a capa do dscurso da cdadana. É nesse sendo que, assm como os docenes, prmeros crcos às mudanças muda nças mposas a parr da década de 1990, Nóvoa (2009) airma ser “ão díc, avez mpossve, defender o conráro. A não ser que nos cooquemos, proposadamene, numa posção provocava” (p. 56). Nesse sendo, assm como Nóvoa, percebemos a necessdade de um rerameno da escoa, de suas funções, de modo a organzá-a para que a aprendzagem seja o cenro desa nsução. Rerameno deve ser enenddo como forma de proporconar à escoa a oporundade de fazer mehor aquo que é de sua compeênca, e de modo unversazado de verdade, que é a vaorzação da cênca, are e cuura cu ura enquano eemenos da socedade
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do conhecmeno. Aém dsso, a rerameno permra ambém o desenvovmeno de esraégas para rabahar concomanemene conhecmenos, emoções, senmenos, conscênca, cravdade, negênca e nução. A escoa se anhara, de fao, a um projeo de cdadana, uma vez que desmonara a perversdade de dexar o auno passar pea escoa sem desenvover as aprendzagens e desmaneara a ógca da exsênca de “uma escoa a duas veocdades”, “so é, de uma escoa cenrada na aprendzagem para os rcos e no acohmeno soca para os pobres” (p. 61). A educação enquano dreo e o compromemeno dos Esados para com sua unversazação, concomanemene à obrgação pea mehora de sua quadade, êm mpacado o rabaho docene e a rea efevação da eicáca dos ssemas de ensno púbco. O processo de unversazação da educação básca fo proposo em concomânca com as orenações nernaconas de enxugameno dos gasos púbcos, o que evou à coniguração de um paradoxo conexua. Se o voume de educandos enrara para o ssema educavo, com demandas especicas, necessaramene eramos a ampação ambém da necessdade de mas recursos para o aendmeno, com quadade, dese novo segmeno popuacona. Esudosos da quesão das pocas púbcas em educação, como Coeho (2009), fazem uma anáse desa endênca goba de exensão do dreo à educação a odos os cdadãos e aponam que, prncpamene nos pases em desenvovmeno, em havdo uma pressão crescene para a execução de as reformas com a obrgação da mehora da quadade do ensno, uma vez que se ampam os nsrumenos de avaação para mensuração e conroe do processo peos resuados. Porém, esse conjuno reaconado de ecnoogas dscursvas e aparaos em afeado dreamene os proissonas da educação, prncpamene os docenes, na medda em que a conjugação das meddas mposas em reveado, pea anáse da experênca nernacona, uma aeração, muas vezes perversa, das suas condções de rabaho. Como airma Coeho (2009), em perodos de fore ncorporação de novos segmenos popuaconas à escoa deve-se esperar uma queda aprecáve nos ndces de desempenho dos aunos do conjuno do ssema educacona. Isso não sgnica que o ssema enha porado em ermos de quadade com o ngresso de aunos provenenes provene nes de famas mas humdes e menos nsrudas. (p. 61)
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Nesse sendo, a mpuação de uma obrgação de resuados de mehora da quadade do ensno para as escoas e para os docenes, com dmnução de nvesmenos no seor da educação e ampação do acesso à popuação anes excuda, em como resuado a produção de cupabzação e responsabzação perversa dos sujeos docenes, ransferndo graduamene a responsabdade do poder púbco da vabzação de fao de uma educação de quadade. No conexo das reformas admnsravas, aguns pesqusadores da área êm evanado a quesão sobre qua em sdo o conceo de quadade mpcado no dscurso modernzane aua. Hora Neo (2013) probemaza uma possve evdênca de seu sgnicado e apona as mudanças nas prácas dscursvas e no uso do conceo de quadade ao ongo da hsóra das pocas púbcas em educação. Na década de 1940, mehora da quadade da educação refera-se à capacdade em ampar a ofera de vagas para a popuação, esando a responsabdade vncuada dreamene ao Esado. Nas décadas de 1970 e 80, a busca da quadade era enendda como a capacdade de desenvover ações e projeos que vsassem à permanênca com sucesso dos sujeos na escoa, endo como exempo as campanhas conra reprovação e aceeração. Há uma demanda neváve da parcpação dos docenes nos pro jeos, mas com comparhameno de responsabdades com as nsâncas deberavas do governo. A parr de 1990, quadade na educação passou a er uma conoação mensuráve e vncuada ao cognvo. O processo de descenrazação dos governos angu as pocas de educação e há uma rupura enre a corresponsabzação pea quadade, no sendo de ransfer-a à pona da ofera do servço. Ampam-se as avaações exernas padronzadas e os nsrumenos de reguação em dermeno da redução do pape da avaação e da função da escoa enquano espaço de consrução pedagógica de saberes.
Apesar de percebdo por números docenes, desde o nco da mpanação das mudanças “modernzanes” e durane o processo ongo de mpanação das mesmas, os mpacos das reformas mpemenadas na educação púbca brasera, com suas ecnoogas dscursvas e de sub jevação êm aparecdo no mundo acadêmco apenas recenemene. A monagem da reórca da unversazação do ensno e odo o aparao dscursvo consrudo por especasas de ao escaão se efevaram como dscurso da verdade, segregando do debae os docenes, reduz-
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dos apenas a execuores das novas endêncas educaconas. Não é sem propóso que se busca, como dz Lbâneo (2012), reduz-os ao pape de aplicadores de kts de écncas prevamene eaboradas em pacoes de vros ddácos e ouros nsrumenos padronzados, o que mnmza os cusos da mão de obra e expande a possbdade de capação de capa humano (Lbâneo, 2012). Apesar da nsução da educação enquano dreo e da ampação do “acesso” à Educação Básca erem se efevado - o que precsa ser aponado como pono posvo das reformas - quando voamos o ohar para o rabahador docene vericamos uma pora vergnosa nas condções de rabaho e na remuneração dos professores, que êm esboçado formas de ressênca, não apenas no sendo foucauano, que se refere à capacdade de os sujeos modarem sua exsênca sob formas anda não domnadas e não pensadas (Pgnae, 2011), mas ambém, e prncpamene, no sendo apregoado por Marena Chau. Ea deine ressênca como um “conjuno de prácas ambguas e dspersas, num mso de recusa, aceação e conformsmo a ea, podendo dar-se de dferenes formas: rebeda, apropração e renvenção” (2012, cado por Meo, Cardoso, & Lma). No sendo apregoado por Chau, é possve vericar nas escoas púbcas de Mnas Geras as ressêncas se meamorfoseando enquano dessênca. Com base nesse conceo, durane a pesqusa, denicamos essa adapação se apresenando na práca de rês formas pecuares: a dessênca de fao, a dessênca-ressênca e a dessênca-permanênca. A desstênca de fato é quando o proissona soca a exoneração, ou muda de proissão, por não acredar na possbdade de uma mehora saara, ou das condções de rabaho, a curo e médo prazo. Esse grupo é composo, prncpamene, peos docenes com menor empo de servço e vem se ornando práca crescene no conexo escoar. Nas escoas, ncusve, é comum os proissonas com maor empo de servço ncenvarem os mas novos a buscarem novas ocupações, jusamene por essa baxa perspecva de mehora. A desstênca-resstênca é quando o docene permanece no cargo e, apesar da queda na quadade do rabaho, anda ma em pro da caegora e persse na proissão enquano rabaho cravo e de pesqusa. Nas escoas, apesar de ser um grupo mnoráro, é comum enconrarmos as docenes. A ercera caegora, ão probemáca para a quesão das pocas púbcas como a prmera, é a do grupo
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da desstênca-permanênca. Essa se refere àquees que permanecem na
avdade docene por város movos: mes da dade, por exempo, para ngressar em nova carrera, uma vez que a aposenadora se aproxma e há dicudades de renserção no mercado. Permanecem, enão, no cargo, mas não nvesem ou nvesem pouco no fazer pedagógco. Como podemos perceber, há um mso enre os conceos de ressênca apregoados peos iósofos da dferença e o conceo apresenado por Chau, fao que revea como são compexos os aparaos e dscursos que permeam o unverso do fazer docene e seus processos de subjevação. A ocazação dos eemenos que suscam ressênca esá dssemnada nos dversos sgnicanes que buscam se mpor aravés de prácas dscursvas de verdade e de modernzação necessáras. Apesar de o conexo das dessêncas er se ornado comum nas dversas redes de educação peo Bras, ano púbcas enquano prvadas, as pocas púbcas em educação êm sdo mpanadas e avaadas a parr da ógca dos resuados numa cara desconsderação da educação enquano processo que não envove apenas a mensuração de conceos, coneúdos ou compeêncas/habdades, mas a formação éca, o mucuurasmo e a consrução da auonoma e da aerdade dos educandos. A ampação da descenrazação governamena, mpuando unaeramene ao docene a responsabzação peos resuados e meas não acançadas, gnoram ncusve esudosos da Nova Gesão Púbca 1, que aponam o aumeno saara como ncenvo essenca para mehora da quadade do rabaho (Saoojee & Fraser-Moeke, 2010). Como forma de assocar core de gasos e unversazação da educação, num conexo em que os nvesmenos nese seor já eram baxos se comparados aos pases desenvovdos, as pocas púbcas de educação foram deneadas de modo a “democrazar” o acesso a odos aquees segregados anerormene, sem “onerar” os cofres púbcos. Essa ógca de 1
Nova Gesão Púbca é o nome dado à reorganzação da admnsração púbca e das bases para eaboração e mpemenação de pocas púbcas adoadas, em prncpo pea Ingaerra, e poserormene por números pases europeus e demas connenes. Ddacamene fo dvdda em rês eapas por Abrúco (2006): “Gerencasmo puro”, “Consumersm” e “Pubc Servce Orentaon”. Tem como pressuposos prncpas a mnmzação dos gasos púbcos, a eicáca na ofera dos servços púbcos e a desburocrazação da máquna governamena, descenrazando, ncusve em nve ndvdua, a responsabzação pea quadade e ceerdade dos servços púbcos oferecdos ao consumdor.
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dução dos baxos nvesmenos, assocada à pressão pea unversazação da educação básca, reversão dos dados de evasão e erradcação da reprovação, redeinram as pocas púbcas e os modos de gesão, que mpacaram dreamene nas reações pocas e pedagógcas no erróro-escoa. Em Mnas Geras, essas mudanças nos modos de se fazer poca púbca se ncaram na década de 1990, com o programa “Mnas apona o camnho”. Apesar de as aerações esruuras na gesão púbca mnera erem se ncado nesse perodo, fo somene a parr de 2003, com a mpanação do grande programa de reesruuração da admnsração púbca, nuado Choque de Gesão, que foram efeuadas as maores reformas em odos os seores de servços púbcos, razendo como ema prncpa: “gasar menos com o Esado para gasar mas com o cdadão”. Nesse conexo, ese argo em como objevo anasar a produção das ecnoogas da subjevação docene na Rede Esadua de Mnas Geras, a parr da mpanação das pocas do Choque de Gesão e do Esado para Resuados, focando na quesão da mudança na carrera docene e na mpanação da gesão pacuada. Ao desocar a educação e a docênca de um seor reaconado a processos e empos especicos, vncuados à formação neecua e humana dos ndvduos em sua snguardade e mupcdade, para uma ógca orenada pea avaação por resuados prevamene deindos e “pacuados”, vericamos números mpacos no rabaho, na carrera docene, nas mcrorreações nerescoares e no fazer pedagógco que precsam ser compreenddos e probemazados. Choque de Gestão e tecnoogas de subjevação
O Choque de Gesão fo um grande programa de reforma do seor púbco, mpanado peo governo de Mnas Geras, a parr do ano 2003, cujo objevo prmorda era o de omzar os nvesmenos púbcos, consderando odo o modeo aneror como neicaz, enfazando a necessdade de sua superação, prncpamene no que concerne à descenrazação da admnsração com foco nos resuados (Mnas Geras, 2013). A prmera geração do Choque de Gesão aconeceu de 2003 a 2006. Durane sua mpanação, o dscurso da modernzação da admnsração, da raconazação dos gasos e da necessdade de monorameno para
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avaação foram os ponos fores desacados. Para sua consrução, consuores do Banco Munda e do Banco Inernacona para Reconsrução e Desenvovmeno (BIRD) foram ouvdos, cumnando em documenos e resouções mpregnados de ermos e esraégas da eora da admnsração e de recursos humanos. Os rês exos de ação desse programa foram: a adoção da gesão por resuados, a avaação de desempenho nsucona e ndvdua e a reformuação da carrera com a mpanação de bônus por produvdade. O Acordo de Resuados fo dscpnado pea Le n. 14694 de 2003 e reformuado pea Le n. 17600 de 2008. Nesa e são apresenadas as normas para o Acordo de Resuados, pacuado enre o poder execuvo e os drgenes de órgãos, mpemenando a necessdade do ajuse inancero das nsuções, bem como do ajuse às meas espuadas, de modo a se nserrem no modeo de Avaação de Desempenho Insucona e da Avaação de Desempenho Indvdua. Nessa e fo nsudo ambém o prêmo por produvdade, sempre areado ao rpé: dsponbdade orçamenára – cumprmeno das meas – avaações de desempenho. Segundo Auguso (2010), as drerzes do Choque de Gesão vsavam à superação de um Esado provedor por um reguador, de uma gesão burocráca por uma gerenca e de uma gesão de pessoas peo conroe para o compromemeno e anhameno (p. 109). Com reação às mudanças na carrera docene e às ecnoogas da subjevação é mporane apresenar um panorama gera da suação ega dos professores na auadade para enendermos de que forma esses modos de produção e ecnoogas de poder buscam deermnar a condua dos ndvduos, submeendo-os a ceras modadades de domnação e objevação (Foucau, 1990). Na Rede Esadua de Educação de Mnas Geras, há rês pos de vncuo rabahsa: o professor efevo, o efevado e o conraado. Apesar de a Consução Federa de 1988, no argo 37, airmar que “a nvesdura em cargo ou emprego púbco depende de aprovação préva em concurso púbco de provas ou de provas e uos, de acordo com a naureza e a compexdade do cargo ou emprego”, (1988), essa não é a readade da maora dos proissonas da educação em Mnas Geras, pos como fo airmado, há ouros dos pos de conraação exsenes que não possuem dreos nerenes ao esauáro, como o dreo à esabdade, por exempo. Segundo dados da pesqusa do Grupo de
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Esudos sobre Trabaho Docene (GESTRADO) da Facudade de Educação da UFMG, o percenua de proissonas esauáros efevos efevos na educação em Mnas Geras é de apenas 42,8%. Já os desgnados, ou conraados, somam 31,4%, enquano os efevados pea Le n. 100/2007 represenam 24,4%2 (Romano, Overa, & Meo, 2012). Essa esraéga em fragmenado a carrera e dvddo a caegora, ncusve, denro da represenação sndca. Essa áca de governo, como airma Lazzarao (2011), é consune das pocas neoberas, pos não forja apenas desguadades enre camadas socas, mas no neror de cada esrao. Tabea 1. Gastos com pubcdade - setor púbco e empresas controadas peo governo de Mnas Geras, 2003 – 2011 em R$ m
A no
Setor púbco
Empresas controadas
Tota
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
47,12 86,38 115,23 81,70 124,91 129,53 123,16 95,62 107,81
19,85 66,15 44,60 66,22 80,41 87,78 94,09 79,62 57,62
66,97 152,53 159,83 147,92 205,32 217,31 217,25 175,24 165,43
Tota
911,46
596,34
1.507,80
Fonte: Gonjo Fonte: Gonjo (2013, p. 63). 2
A Le n. 100/2007, 100/2007, nsuda no governo de Aéco Neves, crou a caegora dos efevados
sem concurso púbco. Mhares de proissonas desgnados, que nham seus conraos inazados no ina de cada ano, veram o dreo garando de permanecerem nas vagas. Aém dsso, esses proissonas foram ncorporados ao regme da prevdênca. A efevação pea Le n. 100/2007, 100/2007, porém, não garane o dreo à esabdade, podendo o docene ser reaocado ou desudo, caso ocorra concurso púbco de provas e uos. O Supremo Trbuna Federa propôs Ação Drea de Inconsuconadade (ADI 4876), aegando que a e voa os prncpos da sonoma, mpessoadade, moradade admnsrava e obrgaoredade de concurso púbco, presenes na CF/88. A Assembea Legsava e o governo de Mnas envaram suas defesas ao STF, aegando a consuconadade da e. Acesso em 07 de abr, 2013, em http:// www.jurisciencia.com/noticias/impugnada-lei-1002007-de-mg-que-efetiva-nao-concursados-como-servidores-adi-4876/1609/
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A fragzação da carrera docene, com a admssão de rês caegoras de docenes, fo acompanhada ambém de mudanças nas prordades orçamenáras do governo de Mnas e na produção do dscurso da necessdade medaa de maxmzar o uso dos recursos púbcos pea mnmzação dos gasos, prncpamene prncpamene com pagameno de saáros ao funconasmo. Gonjo (2013), em sua anáse sobre a economa poca do governo de Mnas no perodo do Choque de Gesão, airma que o governo reduzu reduzu de 73,1% os gasos com foha de pagamenos de 2002 para 52,2% em 2005, quando acançou o pso espuado. Ta esraéga, porém, fo acompanhada de uma ampação da dvda púbca e dos gasos com pubcdade, pubcdade, base do projeo de accountabty proposo para a reforma admnsrava, e que pode ser vso na Tabea 1. Pea anáse da abea 1 podemos perceber que, nos anos ncas da mpanação do Choque de Gesão, o apeo mdáco e o reforço da reórca da ref reforma orma neváve e da necessdade dos ajuses para a mpanação de um Esado eicene foram acompanhados de uma ampação a mpação sgnicava dos gasos com pubcdade. O vaor gaso, só conando o seor púbco, quase rpcou de 2003 para 2005 e pracamene maneve-se esáve, no opo, aé o ano de 2011, mosrando que a esraéga do markeng markeng fo fo comumene uzada peo governo. A mporânca dos dados apresenados deve-se à dscrepânca exsene enre a práca dscursva ransposa do seor prvado para o seor púbco, nesse caso a educação, para um “mas por menos” e o paradoxo com a ampação dos gasos com pubcdade e da dvda púbca. O auomasmo da ransposção da ógca empresara para a educação mosrou-se perversa e desconsderou, desde o nco, as especicdades da educação enquano seor vncuado à formação humana e neecua, o que de medao já a dfere da ógca produção-produo das empresas do seor prvado. A precarzação das condções do rabaho na rede púbca esadua de Mnas Geras, prncpamene com reação às quesões saaras e de carrera, orna a ransposção mnenemene perversa e desesmuadora. Com reação à carrera docene, a prncpa medda mpemenada, na ógca do enxugameno e da eicênca da admnsração dos recursos, fo a ncorporação de cnco vencmenos (vencmeno básco, graicação de ncenvo à docênca, graicação de educação especa, graicação
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por curso de pós-graduação e por regme especa de rabaho) numa parcea únca a ser paga ao rabahador, com o nome de subsdo 3. Imposa pea Le n. 18.975/2010, essa mudança revea o paradoxo paradoxo com a ógca do empreendedorsmo empreende dorsmo uzada pea poca do Choque de Gesão, cuja possbdade de ascensão na carrera e mehora saara é defendda como eemeno da gesão auônoma para a novação e cravdade. Na observação e nas enrevsas reazadas nas escoas, o mpaco negavo da subsução do vencmeno básco pea parcea únca do subsdo apareceu na maora das enrevsas e ambém em dversos momenos nas conversas. Um dos reaos sobre essa mudança na carrera fo feo pea Professora Núba 4, que merece desaque : Eu acho que o subsdo é um saáro meo de escravdão, sabe? No qua nos fo rado, rana mesmo, dtadura. Nos foram rado todos os dretos que conqustamos. conqustamo s. Uma cosa muto de dtadura, eu acho que a gente vve uma dtadura por que era angamente. Porque angamente era uma dtadura oica, aberta. Agora a gente vve uma dtadura seada... Ees coocaram e, sabem usar as paavras, sabem coocar as paavras nos ugares certos.
O fragmeno da enrevsa da professora Núba usra o senmeno de grande pare dos professores enrevsados e observados. O paradoxo enre o dscurso nca da vre escoha de carreras (anga ou nova) peos docenes e, poserormene, indada a greve de 112 das em 2012, a reradaa do dreo de escoha, mpondo o subsdo como parcea únca de rerad pagameno, mpacou negavamene a reação enre docenes e governo, sendo da por aquees como uma aude andemocráca conrasane com o apeo mdáco governamena da mehora da carrera e das condções na educação da rede esadua de Mnas Geras. O dscurso em defesa da nova carrera é consrudo sob o argumeno da necessdade de uma gesão mas eicene e eicaz, mas a ecnooga da subjevação que é operada é a do nveameno dos docenes, crando uma sensação nca 3
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Para o Dconáro Onne de Poruguês, subsdo é deindo como “auxo, socorro, beneíco. Quana que o Esado oferece à obra de beneicênca ou de neresse pessoa púbco; subvenção”, ou seja, a subsução de vencmeno básco ou saáro por esse ermo aproxma a docênca da represenação soca de rabaho vounáro e soca, jusicando a necessdade da manuenção da quadade dos servços a quaquer cuso. Acesso em 08 de abr, 2013, em hp://www.dco.com.br/subsdo . Todos os nomes dos proissonas da educação enrevsados foram aerados nese argo, de modo a garanr os prncpos écos normazados peo Comê de Éca da PUC-MG.
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de vaorzação proissona para os novos ngressos, de modo a manê-os no ssema, em dermeno da esagnação dos docenes mas angos, “ncenvando”, com sso, o fenômeno da dessênca-permanênca, “menos nocva” ao quadro de pessoa do que a da dessênca de fao. Os efeos dessa poca aparecem nas faas de aguns professores professores com menos empo como servdor do Esado, como a professora Luca, ao faar dos beneícos ncorporados ao subsdo: Sou da carrera de 2005, então não tenho nada dsso (qunquêno, dsso (qunquêno, bêno). Antes de ter essa, dgamos, essa reforma, o meu saáro era menor. Agora eu já acho que ee mehorou. meh orou. Está mehor. Mas, peo o que o pessoa de mas tempo de casa faa, é que sso a fo uma perda pra gente, né? Porque, é, não se, num prmero momento a gente tá recebendo mas, mas... mas...
A operação de ampar o saáro dos ngressan ngressanes, es, em dermeno da rerada de progressões por empo de servço daquees com maor empo, fo uma esraéga uzada peo governo para aproxmar o subsdo ao pso nacona (fea em Mnas Geras, proporconamene às horas rabahadas). Desse modo, houve uma ampação do saáro dos professores com menor empo de servço, que já não nham dreo a graicações, como qunquênos ou bênos. Por ouro ado, a maor pare dos professores, mesmo com ngresso recene na Rede Esadua de Educação de Mnas Geras, consegue fazer uma avaação na perspecva de carrera, avaando ncusve sua suação com reação a ouras carreras de nve superor. Essa avaação pode ser arbuda à mobzação organzada peo Sndcao Únco dos Trabahadores em Educação de Mnas Geras (SIND-UTE/MG), sndcao da caegora, caegora , durane os 112 das de greve em 2011, cuja carrera fo connuamene rabahada como “bandera de ua”. Nessa perspecva, a professora Andressa, por exempo, revea seu consrangmeno em reação aos famares famares:: Se eu faar com mnha fama que eu ganho m e... m reas, ees faam assm: você está doda. Acho que ees nem sabem. Porque é muto pouco, m e poucos reas. Isso é o prmero fator desesmuante. Segundo fator é a carrera que a gente não tem, não tenho progressão, eu posso icar aqu 25 anos, eu vou estar ganhando 1500. Então, sso é desesmuante em s.
Esa anáse crca da professora Andressa revea o desconenameno e os consrangmenos exsenes enre o “ser professor”, sua carrera e 55
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sua suação enquano proissona graduado de nve superor. Apesar de recém-ngressa no Esado, a professora já apresena um dscurso semehane àquees que esão no opo da carrera, que são os mas afeados e os que apresenam maor ndce de ndgnação e ressênca-dessênca, no quadro dos professores enrevsados/observados. A faa da professora Ra sneza uma quexa recorrene enconrada no campo: Oha pra você ver, eu estou com 23 anos de magstéro, né, daqu daqu a três anos eu aposento, quer dzer, eu tenho curso superor, graduação, eu tenho três pós-graduações, e com o subsdo, o que aconteceu comgo? Eu vre PEB1 ganhando exatamente gua a um professor que entrou hoje no Estado. Re trocedeu o meu saáro! Então um professor, por exempo, que é R, que não tem nem habtação para trabahar na área, ee estava ganhando gua a mm. Anda connua ganhando gua a mm. Então, num prmero momento momento o que que ee fez... eu fu desvaorzada. Eu não... eu acredto assm... quem está entrando tem que ser vaorzado sm, mas quem já está e quem tem, por exe exempo, mpo, no meu caso, exceentes exceentes avaações de desempenho desempenho,, porque mnhas notas nunca foram abaxo de 90.
A redução do saáro e graicações por empo de servço e escoardade a uma únca parcea remuneraóra nuada subsdo desconsderou o hsórco do docene enquano servdor da educação. Para grande pare dos docenes, vsuazar no conracheque e no seu hsórco funcona uma progressão, seja por empo ou por avaação de desempenho, funconava, de cero modo, como um esmuo ao rabaho. rabaho. A remuneração sempre fo aquém do desejáve e merecdo, mas reveava um horzone para a ua e movação, movaçã o, o que fo mpacado negavamene com a nova carrera. Nesse sendo, a aparção recorrene desas faas ndgnadas, durane a observação e anoação do dáro de campo, fo ransposa no roero de enrevsa como uma quesão, na qua era peddo aos docenes que avaassem a nova carrera dos proissonas da educação da rede esadua de Mnas Geras. Dane dessa quesão, odos os professores enrevsados devovam a perguna com oura: “qua carrera? Não há carrera!” . Ao menconar, enão, que hava uma carrera, város probemas foram aponados como jusicava ao quesonameno feo. As quexas recorrenes foram: pora na perspecva da progressão por escoardade, uma vez que os nves de escoardade só podem ser acessados com nerscos
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de dos anos em cada grau 5; baxos saáros em comparação com ouras carreras do esado, com desaque para a Poca Mar; rerada dos beneícos recebdos e sua compressão em uma parcea únca nuada subsdo; raameno dferencado de carrera por cargo, ou seja, um mesmo professor com dos cargos se enconra em posções dferenes devdo ao empo de servço, que desconsdera a escoardade rea. Apesar de observarmos e vericarmos, nas escoas e nos reaos docenes, como a mpanação da poca do Choque de Gesão em mpacado negavamene na subjevdade e no rabaho docene, segundo a anáse do governo de Mnas Geras sobre os resuados desses programas, dversas vanagens são apresenadas. Prmeramene, como airmam Pno e Sarava (2010): hoje, com meas caras acordadas com cada escoa, proissonas mas bem preparados e mas compromedos com sua avdade proissona e com uma rede de ensno e escoas mas bem monoradas, avaadas e gerdas, o esforço coevo começa a produzr consequêncas posvas na educação. (p. 114)
Ao daogar com os professores nas escoas podemos perceber sm um maor monorameno das escoas, que se raduz num conjuno crescene de normas e es madoras e reguadoras. A gesão pacuada raz em s a ecnooga de responsabzar os docenes peos resuados na educação, areando, ncusve, o pagameno do Prêmo por Produvdade ao resuado da avaação da escoa e do docene no ano aneror. Esse prêmo é uma parcea anua paga ao servdor, cujo vaor vara de acordo com o resuado das avaações nsuconas e ndvduas e cujo pagameno esá areado ao crescmeno da recea naquee ano peo esado de Mnas Geras. Nesse sendo, o esado desoca o foco da socedade para a undade escoar e cra mecansmos de conroe, va avaação e monorameno das meas, de modo a desocar a sua obrgação na ofera da quadade do servço para a escoa e o docene em s. Essa ecnooga da subjevação vem auando para fragmenar a caegora e acrrar uma compevdade perversa enre docenes e escoa, vso os mpacos negavos das mudan5
Um exempo para eucdar a quesão na progressão por escoardade: se um docene ver douorado, na Rede Esadua de Mnas Geras, ee será posconado na carrera prmeramene pea graduação, depos de dos anos como especasa, mas dos anos para mesrado e mas dos anos para douorado, ou seja, somene depos de, no mnmo, ses anos, ee angrá o grau de douor.
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ças na carrera e do pape do professor enquano sujeo avo do processo pedagógco. Aém dsso, há uma dscrepânca enre a vsão apresenada peos avaadores do Choque de Gesão e a readade observada no codano da escoa. O que emos enconrado são docenes cansados, desanmados, desesmuados e descrenes com os rumos da educação. Esse proissona vem perdendo poder decsóro e auonoma e esá submedo à execução de um conjuno de procedmenos focados no acance de um conjuno de números amejados pea Secreara de Educação. São comuns quexas de cansaço por causa da assma carga horára, do baxo saáro, do excessvo número de aunos em saa, da faa de empo para enconro com os demas coegas de rabaho, do excesso de avaações dscenes envadas peo governo para esar habdades e compeêncas dos mesmos, do crescene voume de esraégas de recuperação de aprendzagem e noas dos aunos, exgdas pea Secreara de Educação, enre anos ouros probemas enumerados peos proissonas. Devdo a essa busca excessva de resuados mensuráves e quanavos, em dermeno da consrução coeva do processo, são comuns faas esponâneas como a de um professor de uma das escoas observadas: “É precso passar o auno de ano a quaquer custo, segundo um amgo meu, auno na escoa é gasto, então você passa e pronto. É sso que o Estado quer”. Dversos ouros mpacos foram reaados e observados no campo, esão reaconados à quesão da carrera e da gesão pacuada e vêm auando enquano ecnoogas da subjevação docene. Os mes de um argo possbaram a apresenação de aguns deses probemas, mas ouras quesões precsam ser mas bem ecdas e ner-reaconadas, para enendermos de que modo vem camnhando a educação púbca no esado de Mnas Geras. Consderações inas
A anáse dos mpacos das ecnoogas de governo nos processos de subjevação docene demanda um ohar cada vez mas mnaurzado e aeno aos dversos eemenos que aravessam as quesões da educação hoje, prncpamene do acompanhameno dos dversos nsrumenos reguaóros: es, poraras, decreos, ec. Aém das mudan-
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ças na socedade, advndas da exacerbação e padronzação de um modo de ser, ndvduasa, consumsa, que se ransmua em dversas formas de voênca, precsamos suar os dscursos no ugar de sua produção, buscando enender como são conroados, o que seeconam, como se organzam e como se dsrbuem e se apoderam. É precso enender as prácas dscursvas como aconecmenos com vonade de poder e verdade, e a parr da ocazação de seus efeos, mosrar os eemenos de domnação exsenes. As mudanças ocorrdas no conexo da educação, nas úmas décadas, não são excusvdade da Rede Esadua de Educação de Mnas Geras, mas as reformas do Choque de Gesão e do Esado para resuados represenaram mudanças especicas que conrburam para a coniguração de um paradoxo dscursvo que anda predomna no esado. Ou seja, o dscurso da eicênca, da redução de gasos e da modernzação da admnsração púbca connua conrasando com os dados emprcos sobre a pora das condções de rabaho, ano no que dz respeo à carrera quano no pape da escoa enquano nsução essencamene vncuada ao conhecmeno e à formação educacona dos sujeos. A adoção do Esado mnmo socamene e com máxma reguação ampou a vunerabdade de grande parcea da popuação, razendo consgo uma demanda aumenada de conroe. O pape da educação, enão, como necessdade básca da popuação e esendda unversamene, ndependene da necessdade mnene de uma ampa reforma e njeção de vuosos recursos, fo sendo demandada a abraçar e resover, por meo da escoarzação, dversos probemas socas, evando ao que Nóvoa (2009) chama de ransbordameno da escoa. Aém da necessdade urgene de vaorzação e reconsrução soca do que é ser docene, o pesqusador poruguês defende o rerameno da escoa. Assm como Nóvoa (2009), que adme o rsco de ser “esmagado” peo dscurso domnane de uma educação da cdadana como o acohmeno pea escoa de odas as demandas, corroboramos com sua proposa de rerameno que exge o reforço de um “novo” espaço púbco da educação, um espaço mas ampo do que o espaço escoar, um espaço de redes e de nsuções no qua se concreza a “educação negra” das cranças e dos jovens, seja no que dz respeo à formação regosa ou cvca, ou à aqusção de um con-
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juno de “compeêncas socas”, ou anda à preparação do momeno de ransção enre a escoa e o rabaho. (p. 63)
A dsrbução das responsabdades para as demas nsuções e socedade conrburá e permrá que a escoa, junamene com seus proissonas, reome o ohar para as quesões pernenes de fao à escoa, que esá reaconado ao pensar formas de rabahar com o conhecmeno, com o ensno, focando na aprendzagem como objevo essenca dese espaço. Pea breve anáse dos dados fea, aém do fenômeno do ransbordameno da escoa, percebemos uma mnmzação da auonoma docene e um conroe maor do rabaho com a mpanação do organograma admnsravo mpemenado com o Choque de Gesão e o Esado para Resuados. Aém dsso, as mudanças na carrera, com a mpanação do subsdo, bem como a excessva reguamenação do rabaho, reazada em nome da eicênca modernzadora, êm ampado a ocorrênca de fenômenos de dessênca de fao, dessênca-ressênca e dessênca-permanênca docene na escoa, mpacando negavamene no rabaho pedagógco. Sendo assm, o que emos vso nos “basdores” das escoas esaduas é uma ampação dos nsrumenos de conroe, va resouções, poraras e aé mesmo va pubcdade, e um sencameno enrsecdo dos docenes, que ora se rompe por uma faa ndgnada soada, ora se ravese de connudade reproduva de um rabaho pouco nvenvo e desvaorzado socamene. Esses dados aponam para uma necessdade urgene de uma reforma educacona em Mnas Geras, mas que para das perspecvas de vaorzação rea do servdor e sua parcpação como proagonsa do processo, e não apenas como um coadjuvane de resuados preesabeecdos exernamene. Referêncas
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Saúde do servdor púbco federa: poca, dscursos e prácas prescrtas Jarde Pessar Machado
Apresentando a probemáca
As ransformações na esfera do ssema de produção capasa e nas reações de rabaho a parr da década de 1970, com sucessvas crses do capasmo, êm produzdo profundas mudanças nas formas de organzação da vda na socedade conemporânea (Anunes, 2005), acarreando ransformações ambém em reação à saúde dos rabahadores (Mero & Laps, 2007). Sobre a reação rabaho-saúde na socedade conemporânea, dos poos oposos se formam. De um ado em-se o reconhecmeno de dreos hsorcamene revndcados nas uas dos rabahadores, que cumnou, por exempo, na dmnução de horas rabahadas, no reconhecmeno das doenças reaconadas ao rabaho e na consrução de documenos que subsdam o esabeecmeno do nexo-causa deas em cada segmeno econômco 1, assm como a responsabdade do empregador dane dos adoecmenos e acdenes2. Por ouro ado, embora haja os avanços da prevsão ega, se maném consane a ua peo reconhecmeno de que as auas condções de rabaho são produoras de sofrmeno (Dejours, 1999) e desgase (Segmann-Sva, 1994), buscando avançar nas dscussões já mpemenadas peo NTEP e romper com a ógca cupabzadora do rabahador (Papare, Sao, & Overa, 2011). Porém, como airma Lacaz (2007, p. 760), as prácas hegemôncas voadas à saúde do rabahador êm-se apresenado anes de udo como esraégas de aumeno de produvdade, sendo a saúde omada como “razão nsrumena” para o acance da produção amejada. 1 2
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Nexo Técnco Epdemoógco Prevdencáro – NTEP (Mnséro da Prevdênca soca, 2006). Faor Acdenáro Prevdencáro – FAP (Mnséro da Prevdênca Soca /Conseho Nacona de Prevdênca Soca – MPS/CNPS, 2010).
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Assm, se no âmbo das nsuções prvadas, nas quas as reações de rabaho são reguamenadas pea Consodação das Les Trabahsas - CLT (Decreo-Le n. 5.452/1943), pode-se perceber um camnhar (anda que eno) referene a essas quesões, no âmbo púbco, essas mesmas reações enre rabaho e saúde passam ambém a consur a paua de pocas e ações. Decorre desse camnhar no seor púbco a nsução do Subssema Inegrado de Aenção à Saúde do Servdor Púbco Federa – SIASS (Decreo-Le n. 6.833, de 29 de abr de 2009). Traa-se de um decreo que vsa pôr em práca a Poca Nacona de Aenção à Saúde do Servdor – PASS e que em por objevo coordenar e negrar ações e programas nas áreas de asssênca à saúde, perca oica, promoção, prevenção e acompanhameno da saúde dos servdores da admnsração federa drea, auárquca e fundacona, de acordo com a poca de aenção à saúde e segurança do rabaho do servdor púbco federa, esabeecda peo Governo. (Decreo-Le n. 6.833/2009)
Essa poca esá sendo mpanada em odo o poder execuvo federa por meo da consução de acordos de cooperação écnca enre dferenes nsuções. Sua mpemenação em produzdo ransformações nas nsuções do execuvo federa, nas prácas de equpes de saúde (nas quas esá o pscóogo) e, por decorrênca, no rabaho e na vda dos servdores. Assm, pauando-se no panorama gera do aua ssema econômco, no qua os servços púbcos passam a ser sgnicados peo dscurso bera como neicenes, onerosos e burocrácos – arbuos que ambém passam a cassicar o rabaho do servdor púbco (Rbero & Mancebo, 2013), e com base na compreensão de que documenos egas e pocas púbcas são prácas dscursvas (Spnk, M. J. & Medrado, 1999), por se raarem de enuncados concreos de sujeos (ndvduas ou coevos) posconados nas reações socas de poder, quesona-se: Quas as perspecvas e os dscursos que susenam essa egsação?; Quas as normavas que orenam as prácas codanas?; Quas formas de compreensão da reação rabaho-saúde esão presenes nesses documenos?; Como compreendem e qua é o ugar dado aos servdores nessa poca? A parr desses quesonamenos, ese rabaho objeva nvesgar quas são as perspecvas e os dscursos que embasam as drerzes que orenam prácas de aenção à saúde do servdor na área de vgânca e
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promoção de saúde do SIASS. Assm, ncamos nossas dscussões com a nrodução de dos emas cenras: os dscursos sobre a reação rabaho-saúde/doença e a reesruuração do ssema produvo e seus mpacos para os rabahadores, para o Esado e para as nsuções púbcas. Reações trabaho-saúde: dferentes dscursos sobre um mesmo objeto?
Para compreender os dscursos que embasam a egsação voada às undades que êm por arbução a aenção à saúde dos servdores federas, faz-se necessáro demar aguns dscursos que hsorcamene produzram e anda produzem prácas voadas à reação rabaho-saúde/doença. Sem engessar ou compreendê-os como homogêneos e esanques, o nuo de denicar e demar esses dscursos e suas mpcações para os processos de rabaho é o de demarcar dferenças quano aos nvesmenos que izeram no enfrenameno das quesões da reação saúde-rabaho. Busca-se, nesse recho, evdencar as arenas dscursvas, seus ponos de convergênca e de conraposção. A Medcna do Trabaho é o prmero grande dscurso consudor de prácas voadas à reação saúde-rabaho. Emerge, enquano especadade médca, na prmera meade do sécuo XIX, na Ingaerra, em um conexo nca de ndusrazação, endo como prncpas objevos: - assegurar a proeção dos rabahadores conra odo rsco que pre judque a sua saúde e que possa resuar de seu rabaho ou das condções em que ese se efeue; - conrbur à adapação ísca e mena dos rabahadores, em parcuar pea adequação do rabaho e pea sua coocação em ugares de rabaho correspondenes às suas apdões; - conrbur para o esabeecmeno e a manuenção do nve mas eevado possve do bem-esar ísco e mena dos rabahadores (Mendes & Das, 1991). Com base nesses objevos, as prácas da Medcna do Trabaho nham como ócus os ambenes de rabaho, com vsas à adapação ísca e mena dos rabahadores e adequação desses ambenes, com a coocação dos rabahadores em ugares e avdades correspondenes às
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suas apdões ou pea seeção de canddaos mas apos e que pudessem apresenar menores rscos fuuros, como absenesmos ou adoecmenos (Mendes & Das, 1991). Com base no posvsmo, nluencado peo pensameno mecancsa da medcna cenica e da isooga, a Medcna do Trabaho susena(va)-se numa concepção cenrada no boógco e no ndvdua, no âmbo resro da nsução, que nerpreava as reações enre acdenes e doenças de forma unvoca e uncausa (Mnayo-Gomez & Thedm-Cosa, 1997). Esse mesmo pensameno cenico e racona conferu ao proissona médco ugar de grande poder, predzendo sobre o rabaho, sobre as condções para sua reazação e deermnando quem o reazara. Esse paradgma, que nha o saber médco ao ado da admnsração e gesão (Mendes & Das, 1991; Mnayo-Gomez & Thedm-Cosa, 1997), conrbuu para o conroe dreo dos rabahadores. Com as grandes ransformações dos conexos poco e econômco mundas, produzdas pea Segunda Guerra Munda e pea crescene novação ecnoógca, ransforma-se a forma de sgnicar a Medcna do Trabaho e suas prácas. Com a nensicação da avdade ndusra no pós-guerra, aumenaram os acdenes de rabaho e a perda de vdas, o que passou a ser ressaado não só peos rabahadores, mas ambém peos própros gesores e seguradoras, esas pea obrgaoredade de pagameno de ndenzações. Assm, passaram a ser quesonadas as prácas e os mes de auação da Medcna do Trabaho. A resposa a esses quesonamenos ambém se pauou numa perspecva raconasa e cenica. Embora com bases dscursvas semehanes, a nova proposa buscou ampar a auação médca voada ao rabahador, com nervenções voadas ao ambene de rabaho, agregando referencas e nsrumenos écncos de ouras dscpnas. Consu-se, assm, o segundo grande dscurso nessa área – a Saúde Ocupacona. A Saúde Ocupacona, endo como base a Medcna Prevenva (Mendes, 1980), consu suas prácas voadas ao ambene de rabaho, prorzando o conroe de rscos ambenas, a prevenção e a proeção, compemenando (sem necessaramene subsur) as prácas de adapação com vsas a nervr na saúde dos rabahadores. Para a Saúde Ocupacona, o rabaho é apreenddo por suas caracerscas íscas e boógcas mensuráves, do que decorre o esabeecmeno de mes de oerânca ou de mes de exposção a agenes. Com base nesses raços mensurá-
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ves, as prácas busca(va)m adapar ambenes e condções de rabaho. Com sso, são nsudos servços e ssemas encarregados de apcar os conhecmenos reavos à saúde e ao rabaho – Servços Especazados em Engenhara de Segurança e Medcna do Trabaho (SESMT). Com um raço dferenca para com a Medcna do Trabaho, a Saúde Ocupacona busca peo caráer mu e nerproissona, com a organzação de equpes muproissonas com prácas em grande ênfase na hgene ndusra (Mendes & Das, 1991; Mnayo-Gomez & Thedm-Cosa, 1997). Ouro raço da Saúde Ocupacona é sua busca por uma perspecva de mucausadade, a qua consdera o conjuno de faores de rsco para a produção da doença, sendo subsuda a compreensão de deermnação causa. Porém, embora haja busca pea mucausadade da doença (compreendda como resuane da neração consane enre agene, hospedero e ambene), os agenes ou rscos poencas (objeos e meos de rabaho) são assumdos como nauras e desconexuazados soca e hsorcamene. Essa naurazação, para Mnayo-Gomez e Thedm-Cosa (1997), produz a repeção, pea Saúde Ocupacona, das mesmas mações da Medcna do Trabaho no que se refere a nervenções ponuas sobre rscos evdenes e na ênfase da uzação de equpamenos de proeção ndvdua (EPI), em dermeno dos coevos (EPC). Oura repeção pode ser percebda ambém peo esabeecmeno de formas de rabahar consderadas mas seguras, com base em normavas, como meos peos quas se consroem esraégas de prevenção de acdenes e agravos. Por pauar-se numa perspecva ndvduasa, a noção de prevenção mpua ao rabahador a responsabdade por acdenes ou adoecmenos, jusicados como decorrenes de neggênca ou gnorânca (Mnayo-Gomez & Thedm-Cosa, 1997). Ouras duas repeções são aponadas por Lacaz (2007), quas sejam, a mporânca dos exames admssonas e peródcos de empresas (com objevos de seeção dos mas apos); e o fao de que as prácas eram voadas ao aumeno de produvdade, endo a saúde, porano, caráer nsrumena. Essas crcas à Saúde Ocupacona e aos mes de sua auação compõem um conjuno de quesonamenos que passa a ser consrudo com maor nensdade a parr da década de 1960, com a efervescênca de movmenos socas que buscavam a garana de dreos nas mas dferenes
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esferas. As crcas nham por base a argumenação de que a Saúde Ocupacona, em suas anáses, não se aproprava de reações que são produzdas na organzação do rabaho, como o coneúdo das arefas e sua fragmenação, o rmo de rabaho, o conroe da produção (suas reações com as aas e quedas da economa), a duração da jornada, as herarquas, os urnos de rabaho. Devdo a sso, a Saúde Ocupacona passa a ser sgnicada como práca que não percebe efeos sencosos do rabaho para a saúde do rabahador, como as doenças crônco-degeneravas, os ransornos menas, os dsúrbos cardovascuares e as esões por esforços repevos. A parr dessas crcas, a Saúde Ocupacona se reorganza e passa a se dedcar à consrução de esraégas de “promoção de saúde”, as quas, segundo Mendes & Das (1991), êm/nham por base um processo de educação em saúde, com vsas a modicar os modos de vda das pessoas e seus comporamenos, não focando o rabaho e seus processos. Desse mesmo conjuno de crcas, para Mendes & Das (1991), a Saúde Ocupacona não conseguu angr os objevos a que nha se proposo devdo a faores como: a reairmação do mecancsmo da medcna do rabaho, embora haja busca pea compreensão mucausa do adoecmeno; a não concrezação do pano de nerdscpnardade, com prácas e avdades jusaposas e desarcuadas; e a manuenção dos rabahadores no ugar de objeos de um conhecmeno exerno, manendo a cenradade da igura do proissona da saúde (médco) e não nsrumenazando os rabahadores para a ransformação das condções de rabaho. Essas crcas, segundo Lacaz (2007), evdencam que os mes das prácas da Saúde Ocupacona se devem a mes epsemoógcos, que fazem com que aue sobre os ndvduos, de modo que haja: pouco espaço para a subjevdade do rabahador, omado como pacene e objeo da écnca, esreando a possbdade de apreensão das formas de adoecmeno no rabaho na conemporanedade, cuja causadade cada vez mas compexa, envove a organzação do rabaho e sua reação com a subjevdade dos coevos de rabahadores. (Lacaz, 2007, p. 759)
Em resumo, as crcas se susenam na compreensão de que a Saúde Ocupacona não evou em consderação, em suas anáses, a readade do ssema econômco, auxando na manuenção das mesmas reações
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de poder esabeecdas, conrbundo para a manuenção da “aenação e desnformação do rabahador, conferndo maor capacdade de conroe do capa sobre o rabaho”, o que decorreu da “nformação resra e da auação auorára dos proissonas de saúde no rabaho ou fora dee.” (Lacaz, 2007, p. 758). Com base nessas crcas, emerge a Saúde do Trabahador, dscurso que se propõe conra-hegemônco, ncorporando abordagens das cêncas socas (Mnayo-Gomez & Thedm-Cosa, 2003), da Medcna Soca Lano-Amercana e da Saúde Coeva (Lacaz, 2007; Papare e a., 2011). Três caracerscas são enuncadas como marcas de oposção da Saúde do Trabahador para com a Saúde Ocupacona: (a) a manera de compreender como se dão as reações rabaho-saúde/doença; (b) o ugar dado ao rabahador nas nvesgações e anáses; (c) a descenrazação da igura do proissona de saúde. A compreensão da reação saúde-doença para a Saúde do Trabahador em sua orgem na Medcna Soca Lano-Amercana (MSLA), da qua resua um modeo de nvesgação que em por base a hsorcdade dessa reação, buscando compreender suas múpas deermnações (Papare e a., 2011). A saúde é apreendda, não como esado, mas como processo hsórco. Nesse modeo de nvesgação, o rabaho emerge como uma das mas mporanes caegoras, sendo percebdo em sua nserção nas reações socas de produção no ssema capasa. Com base nsso e na compreensão marxsa de rabaho (como ação humana sobre a naureza para sua ransformação, de acordo com uma necessdade, ação que ransforma ambém ao própro homem), busca-se percebê-o enquano caegora nserda no capasmo, assm como seus efeos ao rabahador, denre os quas se desacam a aenação, a sobrecarga e/ou subcarga, os desgases e o boqueo das possbdades de ações cravas e ransformadoras (Lacaz, 2007, p. 759). O rabaho, nessa perspecva, não pode ser compreenddo sem ser anasado denro do ssema econômco capasa, sem evar em cona seus efeos. Inluênca da MSLA, o rabaho, para a Saúde do Trabahador, exrapoa o ambene de rabaho, é caegora organzadora da vda soca, podendo se consur como “espaço de domnação e submssão do rabahador peo capa, mas, guamene, de ressênca, de consução, e do fazer hsórco” (Mendes & Das, 1991, p. 347). Para a compreensão
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da reação rabaho-saúde/doença como processo, o mas mporane, saenam Papare e a. (2011, p. 122), é o ser “humano comparecer como sujeo, como aguém com condções e nsrumenos para nerferr no que he causa sofrmeno”. Assm, passamos a dscur a segunda marca enuncada como dferença para a conformação do dscurso da Saúde do Trabahador. Para Lacaz (2007), se a Saúde Ocupacona raava o rabahador como sujeo passvo, como hospedero ou pacene, a Saúde do Trabahador o reconhece como agene de mudanças, como aor hsórco, com experêncas e saberes acumuados com o empo, com capacdade para (re)crar esraégas de enfrenameno de agravos, ma-esares, ncômodos, desgases, acdenes e/ou adoecmenos. Sendo o rabahador su jeo avo, a Saúde do Trabahador passa a sgnicar a nerocução com os rabahadores como premssa meodoógca, os reconhecendo como possudores de conhecmeno e doados de capacdade de ransformação do rabaho e de seu processo (Papare e a., 2011, p. 121). Assm, o rabahador, sujeo hsórco, é coocado ao ado dos saberes acadêmcos e de proissonas da saúde, o que faz com que, por deinção, a Saúde do Trabahador se apresene como campo, denro da Saúde Coeva, que se consu por rês veores: a produção acadêmca (saber cenico); a programação em saúde na rede púbca (ações em Saúde Coeva); e o movmeno dos rabahadores (Mendes & Das, 1991; Lacaz, 2007; Papare e a., 2011). O saber acadêmco dos proissonas de saúde é ressgnicado, passando a ser uma forma de conhecmeno sobre o rabaho, produzndo-se um desocameno na cenradade da igura desse proissona, vaorzando-se o conhecmeno codano do rabahador e suas esraégas de enfrenameno. Desse modo, compõe como premssa no campo da Saúde do Trabahador que as nvesgações abarquem casses e grupos de rabahadores, uzando-se, para a, de nsrumenas orundos da Saúde Coeva, da epdemooga e da cnca, agregados aos conhecmenos das cêncas socas, como panejameno, economa e poca, com vsas à prevenção e à manuenção dos deermnanes de saúde sob o conroe dos rabahadores. Insu-se, porano, uma reação na qua o conhecmeno acadê-
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mco/proissona busca auxar, com base na parha de nformações, a consrução de conhecmeno sobre a readade do rabaho de modo a poencazar auações democrácas, com a parcpação dos rabahadores, nas decsões que envovem as ações de saúde e da organzação do rabaho (Lacaz, 2007). Em resumo, a Saúde do Trabahador, a qua apresenada por Mnayo-Gomez e Thedm-Cosa (1997) é: campo de conhecmeno não neuro, suado em erreno poco-deoógco, com condções neecuas (produção cenica acumuada) para dscur e enfrenar as quesões socas posas peo rabaho; campo de nvesgação de base eórca daéca que adoa como méodo de anáse aproxmações sucessvas dos probemas, rejeando expcações smpicadas ou mecancsas, buscando superá-as sem se furar a pensar suas reações com o ssema econômco, com a ecnooga e as ógcas organzaconas; campo nerdscpnar e muproissona que ncorpora o referenca de ouras dscpnas, vsando a ornar mas abrangene o ohar sobre as quesões nvesgadas; e em como premssa meodoógca a nerocução com os rabahadores, compreenddos como sujeos deposáros de saber acumuado em suas experêncas e doados de capacdade ransformadora. A parr da apresenação desses rês grandes dscursos, pode-se depreender que não se raam, pos, de formas dferencadas de compreensão de um mesmo objeo. Com base na compreensão de que nossa reação com o rea sempre se dá enformada em maéra sgnicane, ou seja, o mundo só em sendo quando ransformado em sgno (ou quando semoczado), e que a nguagem relee e refraa os modos como dferenes grupos humanos podem recobr-o com dferenes vaores (Faraco, 2003), passamos a compreender que em suas descrções não há um mesmo objeo. A reação que cada um desses dscursos se propõe a descrever, a parr de seu conjuno de vaores, produz ambém a consrução dessa reação. Não se raa, pos, apenas de processos dferencados de descrção, mas ambém de consução do objeo esudado. Nesse sendo, pode-se dzer, que os probemas abordados por cada um desses dscursos não são os mesmos. Enquano para um a reação esudada se dá no ambene de rabaho, na neração de agenes com corpos, para ouro, a reação é compreendda em âmbo que o exrapoa, fazendo com que consuam suas anáses com aspecos econômcos e socas. A descrção, porano, ambém é consrução do objeo. Abordar esses dscursos como 72
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compemenares ou como dferenes faces de uma mesma probemáca sera, porano, um equvoco. A parr dessa compreensão passamos a voar nosso ohar para as reações de rabaho na socedade conemporânea, com foco nas nsuções púbcas e em suas reformuações. Crses e reestruturações: o gerencasmo no setor púbco
A crse do ssema capasa, ncada na década de 1970, se releu não apenas no campo do rabaho, mas em dferenes nsâncas, como nos movmenos esudans, nas uas dos rabahadores, nas crses do peróeo e nas luuações econômcas. Essa crse, em função de sua grande compexdade e mpacos socas, acarreou (não apenas) rês grandes ransformações: a reformuação de esraégas empresaras (Anunes, 2005; Mero & Laps, 2007); a ransformação dos rabahadores e de seus modos de subjevação; e a busca pea mnmazação do Esado (Mancebo, 2006; Rbero & Mancebo, 2013). A reformuação das esraégas empresaras, conhecdas como modeo de produção oyosa (ou acumuação lexve) buscava superar a rgdez das esruuras ayorsas-fordsas de modo a consrur novos produos e novas possbdades de mercado pauando-se na vncuação da produção com a demanda e dversicação de produos – lexbzação suicene, porano, para aender às demandas e mudanças de mercado (Rbero & Mancebo, 2013). Para sso, uzaram esraégas, como fusões ou dvsões e dspersão geográica, buscando pases com fracas organzações sndcas, baxos saáros, senção de mposos, ncenvos iscas e egsação rabahsa favoráve aos empresáros – aspecos reaconados à dmnução de cusos e aumeno de ucravdade – esraégas, porano, para aceerar o empo de gro de capa (Mero & Laps, 2007). Produzu-se, assm, uma esruura lexve e enxua, com cada vez menos rabahadores, com capacdade para absorver e se adapar a luuações econômcas e a aspecos quaavos e quanavos de demanda. A ógca que susena essas ransformações é a redução de rabahadores cenras, empregando-se cada vez menos e reduzndo-se os cusos. O enxugameno das empresas ambém produzu mpacos: “desreguamenação dos dreos do rabaho, ercerzação e precarzação da casse rabahadora, nves
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reavamene aos de desemprego esruura e enfraquecmeno do sndcasmo de casse.” (Rbero & Mancebo, 2013, p. 195). Em meo a esse conexo de reformuações e enxugameno, mudam-se ambém as esraégas de seeção de pessoa, sendo “capados” peas nsuções os rabahadores que apresenassem caracerscas dferenes dos de aé enão. Passa-se a buscar mão de obra mas escoarzada, ág, capaz de reazar dversas avdades concomanemene, que domne equpamenos ecnoógcos, com bom reaconameno com coegas e cenea, sempre movado para o rabaho, engajado com a empresa e seus objevos. Assm, pea nrojeção dos vaores da empresa, o rabahador é ransformado em coaborador, passando a ser concebdo como sujeo responsáve dreo peo sucesso ou fracasso da empresa (Mero & Laps, 2007) e endo, consequenemene, a sua dendade marcada por esse processo. A consane ameaça de desemprego e a precarzação das reações de rabaho, cada vez mas consanes em função das oscações e luuações do mercado, produzem nsegurança, ansedade e medo que, por sua vez, produzem o ncremeno na produção (para as empresas) e desgases íscos e/ou pscoógcos que passam a consur a normadade da vda dos rabahadores (Mero & Laps, 2007). A nsegurança e a lexbdade (da necessdade de se adequar às luuações do mercado) passam a ser apresenadas como “desaios neváves” (Lopes, 2009) que se ransformam em grandes mecansmos de ncusão/excusão. Nesse mesmo processo, o rabahador passa ser agene do conroe, de s e dos coegas. Forma-se, assm, uma pseudoberdade, um dscurso que preza pea auonoma, desde que guada peos vaores e objevos da nsução, que passam a dzer da organzação da vda do rabahador. O rabaho, em forma de emprego, passa a não ser mas apenas uma pare da vda do rabahador, mas a sm a consur seus vaores e a forma como conduz sua exsênca. Concomanemene a esse processo, o mesmo dscurso que produz a reesruuração produva e a ransformação de modos de exsênca passa a arbur ao Esado e suas pocas de proeção soca a responsabdade peas dicudades enfrenadas pea socedade. O argumeno cenra era o de que as ações do Esado desesabzavam a economa, perurbando o mercado – o Esado esara ocupando o ugar que não era seu. Como efeo da sgnicação, as ações do Esado passam a ser caracerzadas, por esse mesmo dscurso, como neicenes, desperdçadoras
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de recursos. Em conraposção, a ncava prvada é apresenada como seu oposo: eicene e com servços e produos de quadade. A proposa passa, porano, a ser a de que o Esado seja o menor possve, um Esado “suicene e necessáro uncamene para os neresses da reprodução do capa” (Frgoo, 1995, p. 84). Assm, do mesmo modo que as nsuções prvadas passam por uma reesruuração, esa passa a ser proposa ambém ao Esado e seus equpamenos. Aaca-se o modeo burocráco de gesão, propondo-se sua subsução peo modeo gerencasa (Rbero & Mancebo, 2013). Cada vez mas se aproxmam dos órgãos esaas as ógcas e os mecansmos que regem as nsuções prvadas, em sua maora buscando eicáca, agdade, produvdade, desempenho, compeênca e quadade de servços presados. Nesse conexo, o servdor púbco passou a er seu rabaho sgnicado da mesma forma que a nsução púbca (oneroso, neicene, eno, ec.). Para aém dsso, passa a ser sgnicado como sujeo prvegado, que ganha muo e rabaha pouco, que possu esabdade em empos de rabaho provsóro. Os servços esaas passam, porano por reesruurações de base gerencasa, produzndo ransformações em processos de rabaho, acarreando mpacos para os servdores púbcos. Essas ransformações, que êm buscado aproxmar o servdor púbco do rabahador lexbzado, com reações precarzadas de rabaho (Mero & Laps, 2007), eva a quesonamenos quano à possbdade de exsênca fuura dos cargos de servços púbcos, endo em vsa as grandes e auas ondas de prvazações e ao fore nvesmeno na sgnicação de sua magem gada a caracerscas deprecavas (Rbero & Mancebo, 2013). Nesse mesmo conexo, o servdor púbco passa a er cada vez mas que uar por sua carrera e pea manuenção de seus dreos, consanemene ameaçados ou aacados peas proposas fundamenadas no dscurso reformsa do Esado (Gomes, Barbosa e Sva, & Sóra, 2012). Frene às reesruurações que vêm sofrendo os servços púbcos, város esudos êm sdo reazados, demonsrando dversas mpcações: para a sgnicação do rabaho peos servdores, aponando reações de sofrmeno e prazer (Counho, Da Magro, & Budde, 2011; Nunes & Lns, 2009); para reações das eevadas cargas de rabaho e baxos nvesmenos com adoecmenos (Counho, Dogo, & Joaqum, 2011); para o rabaho docene dane das ransformações nas unversdades (Mancebo, 2007; Mancebo, Maués, & Chaves, 2006); para os rscos e ncapacações (Seraim, Campos, Cruz,
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& Rabuske, 2012), enre ouros. Assm, as condções de rabaho do servdor púbco passam a esar sujeas ambém a esses auas modeos de reesruuração, com deas de produvdade, eicênca e agdade, os quas passam ambém a compor suas ronas. Com base nesse conexo, passamos a apresenar a anáse reazada. Ferramentas e o modo de trabaho
Com o objevo de nvesgar quas são as perspecvas e os dscursos que embasam as drerzes que orenam prácas da área de vgânca e promoção de saúde do SIASS, reazou-se um esudo documena (Spnk, 1999) sobre exos egas que raam dessa emáca. Os documenos anasados foram: • Decreo n. 5.961, de 13 de novembro de 2006 – Insu o Ssema Inegrado de Saúde Ocupacona do Servdor Púbco Federa - SISOSP. • Decreo n. 6.833, de 29 de abr de 2009 – Insu o Subssema Inegrado de Aenção à Saúde do Servdor Púbco Federa - SIASS e o Comê Gesor de Aenção à Saúde do Servdor. • Porara Normava n. 3, de 7 de mao de 2010 – Esabeece orenações báscas sobre a Norma Operacona de Saúde do Servdor NOSS. • Porara n. 1397, de 10 de agoso de 2012 – Esabeece orenações báscas aos órgãos e endades do Ssema de Pessoa Cv da Admnsração Federa - SIPEC sobre os procedmenos mnmos para a reazação de acordo de cooperação écnca para a cração das undades do SIASS. • Porara Normava n. 3, de 25 de março de 2013 – Insu as drerzes geras de promoção da saúde do servdor púbco federa, vsando orenar os órgãos e endades do Ssema de Pessoa Cv da Admnsração Federa – SIPEC. O rabaho cenrado em exos egas se dá com base na compreensão de que “são ão presenavos (no sendo de esar presene) quano uma enrevsa ou dscussão de grupo” (Spnk, 1999, p. 124). Assm, com base na iosoia da nguagem do Crcuo de Bakhn (Bakhn & Vooch-
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nov, 1990; Bakhn, 1997), compreende-se os documenos egas como enuncados suados hsórca e semânco-axoogcamene3. Esses documenos são enenddos como prácas dscursvas (Spnk, M. J. & Medrado, 1999), uma vez que se concrezam enquano enuncados de sujeos (ndvduas ou coevos), posconados nas reações socas de poder. Enuncados que são consudos a parr de sendos socamene consrudos, que são, ao mesmo empo, produo e produores das ensões que mpcam a (re)produção ou (rans)formação de vaores socas (Faraco, 2003). Desse modo, não são apreenddos como uma opção jurdco-egsava, mas como consodadores de opções pocas e deoógcas do Esado (Severno, 2008). São exos que, por ocuparem posção prvegada na organzação da vda das pessoas, consuem a cenradade e a margnadade de dscursos e prácas que produzem efeos sobre prácas proissonas e sobre os modos de subjevação. Com base na eora do sgno do Crcuo de Bakhn (Amorm, 2004; Bakhn & Voochnov, 1990), compreende-se que a paavra carrega em s vaores de uma dada socedade, e, a parr dsso, busca-se evdencar os modos como esses vaores se expcam e se confronam. Assm, é na e pea paavra que podemos apreender movmenações de (re)consrução e de degradação de sgnicações socas que compõem os cenáros das experêncas codanas de uma socedade (Jobm e Souza, Camern & Moras, 2000). A anáse apresenada é, prncpamene, uma enava de fomenar dscussões sobre sendos consrudos sobre as reações rabaho-saúde/doença, buscando compreender que dscursos e vaores embasam e consuem a organzação do subssema esudado, que dscursos são cenras ou margnazados e que efeos de sendo as orenações esabeecdas peos documenos produzem para o codano das equpes de saúde do rabahador e para os servdores púbcos federas. Assm, esses documenos foram anasados endo por base a daoga e a nerpreação heursca (Casro, 1996), de modo a consur 3
Posconamenos semânco-axoógcos são compreenddos a parr da concepção bakhnana de voz soca . Em ouras paavras, consu-se como processo de posconameno éco e eséco reazado peo sujeo, ao enuncar, na nguagem. Ao enuncar, o sujeo o faz de um campo semânco-axoógco, de um conjuno de sendos/vaores socas consrudos soca e hsorcamene e que esão em consane ransformação no e peo uso codano da nguagem na socedade. Ao enuncar, porano, o sujeo o faz de um deermnado ugar soca (ocupando-o), a parr de um conjuno de vaores, crenças, sendos, de formas de dzer e compreender o mundo frene a ouros enuncados, em uma reação daógca consane.
