“O livro de Curt Allen sobre como interpretar a Bíblia é maravilhosamen-
“O livro de Curt Allen sobre como interpretar a Bíblia é maravilhosamente prático e claro, dando aos fiéis princípios básicos para a compreensão da Palavra de Deus. Ele enfatiza, corretamente, que todo o cristão pode entender enten der a Bíb Bíbli lia. a. Não é necessário ser um acadêmico ou um pregad p regador or nem conhecer conhe cer grego e hebraico par a entender enten der as Escrituras. Escrituras. Sem dúvida, somos auxiliados por professores e acadêmicos, mas podemos compreender a Bíblia por nós mesmos e comprovar tudo o que os outros dizem sobre as Escrituras. Allen também mostra que a Bíblia é cristocêntrica. Só estaremos lendo a Bíblia corretamente se estivermos vendo em suas páginas Jesus Cristo, nosso Senhor crucificado e ressurreto. Ao mesmo tempo, a Bíblia não deve apenas ser compreendida, mas vivenciada em nosso cotidiano. Recomendo com imenso prazer este livro acessível, cristocêntrico e prático sobre como interpreta inter pretarr as Escrit Escrituras. uras.”” Professor de Interpretação do Novo Testamento, Southern Baptist Theological Seminary, onde ocupa a reno mada ma da cadeira Jame Jamess Buchanan H arrison. arrison. Th o m a s R. S c h r e i n e r ,
“Corajoso. Real Real.. Direto. D ireto. Isso Isso é o que você enco en contr ntrará ará no livro de Cu rt Allen sobre interpretação bíblica. E é disso que precisamos, pois livros vagos, pes p esad ados os e abst ab stra rato toss sobr so bree inte in terp rpre reta taçã çãoo bíbl bí blic icaa não nã o cons co nseg eguu em atin at ingg ir o objetivo objetivo para pa ra o qual q ual foram escritos escritos — ensinar e nos insp irar a ler, ler, interpr inte rpreetar e aplicar a Bíblia. Se for exatamente isso que você deseja, leia este livro.” autor; pastor d a First Baptist Baptist Church, Grand Cayman; membro do Conselho da organização The Gospel Coalition. Th a b it i A n y a b w i l e ,
“O livro de Curt Allen sobre como interpretar a Bíblia é maravilhosamente prático e claro, dando aos fiéis princípios básicos para a compreensão da Palavra de Deus. Ele enfatiza, corretamente, que todo o cristão pode entender enten der a Bíb Bíbli lia. a. Não é necessário ser um acadêmico ou um pregad p regador or nem conhecer conhe cer grego e hebraico par a entender enten der as Escrituras. Escrituras. Sem dúvida, somos auxiliados por professores e acadêmicos, mas podemos compreender a Bíblia por nós mesmos e comprovar tudo o que os outros dizem sobre as Escrituras. Allen também mostra que a Bíblia é cristocêntrica. Só estaremos lendo a Bíblia corretamente se estivermos vendo em suas páginas Jesus Cristo, nosso Senhor crucificado e ressurreto. Ao mesmo tempo, a Bíblia não deve apenas ser compreendida, mas vivenciada em nosso cotidiano. Recomendo com imenso prazer este livro acessível, cristocêntrico e prático sobre como interpreta inter pretarr as Escrit Escrituras. uras.”” Professor de Interpretação do Novo Testamento, Southern Baptist Theological Seminary, onde ocupa a reno mada ma da cadeira Jame Jamess Buchanan H arrison. arrison. Th o m a s R. S c h r e i n e r ,
“Corajoso. Real Real.. Direto. D ireto. Isso Isso é o que você enco en contr ntrará ará no livro de Cu rt Allen sobre interpretação bíblica. E é disso que precisamos, pois livros vagos, pes p esad ados os e abst ab stra rato toss sobr so bree inte in terp rpre reta taçã çãoo bíbl bí blic icaa não nã o cons co nseg eguu em atin at ingg ir o objetivo objetivo para pa ra o qual q ual foram escritos escritos — ensinar e nos insp irar a ler, ler, interpr inte rpreetar e aplicar a Bíblia. Se for exatamente isso que você deseja, leia este livro.” autor; pastor d a First Baptist Baptist Church, Grand Cayman; membro do Conselho da organização The Gospel Coalition. Th a b it i A n y a b w i l e ,
COMO INTE NTERPRETAR
A BÍBLIA I
D ados In ternacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (C âm ara B rasileira do Livro, SP, Brasil) Alien, Curtis Com o interpretar a Bíblia: princípios práticos para entender e aplicar a palavra de Deus / Cu rtis Allen Tradução Carlos Lopes. —São Paulo: Vida Nova, 2012 . Títu lo original: Education or imitation?: Bible interpretation for dummies likes you and me. ISBN 9788527505086 1. Bíblia —Autoridade, testemunhas etc. 2. Bíblia —Crítica e interpretação 3. Bíblia —Teologia I. Título. 1210600
C D D 220.61 índices para catálogo sistemático: 1. Bíblia: Introdução 220.61
C u r t i s A l l e n
t r a d u ç ã o
Ca
r l o s l o pes
Vi d a n o v a
Copyright ©2012, Curtis Allen Título original: Ed ucation or Imita tio n? B ible Interpretation for Dumm ies L ike You an d Me
Traduzido a pa rtir da l.a edição em inglês, e impresso com permissão da Cruciform Press, 10926 Pleasant ACRES DRIVE, ADE LPHI, MD, 20783, EUA. www.cruciformpress.com l.a edição: 2012 Publicado no Brasil com a devida autorização e com to dos os direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, Caixa Postal 21266, São Paulo, SP, 04602970 www.vidanova.com.br |
[email protected] Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados etc.), a não ser em citações breves com indicação de fonte. Todas as citações bíblicas, salvo indicação contrária, foram extraídas da versão Alm eid a Século 21. ISBN 9788527505086 Impresso n o Brasil /
Printed in Brazil
COORDEN AÇÃO EDITORIAL
Marisa K. A. de Siqueira Lopes REVISÃO
Rosa Ferreira COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Sérgio Siqueira M oura REVISÃO DE PROVAS
Ubevaldo G. Sampaio DIAGRAMAÇÃO SK Editoração
A m inha esposa Betsy e aos nossos filhos Santiago, Giovanni e Mateo. E à família de minha igreja, a Rocha! Que possam os conhecer a Bíblia o suficiente para im itar Jesus. Curtis Alien
SUMÁRIO
Um
Por que a interpretação é tão im p o rta n te ........ 11 Aquilo que você não conhece pode matá-lo
Dois
Do jardim para a seara ..........................................
29
Uma breve história da má interpretação
Três
Jesus, o intérprete.................................................. 45
A interpretação se relaciona mais com imitação do que com educação
Quatro Da interpretação à aplicação............................... Jesus, os fariseus e o sábado
Cinco
61
Da eulogia para a teolog ia................................... 75 Reconhecendo os obstáculos à interpretação
Um
POR QUE A INTERPRETAÇÃO É TÃO IMPORTANTE Aquilo que você não conhece pode matá-lo
Eu estava sentado na sala de meu apartamento, repleto de fumaça, em Laurel, Maryland, observando Jerry e José. Eles eram típicos rapazes de Nova York e chamavam a atenção de algumas pessoas do m eu bairro. O restante de nós, na sala, autodenom inavase “a segunda geração” ou simplesm ente “a G eri’.1 Nós éramos a mais nova geração ativa de bandidos de rua na região de Washington. Todos nós éram os crimino sos po r natureza e a m aioria de nós crim inoso s aos olhos da lei. Drogas, armas, tráfico, crimes vio lentos, algemas, identificação criminal, acusação criminal, júri e prisão faziam parte de nossa vida. Naquela época, Washington era conhecida como a capital do assassinato nos Estados Unidos, e com razão. Embora fosse um dos mais conhecidos traficantes de drogas da área, eu era um dos poucos da Gen que ainda não tinha sido preso. Ganhava milhares de dólares por semana vendendo crack e cocaína para pessoas de todos os lugares. 'Do inglês “génération”. (N. do E.)
COMO INTERPRETAR A BÍBLA
Eu me orgulhava disso e também por todos os “irmãos” me respeitarem. Eu também os respeitava. Aprendi muito sobre com o ganhar a vida e com o sobreviver com esses caras. Outra coisa que eu respeitava neles era a habilidade que tinham de ler as pessoas. Eu mesmo era muito bom nisso, como dizemos nas ruas: “Malandro conhece malandro”. Você respeita aqueles que são como você. Eu confiava a eles a min ha própria vida. Fizemos muitas coisas juntos. Vendemos e consumimos drogas, trocamos tiros com gangues rivais, viajamos para vários lugares apenas para gastar dinheiro com algum as garotas, gravamos muitas músicas de rap e vivíamos uns nos apartam entos dos outros. Éramos u m a família. Não confiávamos em nin guém , apenas uns nos outros, e este era o motivo de eu estar um pouco surpreso ao ver o respeito com que José e Jerry estavam sendo tratados. N ós nem conhecíamos esses dois caras. Minha mãe “D” os encontrou na rua e os levou para nosso apartamento. Eu não gostei, pois ali vendíamos crack e fumávamos maconha. Isso sem m encionar que policiais disfarçados estavam sem pre à espreita se passando por usuários e traficantes de drogas. Eles tinham prendid o alguns dos nossos e só isso já nos fazia ficar sempre desconfiados daqueles que realmente não conhecíamos. Q uan do vi m inh a mãe chegando com Jerry e José, escondi rapidamente as armas, as drogas e outras coisas. No balcão da cozinha, bem à vista, havia suficiente parafern ália de coisas ilegais para garantir uma busca de drogas pela polícia federal. Fiquei irritado com m inh a mãe p or ser tão estúpida ao trazer esses caras que não co nhecíam os para nosso ap artam ento e po r não nos avisar com antecedência, para ter certeza de que está 12
POR QUE A INTERPRETAÇÃO É TÃO IMPORTANTE
vamos “limpos”. Caso não estivéssemos, e Jerry e José fossem policiais disfarçados, m inha virgin dade em não “ter sido preso ainda” teria term inado. Escondi tudo que pude no quarto dos fundos e saí para en co ntrar Jerry e José. Pensei que seria apenas um encon tro do tipo olá/até logo, mas, com o passar do tem po, ficou claro que eles não iriam a lugar algum. A sala estava cheia de fum aça de m aco nha enq uanto ouvíamos histórias e mais histórias sobre o Bronx. Jerry e José eram realm ente un s caras engraçados, com um sotaque bem mais gozado do que as histórias que eles contavam. O sotaque portoriquenho de José misturado com as gírias de Washington me faziam rir, mesmo quando ele não estava tentand o ser engraçado. Depois de algum tempo, eles com eçaram a falar de coisas mais sérias. Jerry, que parecia ser o líder, com eçou dizend o que podia nos arrum ar quilos de cocaína p or u m preço que parecia m uito bom pa ra ser verdade. Naquela época, quase todo m un do podia comprar crack, mas todos queriam colocar as mãos em cocaína pura, pois você po de ria transform ála — adicionar outras coisas a ela — ou ainda torn ála m ais forte para o usuário, mais desejável nas ruas por ser um a coisa especial, ou sim plesmente mias rentável a você como traficante. Eu sabia que, se pusesse as mãos em um quilo, eu a transfo rm aria em outra droga para tornála o m elhor prod uto nas ruas. Um a vez que você conseguisse a reputação de ter aquela “bomba”, poderia vender gelo para esquimós. En quanto Jerry falava, eu prestava atenção no s meus colegas. Estava ten tado a ler como eles os estavam lendo, e me parecia que Jerry os tin ha nas palm as das mãos. No início suspeitei, 13
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
mas depois relaxei, pois meus colegas, a quem respeitava pelo discernimento adquirido pela vivência nas ruas, estavam acreditand o naquilo que Jerry e José diziam. Q uando estava quase dando a luz verde de aprovação para esses dois caras, percebi que um olhava pa ra o outro. Não era um a coisa óbvia, mas chamou minha atenção. O olhar parecia comunicar algo que não era muito bom. Pelo menos, algo não muito bom para mim e meus colegas. Olhei novamente para meus amigos para ver se eles tinham notado. Todos eles se comportavam como se estivessem fazendo negócios como de costume. Eu não. Fingi que estava tudo bem, mas minhas antenas estavam ligadas e apontadas diretam ente para Jerry e José. Enq uanto o tem po passava, a conversa parecia se transfo rmar em um incompreensível murmúrio. Quanto mais maconha eu fumava, mais cansado ficava. Adormeci. Na manhã seguinte, acordei com uma dor enorme em um dos lados do corpo p or ter dorm ido em um a posição desconfortável. Jerry, José e minha mãe tinham ido embora. Eu estava meio tonto pela ressaca da maconha e por não ter dormido direito. Olhei por toda a sala para ver se havia algo suspeito, mas tudo parecia normal. Fui para o quarto dos fundos para checar se as coisas que eu tinha escondido na noite anterior ainda estavam ali. Estavam. Fiquei aliviado. Então me lembrei da troca de olhares entre Jerry e José. Comecei a pensar se eu não estava exagerando. Eu não estava. A maior parte da semana seguinte fiquei fora do apartamento, de modo que não vi Jerry e José, mas soube que eles estiveram por perto. Uma semana se passou. Então, um belo 14
POR QUE A INTERPRETAÇÃO É TÃO IMPORTANTE
dia, eu estava no apartamento com os outros caras quando Jerry e José apareceram. Desta vez, m inha m ãe não estava com eles. Lembro de ter pensado: Uau, não passou nem uma sema na para que esses caras aparecessem aqui sozinhos. Eu sabia que eles tinham um apartamento no mesm o condom ínio de prédios, assim parecia evidente que iríamos vêlos com frequência. Estávamos sentados na sala, e decidi não ficar muito louco, pois Jerry e José ainda estavam mexendo com meu sexto sentido. Sem o efeito da droga, ficava mais e mais claro para mim que alguma coisa não estava certa com esses caras. Eu sabia que eles não estavam disfarçados, mas achava que fossem “quentes” — o tipo de pessoa no su bm un do do crime que ten de a chamar atenção indesejada, por exemplo, da polícia, para si mesma. Eu era um criminoso e, até agora, um criminoso de sucesso. A última coisa que eu queria era ter pessoas a meu lado que fossem “quentes”. A tarde se transform ou em noite e Jerry perguntou se gostaríamos de ir a uma boate com eles. Eu odiava boates, pois achava que elas eram perda de tempo e dinheiro. Sem mencionar toda aquela conversa fiada que você teria que ter para conseguir o telefone de u ma garota e tentar arrastála para seu apartamento. Até porque você não consegue conversar com uma garota com o som naquela altura. Se precisasse de uma segunda razão para não ir, era porque eu tinha certeza de que Jerry e José se constituíam, realmente, nu m problema. Alguns de m eus amigos disseram que iriam, e achei estupidez da parte deles. Será que eles não percebiam a falsidade na linguagem corporal de Jerry e José? Esses dois caras eram quentes. Andar por aí com eles poderia acabar em prisão ou coisa pior. 15
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
Jerry e José se foram, p rom etend o voltar às 8h30. Tão logo partiram , eu disse a meus am igos que eles eram estúpidos por pensar em ir à boate com esses garotos. Por 45 m inutos nós discutimos sobre o que pensávamos deles e se realmente confiávamos neles para deixálos na com pan hia de nossa gangue, a Gen. Estávamos divididos. As 8h eu saí para trabalhar. Q uan do voltei, uma hora depois ou mais, fiquei contente em ver que ninguém tinh a ido à boate. Na m anhã seguinte estávamos to dos contentes. Manhã de sábado. A t v de nosso apartamento, como de costume, estava ligada. Notícia de última hora. Cobertura ao vivo. Reconhecem os a rodovia que passava nas proximidades de nosso apartamento. Todos os olhos estavam fixos na tela da t v . A polícia estadual de Maryland tinh a recebido um cham ado sobre um tapete suspeito enrolado no acostamento da rod ovia. Quando um policial se dirigiu ao local, ele notou cabelo humano saindo por uma das extremidades do rolo. Enroladas no tapete, estavam três mulheres entre 19 e 25 anos. Elas foram assassinadas a tiros, enroladas no tapete e jogadas no acostam ento da rodovia. Eu já tinh a visto um m onte de coisas estúpidas até aquele dia. Havia particip ad o de tiroteios, assaltos, tráfico de drogas e outros acontecimentos que tenho até vergonha de dizer. Achava que nada mais m e afetaria. Eu estava errado. Todos nós estávamos. Coletivamente, a Gen tinha presenciado tantos males que seus participantes tinham dificuldade de de m on strar suas emoções. Mas definitivamente compartilhamos do horror daquele momento enquanto assistíamos à t v . N in guém disse nada por quase 10 minutos. Eu quebrei o silêncio.
POR QUE A INTERPRETAÇÃO É TÃO IMPORTANTE
— N ão sei não, cara. Espero que não tenham sido aqueles dois que mataram as garotas — eu disse, balançando a cabeça, acreditando que tinh am sido eles. A resposta foi o silêncio, mas não posso dizer se meus amigos concordavam comigo. Talvez estivessem apenas chocados pelo fato do assassinato ter acontecido tão p erto de casa. Foi quando percebi que a qualquer momento a polícia estaria vasculhando toda a vizinhança, e não seria apenas uma visita de rotina. Teríamos que parar de trabalhar. Toda a área estava fervendo para que continuássemos vendendo drogas em nosso apartamento. Decidi que tinh a que m e afastar de todos por alguns dias. Segui meus instintos e deixei o apartam ento. Alguns dias depois, fiquei sabendo que Jerry e José eram os autores do assassinato. Eles tinham matado as garotas. Jerry contou para minha mãe tudo que acontecera, e m inha mãe nos contou. Eles tinham ido à boate aquela noite, encon traram as três garotas e as levaram para seu apartamento, o quarto prédio depois do nosso. Após ter usado drogas e bebida, Jerry quis levar uma das garotas para a cama. Ela disse não. Ele tentou inúmeras vezes, e a cada vez ela se recusava de forma veemente. Pouco depois, as garotas exigiram que eles as levassem de volta para o clube, para que pudessem pegar seus carros. Eles colocaram as garotas em uma perua, dirigiram por algum tempo, saíram por uma estrada deserta e as mataram. Depois, enrolaram as três garotas mortas em um tapete e as jogaram no acostamento de um a rodovia. Enquanto ouvia a história, eu lembrava dos olhares que eles trocaram em nosso apartamento. Sabia que havia alguma 17
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
coisa neles que eu não gostava. Sabia que eles eram problema. Eu apenas não sabia o tipo de problema. Um mês após os assassinatos, a polícia estava fechando o cerco sobre Jerry e José. Jerry, com medo de ser preso, matou José. Três meses depois, a polícia prendeu Jerry e o acusou do assassinato das três garotas. Jerry foi enviado para uma prisão onde o irmão de uma das garotas estava preso. Esse cara era um gângster, e isso significava apenas uma coisa: para Jerry, colocar os pés naquela prisão era o mesm o que pegar o passaporte para o inferno.
