DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DISCIPLINA DE SOCORROS DE URGÊNCIA GIANCARLA APARECIDA BOTELHO SANTOS
TRAUMATISMOS 1. TRAUMA – PREVENÇÃO Cerca de 120 mil brasileiros morrem vítimas de trauma anualmente. Estima-se que, para cada pessoa morta, três ficam com sequelas graves. Como foi visto até aqui, o atendimento inicial às vitimas é de fundamental importância, mas á apenas parte do processo. Dentre as medidas para reversão desse quadro, a mais eficaz é a prevenção. Assim, como se deve aprender e disseminar os princípios de atendimento, também deve-se fazê-lo com as medidas preventivas. Os acidentes automobilísticos são responsáveis por quase 50 mil mortes por ano no Brasil. Apesar da precariedade de nossas vias públicas, fatores ambientais ou ligados à rodovia são minoria dentre as causas de acidentes fatais. A maior responsabilidade cabe aos cidadãos, logo, é muito importante seguir normas básicas de segurança.
Não ingerir bebidas alcóolicas antes de dirigir e impedir que pessoas alcoolizadas assumam o volante.
Utilizar adequadamente equipamentos de segurança. Cintos de segurança podem evitar até 75% das mortes.
Respeitar os limites de velocidade e a sinalização.
Não conduzir com crianças no colo. Em uma colisão a 50 km/h uma criança nos braços do pai será arremessada contra o painel com força equivalente a sete toneladas.
Motociclistas e ciclistas devem sempre usar capacete.
Pedestres devem atravessar somente na faixa de segurança.
2. TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO (TCE)
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O trauma de crânio é responsável por 50% das mortes em pacientes traumatizados. Em crianças, responde por mais de 90% dos óbitos. Considera-se como lesões primárias aquelas que ocorrem devido ao mecanismo do trauma, ou seja, ao impacto, ou ao movimento de aceleração ou desaceleração da cabeça. Lesões secundárias são aquelas acorridas após o trauma e não diretamente ligadas ao seu mecanismo. A prioridade no tratamento do trauma de crânio é evitar dano cerebral adicional (lesões secundárias). Estas podem ser causadas por:
Baixa oxigenação do sangue;
Redução da ventilação;
Pressão arterial baixa;
Hipertensão intracraniana (pressão muito alta dentro do crânio).
O crânio é uma cavidade fechada e, como tal, qualquer aumento de um de seus componentes internos, tecido cerebral, sangue e líquor, ou a adição de um novo componente, elevará a pressão intracraniana (PIC) e diminuirá a perfusão cerebral. Imediatamente após o trauma, a causa mais comum de aumento de PIC são os hematomas intracranianos. 2.1. LESÕES PRIMÁRIAS MAIS COMUNS 2.1.1. LESÕES DO COURO CABELUDO
Hematomas extracranianos, sem maior gravidade (os “galos”).
Feridas corto-contusas com sangramento externo, principalmente em crianças – são feridas causadas por objetos que produzem lesões simultaneamente por corte e impacto.