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enre ees uma rede de dáogos (Faraco, 2003) na qua se evdencam ensões e reações de poder a parr dos dscursos que se fazem ser ouvdos, enquano ouros são sencados (Amorm, 2004). Isso fo reazado susenado no enendmeno de que a consrução do exo em cêncas humanas consu-se como um rabaho que consse em orquesrar vozes (dscursos), num processo de fazê-as faar ou caá-as e de que a compreensão não é ugar de ransparênca e sauração de sendo, mas sm de medação, nerocução e (re)consrução do enuncado do ouro. A anáse empreendda, porano, consu-se como uma nerocução que não (pode) busca(r) nerpreações absouas a parr de fragmenos apresenados, mas sm sendos possves. Assm, renuncou-se a oda usão de ransparênca da nguagem, assumndo-a como opaca e espessa, o que consu nosso exo como uma arena na qua conlam múpos dscursos (Amorm, 2002). O SIASS enquanto enuncado: hstóra e posconamentos dscursvos
O prmero órgão de aenção à saúde do servdor púbco federa fo o Ssema Inegrado de Saúde Ocupacona do Servdor Púbco federa (SISOSP), nsudo peo Decreo n. 5.961, de 06 de novembro de 2006. Sua inadade era a de “unformzar procedmenos admnsravo-sanáros na área de gesão de recursos humanos e promover a saúde ocupacona do servdor.” (Decreo n. 5.961/2006b). Fca evdene, porano, o caráer unformzador de prácas a que se desnava o SISOSP, assm como seu própro nome evdenca sua base na perspecva da Saúde Ocupacona, a qua enuncada acma. Ouro recho que evdenca a base dscursva do SISOP aparece em seu argo 2.º, o qua descreve como suas arbuções, denre as quas se desacam: V - controe dos rscos e agravos à saúde nos processos e ambentes de trabaho; VI - avaação da saubrdade e da percuosdade dos ambentes e postos de trabaho; VII - emssão de audos de avaação ambenta e de concessão de adconas;
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VIII - reazação de esudos, pesqusas e avaliações dos riscos e agravos à saúde nos processos e ambentes de trabaho; IX - eaboração do Programa de Prevenção de Rscos Ambentas - PPRA; X - eaboração do Programa de Controe Médco de Saúde Ocupacona PCMSO; (Decreo n. 5.961, 2006b, p. 1 – grfos do auor).
Noa-se peas paavras uzadas e prácas prescras que esas se pauam na dea de conroe, endo como foco cenra nessas ações os rscos, os agravos, as saubrdade e/ou nsaubrdade e percuosdade, sendo sso recorrene em dversos ens das arbuções. Do mesmo modo, a compreensão de ambene de rabaho é cenra no recho acma, não apresenando referênca (em odo o documeno) que ncorpore em suas anáses e prácas reações socas de produção no ssema econômco capasa. Do mesmo modo, as arbuções não aponam para prácas coevas ou com esse foco. A cenradade do conroe e do foco ambena maném e susena o posconameno cenrazador dos proissonas da saúde, seus saberes e prácas. Nas arbuções do SISOSP, como no própro nome do ssema, porano, em-se como grande base o dscurso da Saúde Ocupacona. Esse mesmo cenáro começa a se ransformar com a subsução do SISOSP peo Subssema Inegrado de Aenção à Saúde do Servdor Púbco Federa (SIASS), nsudo peo Decreo-Le n. 6.833, de 29 de abr de 2009. Quano ao objevo/inadade do SIASS, percebe-se ambém mas uma dferença para com o SISOSP, qua seja: coordenar e negrar ações e programas nas áreas de asssênca à saúde, perca oica, promoção, prevenção e acompanhameno da saúde dos servdores da admnsração federa drea, auárquca e fundacona, de acordo com a poca de aenção à saúde e segurança do rabaho do servdor púbco federa, esabeecda peo Governo. (Decreo-Le n. 6.833/09, p. 1)
Fca caro nesse recho que, ao conráro do que esava enuncado como objevo do SISOSP, o SIASS não se propõe a unformzar prácas e ações. A prncpo, passa a ocupar o ugar de órgão que proporconará a arcuação enre as ações a serem desempenhadas nas undades espahadas peo pas. Esabeecdos esses objevos, o Decreo-Le n. 6.833/2009 dema anda aguns conceos cenras, orenadores de prácas a serem
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desempenhadas. Deine, porano, asssênca à saúde, perca oica e, o que se desaca para esse esudo, a “promoção, prevenção e acompanhameno da saúde: ações com o objevo de nervr no processo de adoecmeno do servdor, ano no aspeco ndvdua quano nas reações coevas no ambene de rabaho.” (Decreo-Le n. 6.833/2009, p. 1). Em reação ao SISOSP, percebe-se que o SIASS não esabeece arbuções, se não as descras no própro objevo. Ao conráro, deine conceos cenras para a orenação das prácas a serem desempenhadas. Denre essas deinções, desacam-se, no em “III – promoção, prevenção e acompanhameno da saúde”, seus dferencas, que não são enconrados no documeno que nsu o SISOSP, quas sejam: a dea de adoecmeno como processo, assm como a ênfase em aspecos coevos – o que eva a uma aproxmação com o dscurso da Saúde do Trabahador. O argo 5.º do Decreo n. 6.833/2009 nsu o Comê Gesor do SIASS, que é composo por um represenane de cada um dos segunes mnséros: Panejameno, Orçameno e Gesão (que o coordenará); Casa Cv da Presdênca da Repúbca; Saúde; Prevdênca Soca; Educação; Fazenda; Trabaho e Emprego; e Jusça. Desaca-se sobre sso não haver no documeno orenações sobre áreas de auação e/ou formação dos represenanes membros do Comê Gesor. Essa não especicação acarrea a possbdade de as ações desse comê poderem ransar enre a vncuação a dos aspecos (não necessaramene oposos): admnsravos e de gesão; e de aenção à saúde do servdor. Denre as arbuções desse comê, desacam-se duas: I - aprovar as drerzes para apcação da poca de aenção à saúde e segurança do rabaho do servdor púbco federa, e para a capacação dos servdores em exercco nas undades do SIASS; IV - deberar sobre os procedmenos para unformzação e padronzação das ações reavas ao SIASS (Decreo-Le n. 6.833/2009, p. 1).
Se, a prncpo, o SIASS dferenca-se do SISOSP peo caráer unformzador de prácas dese, em-se a deegação do SIASS a seu comê gesor da arbução pea deberação da unformzação e padronzação das ações. Essa unformzação se jusica, obvamene, nos casos em que deve haver sonoma, como nos aendmenos percas ou de avaações am-
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benas para concessão de adconas ocupaconas. Embora a jusicava em função da sonoma, abre-se possbdade para a nerpreação de que as ações do SIASS devam ou possam ser unformzadas, ademas a grande dferença de nsuções do execuvo ou mesmo suas dferenças cuuras, geográicas e de condções de rabaho. Abre-se, porano, como preceo, a possbdade de manuenção da cenradade de saberes preesabeecdos e seus respecvos ugares de poder dos proissonas de saúde sobre o rabaho. Essa possbdade de nerpreação aproxma ambém o Decreo n. 6833/09 do dscurso da Saúde Ocupacona. No mesmo argo que nsu o Comê Gesor, podemos noar a presença de oura base dscursva. Em seu ncso 2.º, o documeno deine que o Comê Gesor “pauará suas ações vsando ornar céere o aendmeno ao servdor, especamene no que se refere às ações prevenvas, e reduzr o tempo de ausênca do servdor do seu ambente de trabaho.” (Decreo-Le n. 6.833/2009, p. 1 – grfos do auor). Desse ncso, os dos rechos desacados acarream duas possves nerpreações, com base em dscursos dferenes. Assm, é possve fazer uma aproxmação do documeno com uma perspecva gerencasa no servço púbco, o que se evdenca peo caráer de veocdade (céere) do rabaho das equpes de saúde, eicênca ão amejada peos dscursos gerencasas, assm como para o objevo dessas ações, que é dmnur o empo de afasameno do servdor para raameno de saúde. Essa mesma nerpreação, que aproxma o documeno de uma perspecva gerencasa e da Saúde Ocupacona, é reforçada pea dea de “ambene de rabaho”. Oura possbdade é a compreensão de que “a redução do empo de ausênca do servdor de seu ambene de rabaho” se refere ao auxo das equpes de saúde para a recuperação das capacdades do servdor, endo como foco, porano, a saúde do servdor, e não necessaramene sua força de rabaho (ausene na nsução), perspecva susenada pea Saúde do Trabahador. O documeno não dá mas deahes quano a esses aspecos, não dexando cara sua perspecva, permanecendo a dúvda, porano. Porém, ouro documeno referene ao SIASS pode auxar quano a essa dúvda. Traa-se da Porara n. 1.397, de 10 de agoso de 2012. Ese documeno raz orenações para a consução dos Termos de Cooperação Técnca enre nsuções púbcas federas para a formação das undades SIASS. Assm, o objeo dos Termos de Cooperação Técnca, segundo
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essa porara, é a execução dos objevos do SIASS, descros conforme o Decreo n. 6.833/09 (acma cado). As ações e avdades prevsas peo Decreo-Le n. 6.833/09 serão cumprdas, de acordo com a Porara n. 1.397/12, com ações conjunas que se desnam a: I - poencazar o resuado das ações de saúde desenvovdas peos órgãos e endades parcpes; II - propcar aos órgãos e endades parcpes o uso racona de maeras, equpamenos, força de rabaho, móves, nsaações e conraos, denro dos prncpos da inadade e da eicênca; e III - omzar recursos orçamenáros (Porara n. 1.397/2012, p. 1).
O prmero em do recho cado mosra cara vncuação com a busca pea poencazação dos resuados das ações de saúde, das quas os prmeros beneicáros são os própros servdores avo (ou beneicáros – a quem se desnam as ações). Porém, as própras nsuções podem ser compreenddas como beneicáras dessas ações em saúde, endo em vsa o reorno de servdores afasados ao rabaho, o que faz com que a saúde possa ser caracerzada como nsrumena, como aera Lacaz (2007). Aém dsso, os ens II e III dexam basane cara a vncuação com deas gerencasas (avez em pare respondendo à dúvda ançada acma) pea prescrção da uzação racona de recursos (de odas as formas) vsando a omzar recursos orçamenáros, segundo-se prncpos de inadade e eicênca – corroborando, porano, a magem produzda do servço púbco como oneroso e neicene, e reforçando as esraégas empresaras como fones para combaer essa sgnicação. No que se refere às ações de vgânca e promoção de saúde, apresenadas em documenos com a inadade de orenar ações nessa área (unicada como grande área no SIASS), dos documenos foram pubcados, duas Poraras Normavas n. 3, a prmera de 7 de mao de 2010 e a segunda de 25 de março de 2013. A Porara Normava de 2010 deine em seu argo 2.º que A concepção que fundamena as ações de aenção à saúde do servdor proriza a prevenção dos rscos à saúde, a avaação ambenta e a melhoria das condções e da organzação do processo de rabaho de modo a ampar a autonoma e o protagonsmo dos servdores. (Porara Normava n. 3, 2010, p. 1 – grfos do auor)
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Nesse recho do documeno, assm como se pode depreender do Decreo-Le n. 6.833/09, é possve a eura de aspecos que remeem a dos dscursos dferenes (e oposos): a Saúde Ocupacona e a Saúde do Trabahador. Ao prmero, assoca-se a prevenção de rscos, assm como as avaações ambenas. Já à Saúde do Trabahador emerge a ampação da auonoma e do proagonsmo dos servdores, o que remee à premssa meodoógca desse dscurso (a nerocução com os rabahadores), assm como um dos objevos das ações em saúde (a nformação dos rabahadores para que o conroe de agenes de rsco eseja sob seu domno). Novamene a parcpação dos servdores é ressaada na “Seção II – Das drerzes” do documeno (Porara Normava n. 3, 2010). Denre as apresenadas peo exo, desacam-se a ercera, a quara e a nona, as quas evdencam mas caramene sua vncuação com deermnada base dscursva. As drerzes, porano, são: I – Unversadade e equdade; II – Inegradade das ações; “III – Acesso à nformação – assegurar o dreo de parcpação dos servdores, em odas as eapas do processo de aenção à saúde, é esraéga de vaorzação do seu saber sobre o rabaho.” (Porara Normava n. 3, 2010); “IV – Parcpação dos servdores - promover o repasse de nformações aos servdores, sobreudo aqueas referenes aos rscos e aos resuados de pesqusas a respeo da saúde, prvegando a mpanação de canas de comuncação nerna.” (Porara Normava n. 3, 2010); V – Regonazação e descenrazação; VI – Transversadade; VII – Inra e nerseoradade; VIII – Cogesão; “IX – Embasameno epdemoógco - o panejameno, a operaconazação e a avaação das ações de promoção e vgânca à saúde serão subsdados peas nformações epdemoógcas.” (Porara Normava n. 3, 2010, p. 3-4); X – Formação e capacação; XI – Transdscpnardade; XII – Pesqusa-nervenção. Os ens apresenados negramene dão maor força ao dscurso da Saúde do Trabahador na Porara de 2010, evdencada peo caráer parcpavo do servdor nas ações de saúde, peo comparhameno de nformações, assm como pea consução de dados epdemoógcos. Essa mesma perspecva é reforçada na Seção III do documeno, que raa das arbuções e compeêncas de dferenes nsâncas denro do SIASS, no em “VI - Comssão Inerna de Saúde do Servdor Púbco: conrbur para uma gesão comparhada com o objevo de:” (Porara Normava n. 3, 2010, p. 5) desacam-se:
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(b) propor avdades que desenvovam audes de corresponsabdade no gerencameno da saúde e da segurança, conrbundo, dessa forma, para a mehora das reações e do processo de rabaho; e (c) vaorzar e esmuar a parcpação dos servdores, enquanto protago nstas e detentores de conhecmento do processo de trabaho, na perspec va de agentes transformadores da readade (Porara Normava n. 3, 2010, p. 5 – grfos do auor).
Se no em “(b)” a dea de corresponsabdade (desacada) pode remeer à responsabzação/cupabzação do rabahador, a qua descra por Papare e a. (2011), no em segune em-se caramene a vncuação ao dscurso da Saúde do Trabahador, pea vaorzação do conhecmeno do rabahador, assm como pea compreensão do rabahador como agene de ransformação. A “Seção IV – Da Meodooga”, airma que as prncpas esraégas a serem uzadas peas undades SIASS “são as avaações dos ambenes e processos de rabaho, o acompanhameno da saúde do servdor e as ações educavas em saúde, pauadas na meodooga de pesqusa-nervenção.” (Porara Normava n. 3, 2010, p. 5). Somado a esse recho do documeno, anda na mesma seção, em-se que o panejameno das ações educavas em saúde deve ser reazado com base em dados epdemoógcos, assm como ser desenvovdo de “forma parcpava, esmuando a mudança de audes e a vaorzação do proagonsmo dos servdores na gesão da saúde ndvdua e coeva” e endo “como objeo a relexão sobre a reação exsene enre processo de rabaho, ambene de rabaho e saúde do servdor.” (Porara Normava n. 3, 2010, p. 6). Marca-se, assm, a Saúde do Trabahador como grande base dscursva, evdene pea ênfase na parcpação do servdor das ações a serem desenvovdas com foco na saúde, assm como a base epdemoógca para o desenvovmeno das ações. A Porara (ambém de n. 3) de 2013 se desna a nsur “as drerzes geras de promoção da saúde do servdor púbco federa” (Porara Normava n. 3, de 25 de março de 2013). Para a, airma que as drerzes prorzam “ações voadas à educação em saúde, à prevenção dos rscos, agravos e danos à saúde do servdor, ao esmuo dos faores de proeção da saúde e ao conroe de deermnadas doenças.” (Porara Normava n. 3/2013), sendo a inadade dessas ações:
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a mehora dos ambenes, da organzação e do processo de rabaho, de modo a ampar a conscenzação, a responsabdade e a auonoma dos servdores, em consonânca com os esforços governamenas de consrução de uma cuura de vaorzação da saúde para redução da morbmoradade, por meo de hábos saudáves de vda e de rabaho. (Porara Normava n. 3/2013, p. 1)
Anunca-se o que, recorrenemene, enconra-se nesse documeno: uma msura de dscursos da Saúde Ocupacona com a Saúde do Trabahador. Isso se evdenca pea busca da parcpação dos rabahadores, de um ado, e na busca pea ransformação de hábos de vda, de ouro. Assm, a dúvda que resa na eura dese documeno é se a saúde não esá sendo omada como caráer nsrumena, como airma Lacaz (2007), para ncremeno de produção, a qua, peo que fo descro acma, é uma perspecva empresara que ambém passa a ser adapada para a reazada das nsuções púbcas (Rbero & Mancebo, 2013). Ouros dos exempos dessas fusões podem ser das em rechos como na “Seção II – Dos Objevos”, na qua se airma a busca pea consução de “ambenes de rabaho saudáves, com o envovmeno deses e dos gesores no esabeecmeno de um processo de mehora connua das condções e das reações no rabaho e da saúde, propcando bem-esar das pessoas nserdas no conexo abora”, assm como, no em segune dos objevos, “a mehor compreensão da deermnação do processo saúde e doença nos servdores púbcos e o desenvovmeno de aernavas de nervenção que evem à ransformação da readade, em dreção à apropração, peos servdores, da dmensão humana do rabaho” (Porara Normava n. 3, 2013, p. 2). Mas adane, essa mesma Porara esabeece uma sa de prordades de emas de neresse para o desenvovmeno de ações em saúde e o aumeno de seu mpaco. Dessa sa de reze ens, apenas os dos úmos fazem referênca à reação saúde rabaho, quas sejam: “XII - prevenção de acdenes de rabaho; e XIII - nervenção nos ambenes e processos de rabaho com vsas à prevenção de doenças, agravos e acdenes ocupaconas.” (Porara Normava n. 3, 2013, p. 4). Os ouros onze ens referem-se a aspecos de saúde que mpcam a ransformação de hábos de vda dos rabahadores, como avdades íscas, prevenção e conroe do abagsmo, envehecmeno avo, medação de conlos e desenvovmeno de habdades socas. Há uma reaproxmação
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do dscurso da Saúde Ocupacona peo caráer de adapação do sujeo, no qua as avdades das de educação em saúde passam a prescrever modos de vda e conduas saudáves, sem necessaramene buscar ransformar o rabaho e seus processos. Obvamene que ações com esse foco podem produzr resuados posvos aos rabahadores, porém, são ações que não êm seu foco no rabaho e em seus processos. Evdenca-se, assm, que, se por um ado o documeno airma a busca pea apropração, por pare do servdor, de conhecmenos que proporconem a ee a nervenção e ransformação do rabaho, de ouro o documeno ece uma sa de neresses que oca muo pouco nessas quesões, reairmando a necessdade de ransformação de hábos e modos de vda, sem apresenar ambém proposas de ransformação dos processos de rabaho. Assm, se na porara de 2010 percebe-se maor proxmdade com o dscurso da Saúde do Trabahador, já o documeno de 2013 reaproxma-se da perspecva da Saúde Ocupacona. Consderações inas
A anáse apresenada eve por objevo compreender quas são as bases dscursvas dos documenos que nsuem e operaconazam o SIASS nas nsuções púbcas federas. Pea denicação de eemenos que remeem a dos dscursos dferenes, a Saúde Ocupacona e a Saúde do Trabahador, em um mesmo documeno, pode-se perceber que há uma fusão dessas duas perspecvas, o que aconece mas marcadamene em dos documenos cenras, o Decreo n. 6.833/09 que o nsu, assm como a Porara n. 13/13, que auamene rege as drerzes para as prácas na área de vgânca e promoção de saúde. Esses documenos apresenam a fusão da Saúde Ocupacona e da Saúde do Trabahador, o que parece ser feo sem consrangmenos por pare dos regmes dscursvos de cada um, como se fossem vsões compemenares de um mesmo ob jeo. Geram, como efeo de sendo, a compemenardade, produzndo, para as undades SIASS, a fasa mpressão da possbdade de consução de prácas de saúde que produzem adapações, que manêm o conroe de rscos nas mãos de especasas ao mesmo empo em que êm no dáogo com os servdores, deenores de saber sobre o rabaho, e na busca pea manuenção do conroe de agravos à saúde nas mãos dos servdores
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como premssas báscas. Em resumo, não há possbdade de fusão desses dscursos, pos não há possbdade da consução de prácas emancpadoras que sejam ao mesmo empo gerencasas e que favoreçam o conroe do rabaho e da produção. Com base nsso, novas quesões se formam, pos parece não haver careza, por pare dos redaores/gesores, sobre pressuposos e bases epsemoógcas de cada um desses dscursos. Oura quesão se faz presene nessa dscussão: essa fusão não sera uma forma de não enfrenameno de prácas já nsudas, cenrazadas na igura do médco e que maném reações de poder já esabeecdas, manendo esraégas e possbdades de conroe ambém sobre o rabaho dos servdores? Se as bases epsemoógcas desses dscursos são dvergenes e sua fusão é um aríco, o resuado mas prováve é a manuenção de prácas hsorcamene esabeecdas, de reações de poder posas e da cenradade do saber do proissona de saúde, mas marcadamene o médco. Ouros dos quesonamenos são: é possve reamene ransformar as prácas pea nserção da perspecva da Saúde do Trabahador nos documenos (que enfaza a parcpação do rabahador, a mporânca de seu conhecmeno, e a necessdade de nformá-o para a ransformação dos processos de rabaho)?; e é possve compreender que a Saúde do Trabahador, enquano dscurso, passa, de fao, a consur a base desses documenos, não se raando apenas de um efeo reórco, para airmar-se que há o reconhecmeno do rabahador e de seu saber? Esses quesonamenos se susenam pea presença da perspecva gerencasa que ambém é da nos documenos, a qua prorza a uzação de recursos, enfaza a necessdade da consução de ações eicenes e formadoras de resuados e cenradas na dmnução de empo de afasameno do servdor de seu rabaho. No mesmo sendo, a manuenção de prácas hegemôncas esá assocada ao deáro gerencasa, do qua derva a necessdade da cração de prácas em saúde que passem a ser ambém mecansmos de conroe sobre os rabahadores. Essas hpóeses e quesonamenos necessaram de um esudo mas aprofundado, que envovesse os movmenos hsórcos, gesões e governos, assm como quesões econômcas, endo em vsa a cenradade da quesão dos recursos e o magnáro em orno dos servços púbcos – aprofundameno que não emos nese rabaho.
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Assm, eve-se como nuo produzr uma anáse (nca) sobre os dscursos que embasam esses documenos, os quas possuem ugares de desaque não apenas na organzação das undades de saúde voadas ao servdor púbco federa no Bras, mas na compreensão da reação rabaho-saúde vgene/oica que produz prácas a serem desempenhadas por essas equpes e nos efeos dessas prácas para os servdores aos quas eas se desnam. Desse modo, não se esgoam as possbdades de anáse desses documenos e de seus mpacos para as nsuções que passaram a ransformar, sendo necessára a connudade de esudos nessa área, de modo ambém a proporconar o repensar das prácas e de seus efeos para os rabahadores. Referêncas
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Pocas púbcas e o ugar do jovem no mundo rura Rosemeire Aparecida Scopinho
Nese exo, procuro dscur as ensões exsenes enre a concepção de rabaho famar presene nos projeos de assenamenos de reforma agrára e as reas possbdades de nserção e permanênca dos jovens, a parr da anáse das pocas púbcas para a juvenude rura, especamene aqueas desnadas a promover a nserção dos jovens no mundo do rabaho. Os assenamenos ruras de reforma agrára, recenemene crados no esado de São Pauo, êm procurado resgaar a dea de comundade rura susenáve ao ncorporar no processo organzavo a preocupação com o meo ambene, o ncenvo ao rabaho famar e à organzação de assocações, cooperavas e ouros dsposvos comunáros de panejameno e conroe da produção que enam recuperar as formas de sodaredade presenes nas reações de parenesco e vznhança pcas do radcona rura brasero (Mnséro do Desenvovmeno Agráro – Incra, 2000; Concrab, s/d). No enano, as dsâncas que separam os assenamenos deazados (ano peo governo quano peos movmenos socas) e os egazados, mas anda não reazados e emancpados, são, às vezes, mensuráves, apesar da boa vonade e dos esforços dos agenes socas que esão envovdos no processo organzavo. Se, por um ado, esses assenamenos sgnicam morada e subssênca para uma popuação que vve do rabaho ncero e precáro, por ouro ado, ees esão onge de sgnicar a mehora rea das condções de vda dos rabahadores ruras assenados. Do pono de vsa do desenvovmeno da economa, enre os prncpas probemas enfrenados esão: a ausênca de nfraesruura mnma para a produção (especamene água, energa e base écnca adequada); o excesso de burocraca e a morosdade no processo de beração de crédos para produzr e ouros recursos para vabzar a vda comunára; a nsuicênca dos recursos inanceros dane das crôncas carêncas dos rabahadores assenados; a nsuicênca e nadequa-
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ção dos programas de asssênca écnca e exensão rura; a ausênca de canas adequados de comercazação, enre ouros. No que se refere à organzação soca e comunára, os rabahadores assenados ressenem-se da carênca de recursos báscos as como escoas, asssênca à saúde, asssênca soca e azer, prncpamene. Nese cenáro de precaredades econômcas e vunerabdades socas, emerge como quesão cenra para pensar o fuuro dos assenamenos ruras − enenddos como espaços de reações socas onde, eorcamene, se pode desenvover uma economa fundamenada no rabaho famar, na cooperação e na agroecooga − o probema de como nserr e maner os jovens nessas comundades. Esudos recenes sobre as probemácas que envovem as reações enre rabaho rura e juvenude aponam cera ndsposção generazada enre os jovens para dar connudade aos projeos de rabaho dos famares na pequena agrcuura. No gera, as anáses aponam para a exsênca de uma crse soca na agrcuura famar, na medda em que os ihos dos agrcuores não podem ou não querem exercer a mesma proissão de seus pas porque as suas asprações educaconas e proissonas, assm como as suas preferêncas peo oca de morada (rura ou urbana), são orenadas por uma formação escoar urbana e aé mesmo peos vaores das própras famas que, por mas que necessem da força de rabaho dos ihos e reconheçam os mpacos negavos da mgração campo-cdade, endem a reforçar ou ncenvar a opção por uma escoha proissona não-agrcoa reazada na cdade. Os jovens, por sua vez, crcam e desvaorzam o rabaho rura e, em gera, descaram a possbdade de rabahar e vver no campo (Abramovay e a.,1998; Baado, 2007). No enano, são anda escassos os esudos que se dedcam a enender a probemáca dos jovens que permanecem no campo e os esudos que anasam o movmeno conráro, ou seja, a nserção dos jovens em assenamenos ruras cujas famas mgraram da cdade para o campo em busca de mehores condções de sobrevvênca. A pesqusa O que você va ser quando crescer? As representações socas de jovens assentados sobre trabaho famar e juventude (Scopnho, 2011), eve como uma das suas preocupações fundamenas conrbur para preencher esa acuna ao procurar compreender as represenações socas dos jovens de dos assenamenos ruras ocazados na regão de
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Rberão Preo-SP sobre rabaho famar e juvenude. Neses assenamenos, a probemáca dos jovens conigura-se a parr do movmeno da mgração cdade-campo. As famas, embora no passado enham do agum po de reação com a erra, mgraram das perferas das cdades para o campo buscando na ua pea reforma agrára uma aernava de sobrevvênca econômca e segurança soca (Gonçaves, 2010; Scopnho, 2012). Os jovens consuem uma parcea expressva da popuação, mas não razem consgo as heranças e a experênca do rabaho na agrcuura porque nasceram e se craram nas perferas urbanas em famas cuja reação com o campo, no me, era de assaarameno emporáro. No vácuo da nsuicênca de pocas púbcas que vabzem a ransformação desses espaços em comundades organzadas do pono de vsa socoeconômco e poco, por esarem os assenamenos ocazados próxmos a grandes cenros urbanos e por comporarem uma popuação que raz a herança do desenrazameno, a quesão que se cooca é a da possbdade de os jovens assenados vvencarem e reproduzrem os mesmos probemas que hoje enfrenam os que habam as perferas das cdades: a dicudade de acesso à escoa; a nadequação da formação escoar e proissona recebda para enfrenar o mundo do rabaho; as dicudades de nserção no rabaho, ano na cdade quano no campo, especamene quando se raa do prmero emprego. Se, como apona a eraura, frequenar escoa e rabahar na cdade são esraégas do jovem rura para mgrar para as cdades, cabe pergunar: Como se apresena e qua é o fuuro do rabaho famar nos assenamenos ruras? Como é possve maner rabahando no campo jovens assenados que possuem formação educacona e experêncas proissonas urbanas? Para reler sobre as condções de nserção e permanênca de jovens rabahadores nese po de assenameno rura é mporane anasar qua é o ugar que em sdo desnado à pequena agrcuura famar no processo de desenvovmeno do mundo rura e do pas. É necessáro ambém consderar as especicdades socas e cuuras do jovem rura em reação ao jovem urbano e ambém reconhecer as semehanças exsenes enre ees, especamene no que se refere aos hábos de azer, consumo, nguagem, neresses e gosos dversos, porque ees coniguram grupos socas hsorcamene consrudos no conexo de formações
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sococuuras concreas. E, anda, é fundamena vericar quas são as resposas que a socedade organzada em dado (ou não) à probemáca dos jovens ruras. Ese é o percurso anaco dese exo. Trabaho famar e jovem rura
No Bras, a nha dvsóra que separa o campo da cdade em icado cada vez mas ênue em razão das ransformações econômcas e pocas em curso. Com formaos cada vez mas ndos, o compexo e poêmco fenômeno da ruradade em assumdo expressões parcuares em dferenes espaços socas do pas. Abramovay (2000) e Vega (2004) consderam que ese é um conceo musseora, porque, auamene, no espaço rura desenvovem-se avdades produvas de város seores da economa e não somene da agropecuára e, sobreudo, é um conceo errora, porque ambém dz respeo ao conjuno das caracerscas, reações e vaores que envovem a socedade rura. Em suma, dz respeo, essencamene, às reações socas que se esabeecem e são mandas em erróros com baxa densdade popuacona, pequenas cdades que neragem de modo parcuar com os cenros urbanos assumndo dmensões maeras e smbócas ocas basane pecuares em reação à socedade mas ampa. O conceo é poêmco porque as dferenes aproxmações enre campo-cdade podem ser pensadas como processos anda sem curso deindo: raa-se de “novos” ruras, onde o avanço ecnoógco em sdo apregoado como soução para o renascmeno do rura porque é capaz de fazer superar o soameno e o araso? Ou represena a nensicação das dferenes formas de genocdo cuura, causadas pea desrução das radções e cosumes pcos do mundo rura? Especamene no esado de São Pauo, as ransformações recenes do rura êm sdo vsas como pare da composção de um “novo” rura, deindo peo fao de que a produção agropecuára e o exravsmo (avdades econômcas do seor prmáro) combnam-se com as da ndúsra, do comérco e da presação de servços, envovendo “novas” reações campo-cdade, cujas marcas caracerscas são: a modernzação e ecnicação da base produva, o rabaho puravo desenvovdo em pare do empo com avdades pcamene agropecuáras e oura pare com
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avdades não agropecuáras, especamene as de agrondusrazação e comercazação do que se produz na propredade e a presação de servços, geramene, no ramo de azer e ursmo (Grazano da Sva, 1999). A defesa da cração de empregos não-agrcoas em sdo fea como forma de maner os rabahadores no campo e assm, suposamene, resover os probemas urbanos arbudos ao êxodo rura. Mas, é mporane ressaar que o “novo” não é ão novo assm, por so o ermo esá aqu desacado enre aspas. Esudos cásscos da Socooga Rura brasera (Cânddo, 1971; Queroz, 1973) já denicaram dferenes modadades de reaconameno campo-cdade e a reação de connudade que se esabeece enre esses espaços socas no neror pausa. Ocorre que, auamene, o esgoameno do modeo de desenvovmeno urbano-ndusra pco em conrbudo para generazar e nensicar as dferenes modadades de reações campo-cdade: ano os do campo vão à cdade quano os da cdade vão ao campo em busca de mehoras de condções de exsênca. Sem dúvda, os empos são ouros e as mudanças são, reamene, necessáras. A meu ver, o probema é que a dea do “novo” rura em sdo aponada como a panacea para souconar os probemas do rura, em dermeno de ouras meddas as como a reforma agrára, democrazação do ssema de crédo rura, a mehora da nfraesruura produva, a ampação e proeção dos canas de comercazação, a mehora na ofera de servços educaconas, de saúde e de proeção soca, meddas essas que, combnadas, poderam conrbur para promover o desenvovmeno rura e dmnur a (deoógca) dcooma campo-cdade. Nese sendo Fernandes (2003), em argo eaborado a peddo da Comssão Pasora da Terra, argumenou que a dea do “novo rura” fo uma consrução neecua reazada pea ntegentsa do governo Fernando Henrque Cardoso para, a parr da dvugação de oura eura da quesão agrára nacona, enfraquecer a crescene errorazação da (secuar) ua pea erra no pas na vrada do mêno. Assm, junamene com os dsposvos repressvos, nese governo, a agrcuura camponesa fo ransformada em agrcuura famar como esraéga para mnar as uas socas e resover a (eernamene não resovda) quesão agrára nacona e convencer os agrcuores a negrarem-se ao mercado e ao capa agrondusra. Na vsão dese auor, o que dferenca a agrcuura
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camponesa da agrcuura famar não é o modo de produzr, mas é, jusa-
mene, a esraéga poca de reprodução: a prmera eege a ua conra o avanço do capasmo no campo e a segunda, ao conráro, negra-se a ee. A jusicava é que, hsorcamene, ese avanço em provocado desemprego, êxodo, empobrecmeno, aém de graves probemas ambenas, e não garane a sobrevvênca dos pequenos produores, esejam ees negrados ou não aos grandes. O fao é que, as ransformações ecnoógcas e organzaconas, ao mesmo empo em que izeram crescer a dversicação produva e os ndces de produvdade agropecuára, provocaram números mpacos nas reações e condções de rabaho no campo. De um ado, vsuaza-se uma agrcuura de grande escaa negrada ao capa inancero que ncorporou a nformáca, denro e fora da porera, e ganhou espaço no mercado nernacona; de ouro ado, a pequena agrcuura negrada ou não à agrcuura empresara e, enre esses exremos, uma grande dversdade de pos e suações concreas que envovem a probemáca do campo brasero que, a meu ver, não auorzam a eaboração de esquemas cassicaóros smpsas. No Bras rura – “redescobero” peo Projeo de Cooperação Técnca Incra/Fao – Organzação das Nações Undas para Agrcuura e Amenação, que anasou os dados do Censo Agropecuáro 1995/6 (Guanzro, Romero, Baunam, D Sbao, & Bencour, 2001), nunca fo ão fore a dea de que a agrcuura famar em pape fundamena no processo de desenvovmeno econômco e soca do pas. Desde a década passada, esa dea em sdo, esascamene, susenada peas anáses baseadas nos úmos censos agropecuáros que demonsraram a dversdade de pos e o poenca produvo dos agrcuores famares (Guanzro e a., 2001; Insuo Brasero de Geograia e Esasca - IBGE, 2006a). Pocamene, a apooga da agrcuura famar em sdo reazada ano peos movmenos popuares quano peos governos, embora haja dsnções mporanes enre as concepções e sgnicados arbudos às experêncas. Sob a bandera da agrcuura camponesa, os movmenos socas no campo pressonam e revndcam a dsrbução equava da erra, nfraesruura e recursos inanceros para os pequenos produores como forma de combaer o desemprego, o êxodo e a pobreza dos rabahadores ruras e garanr a soberana amenar. Do pono de vsa dos
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governos, a agrcuura famar é uma forma de combaer as pressões dos movmenos socas pea reforma agrára e mnmzar os conlos socas pea posse da erra, de resover o probema do abasecmeno amenar nerno negrando o pequeno ao grande produor rura (IBGE, 2006a; França, De Gross, & Marques, 2009). Em resumo, a perspecva governamena camnha no sendo da negração da pequena agrcuura ao agronegóco; a dos movmenos socas é a de maner a auonoma e as condções de vda do pequeno produor. Nas deinções de agrcuura famar, enconradas na egsação e na eraura acadêmca1, o pono em comum que neressa aqu é o fao de que a fama possu a posse dos meos de produção, gerenca e reaza o rabaho embora possa conar, evenuamene, com rabaho adcona. Vega (2004) e Abramovay (1992) deinem o agrcuor famar como produor negrado ao mercado, que cona com o apoo de pocas púbcas e ncorpora ecnooga no processo produvo. Neves (2001) não reconhece a agrcuura famar como conceo eórco. A auora aega que o ermo apenas descreve e cassica um segmeno de produores ruras que esá sendo, pocamene, forçado a modicar a forma de negração econômca e soca e sugere um padrão dea de ser e de exsr como agrcuor, pressupondo que as hsórcas dicudades subjevas e maeras dos pequenos produores braseros foram superadas. Também para Fernandes (2003), agrcuura famar não é conceo, é apenas condção para organzação do rabaho na avoura e os agrcuores famares ambém podem ser chamados de pequenos agrcuores, posseros, arrendaáros, meeros, quomboas, assenados, enre ouros, porque o que os deine como grupo soca é o fao de uarem para er e permanecer na erra. Poêmcas conceuas à pare, o fao é que os números oicas êm reveado a expressva parcpação da pequena agrcuura famar na economa do pas que, em 2006, era desenvovda em 84,4% dos esa1
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Em snese, a demação do que é agrcuura famar envove o amanho da área dsponve, a renda da fama, a quanicação da naureza do rabaho uzado e a gesão da propredade. As dferenças enre os créros uzados para demar o que é agrcuura famar, enconram-se no amanho da área e na renda. De acordo com a Le da Agrcuura Famar – Le n. 11.326 de 24/06/2006, ea é desenvovda por propreáros de aé quaro móduos iscas cuja renda é, predomnanemene, orgnada das avdades a desenvovdas; o esudo Incra/Fao (Guanzro e a. , 2001), deinu uma área superor, 15 móduos médos regonas, e uzou a renda apenas como eemeno para cassicar os pos de agrcuores famares (França e a., 2009).
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beecmenos agrcoas, ocupava 24,3% da área e se responsabzava por produzr os prncpas ens do abasecmeno amenar: 87,0% da produção nacona de mandoca, 70,0% do fejão, 46,0% do mho, 38,0% do café, 34,0% do arroz, 58,0% do ee, 59,0% do pane de sunos, 50,0% do pane de aves, 30,0% dos bovnos, e produzam 21,0% do rgo e 16,0% da soja. 12,3 mhões de pessoas esavam vncuadas à agrcuura famar (74,4% do pessoa ocupado no campo) sendo que 90% dessas pessoas possuam aços de parenesco com o produor. No enano, 909 m pessoas nham menos de 14 anos de dade e see mhões não sabam er e escrever (IBGE, 2006a). A parr desa nformação é possve nferr que a parcpação dos jovens na agrcuura famar em sdo expressva. Uzando méodo especico para demar o unverso da agrcuura famar, Guanzro e a. (2001), craram uma pooga para esabeecer uma dferencação socoeconômca enre os produores famares e denicaram quaro pos: os agrcuores capazados (a); em processo de capazação (b); em processo de descapazação (c); e os descapazados (d). É com base na perspecva de Fernandes (2003) que o ermo agrcuura famar esá sendo aqu uzado, porque se raa de suar o rabaho do jovem rura, jusamene, no espaço compreenddo enre uma deermnada concepção de rabaho que em a fama como agene cenra de panejameno e execução do processo produvo e a possbdade de conar (ou não) com a parcpação dos jovens. Ocorre que os assenados de reforma agrára são, de acordo com a cassicação de Guanzro e a. (2001), pcamene, produores famares do po D ou descapazados, embora ees não formem um grupo homogêneo do pono de vsa socoeconômco e cuura em razão da regão onde vvem, do empo de exsênca do assenameno, das caracerscas sococuuras das famas, enre ouros faores, como mosraram Sparovek (2003) e Lee, Hereda, Mederos, Pamera, e Cnrão ( 2004). Assm sendo, surge a quesão de como desenvover projeos produvos nos oes de modo a, de fao, nserr e maner os jovens nos assenamenos ruras e dar connudade ao projeo poco de reprodução da pequena agrcuura. Aqu resdem duas quesões mporanes para reler sobre as pocas púbcas de nserção e permanênca dos jovens no campo. O prmero é que a apooga da agrcuura famar e o não correspondene nvesmen-
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o em pocas efevas de ixação dos rabahadores aduos ou jovens no campo provocam ensões e pode compromeer o fuuro dos assenamenos ruras como undades de reprodução da pequena agrcuura. O segundo probema é que, enre os rabahadores ruras assenados, o jovem é uma caegora soca anda pouco esudada e, ao ser esudada, ea em sdo represenada de forma ambgua: ora como apáca, poradora de expecavas educaconas, cuuras e proissonas nferores às dos jovens urbanos, o que expressa os ohares generazanes e preconceuosos com que a quesão em sdo raada; ora como agenes de mudanças, poradores de capacdade de empreender uas socas em favor dos seus neresses. A relexão proposa nese exo fundamena-se no enendmeno de que os mes que se nerpõem enre as dferenes gerações são consruções hsórcas e socas, expressam reações de poder que demam campos, desgnam ugares, produzem ordens e herarquas socas de modo que os grupos que se enconram numa deermnada dade boógca são heerogêneos, do pono de vsa pscossoca. Assm, as represenações dos jovens sobre rabaho e vda varam conforme as dferenes juvenudes, como dsse Bourdeu (1983). Também apoadas nese referenca, Nakano e Ameda (2007) referram que, para compreender a condição juven conemporânea, é necessáro evar em cona as reações que os jovens esabeecem com o rabaho e os movmenos e rmos própros de rês mporanes nsâncas de reprodução soca: fama, escoa e rabaho. A represenação soca de juvenude como fase de preparação para enrada no mundo do rabaho em sdo hoje quesonada dane do aumeno dos ndces de desemprego e da necessdade que possuem os jovens de combnar rabaho e escoa. Para essas auoras juvenude é caegora absraa e jovem é sujeo concreo, que sofre consrangmenos em função do ugar que ocupa na esruura soca e das reações que se esabeecem enre as gerações. Auamene, os jovens formam os grupos socas mas vuneráves dane das mudanças do mundo do rabaho. Embora as froneras do rura não esejam, auamene, ão demadas do pono de vsa socoeconômco e cuura, os jovens que habam os espaços ruras êm as suas especicdades. Casro, Marns, Ameda, Rodrgues, e Carvaho (2009), ao anasarem emas e caegoras uzadas nos esudos sobre juvenude rura, mosraram uma modicação nas
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concepções de jovens ruras a parr da década novena: de reproduores da undade famar para mgranes em busca de mehores condções de exsênca. Segundo as auoras, os jovens ornaram-se personagens cenras do (sempre exsene) êxodo rura nos anos novena, movdos peos aspecos repusvos do rura e peos aravos da vda urbana. Os esudos anasados raam anda de conlos geraconas, parcpação poca, educação, enre ouros emas, e reveam que a consrução soca da caegora jovem rura expressa a radcona dcooma campo-cdade e em sdo marcada pea mporânca arbuda à juvenude no desenvovmeno rura. A Pnad – Pesqusa Nacona de Amosragem por Domco, reazada peo IBGE – Insuo Brasero de Geograia e Esasca no ano de 2006 (IBGE, 2006b) mosrou que 29,9% da popuação rura era consuda por jovens enre 15 a 32 anos, dos quas 45,6% enconravam-se na faxa eára enre 18 e 25 anos; as muheres represenavam 47,5% da popuação oa. Os pardos represenavam 57,8%, os brancos 35,8%, os negros 6,0%, os ndgenas parcpavam com nexpressvos 0,3% e os amareos com 0,1% do oa. No que se refere à renda, 33,4% da popuação rura jovem nha renda orunda de avdade não agrcoa. Os jovens ruras represenavam o maor percenua de frequenadores de cursos de afabezação de aduos: 2,4% conra 0,7% de jovens urbanos; ao conráro, no nve de ensno superor 27,7% era de jovens urbanos conra 5,2% de jovens ruras. A Pnera – Pesqusa Nacona de Educação na Reforma Agrára, censo da suação educacona nas áreas de assenamenos de reforma agrára, conabzou que dos 64% dos assenados com aé 30 anos apenas 38,8% frequenavam escoas. Dos que esavam na escoa, 76,9% frequenavam o nve de ensno fundamena e apenas 8% o nve médo e proissonazane (Mnséro da Educação/Mnséro da Reforma Agrára, 2005). Casro e a. (2009) compararam dados evanados sobre jovens que parcparam de mporanes evenos naconas e regonas organzados enre 2006 e 2008 peo MST – Movmeno dos Trabahadores Ruras Sem Terra, Conag – Confederação Nacona dos Trabahadores na Agrcuura, Feraf/Su – Federação dos Trabahadores na Agrcuura Famar da Regão Su e PJR – Pasora da Juvenude Rura com nformações da Pnad de 2006. As auoras mosraram, em snese, que: a maora dos jovens enrevsados nha enre 18 e 21 anos de dade; o grau de escoarzação dos en-
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revsados era mas eevado; as muheres nham parcpação expressva, embora proporconamene desgua em reação aos homens; a maora era soera, mas os casados com ihos ambém parcpavam. 48,5% dos jovens gados ao MST enrevsados eram provenenes das cdades e 51,5% do campo; quano à Conag, 23,4% era da cdade e 76,6% do campo. Segundo as auoras, os jovens gados ao MST expcaram a denicação dos jovens urbanos com o Movmeno pea va da negação de dreos de cdadana e bens cuuras, enre ouros, que ange os jovens pobres, ano os do campo quano os da cdade. Penso que esa expcação em a sua ógca, mas que o fao se expca ambém peo esforço que em feo o MST para dversicar a sua base soca (a mesma pesqusa mosra que o MST ncorpora negros e ndgenas, por exempo, mas do que a Conag), peo fao de os jovens urbanos aproxmarem-se do MST porque nas cdades predomna a fragdade ou mesmo a ausênca de movmenos socas (movmeno esudan, prncpamene) e projeos pocos araenes. Sabe-se ambém que a popuação que alu para os fóruns de movmenos socas nem sempre são, de fao, represenavas do segmeno represenado, fao ese que passa pea concessão de prvégos no processo de ndcação para parcpar e aé mesmo de erem os parcpanes condções maeras para arcar com os cusos moneáros da parcpação. De quaquer forma, Casro e a. (2009) mosraram que os jovens do mundo rura já não esão ão soados dos jovens do mundo urbano e que, no mnmo, crescem as possbdades de nensicação das rocas cuuras. A maora dos jovens enrevsados peas auoras decarava-se iho de agrcuor famar, morava com os pas e enre as suas prncpas demandas, esavam o acesso à erra e à educação, a possbdade de er um rabaho que hes desse mas do que a sobrevvênca, a democrazação e maor parcpação nas decsões da fama. No que se refere ao rabaho, a dicudade de er acesso à erra ornava os jovens dependenes das famas. Os jovens manes, em maora, rabahavam no campo e esperavam que o rabaho fosse mas do que uma forma de sobrevvênca e o vam como um camnho de ransformação soca; enre os que rabahavam na cdade, a maora exerca avdade remunerada nos própros movmenos socas. A grande maora cujo rabaho, no campo ou na cdade, era remunerado receba menos de um saáro mnmo. Enre as avdades não remuneradas esavam os rabahos doméscos, o rabaho na avoura com os pas e o vounarado juno aos movmenos socas.