A MÁ INTERPRETAÇÃO PODE MATÁ-LO Até hoje fico pensan do sobre o que teria acontecido se eu tivesse ido à boate com Jerry e José. Com certeza não teria partici pado de tudo que aconteceu naquela noite, mas isso não teria muita importância. Ainda assim eu teria sido cúmplice dos três assassinatos apenas por estar na companhia daqueles dois caras. Minha vida seria completamente diferente; facilmente poderia ter chegado ao fim. Cada vez que penso sobre isso, sou levado àquela troca de olhares entre Jerry e José. E, depois, lembro como interpre tei aquela troca de olhares. Percebi alguma coisa na linguagem corporal dos dois que fez com que eu não confiasse neles, e hoje atribuo totalmente aquela percepção à soberana misericórdia de Deus. Se eu não tivesse percebido aquela troca de olhares ou a tivesse interpretado de forma inadequada, não teria perce bido to das as outras coisas que m e levavam a ser tão cauteloso. Sei que minha interpretação sobre quem eram Jerry e 18
POR QUE A INTERPRETAÇÃO É TÃO IMPORTANTE
José salvou minha vida, e talvez a de alguns de meus amigos. Minha interpretação levou à aplicação — eu me comportei de forma diferente devido às minhas percepções daquilo que era verdade e daquilo que não era. É sempre assim que acontece. O que você vê, pensa ou sente orienta o que você faz. Se você achar que descer alguma rua pode ser perigoso, então sua aplicação provavelmente será: Eu não descerei essa rua! A interpretação é um modo de vida para qualquer um, a qualque r m omento. Há m uitas formas de interpretação. Nós explicamos, ex pomos, julgamos, e deciframos todas as coisas ao nosso redor para tentar dar sentido ao mundo. Interpretam os o choro de um bebê para saber se é hora de amamentálo ou se é hora de dormir. Interpretamos a linguagem corporal para ver se a pessoa com quem estamos nam orando realm ente gosta de nós. Interpretamos o tom de voz para saber se alguém está bravo conosco. Interpretamos emails e mensagens de texto com base na pessoa, no meio de comunicação e no conteúdo. O po nto de exclamação pode ser um sinal de que a pessoa está indignada ou um sinal de alegria, depend endo de com o o interpretarm os. Não podem os viver sem interpretar. Todos nós interpretamos e tom amos decisões para agir com base em nossas inter pretações. Tais atos representam nossa aplicação. A vida, de certo modo, é simples assim. Somos criaturas que interpretam tudo e, depois, agimos de um modo que rep resenta a resposta a essa interpretação. Esse é o motivo pelo qual frequentemente odiamos ficar confusos. Quando você está confuso, não pode interpretar os acontecimentos com clareza e, assim, não sabe o que fazer. Será que devo ficar ou correr? Devo 19
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
chorar ou sorrir? Devo dizer sim ou não? Essas são perguntas de interpretação e aplicação. A interpretação e a aplicação estão sempre ligadas — mas nem sempre perfeitamente ligadas. Fazer uma interpretação cuidadosa redunda no melhor início para fazer a aplicação correta e, quanto mais adequada for sua interpretação, provavelmente mais apropriada será sua aplicação. O que significa realmente a expressão “olhando em retrospecto”? Significa o perfeito conhecimento de um acontecimento após sua ocorrência. É a reinterpretação de um evento com base em um novo conhecimen to — conhecim ento que poderia ter mudad o nossa aplicação para melhor, se tivéssemos tido o beneficio de conhecêlo antes. Mas é possível — e algumas vezes muito fácil — fazer uma interpretação sólida e, depois, escolher a aplicação inadequada. Essa é a batalha que enfrentam os continuam ente como cristãos em um mundo decaído. Baseados na herança que recebemos de Adão e Eva, temos em nós a natureza pecaminosa que nos afasta dos processos da correta interpretação seguida da correta aplicação. Mesm o quando interpretam os corretam ente Deus e sua Palavra, o pecado nos dom ina, impedindo que façamos a aplicação esperada por Deus. M uitas vezes evitamos reconh ecer a verdade para depois aplicála de form a correta. Essa é uma batalha invisível, e é por isso que precisamos de um livro que nos fale sobre ela. Neste livro, espero fornecer uma perspectiva útil e inspiradora de como interpretar e aplicar a Escritura. Pode ser uma perspectiva sobre a qual você nunca tenha ouvido falar.
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POR QUE A INTERPRETAÇÃO É TÃO IMPORTANTE
INTERPRETAÇÃO COMO IMITAÇÃO Para m uitos cristãos a palavra “interpretação”, quando aplicada à Bíblia, pode ter uma conotação negativa. Não é isso que o pasto r fa z antes de pregar? Não é o que fa ze m os comentaristas antes de escrever? Não
são muitos que dizem, mas é comum pensar que isso não é para você, que esse negócio de interpretar é reservado para os poucos que ascenderam às alturas da clareza de pensamento. O restante de nós está restrito a um lugarzinho na terra dos limitados, tentando apenas ter meia hora de reflexão silenciosa. Gostaríamos de saber o que essas pessoas sabem e as admiramos por seu conhecimento bíblico. Ficamos impressionados com sua busca árdua por instrução e imaginamos que não temos tempo nem desejo de fazer o que elas fazem. É exatamente esse o problema. A interpretação bíblica tornouse algo muito exclusivo. Quais personagens aparecem em sua mente quando você pensa nos grandes intérpretes bíblicos? Será que aparecem as imagens dos pais da igreja, de Crisóstomo e Agostinho? Talvez as de Lutero, Calvino e Spurgeon? Alguns intérpretes contem porâneos como Piper, Sproul, Carson e Keller definitivamente serão os primeiros da lista. Você pode ir ainda mais fundo e dizer: o apóstolo Paulo — boa escolha. Devo observar uma coisa aqui. Quando pensamos nos “intérpretes bíblicos”, em que realm ente pensam os? Em inteligência brilhante e treinamento. Mesmo sem estar conscientes disso, enxergamos a interpretação como algo associado a um a excelente educação, a um a inteligência fora do com um e a
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
um dom particular de sabedoria e discernim ento. Mas gostaria de argumentar que a interpretação bíblica não está ligada em prim eiro lugar a um a boa in strução ou a algum dom especial. E, para fazêlo, gostaria de mostrar como podemos aprender sobre a interpretação bíblica com a pessoa mais óbvia, que nunca aparece na lista dos nossos melhores intérpretes. Quase sem pre nos esquecem os de m encionálo: Jesus. O maior intérprete da Palavra de Deus é Jesus, o Cristo — e ele convida todos aqueles que nele creem a imitá-lo. Como cristãos, percebemos que se espera que imitemos nosso Salvador (Ef 5.1). Mas como seria essa imitação? Sabemos que não podem os imitar sua morte pelos pecados. M orrer na cruz seria algo muito doloroso para nós. Jesus foi capaz de expiar nossos pecados por nunca ter pecado, de m odo que retiramos isso da lista. Além dessa exceção óbvia, podese dizer que somos chamados a imitar Cristo em quase tudo — só que de uma forma diferente, pois não somos membros da Trindade. Vamos dar dois rápidos exemplos. A realização de milagres. Jesus fez muitos milagres extraordinários. Isto é, ele interferiu na realidade, mudando um a condição p ara outra. Ele m ud ou a condição de L ázaro de m orto para vivo. Transform ou a água em vinho. Transform ou um a assustadora tem pestade em um belo dia para se navegar de barco. Por meio de nós, o tem po todo, algum as vezes de maneira grandiosa, outras vezes de form a sutil, Deus m uda as coisas do mundo para melhor. Ocasionalmente, algo que um cristão faz em Cristo ou por meio dele poderia ser chamado de milagre, mas na m aioria das vezes é cham ado somente de vida — uma 22
POR QUE A INTERPRETAÇÃO É TÃO IMPORTANTE
vida na qual Deus está ativamente envolvido. Assim, é desse jeito simples que podem os imitálo. A resistência a Satanás. Jesus ficou cara a cara com Satanás no deserto, lutando para resistir à tentação. Q uan do você e eu resistimos à tentação, essa resistência parece quase uma épica batalh a cósmica. Espero nunca encontrar o dem ônio pessoalmente e espero que você também não o encontre, mas lutar contra o pecado é outra área na qual somos chamados, de forma clara, a im itar Jesus. Podemos dizer o mesmo em relação a como Jesus confiou no Pai, como era devotado à oração, como seu comportamento sem pre glorificou o Pai e com o fez muitas outras coisas. Devem os im itar Jesus em todas essas áreas. Mas nessa grand e e complexa questão da imitação, vamos analisar as coisas de um a maneira um pouco diferente. Jesus é o único mediador entre D eus e o homem. Por causa disso, você pode dizer que Jesus enfrenta dois caminhos ao mesmo tempo: o caminho em direção a Deus Pai, no lugar do ser humano, e o caminho em direção ao ser humano, para nos ap roximar de Deus Pai. D urante seu ministério terreno, em todas as coisas que fez com sua face “de homem” (os milagres, a vida de oração constante, o ensino e tudo o mais), Jesus concentrou realmente sua atenção em duas coisas: evangelismo e discipulado. Jesus passou a maior parte de seus três anos de ministério público, como está registrado nos Evangelhos, pedindo às pessoas para que cressem nele — evangelizando — e ensinando aos novos fiéis como viver — discipulando. Na verdade, tudo que Jesus fez em seu m inistério público serviu para um desses dois objetivos básicos — os mesmos objetivos que ele nos deixou na 23
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
forma da Grande Comissão. É por isso que todos os fiéis, para imitarem a Deus, são cham ados a evangelizar e discipular, pois, em última análise, essa foi a vida de Jesus. No entanto, há muito mais. O evangelismo e o discipulado são o início e o fim do ministério de Jesus. O que estava no meio? O que quero dizer é: Quais foram os meios que pro duziram o fim? A resposta pode ser mais simples do que você imagina. A interpretação da Palavra de Deus, falada e aplicada, foi o principal meio utilizado por Jesus. Foi assim que ele evangelizou e foi assim que ele discipulou. Se reduzirmos todos os milagres e ensinamentos de Jesus à sua essência, nós o encontraremos interpretando a Palavra de Deus e aplicando esse ensinamento à vida real. Nesse processo, ele nos deu algumas ideias claras de como as pessoas, especialmente aquelas que nele creem, devem interpretar a Escritura. Ele nos deixou algumas trilhas para seguirmos. Mas muitos se perdem pelo cam inho — para esses, a interpretação das Escrituras está mais relacionada à instrução do que à imitação. A maioria dos cristãos se satisfaz deixando a interpretação para seu pastor ou para os comentaristas. Não há nenhuma dúvida de que os comentários pode m ser ferram entas úteis. Eu os uso e os aprecio, mas, quando leio comentários, às vezes penso: eu ja m ais extrairia o que eles extraíram dessas palavras. Esses comentaristas são muito inteligentes e, às vezes, podem ser até mesmo intimidantes. Querem os en tender a Escritura corretamente, e os com entários podem nos ajudar a fazêlo, mas essa é a questão. Será que um d iploma de um a boa escola bíblica ou um curso de pós 24
POR QUE A INTERPRETAÇÃO É TÃO IMPORTANTE
graduação em u m bom seminário são os únicos cam inhos para interpretar corretamente a Escritura? Você realmente acredita que foi isso que Deus determinou? E nós, será que ficaremos paralisados até lerm os os com entários de alguns estudiosos? Acho que não. Pelo menos não de acordo com Jesus. Entre as coisas que Jesus espera que façamos está imitá-lo na correta interpretação da Bíblia.
Sejamos imitadores de Deus — sejamos intérpretes, como Jesus. Em bora a tarefa não seja fácil, minha esperança é que você possa encontrar neste pequeno livro um bom início. Precisamos de algum auxílio, pois teremos de lidar não apenas com as nossas inseguranças sobre a interpretação correta da Bíblia, mas tam bém estarem os cercados por uma cultura de má interpretação. Análises políticas, financeiras, metereológicas e esportivas regularmente exemplificam más interpretações das informações disponíveis. E um sinal dos tempos o fato de que muitos normalmente podem estar errados e não ficam nem um pouco embaraçados em relação a isso. Como sociedade, parecemos estar muito mais interessados na confiante declaração de uma opinião do que em saber se tal opinião está correta. Adoram os as declarações vazias e pretensiosas de políticos, astros do cinema, colunistas, ativistas e de todos aqueles que gostam de aparecer. Em 2011, algumas pessoas que pareciam ser genuinamente cristãs acreditaram com sinceridade que o mundo iria acabar. Elas chegaram a essa conclusão por terem confiado na interpretação da Escritura de um biblista chamado Harold Camping. Esse homem, que trabalhou no rádio durante mais de cinq uenta anos, fez um a aplicação de sua interpretação que 25
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
resultou em maluquices e tolices lamentáveis. Por um lado, Camping espalhou cartazes de rua alertando sobre o fim do mundo, e muitos de seus seguidores deixaram seus empregos, abandon aram suas posses e acabaram ficando seriamente desiludidos em relação à sua fé quando o Dia do Juízo não aconteceu. Por outro lado, os nãocristãos, tirando proveito desse espetáculo, passaram a ter mais razões para zom bar do cristianismo. Eu não posso culpálos. Nada disso teria acontecido sem uma interpretação equivocada associada a uma crença não expressa entre m uitos cristãos de que a interpretação bíblica é tarefa apenas de alguns.
ANTES DE CONTINUARMOS Para começar, deixeme tentar esclarecer alguns potenciais pontos de confusão. Não estou tentando dizer que analisar a interpretação e a aplicação que alguém faz da Escritura é uma coisa simples. Há todos os tipos de motivações pecaminosas ligadas a como fazemos o que fazemos. Nenhum desses pecados e erros são novidade: • Podemos aceitar a má interpretação por ignorância, confusão, m á compreensão, ensino inadequado ou sim plesm ente por suprim ir nossa consciência. • Podemos interpretar mais ou menos corretamente e depois fazer a aplicação de form a incorreta. • Em geral aderimos a um tipo de interpretação sem sequer refletir. Apenas reagimos com base no quanto ficamos entusiasmados com aquilo. 26
POR QUE A INTERPRETA^AO E TAO IMPORTANTE
• Podemos até mesmo escolher a antiga rebelião e sim plesm ente rejeitar a autoridade da Bíblia, mas mesmo essa opção é um tipo de má interpretação, pois, quando rejeito a Escritura, pon ho m eu pró prio julgamento acima da autoridade da Palavra de Deus. Também não estou dizendo que fazer a interpretação correta seja a resposta para todas as coisas, ou que a interpretação correta é o propósito central da Escritura, ou que podem os reduzir a fé cristã ao fato de estarmos lendo determinada passagem de form a precisa. Mas estou dizendo duas coisas: 1. Sem uma boa interpretação como parte importante de nossa rotina, não poderem os viver com o Jesus nos chamou a viver. Não é possível. 2. A interpretação deve envolver aquilo que outros dizem e ensinam sobre a Escritura, mas fazer uma boa inter pretação é, em ultim a análise, responsabilidade nossa. Nos próxim os quatro capítulos deste livro tentarei defender um argumento: A interpretação da Escritura, seguida da aplicação correta, é a m elhor man eira de nos torna rm os sem elhantes a Deus. Não é um a questão de instrução. É um a questão de imitação.
Jesus demonstrou como todos os fiéis devem interpretar a Palavra de Deus. Nós perdem os de vista essa preciosa realidade 27
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
e confiamos a outro s essa essa responsabilidade. responsabilidade. C ertam ente o ensino contínuo das Escrituras na igreja por parte dos que foram chamados e capacitados a fazêlo é absolutamente fundamental. Na verdade, tal ensino faz parte do exemplo que Jesus nos deixou. Além disso, a instrução pode ser útil e não deve ser minimizada nem desvalorizada. Estou simplesmente dizendo que o pêndulo foi longe demais, o que teve implicações sérias e negativas para a vida cotidiana dos fiéis. Todo cristão deveria ser capa capazz de interpr etar a maior m aior parte par te da Palavra Palavra de Deus D eus sim ple p lesm sm e n te s e g u in indd o o m o d e lo q u e Jesu Je suss n o s deix de ixou ou.. Contudo, antes de chegarmos a esse ponto, devemos ver o quanto é com um e o quanto é realmente prejudicial prejudicial a má inter pre p reta taçã ção. o. Ela é a a d v e r sár sá r ia q u e e s p e r a p o r nós. nó s.