2.1.2. FRATURAS DE CRÂNIO
Fechadas
Com afundamento
Abertas
2.1.3. HEMATOMAS INTRACRANIANOS 2
Os chamados “coágulos”. Podem levar ao aumento da pressão dentro do crânio, prejudicando a chegada de sangue ao cérebro (perfusão cerebral). O paciente pode apresentar-se inconsciente, com movimentos anormais de braços e pernas, com as pupilas dilatadas ou desiguais, e com reação lenta à luz. Isso ocorre porque o hematoma, além de prejudicar a função cerebral, comprime os nervos que regulam as pupilas. A compressão do cérebro pode estender-se à porção que regula a respiração e a circulação, levando o paciente à morte. Os hematomas podem desenvolver-se horas após o trauma. Por isto, pessoas que sofreram trauma de crânio devem ser observadas no mínimo por 24 horas. Esta observação consiste em acordá-las a cada duas horas. Caso se perceba qualquer alteração de consciência, vômitos persistentes ou dor de cabeça de intensidade crescente, devem ser levadas, imediatamente, a serviço de neurocirurgia. Ao contrário do que muitos pensam, dormir não faz mal, o risco é a pessoa passar do sono ao coma profundo, sem que isto seja detectado. 2.1.4. CONCUSSÃO CEREBRAL O paciente tem uma “desconexão” temporária das funções cerebrais. Fica inconsciente por alguns minutos ou horas (não mais que seis) e retorna à consciência plena, com exame neurológico completamente normal. Pode, no entanto, apresentar alterações de memória, esquecendo-se de fatos ocorridos imediatamente antes ou após o trauma. Nos dias que se seguem, podem manifestar-se náuseas, dor de cabeça, sudorese e depressão. Em geral, esse quadro resolve-se dentro de alguns dias. Trauma de crânio pode ser causa também de CONVULSÕES. Na crise convulsiva, ocorre uma atividade elétrica desorganizada e descontrolada, manifestandose por movimentos repetidos, hipertonia, taquicardia e inconsciência. O prolongamento das crises leva a uma atividade cerebral intensa, sem que o fluxo sanguíneo atenda às suas necessidades. Assim, sem a chegada de oxigênio e glicose suficientes, ocorre sofrimento cerebral, podendo resultar em graves sequelas neurológicas ou em morte. 2.2. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR SINAIS E SINTOMAS a. Cortes profundos ou lacerações no couro cabeludo; 3
b. Inconsciência ou redução do nível de consciência c. Exposição de massa cefálica; d. Ferimento penetrante na cabeça (arma de fogo, arma branca, objetos encravados); e. Edema, saliências, deformidade ou fragmentos ósseos na superfície craniana; f. Sinal de Guaxinim (hematoma periorbitário) ou Sinal de Battle (equimose retroauricular); g. Diâmetros pupilares desiguais (anisocoria); h. Pupilas com reação lenta ou nula à luz; i. Sangramento pelo nariz (rinorragia) e/ou pelos ouvidos (otorragia) ou saída de líquor (fluido claro) também pelos ouvidos ou nariz; j. Fraqueza (paresias) ou formigamento (parestesias) em um lado do corpo; k. Alteração dos sinais vitais; l. Náuseas e vômito, quando conjugados com os outros sinais/sintomas específicos do TCE. m. Crise convulsiva quando conjugada com outros sinais/sintomas específicos; n. Cefaléia e/ou dor no local da lesão. CONDUTA a. Estabilização cervical. b. Manter as vias aéreas pérvias. Em vítimas inconscientes, com controle cervical. c. Controlar hemorragias com curativos oclusivos. d. Estabilizar objetos encravados com compressas volumosas sem removê-los. e. Não impedir saída de líquor e/ou sangue do nariz ou ouvidos. f. Aquecer a vítima. g. Considerar estado de choque. h. Monitorar sinais vitais e nível de consciência. 3. TRAUMA RAQUIMEDULAR (TRM) A idéia mais difundida em relação aos acidentes é que “não se deve remover a vítima”, uma vez que a remoção inadequada pode ser catastrófica. Tal preocupação é fundada, principalmente no risco de lesão de coluna vertebral. Esta, se não reconhecida e adequadamente tratada, pode deixar a pessoa paralítica por toda a vida ou levá-la à morte imediata. 4