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A educação era vsa como forma de mehorar a posção no mundo do rabaho e, na opnão dos enrevsados, a ua por uma educação adequada para o campo era enendda como o camnho mas seguro para o desenvovmeno rura. Enre os jovens manes o ndce de escoardade era bem superor ao enconrado na Pnad e era expressvo o número de jovens que frequenavam o ensno superor. A parcpação em movmenos socas era vsa como uma forma de er acesso ao ensno forma. Enre as prncpas formas de azer esavam o fuebo e a nformáca. Em suma, na perspecva dos jovens manes enrevsados por Casro e a. (2009), a mgração do campo para a cdade era causada pea faa de rabaho, de renda e de escoa e a permanênca no campo era preferda, desde que a houvesse mehores condções de vda. Consequenemene, a ua “desa” juvenude era por mehores condções de acesso à erra, enendda como meo de rabaho, e à educação, enendda como meo para permanecer na erra. Esa breve dscussão apona para a mporânca da pequena agrcuura como forma de sobrevvênca das famas no campo e ambém que o ema esá pauado na agenda de revndcações dos jovens ruras. Mas, como a socedade organzada em dado (ou não) resposas à probemáca soca dos jovens que vvem e rabaham no campo? As pocas púbcas e os jovens
Para Guaresch, Comuneo, Nardn, e Hoensch (2004, p. 180) as pocas púbcas são: “conjuno de ações coevas voadas para a garana dos dreos socas, conigurando um compromsso púbco que vsa dar cona de deermnada demanda, em dversas áreas. Expressa a ransformação daquo que é do âmbo prvado em ações coevas no espaço púbco”. Spóso e Carrano (2003), aeraram para o fao de que eas não se resumem à mera presação de servços porque dzem respeo a projeos de naureza éca e poca, compreendem dferenes nves de reaconameno enre o Esado e a socedade cv no processo de consução e expressam conlos exsenes enre dsnos grupos socas, porque nese campo esá em jogo a dspua por recursos maeras e smbócos. Eses auores dferencaram pocas púbcas de pocas de governo, embora embrem que as prmeras possam ser eaboradas
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com a parcpação e sob o conroe dos governanes. Kerbauy (2005), defendeu que o Bras não em pocas púbcas de juvenude mas sm um conjuno de programas socas seoras de caráer compensaóro, desnados a púbcos especicos. O que faa para ornar ese conjuno de ações verdaderas pocas púbcas de juvenude é a ncusão dos jovens, seus emas e probemas, e das suas represenações coevas na agenda e na paua de dscussão. Assm, na opnão desa auora, aos ohos do governo, a juvenude connua sem proagonsmo e em sdo raada, predomnanemene, como probema ou popuação de rsco, e esá ausene do processo decsóro que envove os programas. Por ese movo ees não podem ser consderados agenes das pocas e, por consegune, as pocas não podem ser consderadas púbcas. No caso das pocas de juvenude, na opnão da auora, o processo decsóro esá sob o conroe do governo, a socedade cv em parcpado como agene de execução ou na condção de beneicára. No Bras, é recene o reconhecmeno dos jovens peos formuadores de pocas não apenas como popuação probema, mas como sujeos de dreos. Nos anos novena, cranças e adoescenes veram seus dreos assegurados peo Eca − Esauo da Crança e do Adoescene. Na prmera década dese sécuo, peo menos no pano das nenções de governos e de organzações e movmenos socas, os jovens maores de 18 anos ambém foram socamene reconhecdos como sujeos de dreos e as demandas do que se denica como popuação jovem (15 a 29 anos) enconraram um ugar na esruura governamena. Spóso e Carrano (2003) anasaram as pocas governamenas para a juvenude no perodo compreenddo enre 1995 e 2002 e denicaram um conjuno de meddas que somavam 33 programas suados em dferenes mnséros sendo que rês deas eram anerores ao governo Fernando Henrque Cardoso, ses foram crados no seu prmero mandao, 18 no segundo mandao e sobre os ses resanes não se nha nformação. Observa-se o crescmeno quanavo de meddas embora eas nem sempre fossem especicas e esvessem voadas, drea ou ndreamene, para os jovens, que ora eram vsos como popuação de rsco ora como proagonsas do processo de ransformação soca. Deneadas sob uma perspecva esramene urbana, focazavam a pobreza, o desemprego, a voênca e o consumo de drogas cas. Merece desaque a menção dos
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auores ao fao de que, embora o pas vvesse no perodo um dos mas convusvos momenos em orno da quesão agrára, nenhuma das ações e meddas conempava o jovem rura. Na práca, as meddas, seoramene esparsas e fragmenadas, esbarravam na ausênca de arcuação nsucona no processo de eaboração e mpanação das ações. Em snese, para os auores, a desarcuação fo arbuda ano à faa de orenações convergenes enre os dferenes aores socas envovdos nas dferenes pocas e ao ncpene dáogo enre esses e os jovens quano ao própro desenho nsucona e admnsravo da muncpazação em curso no pas, uma vez que grande pare das ações devera ser reazada peos governos ocas. A recene cronooga dos evenos reaconados à nsuconazação ncou-se em 2003 com a reazação da I Conferênca Nacona Infano-Juven peo Meo Ambene que delagrou uma sére de evenos que expressam o neresse governamena e soca sobre o ema. O resgae do curssmo passado de nsuconazação da quesão soca do jovem, enenddo como sujeo de dreos, como foco de pocas no Bras em como um marco dferenca o Projeo Juvenude, reazado enre agoso de 2003 e mao de 2004 peo Insuo da Cdadana. Segundo documenos oicas, ese Projeo eve o méro de, por meo de um programa de nvesgação que se esendeu por város esados, er evado ao conhecmeno do governo federa o Peri da Juvenude Brasera (Secreara Gera da Presdênca da Repúbca, 2006). Na úma década, nensicou-se a movmenação nsucona em orno do ema, cujo raameno fo, mdamene, avançando na dreção de uma poca nerseora. No enano, a anáse dos programas nsuconas revea que, na práca, ees anda são fragmenados e desarcuados, desde a cração aé o processo de mpanação. O Gua de Pocas Púbcas de Juvenude (Secreara Gera da Presdênca da Repúbca/Secreara Nacona de Juvenude, 2010) mencona que, auamene, são 19 órgãos mnseras envovdos e que o desaio é a negração seora para ornar o conjuno de meddas uma poca de Esado orenada, ncusve, por um marco ega. Cabe pergunar por que ano nvesmeno nsucona em pocas para os jovens nese momeno? Abad (2003) argumenou que há um processo compexo de desnsuconazação dos jovens dado, por um
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ado, peas mudanças subsanvas nos modeos de fama, pea descrença no poder da escoa para fornecer mobdade e ascensão soca, peo descenso poco do movmeno esudan, peo surgmeno do jovem como um novo aor soca, peas mudanças denáras em razão da gobazação, enre ouros; por ouro ado, em ocorrdo o aargameno do perodo da juvenude, a reavzação da cuura do emprego e saáro em razão das crses do mundo do rabaho e a nluênca dos meos de comuncação de massas. Esses faores podem esar enfraquecendo os processos pcos de socazação desenvovdos pea fama, pea escoa e peo rabaho, o que requer compensação que pode ser dada va pocas púbcas. Reaze um evanameno documena, com base nas pubcações Gua de Pocas Púbcas de Juvenude de 2006 e de 2010 (Secreara Gera da Presdênca da Repúbca, 2006, 2010) e no evanameno reazado por Casro e a. (2009), para denicar os programas governamenas exsenes no âmbo federa e esadua voados para o jovem rura e anasar as suas prncpas caracerscas e concepções de jovens. As duas edções do Gua razem nformações sumáras sobre os prncpas programas governamenas para a popuação jovem, mandos peo governo Lua; o evanameno de Casro e a. (2009) fo reazado enre abr e ouubro de 2007 e focaza apenas aos programas voados para o jovem rura. A anáse mosrou que os jovens braseros esão sendo asssdos por um conjuno de mnséros e secrearas governamenas, mas a grande maora dos programas esá sob a açada do Mec – Mnséro da Educação, com ou sem ouras parceras governamenas. No enano, no âmbo dese Mnséro, apenas o Programa Saberes da Terra faz menção expca ao jovem rura e, na edção 2010 do Gua, consa que ee fo ncorporado ao Projovem passando a ser denomnado Projovem Campo e sendo anda execuado peo Mec. Segundo o evanameno de Casro e a., o MDA – Mnséro do Desenvovmeno Agráro é o segundo mnséro em número de programas e odos esão voados para o jovem rura. Enre os programas oferecdos peo MDA, o Pronera – Programa Nacona de Educação na Reforma Agrára, o Arca das Leras e o Consórco Soca da Juvenude, não foram menconados nas duas edções do Gua anasadas. Da mesma forma, o Programa Cuura Vva, desenvovdo no âmbo do MnC – Mnséro da Cuura, não fo referdo por Casro e a. (2009) mas, fo do pea edção de 2006 do Gua como um programa voado para
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pequenas comundades ruras, quomboas e ndgenas, menção esa que não consa na edção 2010. Enre os programas cados por Casro e a. (2009) como dreconados ao jovem rura e que não foram reaconados na edção 2006 do Gua esão anda o Proep – Programa de Expansão da Educação Proissona e o PNTE – Programa Nacona de Transpore Escoar. Programas como o Agene Jovem de Desenvovmeno Soca, Bras Afabezado e Proeja foram referdos por Casro e a. (2009) como dreconados ao jovem rura mas, as descrções das edções do Gua não os especicam como beneicáros. Enre os que foram menconados peas edções do Gua como dreconados, expcamene, ao jovem rura esão: Saberes da Terra, Nossa Prmera Terra e Pronaf Jovem. Em resumo, mesmo com as facdades hoje exsenes para evanar nformações por meo da nternet , não é ão smpes reazar um evanameno precso sobre a ofera de programas asssencas para os jovens. O maera dsponve ou coném nformações supericas e esá mpregnado de propaganda nsucona, endo em vsa que é especamene preparado para dvugar as reazações governamenas ou apresena a ardez dos reaóros écncos preparados para nformar os burocraas. Enre um documeno e ouro, não há concordânca sobre deermnados aspecos como, por exempo, daa de mpanação dos programas e faxa eára dos beneicáros. No gera, a documenação anasada apresena nformações sobre o número de pessoas aenddas, mas não anasa ndcadores de mehora da condção de vda dos beneicáros. Embora o maera evanado não perma que se faça uma eura profunda, fo feo um esforço no sendo de apresenar, em nhas geras, as prncpas caracerscas dos programas voados para o jovem rura. Dos denicados, foram reundas nformações sobre aquees que Casro e a. (2009) consderaram como sendo dreconados para os jovens ruras e aquees consanes nas edções do Gua que, expcamene, os ndcavam como beneicáros. Os programas auam nas áreas de educação, desenvovmeno econômco e soca e cuura. Anase ambém as menconadas pubcações consderando o órgão governamena responsáve peo programa, o ano de mpanação, a área de auação, as prncpas caracerscas, quem eram os beneicáros e,
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quando exsene, a concepção de jovem que o fundamenava. Aém dsso, durane o ano de 2010, vse, ssemacamene, os sos governamenas e ouros em busca de nformações compemenares. Verique que a área de educação era avo de grande nvesmeno, especamene a educação de jovens e aduos com caráer proissonazane. Dos 11 programas referdos por Casro e a. (2009), nove auavam nesa área. De fao, como em sdo ampamene demonsrado, uma das maores demandas dos jovens do campo é a educação. A faa de acesso e a má quadade da escoa e do ensno para a popuação rura coniguram-se como um dos maores probemas naconas que a educação brasera anda não ousou enfrenar adequadamene. Arroyo e Fernandes (1999) demonsraram que os projeos educavos desnados aos que moram no campo não preparam adequadamene os rabahadores para enfrenarem as ransformações do espaço rura, permanecendo a baxa quadade e a nadequação da proposa pedagógca e o eevado grau de paernasmo e asssencasmo exsene na gesão das escoas, que não aendem as necessdades da popuação em ermos de ofera de vagas e quadade de ensno. A faa de nsrução e de esudo dos rabahadores do campo nensica a margnazação e a pauperzação, ornando-os cada vez mas excudos e aheos ao mundo urbano e “moderno”, o que só faz aumenar o fosso que dsanca os pobres dos rcos, o campo da cdade. Um conjuno de programas procura suprr as acunas exsenes na formação escoar do jovem rura. O Programa Bras Afabezado, mpanado em 2003, objeva eevar a axa de escoardade nacona afabezando jovens, aduos e dosos. Aende, proraramene, muncpos que apresenam axa de anafabesmo gua ou superor a 25% e é reazado em parcera com governos esaduas e muncpas, Ifes – Insuções Federas de Ensno Superor e Ongs – Organzações não governamenas. Os documenos consuados sobre o Programa não menconam as formas de aendmeno da popuação rura. O Proeja fo crado em 2005 com a preensão de negrar educação proissona e ensno médo para aender rabahadores com baxo nve de escoardade, especamene jovens e aduos jovens que enconram anda mas dicudade de coocação no mercado forma de rabaho por não erem compeado os esudos de nve médo. O Proep fo crado em 1997, para aender a demanda por ensno proissonazane. O Pro-
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grama fornece recursos para expandr e equpar a rede de ensno voado à proissonazação de jovens e aduos. Não há menção à formação do rabahador rura. O Projovem Campo fo nsudo em 2007, resuado da negração do orgna Programa Saberes da Terra, crado em 2006, ao Projovem. É um programa de escoarzação em nve fundamena modadade Eja – Educação de Jovens e Aduos, que ncu quaicação proissona para jovens agrcuores, negrado na Poca Nacona de Incusão de Jovens. Ese conjuno de programas mosra que a negração enre Eja e proissonazação em sdo a ônca dos programas governamenas de asssênca educacona ao jovem rura. A meu ver, ese é um ndcador de que a poca educacona para o jovem rura em sdo de naureza paava porque apenas procura recuperar o prejuzo hsórco da faa de acesso da popuação do campo à educação. De fao, de um ado, as númeras dicudades enfrenadas peos rabahadores do campo para erem acesso à educação e, de ouro, a crescene ncorporação de novas ecnoogas ao processo produvo ornam anda mas remoa a possbdade de o jovem rura er acesso ao rabaho, seja no campo ou na cdade. No enano, o pas anda carece de meddas efevas que, de fao, permam o acesso dos rabahadores do campo e seus descendenes a uma educação de quadade. Sabe-se que o ranspore escoar é um dos grandes obsácuos que se coocam enre as cranças e jovens e a formação escoar. O PNTE fo crado peo Mec em 1994 para fornecer asssênca inancera aos muncpos e Ongs para a aqusção de vecuos para o ranspore de esudanes, proraramene os que resdem no campo, marcuados em escoas de nve médo e educação especa da rede púbca muncpa e esadua. Fo, jusamene, para dmnur a dsânca que separa os jovens ruras da escoa que o Pronera fo crado em 1998. Embora esa seja consderada uma das mas mporanes ncavas recenes para promover a educação no campo, o Pronera não fo crado peo Mec, mas peo, enão, Mnséro Exraordnáro de Poca Fundára (hoje MDA), endo sdo vncuado, dreamene, ao Gabnee do Mnsro Rau Jungmann. Consdero que o Programa fo crado como uma resposa governamena para mnmzar a dspua pea reforma agrára exsene no perodo, quando o governo FHC procurava aender as revndcações dos movmenos de ua pea erra (sem conceder erras porque so sgnicava er que enfrenar os gran-
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des propreáros) e, assm, dmnur as ocupações e os voenos conlos agráros que projearam o pas no cenáro nernacona, a exempo do Massacre de Edorados de Carajás ocorrdo em 1996. O Pronera surgu da revndcação organzada dos movmenos socas do campo e concreza-se por meo da parcera esabeecda enre ees, o governo federa e as Ifes-Insuções Federas de Ensno Superor, com o objevo de promover a educação nos assenamenos de reforma agrára, por meo da eaboração e mpanação de projeos em odos os nves de ensno. Em 2001, o programa fo ncorporado ao Incra, que se ornou o responsáve dreo pea operaconazação de uma grande dversdade de ações em quase odos os esados da federação, desde a Eja, ensno fundamena, médo e pós-médo, formação connuada de educadores, ensno superor em dversas áreas do conhecmeno aé a formação écnca proissona para saúde, a comuncação, a produção agropecuára e a gesão de assenamenos ruras, adoando méodos e maeras ddácos consderados adequados ao conexo sococuura do campo. Como poca governamena, o Pronera possu agumas especicdades que foram consrudas ao ongo desses anos e consodadas na práca educava e por meo do dáogo esabeecdo enre os movmenos socas e o Esado. Uma das novações nroduzdas fo o modeo de gesão rpare, que cona com a parcpação de membros do governo federa, de unversdades braseras e dos assenados. As unversdades cumprem função esraégca no Programa, pos acumuam papés de medação enre os movmenos socas e o Incra, de gesão admnsravo-inancera e coordenação pedagógca dos projeos. Os movmenos socas respondem pea mobzação das comundades, enquano as Supernendêncas Regonas do Incra fazem o acompanhameno, apoo ogsco e arcuação nernsucona2. 2
A mnha experênca como coordenadora do processo de eaboração e mpanação do pro jeo de um Curso de Graduação de Pedagoga da Terra na Unversdade Federa de São Caros inancado por ese Programa e como membro do seu Conseho Poco Pedagógco durane rês anos perme reler sobre ee com base na práca. O projeo mpanado aendeu 60 rabahadores (as), a maora muheres jovens enre 20 e 30 anos, orundos de assenamenos ruras ocazados em dferenes regões do esado de São Pauo. As expecavas dos esudanes em reação à possbdade de ober um dpoma de nve superor conferdo por uma unversdade púbca eram ão grandes quano as dicudades enfrenadas para reazar o curso, que para ees represenava ano uma oporundade mpar e uma conqusa anes nmagnáve quano um exercco connuo da capacdade de ressênca e superação dos mes maeras e smbócos que se coocavam enre ees e a formação unversára. Em suma,
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Um conjuno de programas aua assocando a educação a ouros campos. O Projeo Arca das Leras aua no sendo de evar educação, cuura e azer às comundades ruras. Crado peo MDA, o Projeo consse em organzar e dsponbzar bboecas, ncenvar e facar o acesso à eura e à nformação em comundades ruras. As bboecas são nsaadas em ocas de acesso coevo (como grejas, assocações) e conam com acervo nca de, aproxmadamene, 200 vros (ddácos, especazados, eraura nfan e para jovens e aduos). O Programa Nossa Prmera Terra procura assocar educação, cuura e rabaho. Traa-se de uma nha especa do PNCF - Programa Nacona de Crédo Fundáro que vsa a ixação dos jovens no campo aos possbar a aqusção de uma propredade rura. Podem submeer proposas de acesso a esa nha de crédo somene os ihos de agrcuores famares de 18 a 24 anos, que esejam frequenando uma das escoas de formação agroécnca. O Projeo Agene Jovem de Desenvovmeno Soca e Humano fo mpanado em 1999 peo MDS para aender jovens enre 15 e 17 anos, vunerabzados pea pobreza, moradores em muncpos com baxo IDH – Índce de Desenvovmeno Humano. Nese projeo, o jovem é concebdo como proagonsa e agene de desenvovmeno soca e a fama é concebda como núceo comunáro cenra. Sob orenação e monora do poder muncpa, o jovem de áreas vunerabzadas recebe formação para desenvover projeos comunáros que não caracerzem reação forma de rabaho e desenvove avdades cuuras e esporvas. Dos ouros programas nserem-se na área de desenvovmeno econômco e soca. O Pronaf – Programa Nacona de Foraecmeno da penso que, com o Pronera, o dreo à educação que êm os jovens do campo ano quano os da cdade, esá sendo aenddo. Mas, a ofera esá muo onge de aender a demanda; os recursos dsponves para os projeos são cada vez mas escassos; a burocraca excessva e as barreras pocas dicuam a aprovação e mpanação dos projeos. O mas mporane, a meu ver, é que a dsânca que se cooca enre esses esudanes e a unversdade va aém do preparo cognvo dees e da formação adequada do corpo docene para desenvover os projeos pedagógcos. Esa dsânca é dada, prncpamene, pea dscrmnação e peo preconceo que permeam as reações que se esabeecem enre os sujeos no conexo unversáro, reações essas que ambas as pares envovdas reproduzem, nem sempre se dão cona deas e nem sempre êm condções objevas para dar com eas. Conudo, o Pronera em sdo um cana de dáogo enre governos, unversdades e represenanes de movmenos socas do campo no sendo de ncorporar demandas e consrur projeos pedagógcos voados para as caracerscas da popuação assenada.
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Agrcuura Famar crado em 1996, desde 2004 dsponbza uma nha de crédo especa para jovens ihos de agrcuores famares. O Pronaf Jovem aende pequenos agrcuores enre 16 e 25 anos que enham concudo ou esejam cursando o úmo ano de formação em escoas agroécncas. O acesso ocorre por meo da apresenação de proposa de reazação de avdades geradoras de renda, acopadas ou não às já exsenes na undade famar. Por úmo, o Consórco Soca da Juvenude Rura, de 2004, ambém procura auar no sendo de ixar o jovem no campo oferecendo quaicação proissona e oporundade de rabaho. Inserdo como uma nha de ação do PNPE – Programa Nacona de Esmuo ao Prmero Emprego, o Consórco reaza-se em parcera enre MDA, MTE − Mnséro do Trabaho, governos esaduas e muncpas, socedade cv e seor prvado, oferece formação e procura nsrumenazar para a nserção no mercado de rabaho ou em ocupações produvas no meo rura ou anda acessar os programas as como Nossa Prmera Terra e Pronaf Jovem, enre ouros, que conrbuam para so. São aenddos jovens enre 16 e 24 anos, reguarmene marcuados em escoas agroécncas, ihos de agrcuores cuja renda famar per capta não urapasse meo saáro mnmo. O programa prevê parcpação equava de gênero e aende aé 30% dos egressos do ensno médo que não enham acessado o mercado de rabaho. No âmbo do governo do esado de São Pauo, enconre o Projeo Escoa da Juvenude, o Projeo Gur e o Projeo Ação Jovem. O prmero fo crado em 2005 pea Secreara de Esado da Educação, oferece ensno supevo desenvovdo apenas nos inas de semana, voado para jovens de 18 a 29 anos que não concuram o ensno médo. O segundo desenvove-se desde 1995 no âmbo da Secreara de Esado da Cuura e oferece avdades sococuuras gadas à músca nos conra urnos da escoa reguar para cranças e jovens enre 06 e 18 anos. O ercero é um programa de ransferênca de renda que aende jovens enre 15 e 24 anos orundos de famas com renda famar menor que meo saáro mnmo per capta. O Projeo Ação Jovem preende esmuar a concusão da educação básca e promover a enrada no mundo do rabaho. Esa breve caracerzação dos programas mosra que a poca para os jovens ruras em como nvesmeno proráro a educação e a quai-
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cação proissona. Os dos úncos programas dedcados à ofera de oporundades de rabaho rura (Nossa Prmera Terra e Pronaf Jovem) são recenes e, na verdade, são programas de concessão de crédo. A vadade dessas meddas como forma de gerar rabaho e renda e ixar o jovem no campo é dscuve porque o monane de crédos oferado para a aqusção de erras e nsumos é muo baxo, o acesso é burocráco e a exgênca de medação da fama ou de endades socas não resove o probema da dependênca juven. Como resuado, pode-se cogar o endvdameno precoce, o que compromee fuuros nvesmenos. A propóso, baseados na crônca suação de endvdameno dos pequenos produores, os movmenos socas êm chamado o Programa Nossa Prmera Terra de “Programa Nossa Prmera Dvda”. As pubcações oicas anasadas denomnam de pocas púbcas o conjuno de prncpas programas desnados à “Enender as snguardades e as pecuardades das juvenudes e garanr dreos a esa geração ... e ... que consdera a juvenude como segmeno soca porador de dreos e proagonsa de desenvovmeno.” (Secreara Gera da Presdênca da Repúbca, 2006, pp. 1- 2) e aponam o probema da ncusão soca dos jovens como a sua dmensão mas compexa e desaiadora (Secreara Gera da Presdênca da Repúbca/Secreara Nacona de Juvenude, 2010). No enano, a concepção de juvenude e de jovem presene nas proposas nem sempre esá expca nos dferenes programas anasados. Dos 11 programas anasados apenas quaro expcavam a concepção de jovem. E ambém a dea de ncusão aparece assocada à ofera de programas emergencas aos que se enconram em suação de vunerabdade soca, o que dexa mpco o caráer foca das meddas. No enano, ambém não se enconram nformações sobre quanos são, onde esão e como vvem os beneicáros. Consderações inas
Sem dúvda, na úma década, houve avanço no processo de nsuconazação da quesão soca do jovem, peo menos no pano dscursvo. Mas, como são mpanadas as pocas para os jovens nos assenamenos? Como se coniguram as represenações e expecavas sobre rabaho daquees que, como rabahadores, consuem a parcea mas vuneráve
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do conjuno, jusamene, por serem jovens, rabahadores ruras e assenados de reforma agrára? Nos assenamenos esudados, o rabaho, rura ou urbano, era vso peos jovens como ajuda para a fama, esraéga provsóra de subssênca econômca e de socabdade manda aé que aparecesse uma oporundade mehor, preferencamene urbana. As suas asprações proissonas ndcavam que a escoa era vsa como um camnho para superar esa condção provsóra, mas nem odos nham a oporundade de esudar, o que seava um fuuro de muo rabaho, mas sem proissão. A escoa ambém era ugar de azer, represenação que pode esar fundamenada não apenas na faa de oporundades de azer no assenameno, mas, sobreudo, na negação que, hsorcamene, a escoa em feo do rura como ugar de rabaho e vda, o que a orna sem sendo para os que deveram se preparar para o rabaho e a vda no campo. No campo hava azer para os da cdade e não para os do campo, porque azer esava assocado ao consumo urbano. As proposas do Esado na forma de pocas púbcas não garanam aos jovens que habam os assenamenos esudados a proissonazação necessára e, nem ampouco, nserção auônoma no mundo do rabaho. Em prmero ugar porque ees nem sequer as conhecam; em segundo ugar porque as pocas exsenes, a exempo do que eu dscu no em aneror, releem dscursos nsuconas pcos, endem a homogenezar e deazar a condção juven e a raar com supericadade e dsancameno as suas necessdades, embora os conceba como agenes de desenvovmeno econômco e soca. O peri do jovem que nspra a eaboração dos programas governamenas e os dscursos dos movmenos socas é absrao, muo dferene daquees jovens concreos que eu enconre nos Assenamenos Máro Lago e Sepé Taraju. Sere eu ambém uma andorinha? Deece uma nqueação enre os jovens e suas famas nos assenamenos esudados, quando se raa de pensar qua sera, auamene, o ugar do jovem no mundo rura. A faa de capa de gro, de nfraesruura e de orenação écnca para produzr e comercazar de modo cooperado e agroecoógco condconava uma economa voada, sobreudo, para o auoconsumo e evava as famas assenadas a combnarem um conjuno de esraégas de sobrevvênca: da pequena agrcuura famar possve de ser reazada no oe ao assa-
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arameno, forma e/ou nforma, permanene e/ou emporáro dos seus membros no campo e nas cdades do enorno. Por so os rabahadores aduos e ambém os jovens auodenomnavam andorinhas . Porque era o va e vem enre a cdade e o campo em busca da sobrevvênca á e cá que hes perma esarem na condção de rabahadores ruras assenados. Referêncas
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Terras, trabaho e paneas coevas: a produção da vda como poca no codano de um assentamento rura do MST em Rondôna Juana da Sva Nóbrega
Introdução
Conhec o Coevo 14 de Agoso em janero de 2010, quando procurava um grupo de pessoas que esvesse vvencando, no seu codano, um processo de coevzação dos meos de produção em Rondôna. Ao enrar em conao com o Movmeno dos Trabahadores Sem Terra (MST) esadua e com pessoas mporanes de uma pare da Igreja Caóca mas gada à Teooga da Lberação, dsseram-me que eu precsava conhecer esse grupo. Já na prmera vsa que iz a ees ique surpresa e decd que sera a parr da que eu escrevera o esudo do meu douorado. Esa pesqusa é, pos, fruo de uma experênca enográica que durou quaro anos e que me permu conhecer mehor o processo hsórco de consrução e o codano organzavo dessas famas. O grupo faza pare do Assenameno 14 de Agoso I e II, ocazado enre os muncpos de Arquemes e Jaru, na regão cenra de Rondôna. A parr da esabeecam conexões com as duas cdades, demonsrando aquo que Carnero (1998) já aponava: que o mundo rura em dferenes expressões e esá onge de ser vso apenas pea dcooma campo/ cdade. A nensa reação com as cdades podera ser expressa nas das e vndas dáras desses números camponeses (não apenas do Coevo, mas do assenameno como um odo) que, em gera, fazam compras de manmenos, semenes, combusve e ambém comercazavam os produos de seus rabahos na erra. A cdade era o ugar onde podam acessar servços púbcos de saúde, de asssênca soca e ouros e, aém dsso, vsar parenes e amgos.
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Naquee momeno, o Coevo 14 de Agoso era formado por cerca de oo1 famas, oazando quase 35 pessoas. Todos vvam na agrova do assenameno e a panavam, coevamene, horaças e ouras verduras, possuam um consórco de fruas ropcas, uma farnhera e aguns anmas de cração, dos quas ravam o ee e a carne. Tudo sso serva ano para consumo própro das famas como para a comercazação em agumas feras da regão. Toda a produção agrcoa do grupo era fundada na perspecva agroecoógca, o que mpcava em não uzar nenhum po de nsumo qumco e venenos. Hava uma grande preocupação com a saúde do grupo e ambém dos consumdores de seus produos. Enendam que o modeo de agrcuura radcona é dependene das ndúsras qumcas, o que acaba empobrecendo anda mas o camponês. Ao conráro das ouras famas resdenes no assenameno, essas eram odas composas por manes do MST e do Movmeno dos Pequenos Agrcuores (MPA). Longe de ser uma ação esponânea, o Coevo 14 de Agoso é resuado da enava de consrução codana do projeo poco de socedade desses dos movmenos. Nesse sendo, é mpossve ocazá-os fora do âmbo da voena ua pea erra em Rondôna. Nos anos de 1970, Rondôna, e a Amazôna em gera, aparecam nas propagandas da dadura mar brasera como o novo eldorado 2. O resuado dessa ação fo um nenso luxo mgraóro de camponeses pobres das mas dversas regões do pas que acredavam que enconraram nas erras rondonenses berdade e progresso. O mo fo sendo desmendo pouco a pouco conforme a pobreza, as doenças e a voênca do capa foram se nsaando. Muos reornaram para seus ugares de orgens, ouros omaram novos rumos e aguns permaneceram e passaram a consur a ua dos rabahadores ruras. Tomada a parr desse aspeco, a cração 1
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Ao ongo dos rês anos de pesqusa, a quandade de famas do grupo varou enre oo e dez famas. Para arar as pessoas para essa regão, uma nensa propaganda fo crada. Rondôna era a promessa de uma vda mehor, de progresso e desenvovmeno. Mhares de famas mgraram para o esado, movdas por essas promessas. De orgens ruras, esses mgranes ambém já vnham de ouros desocamenos anerores que, não por acaso, era resuado ambém do processo de modernzação do campo brasero que expusava os camponeses de suas erras. À medda que o processo de coonzação se efevava, nensicavam-se as conradções socas concrezadas, prncpamene, na ua pea erra. Conlos enre ndos, posseros, greros, afundáros, empresáros, jagunços, psoeros, pocas, advogados, ec., anda hoje não cessam de ocorrer. A massva mgração de famas de rabahadores ruras das mas dversas regões do pas para o que se acredava ser o “novo edorado” agravaram essas ensões (Nóbrega, 2013, p. 76).
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do Coevo 14 de Agoso fo, porano, um mporane marco no embae desses rabahadores com o Esado e com o afúndo. A tentatva de construr vsbdades a partr da pesqusa em Pscooga Soca
Uma das prncpas repercussões do debae acerca do campo-ema, sugerdo por Spnk (2003), esá no fao de que, ao omarmos a decsão de fazer quaquer esudo, nos mpcamos enquano pesqusadores-pscóogos. Enramos em arenas pouco gens, possêmcas, hsorcamene ocazadas e consrudas e que nos põe em conlos e exgem de nós negocações, engajameno e sodaredade. Caba a mm, enquano pesqusadora, um pedaço, anda que pequeno, na consrução daquea readade. Enendo que a paavra é uma ação no mundo porque produz sendos (M. J. Spnk, 2004) e que a pesqusa é uma das formas de consrur vsbdades, a como sugere Sao (2009). O que ornamos ou não vsve com nossas pesqusas e de que forma o fazemos? Apesar de a ua das popuações do campo já possurem uma hsóra onga e do neresse da Pscooga 3 peas popuações do campo crescer a cada da, anda são poucas as pesqusas que se dedcam ao ema. No meu caso, qus chamar a aenção para a hsóra de um grupo de famas camponesas sem-erra que vvam numa regão pouco conhecda pea Pscooga, Rondôna, pare da Amazôna. Essas famas expermenavam em seu codano um processo organzavo de bases coevas, ou seja, o rabaho para eas se dava a parr de uma ógca dferene. Ao mesmo empo, caba a mm uma narrava que não as apresenasse como mas um caso exóco, e sm como pare de um grande número de rabahadores e rabahadoras do Bras que enam dspuar sendos a parr da cração de aernavas econômcas conra-hegemôncas. 3
A quesão de fundo que esá coocada para a consrução dese camnho de dáogo e compromemeno da Pscooga com as popuações do campo brasero é a própra possbdade de maor democrazação do Esado brasero e de nossas nsuções, ao mesmo empo em que ocorrem a emergênca e o foraecmeno das númeras popuações e dos erróros énco-cuuras no neror de nosso pas. As uas dos povos do campo, que já possuem uma onga e rca hsóra, permram o surgmeno de novas subjevdades, soca e cuuramene dversas, que buscam aanças com nossos proissonas e com a nossa cênca para segurem avançando no dáogo com a socedade, o Esado e a cuura auamene hegemôncos (Conseho Federa de Pscooga, 2013, p. 103).
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A convvênca com essas pessoas na sua ua codana me cobrou um envovmeno que eu desconheca. Brandão (1999) conseguu dar forma a essa dea ao dscur a aerdade na pesqusa parcpane. Dz ee: Mas o me da redeinção da aerdade em aconecdo, enre muos de nós, pesqusadores, quando o outro, próxmo, enquano sujeo vvo, mas provsóro da ‘mnha pesqusa’, orna-se o companhero de um compromsso cuja rajeóra, raduzda em rabaho poco e ua popuar, obrga o pesqusador a repensar não só a posção de sua pesqusa, mas ambém a de sua própra pessoa. (Brandão, 1999, p. 13)
Foram rês anos ndo e vndo do Coevo 14 de Agoso. Passava agumas semanas á, voava para casa4 e novamene reornava para o assenameno. Nessas ocasões eu icava na casa de uma das famas. Os das passavam enamene e eu parcpava da vda do grupo, conversava, rabahava e descansava com as pessoas. Tudo era regsrado em dáro de campo e foograia, que davam sendo àquea experênca. Esas úmas veram pape fundamena no comparhameno da experênca enográica com os parcpanes do grupo. Foram formas que enconre para enender o que vv e para fazer-me enender por ees. Num segundo momeno, passe a reazar enrevsas ndvduas com agumas pessoas e duas enrevsas coevas com o grupo odo. Aém dsso, parcpamos junos de evenos dos movmenos socas de ua pea erra e ambém dos evenos reaconados à formação em agroecooga e cooperavsmo. Tudo sso me evou a consderar a mnha presença a para aém do unverso do vvdo durane a esada no Coevo. Voando à dscussão sobre a vsbdade de nossas pesqusas, acredo que fo o que ene fazer com udo o que vv com esse grupo. Hstóra e codano do Coevo 14 de Agosto e a uta pea terra em Rondôna
No da 14 de agoso de 1992, um grupo de mas de cem famas sem-erra, gadas ao MST de Rondôna, ocupara as erras da Fazenda São Sebasão de Shangrá, propredade de um empresáro pausa. A, as famas eram quase odas composas por jovens mgranes vndos de ou4
Moro em Rondôna, num muncpo próxmo ao Assenameno 14 de Agoso.
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ras enavas de ua frusradas dos pas, pea erra no esado. Muos daquees jovens nham já uma vda poca basane anmada, com parcpação na formação dos sndcaos de rabahadores ruras (STRs), do Pardo dos Trabahadores e, prncpamene, das Comundades Ecesas de Base da Igreja Caóca (CEBs). Àquea aura, o MST já ganhara força poca em âmbo nacona e o conngene de famas que aderam à ua pea erra aumenava gradavamene nos esados. O desaio do movmeno, porano, era o de concrezar a sobrevvênca do camponês nos assenamenos ruras que esavam sendo crados e esavam ornando-se uma “uma base soca e maera exremamene empobrecda e fragzada” (Chrsofo, 2012, p. 125). A smpes ocupação e conqusa da erra não era suicene para esabeecer a ransformação esperada. Os assenamenos podem ser consderados como o ugar que desaiou o MST a pensar aernavas para a democrazação da erra por meo de mudanças esruuras no modeo de acumuação capasa, uma vez que os assenados não organzam apenas sua ação poca e soca, mas ambém os processos econômcos em que esão envovdos: a ua peo dreo de esar na erra passa pea capacdade que ees erão de produzr para permanecer a. Para dar cona da demanda crescene de assenamenos no Bras, no começo da década de 1990, o movmeno crou um arcabouço poco-pedagógco que passou a orenar a organzação da vda dos acampamenos e assenamenos a parr da cooperação. Ao ongo do empo, a própra dea da cooperação fo reformuada de acordo com a readade das famas camponesas: o modeo de cooperação nca, que nha como objevo a consução de cooperavas agrcoas de base empresara, cedeu espaço para o reconhecmeno e a aceação de ouras possbdades de cooperação menos formas, como os grupos de fama, os semcoevos e os coevos. Das quase cem famas que acamparam naqueas erras em 1992, apenas agumas eram manes do MST. Eas foram acampar com o ob jevo de crar a um erróro de ua reevane em nve esadua, endo a cooperação como prncpa nha organzava. As que possuam maor aindade enre s foram se agrupando e arcuando formas de ajuda múua, ano no rabaho com a erra como nas avdades organzavas do codano, como a amenação, o cudado das cranças, ec. No acampameno, permaneceram por mas dos anos aguardando um posconameno do INCRA e do governo a respeo da desapropração das erras. No im
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desse perodo, já cansadas de vverem sob as onas preas e, percebendo que o processo demorara, resoveram fazer a demarcação da erra por cona própra e arrscar consrur suas casas deinvamene a. Nessa ocasão, uma pare das famas decdu organzar a área em ssema de agrova, sendo uma pare dos oes dvddos em formao de raio de sol e oura pare, não ão envovda com a dea da coevzação, em formao radcona. Depos de expermenarem um despejo voeno e esraegcamene reornarem às mesmas erras, as famas resoveram crar uma assocação para auxar na ua pea desapropração das erras, mas ambém para enarem vabzar a cooperação agrcoa. Dessa forma, a assocação cumpru pape mporane na organzação poca e econômca dos assenados, porém, ogo perdeu sua força quando uma pare da fazenda fo desaproprada e oura não, o que desmobzou a ua. Para aguns moradores da agrova - como boa pare da produção agrcoa já era coeva - o processo de coevzação das erras ornou-se o camnho que faza mas sendo. Em 2004, porano, nasceu o Coevo 14 de Agoso, formado por cerca de dez famas, odas perencenes à agrova. Apenas em 2009 o INCRA ornou aqueas erras um assenameno oica 5. Para se dferencarem dos demas moradores da agrova que não quseram coevzar as erras, o Coevo conseguu acordar com o INCRA a cração de modadade de assenameno coevo denro do própro assenameno. Assm, as erras desses assenados são de uso coevo, mas os uos anda são de caráer famar, o que sgnica, na práca, que não houve reconhecmeno oica daquo que ees preendam: a propredade coeva das erras. Assm, o processo de consução desse coevo se fez medane uma hsóra de ua pea erra pauada peas prácas de cooperação enre acampados. Souza (2011) observou, em seu esudo sobre esse mesmo grupo, que foram os ongos 16 anos de ua pea conqusa do assenameno que foraeceram e fomenaram a proposa de coevzação das erras e do rabaho que cumnou nesse coevo. Os jovens manes que ocuparam aquee espaço com o objevo de nsgar nos demas a dea da 5
O MST em crcado essa modadade de aqusção de erras por meo de conraos de compra e venda, conhecda por “reforma agrára de mercado”. Cada vez mas comum na auação do INCRA, a mecansmo não cooca em quesão a esruura agrára do pas e dexa em segundo pano o dsposvo consucona que prevê a desapropração de móves ruras que descumprem sua função soca.
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cooperação hoje são aduos com ihos. Esses úmos consuem, enão, uma segunda geração de manes, marcadamene dferene da aneror, mas que ambém se apropraram dessa hsóra de ua dos pas e enam, a seu modo, dar connudade ao projeo, reformuando-o no codano. É mporane ressaar a fore presença, em ambas as gerações, das manes muheres, pos esas veram pape fundamena na deinção do que é o Coevo 14 de Agoso, especamene na ua que fazem para ornar o rabaho domésco responsabdade coeva. Terra
Para Fernandes (1994), o capa se erroraza a parr da expropração da erra e do uso dea enquano mercadora e, ao fazer sso, rera dos camponeses e povos radconas a possbdade de segurem vvendo conforme suas cosmoogas. Quando ocorre a ocupação de um afúndo peos movmenos socas camponeses, esse erróro do capa é ransformado e a se conforma oura socabdade. A esse processo o auor dá o nome de errorazação da ua. Para Fabrn (2002), a errorazação da ua urapassa a ocupação, devendo esar presene ambém nos assenamenos, no momeno de garanr a reprodução soca camponesa. Ao ongo do processo de pesqusa, icou caro que o sendo da erra para o Coevo esava cacado numa reação dferene com a erra. Essa dferença, percebda por odos do grupo, ncusve peos mas jovens, poda ser expcada ano em reação aos camponeses como um odo e o afundáro quano pea dferença enre os camponeses que fazam pare do grupo e aquees ouros assenados que não quseram coevzar suas erras. Dferenemene do afundáro, que percebe a erra enquano negóco, ou do ursa que a vê enquano ugar emporáro de recohmeno e dversão, o camponês a em como ugar de morada e de rabaho para sua fama (Carnero, 1998), vncuando-se a ea na medda em que essa reação pode ser manda. A erra sgnicada em ermos de seu vaor de uso é para Marns (1980) uma erra de rabaho. Ao conversar com as pessoas do Coevo 14 de Agoso sobre o sendo da erra para ees essa fo a prmera dea que apareceu: a erra como ugar de morada e de rabaho, numa fore oposção à erra como mercadora, para se exporar o rabaho aheo.
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Anda nos empos do acampameno, a hsóra desse grupo em nco com uma dspua de sendos: transformar terra-especuação em terra de trabaho e vda. Essa brga por dar novo sgnicado àquee pedaço de erra era de odos os camponeses acampados, sem dsnção. Aquea fazenda de m hecares fora esraegcamene escohda peo movmeno para ser ocupada. Era o smboo da desguadade a que esavam submedas mhares de pessoas no pas e era ambém a promessa de uma vda mehor para as famas que já mgravam há basane empo. Bem ocazada às margens da BR-364 saba-se que esava desnada a servr de paso para o gado do fazendero. Quando aquea cenena de famas a ocupou e depos foram despejadas para, em seguda, as reocuparem na caada da noe, o ugar onde só hava gado ornou-se um ugar de pessoas. A erra desabada e usada para negóco ornou-se a erra de rabaho e de vda. Idendade e perencmeno a um ugar foram sendo consrudos nessa hsóra de ua e enava de rar dea o suseno. Lucomar, membro do grupo, dz: Eu acho que a cosa mas conscente que tem nesse grupo, e a a gente en goba não só os mas novos, os que eram cranças na época, mas a também os adutos , o que é mais sagrado pra nós é que a terra não é um capital . A terra pra nós ea é o ugar onde nós vamos vver, crar nossos ihos... Então, a prncpo, eu acho que é sso, no grupo a terra. Tanto que nós, a maora das famas dvdu a terra com outras famas, então sso é uma prova de que pra nós, a terra não é capta. Não é poder. A terra no passado fo vsta como poder, capta é poder. Pra nós, não, a terra não é capta e não é po der. Ela é apenas um instrumento pra gente rar dela o nosso sustento, é uma das prncpas cosas. (Dáro de campo, 2013)
Concreamene, a conqusa da erra mpca em sasfação das necessdades báscas; sgnica um ugar para rabahar e produzr, mas ambém parcpar de uma comundade, soca e pocamene, perencer. “Ou seja, mas do que um ugar para rabahar e vver, o assenameno represenava uma possbdade de nserção soca e poca, de consrução de uma socedade pauada em novos vaores” (Scopnho, 2006, p. 14). Impora para ees não a quandade de erras adqurdas, mas a capacdade de esarem nea e de consegurem exsr enquano sujeos hsórcos. Mara Eséa, membro do grupo, demonsra essa mporânca na sua faa:
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Então assm, pra nós, puxa cnco aqueres, se for mas um mas um, então pra que eu precso da terra aém do que eu precso pra morar, pra vver? Só preciso dessa terra... E uma coisa importante que o grupo compreende é que não é a quandade de terra que determina, é a maneira como você trabalha nela. E quais as condições que você tem pra isso . (Dáro de cam-
po, 2013)
Essa capacdade de consrur a susenabdade coeva a parr da erra se faz por meo do rabaho para s, enenddo como possbdade de beração das amarras do ssema capasa e das reações assaaradas. A parr do momeno em que os acampados daqueas erras começaram a reler sobre como gosaram de organzar a produção do seu rabaho, oura dsnção se fez (Bourdeu, 2005) enre os que queram coevzar cada vez mas seus processos e aquees que queram permanecer na ógca famar radcona da agrcuura. O que se percebe com sso é que, assm como a organzação do rabaho ncde dreamene sobre o sendo dado à erra, uma vez que a parr dea se craram maeradades e socadades dsnas enre as famas do assenameno como um odo, o conráro ambém se dá. No caso dos que oparam pea coevdade, as formas de consrur o rabaho e de organzá-o foram reconiguradas e aquee ugar – o assenameno – passou a ser deindo dferenemene, como percebemos na faa de Ana Isabe: Eu acho que a coevzação da terra é o maor exercco da coevdade porque é fác você coevzar um monte de cosa, agora quando você mexe na terra que é a prncpa cosa que me empodera como propretáro par cuar. Um camponês sem terra ee é um despatrado, né? Ee tá aqu hoje, amanhã ee é jogado pra a. Quando eu tenho a mnha a terra aqu, a comadre, me ra se eu quser! Então, a propredade prvada da terra é a essênca do camponês. Quando você abre mão disso, é uma porta aberta para várias outras aberturas. A coevzação da terra aqu fo um exercco grandoso das pessoas ndvduamente em função de uma proposta. (Dáro de campo, 2013)
A pasagem se aerou, os espaços que anes eram recusos nas casas omaram o espaço púbco e se aargaram: hora, farnhera, roça e coznha coeva. A coevzação das erras, como dsse Ana Isabe, fo o
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ao mas díc e mas mporane do grupo como um odo, pos repercuu, como um efeo domnó, sobre odas as ouras dmensões da vda soca dees. A organzação das erras coevas, porém, não fo arefa fác para o grupo. Aém de mpcar em um maor conhecmeno e conroe soca do uso do espaço, aravés de consanes negocações, ambém ncdu sobre os mes do púbco e do prvado enre as famas. Para dicuar anda mas, as erras coevas não foram egmadas peo Esado brasero. A ausênca de uma poca de Reforma Agrára que de fao propce cdadana aos camponeses - sejam ees famares ou coevos - areada ao não reconhecmeno do uso coevo da erra como dsposvo egmo de forma de organzar a vda e o rabaho compca anda mas a suação do grupo e dos ouros coevos exsenes. Isso em um mpaco dreo na vda das pessoas, uma vez que as dexa em suação vuneráve. Consdero esse um dos prncpas desaios da proposa de coevzação empreendda peos grupos que buscam uma forma de vda e de rabaho aernava. Trabaho
Enquano rabahadores, os assenados que fazem pare do grupo se percebem como camponeses operando uma ransformação no neror dessa caegora e, para sso, consruram novos sendos do rabaho camponês. De acordo com Woormann e Woormann (1997) o rabaho camponês precsa ser enenddo enquano pare da ea de sgnicados que consu a cuura camponesa (ou as cuuras camponesas). Não deve ser pensado soadamene, mas na reação com ouras caegoras, como a erra, a fama e o gênero. É avdade pea qua se cra a cuura camponesa, uma das prncpas fones de educação. Noe-se que, dferenemene do meo urbano, as cranças e os jovens são desde cedo nserdos nesse unverso – anda que por meo de brncaderas ou da forma de “ajuda”. É a parr da que se ransmem saberes e conhecmenos geraconas, que se expermena e se nserem na rede soca, ec. O rabaho e a erra são enenddos enquano herança. Nesa erroradade camponesa, o rabaho para s pode sgnicar, porano, váras formas de reação: do rabaho famar ao assaarado,
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passando por oda heerogenedade de formas que assume em cada dferene ugar (Garca, 1990). Ao oparem peo rabaho coevo, o Coevo 14 de Agoso e os ouros coevos camponeses exsenes no Bras amparam as possbdades de pensar o rabaho para os camponeses. No codano da pesqusa, perceb que, a, as froneras que separavam a vda e o rabaho eram muo sus. Trabaho era udo o que ees fazam, desde r para a roça aé a mânca nos movmenos socas. Quando conversava com os jovens a respeo do que era o rabaho coevo era frequene menconarem a dmensão da reação famar e de amzade que hava sdo consruda na hsóra de ua do assenameno e na dnâmca de organzação do rabaho coevo. As famas ornaram-se uma só e, ao se referrem a s mesmas dessa manera, arburam à dea de fama um caráer de ressênca e de ação poca mporane que só pôde exsr a parr desse aço soca. Sodaredade e coniança, senmenos expermenados em vvêncas coevas, são pocos (Andrada, 2013) porque renovam e anmam o grupo a connuar exsndo. Você vê assm, no caso aqu, eu deixei de ter uma família de mais três irmãs e meu pai e minha mãe, e juntou esse monte de gente . Porque aqu aquee apego é dferente né! O vznho é como se fosse uma fama, da fama também. (Dáro de campo, 2013)
Como observamos na faa de Josane, para demonsrarem a mporânca do rabaho coevo referram-se ao processo de coevzação em ermos da sua capacdade de foraecmeno das famas: há uma mporânca em não rabahar soznho, ano nas avdades agrcoas como nas avdades da coznha coeva. A convvênca enre as pessoas é nensicada nesses processos de rabaho, uma vez que passam boa pare do empo junos: quando não esão junos na da, esão descansando e/ou conversando. Quando comparavam o rabaho ndvdua do camponês, nas dáras ou em sua erra, ao seu, consderavam-no uma beração em reação ao po de exporação pea qua já não precsam mas passar. Não apenas os aduos, mas ambém os jovens do grupo que já esão envovdos em avdades na produção agrcoa ecem a crca sobre esse po de rabaho, como Jussara: A gente trabaha não pensando só em ganhar dnhero, que também no trabaho em grupo você tem uma dversão, brncando, conversando... Não é só aquee trem de trabahar até termnar o da pra você ganhar dnhero,
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gua trabahar em dára que você tem que se matar na roça. É cosa que é uma convvênca norma. No trabaho você aproveta mas o seu da a da. (Dáro de campo, 2013)
O rabaho coevo, para ees, anma, garane proeção em caso de probemas peo reconhecmeno de que odos são mporanes, perme a roca de conhecmenos sobre a produção, mas ambém sobre a própra forma de organzação, perme que erros e aceros sejam responsabdades coevas, perme maor lexbdade no codano do processo organzavo e aumena a capacdade de acesso a maqunáros e ouros nsrumenos de rabaho que, soznhos, não conseguram comprar. Para organzar mehor essa forma de funconameno, craram espaços deberavos democrácos para omarem as decsões e panejarem o rabaho dos dferenes seores de produção. Porém, foram enfácos em airmar que são as reações codanas de rabaho que susenam as decsões omadas em reunão, bem como os processos ncados em reunão precsam ser esados e conversados durane a reazação do rabaho. Esse vavém de conversas e prácas ndca que não há apenas um espaço democráco e deberavo nesses processos organzavos coevos, mas múpos, as como observaram Sao e Eseves (2002), e que eses são coproduzdos. A exsênca de ouros espaços de debae e decsão – que não as reunões deberavas – fo basane menconada peo grupo, demonsrando aquo que já airmaram Sao e Eseves (2002) sobre a consrução codana dos processos organzavos auogesonáros. Es o que Pnho, ouro parcpane do grupo, pensa sobre a reunão: Eu acho que essa é a caractersca do coevo, é a caractersca porque o assunto “reunião” ele já tá dizendo que tem limitação . Reunão, você está dzendo assm oh, é uma cosa pra curto tempo. Então debater no trabaho, conversar os assuntos do trabaho, você va aém da reunão, que na reunão você não faa o que pensa, você não dscute com tranqudade, você não tem o da todo - reunão você tem uma hora duas de reunão - então você faou aquo que você pensou, o outro faou outra cosnha, o outro faou faou... então vamos encamnhar a reunão e vamos pro trabaho. Mas quando chega lá no trabalho, aqueles espaços que a gente não teve na reunião você tem eles com tempo de sobra, na hora do descanso com a água, na hora, você vai conversando. ...Você ta opnando, você tá vsua -
zando uma sére de cosas, quando chega na reunão, que esse assunto
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que nós estamos dzendo, só encamnha. Isso só contrbu... só contrbu... porque as pessoas vão dzendo o que pensa. E tem aquee que quando chega numa reunão, ee oha uma reunão ee não consegue faar, então você parou pra faar e está todo mundo ta esperando você faar... então a reunão traz essa mtação nas pessoas. Você não faa porque todo mundo va ouvr você faar a, ta todo mundo esperando por aquo. Mas á na roça você va trabahando e o assunto que você va conversando na horta então se faa né, é uma manera das pessoas, eu avao como posvo.(Dáro de campo, 2013)
Por meo desses espaços consroem suas regras e formas de dar com os probemas coevamene, como demonsra Lucomar: A um da eu tava pantando com a Ana Isabe, a eu dsse “Ana Isabe eu to pantando sso aqu, mas se que nós não vamos coher”. “Então por que nós estamos pantando?” “Ana Isabe, porque fo dscudo. Mas eu tenho certeza que sem resutado”. E nós não cohemos nada daquea área. Então é por isso que eu to dizendo isso assim que a gente errou colevamente, mas o erro ali é toda hora, a área é coleva . Porque se eu sou mnora eu
tenho que respetar a opnão da maora. (Dáro de campo, 2013) Isnardo reatou-me uma stuação que ocorreu dentro do Coevo e o dexou muto chateado. No nco do ano ee pedu ao Projeto Pe. Ezeque que en vasse – para o grupo – um caendáro bodnâmco para que ees pudessem trabahar o roçado a parr dessa ógca. Város probemas – dentro do gru po - ocorreram e esse caendáro nunca chegou até ee. Fo vsto mohado, jogado no chão da horta por um de seus ihos, o que o dexou muto ofenddo. Isnardo é um camponês bem tradcona e o caendáro e o governo da ua é fundamenta para ee, mas não se em que medda é para todos do grupo. (Dáro de campo, 2013)
Aguns probemas o grupo conseguu resover, ouros não. As regras exsem porque o campo, permeado por sodaredade e coniança, envove dspuas e conlos de neresses e mua negocação. A possbdade da exsênca de dferenes perspecvas em negocação é uma das marcas da poca exsene em processos como esses e exge dos sujeos que dem com suas necessdades e neresses ndvduas e coevos, num decado baanço. É na esfera do codano que se consroem os sendos daquo que va ser reazado peas pessoas, num processo daógco que
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envove um vavém de nformações e ponos de vsa que resuam em escohas organzaconas poserores. Sem dúvda aguma, essas escohas organzaconas são feas ambém a parr de crcunsâncas concreas que, muas vezes, fogem do acance dees. Aguns probemas do processo organzavo do rabaho coevo do grupo esão reaconados a sso. A quesão da geração de renda no grupo é uma deas. Por mas que no codano os probemas se apresenassem como uma dicudade de organzar o rabaho nernamene (panejamenos feos e não cumprdos, prazos vencdos, dicudades de comuncação, quesão de conscênca), o desaio pareca esar mas na conqusa de uma Reforma Agrára que fosse capaz, de fao, de ransformar a vda codana dos assenados. As pocas exsenes para subsdar a produção eram nsuicenes e a ausênca de uma uação de erra coeva os nvsbzava perane o Esado. Tudo sso faza com que a quesão da geração de renda se ornasse um probema anda maor e mas díc de ser souconado. Por ouro ado, a parcpação na rede de agroecooga esadua e da organzação de comercazação sodára dos produos agroecoógcos, promovdos peos dos movmenos do qua fazam pare, conrbua para conrabaancear essas dicudades odas. Se o reconhecmeno não se dava peo Esado, os demas camponeses dos movmenos e os consumdores das cdades o fazam efusvamene. O rabaho coevo de base agroecoógca era o grande dferenca que o Coevo 14 de Agoso nha consegudo consrur ao ongo dos anos. Paneas: vda e trabaho domésco
Anda no acampameno, agumas famas, por amzade e/ou necessdade, coznhavam e se amenavam junas. Quando o Coevo oicazou que as erras e o rabaho na produção seram responsabdade de odos, perceberam que sera necessáro repensar ambém as formas de organzação da amenação. Nas prmeras experêncas que izeram, os homens am para o roçado e as muheres icavam em casa preparando o amoço famar. Depos de avaarem os gasos que o grupo esava endo com esse po de organzação, oparam por fazer rodzo: uma ou duas muheres coznhavam e as ouras am, juno com os homens, para a roça. Com o aumeno das frenes de rabaho (seores), como as duas horas
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coevas e a farnhera, resoveram crar um espaço coevo para a amenação, a coznha coeva. Ao ongo do processo de pesqusa, essa coznha fo sendo apresenada como um dos espaços prmordas da produção de uma socabdade coeva. Invenada com o nuo de economzar nos gasos com a amenação das pessoas do grupo e berar pare da mão de obra femnna para o rabaho na produção, facando, assm, o rabaho, a coznha passou a ser ambém o moor do Coevo. Para a jovem Idâna, “a coznha é uma forma do grupo” (Dáro de campo, 2013). Josane, oura jovem, sneza o sgnicado desse espaço. Ea dz: Pra mim o que move o colevo é a cozinha . Porque aquee negóco: deu
a hora do amoço, tá todo mundo a, deu a hora da janta, tá todo mundo a. Não é o trabaho em s. O trabaho se a gente for evar peo ado do tra baho, dependendo tá um prum canto, outro pro outro. Ee não tá a junto assm. (Dáro de campo, 2013)
O efeo da cração da coznha não fo cacuado, resuou do processo de coevzação e ua pea erra. A fama que o grupo se ornou exse medane o comparhameno dessa avdade da vda codana, o amenar-se. O que era feo denro das casas passou a ser feo coevamene, num espaço comum. A comensadade, paavra que no am refere-se a comparhar a mesa, é consderada um rua mporane nos hábos amenares camponeses e pode ser enenddo como uma nguagem que faa de ouras dmensões da vda, como gênero, regão, fama, dendade (Woormann & Woormann, 1997). Comer junos, porano, é muo mas do que smpesmene se nurr de amenos, é um ao que produz e auaza reações. Cram-se vncuos de parha, de amzade, como reaa Josane: Depos que teve a coznha, é a comda, é tomar café junto, são as conversas, são os passeos... Tem muta dferença na sua casa você e sua vda ndvdua por mas que você tenha o vznho a pernho, né? (Dáro de campo, 2013)
Por a passam, daramene, odos do grupo, o que dá à coznha a capacdade de agregar e dfundr as nformações que crcuam enre as pessoas do Coevo. Uma decsão que esá sendo pensada na roça ou em aguma oura frene de rabaho sempre chega à coznha rapdamene.