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Dois
DO JARDIM PARA A SEARA SEARA Uma breve bre ve históri históriaa da m á interpretação interpretação
No N o film fi lmee O livro de Eli, Denzel Washington representa o papel de Eli, um nômade misterioso e solitário em um mundo devastado tad o pela p ela guerra gue rra nuclear. nuclear. Parece que a Eli Eli foi foi dado da do um livro, livro, e ele ele o transporta do que sobrou de todo o território dos Estados Unidos para um destino que somente ele conhece. Em determinado ponto, o livro é roubado, e Eli e uma jovem companheira fazem de tudo para recuperálo (ele abre mão de sua solidão po p o r u m tem te m p o , po p o is a ga g a rota ro ta real re alm m ente en te é mu m u i to b o n ita) it a).. D u r a n te um a intensa cena c ena de ação ação,, Eli Eli arrisca sua vida para pa ra salvar a garogaro ta. A essa altura todo mundo sabe que o livro misterioso carregado por Eli é a Bíblia. Quando a garota lhe pergunta por que ele tinha salvado sua vida, ele responde com aquilo que tinha aprendido na Bíblia. “Você deve fazer pelos outros aquilo que quer qu er que eles eles façam po p o r você. você. Pelo menos me nos,, foi iss issoo que aprendi.” Mais adiante no filme, percebemos que Eli tinha memorizado toda a Bíblia. Assim, depois de decorar 800 mil palavras, muitas delas relacionadas à ideia de um Deus soberano e transcen dente den te — que execut executaa seu seu plano para redim ir a h um anidade de um destino que faria a devastação nuclear parecer a Disneylândia sem aquelas filas enormes e com uma comida
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
m uito m elhor elho r —, qual é a gran de verdade verd ade à qual Eli Eli chegou? O que ele “extraiu disso”? A Regra de Ouro. Sim, Si m, sim, sim, sim, sim , eu sei sei que é apenas apena s u m filme, é só Hollyw Ho llywood ood fazendo o seu papel. Mas, nessa cena, a arte imita a vida. Ela é um triste triste retrato de como frequentem ente se faz faz um a m á inter pre p reta taçç ão d a Bíblia. Bíb lia.
A ORIGEM ORIGEM DA MÁ INTERPR INTERPRETAÇ ETAÇÃO ÃO A má interpretação, de um a man m aneira eira ou de outra, pod e ser vista vista em todos os atos de desobediência à Palavra de Deus. E, como todas as outras outra s coisas coisas na criação, criação, a m á interpretaçã inte rpretaçãoo teve seu início cio. Na verdade, ela ela é tão antiga quanto qu anto a hum anidade anid ade.. Desde o início da Bíblia somos apresentados à má interpretação. No final da Bíbl Bíblia ia,, temos um a visão visão de com o será quand qu andoo todo to doss os traços traços da má interpretação forem removidos e, finalmente, veremos e conheceremos a Deus como ele realmente é. Entre o início e o final, a Bíblia se ocupa de confrontar e corrigir a má interpretação e, em seguida, de tentar identificar e aplicar de forma adequada a boa interpretação. interpretação. Poderíam Po deríamos os dizer que seguir a Deus em seu projeto de boa interpretação interp retação e boa aplicação aplicação é a tarefa de vida de todo tod o cristão. Os riscos riscos são altos. altos. De Adão A dão e Eva Eva a Harold Ha rold Camping, as consequências da má interpretação têm sido catastrófic tróficas as.. A Escritura nos fornece detalhes explícitos explícitos da catástr c atástroofe, com evidências suficient suficientes es para pa ra julgarmos julgarm os a m á interpretação interp retação po p o r t o d a a vida. vid a. O p io iorr desse de ssess ato a toss é o p r im e iro ir o deles del es — o m a io iorr e mais trágico trágico erro de interpretação da hum anidade. Ora, a serpente era o mais mais astuto de todos os anim ais do ca m po p o q u e o
Se
n h o r
Deus havia feito. E ela disse à mulher: Foi
assim que Deus disse: Não comereis de nenhuma árvore do 30
DO JARDIM PARA A SEARA
jard im ? Respondeu a m ulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis; se o fizerdes, morrereis. Disse a serpente à mulher: Co m certeza, não m orrereis. Na verdade, D eus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis com o Deus, conhe cen do o bem e o mal. Então, vendo a m ulher que a árvore era boa para dela comer, agradável aos olhos e desejável para dar en tendim ento, tom ou do seu fruto, com eu e deu dele a seu ma rido, que tamb ém com eu (Gn 3.16).
Sua interpretação controla sua maneira de viver. A pergunta presente no coração de todos — Qual o significado da vida? — é uma pergunta sobre a autoridade da interpretação. Antes de o pecado entrar no mundo, você poderia dizer que a única fonte interpretativa a p artir da qual a vida deveria ser vista foi entregue po r Deus. Havia apenas um a fonte de interp retação. Isso é o que torna Gênesis 3 tão trágico, mas tam bém tão interessante, pois, qu ando a serpente apareceu, Deus deixou de ser a única fonte de interpretação da realidade. Não sabemos quanto tempo Adão e Eva viveram no jardim como casal antes de cometerem o primeiro pecado. As palavras do texto se movem com muito mais rapidez do que o desenrolar dos acontecimentos. Somente Deus sabe quanto tempo foi, mas todos nós sabemos o resultado: a primeira vez na Bíblia em que vemos seres humanos interpretando as palavras de Deus, eles o fazem de forma trágica e totalm ente equivocada. A má interpretação m udou para sempre o curso da existência humana. Deus já não era a realidade que controlava 31
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
o ser humano; ele já não era a fonte de interpretação à qual a hum anidade recorria. Nessa passagem há essencialm ente duas interpretações: a de Deus e a de Eva, a qual foi influenciada por Satanás. A inter pretação de Deus é santa, clara, precisa e direta, ao passo que a de Eva é pecam inosa, imprecisa, egoísta e falsa. Satanás começa faz en do a Eva u ma pergunta interpretativa: “Foi assim
que Deus disse: Não com ereis de nen hu m a árvo re do jardim ?”. Eva responde citando a Deu s de fo rm a to talm ente equi vocada.
Esse foi o primeiro exemplo de má interpretação. Eva alega que Deus dissera que do fruto das árvores do jardim poderiam comer, mas não do fruto da árvore que estava no meio do jardim: “Não comereis dele, nem nele tocareis; se o fizerdes, morrereis”. O problema é que Deus nunca disse exatamente isso. A citação equivocada pode ser a forma mais grosseira e flagrante de má interpretação, mas não deixa de ser má interpretação. O que Deus realmente disse ao homem foi: “Podes comer livremente de qualquer árvore do jardim, mas não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal; porque no dia em que dela comeres, com certeza m orrerás” (Gn 2.16,17). Deus não disse a eles para que não tocassem na árvore e certamente não lhes disse que, se tocassem, morreriam, ou seja, que teriam a mesma pena que se comessem de seu fruto. Satanás voltou com duas mentiras. Primeiro, ele tenta o entendimento de Ad ão e Eva acerca da justiça de Deus. Q uando
diz que Deus não traria a morte como resultado da desobediência, ele sutilmente nega a autoridade de Deus em punir o pecado e desafia a posição de Deus sobre o que é certo e errado. 32
DO JARDIM PARA A SEARA
Satanás tam bém eleva a aposta ao oferecer o po der da inter pretação independente.
Quando Satanás disse: “sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal”, ele ofereceu a Adão e Eva um falso poder de interpretação. Em português claro, ele os enganou. Ofereceu a eles uma horrível interpretação de Deus, sabendo que, no m ínim o, as consequências seriam graves. Não fica claro se Satanás sabia o que aconteceria se eles comessem do fruto. Mas fica claro que ele conhecia Deus. Ele sabia que Deus faz o que ele diz, no entanto ofereceu a Adão e Eva uma má interpretação do Criador e do papel deles como criaturas. O que é realmente impressiona é que ele ofereceu a Adão e Eva tud o o que eles já tinham . Eles já eram como Deus (pois ele os tinha criado à sua imagem, Gn 1.26) e já tinham tudo de que precisavam p ara saber sobre o bem e o mal.
Você se recorda do que Deus disse repetidas vezes sobre a criação? Ele tinha declarado que a criação era boa. No jardim, estava claro que Deus era bom, que sua criação era boa e que obedecer a ele era bom. Tudo que estivesse fora desse círculo não era bom; era mau. Assim, Satanás tentou Adão e Eva servindose de uma dupla interpretação do que Deus tinha dito: ele questionou a justiça de Deus e a suficiência de sua definição de bem e mal, de certo e errado. Há uma lição, aqui, que se aplica a muitos exemplos de interpretação. Adão e Eva confiaram não apenas na inter pre tação que a serpente fez (das palavras de Deus), mas também na própria interpretação que fizeram (das alegações de Satanás). Eles tinham de confiar em si mesmos para determinar que a serpente estivesse certa e Deus, errado. Eles confiaram em sua 33
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
própria habilidade de escolher entre uma e outra interpretação. Na verdade, antes de Eva pegar o fruto, o hom em já tinha assumido autoridade “como a de Deus” para escolher entre o certo e o errado.
QUEM PODE ESCOLHER? O primeiro pecado foi a arrogância na interpretação. Desde então, a hum anidade tem sofrido da constante praga da arrogância — a arrogância de agir com base em sua própria visão do que é certo e do que não é. Adão e Eva escolheram assum ir uma falsa autoridade para interpretar e separar o certo do errado. Você e eu geralmente escolhemos agir com base nessa mesma autoridade falsa. De certo modo, nós realmente nos tornamos como Deus, mas isso não passa de um a imitação barata e ordinária. Essa questão da autoridade — o que é bom e o que é mau e quem pode decidir a respeito disso — é uma questão perigosa. Em última análise, o que está em jogo é um a com preensão verdadeira ou falsa da Palavra de Deus. Sempre que acrescentamos algo ou desconsideramos a Palavra de Deus, estamos em essência dizendo que temos autoridade sobre o próprio Deus e que somos os únicos árbitros da verdade. Normalm ente, todos nós fazemos interpretações e aplicações em nosso próprio benefício (esse é o motivo de sempre haver três lados de uma m esm a história: o seu lado, o meu lado e o lado de Deus). Quando nos beneficiamos de nossa própria interpretação, é difícil mudar. Não que a mudança seja difícil. A m udança em si não é difícil. O desejo de m ud ar é que é difícil. A maioria das pessoas não deseja interpretar as coisas de forma diferente. Elas não querem mudar — se acreditarem que são 34
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beneficiadas por um a interpretação equivocada. Como Eva, acreditam os na distorção criada pela serpente. Acreditamos que as consequências de nossas ações pecaminosas não serão assim tão ruins como Deus disse que seriam. Esse é e sempre será basicamente o mesm o engano e a mesma m á interpretação. Nossa in terpretação define nossa realidade prática. Com o intérprete, Deus definiu a realidade para Adão e Eva bem antes da Queda. Sem paixões concorrentes, sem propósitos conflitantes. Mas esse padrão interpretativo não desapareceu junto com a inocência de Adão e Eva. Ele ainda existe, ainda se aplica e ainda afeta fundamentalmente quem somos nós hoje. Esse modo de interpretação perfeito não é muito fácil de discernir, mas ainda é a Verdade. Como veremos mais adiante neste livro, esse foi o motivo de Jesus ter ensinado a interpretação e a aplicação corretas da Palavra de Deus como principal meio de completar sua missão de salvar.
VARIAÇÕES SOBRE O TEMA Vamos aprender a partir de alguns exemplos de má interpretação. Primeiro observaremos como Saul cedeu sob pressão. Depois veremos como Satanás é especialista em interpretar a Palavra de Deus fora de seu contexto. Finalmente, vamos mostrar o que há de melhor no assunto, os superheróis vestidos com a capa da má interpretação, a Liga dos Extraordinários Enganadores — isso mesmo, os fariseus.
O rei Saul Os capítulos 10 a 15 de 1Samuel m ostram a realidade da má interpretação e suas consequências. Os israelitas rejeitam a Deus 35
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
como rei, preferindo alguém que pudessem ver. O povo queria um rei que se parecesse mais com os reis das nações vizinhas do que ser governado pelo Rei que criara todas aquelas nações. Deus atende a seu pedido e, por meio do profeta Samuel, escolhe Saul. Mas a obediência de Saul imitaria a arrogância de Adão. O fato de Saul cair da graça revela sua má interpretação do conceito de graça. Depois de Saul ter sido escolhido rei, Samuel lhe diz estas palavras: “Tu descerás antes de m im para Gilgal, e eu descerei ao teu encontro para oferecer holocaustos e sacrifícios de ofertas pacíficas. Esperarás sete dias, até que eu chegue e te declare o que deverás fazer” (ISm 10.8). Essas instruções foram dadas no contexto de outros acontecimentos que, juntos, provavam que Saul tinha sido escolhido por D eus para ser o rei de Israel e que Deus estava usando Samuel como seu portavoz. Por um determinado período, tudo correu bem. Saul começou a ter grandes vitórias militares contra os mais temidos inimigos de Israel. No capítulo 13, Saul e seu filho Jônatas reuniram um pequeno grupo de soldados e se dirigiram para o acampamento dos filisteus, atacandoos e derrotandoos com facilidade. A nação de Israel celebrou a vitória, reunindose ao redor de Saul enquanto ele tocava a trombeta em triunfo. Mas, quando os filisteus reuniram um grande exército para se vingar de Israel, os israelitas entraram em pânico e se espalharam, ficando cada u m po r si. Seguindo as instruções de Samuel, Saul se dirigiu a Gilgal. Ali, com o lhe fora dito, ele esperou sete dias por Samuel. Mas o sétimo dia veio e se foi, e o que Saul esperava que acontecesse não aconteceu: Samuel não apareceu p ara oferecer holocaustos 36
DO JARDIM PARA A SEARA
e ofertas pacíficas a Deus em nome de Saul. Implícitas nessas ofertas estariam às bênçãos de Deus sobre Saul e sobre a nação de Israel em tem pos de crise, mas Samuel não pôde ser enc on trado em lugar nenhum, e o exército dos filisteus se aproximava em grande núm ero, com o o da “areia que está à beira do mar” (ISm 13.5). Saul ficou apavorado. Ele procurou relembrar tudo aquilo que o profeta Samuel o tinha instruído a fazer. Olhou ao redor de forma frenética, esperando que Samuel aparecesse. Os segundos p areciam horas. Os filisteus estavam prontos para atacar os judeus; já estavam tão perto, que Saul podia até sentir o cheiro deles. A confiança de Israel estava desmoronando, e foi assim que Saul decidiu agir. Saul tomou as ofertas e apresentouas a Deus. Quando terminou, Samuel se aproximou, parecendo não estar nada satisfeito. Samuel perguntou: Q ue fizeste? Saul respondeu: Vi que o exército estava me abandonando e se dispersando, e que tu não chegavas no tempo determinado, e que os filisteus já estavam reunid os em Micmás, então eu disse: Agora os filisteus me a tacarão em Gilgal, e eu ainda não busquei o favor do
Se
n h o r .
Assim m e senti pressionado e ofereci o holocausto. Então Samuel disse a Saul: “Agiste loucamente; não obedeceste ao m an da m en to que o
Se
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teu Deus, te ordenou. O
Se
n h o r
teria con fir-
mado o teu reino sobre Israel para sempre (ISm 13.1113).
Esse é um exemplo de interpretação pobre da Palavra de Deus que espelha Gênesis 3. Antes que Saul se colocasse em condição de pecar, teve que convencer a si mesmo que o que 37
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
faria estava mais certo do que errado. Ele teve de convencer a si mesmo que tinha uma “boa razão” para o que estava prestes a fazer, embora o fizesse contrariand o as instruções de Deus. Nós não sabemos exatamente o que Saul pensou. Não sabemos detalhes de seu conflito interior. Mas sabemos que forçou a si mesmo a fazer algo que, a princípio, parecia realmente um a má ideia. Saul chegou a uma interpretação da Palavra de Deus que abriria a po rta p ara que ele a desobedecesse. A natureza exata do pecado de Saul não fica muito clara. Alguns estudiosos dizem que está relacionada a 1Samuel 10.8 e ao fato de que apenas os sacerdotes tinham autoridade para oferecer sacrifícios a Deus. Outros acreditam que tem a ver com outra ordem não registrada na Bíblia. As duas hipóteses são possíveis. Em ambos os casos, a decisão de Saul de desobedecer à ordem de Samuel para esperálo foi ruim — tão ruim que lhe custaria seu reinado. Por trás de cada pecado há u m a interpretação equivocada da Palavra de Deus. E essa interpretação equivocada levou Saul a pecar contra Deus. Mais tarde voltaremos a Saul, mas agora vamos considerar outro exemplo de má interpretação.
Satanás Para mim, logo após a falha de Adão e Eva, o segundo pior exemplo de interpretação da Escritura, e talvez da história, é a do episódio em que Satanás tenta Jesus. A velha serpente está de volta e, em Mateus 4, vemos que Satanás conhece a Palavra de Deus. Ele a con hece m elhor do que você, eu e seu teólogo favorito. Provavelmente ele a tenha memorizado em todas as línguas humanas, inclusive aquelas para as quais a 38
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Bíblia ainda nem foi traduzida. E eu lhe garanto que a com preensão que ele tem dela é m uito m aior e mais profunda que a do personagem Eli, de Denzel Washington, recitando a Regra de Ouro. Satanás conhece extremamente bem a Bíblia, não por reverência a Deus, mas por querer nos confundir, assim como tentou fazer com Jesus no deserto. Satanás é mestre na arte de nos tentar com a má interpretação da Palavra de Deus e, em Mateus 4, podemos ver como ele faz isso. Essa cena é bem irônica, se levarmos em consideração quem está falando com quem. Satanás usa a Palavra de Deus para tentar aquele que é a própria Palavra de Deus! Parece loucura, mas isso mostra o quanto nosso inimigo pode ser “pirado” de vez em quando. Ao tentar levar Jesus, ou nós m esmos, a interpretar a Palavra de Deus de forma equivocada, um a das maiores armadilhas na caixa de ferramentas de Satanás consiste em retirar a Palavra de Deus de seu contexto para po der distorcêla. Em Mateus 4, encontramos Satanás fazendo três esforços para tentar levar Jesus a pecar. Em um deles, Satanás tenta utilizar a Escritura para fazer com que Jesus lhe obedeça. Citando Salmos 91.11,12, o diabo incita a Jesus a pular do pináculo do templo: Então o Diabo o levou à Cidade Santa, colocouo n a parte mais alta do tem plo e disselhe: Se és Filho de Deus, lançate daqui abaixo; po rqu e está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e eles te sustentarão com as mãos, para que não tropeces em pedra algum a (M t 4.5,6). 39
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
Aqui, Satanás relembra a Jesus a Escritura, ao citála sem levar em conta todo o conselho de Deus. Jesus não se impressiona, para dizer o mínim o. M esmo depois de 40 dias no deserto sem alimento e água, ele é sábio o bastante para saber que Satanás está sendo desonesto. Como Jesus conhecia todo o conselho de Deus, ele expõe a interpretação de Satanás pelo que ela realmente é: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4.7). O relógio marca as doze badaladas. O jogo acabou. Apenas o diabo não sabe disso. A interpretação equivocada pode ser encontrada por toda a Escritura, mas Adão, Eva, Saul e Satanás são apenas alguns dos culpados. Há muito mais espaço no trem da má interpretação, e os fariseus andam por seus corredores, recolhendo as passagens.