Este tipo de traumatismo é mais comum em jovens (entre 16 e 35 anos), tendo como causas mais frequentes os acidentes automobilísticos, mergulhos em águas rasas, acidentes de motocicleta e quedas. Em crianças, as causas mais comuns são quedas de altura, de bicicleta e atropelamentos. No TRM ocorre ruptura da medula espinhal, interrompendo a transmissão do impulso nervoso do sistema nervoso central para a periferia do corpo. Uma vez interrompida essa transmissão, o organismo, dependendo do ponto em que ocorreu, perde a capacidade de respirar, e de controlar os batimentos cardíacos, a pressão arterial, o movimento dos braços e das pernas, a regulação da micção e da evacuação, a percepção da dor, entre outras funções. Como o tecido nervoso não se regenera e não é reparável cirurgicamente, uma vez lesada a medula espinhal, o dano é irreversível. Quando a lesão ocorre em nível de região lombar, ocorre a paralisia da porção inferior do corpo (pernas), caracterizando a paraplegia. Quando a lesão ocorre em nível mais alto da medula, ocorre a paralisia completa dos quatro membros, caracterizando a tetraplegia. Caso ocorra lesão somente de parte da medula sem ruptura total, ocorre a hemiplegia, que se caracteriza pela paralisia completa de um lado do corpo. Quando a paralisia é parcial, diz que ocorreu uma paresia. 3.1. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: São eventos presumivelmente relacionados à TRM a. Ejeção do veículo; b. Morte de outro passageiro do mesmo veículo; c. Queda superior a 1 metro de altura ou 5 degraus de uma escada, especialmente se cabeça e/ou dorso colidem com superfície rígida; d. Capotamento de veículo; e. Colisão a alta velocidade; f. Atropelamento; g. Acidente com motocicletas e bicicletas; h. Inconsciência ou alteração do estado mental após trauma; i. Trauma penetrante na cabeça, tórax ou abdome; j. Mergulho em água rasa. SINAIS E SINTOMAS 5
a. Lesões ocultas - relacione o local com o paciente e avalie a transferência de energia; b. Histórico de lesão ou anormalidade na coluna; c. Trauma significativo acima das clavículas; d. Perda de sensibilidade em extremidades; e. Paralisia (perda de movimento ou função) de membro; f. Fraqueza ou paresia de extremidades; g. Dor na região cervical; h. Sinais e sintomas de paraplegia e tetraplegia; i. TCE; j. Priapismo (ereção peniana). CONDUTA a. Mantenha a coluna cervical imobilizada; b. Aplique o colar cervical do tamanho apropriado ou o que puder desempenhar a mesma função do colar; c. Imobilize na posição encontrada se houver resistência, espasmos dos músculos do
pescoço,
aumento
da
dor,
parestesia
(formigamento)
durante
o
posicionamento do pescoço e comprometimento das vias aéreas ou respiração; d. Mantenha a via aérea pérvia, assista a respiração, avalie a circulação e proceda as intervenções se necessário; e. Não eleve as pernas do paciente, mesmo que ele esteja em estado de choque; f. Aqueça o paciente. OBSERVAÇÃO: em crianças pequenas utilize coxins sob suas costas para manter a coluna cervical na posição neutra. 4. TRAUMA DE TÓRAX O trauma de tórax é a segunda causa de morte por trauma, embora a vasta maioria das lesões torácicas (90% dos traumas fechados, chamados contusos, e 80% dos penetrantes) não necessite de cirurgia. Lesões torácicas que não são detectadas devido a uma avaliação pré-hospitalar errada ou incompleta podem comprometer, seriamente, a oxigenação do paciente, levando-o à morte.
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4.1. LESÕES ESPECÍFICAS
Fraturas de costelas
Tórax instável
Contusão pulmonar
Pneumotórax hipertensivo
Pneumotórax aberto
Hemotórax maciço
Tamponamento cardíaco