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Negocações em curso, desconenamenos, nocas boas ou runs, fofocas, udo passa por a. Basa um cgarro ou um café e a conversa começa. Os que não podem rabahar por cona de aguma enfermdade ambém param a. Ao nvés de icar soznho em casa, ica na coznha conversando ou smpesmene presando aenção ao movmeno. Nesse sendo, é um mporane cana de comuncação do grupo. Lugar de passagem e de enconro das pessoas, a coznha desempenha o pape das rocas smbócas no grupo, daquo que não é maera, dos bens afevos e ouros (Mauss, 2003). Essas rocas esão nmamene gadas ao po de processo organzavo do grupo, de base coeva. Sendo espaço prvegado de produção dessa vda coeva, era de esperar que o efeo da maeradade coznha se esendesse para ouras dmensões do Coevo 14 de Agoso. Quando passe a observar a readade da vda de cada fama no que dza respeo ao pape que a coznha cumpre na vda domésca, perceb que ea nha provocado aerações ambém no espaço prvado. A rona semana de rabaho na coznha mpca, para cada fama do grupo, menos rabaho a ser reazado denro das casas. Agumas avdades doméscas comumene reazadas dexam de exsr, smpesmene porque o empo que as pessoas passam denro das casas ambém dmnu consderavemene. Sem faar que quando você tem uma coznha coeva você não precsa des prender uma pessoa para icar cudando de cada casa e, aém dsso, nos inas de semana a casa não está tão bagunçada quanto estara se... você magna a pessoa chegar onze horas pra fazer amoço ... só va fazer amoço não dá tempo de fazer nada... e sendo que a casa ica quase que parada durante a semana, só no ina de semana que se usa, acaba dando menos trabaho depos pra mpar a casa, cudar... então é uma forma de aprove tar mehor as mão de obra no trabaho e também de tá cudando da casa. É uma forma mas tranqüa. (Dáro de campo, 2013)
Apesar de o rabaho er dmnudo, como reaa Lucomar, anda assm há cosas a serem feas. Por sso, a manera como cada fama reorganza sua vda denro das casas, enreano, depende muo de er ocorrdo a uma ressgnicação do rabaho domésco, desvncuando-o da dea de que ee precsa ser reazado excusvamene peas muheres. Apesar de odos concordarem que o rabaho coevo é responsabdade de odos, no Coevo 14 de Agoso, a respeo do rabaho domésco não há anos consensos.
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Há famas que o dvdem enre odos os membros, há ouras que dvdem enre as muheres e anda aqueas que apenas uma muher cuda de udo. Nese úmo modo, a vncuação do rabaho domésco com as muheres é mas fore: auamene rabaham na coznha coeva duas equpes de coznhera, que se revezam semanamene nas avdades: uma equpe dára de mpeza, uma fama por da responsáve peo café da manhã, uma equpe responsáve pea enha e pea orrada do café. Todas essas são avdades da açada da coznha. As muheres, adoescenes e cranças parcpam de odas as avdades, com exceção da enha, que é de responsabdade de aguns homens – que podem ser adoescenes ambém. Aém dsso, ambém o cudado das cranças pequenas é feo por quem esá a na coznha, em gera, as coznheras. Todas essas pessoas esão organzadas em orno de uma coordenação que reaza as reunões da coznha coeva para, junos, decdrem sobre as necessdades e os panejamenos do rabaho. Os homens, apesar de reconhecerem a sobrecarga do rabaho femnno na coznha coeva anda escapam dea, como dz Sara, uma das cozinheiras:
Porque tavez os homens se refugam a coznha, o fogão. Mas se ees che gassem e faassem com nós – não é porque nós não queremos esses que nós somos femnstas, se ees faassem assm: “não, vocês vão pra roça que nós dos hoje va assumr a coznha”, nós dexara sm! Uma porque o movmento que a gente pertence, pertence guadade – homens e muheres. Então nós aprendemos sso e tem sso que tem ser dvddo. As tarefas da casa tem que ser dvddas, não tem nada que mpede ees de fazer, ees não fazem porque ees acham que trabaho de avar vasha e esses trem é de muher, ua... Não é porque a gente não dexa ees fazer, entendeu? A gente dá espaço, mas ees que não compreenderam anda que ees tem que fazer, né? Mas vamos evando a, uma hora sso muda! (Dáro de campo, 2013)
Em ouras paavras, sgnica dzer que a coznha coeva não fo capaz de ransformar negramene a readade da sobrecarga de rabaho das muheres no grupo, nem em casa, nem na própra coznha coeva. A nvsbdade do rabaho domésco pode ser enendda por sua provsoredade: ee precsa ser consanemene refeo, é efêmero, mas a sucessão dee em vaor duráve (Gard, 1996). Por ouro ado, é pre-
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cso pená-a ambém em ermos do não reconhecmeno das avdades doméscas enquano rabaho – anda que não produor de mas-vaa, mas que ncde dreamene sobre a produção. A separação usóra enre rabaho produvo e a esfera da reprodução da vda é o argumeno que faz o rabaho femnno na esfera da produção ser vso como ajuda (Rua & Abramovay, 2000). A economa femnsa em quesonado veemenemene o caráer nvsve da parcpação das muheres na esfera econômca, consderando o rabaho domésco e de cudados como pare da agênca deas. Com sso, preendem ampar a vsão do econômco para aém do mercado. Ao rabahar com a dea do vsve e do nvsve no rabaho, Schwarz (2011) ressaa a mporânca de pensar que a dvsão sexua do rabaho possu froneras muo nsáves enre o que é consderado rabaho femnno e mascuno. O rabaho domésco é como uma penumbra que nos obrga a sar da vsão strcto sensu de rabaho mercan e nos força a dar aenção ao rabaho em sua caracersca mas genérca. A nvsbdade esá ambém nas negocações, crcuações, ransferêncas que ocorrem enre o domésco e as formas mercans de conrao. Assm, resur à avdade domésca a condção de ‘rabaho’ é reequbrar a nossa vsão da vda soca e famar, e ambém aprofundar a abordagem do rabaho ‘em gera’, fazendo-nos reler sobre o que é, enão ‘nvsve’ nesse rabaho e, a parr da, em odo o rabaho”. (Schwarz, 2001, p. 32)
Depos de anasar a experênca de comedouros coevos na Amérca Lana, Freas (2008) airma que anda que essas ncavas não consgam aerar a fore assocação das avdades doméscas como responsabdades femnnas, eas ndcam ambém que há um movmeno crescene de ua por guadade e por dreos das muheres. A cração da coznha coeva como forma de socazar o rabaho domésco não é uma ncava soada. Ouras formas de reordenar o rabaho domésco nas casas foram sendo esadas peo Coevo conforme hava necessdade para sso, como por exempo, os murões de faxna nos inas de semana. Oura dea muo comenada é a da avandera coeva, projeo fuuro de agumas muheres do grupo. Todo esse conjuno de ncavas fo sendo produzdo no âmbo de uma mânca femnna fore no grupo: pare das muheres parcpa efu-
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svamene dos movmenos de ua pea erra, chegando a assumr cargos de coordenação nos mesmos. De cera forma, a beração de pare das avdades doméscas – possbada pea coznha coeva - e sua nserção nos rabahos que anes só eram possves para os homens, permu-hes consrur uma rajeóra marcadamene dferene das ouras muheres do assenameno. Numa enrevsa coeva que iz, pergune ao grupo o que era o rabaho e Téo, parcpane do grupo, me dsse: “para nós tudo é trabaho... O trabaho coevo não é só á na horta, a gente pode tá numa reunão, que é um trabaho” (Dáro de campo, 2013). Mara Eséa, por sua vez, fez quesão de compear, medaamene, a faa de Téo: “Poderamos destacar a mportânca que o movmento e o grupo dão pros trabahos de sobrevvênca, sobrevvênca humana que é o trabaho domésco, que não é consderado pea socedade captasta” (Dáro de campo, 2013). Acredo que a coznha coeva e ouros espaços aernavos são mporanes para a consrução de novos sendos sobre o rabaho domésco e sobre as reações de gênero no unverso camponês, foremene marcadas peas dsnções enre mascuno e femnno (prncpo da separação) e pea vaorzação do rabaho do prmero (prncpo da herarquzação) (Nobre, 2005). A coznha coeva, nesse grupo, promoveu o desocameno daquo que anes era reegado apenas ao espaço prvado, para o espaço púbco, e nesse processo, desocou ambém as demandas das rabahadoras. Anda que não enham sdo reconhecdas peos homens do grupo como um odo, essas demandas esão presenes como quesões de ordem coeva e não mas ndvdua. Consderações inas
Ese fo um breve reao dos anos de pesqusa juno a esse grupo. A erra coeva é enendda enquano embae com a especuação afundára, conrbundo para errorazar anda mas a ua pea erra, pos apresena uma possbdade concrea de uso desa a parr de oura ógca. É jusamene o poder que a proposa de coevzação de erras em de conrapor-se à raconadade capasa que ameaça o Esado. Ese
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não reconhece e não egma a ação desses rabahadores, dexando-os, enão, numa condção de exrema vunerabdade. O rabaho coevo, fone de amzade e sodaredade, perme dar com essa neggênca e ajuda-os a ressr a sso. A parr dee cram espaços maores, organzam mehor o uso da erra, panejam e decdem sobre o que e como querem produzr. Isso só se faz medane negocações codanas, convencmenos e embaes enre ees própros. Mas, as escohas organzaconas que são possves de serem feas dependem ambém das crcunsâncas ocas e, mas uma vez, esbarram na poca de reforma agrára que não aena para as necessdades de coevos de rabahadores. O rabaho na produção só é possve a parr do momeno em que reorganzam ambém o rabaho domésco. A coznha coeva fo a manera enconrada para aumenar a mão de obra, reduzr os gasos com amenação e berar as muheres para ouras avdades. Resuou em vncuos e afeos que movem o grupo, que dão o sendo de perencmeno às duas gerações de manes que a esão. Apesar dsso, a coznha anda é um espaço preferencamene femnno e sso é para aguns um probema e para ouros, não. Porém, o projeo poco de base coeva perme que essas demandas se ornem púbcas e ncomodem o codano do grupo, o que faz pensar que é possve que o sendo do rabaho domésco seja ransformado ao ongo do empo. Nesse sendo, é possve airmar que erra e rabaho sofreram e connuam sofrendo reformuações na medda em que socabdades e maeradades fundadas numa ógca de coevzação foram sendo consrudas, com odas as conradções e dicudades exsenes. Por im, a experênca enográica possbou-me um enendmeno acerca da nma reação enre vda, rabaho e a ação poca num erreno em que as conradções dos neresses capasas se nensicam cada vez mas e se concrezam no codano desses rabahadores. Referêncas
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Todo da é da de festa: os sendos e os sgnicados do trabaho no contexto crcense Karnne de Overa Souza José Eeonardo Tomé Braga Júnor
Introdução
O presene rabaho é um desdobrameno da dscpna Pscooga Soca do Trabaho e das Organzações I, oferada no curso de Pscooga da Unversdade Federa do Ceará, de Foraeza, componene da grade currcuar obrgaóra do sexo perodo. Em nossa nvesgação, vemos como objevo prncpa anasar o sendo e o ugar ocupado peo rabaho para arsas crcenses, observando as possves sgnicações e percepções a parr da compreensão dos processos de precarzação e lexbzação abora. A nvesgação eve caráer quaavo, deneada em forma de esudo de caso. Esa não é apenas uma modadade de coea de dados, mas uma esraéga de pesqusa e possu caracerscas e deneameno especicos. Para a consrução dos dados, foram uzadas as segunes meodoogas: observação parcpane e enrevsas. O esudo de caso fo reazado com um arsa que rabahava como pahaço no Crco do Mooca, que exse há mas de 20 anos, e crcua peo Ceará e por esados próxmos. Eemenos que emergram a parr da observação parcpane e das enrevsas aponam uma precarzação do rabaho, prncpamene por não haver, para pare desses rabahadores, dreos rabahsas, ampouco proeção soca. Na conemporanedade, o mundo do rabaho vem sofrendo dversas ransformações, caracerzadas, sobreudo, pea gradava perda de garanas e dreos dos rabahadores, relexo da compexicação, heerogenezação e lexbzação, que coniguram o fenômeno da precarzação 140
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(Anunes, 1998; Aquno, 2008). Essas mudanças se reaconam ambém com a quesão da emporadade - jornadas parcas, conraos por empo deermnado, lexbzação das jornadas (e dos dreos rabahsas) - e aponam para uma nova esruuração da socedade e, consequenemene, do sujeo rabahador. De acordo com Aquno (2005), a nova forma de coniguração do rabaho/emprego, noadamene precarzada, esá demarcada por formas cada vez mas fráges de nserção e permanênca no mundo do rabaho, de modo que a perda de dreos e garanas socas, somada à nsabdade e à lexbdade, caracerzam esse novo cenáro. Dane desse conexo, emergem dscussões sobre o im da caegora rabaho e da perda de sua cenradade para a consução subjeva. A despeo desas, dversos auores defendem sua cenradade (Anunes, 2006; Aguó, 2001; Case, 1998), na medda em que se consuem como va de acesso ao crcuo da produção/consumo de bens e servços, necessáros para a sobrevvênca maera; como agene de socazação; meo de produção e reguação de reações nerpessoas; reguador de empos e espaços socas; e, prncpamene, como fone de sendo para a vda. Segundo Aquno (2005), a lexbzação é assnaada aravés do recore das novas emporadades que se mpõem no mercado de rabaho. As muações na experênca empora, ou seja, a desconnudade do empo, sob a égde da lexbzação, possbam-nos denear uma dscussão sobre a precarzação, pos compreendemos que rabaho e empo são caegoras que enconram-se negradas. Um esudo sobre a precarzação e a lexbzação abora permem-nos compreensão e dagnósco aprofundados sobre o pape do rabaho na esfera soca. Pensar a reação enre subjevdade e rabaho mpca anasar como os sujeos vvencam e dão sendos às suas experêncas, o que mpca ambém compreender os processos aravés dos quas as experêncas do rabaho conformam modos de agr, pensar e senr. Que trabaho?
O rabaho igura como um fenômeno esruurane para a experênca subjeva. Aém de ser um vecuo que propca a sasfação das ne141
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cessdades maeras, é um reguador da vda soca e das reações nerpessoas, produor de cdadana, mecansmo reguador de emporadade e espaços, fundameno de egmação soca, propcador de conexos de aiação, vncuação e neração grupa (Aguó, 2001; Anunes, 2006; Banch, 1996). Emoogcamene, em sua acepção arcaca, a paavra rabaho remee-nos a um nsrumeno de rês pés (rpé), reaconado com quem esá condenado a agum casgo corpora. Da, a conoação de esforço, fadga, humhação e orura. Com a nauguração da moderndade, o rabaho se vncua com a udade, o vaor, a organzação soca, de sodaredades, como propunha Durkhem em Da Dvsão do Trabaho Soca. Nesse paradgma, a paavra rabaho aparece vncuada a um produo. É enconrada como snônmo de avdade, ocupação, oíco, proissão, arefa, resuado de uma deermnada ação. O aspeco unicador de odos esses sgnicados é um nvesmeno conscene e nencona de uma deermnada quandade de esforço na produção de bens e servços, eaboração de produos ou reazação de servços a im de sasfazer agum po de necessdade humana (Banch, 1996; Van, 1999). A possema da paavra rabaho perme uma varedade de sgnicados. A ambgudade que repousa sobre esa paavra é relexo de um conlo soca aua em orno do reconhecmeno e da egmação das avdades aboras no conexo produvo. Amparo, Moreno e Crespo (2001) airmam que há uma coonzação meonmca do rabaho peo emprego - rabaho assaarado - e aponam para uma suação paradoxa em que somene as pessoas que o possuem parecem úes e produvas. Ta suação convoca-nos a uma relexão sobre a função do rabaho no cenáro conemporâneo, na medda em que se observa uma exensão do desemprego, uma nensa precarzação abora e surgmeno de formas apcas de rabaho. Conforme Banch (1996), o rabaho é um meo de ganhar a vda, esruuração do codano, reguação dos conraos socas e produção de dendades. Ee possu funções: econômcas, pos é enenddo como va de acesso à produção, dsrbução e consumo de bens e servços necessáros para a sobrevvênca maera; socopocas, como meo de negração de cdadana na vda soca e poca e no modo de prevenção de conlos e excusão soca; e pscossocas, como vecuo propcador de auonoma i-
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nancera, soca e deoógca, organzação do empo codano, exo fundamena da avdade pessoa e famar, fone de papés, saus, presgo e dendade soca, ocasão para o desenvovmeno de conduas, projeos e reazações proissonas e experênca de sendo de vda. A despeo dsso, com as ransformações operadas ao ongo dos úmos 30 anos no mundo do rabaho, muos são os quesonamenos que emergem em reação à possve perda de cenradade que essa caegora ocupa como fone de dendade e como vecuo de negração soca. De acordo com Amparo, Moreno e Crespo (2001), a queda dos modeos cásscos de avdade abora possba o surgmeno de as quesonamenos, prncpamene a parr do aparecmeno de formas apcas de nserção abora. De acordo com Banch (1996), enre os pares moógcos que se consró a moderndade, a caegora rabaho, enendda como moor de um progresso guado pea razão, ganha ênfase, sobreudo, com a Revoução Indusra. Insaurado em seu rono cuura, o rabaho consu um faor esruura do ssema ndusra e da vda codana das socedades conemporâneas. A razão nsrumena, apoada nos prncpos da eicáca e dos resuados, favoreceram o surgmeno e o desenvovmeno de um méodo de rabaho consudo por movmenos de decomposção, recomposção de arefas, e, sobreudo, pea separação enre fazer e pensar, a conhecda Organzação Cenica do Trabaho (OCT). Esa nha como prncpos fundamenas a ndvduazação do rabaho, possbando um mehor conroe da avdade abora e recompensando ndvduamene os mas produvos; a decomposção do rabaho, por meo da dvsão das avdades em um menor número possve de eapas; e a programação do rabaho em avdades mas smpes, prevsves e ixas, de modo anecpado. A especazação exrema das avdades era o prncpa objevo da OCT, que eve com Tayor seu prncpa represenane. O ayorsmo, porano, propõe o conroe dos processos de rabaho aravés da iscazação exrema dos empos e dos movmenos. Poserormene, com o fordsmo, sob a igura de Henry Ford, há o esabeecmeno das nhas de monagem, represenando o modeo do ssema moderno de produção em massa. A mpemenação desses modeos de produção esabeeceu, deinvamene, a separação enre concepção e execução do rabaho,
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bem como a anuação da avdade mena dos rabahadores (Sva & Sena, 2004). O rabaho, ao ongo dos anos, vem passando por conformações. A precarzação e a lexbzação abora são processos que aeram profundamene a forma e o coneúdo do rabaho. Eses processos não são recenes, porém ganham desaque a parr da crse da socedade de bem esar soca na década de 1970, e nos ajudam a pensar essa caegora e suas conigurações auas. Conigurações atuas do trabaho: o fenômeno da precarzação e lexbzação
O debae sobre o im do rabaho e de sua cenradade na dnâmca soca, segundo Garrdo (2006), em suas orgens em meados da década de 1970, relexo da preocupação suscada em decorrênca dos aos nves de desemprego e peos efeos que poderam er a nrodução das novas ecnoogas de nformação no emprego. Esse perodo assnaa um momeno de crse, resuado de mudanças econômcas, socas e pocas com fores mpacos para a casse-que-vve-do-rabaho (Anunes, 1998). A gobazação do capa, o avanço cenico e ecnoógco, assm como ambém as novas formas de organzação abora são eemenos que êm dado ugar a uma profunda ransformação da naureza do rabaho (Garrdo, 2006). A crse da socedade do rabaho se expressa não somene pea faa de emprego, mas por uma crse dos prncpos sobre os quas a socedade saara se consruu. Anunes (1998, 2006) dscue sobre a perda da cenradade da caegora rabaho na socedade conemporânea. Conforme o auor, as ransformações ocorrdas com o rabaho ao ongo do empo e suas novas conigurações, como aumeno do rabaho precarzado e lexve, não é suicene para concur sobre o im dessa cenradade. A parr das dscussões de Marx sobre o rabaho concreo e rabaho absrao, Anunes (2006) airma que o que enconramos hoje é a crse do rabaho absrao, responsáve peos vaores de roca. A redução do proearado fabr esáve; o ncremeno de rabahos precáros, ercerzados, emporáros, par-
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-me; a excusão dos jovens e dosos e a ncusão de cranças no mercado de rabaho; o aumeno do rabaho femnno, prncpamene em formas apcas de rabaho; bem como o rabaho a domco perme-nos recoocar a quesão da cenradade da caegora rabaho. A crse do rabaho, segundo Van (1999), não se manfesa apenas pea ausênca de emprego, é precso ê-a no própro rabaho. Para o auor, o rabaho em sdo pensado auamene apenas peo vés da negração soca, o que é um fao negáve na nossa socedade. No enano, fazer desse pensameno uma poca é probemáco, pos o rabaho só apresena seu caráer de negração porque é produvo. Pensar esses dos aspecos separadamene redunda em fracasso. Da, o conve a pensar nas novas formas socas que o rabaho adqure na conemporanedade é feo peo auor. Anunes propõe que não pensemos em ermos de im do rabaho, mas na coniguração de uma “nova morfooga ou nova possema do rabaho” (2006, p. 13). O cenáro supracado expõe as ransformações ocorrdas no mundo do rabaho no decurso dos anos, de modo a aponar para uma nova coniguração da readade abora. Ta conformação é demarcada por mudanças nas formas de conraação, nensicação do rabaho e aceeração dos empos, enfraquecmeno da coesão soca garanda peo rabaho e ndvduazação exrema da reação de rabaho. Esses aspecos caracerzam o fenômeno da precarzação abora (Anunes, 1998; Aquno, 2008). Consderamos que essas ransformações modicam não apenas a nserção dos rabahadores em suas avdades aboras, mas ambém a forma e o coneúdo do rabaho. Ta coniguração se arcua dreamene com a quesão da emporadade – jornadas parcas, conraos por empo deermnado, lexbzação das jornadas (e dos dreos rabahsas) – que remee a uma nova esruuração da socedade e, consequenemene, do sujeo rabahador. Segundo Aguó (2001), a precarzação deve ser compreendda, em ermos hsórcos, como resuado da crse do Esado de Bem Esar Soca. Assnaa-se, a parr desse marco, uma crse da socedade do rabaho, que ocorre na medda em que a presação de servços e a proeção aos rabahadores ane suações de desamparo e rsco se veem debadas peo conjuno de pocas neoberas. Anerormene compreenddas como deveres do Esado, as prácas pocas passam a uma readade
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marcada peo dscurso da lexbdade e da auorreguação do mercado. A desreguamenação do dreo do rabaho, sob o amparo da lexbdade (Bbao, 1999), em possbado ao capa a oa berdade para demr, redeinr horáros e jornadas de rabaho, mpemenar saáros lexves e varáves, subsur empregados efevos por emporáros e ercerzar as suas avdades (Anunes, 1998). Dessa forma, a lexbzação e a precarzação são fenômenos que se compemenam e se negram para a compreensão das novas formas de coniguração do rabaho (Aquno, 2008). A lexbdade se consu como marca fundamena do empo soca conemporâneo. Esse fenômeno pode er dversas acepções, podendo ser compreenddo como capacdade de mudança, de adapar-se às crcunsâncas varáves sem ser quebrado por eas (Senne, 2001). No âmbo abora, a lexbdade podera ser vsa como ao de berdade, se o rabahador pudesse conroar e lexbzar o empo de sua avdade de acordo com suas necessdades. Conudo, percebe-se que a lexbzação do empo abora em por objevo maor aender à demanda da produção e não a dos rabahadores. Senne (2001) apona que a endênca conemporânea de lexbzação produzu novas esruuras de poder e conroe em vez de crar as condções de berdade. Dane do exposo, nensica-se, porano, o quesonameno sobre o sendo e o ugar do rabaho na esruura soca, sua cenradade na consrução da experênca subjeva e sua capacdade de garanr a coesão soca, no nosso caso especico, para os rabahadores crcenses. De acordo com Aonso (2000), o mundo do rabaho no conexo aua, marcado pea égde da lexbdade, da precarzação e do rsco esá provocando uma consane sensação de frusração e vazo em odos os nves da prâmde abora. Essa sensação opera como uma mporane função pscoógca, sobreudo em quesões de perda de dendade em reação ao rabaho. Aspectos metodoógcos
A pesqusa eve caráer quaavo, de modo que se orena pea nerpreação de fenômenos observados, a parr da neração do pesqusa-
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dor com o objeo de esudo. Segundo Mnayo (1994), essa modadade de pesqusa conigura um nve mas profundo de anáse da readade soca, na medda em que não se preocupa em quanicar os dados obdos em ermos numércos, mas em buscar uma compreensão mas parcuar do fenômeno. De acordo com Neves (1996), a pesqusa quaava compreende uma varedade de écncas e prácas nerpreavas, que objevam a descrção e a decodicação de um ssema compexo de sgnicados. Com esse procedmeno, há uma vaorzação do processo e não apenas enfaza os resuados. A opção peo uso dessa modadade de pesqusa resde no fao de que não há o nuo de generazar as nformações coeadas, mas de nerprear os fenômenos e arbur-hes sgnicados (Neves, 1996). Aém dsso, a nvesgação quaava enfaza os aores e suas reações dreas com o campo da pesqusa, expressando, dessa manera, como as marcas da esruura soca se manfesam nas suações mas parcuares (Desaurers & Kérs, 2008). No que se refere ao deneameno de pesqusa, essa nvesgação desenvoveu-se como um esudo de caso. Ese é deindo como uma anáse aprofundada de uma deermnada experênca, uma nvesgação deahada de um sujeo ou de uma suação em parcuar. Aravés dessa perspecva, é possve compreender como ou por que deermnados fenômenos ocorrem (Godoy, 1995; Neves, 1996). G (2010) airma que esse po de deneameno consse em uma nvesgação exausva de um ou poucos objeos, com o nuo de conhecer de manera ampa e deahada um deermnado fenômeno. Segundo Yn (1994), ee represena uma esraéga váve quando o foco se enconra em fenômenos nserdos em agum conexo da vda rea. O esudo de caso não é apenas uma modadade de coea de dados, mas uma esraéga de pesqusa e possu caracerscas e deneameno especicos. Nessa nvesgação, preendeu-se fazer um esudo e uma anáse, embora breve, dos sendos e sgnicados do rabaho, a parr da compreensão do rabaho nforma e de aspecos gados a precarzação e lexbzação abora no conexo crcense. Para a consrução dos dados,
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foram uzadas as segunes meodoogas: observação parcpane e enrevsas. A observação perme o regsro do comporameno no conexo empora espaca em que os sujeos esão nserdos (Aves-Manzo & Gewabdszbajder, 2000). Denre as modadades de observações exsenes, opamos peo desenvovmeno da observação parcpane, pos esse procedmeno é reazado a parr da nserção do pesqusador no neror do campo a ser observado, de modo a ornar-se pare dee e comparhar o codano com as pessoas que o vvem (Fck, 2009). Aves-Manzo e Gewabdszbajder (2000) airmam que, nesse po de observação, o pesqusador, merso no conexo observado, nerage por deermnados perodos com os sujeos, de modo a comparhar o seu codano. O prmero momeno de pesqusa eve dos objevos: facar a mersão do pesqusador no campo de esudo e neragr, buscando uma aproxmação com os sujeos. O segundo momeno conssu na reazação de enrevsas semesruuradas. Essa écnca de coea de dados caracerza-se pea neração enre o pesqusador e os sujeos e por possbar a abordagem de emas compexos, que ouras meodoogas não engobaram. Dessa manera, possba a compreensão dos sgnicados arbudos peos sujeos a deermnadas suações ou processos (Aves-Manzo & Gewabdszbajder, 2000). No perodo de observação parcpane, vsamos reunões da Assocação dos Crcenses do Ceará, que aconecem em um casarão no Cenro da cdade de Foraeza. Traa-se de um fórum mensa que em como ob jevo promover dscussões que conempem os dferenes aspecos reaconados às avdades desses rabahadores, bem como servr de espaço de reenconro de amgos, que, muas vezes, passam grandes perodos afasados devdo às ongas vagens promovdas peas ronas de rabaho. Esse fo o momeno em que pudemos er conao com dversos rabahadores e conhecer um pouco da readade de rabaho em gera e do modo como se organzam em suas avdades e em seu empo vre. O segundo momeno fo composo por enrevsa semesruurada. A opção peo uso dessa écnca repousa no fao de que é possve ober resposas aprofundadas e angr os resuados da pesqusa, pos somene os sujeos seeconados e conhecedores do ema e nserdos no conexo especico serão capazes de emr opnões concreas sobre o assuno a ser nvesgado.
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De acordo com Gonzaez Rey, a enrevsa, na pesqusa quaava, em sempre o propóso de converer-se em um dáogo, em cujo curso as nformações aparecem na compexa rama em que o sujeo as expermena em seu mundo rea. Surgem números eemenos de sendo, sobre os quas o pesqusador nem sequer hava pensado, que se converem em eemenos mporanes do conhecmeno e enrquecem o probema nca panejado de forma unaera nos ermos do pesqusador. A pesqusa é um dáogo permanene em que as opnões, cosmo vsões, emoções, enim, a subjevdade do sujeo esudado consu eemeno reevane para o processo, o que resua mpossve predzer nos momenos ncas. (2002, p. 89)
O procedmeno de anáse dos dados fo orenado por meo da écnca de anáse de coneúdo consruvo-nerpreava (Rey, 2002). Esa em como pressuposo que os dados são consrudos a parr da neração enre pesqusador e o fenômeno nvesgado, porano, não são preconcebdos. Objeva-se, assm, produzr nerpreações que permam arbur novos sgnicados aos objeos de esudo, de modo que a negbdade produzda garana novas compreensões. De acordo com esse auor, “a pesqusa quaava não exge a deinção de hpóeses formas, pos não se desna a provar nem a vericar, mas a consrur”. (Rey, 2002, p. 73) A anáse de coneúdo é uma écnca que se desna à codicação das nformações obdas em caegoras, de modo a dar sendo ao maera esudado. Porano, ea enfaza a nerpreação dos aspecos exuas que podem ser codicados em ermos de anáse. Gonzaez Rey (2002) esabeece uma dferença enre a anáse de coneúdo radcona e a apresenada por ee. Para sso, acrescena o ermo consruvo-nerpreavo à expressão anáse de coneúdo com a inadade de desgnar uma forma dferene de proceder à anáse de dados. Dessa forma, ee airma que a anáse de coneúdo pode ser orenada para a produção de ndcadores sobre o maera anasado que ranscendam a codicação e o converam em um processo consruvo-nerpreavo. Essa forma de anáse de coneúdo é abera, processua e consruva e não preende reduzr o coneúdo a caegoras concreas resrvas. (Rey, 2002, p. 146)
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A parr do que fo expcado, para reazar o procedmeno de anáse dos dados, os regsros das observações foram ssemazados em caegoras, ou ndcadores, expressão esa uzada por Gonzáez Rey (2002). Segundo Rey (2002, p. 121), “as caegoras represenam um momeno na consrução eórca de um fenômeno”. Yn (2004), ao raar do deneameno de um esudo de caso, refere-se às dmensões e às caegoras de anáse como correspondenes ao própro caso nvesgado. Nesse sendo, as nformações coeadas foram dsrbudas na caegora (ndcador) pernene à undade de anáse escohda para ese esudo, a caegora de precarzação abora. Todo da é da de festa?
O esudo de caso fo reazado com um arsa de 27 anos que rabahava como pahaço no Crco do Mooca. Ee represenava o pahaço Perna Longa, mas já reazara avdades como arador de facas, rapezsa, bheero, enre ouras. Dependendo do da e do amanho do púbco, ee poda reazar mas de uma avdade. Garrdo (2006), ao versar sobre a lexbzação, apona dversos pos de lexbdade, a saber, a numérca (redução do quadro de empregados e a mnmzação dos cusos com demssões); a empora (rabaho empora, par-me e horáros apcos); a produva (ercerzação); e, por im, a lexbdade funcona, susenada no dea de rabahador povaene, quadade que perme às nsuções reazar a roação dos rabahadores nos posos de rabaho conforme suas necessdades. A povaênca de avdades nos drecona para os eemenos reavos à precarzação e à lexbzação abora. Grande pare de sua fama perence ao conexo crcense, sendo seus famares os prmeros a nsaarem o crco no Ceará, vndos de Mnas Geras. Ee esudou reguarmene aé os 13 anos e, quando fo vsar o crco da fama durane suas féras escoares, decdu junar-se à rupe. Arbu ao fao de er morado com sua avó numa resdênca ixa aé os 13 anos a possbdade de er do acesso à educação escoar radcona. Porém, mesmo após seu nco no crco, ee conseguu ermnar seus esudos báscos.
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Quano a sua formação para a auação proissona, airmou que aprendeu udo soznho, observando os coegas e renando nos empos vre. Aém de arsa, é gerene do crco em que rabaha auamene e anda faz aguns rabahos exras, escrevendo projeos para inancamenos púbcos de ouros crcos. Nas observações, pudemos perceber que exse um fore senmeno de coevdade e que as reações pessoas deermnam sgnicavamene a quadade e o bom funconameno do crco. Para Banch (1996), o rabaho, aém de ser um meo de ganhar a vda, é um eemeno esruurane do codano. É ambém fone de papés, saus, presgo e dendade soca, ocasão para o desenvovmeno de conduas, projeos e reazações proissonas e experênca de sendo de vda. Esse aspeco do rabaho é enfazado nas enrevsas. Dos eemenos mporanes que devem ser ressaados conempam a faa de acesso de muos a servços báscos, como saúde e educação, e os débes vncuos aboras. Tas aspecos aponam para uma precarzação do rabaho, na medda em que não há, por pare desses rabahadores, dreos e proeção soca. Case (1998) airma que a precarzação é um processo que envove aspecos mporanes, a saber, a desesabzação dos esáves, a nserção dos rabahadores na precaredade e o aumeno do desemprego. Segundo o auor, a fenômeno pode ser compreenddo sob o prsma da precarzação econômca, que corresponde às esruuras produvas e saaras, e o da precarzação da proeção soca, que dz respeo à egsação dos dreos rabahsas. Enendemos que, aém dos vncuos pessoas, é mporane que se enha aguns dreos garandos, como féras e cenças para cudados com a saúde, sendo eses aspecos mporanes que, no enano, não foram foco desa pesqusa. Tavez se exsssem ncenvos púbcos no sendo de ornar a caegora reguamenada, pudéssemos conempar a garana de as dreos. Percebemos que o amor à avdade arsca do crco é basane vsve em nosso enrevsado e que sso o orna um proissona basane neressado em connuar a desenvover-se e evar seu rabaho para muos púbcos. A despeo das dscussões sobre o im do rabaho e da perda de sua cenradade para a subjevdade, dversos auores convergem em dreção a uma defesa de sua cenradade (Aguó, 2001; Anunes,
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2005; Case, 1998). Para Aguó (2001), a cenradade esá demarcada no fao de que o rabaho/emprego se consu como uma va de acesso ao crcuo da produção/consumo de bens e servços necessáros para a sobrevvênca maera; é agene de socazação; meo de produção e reguação de reações nerpessoas; mecansmo reguador de empos e espaços socas; fundameno de egmação soca; propcador de conexos de aiação, vncuação, parcpação, comuncação e neração grupa; e fone de sendo para a vda. As muações no mundo do rabaho marcaram profundamene sua forma e seu coneúdo no conexo aua. A manera como os sujeos experencam essas ransformações foram noadamene aeradas. Apesar do aspeco, sobreudo posvo em reação ao seu rabaho, são noóros os mpacos da precarzação e da lexbzação abora no sujeo enrevsado. Da sensação de berdade de organzação do empo de rabaho, passa-se à nsegurança e à ncereza quano ao fuuro. Consderações inas
As ransformações no mundo do rabaho marcaram profundamene sua forma e seu coneúdo no conexo aua. A manera como os sujeos experencam essas ransformações foram noadamene aeradas. Nesse sendo, surgem aguns quesonamenos: que mpacos as mudanças produzem na consução subjeva dos rabahadores? Como denicam os mpacos da precarzação e da lexbzação abora em suas avdades? Um esudo sobre a precarzação abora permem-nos uma compreensão e um dagnósco aprofundado sobre o pape do rabaho na esfera soca. Pensar a reação enre subjevdade e rabaho mpca anasar como os sujeos vvencam e dão sendos às suas experêncas, o que mpca ambém compreender os processos aravés dos quas as experêncas do rabaho conformam modos de agr, pensar e senr. No que se refere ao processo de precarzação, Aguó (2001) airma que um grande número de ndvduos se enconra em suação abora precára, de forma quase permanene. Esse esado abora é nsáve e
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desemboca em suações de excusão soca, causando dsfunções nos processos de nserção, parcpação e coesão soca. Compreendemos a precarzação como um processo cenra e decsvo, resuado da nova dnâmca econômca, do novo mercado de rabaho, enre ouros faores. Se for uma consaação de que exsem rabahadores cada vez mas assocados aos mecansmos débes de perencmeno nsucona, parecenos pernene ouv-os sobre os efeos mas vsves dessa endênca. O rabaho crcense, represenado aravés do nosso enrevsado, apresena-se numa dupa face: dversão e nsabdade. Há enre o rabaho e a vda pessoa uma nha ênue, na medda em que o oca de rabaho, por vezes, é ugar de se vver, assumndo caramene uma função cenra na vda desses sujeos. Nese momeno, chegamos ao quesonameno: Será mesmo que odo da é da de fesa? Desacando os aspecos eórcos apresenados e a debdade dos vncuos esabeecdos com esse espaço abora, podemos pensar que o encano de perencer à rupe não passa de vã usão, uma vez que, rompdos os vncuos pessoas, esses ndvduos passam a uma suação de oa desamparo, já que não exsem recursos egas que os asssam. Referêncas
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Assédo mora no trabaho: compreendendo agumas consequêncas Suzana da Rosa Tofo João Cesar Fonseca
Thago Soares Nunes
Introdução
O assédo mora no rabaho é uma forma de voênca predomnanemene pscoógca que se caracerza por suações de desquaicações, humhações e consrangmenos que são denicados peo rabahador nas reações nerpessoas de rabaho, as quas endem a gerar sofrmeno e adoecmeno. As suações de voênca e os mcroraumas vvencados peas vmas do assédo mora podem ser sus no seu nco, mas em decorrênca das dúvdas e ansedades consanes, comumene surgem aerações de humor que podem se agravar e chegar a exremos, como a depressão, o burnout e aé o sucdo, quando o rabahador não supora mas vver sob consrangmenos consanes. As decorrêncas não se resrngem aos rabahadores, pos o ambene no qua o assedado sofre ende a ser ansogênco para aquees que esão próxmos da vma, como os coegas de rabaho e a própra fama. Também há relexos na organzação, que pode er sua magem desgasada pea denicação como um ugar que apresena rscos pscossocas para se rabahar e que perde com os cusos do assédo, especamene peos ndces eevados de turnover , absenesmo, afasameno do rabaho, para car aguns. A socedade va se defronar com ndcadores de aumenos de acdenes de rabaho e ncapacação precoce de proissonas, aumeno de despesas médcas e de beneícos prevdencáros, e redução da capacdade produva de rabahadores, o que orna a quesão do assédo reaconada à saúde púbca.
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Nese argo serão apresenadas, conceuamene, consequêncas do assédo para rabahadores, organzações e, angencamene, para a socedade, aém de dados baseados em duas nvesgações sobre os sgnicados do assédo mora no rabaho e os seus relexos na vda de rabahadores. Uma das pesqusas fo desenvovda com docenes e écnco-admnsravos de uma unversdade federa e a oura com rabahadores que denuncaram suações de assédo mora em uma Supernendênca Regona do Trabaho e Emprego do Mnséro do Trabaho e Emprego (SRTE/MTE). Por meo das nformações coeadas em quesonáros e enrevsas vericou-se que predomnam as suações de adoecmeno peo sofrmeno sencoso vvencado peos assedados, com presença de deações sucdas para cessar as suações, e que (nfezmene) a medcazação psquárca se faz comum para dar com o desgase pscoógco ocasonado. Assédo mora no trabaho
As ransformações no “mundo do rabaho” conemporâneo êm resuado em mudanças nos dreos dos rabahadores e nos conraos de rabaho, aumeno da nformadade e da carga de rabaho e dmnução do número de empregos gerados (Barreo, 2003). Ta cenáro evou os rabahadores a uma suação de coadjuvanes na arcuação das reações de rabaho, em decorrênca de quesões, como o crescmeno no número de desempregados, o foraecmeno das grandes corporações e a fragzação dos movmenos sndcas. A fragzação dos rabahadores nesse ambene de nsabdade e desreguamenação do mercado é desfavoráve a manfesações de voênca no rabaho. Canera, Cervanes e Rbas (2008) desenvoveram pesqusa com proissonas da área da saúde na Espanha (Caaunha) e chegaram à consaação aarmane de que enre 18.500 proissonas de cenros sanáros 846 dees (4.5%) denicaram ncdenes nos quas se percebam vmas de voênca nos ocas de rabaho nos úmos dos anos. E os casos de voênca pscoógca apresenaram uma proporção de quaro a cada cnco, o que orna reevane esudar as voêncas smbócas, pscoógcas, enre as quas se ncu o assédo mora no rabaho, e suas consequêncas, objeo dese capuo.
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O assédo mora pode ser ão ango quano o rabaho, mas passou a ser denicado como a no ina do sécuo XX, quando o aemão Henz Leymann desenvoveu as prmeras pesqusas e denicou ceras ocorrêncas perssenes que caracerzavam a exsênca do pscoerror (Vara, 2003). O assédo mora se caracerza pea exposção frequene e repeva de rabahadores a suações vexaóras, consrangedoras e humhanes durane o exercco de sua função e pode haver dicudade de reconhecê-as como voênca quando esão dsfarçadas como brncaderas (Heoan, 2004). Para Hrgoyen (2002, p. 65), ponera na uzação do ermo, Assédo mora é oda e quaquer condua abusva manfesando-se, sobreudo por comporamenos, paavras, aos, gesos, escros que possam razer danos à personadade, à dgndade ou à negrdade ísca ou psquca de uma pessoa, pôr em pergo seu emprego ou degradar o ambene de rabaho.
Barreo (2006) conceua o assédo mora no rabaho como a exposção dos rabahadores a suações humhanes e consrangedoras, repevas e proongadas durane a jornada de rabaho e no exercco de suas funções, sendo mas comuns em reações herárqucas auoráras e assmércas. O objevo com o assédo é angr o ouro, romper com a sua esabdade, exporar o seu psqusmo de forma perversa (Barreo, 2003). Freas, Heoan e Barreo (2008, p. 37) conceuam assédo mora como
uma condua abusva, nencona, frequene e repeda, que ocorre no ambene de rabaho e que vsa dmnur, humhar, vexar, consranger, desquaicar e demor psqucamene um ndvduo ou um grupo, degradando as suas condções de rabaho, angndo a sua dgndade e coocando em rsco a sua negrdade pessoa e proissona.
Para deinr e denicar operaconamene o probema, Hrgoyen (2005) apona como prncpas prácas de assédo mora no rabaho as apresenadas em sequênca, desde as ações mas sus e díces de denicar aé as mas evdenes: (a) deeroração proposa das condções de rabaho; (b) soameno e recusa de comuncação; (c) aenado conra a dgndade e (d) voênca verba, ísca ou sexua. Essas prácas podem ser mas bem deahadas como apresenado no quadro a segur.
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Quadro 1. Atudes hoss representavas das prácas de assédo mora • •
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Deteroração proposta
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das condções de trabaho
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Isoamento e recusa de comuncação
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Rerar da vma a auonoma; Não he ransmr mas as nformações úes para a reazação de arefas; Conesar ssemacamene odas as suas decsões; Crcar seu rabaho de forma njusa ou exagerada; Prvá-a do acesso aos nsrumenos de rabaho: eefone, fax, compuador...; Rerar o rabaho que normamene he compee; Dar-he permanenemene novas arefas; Arbur-he proposa e ssemacamene arefas nferores às suas compeêncas; Arbur-he proposa e ssemacamene arefas superores às suas compeêncas; Pressoná-a para que não faça vaer seus dreos (féras, horáros, prêmos); Agr de modo a mpedr que obenha promoção; Arbur à vma, conra a vonade dea, rabahos pergosos; Arbur à vma arefas ncompaves com sua saúde; Causar danos em seu oca de rabaho; Dar-he deberadamene nsruções mpossves de execuar; Não evar em cona recomendações de ordem médca ndcadas peo médco do rabaho; Induzr a vma ao erro. A vma é nerrompda consanemene; Superores herárqucos ou coegas não daogam com a vma; A comuncação com ea é uncamene por escro; Recusam odo conao com ea, mesmo o vsua; É posa separada dos ouros; Ignoram sua presença, drgndo-se apenas aos ouros; Probem os coegas de he faar; Já não a dexam faar com nnguém; A dreção recusa quaquer peddo de enrevsa.
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
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Atentado contra a
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dgndade • • •
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Voênca
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verba, ísca ou sexua
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Uzam nsnuações desdenhosas para quaicá-a; Fazem gesos de desprezo dane dea (suspros, ohares desdenhosos, evanar de ombros...); É desacredada dane dos coegas, superores ou subordnados; Espaham rumores a seu respeo; Arbuem-he probemas pscoógcos (dzem que é doene mena); Zombam de suas deicêncas íscas ou de seu aspeco ísco, é mada ou carcaurada; Crcam sua vda prvada; Zombam de suas orgens ou de sua naconadade; Impcam com suas crenças regosas ou convcções pocas; Arbuem-he arefas humhanes; É njurada com ermos obscenos ou degradanes. Ameaças de voênca fsca; Agrdem-na iscamene, mesmo que de eve, é empurrada, fecham-he a pora na cara; Faam com ea aos gros; Invadem sua vda prvada com gações eefôncas ou caras; Seguem-na na rua, é esponada dane do domco; Fazem esragos em seu auomóve; É assedada ou agredda sexuamene (gesos ou proposas); Não evam em cona seus probemas de saúde.
Fone: Adapado de Hrgoyen (2005, pp. 108-109).
A ocorrênca de uma dessas suações soadamene não caracerza o assédo e há, porano, aguns créros fundamenas para ser denicado como a, especamene com reação à duração, frequênca e ao caráer processua (Leymann, 1990, 1996). A frequênca e a duração, segundo Leymann (1996), remeem a ocorrêncas, no mnmo, uma vez por semana e perssenes por, peo menos, ses meses. No enano, a deinção mnma não é auamene um parâmero para arbur se uma
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suação é assédo ou não é. O fao é que o assédo mora é uma voênca repeva e frequene; sendo que ações soadas não se coniguram como assédo, e sm como dano mora. Um aspeco comum nas deinções de auores europeus se refere à dicudade da vma de se defender conra os aos voenos que he são drgdos, remeendo ao desequbro de poder enre o assedado e o assedador (Vara, 2003) e é represenavo do abuso de poder de forma repeda e ssemazada (Aguar & Casro, 2003; Hrgoyen, 2002; Freas, 2001). O assédo ambém apresena um caráer processua, pos evou gradavamene e em uma duração consderáve no decurso do empo, em conrapono a faos soados que coniguram o dano mora (Enarsen, Hoe, Zapf, & Cooper, 2003, 2005). Consderando as suações que caracerzam comporamenos de assédo e o ongo perodo para ser reconhecdo como a, não há como reegar os prejuzos e o ma-esar causados ao rabahador. Ou seja, as consequêncas do assédo mora são dversas e afeam o assedado, a organzação e a socedade, odos sofrendo com seus mpacos. As vvêncas do assédo podem evar graduamene à confusão mena, esresse, senmenos de cupa, soameno soca, aé aerações psqucas mas nensas (Canao & Lma, 2008). Há, anda, ouras reações expressas peo assedado por meo de vergonha, medo, sodão, rava, mágoas, pensamenos recorrenes, dsúrbos pscossomácos (emagrecmenos nensos ou rápdos, aumenos de peso), dsúrbos endócrnos e dgesvos, baxa auoesma, crse de dendade e depressão (Freas e a., 2008), generazação da ansedade, bem como faa de concenração e de memóra (Rendon, 2005). Também foram denicados: nqueude, senmeno de desamparo (Enarsen & Hoe, 2008), o burnout e aé o exremo esgoameno que eva ao sucdo (Barreo & Venco, 2011). Quando a saúde ica compromeda, muas vezes a condção de recuperação ica muo díc. O assédo mpaca foremene sobre a pessoa e muas vezes “a vda perde o sendo e ee sofre de cupa e vergonha. ... em uma avaação negava de s mesmo e perguna-se consanemene ‘o que iz’, ‘onde erre’” (Freas e a., 2008, p. 73). Garca e Tofo (2011) consderam que o assedado experenca um grande paradoxo que é, por um ado, er sofrdo voênca e, por ouro, senr-se cupado e com vergonha, o que he faz formuar pergunas sobre os seus possves erros.
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Em pesqusa reazada com 494 muheres e 376 homens, vmas de agressões e humhações no ambene de rabaho, Barreo (2006) consaou como cada gênero reage: enre as muheres, predomnam medo exagerado, mágoas e vonade consane de chorar, enquano enre os homens pesqusados houve baxos ndces nesas consequêncas, mas apresenaram comporamenos mas agressvos e nensos se comparado às vmas do sexo femnno (rava, vonade de vngar-se, senmeno de revoa, pensamenos de sucdo, vergonha dos ihos, ndgnação). Para Freas e a. (2008), faar sobre as consequêncas do assédo na saúde mpca pensar nos danos psqucos que possam exsr. o modo de vver, senr e pensar a exsênca aneror e poseror à voênca sofrda aua de forma a poencazar ou não a recuperação do ndvduo. Quando ocorre o conráro, o ndvduo maném, e mesmo aprofunda, os pensamenos rses e recorrenes, apesar do esforço manfeso para se vrar dees e se curar. As emoções podem ser ano a expressão de poênca de agr como a de padecer. Seu movmeno de airmação ou de negação é consane, expressando deas adequadas ou nadequadas e propcando a passagem da saúde à doença. (Freas e a., 2008, p. 73)
No âmbo organzacona, o assédo pode razer mpcações, como as apresenadas por Hoe, Sparks e Cooper (2001), que são: absenesmo; roavdade de pessoa (turnover ) e cusos de reposção; redução da produvdade e desempenho; perda de equpameno e produção; queda na quadade do rabaho; erros e acdenes; perda de habdades; enfraquecmeno da adesão ao projeo organzacona; aumeno dos cusos devdo ao absenesmo; aposenadoras premauras; redução da aravdade de aenos no mercado em vrude da exposção negava do nome da organzação; evenua redução do vaor da marca, enre ouros. Os rabahadores esperam rabahar em um ambene saudáve e com raameno respeoso. Porém, muas vezes o “comporameno organzacona” exge demas dos seus funconáros, cobrando resuados e comporamenos que exrapoam o me da éca e dos vaores ndvduas (Nunes & Tofo, 2012a). Nesse conexo, os auores airmam que as organzações seguem a e do mercado, sem quesonar méodos e ações uzadas por seus funconáros para acançar os objevos inas, conforme uma raconadade nsrumena de condua.