Os fariseus Durante toda a vida terrena de Jesus, ninguém negligenciou tanto a Palavra de Deus quanto os fariseus. Eles eram os pastores da época (nenhuma ofensa, eu também sou pastor). Eram muito respeitados e com frequência temidos, e faziam por onde. Eram pessoas que supostamente se baseavam na Bíblia, mas acabavam indo muito além dela. Aos fariseus eram confiadas a interpretação e a explicação da Palavra de Deus. Toda semana, na sinagoga, eles deveriam ler e interpretar a Lei e os Profetas para os filhos de Abraão. Eles escolhiam um texto, liam esse texto em voz alta e davam uma perspectiva sobre ele. Mas o legado dos fariseus é que a perspectiva que ofereciam da E scritura acabava por se tornar um conjunto de regras legalistas. Assim, na verdade, eles distorciam essas regras e as utilizavam para reinterpretar 40
DO JARDIM PARA A SEARA
a Escritura, de modo que o israelita típico entendia a Bíblia como sendo algo totalm ente voltado para o legalismo. A mesma tendência de olhar para a Bíblia, interpretála erron eam ente e depois voltar e olhar pa ra as Escrituras à luz da própria interpretação falsa encontrase no centro do legalismo que assolou o povo de Deus desde o princípio. A lei de Moisés foi dada por Deus para revelar a incapacidade da humanidade de obedecer a Deus. O modo como os israelitas, por toda a sua história, se afastaram de Deus em vez de se converterem a ele, foi evidência de um d n a espiritual que prova sua culpa. A rebelião se tornou a identidade dos israelitas. O juízo, sua condição diária. O surp reend ente é que os fariseus não conseguiam e nten der isso. Aqueles que receberam a tarefa de interpretar o Antigo Testamento ao povo para quem ele fora escrito não conseguiram entender o argumento fundamental nele contido. (O que, ironicamente, apenas comprova ainda mais esse argum ento.) Os fariseus não apenas acreditavam ser possível obedecer à Lei, eles pensavam que era um ato de fidelidade a Deus acrescentar mais regras a ela! O que é pior, esses homens tinham o incrível talento de dizer aos outros o que fazer, quando eles mesmos não o faziam. Aliada à sua má interpretação da lei mosaica, os fariseus deram um passo além e fingiram que outras partes da lei não existiam. A má interpretação com binada à observação e à aplicação seletivas fazia desses homens verdadeiros hipócritas. Q uand o Jesus veio, olhou para eles e decidiu convidálos para participar de um novo jogo. Ele não apenas mudou as regras, mas alterou todo o jogo. Ali estava um grupo de homens responsáveis por dizer ao povo escolhido de Deus como deveriam ler, interpretar e 41
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
seguir a Palavra de Deus. Eles foram capazes de construir um sistema que os exaltava, oprimia o povo, interpretava Deus de forma equivocada e impedia qualquer possibilidade de oposição. Não foi à toa que Jesus os expôs. Não é de surpreender, dado o papel dos fariseus como supostos guardiões da Verdade, que os conflitos que Jesus teve com eles tenham sido fundamentalmente sobre interpretação. As ações fluem do entendimento. A aplicação flui da interpretação. Os fariseus sabiam disso tão bem quanto Jesus. Assim, o conflito fundamental entre eles era que os fariseus esperavam que Jesus agisse mais como eles e Jesus esperava que os fariseus agissem mais com o Deus. Esses conflitos específicos que Jesus teve com os fariseus podem parecer distantes de nós, pois não pertencem os à cultura do judaísm o do segundo templo. Em certos casos, eu não tinha a menor ideia sobre o que Jesus e os fariseus discutiam. E difícil relatar os detalhes de suas discussões, mas é fácil relatar a batalha que está por trás da interpretação. Mateus 12.114 contém dois grandes exemplos. Nos dois casos, a questão da interpretação implica o que é e o que não é lícito fazer no sábado. Mas a verdadeira questão é quem tem autoridade para interpretar a Escritura, como e por quê. Fica óbvio, nessa passagem, que Jesus está dando oportunidade aos fariseus de defenderem o ponto de vista do legalismo, de modo que ele possa reverter a situação e trazer à tona a verdade sobre o assunto. Duas questões são abordadas nessa passagem: • Se você estiver caminhando por um campo de cereais no sábado, a lei de Moisés permite que colha algumas espigas e as coma enquanto caminha? 42
DO JARDIM PARA A SEARA
• Se alguém estiver sofrendo fisicam ente e for sábado, a lei de Moisés lhe dá perm issão para tentar curar a pessoa? Os fariseus acreditavam que a resposta para as duas perguntas fosse não. Mas eles não baseavam suas respostas às pe rguntas naquilo que a lei de Moisés de fato dizia especificamente sobre o sábado ou naquilo que ela ensinava em geral sobre a natureza e o propósito do sábado. Jesus, porém, baseavase na Lei. Ele menciona algumas passagens do Antigo Testamento e lança uma bomba falando sobre como ele tem toda a autoridade sobre o sábado. Jesus é o grande intérprete. Ele vai ao coração da Palavra de Deus. Mas isso não era bom o suficiente para os fariseus. Talvez a preocupação deles fosse a de não falhar miseravelmente em cumprir a lei de Deus ou talvez eles realmente pensassem que entendiam melhor a lei de Deus do que qualquer pessoa, e po r isso faziam listas que “explicavam” o que as pessoas deveriam ou não fazer para ser piedosas. A interpretação dos fariseus, na verdade, tornavase a “palavra de Deus”, pois as pessoas acreditavam que era isso que Deus queria que fizessem, enquanto a verdadeira Palavra de Deus era colocada de lado.
PREPARANDO-SE PARA ENCONTRAR OINTÉRPRETE Você alguma vez já parou para pensar sobre o motivo de os Evangelhos darem tanta atenção aos fariseus? Será que não é para que nós, cristãos, sempre que nos reunim os, possamos falar como eles eram maus sem correr o risco de fazer fofoca? Não acredito nisso. As lições do Novo Testamento sobre os 43
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
fariseus se apresentam de tal mo do que podem os concluir um a coisa: não somos muito diferentes deles. Interpretação é como vivemos a vida a cada momento de cada dia. O mais importante tipo de interpretação é o que entendemos ser o conteúdo, a autoridade e o propósito da Bíblia e, portanto, quem entendemos ser Deus. Mas, como os fariseus, todos nós podemos tender a confiar mais em nossa interpretação dessas coisas do que na própria Bíblia.
Interpretar não é o mesmo que saber o que está escrito na Bíblia. Com o parte de seu treinam ento, os fariseus decoravam a maior parte do Antigo Testamento e, mesmo assim, eles o entendiam de uma forma totalmente equivocada. Por não conseguirem entender corretamente o Antigo Testamento, os fariseus também não conseguiam entender a Deus corretamente — e isso, em ultima análise, é o grande perigo d a má interpretação. Como o meteorologista ou o homem do tempo da t v erram constantemente em suas previsões, mas continuam a fazêlas todos os dias com confiança e um grande sorriso no rosto, podemos agir com a segurança de verdadeiros idiotas sobre nossa interpretação da Escritura. Mas não precisamos mais agir dessa maneira. A despeito de toda má interpretação que nos cerca, há lugar para regozijo. O Filho de Deus, o intérprete por excelência, chegou e nos ensina a interpretar sua Palavra corretamente. Não precisamos viver na escuridão teológica sobre a Bíblia. A estrutura interpretativa perdida no jard im do Éden ainda está disponível para nós. Deus Filho veio para que pudéssemos recuperar um correto entendim ento de Deus, um correto relacionamento com Deus e a correta inter pretação de sua santa Palavra. 44
Três
JESUS, O INTÉRPRETE A interpretação se relaciona mais com imitação do que com educação
A interpretação correta da Palavra de Deus é difícil, mas po ssível. Mais do que isso, é um a tarefa que D eus espera de seu povo e um processo tão antigo quanto a origem da própria Escritura. Para nos dar o Antigo e o Novo Testamentos, Deus inspirou hom ens a escrevêlos. O próprio processo de escrita envolve certa dose de interpretação (divinamente inspirada), e as palavras que foram escritas incluíam um a série de ordenanças de Deus para que aplicássemos e obedecêssem os à Palavra. Isso nos diz que todo o paradigm a da interpretaç ão correta que leva à aplicação correta é um dom essencial e fundam ental de Deus para seu povo. Tanto que esse dom veio sob a forma de um a pessoa chamada Jesus, o Cristo. Você alguma vez já pensou sobre o motivo de Jesus ser chamado de a Palavra de Deus? Dentre tantas outras maneiras que poderiam descrever o Filho de Deus, por que usar o termo Palavra? Por que o Criador do universo veio a nós como a Palavra de Deus viva? Há vários modos de responder a essas perguntas, e este livro é muito pequeno para responder a todas, mas vamos considerar alguns.
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
João 1 nos diz algumas coisas interessantes sobre Jesus. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus [...] E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, pleno de graça e de verdade; e vimos a sua glória” (Jo 1.1,14). O que fica óbvio aqui é que Jesus, desde o princípio, tem sido a Palavra de Deus que é Deus. O termo grego que João utiliza aqui é Logos, que significa palavra ou discurso. Sabemos que Deus não tem princípio, portanto “no princípio” é uma referência temporal a criaturas atemporais, algo para nos ajudar a processar a impo rtância da identidade de Jesus: diferentem ente de tud o que possa existir, Jesus tem sido desde sempre. Isso também nos relembra que Jesus foi e é o sustentador de toda a criação. A Palavra de Deus é vida e cria vida. A Palavra não tem fim, do mesmo modo que não tem princípio. A Palavra de Deus é inimiga da morte e irá derrotála. Sei perfeitam ente que isso tudo é um tanto poético e misterioso, mas como o fato de Jesus ser essa Palavra pode estar relacionado à nossa discussão sobre interpretação? Para responder a essa pergunta, devemos lembrar que todas as coisas foram criadas por meio da Palavra. Gênesis nos diz que o sol, as aves e as ervas do campo foram chamados à existência. Tudo isso veio a existir pela Palavra de Deus e é sustentado pela mesma Palavra. Em suas atividades diárias, os seres criados não interagem com a Palavra, exceto simplesmente em resposta a ela. Não há questionamento ou resistência, pois esses seres não fa zem nenh um tipo de interpretação. Quando Deus criou o homem, porém, algo novo entrou em cena: a interpretação torno use possível e, com ela, tam bém 46
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a possibilidade de falsa interpretação, oposição consciente, recusa, rebelião e rejeição. Diferentemente de todo o restante do m undo un do natural, natural, Deus concedeu o livrear livrearbít bítrio rio ao ao hom em , e livrearbítrio livrea rbítrio req r eque uerr a habilidade hab ilidade de interp retar, avali avaliar, ar, pesar e escolher — não apen a penas as respon resp onde derr de acordo acord o com as leis leis n atu at u rais ou com o instinto.
INTÉR IN TÉRPRE PRETE TES S DO ALFA E ÔMEG ÔMEGA A Nó N ó s fom fo m o s c r iad ia d o s à im a g e m de D eus. eu s. F om os c ria ri a d o s p a r a pe p e n s a r e in i n t e r p r e tar. ta r. S o m o s as ú n ica ic a s c r i a tu r a s d a face f ace d a T e rra rr a que interpretam a Palavra de Deus. Nós a ouvimos, refletimos sobre seu seu significado significado e agimos agimos com base base em nossos pen sam en tos e conclusões. Log os ou Isso é crítico para o entendimento de Jesus como Logos o u p o r desíg de sígnio nio Palavra, na passagem de João 1. Somos intérpretes po de Deus, de m odo od o q u e os atos atos mais sublimes sublimes e significat significativos ivos de interpretação em q u e nos engaja engajamos mos são noss nossas as próprias inte r pr p r e taç ta ç õ e s d a P a lav la v r a d e D eus. eu s. N a é p o c a d o N ovo ov o T e stam st am e n to to,, isso coloca Jesus — o Verbo de Deus — como nosso principal objeto de interp interp retação. retaç ão. Nós interpretam os quem é Jesu Jesus, s, o que ele disse e o que suas palavras significam e, então, determinamos como reagiremos à interpretação que fizemos. Antes da encarn ação , o principal foco foco de interpretação era a Palavra de Deus escrita e falada. Em Gênesis 3, essa Palavra p a ra foi foi mal in ter pr eta d a e m al aplic aplicada ada.. Isso Isso trouxe o pecado pa o mundo. Hoje, a Palavra de Deus corretamente interpretada e aplicada aplicada é a única co isa que levará levará os pecadores em segu rança pa p a ra fo r a dest destee m un do .
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Assim, Assim, você pode po deria ria dizer que João 1 é simp simplesm lesmente ente a melhor metade de Gênesis 1. É uma eterna repetição, uma representação da verdade e outra chance para a humanidade interp retar a Palavra de de Deus de form a correta e agir em conformidade com ela. Gênesis coloca em ação uma série de acontecim entos ento s que resultaria resu ltariam m na n a lei lei de Moisés, Moisés, mas João 1 revisa revis a esses mesmos princípios para revelar Cristo neles, resultando em algo bem melhor: a salvação através de Jesus, a Palavra. João nos mostra o grande pacote no qual o plano de Deus estava contido: con tido: Jesus Jesus,, a Palavra, o princ pri ncíp ípio io e o fim fim da d a criação, o primeiro e o último.
JESUS, JESUS , INTÉRP INT ÉRPRET RETE E E OBJETO OBJ ETO DA DA ESCRITURA Jesus é o principal intérprete da Escritura, pois é o principal objeto objeto da Escritura. E scritura. Somente Jesus Jesus sabe sabe o que a Escritura Es critura quer dizer, pois ela fala sobre ele. Quando esteve na terra, Jesus pregava uma mensagem para que as pessoas se arrependessem e cressem cressem nele nele.. Ele não era tím ido nem vago a respeito de quem era, do que estava fazendo ou do motivo de fazêlo. Como mencionei no capítulo 1, poderíamos dizer que o foco da vida de d e Jesus Jesus esta estava va no evangelism e vangelismoo e no discipulad d iscipulado, o, os quais ele levou adiante ao comunicar a interpretação correta e ao fazer a correta aplicação da Palavra de Deus. Essa realidade é im itar aquilo que frequentem ente descartada quand o se trata de imitar Jesus Jesus fe z, mas, por incrível que pareça, muitas das coisas mais surpreendentes registradas na Escritura não são os milagres, e sim as ocasiões em que Deus explica sua própria pró pria Palavra para pa ra o povo po vo e, a seg s eguir uir,, m o s tra tr a a ele com co m o aplic ap licál ála. a. Esse é o p a d r ã o do discipulado cristão e uma das principais maneiras pelas quais 48
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deveríamos imitar nosso Senhor. A interpretação e aplicação da Palavra de Deus são de suma importância para Jesus. Em quase todas as ocasi ocasiões ões em qu e vemos Jesu Jesuss interp inte rp retando a Palavra escrita de Deus, ele cita e explica as Escrituras e, a seguir, oferece uma aplicação. Em Mateus 5, durante o famoso Sermão do Monte, Jesus interpreta e aplica a Palavra de D eus u til tilizando izando esse esse processo po r cinco veze vezes, s, com eçando nos versículos 21, 27, 33, 38 e 43. Em cada caso, seu ponto de pa p a r t i d a p a r a u n i r os m u n d o s d a in t e r p r e t a ç ã o e d a a p lica li caçç ão é a expressão “ouvistes que q ue foi dito”: dito”: Ouvistes Ou vistes que foi foi dito: dito: Não N ão adu lterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele aquele que olhar com desejo desejo para um a m ulher já cometeu adultério com ela no coração. Se o teu olho direito te faz tro peç p eçar ar,, a r r a n c a o e jog jo g a o fora fo ra;; p o is é m e l h o r p a r a ti p e r d e r u m dos teus m em bros do que ter todo o corpo lançado no inferno. Se a tua mão direita te faz tropeçar, cortaa e jogaa fora; pois é melhor p ara titi perd er um dos teus teus mem bros do que ir ir todo o corpo para o inferno (Mt 5.2730).
O que qu e está está acontecendo acon tecendo aqui aqui?? • Versículo 27 27: Jesu Jesuss cita a Palavra de Deus. • Versículo 28: Jesus interpreta corretamente a Palavra de Deus. • Versículos 29,3 29,30: 0: Jesu Jesuss dá aplicação à Palavra de Deus. Esse padrão foi vital no ministério terreno de Jesus. Quando somos chamados para ser imitadores de Deus, devemos 49
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considerar que a interpretação correta da Palavra de Deus é um elemento essencial do chamado — quer tenhamos recebido educação teológica quer não. Em Mateus 5.17, Jesus identifica a razão pela qual ele pode fazer essas declarações do tipo “ouvistes que foi dito”: “Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cu m prir”. Jesus é bem claro. Ele veio cu m prir a Lei. Por ser o principal objeto da lei, por padrão ele também é o principal intérprete da Lei.