4.2. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR SINAIS E SINTOMAS a. Dor localizada em segmento do tórax; b. Dor em inspiração profunda; c. Edema, saliências, deformidade ou fragmentos ósseos na região torácica; d. Movimento paradoxal na ventilação quando há tórax instável (duas ou mais costelas adjacentes são fraturadas, em pelo menos dois pontos); e. Dilatação das veias jugulares – no pneumotórax hipertensivo; f. Dificuldade respiratória (dispnéia); g. Padrões anormais de ventilação (taquipnéia, bradipnéia, ou respiração superficial - que são movimentos respiratórios curtos, etc.); h. Coloração azulada (cianose) dos lábios e extremidades; i. Desvio de traquéia – no pneumotórax hipertensivo; j. Saída de bolhas (ar e sangue) em ferimentos abertos no tórax e nas vias respiratórias; k. Vítima reclama de gosto de “ferrugem” na boca (hemorragia interna) a até a eliminação de sangue por meio da tosse; l. Formigamento (parestesias) em extremidades; CONDUTA a. Estabilização cervical; b. Manter as vias aéreas pérvias. Em vítimas inconscientes, considerar abertura das vias com controle cervical; 7
c. Em trauma aberto, aplique “curativo oclusivo de três lados” com material impermeável; d. Estabilize o segmento instável (que se move paradoxalmente durante as respirações) por meio de curativos volumosos afixados com esparadrapos ou bandagens; e. O curativo não deve impedir a expansão torácica. 5. TRAUMA DE ABDOME O trauma de abdome é o mais difícil de ser diagnosticado, principalmente o traumatismo de resolução cirúrgica. Quando não reconhecido, é um dos principais causadores de morte no paciente politraumatizado (vítima de múltiplas lesões). A extensão da lesão abdominal é muitas vezes difícil de ser determinada no ambiente préhospitalar. O óbito pode ocorrer devido a hemorragia extensa proveniente de lesão aberta ou de lesão fechada. A completa ausência de sintomas e sinais locais não descarta a possibilidade de trauma abdominal. Um aumento súbito da pressão intra-abdominal (devido a uma explosão, por exemplo), pode romper a cavidade abdominal, da mesma forma quando comprimimos um saco de papel cheio de ar. A ruptura se dá no ponto mais fraco, geralmente no músculo diafragma, permitindo e promovendo o deslocamento das vísceras para dentro da cavidade torácica e dificultando a respiração. Os órgãos abdominais são classificados em três categorias: as vísceras ocas, os órgãos sólidos e os elementos vasculares (veias e artérias). As lesões dos órgãos sólidos e dos elementos vasculares causam hemorragias. As lesões das vísceras ocas podem causar hemorragia, porém o derramamento do seu conteúdo na cavidade abdominal pode levar à grave irritação ou à infecção da cavidade abdominal com consequências catastróficas. 5.1. LESÕES 5.1.1. Traumatismos penetrantes – ocorre a penetração de algum objeto na cavidade abdominal. Geralmente é facilmente visível e, muitas vezes, a trajetória do projétil ou a direção da facada podem auxiliar no diagnóstico das lesões.
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5.1.2. Traumatismos fechados (contusos) – são geralmente resultado de compressões ou lacerações. Nas compressões, os órgãos são esmagados entre um objeto sólido e a coluna vertebral. Nas lacerações, forças de aceleração e desaceleração provocam ruptura das estruturas mais fixas, como ligamentos, vasos e órgãos retroperitoneais. A suspeita de trauma abdominal deve ser levantada quando houver história compatível e/ou sinais externos, como marcas de colisões ou hematomas. Suspeita-se de sangramento intra-abdominal quando existem hematomas externos, rigidez ou distensão abdominal, apesar de que número significativo de vítimas com sangramento intraabdominal não apresenta nenhum sinal ou sintoma. Considerar os seguintes itens como indicativos para o estabelecimento de grau de suspeita de trauma abdominal:
História do acidente = mecanismo da lesão;
Sinais externos de trauma (hematomas, contusões, escoriações, etc);
Choque de causa não definida;
Nível de choque maior do que o explicado pelas lesões aparentes;
Presença de dor, distensão ou rigidez abdominal.
5.2. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR: SINAIS E SINTOMAS a. Vômito contendo sangue (hematêmese); b. Trauma (aberto, fechado, penetrante) no abdômen; c. Objetos encravados no abdômen; d. Rigidez e/ou dor abdominal; e. Hemorragia vaginal ou pelo reto; f. Exposição de órgãos da parede abdominal (evisceração); g. Indícios de estado de choque (fraqueza, tonteira, sede, ansiedade, taquipnéia, taquicardia, pele pálida, fria e úmida etc.) sem causa aparente; CONDUTA a.