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As consequêncas no âmbo soca, segundo D Marno, Hoe e Cooper (2003), se referem a: cusos do absenesmo devdo a doenças de ongo prazo; aposenadora precoce devdo a aguma doença; desemprego ongo e dependênca de auxo-doença; perda premaura e não panejada de produvdade; e ransferênca dos cusos do raameno dos assedados para a fama e para os amgos. O assédo mora repercue na saúde do rabahador, no seu desempenho e no ambene de rabaho, na vda pessoa, aém de afear as organzações e ambém a socedade. Logo, essa voênca deve ser consderada como um fenômeno compexo e que pode desrur a vda das vmas e compromeer aquees que esão próxmos. Percurso metodoógco das pesqusas
Os coneúdos que serão apresenados são pare de duas pesqusas sobre percepção de ocorrênca do assédo mora e que denicaram consequêncas do assédo mora no rabaho. As pesqusas são cassicadas como descrvas, com uma abordagem quaava. A pesqusa descrva em como objevo prncpa a descrção das caracerscas de deermnada popuação ou fenômeno, ou, aém dsso, o esabeecmeno de reações enre varáves (G, 2007). Ea procura conhecer a readade esudada, bem como suas caracerscas e probemas. Nesse sendo, o presene rabaho caracerzou as consequêncas do assédo mora no rabaho na percepção dos rabahadores assedados. Os enrevsados das pesqusas foram escohdos enre vounáros que acearam parcpar, no caso da pesqusa com rabahadores que denuncaram ocorrêncas de assédo mora na SRTE/MTE/SC, e ambém enre os servdores docenes e écnco-admnsravos em educação de uma unversdade federa. Para a reazação das pesqusas, os projeos foram submedos ao comê de éca de Pesqusa com Seres Humanos da Unversdade Federa de Sana Caarna e foram consderados odos os procedmenos reavos ao sgo e consenmeno vre e escarecdo dos parcpanes. O nsrumeno de pesqusa uzado fo um roero de enrevsas que ncua uma quesão abera sobre as consequêncas do assédo no
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rabaho para a vda do ndvduo. Na pesqusa reazada na unversdade ambém uzou-se um quesonáro. As verbazações foram gravadas, ranscras e, poserormene, eaboradas marzes que permram denicar caegoras comuns, bem como resposas snguares. As consequêncas apresenadas peos pesqusados foram cassicadas em rês caegoras ou núceos de sgnicação (Aguar & Ozea, 2006): consequêncas para a saúde do rabahador, para as avdades na organzação e para a vda pessoa. Poserormene, foram anasados os coneúdos por compeo, por meo da anáse de coneúdo, a qua, conforme Bardn (2010), se caracerza como um conjuno de écncas das resposas que em por objevo ober ndcadores a parr de procedmenos ssemácos e objevos de descrção do coneúdo das mensagens para a dedução de conhecmenos referenes às condções da geração desas mensagens. Apresentação dos resutados
Apresenamos as verbazações mas represenavas do conjuno de rabahadores pesqusados, no que ange a consequêncas do assédo mora no rabaho, e que conempa sgnicações reavas à saúde e à vda do rabahador, e a consequêncas para o rabaho/organzação. Consequêncas para a saúde do trabahador
Os prncpas efeos do assédo na saúde do rabahador foram probemas íscos, dores de cabeça, esresse, desânmo, desmovação, soameno, depressão e dsúrbos. A verbazação a segur demonsra aguns dos coneúdos que ambém são cados por ouros parcpanes: Aém de eu não ter vontade de vr ao trabaho, de eu chegar no trabaho aqu e a cada momento que eu entro aqu na saa eu vá me senr ma. Ontem, por exempo, terça-fera eu chore muto váras vezes quando chegue em casa. Eu ico desmovada pra fazer outras cosas, eu tenho vontade de argar o trabaho. Hoje estou com o estomago já, ontem ve muta dor de cabeça, tenho as dores íscas em função das emoconas. Já passou pra ísco, competamente. Tanto é que eu já fu ao médco pra ver a questão de estomago e ta, e ee faou que sso era emocona, eu já ouv sso de um médco que era emocona. O tratamento já não é mas eu tomar aguma
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cosa que não va me resover. Então ontem eu ique com dor de cabeça o da ntero, terça-fera, ontem, hoje, tome remédos, dor no estômago. E sso é o que eu vejo que é muto comum sabe? Eu vou pra reunão eu tomo remédo, porque eu se que na reunão já va ter um desgaste, sempre acontece um desgaste. (E10)
As consequêncas do assédo na saúde do rabahador podem ser ddacamene caegorzadas em dos aspecos: efeos à saúde ísca e efeos à saúde psquca. O exempo demonsra que geramene não há como separar essas caegoras quando se consdera o rabahador como um ser bopscossoca, que va reagr por meo de manfesações pscossomácas. Para Hrgoyen (2005) os dsúrbos pscossomácos são muo mas frequenes nos casos de assédo e ogo de nco são raados por auomedcação e depos por cncos geras, que prescrevem um raameno snomáco. Com a evoução da voênca, os dsúrbos pscossomácos endem a ascender ao prmero pano. O desenvovmeno dos dsúrbos pscossomácos é grave e de crescmeno muo rápdo, o que mpressona. Há váras formas de aconecer, sendo predomnanes nos parcpanes da pesqusa os dsúrbos dgesvos. Os efeos psqucos ambém esão bem represenados na verbazação, com desaque para a desmovação, a percepção de ma esar e o desgase emocona, reerados por mas de um médco. O assédo mora, quando proongado, pode progredr para um esado depressvo mas grave (Hrgoyen, 2002), que enha começado com um esado de desânmo, como reaado pea enrevsada 10. A vma do assédo, muas vezes, apresena apaa, rseza, compexo de cupa, obsessão e aé desneresse por seus própros vaores. É mporane esar aeno aos esados depressvos, porque o rsco de sucdo é grave (Hrgoyen, 2002). Quando o esado de saúde/doença ica mas grave podem ocorrer suações como as segunes: eu estou fazendo um tratamento com psquatra e com grupo terapêu co porque reamente sso me abateu de uma forma na mnha vda, tanto pessoa como proissona. De quesonamento mesmo, das mnhas com petêncas e mtações [choro]. Isso me fez quesonar, eu estou bastante
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mtada a me envover num foco de trabaho novamente. ... Eu não estou consegundo! (E9) eu pense ou eu vou jogar ee da janea, ou da escada, ou eu vou me matar! Eu tava decdda! ... eu tava tomando Rvotr e nesse da eu tome dez. ... eu icava em casa ma, eu nha pesadeo com ee, até hoje eu tenho nsôna, eu passo notes e notes em caro [choro]. A mnha vda vrou um nferno. (P4)
Por se raar de voênca predomnanemene pscoógca, muas vezes o assedado somene procura ajuda erapêuca com psquara para reduzr os efeos deeéros do assédo. A medcazação orna-se a forma possve de avar a dor vvencada de forma basane soára, mas não raz a eaboração do probema e nem o avo do sofrmeno psquco. Por ouro ado, as erapas pscoógcas podem conrbur de formas mas efeva na busca do reorno à saúde, bem como a denicação de esraégas de enfrenameno adequadas. As deações sucdas ou a nerrupção da vda assocadas a suações de rabaho esão sendo denicadas cada vez em maor número (Barreo & Venco, 2011). Esa soução deinva parece esar reaconada ao fao de que o assedado muas vezes desse de ser enenddo frene às voêncas sus e perversas e sua capacdade de resênca se esgoa. A more se mosra como o camnho para cessar o sofrmeno (Dejours, 2007), uma denúnca exremamene fore e, novamene, como no assédo, vvda de modo predomnanemene soáro. Consequêncas para a vda pessoa do assedado
O assédo que ocorre no conexo das organzações não resrnge suas consequêncas ao ambene ísco. A vma permanece com o probema he algndo nas mas dversas crcunsâncas e em város ambenes, especamene na fama. Um dos parcpanes, com sua pscodnâmca de saúde basane compromeda, compareceu à enrevsa acompanhado de sua esposa e reaou que se sena cupado pea “ fata de ânmo para vver”, pos, com a suação, hava desaponado sua fama (esposa e iha) e, ao descrever a sgnicação de sua vvênca do assédo reaa que “ A únca cosa que eu tenho é sso [choro]. Vontade de chorar, de não sar de casa. Eu nunca iz sso na frente da mnha esposa.” (P1)
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Muas consequêncas para a vda pessoa do assedado remeem à reação com a fama. Segundo Luna (2003, cado por Bradascha, 2007, p. 98) os famares geramene sofrem juno com o assedado, pos o comporameno da vma muda subsancamene, podendo se ornar mas agressvo, rrado e aé mesmo depressvo. Assm, Bradascha (2007, p. 98) compemena que “a coesão famar é prejudcada, pos a vma acaba perdendo seu neresse peos projeos da fama e se desvencha das responsabdades e compromssos famares codanos”. Nos reaos dos parcpanes desa pesqusa, foram desacadas, mas dreamene, vvêncas de assédo mora afeando as reações famares e de amzades, no convvo que o sujeo em fora do ambene de rabaho. Essas quesões devem ser avaadas e reledas com reação aos efeos negavos do assédo mora no nve soca e que abrangem muos aspecos, não somene os que foram exposos peos parcpanes desa pesqusa, como evdencam Freas e a. (2008, p. 43), ao exporem que “o nve soca em sdo pracamene gnorado, apesar de que odos numa socedade êm um preço a pagar quando se massacram ndvduos pea práca de assédo”. Consequêncas para a organzação/trabaho
As consequêncas mas frequenes para a organzação e/ou para o rabaho da vma, da maor para a menor, foram: dfcudades no ambene abora, vonade de se aposenar/desgar da nsução e ameaças de mudança de seor. Impedmento de reazação de agumas de mnhas atrbuções para atrapahar o meu desempenho. (P4) Aunos cancearam uma dscpna comgo, pos o orentador os probu. Apesar da mnha quaicação e produvdade fu excudo do programa de pós-graduação sem nenhuma satsfação ou justfcatva. (E174) Vontade de pedr exoneração e abandonar o trabaho. (E145) Soctação de desgamento da nstução. (E263)
As resposas apresenadas acma permem demonsrar que a voênca pscoógca em relexos na organzação e que eses podem com-
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promeer o desempenho no rabaho e aé mesmo mpedr a auação proissona de um docene com reconhecda produção acadêmca. Nesse sendo, Heoan (2005) aborda que os assedados dexaram de ser vsos como parcpanes de grupos vuneráves socamene, o que ndca uma democrazação do assédo. Há ambém as suações não gerdas pea organzação e que se voam conra ea, como é o caso do parcpane E145, que gosara de abandonar a organzação (e provavemene esá nsasfeo e desmovado no rabaho) e o caso de socação de desgameno. A demssão, no caso cado, parece uma cara demonsração do rabahador de que em possbdade de uma úma escoha, qua seja: sar da organzação. Freas e a. (2008) denicam dversos efeos negavos do assédo no nve organzacona, vericando a conrbução para a eevação de absenesmo e do turnover, com cusos de reposção, a queda de produvdade dane do mora do grupo e a quadade do cma de rabaho, aém da desmovação nerna por conágo e enfraquecmeno da adesão ao projeo organzacona. Consderações inas
O assédo mora assocado ao rabaho pode ser denicado por meo de dversos “comporamenos negavos” de deeroração das condções de rabaho, soameno e recusa de comuncação com as vmas, aenado conra a dgndade e voêncas íscas, verbas ou sexuas. Embora seja abordado e denicado predomnanemene como um fenômeno negavo que se verica nas reações nerpessoas, não se reduz a ano, podendo ser resuane de prácas de gesão organzacona e de ambenes na socedade que esmuam o acance de resuados a quaquer cuso, mesmo que seja o da dgndade do rabahador. As consequêncas do assédo ambém podem ser denicadas ano para o sujeo quano para a organzação e para a socedade. O sujeo sofre com os consrangmenos, as humhações e desquaicações e sso ende a aerar a sua condção de saúde, pensada como um processo de busca consane de equbro (Dejours, 2007) enre saúde e doença. O sofrmeno pode se expressar por nadapações, dicudade na denicação de sendos nas avdades de rabaho, dicudades de concenração, ansedades, medos, rração, esresse, depressão, burnout, aé o exremo do sucdo. As organzações nas quas o assédo ocorre geramene pos-
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suem ndces eevados de turnover , absenesmo, afasamenos do rabaho, acdenes e redução da produvdade e da quadade dos produos e servços. Na socedade, o assédo pode, sencosamene, esar mas expresso em eevados ndcadores de acdenes de rabaho, ncapacação precoce de proissonas, aumeno de despesas médcas e de beneícos prevdencáros, sucdos, aposenadoras precoces, desesruuração famar e soca das vmas, perda do nvesmeno soca feo em educação e formação proissona, cuso do poenca produvo do proissona afasado por nvadez e redução da capacdade produva de rabahadores, o que orna a quesão do assédo reaconada à saúde púbca. Conforme airmam Freas e a. (2008), o pagameno de cada proissona ncapaz para o rabaho é feo por odas pessoas dessa socedade. As prncpas descoberas com base nos sujeos da pesqusa reeram os graves relexos das suações de assédo no rabaho na saúde do rabahador. Infezmene, a medcazação por meo de pscorópcos se mosra sgnicava, o que ndca que as esraégas coevas de enfrenameno do probema esão ausenes e dexam o assedado soznho, como “dono fado do seu própro desno”. Da perspecva das organzações pesqusadas, se observa um grande conrassenso, pos a ação de soar o assedado pode supanar o objevo de eicênca e eicáca organzacona, ão propaado pea gesão quando ocorrem suações de dexar o rabahador sem avdades ou naqueas nas quas ica subuzado. Se concordarmos com a posção de Freas e a. (2008) o assédo mora é uma quesão organzacona devdo à neggênca e omssão nsucona frene a comporamenos que o orgnam e porque ocorre na e sob a observação da gesão (Nunes, 2011; Nunes & Tofo, 2012b). Também é um grande paradoxo, do pono de vsa de uma socedade baseada no capa, pos se espera que comporamenos que nerferem nos resuados esperados na reação capa-rabaho sejam enfacamene combados. Prevenr e combaer o assédo mora no rabaho, em suas váras nsâncas e consequêncas, mosra-se, enão, como um desaio para a práca dos proissonas que se baseam em uma perspecva soca. Referêncas
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Pscooga Soca do Trabaho e Educação: uma dscussão a parr da teratura espanhoa recente Moacir Fernando Viegas
Introdução 1
A revsão eórca apresenada nese rabaho em como pono de parda nosso neresse em buscar subsdos para a compreensão dos fenômenos educaconas que ocorrem nas reações de produção denro das empresas. Pensamos ser essa uma ncava desaiadora, dadas as formas como se coniguram as prácas, que em gera dferencam-se das prácas pedagógcas escoares, que se caracerzam pea formazação. Enre as dversas cêncas socas que se ocupam dos fenômenos vvencados nas reações de produção, ocupa ugar de desaque a pscooga e, denro dea, a pscooga do rabaho. A crescene presença da pscooga nas reações de produção esá reaconada, no nosso enender, com o novo sgnicado que as prácas educavas nas reações de produção adqurem na economa nformacona. O novo paradgma produvo naugura oura forma de reação enre a objevdade e a subjevdade no rabaho. Ta reação, que anes esava muo mas “na cabeça” dos rabahadores, emerge para a ação e passa a ser objeo de apreensão dos capasas, ocupando um ugar cenra no aumeno da produvdade. Ouro aspeco que confere o sendo da presença da pscooga nas reações de produção é o sgnicado que a saúde possu hoje nas mesmas. Embora os rabahadores sempre vessem probemas de saúde, não apenas íscos, desde há empo, esá caro que o processo de adoecmeno no rabaho em auamene componenes muo mas subjevos, na medda em que a exporação da força de rabaho cenra-se cada vez mas nesses úmos. 1
O presene exo é pare negrane do reaóro de eságo pós-douora e conou com o apoo da CAPES.
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Como airmam Banch e Canera, O rabaho precáro consu um probema de saúde púbca e de vunerabdade soca de prmera ordem, que compora para quem o vve uma crse de dendade proissona, de mpcação com o emprego, de conrao pscoógco e de compromsso organzacona, aém de aas doses de ma esar e nsasfação pea ncereza e nsegurdade no emprego e especamene uma grande dicudade de panicação da carrera proissona e famar. (2008, p. 10, radução do auor)
Cando nformes da Agenca Europea de a Saud y de a Segurdad en e Trabajo e da Encuesa Europea sobre Condcones de Vda y de Trabajo, os auores airmam que, apesar das númeras ncavas mpemenadas para combaer os probemas de saúde pscossocas no rabaho, a suação não mehorou. O stress segue ocupando o segundo ugar enre os faores que causam mpaco negavo nas condções de rabaho, segudo de pero peo burnout (p. 77, radução do auor). Em nve soca mas ampo, mas que, sem dúvda, sofre nluênca da readade do rabaho, o Consejo Genera de Coegos Oicaes de Pscóogos da Espanha airma que a depressão consu, auamene, o desaio mas mporane a nve munda, sendo o movo de consua “mas frequene nos servços de Aenção Prmára, - suação que em se agravado com a aua crse econômca -, e, aém dsso, raa-se do probema de saúde mas ncapacane a nve munda, acma de quaquer enfermdade ísca” (INFOCOP, 2011, p. 1, radução do auor). Aém de prever-se um aumeno dos ransornos menas, airma-se que ees consuem 13% do oa de enfermdades do mundo, acma do câncer e dos ransornos cardovascuares. Com a ransferênca da exporação do saber manua para o saber neecua e, como as exgêncas são sempre maores do que uma boa saúde aguena, as doenças ambém se ransferram da área ísca para a mena. Na Espanha, pas que enfrena fore crse soca, a dmnução do emprego no seor ndusra e o aumeno no seor de servços foram acompanhados pea dmnução das esões por acdenes de rabaho, mas comuns aé enão, de um ado, e peo aumeno dos “ransornos menas e múscuo-esqueécos”, de ouro (Moreno, Garca, Vadeha, & Daz, 2008, p. 116, radução do auor).
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Dscundo o conexo aua de rabaho precáro em que vvemos, Banch e Ochoa (2012) quesonam se é o mesmo rabahar endo boas condções de empo para reazação da avdade e meos para execuá-a bem e com adequadas prevenções de rscos, com um saáro dgno, que reazar a mesma avdade sob pressão consane do empo, faa de recursos maeras, em condções de ao rsco para a saúde e de mséra saara e conraua. Auores como Peró e Rpo airmam que a crescene mporânca da pscooga do rabaho no rabaho em a ver com o crescmeno dos servços (Peró & Rpo, 1999). É mporane embrar a compreensão de auores como Zarian (1999), para quem mesmo a ndúsra ende a funconar hoje cada vez mas como um servço, seor em que, por suas caracerscas, as capacdades subjevas são mas exgdas. Apesar desse crescene neresse da pscooga peas prácas nas reações de produção, noamos que sua presença nas dscussões sobre educação e rabaho é bem pouco sgnicava, sso consderando o âmbo das úmas cnco reunões da Assocação Nacona de Pesqusa e Pós-Graduação em Educação (Anped) e as pubcações das revsas de qualis A1 e A2. A presene revsão de eraura segue esudos que vmos reazando sobre as caegoras de casse, cuura e formação dos rabahadores, num esforço de compreender as prácas educavas dos rabahadores nas reações de produção. Esudos na área da educação, parcuarmene no âmbo do exo Trabaho e Educação, da Anped, vêm buscando compreender mehor esse fenômeno. Enendemos que a apreensão dessas prácas educavas depende de um esudo nerdscpnar que ncorpore áreas do conhecmeno, como a saúde e a iosoia. Nosso objevo é apresenar as conrbuções recenes da pscooga do rabaho, produzdas pea eraura espanhoa, reazando a dscussão a parr de uma perspecva crca, consderando o conexo de reesruuração e crse da socedade européa. Enre ouros, nos dedcamos prncpamene aos esudos de De La Hera, Marnez Íñgo e Rodrguez Mazo, 2004; Banch (2008, 2009 e 2012) e Saanova (2010). No exo, após suarmos a aua pscooga do rabaho na Espanha, desacamos dos campos que, no nosso enender, apresenam mporanes conrbuções para a educação: o conrao pscoógco e a pscooga posva. Consderamos que se raa de uma prmera aproxmação dessa eraura e, porano, 174
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não preende, evdenemene, abranger oda a produção acadêmca da área na readade nvesgada. Mudanças no trabaho e subjevdade vstas pea área da pscooga do trabaho na Espanha: O ugar do trabaho na pscooga do trabaho
Como não podera ser dferene, dada sua própra denomnação, a pscooga do rabaho 2 vê a caegora rabaho como a mas mporane em seus esudos. Para Banch (2012), o rabaho consu, na moderndade capasa, uma caracersca fundamena da cvzação, não mada pea economa, consundo-se, aém dsso, “um modo de produção da vda soca, poca, cuura e pscoógca” (p. 31, radução do auor). Segundo De La Hera, Marnez Íñgo, Rodrguez Mazo e Domngues Bbao (2004), “a cenradade do rabaho consu o núceo axoógco do sgnicado de rabahar” (p. 15, radução do auor), o que muda conforme os dferenes conexos hsórcos. Acrescenam que as nvesgações da pscooga do rabaho reveam que as pessoas cosumam senr-se bem peo fao de rabaharem, ndependenemene do grau de sasfação que concreamene expermenam. Como airmam Harey e Sephenson (2002), As reações de rabaho êm um componene rreduvemene pscoógco. Poso que as reações de rabaho consuam uma forma de reações socas, as crenças, as percepções, as audes, os vaores, as expecavas e as conduas dos ndvduos e dos grupos consuem um componene negra de sua anáse. A Pscooga pode conrbur de um modo mporane para a compreensão da eora e da práca de Reações de Trabaho proporconando uma anáse a esse nve. Aém dsso, a Pscooga organzava fornece eoras, conceos e nvesgação que êm que ver com a condua nos marcos organzavo, e com as própras organzações como undade de anáse. (cado por Beéndez3, p. 4, radução do auor) 2
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Não gnoramos a dscussão exsene quano às váras denomnações que recebem os campos da pscooga que esudam o rabaho. Porém, não é nosso objevo enrar nessa probemáca. A uo de escarecmeno, airmamos que os prncpas auores com os quas rabahamos denicam-se com o que, no Bras, chama-se pscooga soca do rabaho. A exceção é Saanova (2010), a qua se sua num campo que, a nosso ver, denica-se mas com os anseos das organzações. Beéndez, M. (2002). Aportacones de a pscooga soca y de a pscooga de trabajo y de as organzacones a campo de as reacones aboraes [mmeo]. Unversdad de Acane.
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Podemos airmar que, denre as dferenes concepções da pscooga do rabaho, predomna a compreensão de que as reações de rabaho são caracerzadas peo conlo. Para De La Hera e a., por exempo, o rabaho é o resuado de “processos de neração, de nercâmbo, de nerpreação, de negocação e acordos a propóso de crenças e de vaores desenvovdos permanenemene enre os seres humanos, que consroem essas readades” (2004, p. 15, radução do auor). Conforme os auores, a dmensão pscossoca que o rabaho possu resua em sua cenradade no esabeecmeno da dendade pessoa e soca, conrbundo decsvamene para a auopercepção que os sujeos êm de s mesmos. Dessa manera, o rabaho (ou a ausênca dee) é o “exo cenra que arcua e esruura (ou desarcua e desesruura) a vda das pessoas e ncusve as socedades em seu conjuno” (p. 269, radução do auor). Como a pscooga do trabaho na Espanha vê a atua crse do trabaho
De La Hera e a. (2004) arbuem as mudanças que hoje se desenvovem na pscooga do rabaho ao po de paco soca experencado, no qua se percebem, enre ouros aspecos, uma ransformação da segurança, em ongo prazo, em nsegurança; um cenáro de emprego esruuráve e predzve em um cenáro de emprego lexve e ambguo; uma carrera proissona drgda pea empresa e uma drgda peo rabahador, de coniança e nvesmeno múuos para escassa coniança e muo cnsmo. Numa abordagem que enendemos soca e crca, esses auores consderam que a precarzação aua do rabaho resua ou poencaza a “desguadade, a desesabzação, a desesruuração, a duazação e a excusão” (2004, p. 74, radução do auor), dferencando os rabahadores que possuem um bom rabaho e os demas, coocados em dferenes graus de rabaho precáro. O fao de se esar rabahando, hoje, não sgnica a sada da nsabdade, já que a aernava que auamene os governos mpõem como soução ao desemprego é a “precaredade massva”. Os auores concuem airmando que a crescene precarzação no rabaho cooca cada vez mas ndvduos em suações de ncereza, de vunerabdade, de rsco, “que obrgam a vver a cada da e que dicuam quando não mpedem o panejameno de projeos vas em ongo prazo, o esabeecmeno de vncuos fores e a coniança, a eadade e o
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compromsso nerpessoas e socas” (p. 74). Anasando o fenômeno do desemprego como um aspeco da “cuura do rabaho”, Banch (2012) apona uma sére de dsfunções por ee causadas, denre os quas desacamos: desorganzação do empo codano, soameno e não comuncação, vunerabdade soca, moradade pessoa e nudade soca percebda, déic de papés, esaus, poder, presgo, reconhecmeno e dendade socas, deeroração das compeêncas proissonas e nvabdade do desenvovmeno de panos de rabaho, desarcuação de projeos pessoas, proissonas e organzaconas, evasão do desemprego para parasos aricas, para o ácoo, abaco, fármacos e ouras drogas, depressão, desneresse, desesperança e desmorazação, ncereza, pessmsmo e desconcero exsencas, senmenos de fracasso, frusração, ressenmeno e hosdade, conscênca de njusça, nsegurança e ndefesa, auomagem, auoavaação, auoesma e auoeicáca negavas, ec. (p. 47, radução do auor)
Como resuado, Banch (2007, p. 30, radução do auor) airma que udo sso resua em “aumeno da axa de acdenes de rabaho no rabalho subcontratado, ... deeroração da dendade proissona, ... dmnução da quadade no rabaho e ... permanene ameaça peo fanasma da demssão”. Muo em se faado - e as produções cenicas da área de educação e rabaho ambém são esemunhas dsso - sobre o que aguns chamam de subjevação da experênca abora, advnda dos novos padrões de reações socas produvas. Ta nerpreação remee à necessdade de enendmeno dos aspecos pscossocas envovdos nessas mudanças, em oposção ao perodo ayorsa-fordsa, cuja esabdade (paco soca) gerava asprações e expecavas “cenradas em uma vda sgnicava e normazada, desenvovda no seo de uma socedade saara e verebrada por um poso, um conrao, um saáro, uma empresa, uma proissão, uma carrera e um ssema de reações de rabaho esáves”. Nesse conexo, o rabaho, aém de suseno maera, era a prncpa fone de sgnicado e sendo, de “emancpação e aenação, de esruuração pscoógca, soca e cuura” (Banch & Canera, 2008, p. 94, radução do auor). No capasmo lexve ocorre uma “mudança da subjevação da experênca de rabaho e do sendo e vaor conferdo” ao mesmo (Banch & Canera, 2008, p. 90, radução do auor). O auor uza o ermo subjevação num sendo descrvo e eórco. O prmero sendo esara gado ao
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uso comum do ermo e sgnica nernazação, “apropração ou meabozação relexva do mundo exerno por pare de um sujeo agene medane a ransformação de condções, readades e reações socas objevas em conscênca e experênca pessoas” (p. 91, radução do auor). Para enender o segundo sendo, recorre a Ahusser, segundo o qua “cada modo de produção carrega seu própro modo de subjevação (sujeção ou sujeação) especico: em função do que uma esruura soca marcada pea dvsão enre os que êm e podem e os que nem êm e nem podem esá ambém pea reação de sujeadores e sujeados” (p. 91). Uma mporane caracersca do processo de subjevação na economa nformacona é a ndvduazação das responsabdades. Frene à nsegurança e ncereza, cada um deve gerr seu rsco (conra a gesão do rsco peo paco soca presene no wefare), “assumndo as consequêncas ndvduas de suas escohas ndvduas” (p. 91). Anda segundo Banch, a subjevação da experênca abora e da mudança de sendo no rabaho esá gada à caracersca lexve do capasmo em nossos das, acompanhada da reorganzação ecnoógca e deoógca do rabaho. A lexbdade ranscende a organzação do rabaho e ange ambém as bases cuuras do padrão aua de vver e rabahar, conigurando um novo ssema de vncuos, formas e nformas, enre capasas e rabahadores, que abrange faores econômcos, socas, jurdcos e pscoógcos. É mpossve anasar essas quesões sem evar em consderação a caracersca de segmenação da força de rabaho, consderando que sso mpca dferenes formas de conraação, esabdade, precarzação, o que sem dúvda nlu no po de experênca abora dos rabahadores, e que ncu as formas de represenação e subjevação. Banch e Canera (2009) saenam a mporânca de um fenômeno reavamene novo, o “emprego emporáro nvounáro”, ou seja, quando, apesar de buscar um emprego permanene, o rabahador é obrgado a acear um emprego emporáro, e que a experênca num “empo ncero e num espaço nseguro carrega o enfrenameno da mpredzbdade no pano cognvo e da nconroabdade no emocona” (p. 65, radução do auor). Para os auores, Esa suação ocupacona consu o cado de cuvo de um personagem rabahador com peri pós-moderno; so é, de um sujeto déb … com pen -
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sameno debado pea ncereza de seu desno quano ao rabaho, domnado pea perpexdade, o desconcero e a vergem frene o vazo de um mundo que não he oferece mnmas garanas de segurança e, por udo sso, esressado, pessmsa, nsasfeo, desconene, nfez, desmovado e desmpcado com respeo a uma organzação só compromeda com ee durane a vgênca do conrao empora. (2009, p. 65, radução do auor)
Embora seja mpossve conesar a presença da subjevdade nas reações de rabaho, assm como sua crescene mporânca como “ob jeo” das reações de produção, anda há muo por conhecer sobre as formas como ocorrem as reações enre auonoma e heeronoma que perpassam a sua exsênca, ou seja, em que medda há um espaço de expressão auônoma dos rabahadores. Uma pare dessa dscussão desenvove-se no conexo das reações enre rabaho rea e prescro. Para De La Hera e a., a quesão parece muo cara: quando uma pessoa rabaha geramene não se compora só obedecendo a suas caracerscas, endêncas e predsposções pessoas, nem só cumprndo com o prescro no ‘ro’ do poso ou ocupação que desempenha. Se fosse assm, no prmero caso esaramos dane de arsas ou gênos que só respondem a suas nqueudes, neresses e asprações, e no segundo, ane auômaos ou robôs que se mam a execuar o que os ouros programaram para ees. Parece óbvo que a maor pare das pessoas não se compora de aguma das duas maneras em seu rabaho, e sm de muas varáves de combnações do que é e do que são e do que êm que fazer segundo o ‘ro’ que desempenha. (2004, p. 150, radução do auor)
Contrato pscoógco: reguação do trabaho pea pscooga do trabaho
Um dos conceos consderados de grande mporânca para compreender as reações de rabaho pea pscooga do rabaho na Espanha é o de conrao pscoógco. Para Rodrguez, o conrao pscoógco dz respeo aos “compromssos mpcos e expecavas referdas à reação, mas aém do que é expcado no conrao jurdco” (2011, p. 174, radução do auor). O auor airma que o ermo aparece pea prmera vez na eraura das cêncas socas enre inas da década de 1950 e nco da de 1960, sendo Argyrs (1960) o prmero a uzá-o.
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Enre os aspecos que coniguram no conrao pscoógco, Rodrguez (2011) mencona crenças e expecavas ácas a respeo da ascensão funcona, forma de raameno nerpessoa, esabdade, formação, apoos, ec. São aspecos não manfesados, mas que nerferem na forma como os ndvduos percebem as reações e nas formas de condua no rabaho, que se formam num processo que nca na seeção dos funconáros e connua ao ongo de suas avdades no rabaho. Envove uma sére de quesões, como o “preenchmeno”, peo rabahador, de vazos nas nformações recebdas da empresa, a eura de documenos sobre a mesma ou conversando com seus coegas de rabaho. Essa consrução em a ver com o fao de os seres humanos fazerem “represenações da readade e consrurem sgnicados para dar sendo às experêncas vvdas e em sua reação de rabaho” (p. 176, radução do auor). Cada ndvduo consró represenações que êm reação com sua própra hsóra de vda, seus vaores e sua experênca. De La Hera e a. airmam que, à dferença das ransações econômcas, é quase mpossve gerr a reação de rabaho por meo de conraos expcos, escros. Decorre da a uzação da expressão “conrao pscoógco” para dar cona da percepção “de um acordo de nercâmbo mpco (não escro, não formazado) enre o empregador e o empregado” (2004, p. 74, radução do auor). Para os auores, na formação do conrao pscoógco parcpam ano faores organzaconas e socas, as como “mensagens formuadas e ransmdas pea própra organzação e nformações e comuncações procedenes de companheros, superores, ec.”, como ndvduas, que ncuem “caracerscas cognvas e predsposções ou audes, que nluem em que mensagens se recebem e como são nerpreadas” (p. 74). Para Cansano e Domngues, a perspecva de anáse do conrao pscoógco “vem demonsrando de modo crescene sua capacdade expcava dane de dversas suações organzaconas e acumua progressvamene evdênca emprca que a apóa” (2007, p. 369, radução do auor). Os auores cam a mporânca da denicação, enendda como “o sendo de undade e perencmeno das pessoas às suas organzações” (p. 365, radução do auor), pos uma empresa que pode conar com rabahadores denicados conará ambém com maor grau de compromsso e eadade, aém de maor sasfação, menos esresse e, consequenemene, maor
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produvdade. Do ado dos rabahadores, a denicação com a organzação proporcona um ncremeno de sua auoesma e redução da ncereza. De La Hera e a. (2004) cam uma sére de consequêncas reaconadas com o cumprmeno ou não do conrao pscoógco: denicação, compromsso e a coniança na organzação, movação, o caráer e o nve de conlvdade das reações de rabaho, sasfação no rabaho, o absenesmo e as nenções de permanecer ou não na empresa. Os mesmos auores quesonam se no aua quadro de lexbzação das reações de rabaho é possve a formação e o desenvovmeno de conraos pscoógcos. Acredam que a endênca de as empresas enxugarem suas esruuras, reduzndo o número de rabahadores e ncremenar a subconraação e os conraos emporáros, orenando-se por pocas de curo prazo, resua em “voações ou rupuras” dos conraos pscoógcos, dmnundo o compromsso e a coniança, “abandonando-se os faores socoemoconas mpcados na reazação de um rabaho ou no perencmeno a uma organzação e cenrando-se excusvamene nos aspecos da reação de rabaho que maxmzem os beneícos econômcos” (p. 74, radução do auor). Para ees, esá caro que as condções de rabaho auas coaboram com o descenso do compromsso do rabahador com a organzação e que os novos ncenvos de compromsso com a equpe de rabaho ou com um projeo deermnado em que esá auando emporaramene, na readade, evam o rabahador a apegar-se mas ao medao. Concuem que será necessáro ambém faar de conraos pscoógcos mas resros, débes, lexves e precáros. Para De La Hera, Marnez Iñgo e Rodrguez Mazo, nos úmos 15 anos cresceu o neresse peo esudo das reações enre os rabahadores nas empresas, sendo a nvesgação sobre o conrao pscoógco a nha de nvesgação avez de maor ampude. Ees se referem ao conrao pscoógco como um “ssema de percepções e crenças desenvovdas peo empregado e por seu empregador com respeo aos ermos que reguam seu acordo de nercâmbo” (2005, p. 79, radução do auor). Esas crenças se coniguram a parr de faores anerores ao própro emprego (por exempo, vaores, movos), de experêncas dreas no rabaho (prácas de socazação, reações com superores e companheros) e de varáves reaconadas com o conexo soca mas ampo, as como normas e vaores cuuras.
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Airmam ees que uma das prncpas vanagens dos conraos pscoógcos é “reduzr nseguranças e ncerezas e para anecpar nercâmbos fuuros, ajudando com sso os ndvduos e as organzações a sasfazer suas necessdades” (p. 79), na medda em que acordos esabeecdos enre as pares, no caso ambém os acordos ácos, mpcam que suas ações fuuras ornam-se mas prevsves para as pares, “o que faca o panejameno, a coordenação e o rendmeno eicaz, aém da cração de coniança, a qua, por sua vez, engendra a cooperação”. As caracerscas do conrao pscoógco conferem a ee um caráer subjevo, enre ouras cosas, em função das “múpas fones de nformação que nluem na formação, no desenvovmeno e na poenca modicação dos conraos” (p. 79). Anda segundo esses auores, as pesqusas desenvovdas nos úmos anos sobre o conrao pscoógco ndcam a precaredade do rabaho aua. Os resuados das mesmas demonsram a mporânca do faor angudade para a evoução das quesões pernenes ao conrao pscoógco. Quesões como possbdades de ascensão e promoção, aumenos saaras, esabdade, maor auonoma, arefas mas varadas e sgnicavas, dependem do ongo prazo. Ocorre que há uma mudança no que denomnam “marco empora” do conrao pscoógco, que “passa de ser cerrado e especico a ser abero e ndeindo” (p. 14, radução do auor). Os vncuos ornam-se mas fracos “quando as pares percebem que sua reação va er uma cura duração”. Peró e Rpo (1999) comenam que o conrao pscoógco comum da era ndusra connha a crença na esabdade no rabaho proporconada peas empresas e oporundades de promoção em roca de eadade e rabaho duro. Ese aspeco passa a ser quesonado nos modeos de produção lexve. Os auores faam que o fenômeno mas sgnicavo na auadade, em função dessas mudanças, é a rupura do conrao pscoógco, ao menos no que dz respeo a suas caracerscas essencas. O esudo do conrao pscoógco acaba servndo jusamene para demonsrar as mudanças quano às crenças e expecavas dos rabahadores: “enende-se por rupura de um conrao pscoógco a percepção de uma das pares de que a oura fahou no cumprmeno adequado de suas promessas e obrgações” (Peró & Rpo, 1999, p. 171, radução do auor). Saenam anda que o “compromsso organzacona é um dos emas que mas neresse despera na auadade”.
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A rupura do conrao pscoógco conrbu para dmnur os resuados desejáves nas reações enre empresa e rabahadores, as como uma dmnução da sasfação abora, do compromsso organzacona e nas conduas em cdadana. Por ouro ado, aumenam os ndesejáves, como as nenções de abandono e a neggênca nas arefas. Para Tena, o novo conrao pscoógco é mas ransacona que reacona: Aos rabahadores já não se hes ofera rabahos para oda a vda e sm, peo conráro, que ncdem na emporadade; ... o fracasso se vê na exsênca smuânea de um ao grau de eadade por pare dos empregados com suas organzações e a sensação que êm de que o empregador não cumpre com o pacuado; e, ercera, o fracasso do empregador em sasfazer as asprações de parcpação do empregado. (2002, p. 102, radução do auor)
Sa, Graca e Peró (2005) rabaham com a dea de que as empresas passam a esabeecer dferenes pos de conrao pscoógco com dferenes pos de empregados. Ineressane que sso é passado como um reconhecmeno da dversdade e da uma necessdade de esse aspeco ser ncorporado à gesão de recursos humanos: “seguramene a gesão de recursos humanos auas exja o surgmeno de conraos pscoógcos dferencados, ndvduazados e sso mpca que se adequem ao menos às grandes suações aboras exsenes na empresa” (p. 63, radução do auor), como a exsênca de rabahadores permanenes, emporáros e empregados em empo parca. Para ees, o ambene compevo em que vvemos hoje acaba por conigurar um caráer paradoxo: “as empresas são ncapazes de garanr a esabdade em ongo prazo e, smuaneamene, esão exgndo de seus empregados um maor compromsso e um ao nve de rendmeno” (p. 63), o que em resuado no que aguns deinem como um “novo acordo”. Enquano no ango acordo os rabahadores oferecam à empresa sua eadade, seu compromsso e sua coniança em roca de esabdade, perspecvas de promoção, proeção, formação e desenvovmeno, o novo acordo caracerza-se por demandas aos empregados que mpcam jornadas de rabaho ongas ..., assunção de responsabdade, compeêncas maores e oerânca à mudança, enquano que os empregadores, em roca, proporconam recompensas gadas a ao desempenho, aos saáros (gados a
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essas compeêncas e desempenho maores), e um emprego, mas não uma carrera. (p. 63)
Os auores comenam a dferença enre conraos pscoógcos ransaconas e reaconas, airmando que os prmeros “põem ênfase em recompensas maeras, coocam-se em curo prazo ou ao menos mados no empo, são reavamene esreos em ermos de acance, e ambém observáves pubcamene” (p. 62, radução do auor), enquano o segundo cenra-se no “nangve e não apenas nas recompensas maeras, são ndeindos (ano no po de recompensas como em seu me empora, que é abero), e subjevos” (p. 62). Concuem ees que os conraos pscoógcos esão passando de reaconas a ransaconas. Parece-nos que o conrao pscoógco enquadra-se na perspecva da ndvduazação e pscoogzação das reações de rabaho aponada por Crespo e Serrano (2011). Segundo ees, Esa ndvduazação das reações de rabaho afea de modo radca ao sujeo própro da pscooga e da pscooga soca, já que um aspeco essenca do neocapasmo va na dreção do que emos caracerzado como pscoogzação. Consderamos a pscoogzação como uma ecnooga soca orenada à produção de subjevdades, por meo da qua os probemas socas são ransformados em probemas pessoas, medane o recurso a conceos e expcações de recore pscoógco ndvdua. A pscoogzação é uma caracersca cenra do novo capasmo. (p. 248, radução do auor)
A pscooga posva e o engagement
Saanova (2010), expondo os aspecos báscos da pscooga da saúde ocupacona (PSO), airma que esa uza um conceo posvo de saúde que ncu ano recursos íscos como socas e pessoas, noção que, segundo a auora, esá em snona com o conceo proposo pea Organzação Munda da Saúde, que a deine como “um esado de bem esar oa que ncu o bem esar ísco, mena e soca, não a mera ausênca de doença ou ransornos (p. 32, radução do auor)”. A PSO não se deém no esudo do rabaho reazado nas empresas, mas ncu ambém o esudo de fenômenos fora do oca de rabaho, buscando vncuar o que ocorre em ouros âmbos com o que se faz na produção econômca: “udo sso
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em consonânca com as necessdades emergenes das organzações modernas, o cambane mundo abora aua” (p. 32). Enre as fones de rscos pscossocas no rabaho aua, Banch desaca a “gesão por stress”, que, segundo ee, eva à nensicação do rabaho. Nessa suação, a avdade de rabaho é desenvovda sob pressão, rapdez, pressa, urgênca e a sensação de “suação me” e de rsco de coapso (Banch, 2012, p. 60, radução do auor). Segundo Banch e Canera (2008), evanamenos reazados sobre a produção da pscooga do rabaho aé o nco do sécuo XXI reveam que se produzu 15 vezes mas sobre aspecos negavos, as como dstrés, burnout , ansedade, depressão, ransornos menas menores, dsfunções pscoisoógcas, ec., do que com o foco em aspecos posvos, as como fecdade, sasfação, bem esar, auorreazação, ec. Dando como exemplo o burnout , a pscooga posva quesona, segundo ees, se o quadro que se vê nesa sndrome não represenara uma suação “mas ou menos exrema e excepcona, e se não exse ouro póo poencamene posvo e saudáve, que funconara como seu conráro e seu conrapeso” (p. 85, radução do auor). Mas concreamene, pergunam se um conjuno de faores ambenas e pessoas posvos podera possbar uma gesão do esresse e desencadear assm “um processo posvo caracerzado por aspecos dameramene oposos aos de burnout ” (p. 85). O conceo que conigura essa forma de anasar os fenômenos do rabaho chama-se engagement , segundo os auores, mporado da consuora pea pscooga. Com apoo em ampa eraura, Banch e Canera deinem o engagement como, um esado mena posvo, de reazação, reaconado com o rabaho, que se caracerza por vgor, dedcação e absorção. O vigor ... compora aos nves de dnamsmo e de capacdade de ressênca e consu o oposo ao esgoameno. A dedcação ... carrega aa mpcação, movação e assunção do que o rabaho carrega de fone de sendo e de desaio, o qua represena o conráro de cnsmo. E a absorção ... va acompanhada de aas doses de concenração no rabaho e de sasfação por reazá-o, encarnando a anese de fata de reazação e de eicáca aboras. (p. 86, radução do auor)
Ou seja, o engagement é o oposo do burnout (Saanova e a., 2000). Para a pscooga da saúde ocupacona, o engagement esá assocado ao
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bem esar no rabaho, da mesma forma que o burnout esá gado ao ma esar. Sabemos, no enano, que o engajameno no rabaho esá muo gado ao conexo de ameaça de desemprego que vvem muos pases na auadade. Na Espanha, ao jusicar a airmação de que os rabahadores espanhós deveram rabahar mas horas, a presdena de Madrd airmou que, se a uma pessoa sem rabaho se perguna se, em caso de demssão, he parece bem que a ndenzação seja menor, ea não va gosar. Mas se izessem uma pesqusa enre as pessoas que esão desempregadas, eu creo que a maora gosara de quaquer va para aceder a um emprego. Porque por que rabahar ma é não rabahar. (E Pas, 11 Mar., 2012, radução do auor)
Segundo Saanova e a., o engagement va na dreção do que revndca a pscooga posva, que, segundo ea, focaza as “foraezas humanas e o funconameno ómo do ser humano, e não ano sobre as debdades e as dsfunções”. Para as auoras, o engagement se caracerza “pea energa, mpcação e eicáca, que são os oposos dreos das rês dmensões do ‘burnou’ ... esgoameno, cnsmo e faa de eicáca proissona” (2000, p. 119, radução do auor). Airmam que os rabahadores que possuem ao engagement possuem mua energa e óma conexão com seu rabaho, senndo-se capazes de enfrenar o que o rabaho hes pede. Embora Gonzáez, De La Core, e Rubo (2010) consderem a auadade e necessdade dos esudos sobre burnout como forma de mehorar a saúde e a quadade de vda das pessoas, ees airmam que, umamene, as esudos êm dado um “gro” em dreção aos esudos sobre engagement , “como aspeco posvo ómo do desenvovmeno proissona” (p. 2, radução do auor). Ees consderam que essa mudança deve-se ao auge da pscooga posva nos úmos anos 4. Segundo os auores, um dos objevos da pscooga posva ao denicar os faores susenadores de bem esar proissona e pessoa dos rabahadores é descobrr por que exsem pessoas e organzações que possuem maor “energa posva” na reação com o rabaho, “assm como a manera de consegu-o” (p. 3, radução do auor). 4
Uma amosra dsso é que a Socedade Espanhoa de Pscooga Posva reaza em 2014 o seu segundo congresso nacona.
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Os mesmos aponam os segunes requsos das organzações saudáves que são esudadas como ugares de engagement : (a) Enendem a saúde como um im em s mesmo; (b) Possuem um ambene de rabaho são e seguro; (c) Conam com um ambene “nsprador” para os rabahadores, onde eses esão por vonade própra; (d) Fazem com que “os empregados se snam vas e energécos (engaged ): movados e foremene mpcados em seu rabaho” (p. 10, radução do auor); (e) Possuem boas reações com o enorno da organzação, assm como consroem uma magem posva da mesma. A perguna que os auores se fazem é: Podem os empregados rabahar de forma enérgca, esar aamene dedcados a seus rabahos e desfruar ao máxmo deses momenos? Pode-se desenvover o engagement com os empregados com o objevo de gerar consequêncas posvas para os empregados e para o funconameno ómo das organzações? (p. 12, radução do auor)
Num mundo do rabaho cada vez mas precarzado, parece esranho pensar que seja possve que um grande número de empresas que esejam empenhadas reamene nos requsos do engagement . Devemos quesonar se o engagement , assm como o low, são opções dos rabahadores ou uma “obrgação”, na medda em que demonsrar rseza e abameno, desmovação, ec., anda mas na auadade, denoa fragdade e pode coocar em rsco a reação conraua do rabahador5. Concundo: pscooga do trabaho e educação
Para De La Hera e a., esá muo caro que o ambene de rabaho envove permanenemene suações de aprendzagem: O rabaho mpca a execução de arefas, a reazação de deermnadas funções e o desempenho de papés. Tudo sso, sem dúvda, supõe a aqusção de conhecmenos e o desenvovmeno de habdades, assm como de vaores, de sgnicados e de smboos que consuem a cuura da or5
Para Gerne e Déjours a anáse das mudanças organzaconas no rabaho e das novas formas de pscopaooga parecem conduzr a uma concusão paradoxa: “aquees que se engajam mas foremene no seu rabaho são guamene aquees que seram os mas vuneráves” (Gerne & Dejours, 2009, p. 33).
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ganzação, e, porano, convere os conexos de rabaho em cenáros de aprendzagem. (2004, p. 345, radução do auor)
No enano, para os auores, as mudanças que êm sdo produzdas nas reações de rabaho nas organzações êm ncremenado subsancamene a mporânca dos processos de aprendzagem, fazendo pare mporane das esraégas de gesão empresaras: “cada vez menos processos de aprendzagem são dexados ao azar ou às reações nformas e a cada da mas ações de aprendzagem programadas ou demandadas pea organzação formam pare de ações gobas e negradas com a poca esraégca da organzação” (p. 345, radução do auor), endênca essa que ende a nensicar-se, ano no que dz respeo à ampude quano ao rmo. Segundo os auores, como o rabaho exge aprender connuamene, a endênca é de uma maor expressvdade da formação. Oura quesão saenada por ees é o desocameno da aprendzagem na empresa “para uma aprendzagem orenada ao rabaho, mas cuja responsabdade reca sobre o empregado” (p. 345, radução do auor). São os ndvduos quem devem assumr a quaicação, ano para a enrada como para a permanênca no mercado de rabaho. Exempo dsso são conceos como empregabdade, auoemprego ou auoformação, os quas expressam um processo de exernazação de funções anes assumdas pea gesão de recursos humanos. Os auores deinem a formação como “um processo de aprendzagem ssemáco”, mpemenado pea gerênca da empresa no sendo de ober mudanças permanenes nos conhecmenos “para apcação em curo prazo na consecução de meas e objevos” (p. 345, radução do auor). Ees consderam que negra os processos de aprendzagem a “socazação organzacona”, a qua envove processos de adapação ao conexo cuura da empresa, que se caracerzam por seu caráer negocáve e cambane ao ongo do empo. A formação é, assm, um dos processos que recebe mas aenção das empresas, passando de um “cuso necessáro” para uma “vanagem compeva”: O objevo úmo e mas vsve da formação é o aumeno da eicáca organzacona. Por esse movo as organzações desenham expca e formamene procedmenos que omzem a aprendzagem dos seus membros, de suas equpes e da organzação em seu conjuno. (p. 345)
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Ao comenar as mudanças paradgmácas nas áreas da pscooga, De La Hera e Rodrguez (1999) desacam a emergênca do paradgma da cognção comparda na pscooga soca frene aos enfoques domnanes aé a auadade, que surgem frene ao desconenameno dos esudosos com reação às perspecvas ndvduasas. Ese paradgma anasa as formas como a cognção é produzda em conexos socas de neração enre os ndvduos. Dferenemene dos esudos radconas na área da cognção soca, é a consderação dos grupos e não do ndvduo, como undade de anáse, o que no nosso enender é paradoxa, se consderarmos a endênca de ndvduazação das responsabdades. Reomando as meáforas uzadas pea nvesgação pscossoca nas úmas quaro décadas, os auores airmam que, enquano nos anos 1960 a pessoa era vsa como um “buscador ógco”, nos 1970 como “cenico ngênuo”, nos 1980 como “avaro cognvo” e nos 1990 como “áco movado”, a meáfora que va deinr a nvesgação pscossoca no sécuo XXI será uma em que o grupo subsu o ndvduo (1999, p. 178, radução do auor). As mudanças auas na pscooga das organzações são ocasonadas, em sua maora, pea nluênca da “gobazação das avdades produvas e de lexbdade no rabaho ... e em especa peas novas ecnoogas lexves”. Conforme os auores, nas novas formas de rabaho que se avznham, os admnsradores da organzação deverão “ampar os nves de raconadade” (p. 179, radução do auor), a im de que consgam dar ao mesmo empo com nformação, conhecmenos mas compexos, conlvos e mas absraos. Embora os auores se reiram aos gesores organzaconas, pensamos que em dferenes nves esse aumeno da capacdade de racocno, o qua, para Bernardo (1991), é uma das condções para a ampação da quaicação dos rabahadores, apca-se a boa pare da força de rabaho. Tudo sso esá reaconado com oura mporane endênca na pscooga das organzações, que é a apcação de enfoques cognvos a dferenes fenômenos e âmbos organzaconas, cuja jusicava enconra-se no aumeno das “avdades de rabaho e de organzações baseados no uso do conhecmeno e na execução de arefas menas” De La Hera e Rodrguez (1999, p. 179, radução do auor).
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Para Moreno e a. (2008), na época aua, adqure mporânca o que chamam de recursos nangves da empresa, as como a cuura da mesma e os conhecmenos e habdades que possuem os empregados. Airmam que os recursos nangves são cada vez mas mporanes, vso que dicmene podem ser copados pea concorrênca e “os que êm a capacdade de gerar uma vanagem compeva susenada no empo” (p. 114, radução do auor). Segundo Carbo e Segova, “no conexo econômco aua o conhecmeno é um recurso organzavo esraégco e a vanagem compeva das empresas depende em grade medda de como se gesone” (2010, p. 213, radução do auor). Como consequênca, o comparhameno do conhecmeno enre os membros de uma organzação é um “processo cenra” para enender ano a novação como a capacdade de aprendzagem. Ressaam, porém, que esse comparhameno não cosuma ocorrer de forma esponânea, sendo necessáro nvesgar o que o produz. De La Hera e a. (2004) airmam que a área que focaza “o que ocorre enre o esmuo que recebe o sujeo” e a resposa dada por ee é a pscooga soca, o que vem ocorrendo desde os anos 1950. Os auores referem-se a ese âmbo de esudo como “o mo da caxa negra”, referênca que esá gada à dea da mpossbdade de conhecer o que a ocorre. Para ees, enender a condua humana como mera resposa a uma suação esmuar é empobrecê-a radcamene. As pessoas eaboram a nformação conda na suação esmuar, nerpream essa suação, o fazem ademas com referêncas a nerpreações gobas da readade – cuuras deoógcas – e emem uma resposa que, por sua vez, va ser nerpreada por eas mesmas e por ouros. A forma de abordar o pensameno esá em anasar como as pessoas capam essa nformação, como a armazenam, a processam e a recuperam, e como a uzam. (p. 214, radução do auor)
Para os auores, os vaores organzaconas podem ser deindos como prncpos ou crenças, esruurados herarqucamene, reavos a comporameno ou meas organzaconas desejáves que orenam a vda dos membros e esão a servço de neresses ndvduas coevos ou msos. Como base fundamena da cuura, os vaores “servem para dar resposa ou soução a arefas, suações ou probemas novos aos que enfrena a organzação, ou, do de ouro modo, represenam crenças ou 190
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convcções coevas que uma deermnada soução é adequada” (p. 269, radução do auor). Pensamos que a formação que ocorre nos ocas de produção apresena-se conradóra, pos é mpossve separar o aumeno da produvdade dos aspecos emancpaóros que ea pode razer para os rabahadores. Isso ncu a pscooga posva. Acredamos que o esudo do engagement pode, conradoramene, conrbur para pensar formas dos rabahadores ressrem à crescene nensicação do rabaho, na medda em que o nunca apenas cumpre com o prescro. Frene à evdene parcpação cada vez mas nensa dos aspecos educaconas nas reações de produção razdos pea pscooga do rabaho, é surpreendene que, apesar de seu assumdo caráer nerdscpnar, a educação seja pouco menconada pea eraura como pare negrane desse campo6. Da mesma forma, devemos nos nerrogar sobre os movos da pouqussma conrbução da pscooga do rabaho presene nos esudos de educação e rabaho. De quaquer forma, icou muo cara para nós, nessa revsão de eraura, a mprescndbdade da múua coaboração dos pesqusadores da pscooga e educação para a compreensão das prácas socas nas organzações de rabaho. Referêncas
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Por não ser o objevo dese exo, não ncumos esudos que reazamos sobre obras braseras que revsam o esado da are da pscooga do rabaho no Bras, mas readade semehane pode ser percebda nessa eraura. Consue: Wacheke e a., 2005; Toneo e a., 2008; Borges, 2010; Borges-Andrade e Pagoo, 2010; Gondm, Borges-Andrade e Basos, 2010.
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Autogestão e “Gestão de Pessoas”: desaios e possbdades para desenvovmento de um sstema a parr dos prncpos da economa sodára Maria das Graças de Lima
Ese exo apresena relexões premnares, resuanes de dscussões que esão enre mnha dsseração de mesrado e a consrução de um projeo de pesqusa de douorado, em fase nca de execução, e que deverá ser concudo no ina de 2016. A dsseração defendda em 2011, no Programa de Pscooga Soca da Poníca Unversdade Caóca de São Pauo (PUC/SP), nuada A dimensão subjeva das reações de trabaho na economa sodára, nasceu da mnha mânca no Movmeno da Economa Sodára desde o ano 2000, quando buscava compreender quas os mpedmenos para o desenvovmeno e a sobrevvênca dos Empreendmenos Econômcos Sodáros (EESs)1 a parr de uma vsão não economcsa e das conrbuções de uma pscooga soca crca. Ao reler sobre os dados enconrados na pesqusa, concumos que aguns eemenos que consuem a dmensão subjeva dos rabahadores, e que se ornam desaios para os EESs, ndcam possbdades de superação das dicudades que mam o seu desenvovmeno, quando são raados com a devda reevânca nos processos de ncubação e consução dos empreendmenos. Cabe dzer que quando faamos de desaios e possbdades não preendemos apresenar uma sa, de um ou ouro, mas quesonamenos e relexões que foram surgndo a parr da anáse dos dados enconrados na pesqusa, que ao mesmo empo em que se apresenavam como desaios, ndcavam ambém possbdades. Parndo de uma perspecva daéca, enendemos que as caegoras são eemenos absrados da readade anasada e se consuem 1
Empreendmenos Econômcos Sodáros (EES) é a ermnooga assumda peo Fórum Nacona de Economa Sodára para denicar os Empreendmenos gados ao movmeno da Economa Sodára.
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como pares naenáves de um mesmo fenômeno. Assm, as caegoras desacadas em nossa pesqusa foram mosrando os desaios, as possbdades de auação para vencer esses desaios e ambém novos desaios. Fo esse movmeno que nos conduzu a eaborar um novo projeo de pesqusa, desa vez um projeo de douorameno que esá em andameno, no Programa de Pós-graduação em Pscooga Soca da PUC/SP. O exo esá organzado em rês pares. Na prmera, apresenamos a economa sodára e seu desenvovmeno no Bras. Em seguda, apresenamos o referenca eórco que fundamena nosso rabaho e o conceo de dmensão subjeva. Depos são apresenadas as caegoras de anáse que desacamos na pesqusa e relexões eas e, por im, apresenamos o projeo de pesqusa de douorado, o qua já fo cado acma. O desenvovmento da economa sodára no Bras
As prmeras experêncas de economa sodára no Bras surgram em meados dos anos 80, mas fo na década de 90 que o movmeno ganhou força. Inúmeras experêncas se mupcaram em odo o pas, no meo rura e no meo urbano, das mas varadas e dversas formas, proagonzadas por dferenes aores socas: sndcaos, greja caóca, movmenos socas e o MST. Todos buscavam esraégas para combaer o desemprego e a excusão permanene de rabahadores e rabahadoras do mercado de rabaho forma, provocados pea grande crse desse perodo, que eevou as axas de desemprego a nves aarmanes. A arcuação dessas experêncas nos úmos 25 anos ornou a economa sodára um mporane movmeno soca organzado, que cresceu e se desenvoveu muo em odo o Bras. Nesse processo, consruu coevamene suas concepções, deinu conceos e prncpos fundamenas, aravés de seus agenes (rabahadores, manes, pesqusadores e smpazanes), reundos em Fóruns, Conferêncas e Penáras de dversas nsâncas (ocas, muncpas, regonas, esaduas e nacona). O que resuou do processo de consrução coeva, enre ouras conqusas, fo a deinção oica do conceo de economa sodára no Bras, assumda e ampamene dfundda peo FBES (Fórum Brasero de Economa Sodára), peo CONAES (Conseho Nacona de Economa Sodára), pea SENAES (Secreara Nacona de Economa Sodára) e por odos os demas
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organsmos e endades da socedade cv que consuem o Movmeno da Economa Sodára. Assm, a economa sodára, conforme consa no Atas da Economa Sodára no Bras (2009), esá deinda como: “Um conjuno de avdades econômcas de produção, dsrbução, consumo, presação de servços, poupança e crédo – organzadas e reazadas sodaramene por rabahadores e rabahadoras sob a forma coeva e auogesonára”. Os Empreendmenos Econômcos Sodáros (EESs) esão consudos sob varados pos e formaos. Auam nos mas dversos ramos de avdade e já somam mas de 20 m em odo o pas, agregando mas de 1.600.000 sóco-rabahadores, que enconraram uma sada para o desemprego a parr de formas de produção e geração de rabaho e renda com prncpos oamene oposos ao capasmo. A Economa Sodára em como proposa a organzação do rabaho a parr de prncpos, como: sodaredade, guadade, cooperação e democraca. Na práca, ea se caracerza pea auogesão, que combna dos aspecos: gesão democráca e posse coeva dos meos de produção; e a dsrbução guaára dos resuados obdos, em oposção às reações de rabaho capasas que são marcadas peo ndvduasmo, compeção e desguadade. Por odo o exposo acma, consderamos a Economa Sodára como um movmeno soca que se ncu no campo das ressêncas, à medda que busca aernavas às formas de produção capasa e às formas de organzação do rabaho, capazes de resgaar o rabahador da aenação a que esá submedo peas empresas capasas. No enano, a economa sodára enfrena muos probemas. As experêncas nem sempre são exosas, muas fracassam ogo no nco, ouras, mesmo depos de muos anos, são anda muo fráges, muas vezes não conseguem gerar renda adequada ou não se consuem de fao como experêncas auogesonáras. Em muos casos, os EESs não chegam a mpemenar um processo de auogesão e acabam degenerando-se ou ornando-se experêncas com caráer asssencasa ou anda assumndo formas de gesão conráras aos prncpos da economa sodára. O processo de consução e desenvovmeno da economa sodára esá merso em conradções e enfrena desaios de oda ordem para
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se desenvover e maner seus prncpos e objevos, sem se degenerar, como aconeceu com o movmeno cooperavsa, que de acordo com Snger (2000), no ina do sécuo XIX e nco do sécuo XX, sucumbu às formas de gesão capasa e acabou se afasando dos prncpos do cooperavsmo. Mas consderamos que o maor de odos os desaios da economa sodára é esar nserda numa socedade na qua o capasmo se maném hegemônco há ano empo que suas prácas são naurazadas. Os EESs nascem nsprados por prncpos socasas, mas esão nserdos e submedos às es do mercado capasa, conforme apona Furado (2010): “ raa-se de um movmeno que se cooca conra o capasmo e ao mesmo empo convve com sua esruura”. Aém das condções objevas a que esão submedos os EESs, ouro aspeco, que jugamos que em sdo gnorado peos agenes da economa sodára e que fo objeo de mnha pesqusa de mesrado, mosra ouro grande desaio, que é a dmensão subjeva dos rabahadores da economa sodára sobre as reações de rabaho. A pesqusa reveou as conradções vvencadas peos rabahadores da economa sodára no seu codano e nas reações pessoas. Ees, obvamene, sem erem conscênca dsso, reproduzem vaores e prácas capasas. Mas, anes de faar da pesqusa propramene, é necessára uma apresenação, anda que breve, do referenca eórco-meodoógco que fundamenou a referda pesqusa, raa-se da pscooga de abordagem soco-hsórca. A perspecva da pscooga soco-hstórca e a dmensão subjeva da readade
O referenca eórco que embasa nossa relexão é a pscooga soco-hsórca. Essa abordagem se fundamena no maerasmo hsórco daéco para a compreensão dos fenômenos humanos, de forma a romper com as dcoomas que separam o fenômeno pscoógco da socedade, e que separa subjevdade de objevdade. Nesse sendo, conforme airma Bock (2009),
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para a sóco-hsórca, faar do fenômeno pscoógco é obrgaoramene faar da socedade. Faar da subjevdade humana é faar da objevdade em que vvem os homens. A compreensão do “mundo nerno” exge a compreensão do “mundo exerno”, pos são dos aspecos de um mesmo movmeno, de um processo no qua o homem aua e consró/modica o mundo e ese, por sua vez, propca os eemenos para a consução pscoógca do homem.