REQUISITOS PARA COMPREENDER A ESCRITURA Observemos algo de forma específica na vida e ministério de Jesus e de forma geral na Palavra de Deus: o treinamento formal na Palavra de Deus nun ca foi estabelecido com o um requisito para a com preensão exata da Palavra de Deus. Na verdade, a maioria das pessoas com treinamento formal na Palavra de Deus rejeitou Jesus em sua época. M esmo entre cristãos, o treinamento teológico não resulta necessariamente em uma afeição genuína por Deus ou até mesmo em uma boa aplicação. O conhecimento do coração não decorre, necessariamente, do conhecimento intelectual. Uma mensagem não verbalizada no mundo evangélico é que algum tip o de treinam ento form al — seja ele em um a escola bíblica seja em um seminário — é necessário se quisermos ter uma compreensão precisa da Palavra de Deus. Mas, quando olhamos para a Palavra de Deus, os únicos requisitos parecem ser a fé e a presença do Espírito Santo de Deus em nossa vida. O prenúncio da Nova Aliança apresentada em Jeremias 31.33,34 diz: 50
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Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o S e n h o r : Porei a minha lei na sua mente e a escreverei no seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei o S e n h o r ; p o rque todos me conhecerão, do mais pobre ao mais rico, diz o S e n h o r . Porque perdoarei a sua maldade e não me lembrarei
mais dos seus pecados.
Essa é a descrição de todo aquele que está em Cristo. Podemos interpretar a Palavra de Deus o suficiente para viver um maravilhoso relacionam ento com ele. E isso sem qualquer treinam ento formal! Não me entenda mal. Eu também acredito que o treinamento no estudo teológico é bastante útil, especialmente se você tem um chamado para ensinar a Palavra de Deus. No entanto, perdemos de vista a verdade fundamental de que todos somos chamados a ser como Jesus. Temos interpre tado muito m ais pela educação do que pela imitação, o que não parece ser a intenção de Deus ou sua exigência. O exemplo dos habitantes de Bereia, no Novo Testamento, certamente indica que todo cristão precisa examinar a Escritura com a máxima seriedade (At 17.11); mas verificar aquilo que lhe foi ensinado é uma coisa, ao passo que um processo prolongado da educação formal é outra com pletamente diferente. Todos os cristãos são cham ados a ser leitores, intérpretes, evangelistas e discipuladores. E a interpretação correta da Palavra é fundamental para tudo e para todos. Esse é o motivo de Jesus frequentemente perguntar sobre os hábitos de leitura das pessoas. 51
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ACASO NÃO LESTES? Quando faziam perguntas a Jesus sobre a vida — sobre a aplicação da Palavra —, ele no rm alm ente respondia: “Acaso não lestes?” Em Mateus 12, versículos 5 a 8 em particular, após os fariseus acusarem Jesus e seus discípulos de violarem o sábado, Jesus questiona as respostas dos fariseus ao lembrálos de sua má interpretação da Palavra de Deus: Acaso não lestes o que Davi fez quando ele e seus companheiros tiveram fome? Como ele entrou na casa de Deus, e com eles comeu os pães consagrados, o que não lhe era perm itido comer, nem a seus companheiros, mas som ente aos sacerdotes? Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo infringem o sába do e ficam sem culpa? Mas eu vos digo que aqui está quem é m aio r do que o templo. Se, porém , soubésseis o que significa: Quero misericórdia, e não sacrifícios, não condenaríeis os inocentes. Porque o Filho do hom em é Senhor do sábado.
O que podemos ver aqui? Por nossa causa, por causa dos discípulos que estavam ali, naquele dia, por causa dos p róprios fariseus, Jesus estava expo ndo as fraquezas da visão que os fariseus tinham da Escritura, ao apresentar um a visão correta. Ele o faz ao fornecer insights em quatro áreas — duas que diziam respeito à Lei e duas que diziam respeito a Deus. Olharemos para esses insights como respostas a quatro perguntas: • O que significa algum a coisa ser ilegal? • O que torn a alguma coisa ilegal no sábado? 52
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• Qual seria a visão correta de Deus em relação ao sábado? • Qual é a relação de Deus com o sábado? Jesus trata da interpretação que os fariseus faziam da Palavra de Deus sobre o sábado abordando diretam ente a aplicação que dela faziam. Ele usa duas ilustrações, uma da história de Israel e outra do que acontece no templo a cada sábado. Ofereço a você a oportunidade de sentarse na primeira fileira para observar e aprender a se aprimorar como intérprete, à custa dos fariseus.
O que significa alguma coisa ser ilegal? Ele, porém, lhes disse: Acaso não lestes o que Davi fez quando ele e seus companheiros tiveram fome? Como ele entrou na casa de Deus, e com eles comeu os pães consagrados, o que não lhe era permitido comer, nem a seus companheiros, mas somente aos sacerdotes? (Mt 12.3,4).
A primeira ilustração que Jesus oferece nos leva de volta mais de mil anos atrás, até Davi, em 1 Samuel 21.16. Jônatas tinha avisado a Davi que Saul — pai de Jônatas e rei de Israel — estava tentando matálo (lSm 20); assim, Davi fugiu para Nobe, para salvar sua vida. Ele entrou no tabernáculo e ali encontrou Aimeleque, o sacerdote de Saul, a quem pediu pão. O único pão disponível era o pão da consagração, norm almente doze filões colocados no lugar santíssimo como oferta de agradecimento a Deus. Cada filão representava uma das doze tribos de Israel; juntos, os filões simbolizavam o relacionamento 53
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da aliança de Israel com Deus. Todos os sábados, os filões eram substituídos por outros mais frescos, e o sacerdote se alimentava dos mais antigos. O pão era considerado consagrado e era reservado para “Arão e seu filhos” — isto é, para aqueles que eram sacerdotes. Mas Davi não era um sacerdote, nem seus homens. Tecnicamente, portanto, comer do pão consagrado era uma clara violação da porção cerimonial da lei de Moisés, e isso certamente violaria a interpretação que os fariseus faziam da lei na época de Jesus. O próprio Jesus reconheceu isso. No entanto, parece que esse fato não desagradou a Deus na época. Mais significativo ainda, Jesus não desaprovou tal fato. A necessidade humana aparentemente tem precedência sobre o ritual. Se Davi e Aimeleque puderam ignorar um cerimonial de provisão ordenado por Deus diante de determinadas circunstâncias, então Jesus, o Deus encarnado, certamente teria o mesmo direito. Ao começar com a expressão “acaso não lestes”, Jesus fala diretamente à arrogância da interpretação dos fariseus. Essas supostas autoridades na Palavra de Deus perderam completamente o sentido de 1Samuel 20, que eles, na verdade, tinham lido muitas e muitas vezes. Qual é o ponto central? As restrições cerimo niais podem ser ignoradas em face da necessidade. Davi e Aimeleque fizeram a aplicação correta da lei de Moisés a respeito do tabernáculo, e isso foi registrado na Escritura com o uma lição de aplicação da lei. Mas os fariseus não a entenderam, e sua interpretação equivocada resultou em uma aplicação equivocada, que formava a base de sua acusação de que os discípulos de Jesus estavam violando a lei quando recolhiam espigas e delas se alimentavam no sábado. 54
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0 que torna alguma coisa ilegal no sábado? O u não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no tem plo infringem o sábado e ficam sem culpa? (M t 12.5)
A segunda interpretação de Jesus nessa passagem enfatiza novamente a importância da interpretação correta da Palavra de Deus. Ele começa com a mesma pergunta: “Ou não lestes?”. Dessa vez, Jesus está se referindo aos deveres dos sacerdotes relativos ao sábado. (Com “infringem o sábado”, ele se referia às ações devotadas àquilo que não era sagrado ou bíblico, ações que são mais seculares do que religiosas.) D evido ao fato de, no sábado, as ofertas serem do bra das (v. Nm 28.9,10), esse era, de longe, o dia em que os sacerdotes mais trabalhavam — um dia que não chegava nem perto de um dia de descanso. E o trabalho que eles estavam fazendo era, na verdade, o modo como ganhavam a vida. Tecnicamente, portanto, os sacerdotes desrespeitavam a lei todos os sábados! Contudo, da perspectiva de Deus, a adoração no templo tinha precedência, lição que é a mesma dada em 1 Samuel 21. Os sacerdotes d esc um pria m a lei, no en tan to estavam isentos de culpa, pois servir ao povo é mais im p o rtante do que regras rituais.
Qual seria a visão correta de Deus em relação ao sábado? Mas eu vos digo que aqui está quem é maior do que o templo (Mt 12.6).
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Nessa passagem, Jesus basicamente diz: "Quer dizer que vocês dão grande importância à santificação da adoração no templo? En tão tenh o novidades para vocês"’ A expressão que Jesus usa — aqui está quem é mai or do que o templo — apo n ta para ele mesmo. Seu argumento era que, se os regulamentos relacionados ao templo p od iam ser colocados de lado em casos de necessidade, quanto mais poderiam ser colocados de lado na presença de alguém muito maior do que o templo? Assim, Jesus começa a corrigir a visão que os fariseus tinham de Deus. Não fica claro se eles entenderam que Jesus estava se referindo a si mesmo como sendo "maior do que o templo”. Talvez eles não tenham dado importância ao que Jesus disse. De qualquer modo, com essa declaração Jesus começa a mudar a teologia. Kle começa discutindo as regras relativas ao sábado, mas agora volta sua atenção para o Senhor do sábado. Jesus abordará a visão que os lariseus têm tíc Deus declarando a realidade de que ele c Deus. Mais uma vez, ele expõe a aplica ção da interpretação equivocada (a má teologia) simplesmente ao interpretar, de forma correta, a Escritura. Jesus corrige a interpretação que os lariseus iaziam da Palavra de Deus, pois era ali que o erro deles começava, levando a uma má aplicação. Mas também podemos ver que a inter pretação e a aplicação que os fariseus Iaziam moldavam tudo aquilo que eles pensavam sobre Deus. Por serem os fariseus, os mestres de sua época, a visão que tinham de Deus tendia a se tornar a visão que o povo tinha de Deus, e ela estava longe da verdade. Assim como nos dias de hoje, quando as pessoas
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os fariseus carregavam em seus omb ros u m a grande r espo nsa bilidade e não a desem penhavam bem. Foi por esse motivo que Jesus prosseguiu, fazendo uma declaração impactante sobre quem Deus cie fato era. :m mi e a reiacao cte i$ems a Sc, poroni, soubésseis o que signilica: Quero misericórdia, e não sacriíícios, não condenaríeis os inocentes. Porque o Pilho do homem é Senhor do sábado (Mt 12.7,8).
Os lariscus Itmdameníalnieriíe acreditavam que Deus era como eles . No seu rígido legalisnio, acreditavam que estavam agindo de lorma consislente com a vontade e o caráter de Deus. Assim, Jesus mais uma ve/ apela para a Palavra de Deus a í ini de reinterprclar para eles quem realmente 6 Deus. uQue ro misericórdia, e não sacrilícios” é uma citação de Oseias 6.6. Hssas referencias à I scritlira podem parecer misteriosas para nós, mas jesus sabe o quanto cias signif icavam para os lariscus. Sempre que Jesus cita o Antigo Testamento para os fariseus, ele está mostrando onde eles falham na interpretação e aplicação que (azem da lei. Aqui, ele essencialmente esta dizendo: “Vocês pensam que Deus é como vocês, mas estão errados; Deus e misericordioso e, portanto, coloca os atos de misericórdia acima dos atos de sacrifício. Deu s quer que aq ueles que estão famintos comam, e não que passem fome. Deus não co nd en a os inocentes. Para enten der a Deus e para aplicar
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Desde o princípio, é possível ver claramente a misericórdia de Deus. Ele poupou Adão e Eva da completa e imediata aplicação de sua ira, dando a eles e a todos nós a op ortunidade de nos convertermos a ele e sermos salvos. Na verdade, a res posta de Deus ao prim eiro pecado é um ato de misericórdia e bondade: “E o S e n h o r Deus fez roupas de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu” (Gn 3.21). Até m esm o n a Lei, com todos os seus regulamentos, Deus ainda arruma meios de mostrar sua misericórdia para todos aqueles que não conseguem cumprir a Lei — o Dia da Expiação, em Levítico 16. Esse é um Deus misericordioso. Ele não é como os fariseus: legalistas, duros, hipócritas e implacáveis. Esse Senhor m isericordioso entrou em cena para con frontar os fariseus e seu impiedoso legalismo. Jesus encerra essa seção descrevendo a si mesmo, no versículo 8, como o Senhor do sábado. A expressão “Aqui está quem”, no versículo 6, como sendo maior que o templo aponta para alguém. É como se houvesse vários degraus a percorrer na apresentação que Jesus faz de si mesmo aos fariseus, e agora tivéssemos chegado ao último degrau. Quando Jesus diz aos fariseus que “o Filho do Homem é o Senhor do sábado”, não fica claro se eles entend eram seu argumento. Embora haja vários níveis nessa declaração de Jesus, para nosso propósito im ediato enfatizarei apenas este: Jesus está dizendo que Deus não está preso a nenhum a interpretação humana da Lei e certamente também não está preso à inter pretação dos fariseus. Jesus interpreta e aplica a lei referente ao sábado de acordo consigo mesmo. Ele não é limitado pelo
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sábado, pois está acima do sábado. Somente ele sabe o que o sábado significa e com o deve ser aplicado.
PRIMEIRO AS COISAS MAIS IMPORTANTES Por todo o capítulo de Mateus 12 podemos começar a ver o padrão da estrutura interpretativa de Jesus. Jesus conhece todo o conselho de Deus. Ele sabe como tudo se conecta. Esse conhecim ento é a lente pela qual todos os fiéis devem aprender a inter pretar a Palavra de Deus. Novamente afirmo que isso não requer um treinamento formal. O foco de Jesus não é o estudioso. Ele não corrige a interpretação dos fariseus dando a eles dicas de estudo ou repreensões por não se esforçarem o suficiente. Em vez disso, Jesus corrige a incapacidade dos fariseus de crer. A interpretação deles sobre Deus afeta toda a obediência da nação a Deus. Milhões de pessoas tinham sido afetadas pela má aplicação devido à má interpretação que eles faziam. Contudo, em meio a tudo isso, ainda havia aqueles que tinham fé em Deus. Pelas evidências do Novo Testamento, parece que a maioria dessas pessoas não tinha educação formal. A educação nun ca foi a norm a. C ertam ente ela não é irrelevante, mas o testem unho das Escrituras é que a educação não é tão importante quanto a imitação de Deus. Apenas quando educação e imitação estão relacionadas de forma apropriada podem os avançar para a aplicação. A aplicação correta vem da interpretação correta, e no capítulo seguinte veremos isso dem on strad o na vida de Jesus. A m elhor e mais significativa interpretação feita por Jesus, a Palavra, foi sua interpretação de Deus. Ele nos mostrou que
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Deus não é um mero fazedor de regras, mas um guia misericordioso, protetor e redentor. O Salvador faz muito mais do que apenas explicar quem Deus é e o que ele significa: ele nos mostra como viver de acordo com uma interpretação correta de Deus. Você não pode imitar alguém que não entende. Jesus está se certificando de que nós o entendamos. E, já que ele faz isso, devemos imitálo.
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Quatro
DA INTERPRETAÇÃO À APLICAÇÃO Jesus, os fariseus e o sábado
Já vimos Jesus interpretar as Escrituras com palavras. Agora, enq uanto cam inham os p or M ateus 12, veremos Jesus interp retar as Escrituras com ações — aplicando às situações da vida real as implicações da interpretação bíblica adequada. No caso dessa passagem, ele faz isso ao desafiar diretam ente a com preensão dos fariseus em relação ao sábado e ao seu propósito. Partindo dali, Jesus entrou na sinagoga deles. E estava ali um hom em que tinha um a das mãos atrofiada; e, proc urand o um a razão pa ra acusar Jesus, eles o interrogaram : É perm itido cu rar aos sábados? E ele lhes disse: Quem de vós é o homem que, se tiver uma só ovelha e num sábado ela cair num buraco, não a pegará e a tirará de lá? Quanto mais vale um hom em do que uma ovelha! Portanto, é permitido fazer o bem no sábado. Então, Jesus disse àquele homem : Esten de a mão. E ele a esten deu, e foi restaurada como a outra (Mt 12.913).
Jesus entro u n a sinagoga, e os fariseus, ainda a cr ed itan do que possuíam a interpretação correta da lei em relação ao sábado, tentaram novamente acusálo. No versículo 10,
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
a pergunta deles revela seus motivos. Jesus responde e, através de suas palavras e ações, faz uma alegação surpreendente a respeito do sábado. Com sua pergunta, os fariseus queriam criar uma armadilha para Jesus, mas, quando ele interpretou a lei sobre o sábado para eles, revelou a intenção de Deus para o sábado, e, assim, revelou ser o único dos presentes no local que realmente entendia a Palavra de Deus. Esse não foi o primeiro confronto público entre Jesus e os fariseus. Na verdade, a maioria de seus confrontos foi público. Essa cena em particular aconteceu na sinagoga, um lugar consagrado e público. É seguro presumir que outras pessoas no templo sabiam alguma coisa sobre essa rivalidade entre os fariseus — as autoridades na defensiva — e este recém chegado que tinha um a habilidade incrível de não seguir as regras, mas, ainda assim, parecer inocente. Portanto, quando os fariseus perguntaram: “É perm itido curar aos sábados?”, o silêncio deve ter sido tam anh o que se pod eria ouvir um mosquito voando. A Escritura não nos informa sobre o tom da pergunta dos fariseus, mas nos informa a respeito do coração deles. Não é preciso ter m uita im aginação para perceber quão in dignada a pergunta provavelm ente soou. Lembrese, este é o mesm o dia em que os fariseus fizeram as perguntas a respeito das espigas e dos pães consagrados. A última coisa que Jesus disse antes de entrar na sinagoga foi: “O Filho do homem é Senhor do sábado”. Os fariseus provavelm ente viram isso como conversa fiada, pois Jesus estava basicamente acusandoos de serem incom petentes em uma área em que se supunha que eles fossem especialistas. Agora, nessa passagem, eles estavam novamente com Jesus, desta vez na sinagoga, e com certeza se sentiam ofendidos, indignados e ameaçados. 62
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A pergunta que fizeram não foi baseada na curiosidade, e sim na animosidade. Os demais judeus presentes na sinagoga provavelm ente prenderam a respiração e, temerosos, olharam uns para os outros. Mais cedo, naquele mesmo dia, Jesus, refutara verbalm ente a interpretação farisaica da lei sabática; agora, ele aplica corretam ente essa m esm a lei. Apelando a um a situação não muito com um no sábado, ele expõe a m á exegese ou m á interpretação dos fariseus.