Posicione a vítima em posição supina, sempre que possível;
b. Mantenha as vias aéreas pérvias;
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c. Aqueça a vítima; d. Em ferimentos abertos sem evisceração, controle a hemorragia com curativo compressivo; e. Em ferimentos abertos com evisceração, cubra os órgãos exteriorizados com compressa úmida (com soro fisiológico 0,9%) e cubra esta compressa com plástico estéril para reter o calor; f. Estabilize objetos encravados com compressas volumosas sem removê-los; g. Não ofereça nada para a vítima ingerir; h. Remova roupas molhadas (água, sangue, etc.) da vítima para prevenir hipotermia; i. Monitore sinais vitais e nível de consciência. Jamais tente recolocar as vísceras expostas dentro da cavidade abdominal devido ao risco de infecção e de morte. 6. TRAUMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO Lesões músculo-esqueléticas ou de extremidade são muito comuns. Pequenos acidentes domésticos, recreativos ou esportivos levam a esse tipo de lesão, na maior parte das vezes, sem maiores consequências. O principal mecanismo pelo qual essas lesões podem representar uma ameaça à vida é a perda sanguínea. Esta perda pode ser externa, facilmente visualizada e controlada através de compressão, ou interna (principalmente na bacia e no fêmur) e, neste caso, de resolução quase sempre intra-hospitalar. As causas mais frequentes são acidentes automobilísticos, quedas e acidentes esportivos. 6.1. TIPOS DE LESÃO 6.1.1. FRATURAS São uma interrupção na continuidade do osso. Classificam-se em:
Abertas ou expostas – ocorre lesão associada da pele, permitindo que o osso da fratura tenha contato com o meio externo, mesmo que não se veja o osso.
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Fechadas – não há lesão da pele, ou a lesão não é suficientemente profunda para que o osso tenha contato com o meio externo. Devem ser imobilizadas para não se tornarem expostas ou lesar estruturas vizinhas.
6.1.2. Instabilidade articular: lesões ósseas, ligamentares ou musculares que levam uma articulação a movimentos além de sua capacidade normal. 6.1.3. Luxação: lesão onde há perda de contato entre as superfícies que se articulam numa ‘junta’. Podem ser mais graves que as fraturas, pois pode ocorrer danos de vasos sanguíneos, nervos e cápsula articular. 6.1.4. Entorses: ocorre lesão dos ligamentos presentes na articulação. Podem ser de grau mínimo ou grave, onde neste último ocorre ruptura total do ligamento. As formas graves resultam em perda da estabilidade da articulação. 6.1.5. Estiramentos ou distensões: quando um músculo, tendão ou ligamento é distendido além de sua capacidade, levando a lesão parcial do tecido. Geralmente são causados por hipertensão ou por contrações violentas. 6.2. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR CONDUTA a. Assegure vias aéreas pérvias, respiração e circulação adequadas. b. Mantenha a cabeça e coluna cervical imobilizadas manualmente, em caso de mecanismo de lesão significativo ou suspeita de TRM. Procedimentos comuns a todos os tipos de lesões a. Manualmente imobilize a articulação acima e abaixo do local lesionado; b. Avalie pulso, motricidade e sensibilidade distais antes de aplicar talas de imobilização; c. Remova ou corte as roupas do membro lesionado; d. Remova relógio e joias da extremidade afetada; e. Trate hemorragia, se presente. Não faça excessiva compressão.
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f. Se houver edema, pode ser aplicado indiretamente gelo ou compressa fria no local. g. Imobilize o membro lesionado conforme as seguintes diretrizes:
Se o osso está angulado ou a extremidade distal está cianótica ou sem pulso tente alinhar o membro, aplicando tração manual antes de imobilizar com talas. Se houver resistência, imobilize na posição encontrada. Imobilize fratura exposta (com exposição óssea visível) na posição encontrada.
Caso as lesões sejam nas ou próximo às articulações, deve-se: aplicar estabilização manual; avaliar pulso distal antes e depois da aplicação da tala; imobilizar o membro na posição encontrada e imobilizar uma articulação acima e outra abaixo do local lesionado.