A parr dessas concepções, Furado (2008) cunhou o ermo Dmensão Subjeva da Readade , que expca a compreensão daéca de readade, que se consu peo conjuno de reações socas e hsórcas, em suas bases objevas (econômcas e maeras) e em suas bases subjevas (produção de vaores), a parr da daéca que se esabeece enre sub jevdade e objevdade. A dmensão subjeva da readade se conigura como a snese enre a readade maera e a manera como esa readade é nerpreada subjevamene peos sujeos e, nesse sendo, de acordo com Furado (2008, p. 92), podemos airmar que a readade é a expressão do campo de vaores que a nerpream e ao mesmo empo o desenvovmeno concreo das forças produvas. Há uma dnâmca hsórca que cooca os panos subjevo e ob jevo em consane neração sem que necessaramene se possa ndcar caramene a fone de deermnação da readade. Isso nos eva a airmar que a readade é um fenômeno mudeermnado, e so ncu uma dnâmca objeva (sua base econômca concrea) e ambém uma subjeva (o campo de vaores).
Enendemos que as formas de produção capasa e a dvsão da socedade em casses econômcas dsnas produzram ambém formas de nerpreação da readade coerenes com os neresses da casse domnane, de forma a garanr a expansão de suas crenças e vaores, como airma J. Souza (2010): “Essas caracerscas esruuras mpcam em “condução da vda” e “percepção de mundo”, as duas caracerscas mas mporanes para conhecermos a especicdade do perencmeno de casse”. Nesse sendo, ao buscar conhecer a dmensão subjeva dos rabahadores da economa sodára, enconramos eemenos que, ao mesmo empo em que são desaios, mosraram ambém possbdades de ransformação da readade.
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As categoras de anáse
Apresenamos, a segur, agumas caegoras que se desacaram em nossa anáse. Convém expcar que, na perspecva da pscooga soco-hsórca, de acordo com Kahhae e Rosa (2009), o que chamamos de caegoras referem-se não a uma forma de cassicação, mas às “absrações que se consuem a parr da readade e que orenam a nvesgação de processos, procurando apreender as múpas deermnações dos fenômenos e seus nexos, reações conradóras, que não se manfesam dreamene”. A anáse buscou denicar a produção de sendos e sgnicados a parr das reações de rabaho vvencadas nos EESs, buscando apreender o movmeno de consução da dmensão subjeva desas reações. Desacamos cnco caegoras: (a) peri e pape das deranças; (b) processos de formação; (c) conlos e conradções dos novos papés: sóco, dono ou rabahador; (d) rabaho como desenvovmeno pessoa e possbdade de socazação; (e) dmensão poca/sodaredade de casse.
Peri e pape das deranças Nesa caegora, aparece muo caramene a dea de que é precso er aguém para comandar, aguém que dê o nore, que saba para onde o empreendmeno deve camnhar. Sem uma igura que assuma esse pape as cosas icam desorganzadas. A derança é ambém enendda como uma mssão, fundamena para manuenção da harmona e do ssema. Deve arcuar as reações humanas, cudar das quesões afevas, aém das quesões écncas, operaconas e gerencas, ou seja, o der deve ser um “Super”. Mas o der não deve ser auoráro, as deranças auoráras são cupabzadas peos fracassos e peos conlos gerados no grupo. Por sua vez, aquees que são deres expressaram sua nsegurança e o peso que senem pea responsabdade. Todos esses aspecos aponam para uma fragdade do ssema e reveam que os negranes dos EESs, em sua maora, não se apropraram do sgnicado de auogesão e expressam muo caramene a dependênca que êm de deranças bem formadas e capacadas.
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Processos de formação Sobre esa caegora aparece a conradção enre a necessdade-movação-desneresse pea formação. Ao mesmo empo em que os rabahadores enendem a mporânca e gosam dos momenos de formação, às vezes acham que é dspêndo de empo em que arapaha a produção. Não enendem a formação como um processo e ampouco como um nvesmeno para mehorar a produção. No enano, ambém aparecem psas fundamenas sobre como deve ser a formação. Prmeramene deve se consur como um processo que deve evar ao prazer do conhecmeno, do aprendzado. A mporânca da formação é ressaada como fundamena para esruuração e manuenção dos EESs e ea deve se consur num processo negra, unndo eora e práca, e ambém ser permanene, ocorrendo de váras formas e não somene aravés de cursos, aém de abranger váras dmensões da vda dos rabahadores. Ouro aspeco mporane desa caegora é que os rabahadores dos EESs exosos arbuem seu sucesso à formação negra e permanene, já os rabahadores represenanes dos EESs fados ou exnos reconhecem que a faa de formação adequada pode er sdo um faor que agravou os probemas que evaram ao fracasso do EES.
Conltos e contradções dos novos papés: sóco, dono ou trabahador – responsabdade e compromsso coevo Ese pono nos parece cenra na dscussão do processo de auogesão. Os rabahadores se veem dane de novos papés que coocam em quesão sua dendade. O pape de sóco aparece como ago seduor. No nco, as pessoas se anmam com a dea de que não erão um “chefe” ou um “parão”, ou que serão “donos” de seu empreendmeno. Ao se darem cona de que como sócos erão que comparhar não só dreos, mas ambém responsabdades e deveres, os rabahadores desanmam ou se desneressam ao perceberem que, aém de execuar suas arefas como rabahadores, deverão assumr ouras avdades de gesão, que erão que panejar conjunamene, dar sua opnão e assumr as responsabdades da gesão. Muas vezes dessem ou enam ransferr seu dreo de opnar a ouros que consderam mas capacados. Enendemos que essa suação precsa ser consderada em ermos do processo de aenação, comum à forma de produção capasa que produz uma conscênca
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fragmenada. O que muas vezes se apresena como faa de compromsso, desneresse e rresponsabdade, na readade é uma forma de expressão da aenação ou de um esado de resgnação. Esa caegora esá oamene mbrcada na caegora formação e se apresena com o desaio de romper com os processos de fragmenação fragmenação da conscênca. Os conlos gerados nos grupos, que muas vezes são nerpreados como faa de responsabdade ou faa de compromsso, reveam os conlos de uma nova dendade que, no processo de auogesão, é exgda dos rabahadores. Ao assumr a auoges auogesão ão como prncpo e como práca, a economa sodára se propõe a esabeecer ouras formas de reação dos rabahadores com seu rabaho, forjando novas condções de rabaho e reações socas para as quas os rabahadores não êm referencas. referencas.
O trabaho como desenvovmento pessoa e possbdade de socazação Consderamos esa caegora fundamena para a economa sodára, pos se expressa peos sendos do rabaho na vda dos rabahadores. Trabahar sgnica a descobera de poencadades, é possbdade de socazação, de se ornar conhecdo como pessoa e reconhecdo em seus aenos, é mehora da quadade de vda, possbdade de ndependênca, de emancpação. Esses beneícos aparecem mesmo quando os EESs não geram renda, mas quando o empreendmeno gera renda ouros beneícos se somam a esses: resgaar dreos socas, dgndade, segurança, aém de conhecmeno, desenvovmeno pessoa, aprendzagem, novas perspecvas de vda. Esa caegora raz, de acordo com Das (2007), a perspecva do “Trabaho como Redenção”.
Dmensão poca – sodaredade de casse Esa caegora dfere das ouras, pos se desaca pea sua ausênca nos depomenos dos rabahadores, mas se revea a parr da anáse do conjuno de caegoras, que se mosrou ouro grande desaio para o desenvovmeno da economa sodára enquano movmeno soca de ransformação, que é a formação da conscênca poca dos rabahadores da economa sodára. Dane das urgêncas da vda codana e da necessdade medaa de gerar renda para garanr a sobrevvênca, ese aspeco em sdo neggencad neggencado. o.
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Os rabahadores, na maora das vezes, esão preocupados com a produção e o êxo econômco do empreendmeno e não vaorzam a parcpação em Redes Sodáras ou a negração com ouros movmenos socas que, aém de possbar a vabdade econômca do empreendmeno, possba sua vabdade soca. Idenicamos que os EESs que esão arcuados em uma rede e arcuados com a comundade são ambém os que êm maores chances de sobrevver e se desenvover. Mas muos rabahadores não esão convencdos da mporânca de esarem arcuados a uma rede de empreendmenos, empreendmenos, ou em conexão com ouros movmenos socas, e ampouco se apropram da dmensão poca dsso. Muas vezes se soam na busca de resover os probemas codanos e não se dão cona de que há muos probemas, comuns a odos os empreendmenos, que em ações coevas são mas facmene resovdos. As redes sodáras são consudas por dversos aores: empreendmenos, endades de apoo e fomeno e ouros movmenos socas. A arcuação em rede se consu como uma força poca do movmeno movmeno,, exgndo ações governamenas e pocas púbcas de apoo e fomeno aos EESs, conrbundo no desenvovmeno de egsação adequada à readade, às condções, caracerscas caracerscas e demandas dos EESs e auxando na cração de pocas púbcas de apoo à economa sodára. Nesse sendo, as redes sodáras podem consrur esraégas para crar as condções objevas necessáras para o desenvo desenvovmeno vmeno da economa sodára. Enim, a anáse a náse do conjuno das caegoras cadas nos evou a concur que as condções objevas e subjevas para o desenvovmeno dos EESs esão mbrcadas uma à oura e que o desenvovmeno das condções dependem anda, em grande medda, de deranç deranças as bem capacadas e de espaços de formação e arcuação poca que possam ncur nos negranes negr anes dos EESs a conscênca poca. A relexão sobre as caegoras evou a muos quesonamenos que se consuram, poserormene, poserormene, como um probema de pesqusa. Consderando que odos os rabahadores são guamene sócos, que comparham dreos, deveres, responsabdades responsabdades e resuados resuados,, como dar com as quesões que dzem respeo ao “comporameno” dos sóco-rabahadores no codano de rabaho, com seus conlos e quesões pessoas, sem nerferr na produvdade do EES? A parr de nossa anáse, eencamos anda ouros anos quesonamenos que se reaconam a ese:
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Quas são os probemas que surgem a parr da “poca organzacona” dos empreendme empreendmenos nos auogesonáros?
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Como se esabeecem as reações herárqucas na dvsão e organzação das avdades, uma vez que odos os rabahadores são guamene sócos?
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Como dar com os conlos enre os neresses ndvdua ndvduas s e do coevo?
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E os probemas das reações nerpessoas nerpessoas??
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Como promover o cudado com a seguranç segurançaa e saúde dos rabahadores?
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Como ncur e “qu “quaicar” aicar” novos negr negranes? anes?
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Como dar com odas as quesões proposas sem, conudo, perder seus prncpos e anda garan garanr r ou mehorar a produvdade dos empreendmenos?
Fnamene, como organzar a produção e a gesão dos empreendmenos, consderando odas essas quesões, a parr dos prncpos da economa sodára, de novos conceos, écncas e prácas própras que não reproduzam as prácas e as deoogas excudenes das empresas capasas, ou anda, prácas que busquem apenas a “adapação” dos rabahadores às condções mposas pea necessdade de ampar a produvdade? A parr de as quesonamenos concumos que ouro grande desaio para os EESs e para a economa sodára em gera é o que, nas empresas capasas, é chamado de “gesão de pessoas”. No caso da economa sodára, o desaio já começa pea ermnooga nadequada, pos auogesão e “gesão de pessoas” são conceos oamene anagôncos. A “gesão de pessoas” nas empresas capasas esá deegada a um deermnado grupo de “especasas”, denro de um deparameno especico da empresa, popuarmene conhecdo como “Recursos Humanos” (RH), que domna habdades especicas, quase “mágcas”, e cero número de méodos, écncas e prácas com o objevo de “admnsrar comporamenos e conlos” dos rabahadores a im de poencazar o que chamam de “capa humano”, de acordo com as pocas organzaconas e meas de produvdade. Mas podemos dzer que não há, anda, um ermo
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adequado e coerene com os prncpos da auogesão que dê cona de oda a probemáca que envove os processos organzaconas dos EESs. O conceo de auogesão, em sua orgem, não dz respeo à organzação de empreendmenos econômcos, é um conceo basane compexo que, conforme aponam os auores Guerm e Bourde (1976), nasceu como práca dos movmenos pocos e socas e ganhou desaque na França nos anos 60. É um conceo muas vezes uzado de forma ndscrmnada para descrever quaquer po de avdade parcpava, ou anda, o que é mas comum, ea é confundda com a heerogesão heerogesão e com a cogesão. Não vamos aprofundar o conceo, pos não é objevo dese rabaho, no enano, cabe expcar que o conceo de auogesão assumdo peo movmeno da economa sodára caracerza-se por rês aspecos: (a) gesão parcpava, democráca e guaára; (b) posse coeva dos meos de produção; (c) dsrbução guaára dos resuados. Se esses eemenos não esverem presenes não exse auogesão. Enendemos que, ao assumr a auoges a uogesão ão como prncpo e práca, os EESs se consuem como eemeno hbrdo, que combna caracerscas e objevos dos movmenos socas e pocos às de empreendmenos econômcos que êm como objevo gerar rabaho e renda adequada para os rabahadores. Dessa forma, necessa de nsrumenos e prácas de gesão coerenes coerenes com as caracerscas e com os prncpos da economa sodára. Ao mesmo empo, os EESs esão submedos às regras do mercado capasa e, para sobrevverem, precsam se adapar às regras, porano, mas um desaio esá poso. Enim, como superar a forma de organzação do rabaho, vsando à emancpação dos rabahadores em meo à readade aenada e aenane que resua das formas de produção capasa, a im de superar o ndvduasmo, a compevdade e promover a sodaredade de casse para que os rabahadores omem conscênca de que a forma de organzação do rabaho é ambém uma ação poca e de ransformação soca? A parr de anos quesonamenos enendemos que uma possbdade é o desenvovmeno de meodoogas e ssemas organzaconas do rabaho coerenes com as caracerscas eencadas, de forma que ao mesmo empo em que promovam o desenvovmeno econômco dos empreendmenos empreend menos possam ambém proporconar a emancpação soca e poca dos rabahadore rabahadores. s. 204
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Há anda uma dmensão fundamena que deve ser conempada peo ssema organzacona dos EESs, que ranscende para aém dos empreendmenos, pos ees não podem se soar em sua própra organzação, é necessáro que esejam arcuados em redes de EESs, com ouros movmenos socas e com a comundade. Isso é o que pode garanr o foraecmeno da economa sodára como movmeno soca de ransformação. Consderando que os empreendmenos auogesonáros Consderando auogesonáros são hbrdos em sua consução, na medda em que combnam ano caracerscas e objevos dos movmenos socas e pocos quano de empreendmenos econômcos, o que esamos propondo é o desenvovmeno de um ssema de “gesão de pessoas” auogesonáro a parr de conceos, nsrumenos, prácas e écncas coerenes com as caracerscas, os prncpos e as prácas da economa sodára, que busca a emancpação e não a adapação dos rabahadores rabahadores.. O desaio que esá poso é que dane da urgênca de se esabeecer e gerar renda adequada, os EESs acabam recorrendo às ecnoogas de produção, meodoogas de organzação do rabaho e prácas de gesão que são caracers caracerscas cas das empresas capasas capasas que, evdene evdenemene, mene, êm eicênca e eicáca comprovadas em ermos de produvdade. Porém, essas formas de produção se dão em dermeno do rabahador, a parr de reações herárqucas, herárqucas, vercazadas e da dvsão soca do rabaho. Ao reproduzr essas prácas, os EESs reproduzem ambém os prncpos e vaores das empresas capasas, como: o ndvduasmo, a compeção e a desguadade, que ferem os prncpos sodáros. A práca da auogesão não é smpes, envove ano condções ob jevas quano subjevas, sendo que as úmas não são condções que broam esponaneamene esponaneamene como se já izesse pare da naureza humana. Por ouro ado, os rabahadores da economa sodára precsam aproprar-se de novos conhecmenos e prácas que exgem habdades especicas, não só habdades écncas operaconas, gerencas e admnsravas, mas ambém habdades reaconas, de rabaho em equpes horzonas, sem herarquas. Para ano, necessam mudar concepções, crenças e vaores, ou seja, devem passar por um processo de ransformação, de uma conscênca fragmenada para uma nova conscênca de casse. Porém, pensar em ransformação da conscênca é pensar um 205
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processo daéco que se consu a parr de múpas deermnações, guardando uma compexdade nerene a ese processo que depende das bases maeras ano quano das smbócas. Não se abandona oamene concepções e crenças da noe para o da, é precso consderar que as ransformações cuuras são demoradas, é um projeo de ongo prazo e carece de uma base maera conssene que dê susenação para as convcções deoógcas e que sejam ransmdas num processo de formação permanene. A economa sodára, enquano movmeno soca, anda não em um nve de coesão e ampouco em ações que se dreconam para dar cona da demanda. A despeo de odos os seus avanços anda depende em grande medda da crença de seus aores para susenar seus prncpos e suas prácas. É necessáro que a economa sodára, enquano movmeno soca, conquse ouros espaços pocos na ua por dreos e pocas púbcas que vabzem suas ncavas: uma egsação adequada, que responda às necessdades e caracerscas dos EESs, nfraesruura, aém de acesso ao crédo e a inancamenos dos bancos púbcos. Tas condções já são oferecdas às grandes ndúsras capasas, ou seja, com garana das condções maeras (objevas). Um novo projeto de pesqusa
Enim, dane dessas relexões, o que vemos como uma possbdade de auação e que propomos nese projeo é o desenvovmeno de um ssema organzacona dferene dos que exsem auamene nas empresas capasas. De acordo com Pno (2010), eas esão fundamenadas peas concepções da chamada “admnsração cenica” e burocráca do ssema Tayorsa/Fordsa, ou pea raconadade do ssema Toyosa, ou, como apona Tragemberg (2005), pea deooga aenane da “Escoa das Reações Humanas”, que busca meodoogas de manpuação dos rabahadores ao ampar sua parcpação nos processos de operaconazação para garanr maor envovmeno afevo e mehora da produvdade, mas o aena de odos os processos decsóros da produção e dsrbução dos ucros.
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Ese projeo que apresenamos a segur raa-se de um projeo de pesqusa de douorado no Programa de Pscooga Soca da PUC/SP, que esá em fase nca e deve ser concudo aé ina de 2016. Caracerza-se como uma pesqusa-nervenção em empreendmenos auogesonáros na perspecva da Economa Sodára. Propõe-se ao desaio de desenvover um ssema de “gesão de pessoas” auogesonáro, condzene com os prncpos, conceos e prácas da economa sodára. Como dssemos acma, o ermo “gesão de pessoas”, uzado peas empresas capasas para denicar uma forma de gesão especica, é em s conradóro aos prncpos da auogesão e por essa razão aparece nese rabaho enre aspas. No enano, decdmos por ora maner a expressão devdo à mação ermnoógca para apresenar com careza os objevos dese projeo, que a despeo de consderarmos nadequada, parece caricar o que esamos propondo.
Ttuo do projeto “Um ssema de ‘gesão de pessoas’ para empreendmenos auogesonáros: conrbuções da pscooga soca crca para o desenvovmeno de um ssema organzacona a parr de prncpos e prácas da economa sodára.”
Objevo gera Desenvover e mpemenar um ssema organzacona de “gesão de pessoas” auogesonáro, a parr de nsrumenos, prácas e écncas própras, condzenes com os prncpos e vaores da economa sodára a im de consrur novas reações de rabaho que possbe a emancpação econômca, soca e poca dos rabahadores.
Referenca teórco-metodoógco A premssa que movou esa pesqusa dz respeo à concepção de que a pscooga soca deve se pauar peo compromsso soca crco e mane e deve conrbur para a consrução de proposas de emancpação humana. De acordo com Thoen (2006, p. 161), “Emancpação é o conráro de dependênca, submssão, aenação, opressão, domnação, faa de
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perspecva. O ermo caracerza suações em que se enconra um sujeo que consegue auar com auonoma, berdade, auo-reazação ec.”. Parndo dessa premssa anuncamos o maerasmo hsórco daéco com seus pressuposos epsemoógcos a parr das concepções marxanas e dos auores sovécos Vgosk, Leonev e Lúra, que dão fundamenação para a Pscooga Soco-hsórca, e ambém os auores marxsas Gyorgy Lukács e Isván Mèzarós. O humano, nessa concepção, é sujeo avo à medda que sua ação é ransformadora e é um ser hsórco e soca à medda que se consu a parr de sua reação com o mundo maera e hsórco. A pscooga soco-hsórca consdera que não exse naureza humana, odo comporameno e forma de vda humana se consuem socamene, ou seja, ao faar do fenômeno pscoógco, consdera que ese não é um fenômeno preexsene como uma esruura naa no humano, mas é a expressão da readade hsórca, econômca, soca e cuura na qua os sujeos esão nserdos. Nessa perspecva, o rabaho é caegora cenra para a compreensão dos fenômenos humanos e socas e se consu como uma caegora mporane para a pscooga soca, uma vez que compreende o ndvduo e as reações que esabeece para sua sobrevvênca, produzndo cuura e ao mesmo empo sendo produzdo por ea. A economa sodára se consu como um mporane campo de
pesqusa e auação da pscooga soca ao se apresenar como uma proposa conra-hegemônca e se nscreve no campo das ressêncas como forma de negação da ordem nsuda peo capasmo.
O processo grupa como categora de anáse Para Lane (2012), o processo grupa se consu como uma das caegoras cenras para a pscooga soca crca. É um nsrumeno esraégco para compreensão dos fenômenos socas, mas ambém um nsrumeno de nervenção no desenvovmeno de rabahos com grupos. Lane (2012) e Marn Baró (2008; 2009) se coadunam e se compemenam nas proposções eórcas sobre o que compreendem por “processo grupa”. Ambos os auores se referem a “processo grupa” e não a “grupo” ou “dnâmca de grupo” por consderarem que um grupo é uma experênca hsórca que se consu em empo e espaço deermnados e que
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expressam város aspecos da socedade. O grupo se consu a parr de múpas deermnações, conforme Marns (2003), cando Lane (2012): “o sgnicado da exsênca e da ação grupa só pode ser enconrado denro de uma perspecva hsórca que consdere a sua nserção na socedade, com suas deermnações econômcas, nsuconas e deoógcas”. Segundo Marns (2003), Lane raz a dscussão sobre o pape deermnane do processo grupa na superação do ndvduasmo ão arragado, que necessa da superação para a reazação de um rabaho comunáro que busque o desenvovmeno da conscênca soca e da auonoma dos ndvduos. Marn-Baró (2008), parndo da compreensão de que os grupos são o resuado de múpas deermnações, enende que desa reação há aguns desdobramenos que se expressam peas conradções enre: ndvdua/soca; compeção/nerdependênca; dependênca/ndependênca; er/não er recursos para exporar o ouro. Ee apresena rês aspecos fundamenas para a anáse do processo grupa: dendade do grupo, (o que caracerza o grupo enquano a); o poder do grupo em reação a ouros grupos e a avdade desenvovda peo grupo e a sgnicação soca da avdade.
Metodooga A meodooga que escohemos como camnho para chegar aos objevos desa pesqusa esá fundamenada nos prncpos da Pesqusa-Ação-Parcpane (PAP), endo como referenca eórco-meodoógco a Pscooga Soco-hsórca. Como esraéga meodoógca uzamos o desenvovmeno do processo grupa conforme proposo por Lane (2012) e Marn-Baró (2008) e ambém eemenos da pscooga nsucona. A PAP se consu como um conjuno de procedmenos meodoógcos dreconados à superação da dcooma enre eora e práca e esá em pena consonânca com os prncpos, vaores e prácas da economa sodára (auogesão, democraca, parcpação, guadade) e é oamene coerene com a perspecva da pscooga soco-hsórca que busca compreender os fenômenos em sua processuadade a parr das múpas deermnações e da reação daéca que se esabeece enre eas na sua consução.
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O referenca eórco que fundamena a PAP que adoaremos esá baseado nas concepções desenvovdas por auores ano-amercanos, como Thoen, Fas Borda e Brandão. Traa-se de uma meodooga com enfoque crco em uma perspecva de ransformação soca, fundamenada a parr do maerasmo hsórco daéco que busca capar e compreender os fenômenos em sua processuadade e desenvover um processo de formação/educação connuo que conduza os sujeos a desenvover a conscênca crca e superar a aenação ao mesmo empo em que promova uma práca poca ransformadora. A PAP se consu em um conjuno de esraégas que vsam proporconar uma neração enre o pesqusador e o objeo de sua pesqusa, para que os conhecmenos adqurdos possam auxar a modicar a readade. De acordo com Thoen (2006, p. 156) “A pesqusa-ação é reazada em um espaço de nerocução onde os aores mpcados parcpam na resoução dos probemas, com conhecmenos dferencados, propondo souções e aprendendo na ação”. A proposa da PAP é a produção coeva do conhecmeno, a parr da parcpação ava dos sujeos pesqusados em odas as fases da pesqusa. Thoen (2006), cano Srnger (1999), airma que em um processo de PAP a parcpação se orna mas efeva quando: (a) possba maor nve de envovmeno; (b) capaca as pessoas na reazação de arefas; (c) apóa as pessoas para aprenderem a agr com auonoma; (d) foraece panos e avdade que as pessoas são capazes de reazar soznhas; (e) da mas dreamene com as pessoas do que por nermédo de represenanes ou agenes. Sawaa (1987) airma que: A pesqusa parcpane é um modo de pesqusa soca que busca a pena parcpação da comundade na anáse de sua própra readade, com o ob jevo de promover a ransformação soca, para seu própro beneíco. Mas, apesar da ênfase na avdade nvesgava, ea é uma avdade educava e de ação. Pare do pressuposo de que o compromsso com a ransformação se manfesa na consrução coeva do conhecmeno. Iso é, de que esse processo de pesqusa, quando usado peo povo podera conduz-o a uma conscenzação, que por sua vez, possbara uma práca poca organzada e ransformadora. ... mpora pesqusar com a popuação e não sobre a popuação.
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No caso dos rabahadores da economa sodára há um conhecmeno acumuado ao ongo dos anos de ressurgmeno do movmeno no Bras que não pode de forma aguma ser desconsderado. Podemos dzer que parmos de uma perspecva Gramscana, no sendo de resgaar o saber popuar, para ncorporá-a na produção cenica sem, no enano, car num popusmo que gnora a domnação deoógca a que esão submedos os sujeos e a dmensão subjeva que os consu a parr da readade hsórca e soca ao qua esão nserdos. Concordamos com Souza (2012) quando airma, em sua ese de douorado: “A adoção da PAP vsa ornar as nvesgações mas do que um conjuno de nsrumenos de coea de dados. É ransformar a pesqusa em avdade pedagógca e poca. ”
Sujetos da pesqusa Os sujeos de nossa pesqusa serão rabahadores de Empreendmenos Econômcos Sodáros. Os EESs parcpanes da pesqusa serão deindos poserormene, mas deverão ser seeconados prncpamene a parr das segunes condções: (a) médo ou grande pore (consudos por no mnmo 50 sóco-rabahadores), (b) mas de rês anos de exsênca, (c) provenenes de regões meropoanas de São Pauo. O rabaho de pesqusa-nervenção será reazado com dos EESs com caracerscas dsnas: (a) uma empresa recuperada; (b) uma cooperava de caadores de resduos sódos. Uma empresa recuperada é um EES que surge a parr de uma massa fada de uma empresa e que passa a ser conroada peos seus operáros, que se ornam sócos, porano, raz em sua consução a cuura empresara. Uma cooperava de caadores de resduos sódos surge da unão de rabahadores anes acosumados ao rabaho auônomo e em condções exremamene precáras, sem nenhum po de recurso ecnoógco. Esses dos pos de EESs são os pos mas comuns enconrados nos conexos urbanos das grandes merópoes, mas razem em sua consução dferenças fundamenas. Dessa forma poderemos fazer ambém um esudo comparavo.
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Estratégas metodoógcas A apcação do Processo Grupa, conforme a proposa de Lane e Marn Baró, se consurá como uma esraéga cenra no desenvovmeno das avdades com os rabahadores. Concusão
Concundo, é precso dzer que ese projeo anda esá na fase nca e poderá sofrer aerações ao ongo de sua execução, uma vez que esará submedo às varanes que ndependem da vonade do pesqusador. No enano, esperamos não nos desvar dese camnho e conrbur para a consrução de novos conhecmenos, com o desenvovmeno da economa sodára como uma proposa de ransformação soca. Referêncas
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Pscooga e formação dos/as trabahadores/as de empreendmentos econômcos sodáros Marene Zazua Beatrz
Mara Lusa Carvaho
Introdução
A Economa Sodára consse em dversas modadades de organzações econômcas (assocações, cooperavas, empresas de auogesão) consudas a parr da vre assocação dos rabahadores, gerdas a parr dos prncpos de auogesão, cooperação, dsrbução de rqueza e sodaredade. Nesse sendo, propõe-se a romper com a ógca capasa, por meo da aboção da dvsão enre rabahadores e meos de produção, rabaho e capa, produção e apropração. A Economa Sodára surgu como uma resposa dos/as rabahadores/as à crse das reações de rabaho, ao aumeno da excusão soca e às grandes mazeas do aua ssema capasa (Mnséro do Trabaho e Emprego, 2014). Enreano, os conceos de desenvovmeno e eicênca na Economa Sodára não são pauados apenas em aspecos econômcos, mas ressaam prncpamene as quesões humanas e socas, aem do respeo ao meo ambene, endo como foco não a acumuação, mas o aendmeno das necessdades eemenares e a busca do bem vver para odos. A preocupação, porém, não se ma ao aendmeno das necessdades maeras, mas envove aqueas referenes à auonoma, ao reconhecmeno e à nserção soca. Desaca-se, anda, a combnação de avdades econômcas com avdades cuuras e educavas, vaorzando o sendo da comundade de rabaho e o compromsso com a comundade na qua se nsere (Arruda, 2003). Do projeo à práca, a Economa Sodára enconra dversos obsácuos, denre os quas as baxas escoardade e quaicação proissona de seus/suas rabahadores/as haja vsa que, em sua maora, são orundos/
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as de camadas pobres e excudas do acesso à educação de quadade e a proissões mas quaicadas. Oura dicudade dz respeo ao fao de esses/as rabahadores/as, vvendo em uma socedade capasa, ao ngressarem na Economa Sodára razerem consgo vaores deoógcos beras arragados, como o ndvduasmo, não sendo fác a subsução por vaores como a cooperação (Meo Neo, 2006). O enfrenameno dessas dicudades requer uma educação connuada desses rabahadores, educação esa que no Bras é acerçada na Educação Popuar de Pauo Frere. A Pscooga nsere-se nesse conexo no sendo de conrbur, a parr de seus saberes e prácas, para a superação das dicudades de formação e quaicação, especamene no que dz respeo à consrução de uma subjevdade pauada nos vaores da Economa Sodára. Ao mesmo empo em que conrbu para a consodação dos empreendmenos econômcos sodáros, a nserção da Pscooga nesse campo ampa as possbdades da auação e consrução de saberes do (a) pscóogo (a) no que dz respeo ao conexo do rabaho. Abrem-se possbdades dsnas das prácas e dos saberes radconas vncuados à Pscooga Organzacona, radconamene assocados à organzação capasa do rabaho. Nesse sendo, a parr do referenca eórco da Pscooga Socohsórca, o presene rabaho em por objevo dscur as conrbuções da Pscooga para a formação de rabahadores/as de empreendmenos econômcos sodáros a parr de uma experênca de oicnas reazadas juno a rabahadores/as de empreendmenos suados em Curba, Regão Meropoana, Vae da Rbera e Lora do Paraná. As oicnas ocorreram no perodo de 2009 a 2012 e izeram pare de um projeo de exensão promovdo peo curso de Pscooga de uma unversdade prvada no Esado do Paraná. Economa sodára e pscooga
A Economa Sodára é deinda como uma nova forma de produzr, vender, comprar e rocar o que é necessáro para vver, fazendo sso de modo não exporaóro, pauando-se na sodaredade e na auogesão. A sodaredade envove o reconhecmeno, o respeo e acohmeno do ouro como pare nrnseca de cada ndvduo. Reacona-se à corresponsabdade que va aém do mero cumprmeno de deveres, mas envove
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uma posura ava de quem acohe o ouro porque ese he é dferene e compemenar, é a dvsão de responsabdades e consequêncas. Para Lsboa (2003) e Spnk (2008), a sodaredade envove envove vaores como a parha, a recprocdade e a comuncação daógca. Compemenarmene, auogesão em como premssa que não há empregadores/as e empregados/as, mas cooperados/as, que são corresponsá corresponsáves ves peas ações codanas e esra esraégcas, égcas, omando-se decsões de forma coeva e democráca, uma vez que odos/as êm dreo a voo. A Economa Sodára eve sua orgem no cooperavsmo operáro do sécuo XIX, mas ressurgu no ina do sécuo XX em decorrênca da precarzação do rabaho e do aumeno drásco do desemprego devdo ao neoberasmo. Assm, as endades de apoo e de fomeno (Cáras, MST, Incubadoras Tecnoógcas de Cooperavas Popuares, Agênca de Desenvovmeno Sodáro, Fundação Unrabaho, Unversdades, enre ouros) que promovem a Economa Sodára prorzam a organzação de empreendmenos empreend menos econômcos sodáros consudos por rabahadores rabahadores// as excudos/as do mercado de rabaho forma. Apesar dessa prorzação e da busca pea promoção da ncusão por meo da geração de rabaho e renda, a Economa Sodára S odára emerge como uma aernava de organzação produva de rabahadores/as, reazada de forma coeva, democráca e sodára, cujo objevo é mas ampo e conempa a superação do ssema capasaa (Arruda, 2003; Nascmeno capas Nascmeno,, 2006). No enano, o que se observa de fao é que os empreendmenos econômcos sodáros enconram dversas dversas dicudades para se consodarem. Um dos prncpas obsácuos é acançar nves de eicênca na produção e comercazação comparáves aos da economa capasa (Snger, 2002; Tomé, 2005), o que podera ser aenuado e/ou superado pea cração de redes sodáras que negrem cadeas de fornecedores, produores e consumdores gados à Economa Sodára. Aém dsso, conforme conforme já cado, predomnam os baxos nves de escoardade e de quaicação proissona de seus/suas rabahadores/as, (Meo Neo, 2006), o que requer pocas púbcas e apoo de unvers unversdades dades e organz organzações ações cvs. Ouro desaio refere-se à promoção, dfusão e ncorporação dos vaores da Economa Sodára (cooperaç (cooperação, ão, parcpação, ec.). Ao ngressarem nos empreendme empreendmenos nos econômcos sodáros, os/as rabahadores/as rabahadores/as razem arragados fores vaores deoógcos beras, o que se relee em
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
dicudades nas reações enre os/as rabahadores/as e na auogesão, fazendo com que no neror dos empreendmenos haja reprodução de reações herárqucas e de domnação e uma projeção das responsabdades no ouro, ao nvés de reações de sodaredade, guadade, posura de sujeo e uma efeva práca auogesonára (Mranda, 2008; Meo Neo, 2006; Veronese & Guaresch, 2005). A parr da perspecva da Pscooga Socohsórca, compreende-se essas dicudades e conradções, referenes à dmensão subjeva, como decorrenes do fao de o ser humano ser consudo a parr de sua avdade maera, consundo-se, smuaneamene, como objeo e sujeo de sua ação nencona. Assm, ao mesmo empo em que a auogesão requer e possba processos de subjevação emancpaóros e sodáros (Veronese (Veronese & Guaresch, 2005), guamene seus aores, ao esarem nserdos em uma socedade capasa, esão sujeos aos modos de subjevação ndvduasas e massicadores. Porano, as mudanças subjevas não ocorrem de forma nsanânea e esão sujeas a avanços, rerocessos e conradções. Enfrenar esse desaio requer a reazação de formação connuada dos/as rabahadores/as. A formação na Economa Sodára vsa promover a consrução coeva de aprendzados pocos, esraégcos, econômcos, meodoógcos e écncos com a inadade de quaicar e vabzar os empreendmenos econômcos sodáros em conformdade com seus vaores e prncpos. No Bras, basea-se na abordagem frerana, segundo a qua “A “A Educação, como práca da berdade, é um ao de conhecmeno, uma aproxmação crca da readade” (Frere, 1979, p.15) e que em por objevo a ransformação soca. A Economa Sodára reconhece o rabaho como prncpo educavo na consrução de conhecmenos, sendo as ações educavas baseadas na auogesão, na cooperação, na sodaredade e na compreensão da dversdade de sujeos e de ações. Essa formação precsa ser permanene, uma vez que há sempre o rsco de os/as rabahadores/as se desvruarem dos prncpos auogesonáros devdo ao crescmeno do empreendmeno e ambém à percepção da mporânca de adequação às mudanças do mercado, às novações ecnoógcas e à egsação, que acabam por burocrazar o ssema. Ou seja, é precso não apenas uma formação écnca, mas uma mudança cuura e da subjevdade, que não é fác de ser acançada, uma vez que, como assnaado, os/as rabahadores/as da Economa Sodára esão nserdos/as em uma socedade capasa e sujeos a seus vaores e modos de subjevação (Arruda, 2003; Hamasak e a., 2006).
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A formação na Economa Sodára deve, porano, envover ações que promovam processos de subjevação sodáros e emancpaóros. Nesse sendo, Counho, Beras, Pcnn e Luckman (2005) desacam que a Economa Sodára proporcona uma ampa possbdade de auação dos/as pscóogos/as pscóogos/as socas e do rabaho à medda que podem conrbur para a escua de vvêncas de prazer e sofrmeno dos/as rabahadores/ as, desenvover a conscênca crca, a auonoma e a sodaredade, ressgnicando a dendade proissona do/a rabahador/a e foraecen foraecendo do o vncuo grupa. Para os auores, o resgae da Pscooga Comunára ambém é de grande vaa, uma vez que hsorcamene eseve voada aos grupos popuares e mnoráros que são os prncpas proagonsas da Economa Sodára. A Pscooga nsere-se nessa rajeóra, a parr de uma perspecva crca, quando consdera a cenradade do rabaho e sua mporânca na consrução da subjevdade. Não se ma a quesonar e denuncar o aprsonameno da subjevdade, a aenação e exporação dos/as rabahadores/as peo capasmo, mas apona para enavas dos sujeos de ressrem ressr em a as processos, emancpando-se/emp emancpando-se/empoderando-se oderando-se,, consrundo, coevamene, uma organzação do rabaho que promova modos de subjevação que vaorzem a rqueza da dfer dferença ença e da snguardade, por meo de novas formas de organzação do rabaho, como é o caso da Economa Sodára. Em E m sua auação, o/a pscóogo/a deve esar aeno/a aeno/a para não reproduzr reações de domnação, anda que de forma dssmuada, ocupando a posção de agene da beração ou promovendo uma auonoma meramene ndvdua que, ao conráro, pode agravar os efeos do ndvduasmo. Saena-se, anda, que, ao se nserr na Economa Sodára, seja como pesqusador/a, seja como proissona, o/a pscóogo/a, ao mesmo empo em que conrbu, ampa seus saberes e prácas, em especa no que se refere à nserção da Pscooga no campo do rabaho, que hsorcamene pauou-se predomnanemene numa perspecva de cooperar para a mobzação subjeva dos/as rabahadores/as em pro dos neres neres-ses do capa. Por im, desaca-se que não há um consenso em reação à proposa da Economa Sodára, que em sdo avo de crcas. Assm, ao mesmo empo em que desaca a mporânca de ações de enfrenameno ao
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
ssema do capa, Faras (2013) susena que a Economa Sodára não consu nem uma nova economa e nem uma economa sodára, mas um conjuno dferencado e heerogêneo de organzações (organzações coevsas de produção assocada), as quas possuem caracerscas auogesonáras que mpcam, ao mesmo empo, em rupuras e compemenardades no neror da forma de produção capasa, mas não se consuem como nova forma de produção. Tas crcas são crucas para que aores da Economa Sodára (pesqusadores/as, rabahadores/as, ec.) manenham uma posura crca e auo-relexva no sendo de jugar, dscernr e pensar sobre a readade e sobre as própras prácas e pressuposos, denicando dicudades, mes e conradções, aém de buscar modos de superá-os, de modo a promover o avanço e foraecmen foraecmeno o da Economa Sodára. Metodooga da formação dos/as trabahadores/as trabahadores/as de empreendmentos econômcos sodáros
A formação dos/as rabahadores/as de empreendmenos econômcos sodáros ocorreu denro de um eveno maor denomnado de Fera Unversára Unvers ára de Economa Sodára. A dea da formaação de uma fera unversára ncou-se com a parcpação da professora orenadora do eságo obrgaóro em Pscooga Organzacona e do Trabaho - uma dscpna oferecda no úmo ano de formação do curso de graduação em pscooga - no movmeno da Economa Sodára do Esado do Paraná, em especa no Fórum Esadua de Economa Sodára (Cruz & Zazua Bearz, 2011). Ta professora observou que uma das grandes dicudades dos empreendmenos a parcpanes era o escoameno da produção, pos, por faa de condções inanceras e esruuras, apresenavam probemas para enrar e se maner no mercado radcona. Oura quesão aponada fo a faa de formação em Economa Sodára, pos muos empreendmenos empreendmenos esavam consrundo sua hsóra no movmeno por meo de ações e prácas pocas e de parcpação ava em fóruns e conferêncas sem, no enano, passar por uma formação com debae e dscussão sobre o ema. Nesse sendo, a referda professora eaborou o projeo da Fera de Economa Sodára e, após os acees e os de-
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vdos apoos formazados denro da Unversdade, deu-se nco ao eveno, em mao de 2009 e, a parr da segunda edção, ornou-se um eveno de exensão permanene. É mporane saenar que a Unversdade em quesão era prvada e ocazada na cdade de Curba, Esado do Paraná. Os objevos da fera foram: oporunzar o escoameno da produção e da presação de servços de números empreendmenos sodáros de Curba, da regão meropoana, do Vae da Rbera e do Lora do Paraná; possbar a conscenzação da comundade acadêmca sobre as prácas econômcas e socas que prvegam o rabaho coevo, a auogesão, auoges ão, a jusça soca, o cudado com o meo ambene e a responsabdade com as gerações fuuras; propcar uma semana de formação em Economa Sodára abera aos empreendmenos econômcos sodáros. A Unversdade possbou a organzação e a operaconazação da Fera Unversára Unversára de Economa Sodára dsponbzando: espaço, eercdade, água e segurança, sem ônus para os empreendmenos, aém da dvugação na comundade acadêmca e em seu enorno, esmuando o comérco juso e o consumo conscene e éco. Para parcpar, o empreendmeno devera ser negrane avo do Fórum Esadua de Economa Sodára e ou do Fórum Regona de Curba, regão meropoana, Vae do Rbera e Lora do Paraná. O prmero eveno ocorreu durane a semana de comemoração de anversáro da Unversdade, Unversdade, no perodo de 25 a 29/05/09. A segunda edção ocorreu em ouubro desse mesmo ano. A ercera e a quara edções ambém ocorreram ocorreram nos meses de mao e ouubro de 2010 e nos mesmos meses em 2011 e 2012. Ao odo foram 8 feras unversáras e 7 formações. A dea era reazar um eveno por semesre evo. O horáro de funconameno da fera para o púbco acadêmco e a comundade em gera fo das 9h às 21h. Cada fera durou cerca de uma semana, ocorrendo nos perodos da manhã e da noe. As ardes foram dedcadas para a formação em Economa Sodára dos empreendmenos. Ta suação desenhou-se a parr da 2ª. edção, porque no urno da arde hava uma queda de crcuação de púbco pea fera, o que esmuou a cração do momeno educavo, aproveando para reunr o grupo e reazar a formação. As formações aconeceram sempre no perodo da arde, em orno de 2 a 3 horas aua, oazando uma carga horára horára méda semana de 15 horas aua por fera. 221
Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
As demandas de cada oicna foram evanadas e negocadas juno ao grupo de rabahadores/as a parr das avaações reazadas ao ina de cada eveno, conforme pode ser observado na Tabea 1. Durane as formações obeve-se uma méda de parcpação de 15 empreendmenos econômcos sodáros e de 20 rabahadores/as. O espaço da Unversdade fo consderado aproprado, porque aém de amenzar as quesões supramenconadas, aproxmou a dscussão do movmeno da Economa Sodára com o meo acadêmco. O referdo projeo de exensão ncou-se vncuado ao curso de Pscooga e envoveu, ao ongo do empo, ouras áreas do conhecmeno, como: Desgn de Moda, Informáca, Admnsração, Pubcdade e Propaganda, Foograia, Eséca, Educação Fsca, aém do curso de pós-graduação em Formação Educação, Ambene e Formação Humana para a Susenabdade, quer seja para auar como oicneros, quer seja para efeuar mehoras na fera de Economa Sodára (esruura e ogsca, comuncação e dvugação, formação). Apresentação e dscussão dos resutados
O objevo dese rabaho fo dscur as conrbuções da Pscooga para a formação de rabahadores de empreendmenos econômcos sodáros a parr de uma experênca de oicnas reazadas juno a rabahadores de empreendmenos suados em Curba, Regão Meropoana, Vae da Rbera e Lora do Paraná, que ocorreram no perodo de 2009 a 2012. Observou-se que cerca de 90% dos/as rabahadores/as dos empreendmenos parcpanes das formações eram do sexo femnno. Em ermos de forma de organzação de rabaho, 55% dos/as rabahadores/as esavam organzados/as em grupos de rabaho nforma, 18% em assocações e 27% esavam dvddos/as enre cooperavas e mcro e pequenas empresas. Os empreendmenos conavam com uma grande dversdade de produos, como: bosas bordadas, aresanao em iro de café, fanoches, panos de prao, cachecós, bonecas de pano, acessóros femnnos, produos ruras, aém de uma varedade de doces e sagados das panicadoras comunáras.
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A demanda da prmera formação se deu pea ncava e observações de campo da professora do curso de Pscooga, conforme comenado anerormene, sendo reazada uma Mesa Redonda denomnada: “O Movmeno da Economa Sodára no Bras”. No enano, a parr da segunda fera, percebeu-se a necessdade de se evanar os emas noreadores das formações juno ao grupo de rabahadores/as parcpanes, ornando-se, assm, uma consrução coeva. Conforme demonsrou-se na Tabea 01, os emas das formações foram dreconados a rês dmensões: reacona (cuura sodára, comuncação humana, negração de grupo, faar em púbco); écnca (formação de preços, vrnsmo, foograia, nformáca, cravdade) e poca (movmeno da economa sodára, cara de prncpos, enre ouros). Tabea 1. Programa de formação dos/as trabahadores/as de empreendmentos econômcos sodáros durante Feras Unverstáras de Economa Sodára de 2009 a 2012
Datas
Temas trabahados nas oicnas
Mesa redonda: O
I Fera (05/2009)
Movmeno da Economa Sodára no Bras.
II Fera (10/2009)
Consumo Conscene. Cuura Sodára; Formação de Preços; Pano Nacona de
III Fera (05/2010)
Comercialização
Sodára; Prácas Susenáves; Banco Comunáro.
Oicneros parceros
Represenane de EES urbano, rura, endade de apoo e gesor púbco no Fórum Esadua de Economa Sodára. Prof. Curso de Pscooga. Aunos da pósgraduação de Educação, Ambene e Formação Humana para a Susenabdade.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
IV Fera (10/2010)
Auogesão; Cara de Prncpos da Economa Sodára; Formação de Preços.
V Fera (05/2011)
Apresenação do Produo/Vrnsmo, Inegração e Comuncação Humana: feedback ; Formação de Preços; Incação à Foograia.
Prof. Admnsração.
Prof. dos cursos de: Design de
Moda; Pscooga; Admnsração e Foograia.
Acessórios e
VI Fera (10/2011)
Cravdade; Apresenação Pessoa; Regmeno Inerno da Fera Unversára; Redes Socas; Inegração do Grupo.
Prof. dos cursos de: Desgn de Moda; Pscooga; Informáca e Eséca.
VII Fera (05/2012)
Inegração do grupo – Dicudades e Ponos Fores; Faar em Púbco; Quadade de Vda e Saúde.
Prof. dos cursos de Pscooga e Educação Fsca.
VIII Fera (11/2012)
Cooperavsmo; Informáca Básca e Redes Socas.
Prof. Represenane Gesor Púbco e Curso de Informáca.
Fone: Reaóros inas de eságo obrgaóro do curso de Pscooga de uma Unversdade Prvada do Esado do Paraná, no perodo de 2009 a 2012.
Com reação à busca de proissonas parceros para mnsrar as referdas oicnas, a equpe de organzação do eveno consaou a dicudade para se enconrar, denre os/as professores/as da Unversdade e os/as proissonas convdados/as, aquees/as que vessem a vvênca e a compreensão dos prncpos da Economa Sodára. Ta cudado fo ne-
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
cessáro para evar que os emas fossem raados sob a óca do ssema capasa. Ou seja, ao mesmo empo em que buscou-se formar os/as rabahadores/as de empreendmenos sodáros, percebeu-se a faa de formadores/as preparados/as e a necessdade premene de se consur uma rede de formadores em Economa Sodára. No ocane à dmensão reacona da formação observou-se um eevado nve de conlo exsene enre os/as rabahadores/as dos empreendmenos. A orgem de as conlos versou enre: dferenças de vvênca enre os membros que já esão há muos anos envovdos com a Economa Sodára e aquees que são ncanes, prncpamene com reação à faa de conhecmeno dos prncpos da Economa Sodára por pare dos novos negranes e ao desânmo daquees que há muo empo uam por pocas púbcas; dspuas de poder e rvadades enre os empreendmenos econômcos sodáros, no que concerne a acear novos/ as negranes ano nos fóruns quano nas feras, mando a ampação do movmeno da Economa Sodára na regão Meropoana de Curba, no Vae da Rbera e no Lora do Paraná. Aém dsso, há dspua de poder enre os empreendmenos econômcos sodáros e os demas aores socas gados ao Fórum Esadua e/ou Muncpa de Economa Sodára, a saber: os gesores púbcos e as endades de apoo, sendo que a maor dspua concenra-se enre os dos úmos. Percebe-se uma ua nensa por espaço soca mas ampado em dermeno do rea movo da exsênca do fórum, que são os empreendmenos econômcos sodáros. Ta suação evana uma das conradções do movmeno da Economa Sodára, ou seja, onde se devera prvegar a auogesão enconram-se, muas vezes, posuras heerogesonáras advndas do ssema que o própro movmeno busca combaer: o capasa. Com reação à formação da dmensão écnca, é mporane desacar a nexperênca e a fragdade de aguns empreendmenos em reação à gesão, quando se percebeu que muos rabahadores/as demonsraram oa faa de conhecmeno em reação à formação de preço de seus produos. Aém dsso, observou-se que, apesar de os empreendmenos erem passado por váras semanas de formações, houve baxo mpaco na reformuação/auazação/mehora da quadade dos produos de aguns dees, ocasonando baxa comercazação durane as feras reazadas na unversdade.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
Na dmensão poca, váras quesões foram evanadas peos/as rabahadores/as para a efevação do projeo poco da Economa Sodára no Bras, as como: faa de crédo para os empreendmenos, de apoo dos órgãos governamenas e de condções para comercazação de seus produos. Tas suações esão sendo dscudas no Fórum Brasero de Economa Sodára e ambém em nsâncas governamenas, como a Secreara Nacona de Economa Sodára, com base nos resuados advndos das duas Conferêncas Naconas de Economa Sodára, reazadas nos anos de 2006 e 2010, respecvamene. Porano, são suações que exrapoam o âmbo de decsão do empreendmeno econômco sodáro, mas que sem uma deinção cara de pocas púbcas acabam por prejudcar sobremanera o da a da dos mesmos. Com reação à parcpação dos empreendmenos econômcos sodáros no Fórum Esadua e/ou Muncpa de Economa Sodára, uma das rabahadoras parcpanes da oicna pareceu ser a pora voz dos/as demas rabahadores/as quando comenou: “ A nguagem dos gestores e das endades tem que ser a mesma dos empreendmentos. Os gestores querem faar peos empreendmentos, acho que os empreendmentos devem ser ouvdos, os gestores não têm que dzer o que ferantes devem fazer ”. Ou seja, querem dzer que como aores socas do movmeno da Economa Sodára, não senem que possuem voz no fórum, sendo que o seu únco dreo é ouvr e acaar as decsões omadas peos gesores púbcos e as endades de apoo. Conforme já menconado anerormene, aém da quesão da cara dspua de poder enre as aores socas, há a manuenção dos rabahadores como objeo das ações do fórum e não a busca de seu foraecmeno e emancpação. Ouro comenáro mporane de um dos parcpanes fo: o mas ncrve é que não estamos pedndo bosa fama, vae gás, etc., o que queremos é o dreto de trabahar e sso é que nos dexa ndgnadas, porque a forma da gente trabahar é expondo nossos produtos, tendo um oca que possamos sobrevver da Economa Sodára, porque atuamente todos têm que buscar outras fontes de renda. Não estamos pedndo esmoa, apenas o dreto de trabahar.