A LEI DA MISERICÓRDIA E ele lhes disse: Quem de vós é o homem que, se tiver uma só ovelha e num sábado ela cair num buraco, não a pegará e a tirará de lá? (Mt 12.11).
A pergunta de Jesus revela a hipocrisia dos fariseus. Eles fariam o que consideravam ilegal no sábado se fosse um de seus animais que caísse num buraco. Mais preocupante é que a interpretação que os fariseus faziam do sábado os levava a pensar que os animais eram mais im portantes que pessoas. (As associações em defesa dos animais devem ter uma dívida de gratidão com os fariseus nesse ponto.) A pergunta de Jesus começa a deixar claro que esses virtuosos líderes religiosos agiam como se a cura de um homem no sábado glorificasse men os a Deus do que socorrer u m a ovelha que tivesse caído nu m buraco. Devo confessar que sou totalmente urbano. Somente uma vez estive perto de um a ovelha, e me lembro apenas de duas coisas sobre essa experiência. Eu já era cristão na ocasião; assim, lem bro 63
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
de ter sido im pactado em ocionalmente pela maneira como Deus usa a ovelha como uma metáfora na Escritura. Lembrome de ter pensado em Jesus como o Cordeiro de Deus. Também me passou pela cabeça que todos nós somos meras ovelhas e que os lobos algumas vezes aparecem para tentar nos destroçar. Não consigo transformar em palavras a emoção daquele momento, mas essa emoção teve um profundo impacto sobre mim. Minha outra impressão foi menos filosófica. Eu me lem bro de como a ovelha era grande. N em todas as ovelhas ficavam daquele tamanho, mas essa pesava tranquilamente uns cento e trinta quilos. As ovelhas pareciam bolas sujas de algodão correndo pelo pasto. Um homem se aproximou e perguntou se eu queria segurar uma delas, e olhei para ele como se ele estivesse me pedindo dinheiro emprestado. Mesmo com a imagem do Salvador como um cordeiro, ou ovelha, aind a fresca na minha memória, eu não era assim tão sentimental a ponto de pegar uma delas. Sem m encio nar que a ovelha que o homem me apontou não parecia uma ovelha, mas um búfalo. Aquela era bem grande! Talvez o pobre homem tenha pensado que, por eu ta m bém ser um cara grande, poderia lidar com a ovelha. Mas imediatamente pensei naquele programa de televisão When Animais Attack (Quando os animais atacam). Tudo que podia im agin ar era esse program a sendo apresentado por to do o mundo mostrando a ovelha acabando comigo. Não senhor! Prefiro adm irálas só de longe. Portanto, se a ovelha à qual Jesus se referiu fosse do tamanho daquelas que vi naquele dia, então definitivamente daria um enorm e trabalho retirála de um buraco. A hipo crisia dos fariseus era óbvia. D aria muito mais tra balho retirar um a ovelha de um buraco do que Jesus curar a 64
DA INTERPRETAÇÃO À APLICAÇÃO
mão de um homem. Mesmo assim, a quantidade de trabalho não era a principal preocupação de Jesus. Em vez disso, ele queria m ostrar o valor comparativo da c riatura socorrida. “Quanto mais vale um homem do que uma ovelha!”, disse Jesus no versículo 12. “Portanto, é permitido fazer o bem no sábado.” O principal argumento que Jesus queria defender é que a conduta ética é sempre mais importante do que a obediência cerimonial. Era difícil para os fariseus entenderem isso. Na interpretação e aplicação que os fariseus faziam da Lei, os rituais tinham se tornado maiores que a misericórdia e o amor. Eles ficaram tão presos a sua má interpretação, que há m uito tinham perdido a clareza do que realm ente significava honrar o Senhor. Vamos dar um a olhada naquele mom ento, no final do versículo 12, quan do Jesus já tinh a parado de falar, mas ainda não tinh a agido. Qual você acha que foi a respo sta ao argum ento de Jesus sobre o valor de um homem em comparação com uma ovelha? Acredito que Jesus falou e depois parou, olhou para os fariseus por alguns segundos, apenas esperando. E acho que seu olha r foi seguido p or um longo e embaraçoso silêncio, enquanto os presentes olhavam de um lado para outro, para Jesus e para os fariseus. Ninguém esperava com mais ansiedade do que o hom em cuja mão precisava ser curada. Não fica claro há quanto tem po o hom em tinha problem a na mão, mas a fama de Jesus já havia se espalhado. O homem provavelm ente sabia que, se Jesus chamasse alguém , a m enos que a pessoa fosse um líder religioso ou um cobrado r de impo stos, provavelmente seria para uma boa causa. Assim, acredito que a sala, naquele momento, foi inundada por um silêncio tenso, sepulcral. Cada pessoa ali presente poderia ouvir não 65
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
só as batidas de seu próprio coração, mas a pergunta de Jesus aos fariseus ecoando por toda a sinagoga, e até os animais se alimentando a poucos q uilômetros dali. Esses fariseus ficaram perplexos ou eram demasiado teimosos para reconhecer que Jesus estava certo. Você pode ver por que Jesus ficou zangado com eles? Eles criaram um rígido conjunto de regras hipócritas e, ainda por cima, acreditavam que Deus era exatamente como eles. Não foi à toa que não reconheceram Jesus! Estavam procurando por um Messias que fosse duro, hipócrita e que odiasse o pecador — alguém que honrasse sua religiosidade e expulsasse do templo qualquer um que fosse indigno de ali adorar. Eles estavam errados, e o pecado deles nos serve de lição: a má interpretação resulta em má aplicação. Se eles tivessem prestado atenção em Jesus, teriam aprendido a interpretar corretam ente a Escritura, o que os teria levado a agir de forma correta. Eles teriam entendido o que é misericórdia.
MISERICÓRDIA APLICADA Então, Jesus disse àquele hom em : Estende a mão. E ele a estendeu, e foi restaurada como a outra (Mt 12.13).
A interpretação correta resulta na aplicação correta. Fazer o bem no sábado realmente está de acordo com a lei. Nesse versículo, o que pode facilmente passar despercebido é como a mão do homem foi curada. Jesus não chegou a tocálo. Na verdade ele não executou trabalho nenhum. Tecnicamente, ele nada fez para curar o homem — nenhuma cirurgia, nenhuma mágica, nenhuma massagem com óleos, nada. De certo modo ele nem mesmo desrespeitou a interpre66
DA INTERPRETAÇÃO À AP LICAÇÃO
tação dos fariseus da lei sabática, pois tudo que fez foi dizer ao homem: “Estende a mão”. Contudo, quando Jesus falou, a realidade foi alterada, assim como na criação. A mão do homem foi milagrosamente curada. Acredito que Jesus teve a intenção de fazer tudo isso. Os fariseus estavam acusando Jesus de desrespeitar a lei; assim, Jesus — o Senhor do sábado — curou o hom em de uma m an eira que só Deus poderia fazer. Como todos os demais milagres de Jesus, esse foi mais uma prova de sua alegação de ser ele o Filho de Deus. Mediante essa mostra sobrenatural de misericórdia, a glória de Deus deveria ser comemorada por todos aqueles que testem unh aram o acontecimento. A cura na sinagoga foi claramente realizada por Deus. Também foi uma indiscutível evidência de que o Filho do Homem é o Senhor do sábado. Todos, incluindo os fariseus, deveriam se alegrar ao ver Deus agindo em seu meio. Infelizmente, os fariseus não podiam enxergar além daquilo em que acreditavam: para eles, o que Jesus estava fazendo não era correto. Tivessem eles se interessado mais pela Escritura e menos por regras que adicio naram a ela, poderia m ter visto que Jesus estava dem onstrando com o Deus realmente é.
INTERPRETANDO O DESCANSO DO SÁBADO Você se lembra de que, no capítulo 2, aprendemos que os fariseus faziam listas de verificação para a lei de Deus? Eles tin ham uma lista com 39 atividades que alegavam ser proibidas no sábado. Mateus 12.114 mostra atividades permitidas pela lei mosaica, mas proibidas pela má interpretação que os fariseus faziam da Lei. Por ensinarem essas regras de forma regular e bem rígida, os israelitas acabaram perdendo com pletamente o 67
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
propósito do sábado — lembrarse de agradecer a Deus como provedor de todas as coisas — e o substitu íram por um medo constante de desobed ecer à regra 37... ou seria à regra 19? As ações de Jesus em Mateus 12 representam a aplicação correta baseada na interpretação correta, especialmente do quarto mandamento, aquele referente ao sábado. Vamos olhar novamente duas passagenschave do Antigo Testamento que estabelecem o m and am ento do sábado: Lembrate do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do S e n h o r teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem
tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro que vive contigo. Porque o S e n h o r fez em seis dias o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e no sétimo dia descansou. Por isso, o S e n h o r abençoou o dia de sáb ado e o santificou (Éx 20.811). Guarda o dia do sábado, para o santificar, como te ordenou o S e n h o r teu Deus; seis dias trabalharás e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do S e n h o r , teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu boi, nem teu jumento, nem qualquer anim al teu, nem o estrangeiro que vive em tuas cidades; para que teu servo e tua serva descansem como tu. Lembrate de que foste escravo na terra do Egito e que o S e n h o r , teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido.
Por isso, o S e n h o r , teu Deus, te ord enou que guardasses o dia do sábado (Dt 5.1215).
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DA INTERPRETAÇÃO À APLICAÇÃO
O sábado se relaciona com o descanso. Desde o princípio, Deus criou a humanidade para espelhar sua misericórdia, bondade e fidelidade. Embora o pecado obviamente tenha alterado nossa habilidade de fazêlo com perfeição, isso nunca mudou a intenção de Deus. Teologicamente falando, o descanso é parte de como Deus nos ajuda a fazer o que ele nos criou para fazer; ele representa uma reversão da caótica infiltração do pecado. Em um grau significativo, o descanso sabático está relacionado a um retorno ao jardim do Éden, a um estado de paz. Esse tipo de repouso é um destino — o objetivo final para todo o povo de Deus que crê. Quando Deus escolheu Israel para ser seu povo, ele disse que iriam deixar o Egito em direção a Can aã para que receb essem descanso. Para eles, o sábado estava relacionado à imitação de Deus, que descansou de sua obra no sétimo dia. Sempre que eles pensavam no sábado, pensavam no descanso. No sábado, toda a nação deveria descansar. Os fariseus interpretaram erroneam ente o descanso sabático como se significasse evitar quase todo tipo de atividade. Eles viam o descanso como todo adolescente vê — como não fazer nada. Mas parece que a lei sabática tinha em mente um tipo específico de atividade que constituía o verdadeiro descanso. Olhe atentamente para o trabalho a que Êxodo 20 se refere. O versículo 9 fala sobre fazer “o teu trabalho” seis dias por sem ana. A seguir, o versículo 10 nom eia categorias diferentes de pessoas e animais que não deveriam trabalhar no sábado. Esses versículos apontam para um tipo específico de trabalho — o trabalho assalariado. O principal foco, aqui, é qualquer trabalho para ganhar a vida. O sábado é o único dia em que os judeus deveriam descansar de seu trabalho para se lembrarem do Deus que provê. 69
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
Quando Deus descansou, em Gênesis 2.1,2, ele descansou de sua obra, após ver que o que tinha feito era bom. Então, ele separou um dia para que o homem, que ele criaria à sua imagem, pudesse refletir sobre tudo aquilo que era bom. Deuteronômio 5 indica que Israel deveria usar o sábado para refletir sobre sua libertação da escravidão no Egito. Não era um dia de inatividade, mas um dia de adoração e reflexão sobre o Deus de sua salvação. Mesmo hoje, nós, como povo de Deus, precisamos dessa reflexão. Em toda essa frenética atividade da vida m od ern a, é fácil nos esquecerm os de Deus. É fácil ficarmos entretidos com várias outras coisas e acabarmos não lendo a Bíblia nem meditando em como Deus foi bom ao nos salvar pela sua graça. Os fariseus interpretaram as referências ao trabalho nessas passagens como se significassem que deveríamos cessar todas as nossas atividades. Entretanto, em nenhuma passagem da Escritura você encontra Deus inativo dessa maneira. Da perspectiva de Deus, o descanso não é a falta de atividade. Deus sustenta todas as coisas pela palavra de seu pod er (Hb 1.3); assim, se Deus descansasse de toda atividade no sétimo dia, tudo deixaria de existir a cada semana! Teríamos seis dias de atividade e depois, nada. Deus teria de criar tudo a cada sete dias, e a mesma semana de criação se repetiria para sempre. Deus claramente não é fã da inatividade. Foi ele que estabeleceu o trabalho como a tarefa principal do ser humano, mesmo antes da queda (v. Gn 2.15). Assim, a preguiça é desprezada na Escritura (v. Pv 19.24). Paulo censurava aqueles na igreja que se recusavam a trabalhar (2Ts 3.612). E, apesar dessa passagem não estar relacionada ao sábado, ela enfatiza a conexão entre trabalhar e glorificar a Deus. 70
DA INTERPRETAÇÃO À AP LICAÇÃO
Assim, o sábado não está relacionado à inatividade, mas a um tipo de atividade diferente da que fazemos no restante da semana. A atividade proibida é aquela que pro duz p rosperidade material, é a aquisição de coisas legítimas de que precisam os para viver, mas que podem facilmente to rnarse ídolos. Mas nada no mandamento de descanso sabático proíbe a obra do amor. A Escritura diz que você deve descansar de seu trabalho, mas nunca diz que você deve descansar da obra de Deus. Essa é a reinterpretação da Palavra de Deus que Jesus apresenta aos fariseus. Depois, ele exemplifica sua aplicação. O descanso não é a falta total de atividade. Descanso é a busca de se fazer aquilo que é bom. Isso é o que Jesus estava fazendo na sinagoga, diante dos olhos dos fariseus, lançando luz sobre seu papel como o Senhor do sábado. Jesus tem a autoridade de interpretar a lei corretamente e tem a habilidade de usar a lei de maneira a dar descanso para seu povo. A Escritura interpretada de form a apropriad a faz justam ente isso — auxilianos a en ten der e, portanto, a descansar em Deus.
O DESCANSO É UMA PESSOA O descanso como uma categoria teológica se encontra por toda a Escritura. Descansar totalmente em Deus é precisamente o que foi perdido no jardim do Éden; assim, a recu peração gradual do estado de perfeito descanso bíblico, que culmina na volta de Jesus e na instituição do novo céu e da nova terra, é central para tudo o que Deus está fazendo hoje e tudo o que ele tem feito desde a queda. Toda obra de Deus através dos tempos apo nta para Jesus com o a plena in terp retação de Deus.
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
Corretamente interpretada, toda a Escritura leva a Jesus. Toda a página da Bíblia aponta para ele. Ele é o Messias prometido, mesm o antes de Adão e Eva serem ban idos do jardim. Ele é o Salvador que viveu uma vida santa e foi pendurado na cruz para pagar o preço dos nossos pecados. E ele é o Senhor que retorn ará no fim. O descanso em Deus, que foi perdid o em Gênesis 3, está sendo devolvido a nós e será plenam ente devolvido na pessoa e obra de Jesus Cristo. Se os fariseus tivessem prestado atenção, poderiam ter começado a perceber isso, antes mesmo de toda a questão a respeito da alimentação e da cura no sábado. Pois, pouco antes desses encontros, Jesus deixou isso bem claro publicamente: Vinde a m im , todo s os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou m an so e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve (Mt 11.2830).