7. FERIMENTOS ESPECÍFICOS 7.1. TIPOS DE FERIMENTOS / CONDUTAS 7.1.1. Ferimentos abertos: em pacientes graves, devem apenas ser cobertos com compressa estéril ou pano limpo, uma vez que a prioridade é a manutenção dos sinais vitais. Em pacientes estáveis, pequenas feridas que não necessitem de cuidados médicos, a lavagem com sabão e água em abundância é suficiente para se evitar infecções. Na dúvida quanto à necessidade de abordagem médica, mesmo pessoas com ferimentos leves devem ser encaminhadas a atendimento especializado. Pode ocorrer laceração, escoriação, incisão ou punção. Estes ferimentos são caracterizados por sangramento e dor local ou irradiada. Conduta a. Exponha a ferida, retire ou corte as roupas do paciente; b. Limpe a superfície ferida; c. Controle a hemorragia; d. Mantenha o paciente deitado e calmo. Não aumente a circulação. 7.1.2. Amputação: são lesões em que há separação de um membro ou de uma estrutura protuberante do corpo por completo. A parte amputada passa a não receber suprimento algum para manter-se viável. Quanto maior o tempo, menor a possibilidade de 12
reimplante com sucesso. Podem ser causadas por objetos cortantes, esmagamentos ou tracionamento. As causadas por acidentes industriais e automobilísticos são mais comuns em jovens. Devido às características elásticas dos vasos sanguíneos, há uma tendência natural à contração e retração dos mesmos, deste modo as amputações completas sangram menos que as parciais. Conduta: a. Ponha o paciente deitado, em uma posição de conforto, se não há suspeita de TRM; b. Limpe a superfície do coto do membro amputado, mas não esfregue; c. Nunca complete uma amputação parcial; d. Contenha a hemorragia; e. Coloque o membro amputado, ou parte dele em um recipiente envolto com gaze estéril embebida com soro fisiológico dentro de um recipiente estéril (de preferência); f. Não coloque a parte amputada em contato direto com gelo; g. Não imersa a parte amputada diretamente em solução salina; h. Coloque o recipiente com o membro amputado dentro de outro recipiente com gelo; i. Imobilize a parte amputada para evitar lesões adicionais; j. Transporte a parte amputada com o paciente. O transporte do paciente não deve ser atrasado para se procurar a parte amputada. Oriente quem ficou na cena de como preservar e encaminhar a parte amputada para o hospital de referência. 7.1.3. Avulsão: ferimento em que parte de tecidos é arrancada do corpo. É acompanhada de dor e hemorragia intensa. A conduta de atendimento pré-hospitalar é a mesma para amputação. 8. HEMORRAGIA É definida como a perda de sangue devido ao rompimento de um vaso sanguíneo.
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8.1. CLASSIFICAÇÃO Podem ser classificadas de acordo com: 8.1.1. Tipo de vaso sanguíneo
Arterial – sangramento em jato (pulsátil) acompanhando a contração cardíaca. Geralmente, o sangue é de coloração vermelho-vivo. É mais grave que o sangramento venoso em vasos de mesmo calibre, pois a pressão no sistema arterial é bem maior que a pressão no sistema venoso e a velocidade da perda sanguínea é maior.
Venoso – sangramento contínuo, geralmente de coloração escura.
Capilar – sangramento contínuo com fluxo lento.
8.1.2. Localização da Hemorragia
Externa – sangramento de estruturas superficiais com exteriorização do sangramento. Podem ser controladas utilizando técnicas básicas de primeiros socorros.
Interna – sangramento de estruturas profundas que pode ser oculto ou se exteriorizar (por exemplo, hemorragia do estômago com hematêmese). As medidas básicas de socorro não funcionam. O paciente deve ser tratado no hospital.
8.1.3. Quantidade de sangue perdido Quanto maior a quantidade de sangue perdida, mais graves serão as hemorragias. Geralmente, a perda de sangue não pode ser medidas mas pode ser estimada através da avaliação da vítima (sinais de choque compensado ou descompensado). 8.1.4. Velocidade Quanto mais rápida a hemorragia, menos eficientes são os mecanismos compensatórios do organismo. Um indivíduo pode suportar uma perda de um litro de sangue, que ocorre em um período de horas, mas não tolera esta mesma perda se ela ocorrer em minutos. 8.2. Consequências das hemorragias
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Hemorragias graves não tratadas ocasionam o desenvolvimento do estado de choque.
Hemorragias lentas e crônicas (por exemplo, através de uma úlcera) causam anemia.
8.3. Quadro clínico O quadro clínico varia com a quantidade perdida de sangue, velocidade do sangramento, estado prévio de saúde e idade da vítima.