Tas comenáros remeem à airmação de Demo (2003), de que o cerne mas duro da pobreza não se reduz à carênca maera, mas à excusão soca em não consegur ser sujeo, uma vez que não envove apenas 226
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
a negação do acesso aos meos de subssênca, mas mpossba a auonoma emancpaóra. Airma o auor: “ser pobre não é apenas não er, mas, sobreudo ser mpeddo de er e, sobreudo de ser, o que desvea suação de excusão njusa” (p. 38). Assm, não basa uma parcpação econômca, é necessára uma parcpação poca. Os/as rabahadores/as comenaram que gosaram de er feras de Economa Sodára organzadas com o apoo dos gesores púbcos, em ponos esraégcos da cdade, com boa crcuação de pessoas para comercazarem seus produos, aém de dvugarem o que é a Economa Sodára à socedade. Na opnão dees/as, sso beneicara muos empreendmenos, evando a dessênca do movmeno da Economa Sodára por faa de esmuos, condções de rabaho e geração de renda, quando decdem procurar por emprego no mercado de rabaho ou auar na economa nforma. Ta fao enfraquece o movmeno da Economa Sodára enquano desenvovmeno de pocas púbcas e a mpanação de um pano de desenvovmeno para o pas. Consderações inas
Faar de Economa Sodára é faar [ou dexar de faar] de muos ponos ao mesmo empo. É um movmeno que esá em consrução e sso por s só demonsra a compexdade e as conradções exsenes e que são muo díces de serem rabahadas sem uma deinção cara do que se deseja enquano socedade. Apesar de as Conferêncas Naconas darem psas sobre que po de socedade os aores socas envovdos no movmeno da Economa Sodára desejam, como por exempo, “A Economa Sodára como Esraéga e Poca de Desenvovmeno” e “Peo Dreo de Produzr e Vver em Cooperação de manera Susenáve” – emas das 1ª. e 2ª. Conferêncas, respecvamene - sso não reraa, anda, uma decsão esraégca de desenvovmeno mas ampa e concrea da socedade. Ese reao de experênca sobre a mpanação das feras de economa sodára e da formação de seus/suas rabahadores/as demonsrou que exsem muas dmensões que precsam ser mehoradas peo movmeno, a saber: a reacona, a écnca e a poca. Esá-se faando de denro para fora dos empreendmenos, mas ambém icou bem demarcado
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
que exsem númeras quesões esruuras e pocas que precsam ser rabahadas em ermos de pocas púbcas. Quesões reavas ao marco ega, ao subsdo governamena para o desenvovmeno dos empreendmenos econômcos sodáros, à cração de redes sodáras e à formação propramene da, são aguns dos ponos a serem mpanados. Apesar de os/as rabahadores/as da Economa Sodára demonsrarem faa de conhecmeno ampo sobre a Economa Sodára, percebeu-se que há careza enre as dferenças fundamenas da Economa Sodára e do ssema econômco capasa, coocando-se conráros a aspecos como a compevdade e a desvaorzação do rabaho humano. Percebeu-se, ambém, que apesar de anas conradções e dicudades os/as rabahadores/as da Economa Sodára acredam nos prncpos da Economa Sodára, buscam por pocas púbcas, dsponbzam-se para aprender, parcpam de enconros, fóruns, formações e conferêncas e creem que uma economa baseada na sodaredade é possve de ser acançada, mesmo que seja para as próxmas gerações. A conrbução da Pscooga nese projeo de exensão fo crar um espaço de dáogo enre os/as rabahadores/as de Economa Sodára e enre ees/eas e a comundade acadêmca. Com reação ao espaço de dáogo enre os/as própros/as rabahadores/as, a Pscooga buscou ouvr as quesões que facavam e as que dicuavam a coesão e o avanço dos empreendmenos econômcos sodáros no conexo da readade urbana em que vvam. A parr dos evanamenos reazados, város emas reaconas foram rabahados, buscando o desenvovmeno nrapessoa (auoconhecmeno) de cada um/a dos/as rabahadores/as, passando peo desenvovmeno nerpessoa, com o objevo de se chegar a uma dendade grupa enquano empreendmenos econômcos sodáros que pudessem er vez e voz nas reunões dos Fóruns de Economa Sodára (quer sejam muncpas e/ou esaduas), sempre vsando à auonoma e à negração. A Pscooga buscou ambém aar-se a ouras áreas de conhecmeno para que pudessem ser agregadas ao movmeno no que ange aos conhecmenos écncos e pocos ão necessáros para a compreensão do processo de foraecmeno da Economa Sodára na regão. Porém, percebeu-se que a Pscooga, enquano cênca e proissão, precsa avançar em seus conhecmenos e auações em ermos do rabaho humano. Aina, oura readade se denea e esa é a readade dos 228
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
aores socas que buscam avdades que hes ragam ncusão soca, dgndade e cdadana. São aores socas que buscam escrever sua própra hsóra, parcpam de movmenos socas e uam por pocas púbcas. A Pscooga precsa esar aena a essas demandas, aém de esar envovda e compromeda com as causas coevas, com enfoque na geração de rabaho e renda de forma assocava. É necessáro compreender o funconameno dos grupos socas, da auogesão, das dspuas de poder, do desenvovmeno de pocas púbcas, do desenvovmeno oca, de uma vsão crca da socedade e do modo de organzação do rabaho e da dsrbução de renda. Ou seja, uma Pscooga voada para neresses coevos e que compreenda o movmeno hsórco dos grupos socas, bem como suas condções auas para superar as conradções do ssema econômco capasa. Referêncas
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
A conscênca soca dos trabahadores metaúrgcos das empresas de novação tecnoógca do Grande ABC Anôno Fernando Gomes Aves Savador Anono Mrees Sandova
Apresentação
O presene argo, apresenado sob o uo “A conscênca soca dos rabahadores meaúrgcos das empresas de novação ecnoógca do Grande ABC” , desponou do rabaho apresenado no XVII Enconro Nacona da ABRAPSO, que por sua vez fo resuado de ese 1 consruda em pscooga soca. Os objevos do argo procuram enender as novações ocorrdas na avdade dos rabahadores meaúrgcos e os desdobramenos pscossocas na conemporanedade, a parr do enendmeno do rabaho que êm esses sujeos e de como consroem o conhecmeno de s - self – na formação de sua conscênca soca na empresa e no APL 2 – Arranjo Produvo Loca - para a novação ecnoógca. A rajeóra de pesqusa requer cruzamenos nerpreavos compexos. Ao ongo do esudo, persegumos os objevos descros: num prmero momeno, a parr das avdades dos rabahadores, comparar as esruuras empresaras e as caracerscas das reações de rabaho no 1
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Esa pesqusa fo inancada pea CAPES por meo da bosa de douorameno concedda ao auno Anôno Fernando Gomes Aves sob a orenação do Prof. Dr. Savador Anono Mrees Sandova na PUC/SP. Para Lasres e Cassoao (2003) e Bro e Vargas (2005), Arranjos Produvos Locas são agomerações espacas de dversos agenes econômcos, pocos e socas com foco em um conjuno especico de avdades econômcas – que apresenam vncuos mesmo que ncpenes. Os Arranjos Produvos consuem, denro da eraura, agomerações produvas, com caracerscas de mão de obra especazada, geração e dfusão de conhecmeno áco, enre ouros, represenados na ampa eraura exsene. A sga APL, ao ongo da pesqusa, corresponde a essa conceuação. A demação do esudo ixou-se no seor meaomecânco, em parcuar nas empresas que decaram er novado processos ou produos enre janero de 2006 e dezembro de 2008.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
ambene empresara para enender, em seguda, as reações de rabaho dos rabahadores meaúrgcos nas empresas ecnoogcamene novadoras com dferenes amanhos e formaos na esruura do capasmo. Compreender o processo de formação da conscênca soca dos rabahadores meaúrgcos, por meo das avdades humanas exercdas no ambene das empresas, perme desvear as uas e conqusas rabahsas na socedade do mundo do rabaho. Perseverar no camnho de compreender a conscênca e a dendade soca dos rabahadores é de reevânca para compreender o sujeo, o desenvovmeno de seu psqusmo e as nerações humanas que vão sendo ecdas peo convvo ao ongo do empo. Por im, é necessáro enender a formação pscossoca dos rabahadores submedos a mudanças connuas no cenáro das reações de rabaho, denro da empresa, num panorama descrvo e anaco, e os desdobramenos que ransbordam para a vda codana. Metodooga
Nesa seção, aém do desenho da pesqusa e da opção meodoógca, serão apresenadas as ner-reações eórco-conceuas acerca da meodooga, seus pressuposos e a manera como o pesqusador perseguu e consruu o seu processo nvesgavo. É compexa e desafadora a escoha meodoógca ao esudar as reações de conexo do rabaho no codano e suas mpcações na consução dos sujeos. A pesqusa preferu evar as caracerzações de macro e mcrougares3, consderando odo o espaço em que se consuem as reações nerpessoas e socas. A escoha meodoógca denea o camnho a percorrer para angr os objevos especicos da pesqusa. A revsão da eraura basea-se na 3
Peer Kevn Spnk, em O pesqusador conversador no codano (2008, p. 72), apresena o desaio a que esá sujeo o pesqusador, ou seja, “aprender a presar a aenção à nossa própra codandade, reconhecendo que é nea que são produzdos e negocados os sendos e... aprender a fazer sso como pare ordnára do própro codano, não como um pesqusador parcpane e muo menos como um observador dsane, mas smpesmene como pare. ... Ser um pesqusador no codano se caracerza frequenemene por conversas esponâneas em enconros suados”.
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ordem consruvsa e nerpreava, por se raar de uma anáse de nerpreações socas acerca do conexo e sendo do rabaho, dendade e suas dmensões (Bandera-de-Meo, Godo, & Sva, 2006). A pesqusa prvega um esudo muméodo com a apcação quanava – survey – e quaava – grupos focas -, o que perme ao pesqusador ampa vsão da readade e, com base na observação e na coea de dados, aprofundameno da nvesgação (Trvños, 1987), pensada em dos momenos ou fases. Como recurso meodoógco, cruzaram-se o méodo quaavo e o quanavo, dsso resuando o muméodo. No prmero momeno – Fase I - da pesqusa, o méodo quanavo, do po s urvey . Feas a anáse e a coea dos dados, no segundo momeno – Fase II – fo uzado o méodo quaavo com apcação dos grupos focas. No survey, eaborou-se um quesonáro para apcar ao conjuno de rabahadores (pesqusados) e aos grupos focas com roeros de enrevsas esruuradas, aém da anáse dos documenos dsponves no oca da pesqusa. Aneror à pesqusa de campo, fo reazada uma enrevsa semesruurada com a gesora do APL meao-mecânco do Grande ABC, vsando demar com mas precsão as dmensões a serem observadas com a pesqusa. Na prmera fase, servmo-nos de uma consrução do quesonáro baseada no cruzameno e modeo de duas escaas já vadadas. A prmera escala é a EACT4 (Escaa de Avaação do Conexo de Trabaho), para capar o enendmeno dos enrevsados quano às condções de rabaho, organzação e processo de rabaho e reações socas. Fo composa por vne e oo (28) quesões com nervao de compreensão de resposa peo rabahador de (1 a 5), sendo (1) Nunca e (5) Sempre. A segunda escaa - a EIO5 (Escaa de Idenicação Organzacona) – vsa vericar as reações de emprego e o anhameno dos vaores pessoas aos organzaconas na denicação do rabahador com a sua avdade no conexo empresara. Sua composção fo de dezesses (16) quesões com nervao de compreensão de resposa peo rabahador de (1 a 4), sendo (1) Dscordo Toamene e (4) Concordo Toamene. A ercera escaa consruda fo a EPTI 4
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A EACT fo vadada com 5.437 rabahadores de empresas púbcas federas do Dsro Federa (Ferrera & Mendes, 2008, pp. 114-115). A EIO fo vadada por 12 juzes-aunos do curso de Pscooga, que vericaram a adequação dos ens em reação ao conceo que represenavam, conando com a parcpação de 242 rabahadores de empresas púbcas e prvadas (Overa, 2008, pp. 184-185).
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(Escaa de Práca do Trabaho Inovavo), que compreende as formas de consrução do conhecmeno soca peo rabahador no aperfeçoameno da novação. Fo composa por rna e cnco (35) quesões com nervao de compreensão de resposa peo rabahador de (1 a 4), sendo (1) Dscordo Toamene e (4) Concordo Toamene. A quara e úma escaa fo a ECS (Escaa da Conscênca Soca), composa por dezesses (16) quesões com nervao de compreensão de resposa peo rabahador de (1 a 4), sendo (1) Dscordo Toamene e (4) Concordo Toamene. Não obsane, as escaas EPTI e ECS foram consrudas medane as apcações para a pesqusa, de acordo com a eraura envovda e a pernênca dos objevos especicos proposos nese esudo. A naureza quanava dese esudo descrvo consdera o evanameno das nformações juno às empresas do seor meaomecânco de suma mporânca para vericar as condções da consrução da conscênca soca do rabahador, os desdobramenos para as reações de rabaho e a nluênca nas prácas novavas do seor em esudo. A parr da amosra esasca na Fase I, seeconamos os neressados em compor os grupos focas na Fase II. Ao ina da apcação do survey na Fase I, houve consua aos pesqusados (por meo de cadasro) para saber seu neresse em parcpar da fase segune, com poseror conao por e-ma e eefone para consur os grupos focas da Fase II. Os grupos focas represenam uma das écncas de esudo mas uzadas em pesqusas quaavas, vso esarem orenados para a descobera em profunddade de assunos a serem exporados, o que perme “examnar as vozes ndvduas na dscussão”, como desaca Barbour (2009, p. 55), e promover enrevsas em profunddade. Muas vezes, concenram o neresse na raconadade do senso comum, do “conhecmeno vugar”, a im de escarecer como os sujeos consroem e arcuam a compreensão do mundo soca vvdo, a readade comparhada, sem por sso descudar dos assunos mas compexos que neressam ao pesqusador nessa práca de nervenção quaava. Especicação do modeo a ser testado O objevo dessa anáse é mehor enender como se formam as percepções dos rabahadores sobre a conscênca soca e os desdobramenos nas reações de rabaho e nas prácas novavas. Como já re234
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
ferdo, 345 rabahadores responderam às pergunas sobre as quaro (4) dmensões: o ambene da empresa, as reações de rabaho, a novação no ambene de rabaho e a conscênca dos rabahadores, adane descras. Os faores componenes nas dmensões do esudo proposo foram consrudos a parr das escaas: Tabea 1. Escaas construdas e uzadas na pesqusa Escaa
EIO
Escaa de Avaação do Conexo do Trabaho Escaa de Idenicação Organzacona
EPTI
Escaa de Prácas de Trabaho Inovavo
ECS
Escaa de Conscênca Soca
EACT
Descrção
Fonte: Eaborado peos auores.
Foram apcados rezenos e quarena e cnco (345) quesonáros 6 aos rabahadores meaúrgcos. O oa das empresas 7 pesqusadas que se propuseram ao rabaho fo nove (09), sendo duas (02) de grande pore, perencene ao seor meao-mecânco, duas (02) de médo pore e as demas cnco (05) de pequeno pore. As empresas de médo e pequeno pore perencem ao APL do seor meao-mecânco do Grande ABC. Nas empresas grandes, foram apcados seena e oo (78) quesonáros aos rabahadores, nas médas duzenos e qunze (215) e, nas pequenas, cnquena e dos (52) quesonáros, respecvamene, oazando duzenos e sessena e see (267) rabahadores pesqusados. Ao ina da coea dos dados da Fase I nas empresas, os regsros apurados foram ransformados em panha eerônca Mcrosot Exce para exporação de uso no apcavo SPSS – Stasca Package for the Soca Scences e Smart PLS 2.0 M3, para raameno esasco dos dados. 6
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Quano à apcação dos quesonáros nas empresas, não se recoheu o ermo de consenmeno a im de preservar o anonmao dos pesqusados, medane a anáse esasca reazada em seu conjuno. A apcação dos quesonáros obedeceu ao cronograma da pesqusa durane o mês de junho. A monagem do banco de dados para o raameno esasco dos dados aconeceu em juho de 2013. Por movos écos, suprmu-se a denicação das empresas, vso que êm reevo para a pesqusa apenas os resuados cohdos juno aos respondenes.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
A prmera anáse quanava fo a apcação do raameno esasco com referênca à anáse faora exporaóra 8, base para a consrução, medane o agrupameno dos faores reevanes da pesqusa, que compõe quaro (04) dmensões exposas a segur para a formação dos respecvos faores. Foram agrupados por possves causadades e sgnicânca da mporânca das varáves para cada dmensão do esudo proposo. Tvemos presene a recomendação de que “o pesqusador sempre deve examnar cada reação proposa sob uma perspecva eórca para garanr que os resuados sejam conceuamene vádos”, como preceua Har e a. (2005, pp. 500-501). Dmensão – O ambene da empresa Faor 1 - Espaço ísco de rabaho; Faor 2 - Dspua no ambene de rabaho; Faor 3 - Pressão e rmo na execução das arefas; Faor 4 - Comuncação para a execução das arefas enre der e subordnado; Faor 5 - Auonoma e empo para a execução da arefa; Faor 6 - Pessoas e nsrumenos nsuicenes para a execução da arefa; Faor 7 - Fscazação no ambene de rabaho; Faor 8 - Rscos à saúde na execução das arefas. Dmensão – As reações de rabaho Faor 1 - Sucesso reledo na mnha magem; Faor 2 - Vaores pessoas parecdos com os da empresa; Faor 3 - Vaores pessoas como movação no rabaho; Faor 4 - Pensamenos e crenças parecdos com os pessoas. Dmensão – A novação no ambene de rabaho Faor 1 - Coniança e conhecmeno enre os rabahadores mehoram o rabaho em equpe; 8
Anáse Faora é um conjuno de écncas esascas muvaradas cujo propóso é expcar a correação exsene enre as dversas varáves de um esudo, reduzndo ou smpicando a anáse dos componenes prncpas e dos faores comuns para que possam ser descras esascamene e anasadas. Com sso, deermna-se um grupo menor de varáves que possam ser agrupadas na correação sgnicane enre as varáves apcadas, seeconadas em faor (Har Jr. e a., 2005; Pesana & Gagero, 2008).
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Faor 2 - Uzação de manuas e normas écncas para mehorar o rabaho e novar; Faor 3 - Trocar conhecmenos em equpe para novar; Faor 4 - Inovação raz beneícos para empresa e rabaho, embora gere esresse; Faor 5 - Troco conhecmenos enre coegas e uzo para a novação; Faor 6 - Inovação é mporane para mehora da empresa; Faor 7 - Esudo normas e manuas para a mnha rona de rabaho; Faor 8 - Sgo normas e manuas para a novação. Dmensão – A conscênca dos rabahadores Faor 1 - Parcpação nas mudanças na empresa; Faor 2 - Reação com o Sndcao; Faor 3 - Parcpação dos rabahadores em quesões pocas e socas; Faor 4 - Parcpação em movmenos pocos e socas; Faor 5 - Órgão nsucona para os rabahadores. A rajeóra de apcação do survey , recapuamos, consou do quesonáro apcado na Fase I, conendo 80 quesões das dmensões especicas acma descras e agrupadas por sgnicânca nos faores eencados. De forma compemenar, o nsrumeno de pesqusa fo submedo a um pré-ese juno a see rabahadores meaúrgcos. A segunda anáse fo o raameno quanavo de modeagem em equações esruuras. Esse méodo “perme a avaação de reações enre consrucos não mensuráves dreamene (VL – varáves aenes” 9). Há uma dferencação cassicaóra de modeagem de equações esruuras. Na prmera, baseada na anáse de covarânca, o modeo proposo eva em consderação odas as varáves smuaneamene, são modeos LISREL. Na segunda modeagem, o modeo é baseado nas anáses espec í icas ou parcas para cada consruo, chamado de Mnmos Quadrados Parcas – (Para Least Squares), uzado como PLS-PM – Para Least Squares – Path Modeng. A nenconadade de uzação do méodo em adqurdo reevânca nos úmos anos pea possbdade de modear as varáves aenes (Bdo e a., 2010, pp. 245-248). 9
Vaores observados nas quesões especicas obdas dos pesqusados e que servem para consrur os ndcadores de consruos do modeo (Har Jr., 2005).
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A vadação esasca dos resuados obdos fo reazada medane agumas esascas compemenares necessáras para a airmação dos resuados no raameno das varáves, como o KMO – Kaser-Meyer-Okn10, o ese de Bare 11 e a MSA - medda de adequação da amosra12. KMO e Bare mosraram sgnicânca de 5%, o que demonsrou que é recomendáve a Anáse Faora Exporaóra para o esudo. Har Jr. e a. (2005, p. 98) airmam que um pouco de muconeardade é dese jáve porque denica as varáves ner-reaconadas do esudo. Reazada a eapa de raameno dos dados esascos, obdos pea anáse faora exporaóra, e, em seguda, os eses, foram nserdos os dados no programa do SPSS, objevando o agrupameno e a correação das varáves apcadas na pesqusa. Foram execuadas as écncas de anáse unvarada, bvarada e muvarada para, na sequênca, angr a modeagem de equações esruuras 13. Após a anáse faora exporaóra, apcou-se o sotware Smart PLS 2.0 M3 para ober as reações das varáves do esudo e a consução do modeo de equações esruuras. A Modeagem de Equações Esruuras perme uma sequênca de reações de dependênca smuânea enre dversas varáves com a apcação do PLS-PM.
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KMO - É o ndce que compara a magnude dos coeicenes de correação enre as varáves esascas em reação aos coeicenes de correação parca empregados. O ese esasco de esfercdade de Bare necessa ser ˃ 1,96 – o que orna a reação esascamene sgnicane para as cargas faoras. O ese “fornece a probabdade esasca de que a marz de correação enha correações sgnicanes enre peo menos agumas das varáves” (Har Jr. e a., 2005, p. 98). Aumenar o amanho da amosra do ese causa o aumeno da sensbdade na correação enre as varáves. Medda de adequação da amosra serve para quanicar o grau de nercorreações enre as varáves. “A marz an-magem coném na sua dagona prncpa as meddas de adequação amosra (MSA) para cada varáve. Quano maores forem essas meddas e menores as que se suam fora da dagona prncpa, mas sugerem a não excusão dessa varáve na anáse faora” (Pesana & Gagero, 2008, p. 493). Segundo Har Jr. e a. (2005, pp. 466 - 470), “em sdo usada em quase odas as possves áreas de esudo, ncundo educação, markeng, pscooga, socooga, admnsração. As razões para o neresse por essa écnca são duas: (a) fornece um méodo dreo para dar com múpas reações smuaneamene enquano fornece eicênca esasca e (b) sua habdade para avaar as reações de âmbo gera e fornecer uma ransção da anáse exporaóra para a anáse conirmaóra”.
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Foram reazados 02 grupos focas 14, separadamene. Um prmero grupo fo consudo de oo (08) rabahadores das empresas de grande pore, e ouro de 07 (see) rabahadores das empresas de médo e pequeno pore. Com base na composção dos grupos, apresenou-se um roero de quesões a parr dos faores eencados na anáse faora exporaóra, o que permu dscur em profunddade as ndagações reazadas na Fase I. Para cada dmensão, observou-se um empo médo de apcação e dscussão de rna e cnco mnuos (35), resguardados as nervenções da medação, os dáogos dos parcpanes e os aprofundamenos nas dscussões em grupo, oazando aproxmadamene quaro (04) horas de conversa enre os rabahadores. Anáse das dmensões do modeo proposto e a determnação da novação e conscênca soca Nunca devemos esquecer que os fatos ou o rea não faam soznhos. Sempre os nteresses e as caracterscas soco cuturas de quem faz o dscurso nluem de agumas ma neras no que é dto e no que ica esconddo. Sempre há dstorções tanto nas orentações quantavas quanto nas quatavas. (Thoen, 1984, p. 47)
Verica-se a expcação do modeo consudo (igura 1) medane as dmensões esudadas para deermnar a conscênca e a práca novava no ambene de rabaho. Para mehor vsuazação e compreensão ddáca, parr-se-á da anáse da dmensão sobre novação como resuado obdo no modeo. O presene modeo apresena a anáse das cargas faoras de cada dmensão com os respecvos vaores dos faores correspondenes e a respecva força de sgnicânca de cada consruo. Adane, deer-nos-emos nas anáses das forças dos consruos apresenados no modeo consrudo (igura 1) e a reevânca das reações enre as varáves nas percepções dos rabahadores meaúrgcos. 14
O ermo de consenmeno para uso de magem fo recohdo dos pesqusados nos grupos focas, o que permu as gravações e o uso da magem dos envovdos no esudo. Os grupos reunram-se no CIESP em 24 e 31 de agoso de 2013. Foram reazadas as ranscrções dos grupos focas para a anáse dos dáogos enre os rabahadores parcpanes na pesqusa para aprofundameno e compreensão quaava das dmensões esudadas.
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Fgura 1. Modeo construdo e vadado na pesqusa referente às cargas fatoras da reação entre as dmensões estudadas para determnar a novação
Fonte: Eaborado peos auores a parr do PLS-PM.
O modeo proposo (Fgura 1) é composo peas quaro dmensões do esudo. Apresenaremos, resumdamene, as prncpas cargas faoras das quaro dmensões da pesqusa, ou seja, ambene da empresa, reações de rabaho, novação e conscênca. Na dscussão sobre a dmensão ambene da empresa apresenamos oo (08) faores, porém, com predomnânca de quaro faores prncpas: o faor 1, espaço ísco de rabaho, apresena a maor causadade do modeo, com 0,817, segudo do faor 2, dspua no ambene de rabaho, com 0,661. Em seguda vem pressão e rmo de rabaho, no faor 3, com 0,624 e, por úmo, a comuncação com os deres para a execução das arefas com força de 0,605, faor 4. A dmensão das reações de rabaho coném varáves gadas à percepção dos rabahadores quano aos vaores pessoas, organzaconas e à consrução da auomagem a parr dos vncuos esabeecdos no ambene de rabaho, permndo o agrupameno em quaro (04) faores.
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Houve ambém quesões reaconadas à denicação com os ouros rabahadores e com a empresa, bem como comparhameno das deas acerca da suação de rabaho, o que convenconamos denomnar modeos menas comparhados. Observa-se, nesa pare do modeo proposo das reações de rabaho, que o faor 1, no que concerne a ser o sucesso reledo na magem do rabahador, represenou uma força de causadade na expcação do modeo de 0,852. Já o faor 2, dos vaores pessoas parecdos com os da empresa, represenou uma expcação de 0,770. É menor a reação de sgnicânca do modeo com os faores 3 e 4, respecvamene: a reação dos vaores pessoas gados à movação no rabaho e aos pensamenos e crenças comparhados enre rabahadores e empresas com força de 0,589 e 0,519. Observamos que os vaores pessoas na denicação com a empresa apareceram em maor causadade e força para a expcação do modeo consrudo. Exporando as varáves pernenes de cada faor negrane das reações de rabaho, chegaremos às causadades de cada um para a expcação do consruco. Na vericação da pare do modeo reava à novação, númeras foram as varáves componenes do esudo, consundo oo (08) faores, assm agrupados e por forças faoras: coniança e conhecmeno enre os rabahadores para a formação da equpe de rabaho com faor de 0,837; uzação de manuas e normas écncas para a novação com faor de 0,775; roca de conhecmenos enre a equpe de rabaho em busca da novação com força de 0,783; novação como beneícos para a empresa e para o rabahador com faor de 0,734; roca de conhecmenos enre os coegas de rabaho com faor 0,651; novação como eemeno mporane para a empresa, o esudo das normas e manuas para a mehora na rona de rabaho com faor 0,559; e o enendmeno e a uzação das normas e manuas para a novação com menor força, de 0,430. Nessa dmensão, as varáves seeconadas para a expcação dos faores esão gadas à aprendzagem pessoa, em equpe, à uzação dos conhecmenos condos nos manuas e normas écncas, ao comparhameno de conhecmenos enre os rabahadores e ao mpaco da novação na consução pscossoca do rabahador. No que dz respeo aos arranjos produvos ocas, esse faor é fundamena na coniguração e consodação do padrão ecnoógco exgdo peas empresas consunes desse modeo ndusra,
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anhado com os aponamenos vericados por Lorens (2001), Cassoao e Lasres (2003) e Lee (2005). A pesqusa buscou reaconar os faores referenes à deermnação da conscênca pessoa e soca do rabahador. Essa dmensão do modeo fo composa de varáves que, agrupadas, resuaram em cnco (05) faores deermnanes: parcpação dos rabahadores nas mudanças na empresa, com maor força do faor de 0,810, e com menor força a reação com o sndcao, faor de 0,346, e a parcpação dos rabahadores em quesões pocas e socas, com faor de 0,194. Já para a parcpação em movmenos pocos e socas e o enendmeno do órgão nsucona na reação com os rabahadores, o faor acançou 0,684. Mesmo esando as varáves evanadas presenes na eraura, esse consruco é fundamena para a compreensão das dmensões pscossocas dos rabahadores em empresas ecnoogcamene novadoras. Uma quesão mporane para a pesqusa é a percepção dos rabahadores acerca da avdade humana, concebda como rabaho. As conceuações e as conrbuções dos referencas eórcos de que parmos e uzamos para compreender o sgnicado do rabaho na pesqusa são reairmados por números esudosos que se debruçaram sobre o desveameno do sgnicado do rabaho na pscooga soca. Desacamos Co (2007), Furado (2011), Leonev (1978b), ou mesmo, na iosoia, Hege (1992) e, na economa, Marx (1975). É recorrene na airmação dos pesqusadores cera deinção de rabaho que advém de sua percepção da práca codana: “Pra mm é tudo”(Trabahador 4 – Grupo Foca das empresas de grande pore). Para o rabahador 3 do mesmo grupo, “ tudo o que a gente executa codanamente, tudo o que a gente va fazer é um trabaho, de certa forma. Tudo o que a gente executa é um trabaho”. Inconscenemene periado à nha conceua de Leonev (1978b), ouro rabahador do grupo em desaque deine rabaho como avdade humana, engobando nsso oda e quaquer avdade execuada com objevdade. Narra o meaúrgco: “eu acho que o que ee faou – tudo o que você faz é um trabaho. Mas eu acho que o trabaho que você está faando é quando se está fazendo ago” (Trabahador 7). Voamos a nervr sobre o sendo e o sgnicado do rabaho. Esse rabahador meaúrgco reacona mpcamene rabaho com sasfação:
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ah, mas trabaho é bom. Não é verdade? Se á, eu gosto de trabahar. Eu já trabahe em váras empresas e eu tenho o costume de faar da empresa e ees faam: cara, você é fez. Eu chego: hoje já é quarta! Amanhã já é sexta -fera. Eu sempre fao: eu gosto do meu trabaho. Eu acho que a gente tem que trabahar gostando do que faz, não é verdade?
Na nervenção nos grupos focas, houve especa neresse em deecar nluêncas na avdade produva, uma vez que é drea a reação enre o rabaho e as prácas novavas no âmbo da empresa. A novação, por regra, redunda em vanagens para o rabahador, favorecdo peo desenvovmeno ecnoógco. A ecnooga, redenção da era moderna, exerce pape cenra no processo novavo, seja peo aspeco posvo de mehorar a produvdade e reduzr os cusos de fabrcação, seja – paradoxamene – peo aspeco negavo de emnar posos de rabaho no mercado. Quesonados pea ambgudade da reação enre capa e rabaho e os efeos que as ransformações no processo produvo rouxeram à sua experênca, observam os meaúrgcos que, sem dúvda, houve aprmorameno, mas ao preço excessvamene ao de dmnur o quadro dos rabahadores ncorporados na produção e de cancear posos de rabaho. Consderações inas Nenhum de meus escrtos fo concudo; sempre se nterpuseram novos pen samentos, assocações de deas extraordnáras, mpossves de excur, com o ninto como mte. Não consgo evtar a aversão que tem o meu pensa mento ao ato de acabar. (Fernando Pessoa, 2003)
A nensdade e a compexdade das mudanças por que passa a socedade do rabaho esão consumadas no eságo aua de desenvovmeno das socedades ndusras. Incamos sa pesqusa com o irme propóso de enconrar resposas às conradções que ncdem nas reações dos rabahadores no mundo do rabaho. Ter-nos aprofundado e penerado na vda das empresas à uz da pscooga soca provocou nqueações nas resposas a coeadas. O enconro fez com a pscooga soca permu superar os pensamenos ncompeos sobre a consução humana. Fo absouamene
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mprescndve a conrbução da pscooga soca e poca para compreender esse movmeno humano: por meo dessa área de conhecmeno aprofundaram-se as sondagens que buscam expcar a formação humana, sondagens que eu já hava expermenado com a economa poca e a iosoia. Não vesse havdo essa compreensão do psqusmo humano, do self e da consução humana, não se era acerçado o conhecmeno que escarece como funcona o mundo nangve, aspração neecua dese pesqusador com o rgor do pensameno cenico. É negáve que a evoução da socedade capasa ndusra se fundamenou em parcuar na ransformação do conhecmeno em ecnooga, do que adveram séras modfcações nas reações humanas. Na busca pea novação – um mperavo da socedade capasa empresáros e rabahadores esruuram suas prácas peo recurso à ecnooga a fm de mehorá-as e, consequenemene, ober maores resuados. Não é possve vver soadamene sem sofrer os relexos da era écnca no pensar, no agr e no comporar-se. Sofremos as consequêncas da sua apcação, relexo da ógca manquesa da redenção do mundo ecnoogcamene gobazado, sem, conudo, vsumbrar aernavas que proponham o homem como exo da evoução ecnocráca. Embora senos, ao abrgo desse pensameno manquesa, nada queremos ampouco dever ao pensameno framene racona que provoca a mupcação de um mundo aparenemene nexoráve. Os argumenos consrudos ao ongo dese rabaho buscaram enender a razão verdadera e úma do conhecmeno: o SER humano. Medane a formação e consução da conscênca, é possve desvear a ‘obra prma’ orgnára da hsóra do conhecmeno, cujas ações ajusam-se harmonosamene e mupcam os aceros persegudos pea humandade para consur-se. Embora o panorama do desenvovmeno capasa no Grande ABC marque deinvamene a hsóra do capasmo ndusra brasero por meo da nsaação das ndúsras auomobscas na era desenvovmensa de JK, anda enconramos suações que merecem ser evocadas e dscudas, envovendo ações dos rabahadores em pro da quadade de vda. Esse fo o cenáro em que o rabaho ornou-se personagem prncpa, acompanhado das dmensões pscossocas que envovem seu produor - o rabahador meaúrgco.
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Fo a exporação conscene e ssemáca do rabaho (ea-se do rabahador) que enronzou o capasmo na socedade ndusra. Anda que se enha ransformado o modo de reproduzr a rqueza do panea, ransando de uma base maera para o maera, a avdade produva do ser humano connuará sendo o acerce da reprodução soca. Peo modeo de produção de mercadoras empregado no sécuo XIX, no sécuo XX ou no sécuo XXI, a socedade capasa maném-se sempre aamene produva e consumsa. Assm, a posção que assume o rabaho é nexoravemene cenra na consução da socedade conemporânea e com ea, ambém, a reprodução dos sujeos do rabaho. Avo de crcas e dssensos dos pesqusadores e esudosos do ema, a socedade capasa fundamena-se no rabaho, razão por que resgaá-o. A cra ção de arcuações nas áreas de conhecmeno dese pesqusador - economa, iosoia e pscooga - permu persegur os objevos proposos, nssndo na ógca de que devemos rabahar para vver e não vver para rabahar. Impossve não reconhecer que a conjunura econômca da socedade brasera proporconou avanços sgnicavos para as empresas. Agumas deas acançaram maor grau de compevdade em decorrênca da superação ecnoógca, enquano ouras o izeram peo emprego e concenração do capa inancero. Essa evoução ecnoógca e inancera produzu uma ógca concenraconsa que não corresponde ao desenvovmeno que a socedade aspra. O seor meao-mecânco sofreu foremene com as mudanças nroduzdas e organzou-se segundo arranjos produvos ocas numa resposa novadora de gesão que vsa à sobrevvênca desse seor aamene ecnoógco e compevo perane as empresas concorrenes fundadas na admnsração radcona dos sécuos anerores. Nesse cenáro de nensa modicação, as reações de rabaho são dreamene afeadas na rona codana e veem-se degradar os ndces de quadade de vda no rabaho da após da. Nas empresas do Grande ABC, cenáro desacado do seor ndusra, esse movmeno padecera mas nensamene. Os rabahadores meaúrgcos do seor meao-mecânco sofreram as consequêncas das ransformações em curso. Ou para aender aos apeos da novação ou por reesruuração da cadea produva, ornaram-se frequenes as mudanças no capasmo brasero, vsves na ercerzação, redução saara ou mesmo precarzação da reação de rabaho na era da “acumuação lexve”.
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Na conjunura econômca e poca neobera, os rabahadores do seor meaomecânco sofram as consequêncas da ‘ercera va 15’, que assoavam as nações capasas mundas. Pea sua reevânca, eseve esse seor enre os prmeros a ncorporar as modicações do mundo produvo de ares neoberas e, consequenemene, a gesar as mudanças no seor de recursos humanos das empresas. As oscações no número de empregados nas ndúsras do Grande ABC na úma década reproduzram as dos anos da década perdda. Enre 2008 e 2011, a pesqusa regsrou perdas sgnicavas, a exempo de 7,7% em 2010, em comparação com o ano aneror, um mau resuado arbudo à crse inancera de 2008 nos EUA16 ou mesmo às modicações ecnoógcas no mundo do rabaho. Especicamene, o APL vem oferecer resposas ao desaio de crescmeno ecnoógco e garana de resuados à economa nerna. No caso do Grande ABC, a ação vsava à recuperação econômca do seor meao-mecânco como nova forma de gesão das empresas e das reações do rabaho. Anda poucos habuados à dea de custers, vecuada por Porer (1998), os gesores ganharam a vaosa conrbução para enender a dnâmca de formação em rede a parr dos esudos de Brescan (2004, 2008), Cassoao e Lasres (2003), Lee e Gahy (2005), que izeram ver a mporânca dessa esruuração organzacona para o desenvovmeno capasa no Grande ABC, paco de consanes ransformações ecnoógcas. Composo majoraramene por empresas de pequeno e médo pore, o APL do seor meaomecânco no Grande ABC preende recuperar a regonadade de sua coniguração, raduzda em maor dnamsmo e avdade econômca oca e, consequenemene, mehora para a casse rabahadora. Decddo a compreender as deermnanes dessa organzação capasa do sécuo XXI, eu precsava fundamenamene nserr-me nas empresas para ober um dagnósco juno aos rabahadores. Desaiado pea opção meodoógca quanava e quaava, propus uma enquee aos 15
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Ideooga soca-democraa com adepos pardáros do berasmo soca. Correne de pensameno que buscou promover a aança enre os pardos de drea (defensores de uma economa orodoxa) com os pardos de esquerda (defensores de uma poca soca progresssa). Emerge no im da década perdda de 80, repercundo nos EUA do governo B Cnon e na Europa com Tony Bar, prmero-mnsro brânco. Fcou conhecda como subprme, quando inanceras amercanas coniaram excessvamene em cenes com hsórco e condções duvdosas de sadar seus débos juno ao ssema de crédo.
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rabahadores das empresas ecnoogcamene novavas. De posse dos dados, foram abuadas e consrudas as dmensões a nvesgar nas enrevsas juno aos rabahadores meaúrgcos. As dmensões ambene da empresa, reação de rabaho, novação e formação da conscênca consuram uma densa eura préva e vadação cenica, essa úma nossa maor preocupação. Com um modeo vadado esascamene para a deermnação da novação, reazamos as arcuações dos dados coeados e a represenação da força percenua de cada consruo com os objevos eencados. Anes de apcar o modeo, enreano, era precso aprofundar-me na eraura especica da pscooga soca sobre a conscênca e a formação humana. Confessamos prazerosamene que não magnávamos enconrar relexões e escros ão surpreendenes. Ampando o conceo de rabaho orgnamene dscudo em Marx (1975, 1978), Hege (1992) e Furado (2011), Co examna a função pscoógca do rabaho (2007), essa subjevdade que mpregna oda e quaquer avdade humana. Para mehor enender a readade sóco-hsórca consruda no codano, foram de exrema vaa a ncessane nvesgação de Heer (2000) e as observações de Lane (1980, 2002, 2006), sobre o homem hsorcamene consrudo e em movmeno, do que passamos para a formação do psqusmo humano na consrução da readade. A eura aena dos aponamenos de Leonev (1978a) acerca do psqusmo humano fo deermnane para esabeecer os vncuos enre a conscênca e as condções da vda humana, espeho das condções maeras do soca (Sandova, 1989a, 1989b, 1994, 2001, 2007). A Mead (1993) devo a compreensão do pape cenra que a deerminação do self preconzado peo neraconsmo smbóco desempenha na consução humana. Esse SER, enreano, somene nerage peo soca e é medado peo agr no mundo. Por im, odas essas conrbuções demandaram a parcpação da nguagem para conexuazar esse SER no mundo de sgnicados e smboos socamene consrudos, sem cuja gramáca sera mpossve desvendar o humano. Assm, no pensameno de Habermas (2012) sobre a eora do agr comuncavo, compeava-se o arcabouço eórco que susena a formação da conscênca desse rabahador nvesgado com os desdobramenos de uma conjunura economcamene desfavoráve à preservação de sua quadade de vda. Reundas anas nqueações e descoberas, de-me cona de que não sera smpes a arefa de nvesgar os grupos na consução da conscênca soca. So-
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mene a parr da compreensão de como agem os grupos e do comporameno nragrupos com as proposções e deas de Tajfe (1982, 1983) e Sandova (1989, 2001) consegu, enim, ressgnicar a readade do rabahador meaúrgco no Grande ABC. Concenrado em compreender as reações pscossocas no rabaho, medane os resuados quanavos apurados no sotware SPSS das frequêncas nas cargas faoras de cada dmensão pesqusada por meo da anáse faora exporaóra e, poserormene, com o sotware PLS-PM de modeagem de equação esruura, eaboramos um modeo vadado para a pesqusa. Quano à compreensão das prácas que deermnam o processo novavo, os desdobramenos da anáse quaava foram expcados por meo dos grupos focas dos rabahadores a im de aprofundar as relexões já regsradas. Jugo oporuno reproduzr, em ordem decrescene, os ponos mas expressvos cohdos nas resposas dos rabahadores meaúrgcos do APL para expcar o modeo vadado na deermnação da novação, observadas as anáses quaavas. Com maor força na deermnação do modeo esão as dmensões das reações de rabaho e, em seguda, as da conscênca e, por úmo, a quesão do ambene ísco. As reações de rabaho são nluencadas peos vaores pessoas e pea conscênca dos rabahadores. Dessa nluênca, as ações coevas ambém sofrem aerações, o que repercue na conscênca soca. A denicação pessoa com a empresa preponderou ampamene nas dscussões apresenadas enre os rabahadores. Anhadas, propcam comparhar os vaores pessoas com a empresa, exercendo nluênca no da a da de rabaho, uma vez que o sucesso da empresa é o sucesso do rabahador, segundo as própras paavras dos enrevsados. A vaorzação dos rabahadores pea empresa permeou os dáogos dos grupos, superando a rerbução inancera (saáros, bonicações e ouros). Ees querem o reconhecmeno de perencmeno à empresa, expresso na coniança múua e no espro de sodaredade enre os negranes. O depomeno da maora dos rabahadores é um apeo à humanzação e à undade, devendo prncpamene ncur-se no dscurso dos empresáros e deres nas empresas pesqusadas. Resde nesse em um faor subjevo - o movacona. Dessa forma, movados e vaorzados, os rabahadores comparham deas enre os componenes do grupo,
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o que favorece a roca de conhecmenos e prácas acerca do rabaho novavo enre odos os membros da empresa, vencendo a barrera do esresse e do cansaço ao rabaharem em empresas novavas. Essa omada de conscênca possba mudanças de comporamenos e ações que ncremenam as reações de rabaho, mehorando a práca novava, uma vez que a grande maora dos rabahadores do APL acreda nos resuados para odos: empresas e rabahadores. O pape da conscênca dos rabahadores passou a ser deermnane na práca novava. Não enendem somene do movmeno soca e poco. Airmam que a parcpação é mporane no processo de conscenzação de vda de cada rabahador, sendo fundamena para a consução da omada de conscênca soca. A maora consdera mporane dedcar-se a probemas coevos. A omada de conscênca no codano se faz medane a parcpação poca e soca - decaram -, embora quesonem a represenação das nsuções púbcas em pro dos dreos do cdadão. Aponam os dáogos que a represenação do sndcao em defesa dos dreos dos rabahadores não condz com as formas como as ações são conduzdas no ambene nerno e exerno das empresas. A denicação, enquano movmeno coevo é deermnane da conscênca, porém, em reação ao sndcao, não é deermnane para a consução da conscênca do rabahador. Manfesa-se na pesqusa a endênca de que a reação sndca eseja dexando de ser deermnane no foraecmeno dos assunos de neresse coevo. A formação da conscênca do rabahador na empresa passa proraramene peo envovmeno e pela denicação com os probemas socas e pocos, bem mas do que com os especicos aos neresses da caegora. Por esse prsma, é snomáca a vaorzação que propõem os rabahadores da comuncação e parcpação na ordem do da nas empresas. Sabe-se que a comuncação enre os rabahadores ambém exerce nluênca nas condções e reações de rabaho. Nessa neração soca em que a conscênca merge de modo expressvo, as cobranças e a reação nergrupos exercerão fore nluênca no comporameno pessoa do rabahador. Consrur uma reação de rabaho em que haja auonoma parece fundamena para deermnar a conscênca soca. A parr dessa berdade de expressão, o compromemeno e a reação drea enre deres
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e derados favorecem a dscussão de pensamenos dvergenes da qua emana uma ensão crava capaz de desencadear epsódos de conscenzação coeva, provocar mudanças e anhar uopas. Não a uopa qumérca, mas a amejada por uma consrução permanene de sonhos, arcuando esperanças pessoas e coevas. É precso desenvover a capacdade de sonhar com o novo, com o dferene, e a mudança soca necessára à vaorzação se processará de manera gradua e naura. Agumas mações da pesqusa icam regsradas com objevo de conrbur com fuuras nvesgações. A prmera prende-se ao caráer descrvo da pesqusa, que arcua naureza quanava e quaava com o evanameno das nformações a parr de uma amosra não probabsca por convenênca. Isso mpede que os resuados apurados sejam ampados a odas as empresas auomobscas do seor meao-mecânco no Bras. A segunda dz respeo à coea de dados. Por ermos coeado os dados dos rabahadores em peno ambene de rabaho nas empresas, o empo fo, na maora das vezes, exguo, por exgênca das ordens exposas peos dreores e deres das empresas para a apcação dos quesonáros. Tvessem sdo coeados em ouro ambene, dsane do conroe empresara e num espaço de maor desconração, possvemene ouras resposas e maor rqueza de deahes eram vndo à ona. Referêncas
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Impasses da reação entre trabaho e gestão na contemporanedade e suas formas de sofrmento capazes de conduzr à morte vountára Fernando Gasa de Casro
Introdução
O ma esar no rabaho ornou-se um fenômeno soca oa, que concerne à socedade nera e a odos os recanos do capasmo gobazado (Casro, 2014a). Esresse, burnout , dsúrbos muscuoesqueécos, depressão por esgoameno, assédo mora e, nos úmos anos, as aarmanes “ondas” de sucdo. Seja no seor púbco ou no seor prvado, seja nos pases da Europa ou das Amércas ou da Ása, o ma-esar no rabaho não para de crescer e anunca esascas e casos cada vez mas dramácos (Casro 2012; Co, 2012; Gauejac, 2013). É um probema que se mosra gado à nensicação do rabaho, ao esabeecmeno de meas rreazáves, à prorzação dos ganhos inanceros aos aconáros, à desreguamenação, à cração de novas formas de subconraação, a uma gesão desrudora do coevo que soa os ndvduos e ndvduaza os rendmenos. Para compreendemos a probema, parremos da hpóese de um “mpasse” exsene enre as formas de “rabaho concreo” e “rabaho absrao”, segundo os ermos de Marx (1867/1968), como esando na base do crescmeno do ma-esar no rabaho nos das auas. Ta “mpasse”, a nosso ver, vem conduzndo cada vez mas sujeos, não somene a uma suação de sofrmeno e ma-esar crescenes, mas a uma rajeóra de vda “sem sada”, dsso decorrendo seu caráer poencamene sucda. Buscaremos argumenar, nese argo, que em nenhuma oura época a “engenhara de produção” ou, modernamene, as chamadas “cêncas da gesão”, mosraram-se ão morferas às possbdades de rabaho concreo, ou seja, à avdade consruora de s e do ecdo soca. É mporane consderar que, denro da hsóra do capasmo, a conradção enre rabaho concreo e rabaho absrao sempre exsu (Anunes,
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2005). O ayorsmo é um exempo (Peuge, 1998), enquano uma expressão dessa conradção, pos buscou aproprar-se do rabaho de manera a reduz-o à execução mecânca. Porém, como evdencaram os ergonomsas (Co & Lueur, 2010; Co, 2002), apesar da enava de ransformar o rabaho concreo em geso mecânco, os rabahadores foram capazes de enconrar cera margem de auonoma, de manera a consegur reaproprarem-se da avdade prescra e renvenarem formas de socabdade especicas. Quando faamos de “mpasse”, porano, queremos dzer que a conradção enre as formas de rabaho concreo e absrao ornou-se, nos nossos das, capaz de nvabzar a hsorcdade ndvdua e coeva. Ou seja, o rabaho como produor de s mesmo e dos aços de socabdade e o rabaho na forma mercadora ornaram-se poos anagôncos, muuamene excudenes, passando a exsr uma conradção poencamene morfera quano às possbdades de ndvduazação e socabdade orundas das formas de rabaho concreo. Os rabahadores, no sendo ampo do ermo, enconram-se, a nosso ver, em suações cada vez mas díces de renvenar o própro rabaho e numa ausênca crescene de medações socas e organzaconas para crar e ecer a socabdade coeva. Dsso resua o mpasse que susenamos: por um ado, rabahar mpca despossur-se de s mesmo em pro da nova ógca gesonára organzadora das formas auas de rabaho absrao. Por ouro, persegur o rabaho concreo porador de um sendo soca e exsenca é expor-se à excusão e nvadação psquca e soca. Compreendendo a amptude do ma-estar: o mpasse entre trabaho concreto e trabaho abstrato
a. O trabaho enquanto fundamento ontoógco do ser soca O rabaho ocupa o saus de fundameno onoógco do ser soca (Lukács, 2009). Deine-se, a parr desse pono de vsa, como condção ndspensáve para a exsênca humana fazer-se e hsorczar-se ao recuar as barreras nauras e ransformar a naureza em mundo humano. Ocupa, nesse sendo, o pape de medador fundamena enre as necessdades puramene boógcas do organsmo e a naureza (orgânca e norgânca),
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ransformando esa em mundo soca e possbando o organsmo a reazar um “sao onoógco” da vda orgânca aos desejos humanos (Lukács, 2011). A naureza ransforma-se profundamene em função do rabaho, à medda que deém “maéra rabahada” (Sarre, 1960), sendo, por sso, humanzada e ransformada de pura readade brua e ndferencada em objeo, ou seja, em mundo de ferramenas e uensos poradores de sgnicados socas e psqucos. A pee bovna ransforma-se em casaco de couro, ornando-se, assm, um objeo-uenso que serve como vesmena e carrega em s um vaor de uso e uma marca snguar do rabaho humano que a crou (écncas uzadas, modos de produção de base, eséca do produo). Não há nenhuma razão naura para que uma pee bovna seja ransformada em um casaco de couro. Ta processo não obedece às es de funconameno do ser naura, nem ampouco a agum po de progresso near da readade soca. Há cração de um ser onoogcamene novo (o casaco de couro), nexsene na naureza e rreduve a es de causadade da ordem naura. O casaco de couro possu uma essênca crada peo rabaho enquano poèss e que se objeva no mundo como um ser ú às necessdades humanas e porador de um vaor de uso e de um vaor eséco. Serve ou não para nos aquecer em baxas emperauras, é ou não bono para uma deermnada ocasão. Desse modo, o mundo soca, enquano esruura maera consuda por um conjuno nindáve de objeos, é um produo do rabaho humano e, ao mesmo empo, é a expressão do homem homnzando-se ao produzr um mundo para s mesmo vver (Lukács, 2011) ao nvés de adapar-se às barreras nauras, como é própro aos anmas (Marx, 1968). Carros, geaderas, eevsões, compuadores, robôs, máqunas, sapaos, vros, jornas, ses de nerne, écncas prescras, ec. ec. são odos essêncas cradas peo rabaho, fundamenos do mundo soca e medadores fundamenas das reações humanas e de suas possbdades de socabdade e de fuuro. Segundo Lukács (2011), é própro da avdade de rabaho, do pono de vsa onoógco, a reazação de um “por eeoógco” que urapassa os mes da causadade maera em dreção a um im conscenemene posconado que mpca, por sua vez, o nascmeno de um não-ser [fuuro] em dreção ao qua a avdade de rabaho reaza-se (Casro, 2013). É fundameno, porano, do rabahar humano esse urapassameno da ordem causa - caracersca da readade maera e soca nsuda (prescrções das arefas, modos operanes mposos peas máqunas ou peas
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condções nauras em sendo ampo) - em dreção a um im, fazendo nascer um campo de aernavas possves e ransformando o smpes comporameno relexo dane do rea em uma experênca subjeva gada a um objeo de rabaho que reaza um projeo de s denro de um campo de aernavas (possves). A avdade concrea de rabaho, porano, é uma avdade snéca enre um sujeo - porador de uma posção eeoógca cradora de uma inadade - e um objeo - consudo por nexos causas e maeras posconados pea avdade conscene em função dos ins posos peos própros homens. Uma daéca permanene enre posção eeoógca e deermnações causas forma, assm, o fundameno da avdade concrea de rabaho enquano auoprodução de s mesmo e do mundo soca. É nesse sendo que Vygosk (2003, p. 76) airma que o “homem é peno a cada mnuo de possbdades não reazadas”, quer dzer, peno de avdades que devem ser reazadas e anda não foram ou de avdades mpeddas que, por sua vez, mpregnam e sgnicam o rabaho rea de nco a im. É nesse sendo, anda, que podemos dzer, conforme Co (2008), que a hsorcdade humana engendrada pea avdade de rabaho não é o passado, mas a ransformação no presene, do passado, em função do fuuro ou o fracasso dessa ransformação. Por ouro ado, é de fundamena mporânca consderar que a avdade de rabaho, do pono de vsa onoógco, mpca, ao mesmo empo, um “rabaho de organzação” (Co, 2008). Transformar a naureza em objeo de rabaho a parr de um por eeoógco que orena e sgnica a práxs abora não é um ao soado. É, ao conráro, um fazer snguar que surge do seo da readade soca dada e a ea reorna, pea objevação de um produo (um objeo ou servço com vaor de uso) que, por sua vez, dferenca, especica e enrquece o mundo soca com um novo objeo, medador para novas formas de socabdade. A avdade de rabaho, porano, para reazar-se mpca na produção de ceras formas de socabdade e de aços socas (o rabaho de organzação, segundo Co) que ornam possve o rabaho em seu status onoógco. Não somene o su jeo snguar auoproduz-se ao rabahar a maéra brua e ransformá-a em objeo desejáve a parr de uma posção eeoógca snguar capaz de ransformar o passado em função do fuuro, mas, na mesma medda, um ecdo soca organza-se a parr do comparhameno de uma nguagem (egen) e de fazeres comuns (teukhen).
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Consderamos, nesse aspeco, a exsênca de uma auo-organzação coeva que urapassa a readade das prescrções socas, organzaconas, ou anda, as mações nauras, crando um ser em comum enre os homens, que orna possve o rabaho concreo. Uma écnca de eecomuncações da empresa France Telecom rabahou durane vne anos no panejameno e na consrução da rede de eefona, endo sempre como por eeoógco prncpa de seu rabaho a exensão de servços de eecomuncações para regões pouco desenvovdas do pas onde as pessoas não nham como comuncar-se com as demas regões (Roy, 2009). Seu objeo de rabaho conssa em ransformar regões ruras carenes de redes de eecomuncações em regões nergadas com o reso do pas e com o mundo. O rabaho de organzação mpcava em, juno com uma sére de ouros écncos e engenheros, dar com as adversdades mprevsves de a regão carene de rede eefônca para, assm, crar as formas mas eicazes de panejar e consrur uma exensão de rede. Que pos de cabos uzar, onde nsaar as anenas, ec., consuam objeos-desaios, poradores de um vaor soca comparhado peo coevo: produzr uma rede de comuncações sem rudos, evar ao máxmo as panes e os cores de nha, dsponbzar o maor número de eefones púbcos à popuação. O rabaho de organzação, dessa manera, era medado peo vaor de uso - garanr para a popuação a mehor comuncação eefônca possve. Ta vaor, conforme expressão de Co (2008), funcona como um “dapasão proissona”, medador da práca comum, a parr do qua cada um se reconhece e reconhece o ouro como “endo feo um bom rabaho” (Dejours, 1998). Podemos car ambém o rabaho de um grupo de bomberos (Casro, 2012) que, burando as regras do rabaho prescro da organzação mar, resovem rar uma carroça e um cavao que havam cado em um aoero: “ uma vez fomos rar um cavao aoado no meo da madrugada, dsseram para não r, que não era servço nosso, mas o cavao era o ganha pão da pessoa á e ee precsava de ajuda. Fomos á, ramos o cavao, depos anda demos uma avada de manguera no anma para dexar ee mpnho” (Casro, 2012. p. 108). O rabaho de organzação aparece aravés do grupo de bomberos rabahando-se nernamene para poder reazar a inadade posa peo “por eeoógco” do grupo. Convencer o coega a burar a regra e decdr fazer o servço sgnica urapassar os mes da arefa prescra pea organzação e, assm, recrar o aço soca que unica o grupo. Conforme a narrava de um dos bomberos: “essa
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cosa de ajudar sem se preocupar se é preo, branco, pobre, rco é o que vae a pena. E o cma aqu denro dos bomberos é esse. Boa pare aqu denro em esse espro de r fazer o que pode para ajudar as pessoas, de dar o sangue para ajudar” (Casro, 2012, p. 108). Camos, anda, o caso de uma enfermera, supervsora do servço de urgêncas, esudada por Auber (2001), que, para fazer o geso que sava o pacene e evar sua more, precsava agr sobre sua equpe, crando uma reação recproca baseada em cero códgo de comuncação muo parcuar que deina os procedmenos e os recursos a usar e perma a ação precsa, rápda e coordenada de odos sobre o rsco de vda do pacene. Um aço soca, dessa forma, se nsu, medado por uma nguagem e por um saber fazer comuns, ambos unicados peo vaor soca de savar vdas, nerorzado pea posção eeoógca de cada membro da equpe e, ao mesmo empo, exerorzado peo rabaho de organzação, so é, peo esabeecmeno de reações recprocas aravés do qua o grupo se rabaha e funda suas própras formas de socabdade para, assm, poder rabahar. O rabaho, porano, enquano “por eeoógco sempre snguar e concreo” e enquano “rabaho de organzação que nsu suas própras formas de socabdade” apresena-se como um dos fundamenos da hsorcdade ndvdua e coeva. Transformar o passado em função do fuuro, urapassar as barreras nauras produzndo novos objeos enquano essêncas cradas ( poèss) que oazam o mundo como produção humana e, anda, fundar os própros vaores e formas de socabdade aravés de um rabaho de organzação, fazem do rabaho um fundameno onoógco do homem como ser soca: “é a hsóra como prncpo fundamena de odo ser [soca]” que mpca no “de onde?, de sua gênese, no “que?”e no “como?”de seu ser presene e nas endêncas de seu desenvovmeno ueror, quer dzer, de suas perspecvas [fuuro]” (Lukács, 2009, p. 158) . O rabaho nos remee, assm, aos fundamenos da vda humana enquano ser soca, so é, a sua hsorcdade, sua socabdade e a produção de um mundo socomaera para s. O crescmeno do ma-esar no rabaho, como fenômeno soca oa referdo acma, nos parece, enão, ser expressão de um mpasse de nosso aua empo hsórco, porador de uma profunda nvabzação desse esauo onoógco do homem , fundado nas formas de rabaho concreo. É dsso que raaremos na sequênca, para permr uma compreensão do fenômeno que nos ocupamos nese argo.