Jesus está dizendo que, se aprenderm os com ele e fizermos a obra que ele faz (“tomai sobre vós o meu jugo”), conheceremos descanso. O descanso não é produzido pela inatividade. E produzido pelo trabalho, mas o tipo de trabalho correto, o trabalho que imita aquele que é, em si mesmo, nosso descanso. Descansar é tom ar sobre si o jugo d a graça, em vez do jugo da Lei (o jugo dos fariseus). O caminho do descanso é o caminho da imitação de Cristo, quando procuramos ser como ele, que sempre confiou com perfeição no Pai para todas as coisas. Em Mateus 11.29, Jesus cita Jeremias 6.16: “Assim diz o S e n h o r : Ide às ruas, olhai e perguntai pelos caminhos antigos, 72
DA INTERPRETAÇAO A APLICAÇAO
qual é o bom cam inho, e andai por ele; e achareis descanso para vós”. Descansar é an da r pelas veredas que são boas. O descanso para nossas alm as não resulta da ausência de atividade, mas da presença em fazer aquilo que é bom. Ser misericordioso, até mesmo no sábado, é imitar Jesus. Esse é o motivo de no Novo Testamento não sermos apenas chamados a descansar em um dia. Somos chamados a descansar em uma pessoa. Descansamos no bem do evangelho. Descansamos em Jesus. O sábado não é para ficar na cama descansando de todas as coisas. Nós caminhamos e descansamos no bem do sacrifício de Cristo. Nós o fazemos sabendo que, até mesmo quando falhamos, ele é gentil e humilde. A graça e o perdão dos pecados são o jugo de Jesus. E, quan do descansamos como cristãos, devemos obedecer à ordem de Deus para nos lembrarm os de que fomos salvos da escravidão do pecado. Nosso Egito não é um país concreto do qual fomos resgatados. Nosso Egito é a poderosa escravidão do pecado. Devemos refletir sobre isso quando descansam os em Deus. É isso que significa o sábado. Nós não somos mais chamados a descansar em um dia. Somos chamados a descansar em uma pessoa. Não estou querendo ensinar como exatamente os cristãos deveriam guardar o sábado. Estou apenas dizendo que praticar o descanso do m odo que Deus deseja para nós, seja no sábado, seja em qualquer outro dia, é refletir sobre a bondade de Deus na criação e na salvação. O mandamento para o descanso foi dado coletivamente para a nação de Israel, e acredito que deveria ser um a prática coletiva para a igreja. Para a maioria de nós, é isso que alcançamos nas reuniões dominicais. Reunimosnos coletivamente, como um corpo local de fiéis, para cantar, celebrar, refletir e expressar amor e 73
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
misericórdia uns para com os outros em palavras e obras. Em todas essas coisas, nós im itamos e obedecem os ao nosso Deus trino. Em Mateus 12, Jesus interpretou o sábado corretamente após os fariseus po r m uito tempo o terem interpretad o de forma equivocada. Jesus podia interpretar a palavra corretam ente por ser o objeto da Palavra de Deus. Jesus é verdadeiram ente o Senhor do sábado. Tudo é sobre ele, portanto ele constantemente está explicando o que a Escritura quer dizer, e sua inter pretação está sempre correta. E importante que percebamos isso. Em Mateus 12, Jesus faz muito mais do que corrigir a interpretação dos fariseus. Ele faz muito mais do que interpretar a Escritura corretamente. Ele estabelece a base para a interpretação correta. Como veremos no próximo capítulo, há aqui algumas pistas para seguirmos. E essas pistas não são extraídas de livros acadêmicos. Nós as encontramos ao analisarmos, de forma cuidadosa, como Jesus interpreta a Escritura. Não é tão difícil assim. Não é preciso muita inteligência. Deus usa os tolos para envergonhar os sábios. Os tolos podem fazer diferença. Se alguma vez já se sentiu arrasado pelos brilhantes intelectuais que conhece, se alguma vez já sentiu que deveria estar entre os mais idiotas dos idiotas, você não está sozinho: bem vin do ao clube!”. Milhões de cristãos se sentem assim. A pergunta que faço é: E agora, o que fazer?
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Cinco
DA EU-LOGIA PARA A TEOLOGIA Reconhecendo os obstáculos à interpretação
Para o cristão típico, a habilidade de interpretar a Bíblia do mod o que Jesus fa zi a quase se tornou um a arte perdida. Q u an do qualquer grupo de fiéis confia muito em um grupo relativamente pequeno de intérpretes oficiais, algumas coisas não muito boas podem acontecer. Algumas vezes, os intérpretes realmente são necessários. Podemos ser gratos pelo fato de alguns líderes terem se levantado contra várias heresias na igreja primitiva e porque a campanha agressiva de Martinh o Lutero por uma interpretação correta da Escritura deu início à Reforma. Mas onde quer que os cristãos tenham livre acesso à Bíblia (na época de Lutero eles não tinham, como não têm em muitos lugares no mundo de hoje), a dependência em receber uma interpretação de uma elite de intérpretes pode tornarse rapidamente um fator negativo. Deixeme colocar desta maneira: aprender com os outros é algo que está em plena concordância com a Bíblia, porém aprender somente com os outros não está. O povo de Deus jamais pode negligenciar sua responsabilidade pessoal e fundamental de en ten der a Palavra. Todo fiel se colocará diante de Deus
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
e prestará contas daquilo que interpretou e aplicou. Deus começara com aquilo que cada um de nós sabe sobre o que a Escritura está dizendo , não com aquilo que pensávamos saber pela inter pretação de outros. É de vital im portância que todos os cristãos sejam imitadores de Jesus na interpretação de sua Palavra. Onde quer que os cristãos estejam, eles podem encontrar professores e estudiosos da Bíblia. Não apenas na igreja. Essas pessoas estão na televisão, no rádio e na internet. Estão no twitter e nos blogs, e algumas delas gravam até músicas de rap. A nseiam por nossa atenção em milhares de livros e pilhas de revistas. E seja na imprensa, no rádio ou em áudio, elas nos alcançam nas telas de qualquer aparelho digital que alguém possa imaginar. Não tenho dúvidas de que ensinar e explicar corretamente o evangelho e a Bíblia seja uma coisa boa. Paulo celebrava a pregação do evangelho mesm o quando era feita por motivos pecaminosos (Fp 1.1215). Mas há o lado negativo também. Só porque a Bíblia está sendo ensin ada não significa que a natureza decaída da criação não esteja atuante, mistu rando um mal significativo naqu ilo que é bom. G eralm ente enxergamos cada um desses professores como um especialista, alguém dotado de rara habilidade. Eles não são como nós — assim, como po de remos fazer o que eles fazem? Rodeados por professores, pregadores, oradores e escritores que são mais inteligentes e mais bem preparados do que nós, fica fácil acreditar que o caminho para compreender a Escritura é apenas para os corajosos e estudiosos, para fiéis audaciosos do tipo Indiana Jones, prontos para viajarem pelas cavernas escuras e tenebrosas do hebraico e do grego. A maioria de nós nem mesm o consideraria trilhar esse caminho. Nós 76
DA EU-LOGIA PARA A TEOLO GIA
concluiríamos facilmente que a questão da interpretação da Escritura é tarefa para outros, não pa ra nós. Mas isso não é realmente verdade, não é mesmo? A pergunta Acaso não lestes? é dirigida tanto a nós quanto era àqueles que a ouviram da boca de Jesus. É uma responsabilidade que vem com a salvação. A autorrevelação de Deus está no livro que chamamos de Bíblia. Ele preparou o conteúdo desse livro de modo que pudéssem os entendêlo e nos enviou o Espírito como Ajuda dor. Por causa disso, todos nós podem os utilizar esse livro para aperfeiçoar nosso relacionamento com Deus. Somos chamados a interpre tar a Escritura ao lado de nossos amados teólogos — não atrás deles. Sim, eles a conhecem muito mais do que nós, e sempre estaremos atrás deles em term os de co nh ecim ento mais elaborado, mas, como cristãos, temos de ser como os de Bereia, que “se mostraram muito interessados ao receber a palavra, exam inando diariamente as Escrituras para ver se as coisas eram de fato assim” (At 17.11). Eles não diziam: “Paulo é inteligente e nós somos uns tolos; assim, tudo que ele disser está correto”. Não! Esse pessoal checava as Escrituras de modo que podiam ver se o que ele dizia era verdade. O bom ensino é um dom de Deus para seu povo. M as se fo r assim que você está tendo a maior parte de seu entendim ento bíblico, alguma coisa deve estar errada.
Então, o que devemos pensar a respeito de nós mesmos? Devemos permanecer em relativa ignorância bíblica por toda a vida? Ora, Jesus não disse que precisamos ir para uma escola para entender as Escrituras, então como podem os nos aperfeiçoar no entendim ento da Bíblia?
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COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
UTILIZANDO A ESCRITURA COMO JESUS Uma das características mais interessantes dos discípulos é que eles não eram pessoas instruídas. Não eram nem mesmo os melhores “instrum entos” de que Deus dispunha; no entanto, eles transformaram o mundo. E o fizeram explicando a Palavra de Deus e vendoa surtir efeito. Sei que estou sendo simplista aqui, mas a simplicidade é a questão. Todos os fiéis deveriam ser capazes de interpretar a Bíblia com pouca ou nenhum a educação em teologia. Jesus nos mostrou como fazêlo da forma correta. Ele estabeleceu uma estrutura interpretativa que, se seguida, pode aumentar o nível de entendimento de qualquer pessoa. Que e stru tura interpretativa é essa que ele nos deixou para que a imitássemos? Nesse mesm o dia, dois deles seguiam para um povoado chamado Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios; e iam comentando tudo o que havia acontecido. Enquanto comentavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a acom panhálos; mas os olhos deles estavam como que fechados, de mo do que nã o o reconheceram. Então ele lhes perguntou: Do que estais falando pelo caminho? Eles então pararam tristes. E um deles, chamado Cleopas, respondeu: És tu o único visitante em Jerusalém que não soube das coisas que ali aconteceram nesses últimos dias? Ele lhes perguntou: Quais? E eles responderam : As que dizem respeito a Jesus, o Nazareno, que foi profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele o que traria a redenção a Israel. Além disso, já faz 78
DA EU-LOGIA PARA A TEOLOGIA
três dias que essas coisas aconteceram. Também é verdade que algumas m ulheres do nosso m eio nos e ncheram de espanto; pois foram de madrugada ao sepulcro dele e, não achando o corpo, voltaram, afirm ando ter tido um a visão de anjos que diziam que ele está vivo. Alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e confirmaram o que as mulheres haviam falado, mas não o viram. Então ele lhes disse: Ó tolos, que demorais a crer no coração em tudo que os profetas disseram! Acaso o Cristo não tinha de sofrer essas coisas e entrar na sua glória? E, começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a seu respeito em todas as Escrituras (Lc 24.1327).
Jesus interpretou as Escrituras demonstrando que elas falavam sobre ele, aqui e em qualquer outra passagem. O processo de revelar como a Escritura fala sobre o Filho foi fundamental durante a vida terrena de Jesus. Sua vida e seu ensino demonstravam que a Escritura falava sobre ele. E, com a ajuda do Espírito Santo — o mesmo Espírito Santo que nos ajuda hoje —, os discípulos passaram então a imitar Jesus e a explicar aos outros que as Escrituras falavam sobre ele. Esse fato transformou o m undo. E ainda o está transform ando . A Bíblia é um a gran de flecha lum inosa que aponta d iretamente para Jesus. Todos os fiéis deveriam ler a Bíblia sabendo que Jesus é o cum prim ento das profecias do Antigo Testam ento e a garantia das promessas do Novo Testamento. Toda pág ina da Escritura fala sobre Jesus. • A Bíblia não trata de Abraão ou Davi nem de qualquer outro simples personagem humano. 79
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
• A Bíblia não trata de Israel nem da igreja. • A Bíblia não trata da teologia reform ada ou da arminiana. • A Bíblia não trata do dispensacionalismo ou da teologia da aliança. Não estou dizendo que essas coisas são irrelevantes para o cristianismo. Essas e muitas outras questões secundárias podem contribuir para o nosso entendimento da Escritura e da vida cristã. Mas todas essas questões não são tão importantes quanto o Salvador. Tudo na Bíblia que não falar sobre Jesus serve como um elo em um a cadeia de ideias que leva a Jesus. A Bíblia toda, cada página, fala sobre Jesus. Isso não significa que essas outras questões não tenham importância; significa apenas que sua imp ortância é secundária. Mais uma vez, só para ficar claro: • A Bíblia não trata dos achados arqueológicos • Ou de quem escreveu seus livros • Ou se a hom ossexualidade e a hospitalidade são a questão central da história de Sodom a e Gom orra • Ou se o inferno é um destino perm anen te de forma real ou literal Será que essas questões são importantes? É claro que são. Todas essas questões são importantes. É muito bom ser capaz de rebater argumentos que rejeitam ou deturpam a Palavra de Deus. Mas, em algum momento, nós, como igreja, devemos levar a conversa de volta ao tem a central da Bíblia. E esse tema 80
DA EU-LOGIA PARA A TEO LOG IA
é Jesus. Se as pessoas não estão vendo isso, é porque muitas vezes falhamos em fazêlo. É nossa responsabilidade aprender a interpretar as Escrituras da maneira que Jesus inter pretava, em vez de nos distrairm os com m ilhares de outras coisas. E podemos perfeitamente fazer isso. Podem os fazêlo porque, em Lucas 24, Jesus dá um curso de hermenêutica como nenhum outro, isto é, ele nos ensina a interpretar nossa Bíblia sem n enhu m treinam ento formal. Isso toma tempo e requer esforço, mas vale à pena. Mais importante ainda, Deus espera que façamos isso.
UTILIZANDO A ESCRITURA COMO OS DISCÍPULOS A igreja é cham ada p ara o evangelismo e o discipulado. Ambas as tarefas exigem interpretação e aplicação cuidadosas. Evangelismo. Leia atentamente o livro de Atos. Seja no caso de Pedro (At 2 e 3), Estêvão (At 7), Filipe (At 8) ou Pa ulo (At 13), cada um a das quatro apresentações do evan gelho interpreta a Bíblia como algo que fala de Jesus e é n o rm alm ente seguida de um incentivo para aplicar as Escrituras po r meio do arrependimento. Discipulado. As Epístolas nos ensinam e nos exortam a aplicar as Escrituras, para que vivamos para a glória de Deus. Elas fazem isso por meio da interpretação e da aplicação, sendo cada ensinamento e cada exortação baseados no evangelho, que, por sua vez, é baseado na pessoa e na obra de Jesus. Não deveríamos aprender com esses exemplos? Por que a interpretação da Bíblia deveria ser diferente para nós, no s dias de hoje? Nosso cham ado é o mesmo que o dos primeiros discí pulos: im itar a Jesus através do evangelismo e do discipulado. E fazemos isso interpretan do as Escrituras corretamente e, depois, 81
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
aplicandoas da forma correta. Jesus, o principal assunto das Escrituras e seu principal intérprete, deixounos esse exemplo interpretativo p ara que seguíssemos. Entretanto, minha preocupação é que, quando os cristãos desejam entender o que a Bíblia ensina, procuram qualquer outra coisa que não seja a Bíblia. Procuram livros em vez de procurar O Livro. Navegam os na internet para descobrir o que nosso pregador favorito tem a dizer sobre determ inad a passagem ou assunto. Às vezes me pergunto: Como as pessoas interpretavam e aplicavam a Bíblia antes de existirem os com entários? Com o os antigos pais da igreja sabiam o que dizer e fazer? A resposta mais simples é que eles liam suas Bíblias, meditavam nelas, oravam sobre elas e as aplicavam. Com o tempo, o conhecimento tornouse sabedoria. Com grande paciência e cuidadosa instrução, a informação realmente tornase aplicação. Q uando lem os e estudamos nossas Bíblias, devemos co nstantemente perguntar: “Como essa parte da Escritura aponta para Jesus?”. Você nem sempre enxergará a conexão direta, e não quer forçála para não perder de vista a intenção original do autor. Mas temos de aprender a ler nossas Bíblias de maneira contextuai e cristológica: ler cada passagem à luz do que estava acontecendo quando o autor a escreveu e à luz de quem Cristo é, uma vez que ele cumpriu toda a Escritura. Os fiéis podem e devem ler suas Bíblias com a total confiança de que toda a Escritura fala sobre Jesus. Em várias passagens, de várias maneiras e da perspectiva de diferentes pontos na história, a Bíblia nos diz quem Jesus é, o que ele fez, o que ele fará e o que ele está fazendo:
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DA EU-LOGIA PARA A TEOLOG IA
• Algumas vezes, as Escrituras estão nos preparando para a vinda de Jesus (como em Êxodo, Levítico, Isaías e Jeremias). • Algum as vezes, elas nos mostra m que ele já está aqui (v. Mateus, Marcos, Lucas e João). • Algumas vezes, elas nos explicam a imp ortância de quem ele é e do que ele fez (como em Efésios e Hebreus). • Algumas vezes, elas nos m ostram com o viver po r causa dele (como em Tiago, 1Pedro e ljoão). • E algumas vezes, as Escrituras nos dizem que ele está voltando (como em ITessalonicenses e Apocalipse). Nossa responsabilidade como fiéis é interpretar a Bíblia de forma correta. Essa é também a principal maneira de imitarmos a Deus. Se você começa e permanece com a ideia de que a Bíblia fala sobre Jesus, dificilmente errará. Porém, se você se afasta dessa ideia, correrá o risco de errar.
A EU-LOGIA OU A TEOLOGIA DO EU E OS OBSTÁCULOS À INTERPRETAÇÃO Enquanto lemos a Bíblia, deveríamos nos perguntar o que a passagem diante de nós está dizendo sobre Jesus ou como ela aponta para Jesus. Parece simples, certo? Infelizmente, não é. Dois principais obstáculos — as expectativas falsas e o pecado — colocamse no caminho de nossa habilidade de fazer isso consistentemente. Embora esses dois obstáculos estejam estreitamente relacionad os e com frequên cia entrelaçados, vale a pena discutilos separadamente. Juntos ou separados, eles 83
COMO INTERPRETAR A BÍBLIA
podem ter um enorm e im pacto negativo sobre nossa interpretação e aplicação da Palavra de Deus. Ou, em outras palavras, nossa eulogia se coloca no cam inho de nossa teologia.