Perdas de até 15% do volume sanguíneo (750 ml em adultos), geralmente não causam alterações. São totalmente compensadas pelo corpo. Ex.: doação de sangue.
Perdas maiores que 15% e menores que 30% (750 a 1500 ml), geralmente causam estado de choque compensado sem queda da pressão arterial. Sintomas de CHOQUE COMPENSADO: o Ansiedade. o Sede. o Taquicardia (frequência cardíaca entre 100 e 120 bpm). o Pulso radial fraco. o Pele fria. o Palidez. o Suor frio. o Frequência respiratória maior que 20 ipm. o Pressão arterial normal.
Perdas acima de 30% (maiores que 1500 ml) levam ao choque descompensado com queda de pressão arterial. Sintomas de CHOQUE DESCOMPENSADO: o Alterações das funções mentais, agitação, confusão ou inconsciência. o Sede intensa. o Pele fria. o Suor frio. o Taquicardia superior a 120 bpm. o Pulso radial ausente (queda da pressão arterial). o Taquipnéia importante (aumento da frequência respiratória).
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o Enchimento capilar lento.
A perda de mais de 50% do volume sanguíneo causa a morte.
8.4. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR SINAIS E SINTOMAS a. Sangramento por orifícios naturais do corpo; b. Vômito com sangue (hematêmese) ou tosse contendo sangue (hemoptise); c. Trauma (aberto, fechado, penetrante) em tórax, abdômen ou pelve; d. Rigidez e/ou dor abdominal; e. Hemorragia vaginal (metrorragia) ou pelo reto; f. Fraturas em ossos longos; g. Indícios de estado de choque (fraqueza, tonteira, sede,ansiedade, taquipnéia, taquicardia, pele pálida, fria e úmida, hipotensão, alteração da consciência, etc.) sem causa aparente. CONDUTA a. Posicionar a vítima em decúbito dorsal; b. Manter as vias aéreas pérvias; c. Aquecer a vítima; d. Remover roupas molhadas (água, sangue, etc.) da vítimapara prevenir hipotermia; e. Imobilizar fraturas, caso haja, o quanto antes para reduzirlesões internas; f. Não oferecer nada para a vítima ingerir; g. Monitorar sinais vitais e nível de consciência; HEMORRAGIA EXTERNA SINAIS E SINTOMAS a. Perda sanguínea (arterial, venosa ou capilar) que saemde pontos de ruptura de tecidos, de origem traumática; b. Presença de sangue de coloração vermelho vivo,geralmente em jatos sincrônicos (hemorragia arterial); c. Presença de sangue de coloração vermelho escuroinicialmente com saída contínua (hemorragia venosa); 16
d.
Presença de sangue de coloração de intensidadeintermediária aos anteriores, mas com escoamento lento(hemorragia capilar);
CONDUTA a. Faça compressão direta com compressa seca ebandagem; b. Conjugue a elevação do membro com compressão direta,caso esta não tenha sido suficiente (exceto em suspeitade fraturas e TRM); c. Conjugue a compressão indireta (artéria braquial oufemoral) com os métodos anteriores, caso os mesmosnão tenham sido suficientes; d. Utilize o torniquete apenas nos casos de risco de morte,mesmo que sua aplicação aumente o risco de perder omembro onde foi instalado, da seguinte forma: a. Coloque o torniquete imediatamente proximal dolocal da lesão; b. Uma vez administrado o torniquete não o afrouxemais; c. Mantenha o torniquete exposto; d. Anote o horário de administração e informe aosprofissionais de saúde; e. Em hemorragia aguda, deve-se sobrepor as compressassem a remoção da anterior; f. Aqueça a vítima em grandeshemorragias; g. Em fraturas expostas, deve-se primeiro conter ahemorragia para depois imobilizar o membro. O sangue pode ficar retido nas roupas da vítima, no chão, areia, grama, etc. A vítima pode ter mudado de local, impedindo ao socorrista ver o volumedeixado na cena da hemorragia. Não lave a lesão com soro fisiológico, pois isso favorece o aumento ouretorno da hemorragia. Use compressa seca para remover excesso de detritosda lesão (sem fricção excessiva).
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