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b. O trabaho abstrato enquanto prncpo desumanzante da moder nzação captasta O rabaho concreo, como dmensão onoógca do homem enquano ser soca somene pode ser compreenddo se suado no neror da moderndade capasa, cradora do rabaho absrao (Kurz, 1993). É a parr da undade conradóra enre rabaho concreo e rabaho absrao que raaremos de compreender o ma-esar no rabaho como fenômeno soca oa que assoa nossa conemporanedade. No ssema capasa, o rabaho concreo sofre uma negação daéca cradora de sua anese, enquano rabaho absrao. Sem dexar de exsr como fundameno onoógco, no enano, faz-se dese uma absração das suas caracerscas reas, sensves e snguares, para ser concebdo prmordamene em ermos de dnhero. “Os homens, anes de quaquer deermnação concrea e subsanca, ransformam-se em mônadas do dspêndo de força de rabaho absraa” (Kurz, 1993, p. 240). O vaor do rabaho é dado peo seu vaor enquano mercadora, ou seja, peo preço pago por a avdade denro de um mercado auorreguado peo ssema de ofera e demanda. O rabaho vae peo seu vaor de roca no âmbo do mercado concorrenca, passando para segundo pano o seu vaor de uso e as formas de socabdade produzdas. Segundo Poany (1983), a aboção da e de Speenhamand pelo parameno ngês em 1834, que proega a Ingaerra rura, asssa os pobres com um saáro e mpeda a formação de um mercado de rabaho, fo “o verdadero ao de nascença da casse rabahadora moderna” . A e de Speenhamand, anda segundo Poany , “proega a Ingaerra rura – ogo a popuação rabahadora em gera – conra a pena força dos mecansmos do mercado” (p. 159). Acrescdo ao já exsene mercado da erra (a naureza ornada mercadora) e ao mercado das inanças (o dnhero ornado mercadora), a nsução do mercado de rabaho, a parr de 1834, consoda as novas bases da socedade capasa nascene, fundada num mercado auorreguado que “orna-se a dmensão normava a parr do qua os homens pensam e agem” (Decca, 1990, p. 18). Um novo magnáro soca – o burguês - orna-se, a parr de enão, cada vez mas domnane na nova socedade que se nsu sobre essas bases. O mercado passa a ser não somene o ugar rea onde um ssema
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auorreguado de ofera e demanda se nsu, mas ambém, um ugar magnáro que passa a reguar as novas formas do ser soca. “Tempo é dnhero”, “crédo é dnhero”, “dnhero engendra mas dnhero” são as máxmas de Benjamn Frankn (Weber, 1964) que evdencam o novo magnáro soca enquano “sgnicação operane e novo sendo organzador do comporameno humano e das reações socas” (Casorads, 1975, p. 320). É própro desse magnáro o dever de cada um de fazer aumenar seu capa, como desaca Weber (1964), o que, por sua vez, mpca na cração de uma raconadade econômca sem precedenes, aquea do homo oeconomcus. O rabaho vae peo seu vaor de mercado e se desna a produzr mercadoras que precsam ser venddas no mercado. Saber vender-se e saber vender mpõem-se como mperavos socas. Surge, porano, o homem cacuador e compevo, revndcado pea nova raconadade econômca como desno naura a oda humandade evouda. É precso cacuar e omzar o empo, cacuar os recursos para evar desperdcos, er um dferenca compevo para não ser anquado pea concorrênca e, dessa manera, fazer do dnhero mas dnhero. Segundo Gorz (1988/2004, p. 184) “a maxmzação desse po de eicáca é mensurada peo cácuo ... e seu prncpa ndcador é a axa de ucro que depende, em úma anáse, da produvdade do rabaho [absrao]”. Josah Wedgwood, na segunda meade do sécuo XVIII, funda um ponero ssema de fábrca para a produção cerâmca na Ingaerra. Convencdo de que esse modeo era o mas eicene para fazer face ao rápdo crescmeno do mercado ngês, passa a proceder a uma dvsão do rabaho rgorosamene cacuada, esabeece regras de dmnução de desperdcos, horas preixadas e capaazes responsáves pea vgânca. Após 10 anos de exsênca de sua fábrca, Josah Wedgwood airmava que “hava ransformado rabahadores enos, bêbados e núes em um magnico conjuno de mãos” (Decca, 1990, p. 28). Como desdobrameno da nsução do mercado auorreguado e concorrenca e do predomno do rabaho absrao sobre o rabaho concreo sob a égde do magnáro soca do homo oeconomcus, a burguesa necessa consanemene revouconar os meos e as reações de produção (Harvey, 1992). No nco da década de seena do sécuo passado, por exempo, a Genera Moors opera uma ransformação radca em suas formas organzaconas em função de a Toyoa passar a ocupar cada vez mas o mercado de auomóves nos EUA e na Europa (Anunes, 1999). Dessa
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manera, quando o ssema produor de mercadoras vve uma grande crse munda nos anos seena 1, governos, empresáros e deóogos do capa veem-se obrgados a enconrar sadas para rês aspecos essencas a im de reaavancar a reprodução do ssema: novar as formas de crescmeno e acumuação, ransformar as formas de conroe do rabaho e revouconar as formas ecnoógcas e organzaconas. O neoberasmo, baseado no monearsmo econômco de Mon Fredman (Kurz, 1993) será a resposa dournára para novas formas de acumuação, com a especicdade dada ao pape das inanças e ao mercado de papés. A ercerzação e a lexbzação rão revouconar as formas de rabaho, aém de uma reengenhara ecnoógca e organzacona (o new management) mudar profundamene o espaço denro da fábrca e o empo de rabaho. De sore que, o rabaho absrao sofrerá modicações profundas em função dessas renovações da exporação do rabaho peo capa, modicações essas que, como susenamos, coocarão em rsco o rabaho concreo e, por consequênca, os fundamenos da hsorcdade ndvdua e coeva. O pardo conservador de Margare Thacher, ao chegar ao poder em 1979, fo um dos responsáves pea mpemenação de reformas uraberas que depos seram segudas por odo o mundo capasa ndusrazado. A nova agenda, em oposção ao rabahsmo aé enão predomnane no soo ngês, conempava como prncpas ponos: (a) a prvazação de pracamene odas as empresas esaas, (b) a redução ou, se possve, a exnção do capa produvo esaa, (c) uma egsação foremene desreguamenadora das condções de rabaho e lexbzação dos dreos socas, (d) uma aprovação de meddas peo Parameno, para cobr a auação sndca, vsando desrur a fore base fabr dos shop stewards (organzação nos ocas de rabaho), base nsucona do Trades Unon Congress (TUC) e do Labor Party (Anunes, 1999). Em 1989, economsas amercanos formuaram dez prncpos para reomar o crescmeno dos pases da Amérca Lana a parr de um modeo mas abero e berazado, o chamado Consenso de Washngon (Cone, 2003). Conforme John Wamson (1990), a nova ordem soca e econômca devera basear-se em dez prncpos: dscpna moneára, reorenação 1
Sobre a crse econômca dos anos seena como crse esruura do ssema capasa ver Davd Harvey n A condção pós- moderna (1992) e O engma do capta (2010).
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das despesas púbcas, reforma isca, berazação inancera, adoção de uma axa de cambo únca e compeva, berazação das rocas econômcas, emnação das barreras afandegáras ao nvesmeno do capa esrangero, prvazação das empresas púbcas, desreguamenação no mercado para garanr a emnação das barreras de enrada e sada de capas e segurança aos dreos de propredade. Ou seja, um conjuno de meddas que vsou a sanar a dvda com um severo ajuse isca, ransformar o pape do esado em um agene vabzador do vre luxo dos capas e promover uma radca desreguamenação e lexbzação da economa e do rabaho para baxar os cusos de produção e aumenar as dvsas. O rabaho absrao, porano, passa por uma desreguamenação, uma lexbzação e, por im, é submedo à ógca das novas formas de gesão. A desreguamenação dz respeo à pare ega, so é, a cração de novas formas de conrao com caráer emporáro (o Conrao de Duração Indeermnado – CDI- na França, que assegurava odos os dreos socas, vem sendo subsudo peos Conraos de Duração Deermnada – CDD, por exempo), ou anda, a cração da caegora a auoempreendedor, a parr da qua cada um orna-se sua própra empresa. A lexbzação dz respeo à uzação da ercerzação como nova forma de abaxar os cusos do rabaho absrao. A endênca passa a ser de enxugameno das empresas (ean producon): uma empresa mãe ocupa o ugar cenra desenvovendo a avdade im da empresa (monadoras de auomóves, por exempo) enquano odo o reso (RH, mpeza, conabdade, propaganda, vendas, produção de peças, ec.) são avdades reazadas por empresas ercerzadas, empregadoras em empo parca, com uzação de mão de obra desreguamenada. A Toyoa, por exempo, emprega 10% a 15% da mão de obra em sua usna de monagem, sendo esa o opo de uma esruura pramda (keretsu), que consa com um oa de 45.000 empresas subconraadas: 170 das de prmero me, 5000 de segundo (que fornecesse peças e servços às prmeras) e cerca de 40 000 de ercero nve (Gorz, 2004). Segundo Gorz, consderando anda o exempo da Toyoa, “enre as subconraadas de prmera nha, nformazadas e robozadas, que empregam enre 100 a 500 pessoas, os saáros são 25% nferores àquees pagos pea irma-mãe. Enre as subconraadas com menos de 100 assaarados, os saáros são 45% nferores e, às vezes, anda mas baxos, para um rabaho precáro, rreguar, pago por peça” (2004, p. 59).
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Desa sore que, o conjuno desses prncpos prvasas e beras em evado o rabaho absrao a ser menos coevsa e mas ndvduazado, mas desreguamenado e com menos proeções socas e, anda, mas lexbzado em ermos de horáros, meas e arefas. O Indvduasmo severo, a nsabdade, a faa de medações socas e a hperavdade produva formam as caracerscas do rabaho absrao nos das auas. No enano, a suação ica anda mas grave quando observamos os efeos das novações gesonáras. As ransformações gesonáras mpcam a combnação de uma revoução ecnoógca com novas écncas de admnsração. Segundo Le Go (1999), o novo ssema gesonáro desoca seu caráer prescrvo da avdade e de seus modos operaconas para o sujeo e seus novos modos de ser. Ser parcpavo, saber daogar, acear crcas, ser oerane, franco, engajado no progresso connuo, aderdo subjevamene à empresa, passam a consurem-se os prncpos báscos das novas formas de gesão. Conforme Gauejac (2005) o dea de exceênca mosra-se um dos conceos chave dessas novas prescrções gesonáras, que sgnica “ser fora do comum” e engajado subjevamene em “ser performane”. A empresa, denro dessa nova menadade, dexara de ser um ugar de exporação e aenação para ornar-se poradora da modernzação e do desenvovmeno ndvdua. Ao mesmo empo, uma nova raconazação do ssema produvo se desenvove. Em snese, suas prncpas caracerscas podem ser deindas como: (a) uma busca pea mensuração rgorosa das compeêncas numa enava de quanicação cada vez maor da performance ndvdua, quaicada por Le Go (1999) e Gauejac (2005) como uma espéce de quanofrena; (b) a ndvduazação se ergue como um prncpo, baseada em meddas de saáro varáve em função da produvdade e em dsposvos de avaação ndvdua (Dejours & Bègue, 2009); (c) uma fore ofensva conra o poder sndca faz pare anda do novo ssema, sendo que a conradção capa-rabaho e os emas, as como aenação e exporação, são bandos do neror da empresa em pro da exgênca de coaboração e da dea de empresa como poradora de modernzação; (d) uma gesão por objevos, conforme susenam De jours e Bègue (2009), poradora da nensicação do rmo das arefas e de uma desquaicação do rabaho em pro de objevos inanceros de curo prazo; (f) e, por im, um conlo crônco enre manager, porador do novo modeo gesonáro baseado na redução de cusos, nas meas de
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produvdade e na deooga do saber-ser e os rabahadores poradores do saber-fazer própro de sua avdade proissona. Temos uma exacerbação do ndvduasmo severo, da nsabdade, da faa de medações socas e da hperavdade produva. Os prncpos gesonáros da ndvduazação da performance, das avaações (quanofrena) e dos saáros varáves cram uma ua compeva desenfreada enre os rabahadores. A deooga do saber ser cra a cupabzação pessoa para cada um que não se mosra à aura das meas exgdas. A ofensva conra o poder sndca desró as medações socas daquees que anes se denicavam com sua casse ou com seu sndcao, fazendo dos sujeos que rabaham mas mpoenes e facmene nsrumenazáves por gesonáros e peo ssema produvo. A gesão por objevos cra a hperavdade, que, por sua vez, gera a sobrecarga e mpossba o saber fazer e o rabaho bem feo. E, por im, os conlos enre manager e rabahadores, gera o assédo mora em função da exgênca adapava às novas formas de ser rabahador. Em nenhuma oura época, como já o dssemos, o rabaho absrao mosrou-se ão morfero às possbdades do rabaho concreo. O que observamos é cada vez mas as pessoas renuncando a um por eeoógco snguar e fracassando na ransformação de seu passado em função do fuuro, bem como a nvabzação do rabaho de organzação por pare de grupos e dos coevos de rabaho, cada vez mas fragmenados, mpoenes e nsrumenazados peas novas formas gesonáras. Consderações sobre o mpasse entre trabaho abstrato e trabaho concreto
Consderamos, como já assnaado ao nco dese argo, a exsênca de um “mpasse” enre os processos de consrução de s e da hsorcdade ndvdua orundo das formas de rabaho concreo e as exgêncas da aua ógca produva e gesonára que preconzam de reazação de s mesmo conforme os modeos do saber ser, do ndvduasmo compevo e da exgênca de exceênca. Um “mpasse” que acança ambém as formas de rabaho de organzação crador do ser em comum, mprescndve para a consução da hsorcdade coeva, que por sua vez, vê-se fragmenada peas formas de lexbzação de ndvduazação da performance.
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O predomno das formas de rabaho absrao sobre o rabaho concreo nos empos auas mosra-se permeado por uma conradção desumanzane: o movmeno do sujeo em dreção a fazer pare do ecdo soca-organzacona em mpcado, cada vez mas, na perda de s mesmo e na nvabzação da sua hsorcdade ndvdua. Por ouro ado, o movmeno em dreção à consrução de s mesmo e à ua por fundar e maner um sendo do rabaho em acarreado na nvabzação da hsorcdade coeva, permeada pea excusão e fragmenação do ecdo soca e organzacona (Casro, 2012). Chares C., expert e consehero de empresas munaconas coadas na Bosa, é axavo ao airmar seus prncpos: “é necessáro se senr em pergo, se adapar, nvesr … eu rabaho para a desumanzação da organzação e do managemen, no sendo de suprmr udo que é nerno ao homem” (Pver, 2009). Por ouro ado, emos Yonne Dervn, funconáro de France Téécom, que ena sucdar-se eniando uma faca na regão do esômago durane uma reunão com seu manager e equpe (Dervn, 2009). O aconecmeno desencadeador do ao sucda, segundo reao do própro funconáro, ocorreu numa reunão no da aneror, na qua seu manager he anuncou a supressão de sua avdade de engenhero em rede de eecomuncações exercda há qunze anos e seu rebaxameno para o servço de teemarkeng, sob aegação de que hava chego ao me de suas capacdades e não era mas chance de progredr na empresa. Yone vveu, enão, uma fore crse, que descreve como sendo a goa d’água que fez ransbordar o copo. Pensamenos não paravam de fervhar em sua cabeça, nos quas sua exsênca nera reornava à memóra: vne anos de vda proissona que fracassavam após uma sucessão de experêncas de frusração e humhação vvdas nos úmos anos na empresa. Yone não suporou o rebaxameno que o ornara um vendedor de teemarkeng e anda o obrgava a mudar-se para oura regão do pas. Em seu reao, descreve uma noe nferna em que não conseguu dormr e na qua só pensava em sua vda desmoronando e nas paavras de seu chefe que he perurbavam ncessanemene, acompanhadas de um fore sofrmeno e de uma fragdade e humhação nsuporáves. Nese momeno de crse, o sucdo he apareceu como a únca sada possve. Não era mas possve a Yonne Dervn uma vsada eeoógca snguar e própra que he permsse urapassar as barreras dadas e dar
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sendo a seu rabaho e a produção de um mundo comum, vso que o únco fuuro que he resava era aquee que a empresa o obrgava a reazar. Esava, da mesma forma, mpossbado de ransformar seu passado em função do fuuro, vso que seus anos de experênca de rabaho nham vrado sucaa, sem nenhum campo de aernavas para escoher e produzr um objeo que se reconhecesse e reazar um fuuro para s. Esava, da mesma manera, mpeddo de reazar o rabaho de organzação: mpoene, sujeado à sodão sera de ser um excedene descaráve, odas as medações socas possves he escapavam: seu manager o assedia moramene, as prácas da empresa he mpõem uma sére nindáves de humhações sem nenhum supore e o ser em comum apresena-se oamene esranho, mponderáve. Por ouro ado, Chares C, parece er do sucesso em seu projeo desumanzane: anquando os úmos resqucos de rabaho concreo, conduz a exporação do rabaho absrao aos seus mes. O homo oeconomcus reaza-se, enim, em sua versão ina: nsrumenazação absoua do rabaho vvo, fazendo do mundo um objeo de cácuo e de concorrênca generazada, reduzndo odas as reações a seu vaor de roca, descarando as mercadoras núes para, enim, consegur o dnhero fazer mas dnhero. Yonne Dervn é smbóco do esgoameno de oda e quaquer possbdade humanzane do rabaho no capasmo conemporâneo e de um ssema socoeconômco que ange seu me, qua seja: a desumanzação profunda do coneúdo concreo do rabaho e, por consequênca, das possbdades de consrução da hsorcdade ndvdua e coeva. Referêncas
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
Contrbuções da Pscooga Organzacona e do Trabaho para a mpantação de uma poca púbca de atenção à saúde do trabahador João César de Freas Fonseca Suzana da Rosa Tofo Thaes de Bessa Marques dos Sanos Grece Vana Marns
Pscooga(s) do(s) Trabaho(s) e da(s) Organzação(ões): uma questão pura
Denre as dversas subáreas abrgadas denro da Pscooga, a assm chamada Pscooga Organzacona e do Trabaho (POT) pode ser consderada uma das mas compexas, endo em vsa o caráer mufaceado das produções que se apresenam nserdas nesse campo. Traa-se de uma denomnação que acohe ano nvesgações e pesqusas cenicas quano nervenções e prácas desenvovdas nos mas dversicados conexos e aendendo a múpos neresses. Esudos sobre os aspecos hsórcos da Pscooga Organzacona e do Trabaho, como os reazados por Sampao (1998) e por Krumm (2005), desacam o ançameno do vro Psychoogy and ndustra ecency , de Hugo Münserberg, em 1913, como a prmera pubcação da área. A nerocução da Pscooga com o mundo do rabaho, nesse momeno, efeva-se mas dreamene aravés das prácas de seeção e coocação proissonas, com uso nenso dos eses pscoógcos e numa perspecva de auação mada aos posos de rabaho, não se envovendo na esruura das organzações ou no quesonameno sobre as reações de poder a exercdas. Comenando essa obra, Spnk (1996) desaca o conexo da reação enre uma cênca suposamene neura e o campo produvo da época, embrando que, para Münserberg, a Pscooga nascura (chamada de
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“pscoécnca econômca”) podera aender os objevos do comérco e da ndúsra, “mas se eses (objevos) são os mehores não é uma preocupação que deve pesar para o pscóogo” (Münserberg cado por Spnk, 1996, p. 178). Por aproxmar-se de forma mas drea e medaa do embae enre capa e rabaho, a POT se defronará, desde seus prmeros passos, com as quesões pernenes aos neresses do mercado e seus desdobramenos, num embae que afea ano o campo cenico em gera (Bourdeu, 1975, cado por Hochman, 1994), quano a Pscooga, em parcuar (Japassu, 1983). Assm, é ambém na prmera meade do sécuo vne que vamos ocazar aguns fundamenos de oura perspecva: na França, Pozer ança as bases de sua Pscooga Concrea, susenado prncpamene em Marx: Não somos processos pscoógcos como percepção, memóra, vonade, negênca, represenação, nem processos socas como exporação, domnação, aenação. Somos pessoas nas quas nos reconhecemos e em quem foram e vão se consundo e desenvovendo funções pscoógcas compexas, na dnâmca das reações socas de poder em que se ecem os aconecmenos reas que vvemos. (Pozer, 1929, cado por Fonana, 2000)
Sabdamene compromedos com um deáro de modicação da readade apresenada e carregando fores crcas em reação à própra Pscooga, os argumenos de Pozer exercerão sgnicava nluênca sobre Vygosky (1929/2000) e, por consegune, sobre os dversos auores agrupados nas chamadas abordagens cncas da Pscooga do Trabaho, pono a que reornaremos poserormene. É mporane observar que, nessas movmenações ncas da Pscooga frene ao campo do rabaho, não esá coocada quaquer preocupação drea com a saúde e o bem-esar dos sujeos humanos e sm com a eicênca e com a produvdade, enenddas como ndcadores de um ajusameno adequado aos preceos organzaconas. Ceramene, a aproxmação que a Pscooga fará da emáca da Saúde e Segurança no Trabaho em a ver com a própra mudança nos conceos de aenção à saúde em gera e com o compexo enredameno dos város aores socas envovdos nessa rama. Enreano, precsare-
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mos desenvover mehor nossos argumenos em orno da POT, como área do conhecmeno e como campo de auação, anes de desenvover essa perspecva. No Bras, os debaes sobre a arcuação enre Pscooga e os espaços produvos, com medação da experênca abora, afeam ncusve a própra denomnação do campo, expcando na nguagem o nve de conlos com os quas codanamene se defrona. Nesse sendo, é possve enconrar referêncas que denicam esse domno ora como Pscooga Organzacona e do Trabaho (POT), ora como Pscooga do Trabaho e das Organzações (PTO) (Borges, 2010; Borges-Andrade & Pagoo, 2010) 1. Os quesonamenos e relexões quano ao campo de auação da Pscooga Organzacona e do Trabaho e suas reações com a formação dos pscóogos já vêm sendo feos há basane empo. Spnk (1996) argumena que o ermo pscooga do rabaho é ão descrvo quano pscooga do fora-do-rabaho. Por anda, a mupcação de eemenos de auação aconece sem nenhuma base eórca que srva de modura ou sem quaquer dspua eórca cara que possa servr como um dáogo de referênca como, por exempo, na área da pscooga cnca. Tão confuso é ese umuo de emas que não é de esranhar que a própra pscooga preira dexá-o sobrevver margnamene no campo de recursos humanos, ou reegado a um ópco do quno ano do curso de graduação e a uma experênca rse de eságo na área de seeção pessoa. É raro enconrar pscóogos que fazem do erreno do rabaho seu foco subsanvo; muo mas comum é ouvr que a presença nese campo se dá por razões nsrumenas. (p. 174)
Tas crcas consuem, essencamene, um conjuno de relexões produzdas em grande pare nos anos 80 e 90 sobre essa ambgudade do própro campo, corroborando de forma mas ou menos drea os aponamenos de Codo (1985), Borges-Andrade (1986) e Jacques (1988), para car apenas aguns. Porano, em nhas geras, é possve observar, desde as prmeras relexões sobre o ema (Sampao, 1998) aé as pubcações mas recenes (Gondn, Borges-Andrade, & Basos, 2010; Bendasso, 2011), um esboço progressvamene deneado em orno de duas grandes correnes ou 1
Nese rabaho, adoaremos o mesmo créro uzado por Borges-Andrade e Pagoo (2010), opando por consderar as expressões como snônmos.
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abordagens: uma mas voada para os esudos em orno das organzações e oura mas drgda para os esudos em orno da caegora rabaho. Impora reconhecer que as subdvsões enre esses dos grupos são múpas e dferencadas, pos releem em grande pare os anhamenos de seus proponenes e denicam as marzes por ees uzadas. Sampao (1998), por exempo, opa pea dvsão em rês faces (ou fases): pscooga da ndúsra, pscooga organzacona e pscooga do rabaho. Para Bendasso (2011), as aproprações que a Pscooga faz da caegora rabaho podem ser agrupadas em rês vas: organzacona, soca e cnca. Ouros auores, como Gondn, Borges-Andrade e Basos (2010), ncundo referêncas nernaconas, mosram que a cassicação em adqurndo cada vez maor dversdade, aerando-se conforme o créro a ser uzado: emas nvesgados em pesqusa; áreas de concenração/nhas de pesqusa de programas de pós-graduação; ou paavras-chave uzadas para denicar pubcações em peródcos cenicos, para menconar apenas aguns. Em momenos mas recenes, o debae vem se nensicando, prncpamene no espaço acadêmco. A Pscooga Organzacona é muas vezes acusada de enender o rabaho apenas como avdade produora de vaor econômco, prorzando o ajusameno dos sujeos à ógca de prevsão e conroe da força de rabaho por pare dos grupos drgenes das organzações. Sera ea, assm, uma Pscooga “do Capa” (Heoan, 2005; CFP, 2010). Numa oura perspecva, marcando um ugar de defesa desse domno do conhecmeno, enconra-se a crca em reação ao dscurso “de que só será possve uma Pscooga do Trabaho penamene compromeda com os neresses do rabahador se houver uma csão com uma Pscooga das Organzações, que esara suposamene compromeda com os neresses do capa e conra os rabahadores” (SBPOT, 2009). A PTO e os processos de produção de saúde e doença no trabaho
Todo esse embae enre dferenes perspecvas aconece de forma concomane ao crescmeno das demandas apresenadas à Pscooga peos dferenes aores socas vncuados ao campo produvo. Trabaha-
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dores, empresas, sndcaos, governos, ONGs, pocos e gesores movmenam-se no sendo de denicar aernavas para enender e auar sobre os consanes conlos e demas enconrados no processo de gesão da força de rabaho humana nas organzações, a parr da especicdade de seus neresses. Uma dessas demandas dz respeo exaamene ao processo de produção de saúde/doença expermenado peos sujeos humanos em suação de rabaho. Desde o debae sobre os possves nexos enre deermnadas avdades proissonas e a morbdez a eas assocadas, aé as enavas de garanr a saúde dos rabahadores (percebdos uncamene como faor de produção), oda uma sére de quesões vem se apresenando à POT, exgndo cada vez mas esforço por pare de pesqusadores e neressados no assuno. Premnarmene, é forçoso consderar que as mudanças nos conceos de Saúde afeam as nserções da POT no campo da Saúde e Segurança do Trabahador (SST). Assm, desde a noção de “saúde como ausênca de doença” (Boorse, 1977, cado por Ameda Fho, 2000) aé o enendmeno de “saúde como esado de compeo bem esar ísco, mena e soca” (Laonde, 1974, cado por Scar, 2007), a noção de saúde coeva va sendo progressvamene consruda e reforçada, consodando a mporânca dos chamados deermnanes socas da saúde (Buss & Peegrn Fho, 2007). É exaamene com o adveno da Saúde Coeva que vamos consegur denicar, com maor vsbdade, as demandas de ordem mas crca, compromedas efevamene com um processo de ransformação da readade. Anasando a mgração progressva do campo da Medcna do Trabaho, passando pea Saúde Ocupacona, auores como Mendes e Das (1991) defendem a premênca da consodação do campo da Saúde do Trabahador, como uma nha de auação e de pesqusa conssene o basane para nerferr na consrução de pocas púbcas. Um dos veores mas nluenes nesse processo de consrução da Saúde do Trabahador fo o Modeo Operáro Iaano de Lua pea Saúde (MOI), movmeno de rabahadores ocorrdo nas décadas de 1960 e 1970. Essa nluênca raduz-se em aguns desdobramenos mporanes: (a) a adoção do mapa de rscos, poserormene ncudo nas Normas Reguamenadoras do Mnséro do Trabaho; (b) a vaorzação da parc274
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
pação dos rabahadores; (c) a ncusão dos prncpos da nerdscpnardade, que dará mas fôego para a nerocução da Medcna com ouras áreas, ncusve a Pscooga (Araújo & Ruz, 2012). A arcuação desse campo (no sendo bourdenano do ermo) com as pocas púbcas em merecdo a aenção de dferenes auores. Cosa, Lacaz, Jackson Fho e Vea (2013), por exempo, anasam a suação da aenção negra da Saúde do Trabahador no Bras e sua arcuação com o Ssema Únco de Saúde (SUS), concundo que as ações governamenas nesse campo anda podem ser consderadas dúbas e ndeindas, chegando a airmar: as ações de ST pressupõem, por sua naureza, aém de recursos maeras, quadro de pessoa suicene, capacado e doado de carrera compave com as funções essencas do Esado provedor, condção mnma para o enfrenameno dos probemas compexos do campo da ST, ou seja, uma poca de Esado condzene com a perspecva de superação da precaredade do rabaho conemporâneo e com a proeção negra da saúde dos rabahadores. (Cosa e a., 2013, p. 18)
Ao apresenar as consderações, esses auores reairmam crcas anerores (Mnayo-Gomes & Lacaz, 2005; Machado & Sanana, 2011) e consderam que nem mesmo ações expressvas, como a nsução da Poca Nacona de Saúde do Trabahador e da Trabahadora, aravés da Porara n. 1.823/2012 do Mnséro da Saúde era produzdo um efeo sgnicavo sobre a proeção aos rabahadores. Isso porque o campo da Saúde do Trabahador apresena especicdades dversas, denre as quas poderamos frsar rês ens, com especa reevânca para os ins dese argo: • Traa-se de um campo que afea dreamene múpos neresses, vncuados a aores socas dferencados que ocupam posções muas vezes anagôncas e rreconcáves nas esferas poca e soca. Vncuados às aerações cccas da ensão enre capa e rabaho (Anderson ,1995; Meszaros, 2002), as conlos releem-se ncusve na nsânca governamena, como a hsórca e confusa arcuação do Mnséro da Saúde e do Mnséro do Trabaho e Emprego (MTE) em orno das ações de Vgânca nos processos de rabaho (Cosa e a., 2013; Nobre, Pena, & Bapsa, 2011).
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
• Como a própra noção de Saúde, ambém na Saúde do Trabahador são consderadas proráras e preferencas as abordagens mu ou nerdscpnares, que congreguem os ohares e as compreensões orundas de dferenes áreas do conhecmeno. Essa drerz enconra-se prevsa desde a composção dos eemenos normavos mas ampos, como a Le n. 8.080/1990, aé aquees documenos mas especicos, como o Manua de Gesão e Gerencameno da Rede Nacona de Aenção à Saúde Inegra do Trabahador – RENAST (2006). • A Saúde do Trabahador reairma de forma recorrene a pernênca da parcpação dos rabahadores “enquano sujeos e parceros capazes de conrbur com seu saber para o avanço da compreensão do mpaco do rabaho sobre o processo de saúde-doença” (Cosa e a., 2013, p. 12). Essa escua a ser dsponbzada para os rabahadores numa reação de dáogo smérco recupera a dmensão coeva e poca na qua a avdade humana pode e deve ser pensada, denro da perspecva crca da Saúde do Trabahador, e convoca a arcuação de campos do conhecmeno para sua efeva compreensão. É exaamene essa aberura para o dáogo enre váras áreas do conhecmeno que rá permr à Pscooga Organzacona e do Trabaho ampar seu escopo de conrbuções para enender e nervr no campo da Saúde do Trabahador. Preocupado em snazar com mas ndez as possbdades de auação do Pscóogo nessa dreção, o Conseho Federa de Pscooga ança, em 1998, uma pubcação nuada “Saúde do Trabahador no âmbto da Saúde Púbca: referêncas para a atuação do(a) pscóogo(a)”, na qua raica sua compreensão sobre o anhameno a ser adoado peos proissonas vncuados a esse campo. Nesse documeno, airma-se que cabe à Pscooga conrbur com um ohar para cada sujeo, consderando o sujeo de um coevo, resgaar o conhecmeno e vaorzar a subjevdade dos rabahadores, para compreender mehor suas prácas de rabaho [sendo que] a auação do pscóogo nesse âmbo pode esar demada por deermnações egas (como no caso da vgânca) e pode subsdar a concessão de beneícos prevdencáros (auxo-doença e aposenadora por nvadez, por exempo) e rabahsas (dreo à renegração). (CREPOP, 2008, pp. 8-9)
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Em ermos mas especicos, as conrbuções da Pscooga para a área de Saúde do Trabahador êm se apresenado majoraramene vncuadas à emáca de Saúde Mena e Trabaho (SMeT). Traa-se do reconhecmeno da mporânca de ncur a caegora da subjevdade no debae sobre a produção de saúde/doença no rabaho, premssa que não pode ser consderada unânme ou consensua por pare dos auores que abordam o assuno. Saúde Menta e Trabaho: uma possbdade entre mutas
Segman-Sva (1997) mapea rês correnes de pensameno presenes em esudos no campo de Sáude Mena e Trabaho: (a) a correne subsdada peas eoras de esresse; (b) a correne fundamenada peos esudos pscanacos; e (c) a correne cuja orgem enconra-se nas cêncas socas. Jacques (2003), em exo consderado como referênca básca para a área, anasa quaro prncpas abordagens no âmbo da saúde/doença mena e rabaho, suas nerseções com a Pscooga e, parcuarmene, com a Pscooga Soca. Para essa auora, as conrbuções da Pscooga para o esudo de Saúde Mena e Trabaho se faram em orno das segunes abordagens: (a) eoras sobre esresse; (b) pscodnâmca do rabaho; (c) modeo epdemoógco ou dagnósco; (d) subjevdade e rabaho. Evdenemene, a opção por cada uma dessas abordagens em mpcações meodoógcas especfcas e refna os emas proráros para nvesgação. É fundamena observar que esse exo, uzado em profusão peos auores da área, ncusve nas pubcações mas recenes (Mnayo-Gomes e a., 2011), fo produzdo anes da efervescênca de ouras abordagens no cenáro brasero. Em especa, desacam-se as chamadas Abordagens Cncas da Pscooga do Trabaho (Bendasso & Sobo, 2011), cuja produção vem sendo sgnicavamene ampada nos úmos anos (Fonseca & Overa, 2013). Anda assm, Araújo (2011), em rabaho de revsão dessas abordagens, corrobora as cassicações de Jacques (2003) e Segman-Sva (1994), e apesar de reconhecer os avanços obdos, anda denica m-
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
poranes desaios para o campo, como por exempo, o ajameno do adoecmeno mena das esascas oicas reavas aos afasamenos dos rabahadores de suas avdades. Ceramene, pode-se dzer que há um reavo anhameno dessas abordagens em Saúde Mena e Trabaho aos domnos da Pscooga Organzacona e do Trabaho, cados anerormene nesse exo. Por exempo, as eoras sobre esresse, desenvovdas sob fore nspração de auores ango-saxões, como Lazarus e Fokman (1984) e Seye (1951), mosram-se muo mas próxmas da Pscooga Organzacona, na medda em que parecem responder de forma mas rápda aos anseos dos drgenes, ncusve oferecendo dados concreos para anáse e nervenção. A própra Jacques airma: Tas ações, em gera, apresenam-se em programas de quadade de vda no rabaho (QVT), focazadas no gerencameno dos rabahadores e com menor ênfase nas condções de rabaho e, prncpamene, na organzação do rabaho. (Jacques, 2003, p. 102)
Por ouro ado, nos esudos voados para a quesão da subjevdade e do rabaho, “os pressuposos marxsas susenam a concepção sobre a deermnação hsórca dos processos de saúde/doença e seus vncuos com as condções de vda e de rabaho dos rabahadores” (Jacques (2003, p. 110). Isso snaza caramene ouro anhameno deoógco, conigurado por uma vsão crca da organzação, mas ambém e, prncpamene, das reações de rabaho, vsando não somene sua compreensão, mas neressada essencamene em sua ransformação. Noa-se, porano, que muos dos embaes própros da subárea POT reproduzem-se no neror do domno SMeT, ano no que dz respeo à orenação eórca e meodoógca quano no pano deoógco e poco. Bran e Gomes (2011), por exempo, anasam que os esudos sobre subjevdade presam-se em grande pare ao debae sobre sofrmeno no rabaho, em orno do qua enconram quaro caracerzações: (a) o sofrmeno como ransorno psquárco menor; (b) o sofrmeno como uma dmensão nerna do sujeo; (c) o sofrmeno como uma nsânca nermedára enre saúde e a doença; e (d) o sofrmeno como adoecmeno. Probemazando a quesão da subjevdade, porém, airmam
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
que “o modo de subjevação desenha uma armadha para o sujeo quando se prvega o aspeco subjevo na anáse da doença” e, cando esudos anerores, aeram que “a caegora subjevdade pode crar a noção de um ndvduo predsposo a adoecer” (Bran & Gomes, 2011, p. 391). Podemos perceber, porano, que da mesma forma que o campo da Saúde do Trabahador, ambém o campo da Pscooga Organzacona e do Trabaho vem expermenando avanços e ransformações que não se efevam sem conlos, nem prescndem do debae própro do méodo cenico. Em especa, as conrbuções orundas do domno de Saúde Mena e Trabaho, que convocam neressados orundos dos mas dversos perencmenos eórcos, precsam ser objeo de connua relexão e anáse, de modo a permr a connudade do processo de desenvovmeno do própro campo. As contrbuções da POT para a mpantação do SIASS
Em rabaho de pesqusa reazado no perodo de 2010 a 2012, vemos oporundade de nvesgar o processo de mpanação de uma poca de aenção à saúde, mpemenada peo Governo Federa para os servdores púbcos dessa esfera da Admnsração. A Poca de Aenção à Saúde do Servdor (PASS) ganhou mas nooredade a parr de sua expressão concrea, o Subssema de Aenção à Saúde do Trabahador (SIASS). Fruo de um nenso processo de negocação juno aos dferenes aores socas neressados, o SIASS raza em seu bojo fore nluênca do campo da Saúde do Trabahador, seja peo fao de er sdo uma ncava gerda a parr de um governo de esquerda, seja pea nensa parcpação de grupos sndcas e represenanes dos rabahadores em sua formuação e mpanação: A Poca de Aenção à Saúde do Servdor – PASS - vem sendo consruda de forma coeva, por meo de enconros, oicnas e reunões com as áreas de recursos humanos, os écncos de saúde e endades sndcas, com o propóso de comparhar experêncas, dicudades e projeos, assm consrundo uma poca ransversa, de mpanação descenrazada e coeva, com os dferenes órgãos da Admnsração Púbca Federa. (Mnséro do Panejameno, 2010)
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
A parr de processo coordenado por um médco do rabaho com experênca na gesão de servço púbco de saúde (Carnero, 2006), fo desenvovda uma sére de ações aé a consodação da Porara n. 1.261, de 05 mao de 2010. que nsu prncpos, drerzes e ações em saúde mena para os órgãos da Admnsração Púbca Federa. A eaboração dessa e de ouras orenações normavas subsequenes fo bazada peos rabahos e dscussões apresenados nas edções de 2009 e 2010 do Fórum Nacona de Saúde Mena no Servço Púbco Federa, promovdos no conexo de mpanação do SIASS. A esraéga de consrução desse marco reguaóro dos processos de aenção à saúde dos servdores conssa, enão, em peo menos duas linhas de ação principais: uma, consuda por regsro, denicação e mapeameno das ações já em andameno no campo da SMeT nas nsuções púbcas federas; oura, consuda por um conjuno de ações no campo da formação, por meo de paesras e oicnas reazadas por pesqusadores de dferenes áreas, ncundo a POT. Quano à denicação e ao mapeameno das prácas já reazadas em SMeT no âmbo das organzações púbcas angdas peo SIASS, opou-se, nese argo, por nvesgar os rabahos apresenados nas duas edções do Fórum de Saúde Mena na Admnsração Púbca Federa em 2009 e 2010. Para parcpar, os neressados nscrevam seus rabahos para apresenação durane os já menconados Fóruns, o que perma conhecer a suação no que dz respeo às ações já efevadas no campo da SMeT dos servdores púbco, seus objevos, a fundamenação eórca e meodoógca uzada, os obsácuos e resuados obdos, denre ouros ponos. Anasando a pubcação resuane desses Fóruns, chama a aenção a ampa dversdade de emas e, consequenemene, do anhameno eórco das prácas desenvovdas. Dos 45 rabahos, cuja apresenação fo regsrada nessa pubcação, um conngene expressvo (24,4% do oa) abordava o desenvovmeno e a mpanação de Programas de Quadade de Vda no Trabaho (QVT), um dsposvo pco da chamada Pscooga Organzacona, conforme Jacques (2003, p.102). Város ouros emas pernenes à reação enre sujeo e organzações, parndo da perspecva das úmas, poderam ser reundos em ouro boco, somando aproxmadamene 20%, com ópcos como: 280
Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Preparação para a Aposenadora (8,89%), Socazação Organzacona (4, 44%), Acompanhameno Funcona (2,2%) e Absenesmo (2,2%), por exempo. Já os rabahos que decaravam, ou nos quas se poda nferr agum po de anhameno com a chamada Pscooga do Trabaho strctu senso (Sampao, 1998), somavam apenas 6,7% do oa, sendo ndas as ações que reaavam nervenções com base na Pscodnâmca do Trabaho (2,2%), Anáse Ergonômca da Avdade (2,2%) e nvesgações sobre Sndrome de Burnou (2,2%). As ouras ações apresenadas nos cados Fóruns de Saúde Mena e Trabaho na Admnsração Púbca Federa mosrava uma ampa dversdade. A Pscooga, de forma gera, surga como eemeno compemenar a ouros campos do conhecmeno, em especa as Cêncas da Saúde, com nda prevaênca da Medcna. Os emas cados ransavam, denre ouros, pea Humanzação do Aendmeno, Reabação, Prevenção e Combae ao Tabagsmo, Prevenção e Combae ao Uso e Abuso de Subsâncas Pscoavas, Bodança, Educação Psconurcona e Asssênca Cnca em Saúde Mena. É razoáve pensar que, aé o momeno de mpanação do SIASS, hava uma nda predomnânca das ações susenadas pea Pscooga Organzacona, suação ceramene nluencada peo razoáve ajusameno que esse domno apresena aos parâmeros de produvdade, eicáca e eicênca demandados por gesores e drgenes. Mesmo na área púbca, quando se magna não ser ão nensa e medaa a pressão por resuados medaos, já que não se mpõe a ógca do ucro demandado por nvesdores que exgem reorno sobre nvesmenos feos, maném-se um quadro muo próxmo do observado e já reaado sobre as prácas da Pscooga nas organzações prvadas (Zane, 2002). As conrbuções da Pscooga Organzacona e do Trabaho para aerar esse quadro consuram-se, ambém, de esraégas uzadas peos responsáves pea mpanação do SIASS para a formação connuada dos écncos, gesores, deres sndcas e operadores do referdo Subssema. Pare dessa proposa de formação proissona fo efevada aravés de paesras, conferêncas e oicnas mnsradas durane os já menconados Fóruns. A escoha peos paesranes e responsáves repre281
Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
senava, em nhas geras, uma nenconadade na formação, relendo a expecava de um embasameno mas conssene das ações a serem desenvovdas, no conexo de mpanação do SIASS. Nesse sendo, embora seja possve airmar que as edções de 2009 e 2010 dos Fóruns de Saúde Mena enham conado com a parcpação de pesqusadores ano vncuados à Pscooga Organzacona quano à Pscooga do Trabaho, noa-se uma maor presença de auores mas próxmos ao úmo domno, como pode ser noado na Tabea1.
Tabea 1 Edção do
Nome do paestrante
Instução
Campo teórco
Evento
2009
Mara Júa Panoja
UnB
Ps Organzacona
2009
Leny Sao
USP
Ps Soca do Trabaho
2009
Wanderey Codo
UnB
Ps Soca do Trabaho
2010
Chrsophe Dejours
CNAM/
Pscodnâmca do
França
Trabalho
2010
Ana Magnólia Mendes
UnB
2010
Laere Sznewar
USP
Pscodnâmca do Trabalho
Pscodnâmca do Trabalho
Fone: hps://poraspec.panejameno.gov.br
Aém dos cados acma, que esão gados dreamene ao campo de pesqusa e nvesgação em aguma correne eórca da Pscooga Organzacona e do Trabaho, ouros espaços formavos foram dsponbzados com auores gados a ouras áreas do conhecmeno, com uma cara aproxmação para os campos da Saúde do Trabahador e da Saúde Coeva, como é possve observar:
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Tabea 2 Edção do Evento
Nome do paestrante
Instução
Campo teórco
Saúde Coeva
2009
Lus Codna
OPAS/OMS
2009
Jose Marça Jackson Fho
Fundacenro
2010
Mara Ceca Souza Mnayo FIOCRUZ
Saúde Coeva
2010
Naomar Ameda Fho
Saúde Coeva
UFBA
Saúde do Trabalhador
Fone: hps://poraspec.panejameno.gov.br
Essa escoha faz perceber a enava dos organzadores do SIASS em poencazar o dáogo enre as domnos e esmuar novas formas de apropração do conhecmeno cenico nas organzações. Ceramene, pode-se nferr que a formação e o neresse dos própros gesores responsáves pea mpanação do SIASS possa ser consderado como um veor de grande mporânca no deneameno dessas formas de apropração. Mas, sem dúvda, para aém dos aspecos mas subjevos nerenes a quaquer proposa de formação proissona nas organzações, surgem quesões mporanes para a própra área POT avaar, no sendo de promover um conhecmeno mas profundo sobre o própro campo. Teram essas aproxmações enre a área de conhecmeno conhecda como Pscooga Organzacona e do Trabaho e o campo da Saúde do Trabahador – nesse caso, especicamene do Servdor Púbco Federa – mpcado em efevas ransformações da readade de rabaho expermenadas por mhares de sujeos? As conrbuções porvenura apresenadas pea área POT para o processo de mpanação dessa poca púbca de aenção à saúde do servdor, caracerzada peo SIASS, eram sdo reamene sgnicavas? Esses e ouros quesonamenos urapassam o escopo dese exo e requsam a reazação de novas nvesgações, com maor aprofundameno nos subsraos eórcos e meodoógcos que embasam a consrução e o aprmorameno de pocas púbcas voadas para a saúde dos rabahadores.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
Consderações inas
A preocupação com a emáca da Saúde do Trabahador, a parr de um enfoque crco e reamene compromedo com a efeva ransformação das suações de rabaho expermenadas por homens e muheres, é fao reavamene novo na socedade brasera (Mendes & Das, 1991). Da mesma forma, as possves conrbuções da Pscooga Organzacona e do Trabaho para o aprmorameno do campo Saúde do Trabahador ambém vem negrando um processo de consrução gradua, carregando consgo odas as conradções própras de quaquer campo do conhecmeno cenico, uma vez reconhecda a mpossbdade de uma neuradade absoua do mesmo (Japassu, 1983). Resguardadas as devdas compeêncas e arbuções própras a cada segmeno e a cada aor soca envovdo nesse processo – sabdamene coevo – não há como negar que cabe aos pscóogos que mam no campo das Organzações e do Trabaho buscar nensicar as possves conrbuções para a consrução de pocas de aenção à saúde dos rabahadores, ano no seor púbco quano no seor prvado. Superar dscussões nernas e apresenar snas de maurdade poca e acadêmca parece-nos condção fundamena para efevar o ão propaado dáogo, que consu requso ndspensáve para a consodação de quaquer dscpna ou área do conhecmeno cenico (Fonseca, 2010). Referêncas
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Meszaros, I. (2002). A crse estrutura do capta . São Pauo: Boempo. Mnayo-Gomes, C., Machado, J. M., & Pena, P. G. (2011). Saúde do trabahador na socedade brasera. Ro de Janero: Focruz. Mnayo-Gomez, C. & Lacaz, F. A. C. (2005). Saúde do rabahador: novas-vehas quesões. Cênca & Saúde Coeva, 10(4), 797-807. Mnséro da Saúde. (2006). Manua de Gestão e Gerencamento da Rede Na cona de Atenção à Saúde Integra do Trabahador – RENAST . Brasa, DF: Auor. Mnséro do Panejameno, Orçameno e Gesão. (2010). Manua de Perca Oica em Saúde do Servdor Púbco Federa . Brasa, DF: Auor. Nobre, L., Pena, G. L. P., & Bapsa, R. (Orgs.). (2011). A saúde do trabahador na Baha – hstóra, conqustas e desaios. Savador: Edua/ Sesab/ Cesa. Portara n. 1.261, de 05 mao de 2010. (2010). Insu prncpos, drerzes e ações em saúde mena para os órgãos da Admnsração Púbca Federa. Brasa, DF: Mnséro do Panejameno, Orçameno e Gesão. Sampao, J. R. (1998). Pscooga do rabaho em rês faces. In I. B. Gouar. & J. R. Sampao (Orgs.), Pscooga do Trabaho e gestão de recursos humanos: estudos contemporâneos. São Pauo: Casa do Pscóogo. Scar, M. (2007). Hsóra do conceo de saúde. Physs: Revsta Saúde Coe va, 17 (1), 29-41. Segmann-Sva, E. (1997). Saúde mena e auomação: a propóso de um esudo de caso no seor ferrováro. Cadernos de Saúde Púbca, 13, 95-109. Seye, H. (1951). The genera adapaon syndrome and he dseases of adapaon. The Amercan Journa of Medcne, 10(5), 549-555 . Spnk, P. K. (1996). Organzação como fenômeno pscossoca: noas para uma redeinção de pscooga do rabaho. Psicologia & Sociedade, 8(1),174192. Vygosky, L. S. (2000). Manuscro de 1929. Educação & Socedade, 21(71), 21-44. Zane, J. C. (2002). O pscóogo nas organzações de trabaho. Poro Aegre: Armed.
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
Sobre os autores, organzadores e coordenadoras
Autores
Anôno Fernando Gomes Aves é douor em Pscooga e mesre em Economa Poca pea Poníca Unversdade Caóca de São Pauo. Docene da Unversdade Muncpa de São Caeano do Su. E-ma: prof_aves@uo.com.br Carone Crsane de Sousa é Pscóoga, mesre em Pscooga e douoranda do Programa de Pós-Graduação em Pscooga da Poníca Unversdade Caóca de Campnas. É docene do curso de Pscooga do Cenro Unversáro Hermno Omeo. E-ma: caronecsps@yahoo.com.br Fernando Gasa de Casro é douor em Pscooga do Trabaho e das Organzações pea Unversdade Federa de Sana Caarna. Docene do Insuo de Pscooga da Unversdade Federa do Ro de Janero. E-ma: fernandogasa@gma.com Grece Vana Marns é graduada pea Facudade de Sana Luza. Auamene é exensonsa da Poníca Unversdade Caóca de Mnas Geras na área de Pscooga. E-ma:
[email protected] Heosa Aparecda de Souza é Pscóoga, mesre em Pscooga e douoranda do Programa de Pós-Graduação em Pscooga da Poníca Unversdade Caóca de Campnas. E-ma: heo
[email protected] Jarde Pessar Machado é mesre em Pscooga pea Unversdade Federa do Paraná. Pscóogo da Undade de Aenção Pscossoca/PRAE da Unversdade Federa do Paraná. É docene da Facudade de Admnsração, Cêncas, Educação e Leras (FACEL). E-ma: machado.jarde@yahoo.com.br
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
João César de Freas Fonseca é mesre em Pscooga Soca e douor em Educação pea Unversdade Federa de Mnas Geras. Docene da Poníca Unversdade Caóca de Mnas Geras, Curso de Pscooga - Undade São Gabre. E-ma:
[email protected] João Lee Ferrera Neo é douor em Pscooga pea Poníca Unversdade Caóca de São Pauo. Docene e pesqusador do Programa de PósGraduação em Pscooga da Poníca Unversdade Caóca de de Mnas Geras. Bossa de produvdade do CNPQ. E-ma: jee.bhe@erra.com.br Johanna Garrdo Pnzón é Pscóoga e possu especazação em Desenvovmeno Soca pea Unversdade De La Sae. Douoranda do Programa de Pós-Graduação em Pscooga da Poníca Unversdade Caóca de Campnas. E-ma: johannagarrdo28@gma.com José Eeonardo Tomé Braga Júnor é acadêmco de Pscooga na Unversdade Federa do Ceará. Esagáro na Secreara de Saúde do Esado do Ceará - SESA. E-ma: eeonardobraga@gma.com Juana da Sva Nóbrega é douora em Pscooga Soca do Trabaho, pea Unversdade de São Pauo - USP, e mesre em Pscooga Soca pea Ponica Unversdade Caóca de São Pauo. Docene de Pscooga do Deparameno de Cêncas da Educação da Unversdade Federa de Rondôna - UNIR. E-ma: juananobrega80@gma.com Karnne de Overa Souza é graduada em Pscooga pea Unversdade Federa do Ceará. Mesranda do Programa de Pós-Graduação em Pscooga da Unversdade Federa do Ceará. E-ma: kknne@gma.com Marca Hespanho Bernardo é mesre e douora em Pscooga Soca pea Unversdade de São Pauo - USP. É docene do Programa de Pós-Gradu-
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Pscooga soca e trabaho: perspecvas crcas
ação em Pscooga da Poníca Unversdade Caóca de Campnas, nos cursos de graduação e pós-graduação srco sensu em Pscooga. E-ma: marcahespanho@homa.com Mara das Graças de Lma é Pscóoga, Douoranda (Bossa CNPQ) e Mesre em Pscooga Soca pea Ponica Unversdade Caóca de São Pauo - PUC/SP. Ema: m.gracama@uo.com.br Mara Lusa Carvaho é douora em Pscooga pea Poníca Unversdade Caóca do Ro Grande do Su e mesre em Admnsração pea Unversdade Federa do Ro Grande do Su. Docene da Unversdade Tecnoógca Federa do Paraná - UTFPR. E-ma: musacarvaho@upr.edu.br Marene Zazua Bearz é douora em Pscooga Soca pea Poníca Unversdade Caóca de São Pauo e mesre em Admnsração - UFPR. Docene da Unversdade Tecnoógca Federa do Paraná - UTFPR. E-ma: marenez@upr.edu.br Mausaém de Bro Duare é mesre em Geograia e douor em Pscooga pea Poníca Unversdade Caóca de Mnas Geras. Docene e pesqusador do CEFET-MG. E-ma: mausaem@de.cefemg.br Moacr Fernando Vegas é douor em Educação pea Unversdade Federa do Ro Grande do Su e mesre em Educação pea Unversdade Federa do Ro Grande do Su. Docene da Unversdade de Sana Cruz do Su - UNISC. E-ma: mvegas@unsc.br Rosemere Aparecda Scopnho é douora em Socooga pea Unversdade Esadua Pausa Júo de Mesqua Fho - UNESP e mesre em Educação pea Unversdade Federa de São Caros - UFSCar. Docene do Deparameno de Pscooga da Unversdade Federa de São Caros - UFScar. E-ma: scop
[email protected]
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Coeção Prácas socas, pocas púbcas e dretos humanos
Savador Anono Mrees Sandova é douor em Cênca Poca pea Unversy of Mchgan. Professor da Poníca Unversdade Caóca de São Pauo - Programa de Pós-Graduação em Pscooga e da Unversdade Esadua de Campnas - UNICAMP. E-ma: sams1910@gma.com Suzana da Rosa Tofo é mesre em Admnsração pea Unversdade Federa de Sana Caarna e douora em Admnsração pea Unversdade Federa do Ro Grande do Su. Docene do Deparameno de Pscooga da Unversdade Federa de Sana Caarna. E-ma: srofo14@gma.com Thaes de Bessa Marques dos Sanos é graduado em Pscooga pea Poníca Unversdade Caóca de Mnas Geras, com especazação em Pscoerapas Cognvas pea Unversdade Federa de Mnas Geras. Aua como pscóogo cnco. E-ma: haes1984@gma.com Thago Soares Nunes é mesre em Admnsração pea Unversdade Federa de Sana Caarna e douorando pea mesma unversdade. Pesqusador do Núceo de Esudos do Trabaho e Consução do Sujeo - NETCOS/UFSC. E-ma: h
[email protected] Organizadores
Mara Chain Counho é douora em Cêncas Socas pea Unversdade Esadua de Campnas - UNICAMP. Docene do Deparameno de Pscooga da Unversdade Federa de Sana Caarna - UFSC e bossa em produvdade do CNPq. E-ma: mara.cha
[email protected] Odar Furado é douor em Pscooga Soca pea Poníca Unversdade Caóca de São Pauo. Docene da Poníca Unversdade Caóca de São Pauo - PUCSP, rabahando no Programa de Esudos Pós-Graduado em Pscooga Soca. E-ma: odarfur
[email protected]
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