nar o professor um mero usuário inconsciente de livros didáticos, um simples cumpridor de tarefas com um enfoque conteudista. Quando isso acontece, o professor, em vez de usar o livro didático, é usado por ele. É isso que permite a veiculação de um anúncio publicitário como o seguinte: O material didático Dom Bosco faz o seu professor ainda melhor (Superinteressante, 2008, 11).
O interessante é que o texto do anúncio continua, mesmo após essas palavras, afirmando a autonomia do professor: O Sistema de Ensino Dom Bosco valoriza a autonomia do professor e a criatividade dos alunos. Mais de 15 mil professores recebem acompanhamento permanente da consultoria educacional.
Superinteressante, né? Há ainda um problema curioso: a incapacidade que muitos professores enfrentam na hora de distinguir o que procede e o que não procede nas gramáticas normativas tradicionalmente consultadas. Essa incapacidade precisa ser transmutada em capacidade de distinguir as incongruências e os equívocos apresentados pelas diversas gramáticas normativas à disposição do professor. Por isso, além de precisar analisar criticamente as gramáticas normati vas, os professores precisam fazer uma análise criteriosa dos livros didáticos adotados pelas escolas onde trabalham. Todavia, para serem capazes de fazer isso, precisam de conceitos teóricos que fundamentem suas análises. Os professores de português geralmente demonstram pouco interesse por questões teóricas. Geralmente, isso é reflexo da maneira como muitos professores de letras, dos quais os professores de português foram alunos, abordam teorias linguísticas e literárias: sem a menor articulação dessas teorias com a prática pedagógica. Entretanto, todo professor, de qualquer disciplina, precisa de um mínimo de teoria para sustentar suas ações em sala de aula, para tomar decisões pedagógicas conscientes, para não serem meros usuários inconscientemente passivos de livros didáticos e de gramáticas normativas. Introdução