A eu-logia, parte 1: expectativas egoístas Os fariseus odiavam Jesus. Eles o odiavam de forma consistente, previsível e colérica. Eles o odiavam po r envergonhálos. Eles o odiavam por reinterpretar suas regras opressoras. Eles o odiavam p or ensinar os outros a interp retar a Escritura corretamente. Eles o odiavam p or sua form a de interp retar as Escrituras e de aplicálas em relação a eles. Jesus interpretava com palavras e obras. Sua explicação normalmente levava a uma ilustração, que resultava em frustração para os fariseus. Os fariseus nunca se saíam bem quando discutiam com Jesus! Eles o odiavam! O mesmo acontece conosco, se formos honestos. Quando Jesus interpreta sua Palavra para nós, podemos odiálo também. Como os fariseus, somos propensos a pensar que nossa interpretação da Palavra de Deus é a interpretação correta da Palavra de Deus. Lemos uma passagem, refletimos sobre ela, fazemos nossa interpretação, fazemos a aplicação com base em nossa interpretação e seguimos em frente. Em muitos casos, essa é uma boa maneira de interagirmos com nossa Bíblia, especialmente com relação aos imperativos — passagens que nos dizem o que fazer e o que não fazer. Mas isso não funciona tão bem quando chegamos a algumas promessas da Escritura. Na verdade, essa é a área em que mais im itamos os fariseus. Lemos umas das muitas promessas maravilhosas na Bíblia, interpretamos essa promessa da maneira que achamos mais 84
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desejável e esperam os qu e Deus aja de acordo com nossa inter pretação. Fazem os com que as promessas signifiquem aquilo que queremos que elas signifiquem e, então, imaginamos que Deus nos apoiará, permitindo que os eventos aconteçam da maneira que pensamos que eles devem acontecer. Tome por exem plo um dos versículos mais apreciados em toda a Escritura (pelo menos no meio que frequento) e aquele que eu mesmo regularmente utilizava de forma correta e de forma incorreta. Romanos 8.28 diz: “Sabemos que Deus faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam, dos que são chamados segundo o seu propósito”. Esse versículo torno use p ara muitas pessoas um cheque em branco da soberania divina, garantindo que tudo será fácil. Quando a dificuldade aparece, rapidamente lembramos uns aos outros: “Deus é soberano”, e ele realmente é. Assim, proferimos a expressão e apontam os p ara R omanos 8.28, mas quantas vezes ficamos com a impressão — e quantas vezes tentamos dar a impressão — de que isso significa que tud o acontecerá de acordo com nossas preferências? Já ouvi Romanos 8.28 ser utilizado para dizer às pessoas que seus filhos irão se arrepe nd er e crer no evangelho. Isso pode até acontecer, mas o versículo não promete isso. Já vi Romanos 8.28 ser utilizado para oferecer conforto de que alguém seria curado, conseguiria casar ou conseguiria o emprego que deseja. Novamente, essas coisas podem vir a acontecer, mas não há n ada em nenh um a passagem da Bíblia e certam ente nada em Rom anos 8.28 que garanta isso! Se tomarmos Romanos 8.28 ou algumas das outras promessas como base (mal interpretada), po dem os agir exatamente
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como os fariseus. Esperam os que Deus se alinhe às nossa inter pretações e faça “com que todas as coisas concorram para o nosso bem”. É claro que o nosso “bem” não é, com frequência, o mesmo que o de Deus. Aquilo que esperamos que aconteça em muitos casos não acontecerá. Por quê? Porque, na verdade, o soberano é Deus. Deus não nos revela as especificidades de sua vontade para a nossa vida. A Bíblia nos dá uma imagem clara do plano e do propósito mais amplos de Deus no evangelho, mas a parte específica que cada um de nós desempenha nesse plano permanece um grande mistério. No entanto, de alguma forma, m uitas vezes colocamos nossa esperança nos detalhes de nossa interpretação, em vez de colocála na bondade e misericórdia de nosso soberano e amado Deus. Quando isso acontece, esperamos ansiosamente que Deus cumpra sua “promessa” em relação a nós —quando, na verdade, aquilo não passa da nossa preferência. Há uma diferença entre o que pedimos em oração e o que Deus prom eteu. A oração m uitas vezes está relacionada com o que queremos que Deus nos dê, mas as promessas se relacionam com o que Deus nos diz que já nos deu em Cristo. Todas essas promessas serão nossas, mas muitas delas não experimentaremos nesta vida. É por isso que temos esperança na próxim a vida. É bem mais fácil para nós depositarmos nossa esperança no que pensamos que a soberania significa em determinada cir cunstância do que no simples fato de que Deus é soberano, fiel e bom. Quando insistimos em ver as promessas de Deus cum pridas nesta vida, de acordo com o tem po da nossa teologia do eu e com os resultados desejados, podem os bem depressa ficar indignados com Deus por elas não se cumprirem. Ficamos irados, 86
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amargos e confusos. Nós nos afastamos de Deus. Começamos a pensar nele como alguém que não é amoroso e imaginam os que, no lugar dele, faríamos um trabalho bem melhor. Por um tempo, o que elefez por nós desaparece de vista, e tud o que conseguimos enxergar é o que ele não fez. Recusam o nos a glorificálo po r q uem ele é e pelo que ele fez e julgam os a Deus com base no falso critério que fabricam os em nossa peca minosidade e limitação. Tornamonos fariseus. A única coisa que nos falta é um m anto com franjas. O que estamos tentando fazer é confinar Deus em nossa interpretação de sua Palavra. Ele deveria fazer o que gostaríamos que ele fizesse. Ele deveria ser quem gostaríamos que ele fosse. Isso o tornaria um Deus bom. Isso provaria que ele é, na verdade, soberano. Mas Deus não é obrigado a se submeter à nossa interpretação de sua Palavra. Ao não agir do mo do com o nós gostaríamos, Deus, de forma misericordiosa, relembranos que ele é soberano, e não nossas interpretações. Deus age de acordo com quem ele é, e não da maneira que queremos. Quando nossas expectativas não são atendidas, devemos crer que, seja o que for que Deus permita que aconteça, essa é a correta interpretação de sua Palavra aplicada àquela situação. A Escritura certamente fala sobre aquilo que Deus prometeu fazer por nós em Jesus, porém, bem mais do que isso, a Escritura fala sobre o próp rio Jesus. Ela fala de quem ele é antes de falar do que ele faz. Nossa falta de fé em Deus se origina da má interpretação das Escrituras. Por exemplo, se quisermos interpretar Romanos 8.28 corretamente, devemos permitir que Romanos 8.29 nos ajude. “Pois os que conheceu por antecipação, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim 87
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de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. O “bem” que Deus faz por nós é estarmos sendo conformados à imagem de Jesus.
Estamos ficand o cada vez mais parecidos co m Jesus atra vés das circunstâncias que Deus permite que aconteçam em nossa vida, mesmo (e talvez especialmente) quando elas não se encaixam em nossas preferências. Isso envolve tran sfo rm ação. Será que você realmente acredita que se transformaria na imagem de Jesus se não tivesse de enfrentar problemas na vida? Você não con tinuaria ex atamente com o é hoje? Por que arriscar o que está bom com uma transformação? Não, com maior frequência do que pensamos, a transformação acontece por meio do sofrimento, não do status quo. N ormalm ente precisamos ser forçados ao tipo de transform ação de que mais necessitamos — o tipo de transformação que mais glorifica a Deus. Ao ler Romanos 8.28, nossas expectativas devem inclinarse para o sofrimento, e não para o resgate do sofrimento. Apesar daquilo que você possa ouvir de alguns mestres que quase sempre conseguem uma ampla audiência, a vida cristã não se constitui de bênçãos perpétuas — ao menos, não de bênçãos perpétuas segundo nós as definimos. Deus é soberano em nos tornar como seu Filho. Este é o caminho da transformação, o caminho para nos aproximarmos mais da imagem de Cristo. A má interpretação vê expectativas egoístas na Escritura, mas a interpretação correta espera que a Escritura descreva e produza um a transform ação centrada em Cristo, m esm o a um grande custo para essas expectativas egoístas que ainda trago comigo. Esse é o caminho da verdadeira bênção.
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A eu-logia, parte 2: atenção seletiva A outra m aneira pela qual a m á interpretação acontece é q uan do escolhemos ler a Bíblia de modo seletivo. Somente lemos aquilo que cremos ser relevante para nós no mom ento. O pec ado tenta nos convencer de que a Bíblia trata de nós e, po rtanto , de que não precisamos nos preocupar com aquelas partes da Bíblia que achamos não ter nada a ver conosco. Se você não pode aplicar essa passagem, negue-a. Esse tipo de pensamento impede que sejamos capazes de entender a Palavra de Deus como deveríamos. Mas essa é mais uma forma da eulogia, e não d a verdadeira teologia. Q uando decido que algumas partes da Bíblia são benéficas para mim e outras não é porque cheguei à beira de um perigoso precipício. Lá embaixo me aguardam pedras afiadas, um a maré baixa e a im inente m orte espiritual, caso eu resolva saltar. A maioria de nós é esperta o suficiente para não saltar, mas estúpida o suficiente para tentar descer. Isto é, nós não negamos a fé saltando do precipício, mas nos arrastam os precipício abaixo em um a interpretação eg ocên trica da Escritura e, antes mesm o que possam os perceber, estaremos muito distantes de Deus. Por muitos anos eu fiz isso. Li a Bíblia de forma egocêntrica, afastandome das melhores partes porque, naquele momento, “elas não me beneficiavam”. Eu era um verdadeiro teólogo da eulogia. M inha leitura limitada da Bíblia me levava a um Deus limitado. M inha leitura era limitada e m inha crença mais limitada ainda. Cheguei até a pensar e a defender que o Deus do Antigo Testamento era um Deus irado e que o Deus do Novo Testamento era um Deus bom. Eu não tinha a menor com preensão de como todas as partes da Bíblia são interligadas.
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Eu liderava pequenos grupos de estudo e utilizava porções pequenas da Bíblia para te ntar ajudar as pessoas a com preender um Deus grande — um Deus que nem mesmo eu conseguia enxergar. M inha leitura bíblica era indolente e na m aioria das vezes egoísta. Eu lia a Bíblia apenas para benefício pessoal. Se tivesse lido mais cedo certas partes do Antigo Testamento, poderia ter aprendido com hom ens como Saul. Em Samuel 15, na triste história do prim eiro rei de Israel, que já discutimos antes neste livro, podemos encontrar outro exemplo de com o não se deve interp retar a Palavra de Deus. Samuel disse a Saul: O S e n h o r me enviou para te ungir rei sobre seu povo Israel. Ouve agora as palavras do S e n h o r . Assim diz o S e n h o r dos Exércitos: Castigarei os amalequitas por terem atacado Israel quando saía do Egito. Vai agora, ataca os amalequitas e os destrói totalmente com tudo o que tiverem. N ada poupes; m atarás hom ens e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos (ISm 15.13).
Deus deu a Saul uma clara responsabilidade, por intermédio de Samuel, que parecia relativamente simples, embora possa soar estranha aos nossos ouvidos hoje (m as esse é um assunto diferente para uma época diferente): destrua Amale que, todo o povo e todos os animais. Saul, um militar que sabia bem como receber e dar ordens, reuniu um exército de 200 mil homens valentes e foi à guerra contra os amalequitas. Eis o registro da Escritura sobre o que aconteceu:
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Então Saul feriu os amalequitas, desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito. E capturou vivo Agague, rei dos amalequitas, mas destruiu todo o povo ao fio da espada. Entretanto, Saul e o povo pou param Agague, como tam bém o m elho r das ovelhas, dos bois e dos anim ais gordos, os cordeiros e tudo o que era bom; eles não os quiseram destruir totalm en te, mas destruíram por completo tudo o que era inútil e des prezível. Então a palavra do S e n h o r veio a Samuel, dizendo: Arrependome de ter posto Saul como rei, pois deixou de me seguir e não ex ecutou as m inhas palavras. Então Samuel ficou indignado e clamou ao S e n h o r a noite toda (ISm 15.711).
Nessa passagem , as duas palavras que obviamente se encontram fora do lugar são vivo e pouparam. Mas o que será que aconteceu aqui? Com o Saul passou de “nada poupes” para “eles não os quiseram destruir totalm ente”? Ele fez exatam ente o oposto do que lhe fora ordenado! Nós sabemos que a razão disso foi o pecado, mas vamos examinar de forma mais detida como o pecado está agindo. Após Saul deixar o campo de batalha, Samuel, o profeta, vai ao seu encontro e Saul imediatamente diz: “Já executei a palavra do S e n h o r ” (ISm 15.13). Mas Deus já havia dito a Samuel que Saul tinha desobedecido à sua ordem. Além disso, Samuel ouvia perfeitam ente bem . Assim, ele diz a Saul: “Que quer dizer este balido de ovelhas que me chega aos ouvidos e o mugido de bois que ouço?” (ISm 15.14). Mesmo assim, Saul conta uma verdade parcial: “Trouxeram dos amalequitas, porque o exército guardou o melhor das ovelhas e dos bois para oferecer ao S e n h o r , teu Deus; porém
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destruímos o resto totalm ente”. Deus tin ha claram ente “con sagrado à destruição” (“consagrem ao Senhor para d estruição”, n v i ) todo homem e animal dos amalequitas, e a tarefa de Saul era cum prir a ordem de Deus, de struindo tudo. Absolutamente tudo. Mas essa passagem demonstra que os próprios ouvidos de Samuel tiveram a prova de que Saul ignorou a ordem de Deus. Para entender como isso é sério, precisamos saber o que “consagrado à destruição” significa para Deus: Entretanto, daquilo que alguém possui, n enh um a coisa consagrada ao S e n h o r será ven dida ou resgatada, seja hom em , seja animal, seja prop riedad e da sua família; toda coisa consagrada será santíssima ao S e n h o r . N enhum hom em que foi consagrado p od erá ser resgatado; certam ente será m orto (Lv 27.28,29).
Da perspectiva de Deus, nada consagrado à destruição pode ser resgatado. Nada pode ser poupado. Seu destino é a destruição, e Deus diz que certamente deverá morrer. O que Saul fez foi muito mais sério do que ele percebeu. Foi uma desobediência a Deus e à sua Lei. Quando Samuel confrontou Saul, os pecados ocultos se tornaram evidentes. Saul quis sugerir que seu principal pecado foi o temor do homem: “Pequei, pois transgredi a ordem do S e n h o r e as tuas palavras; porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz” (ISm 15.24). Mas ficou claro para Samuel (v. versículo 23) que Saul tam bém era culp ado de presunção, rebelião e idolatria. A grande tend a na qual os pecados de Saul se congregavam era a tenda da adoração de si mesmo. Diante de uma ordem inequívoca, Saul confiou em si mesmo e obedeceu a si mesmo, e não a Deus. Ele deu atenção seletiva às claras ordenanças de 92
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Deus. A visão de Saul da Palavra de Deus foi egocêntrica, uma questão da teologia do eu, e não da verdadeira teologia; assim, sua interpretação da Palavra de Deus transformou obediência em conveniência. Para ele o que Deus ordenara tornouse opcional. Ele passou do ter que fazer para o poder fazer. A reinterpretação pela eulogia é um a das principais m an eiras de o pecado afetar nossa interpretação e aplicação da Palavra de Deus. Podemos pensar: “O que esta passagem faz por mim ?”, e não: “O que esta passagem diz sobre Deus?” O pecado diz: “A leitura da Bíblia está relacionada ao fato de como posso crescer como pessoa; assim, voltarei minha atenção para as partes que mais me auxiliam nessa questão”. O pecado diz: “Fixese nos provérbios e salmos que realm ente falem com você”; “fixese nos Evangelhos e nas cartas com os mand am entos que lhe ensinam a viver”; “leia somente aquilo que você possa aplicar”. Assim, ficamos preguiçosos e nos queixamos das partes da Escritura que parecem não ter nenhum a relação com nossa vida. Se a Bíblia não apela aos nossos sentimentos, não ficamos motivados a lê la, mas achamos que está tudo bem. Isso limita nossa habilidade de saber quem Deus é, pois nossa visão de Deus estará diretamente ligada ao que lemos e aplicamos de sua Palavra. Se nossa leitura bíblica for limitada, nossa habilidade de interpretála também será. É dessa maneira que tiramos a Escritura de seu contexto. A Escritura inter preta a Escritura: você deve ler uma parte para entender outra parte. Assim, se não le rm os a Escritura, não interpretarem os a Palavra de Deus corretamente e, se não interpretarm os a Palavra de Deus corretamente, nossa aplicação tam bém pod erá não ser a correta. Quando nossa interpretação e aplicação não forem corretas, nossa visão de Deus também não será correta. 93
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Quando chegamos a esse ponto, a leitura da Palavra de Deus passa a ter tudo a ver com impacto pessoal, e não com relacionamento pessoal. Começamos a crer que a Bíblia fala de um Deus que vem ao encontro de nossas necessidades, e não de um Deus que nos permite ir ao encontro de seu Filho. O pecado coloca o eu acima de Deus, porta nto faz todo o sentido o pecado ten tarn os a buscar a nós mesmos na Palavra de Deus, evitando as partes que nos pareçam irrelevantes. Qual foi a última vez que você leu Levítico, 2Crônicas, Sofonias ou Malaquias? Por que não lê esses livros? Eles nos ensinam coisas maravilhosas sobre Jesus. Se examinarmos a nós mesmos, podemos descobrir que esses livros não nos atraem por acharmos que eles não nos são benéficos. Precisamos parar de colocar o foco sobre nós mesmos quando abordarmos a Palavra de Deus.
E AGORA? APLICAÇÃO A verdade é que, na maioria das páginas da Bíblia, nós, você e eu, não aparecemos. Mas Deus está em cada sílaba delas. Vamos ler a Escritura na sua totalidade, pois nós verdadeiramente cremos que tudo nela foi inspirado por Deus. Cada pa rte dela nos revela a natureza, o caráter e as ações do Deus que adoramos, de modo que não podemos ver nenhuma de suas passagens com o inútil ou irrelevante. Não podem os limitar a Bíblia a algo que seja simplesmente “bom para nós”. A Bíblia é bem mais do que isso. Ela é a própria Palavra de Deus. Uma maneira pela qual podemos lutar contra a tentação de ler a Bíblia egoisticamente é nos comprometendo a ler e a entender cada um de seus livros. Leva tempo. Exige esforço.
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É preciso o auxílio do Espírito. Mas isso mudará sua visão de Deus e de sua Palavra. Vamos aprender a ler as genealogias e as localidades onde as tribos se estabeleceram na Terra Prometida. Vamos ler as profecias obscuras e difíceis, que podem nos parecer tão irrelevantes quanto as galáxias mais distantes. Vamos ler não apenas as passagens que pensamos que podem “nos ajudar”. Vamos ler aquilo que Deus nos deu, sabendo, confiando e crendo que cada passagem é um presente bom e perfeito. Se assim fizermos, esse tipo de leitura afetará nossa interpretação e nossa aplicação da Palavra de Deus. Nós realmente temos tudo que é preciso para interpretar corretamente a Palavra de Deus, pois Jesus, o Verbo de Deus, nos concedeu seu Espírito. Podem os e devemos ter confiança em que a leitura abrangente e profunda da Escritura estimulará nossa capacidade de interpretar corretamente a Palavra de Deus, de modo que possamos aplicála de forma correta. E, quando falharmos — o que certamente acontecerá —, a leitura abrangente e profunda da Escritura ajudará a nos lembrar de que Jesus deu sua vida pelos m om entos em que falhamos com ele. Jesus é o Intérp rete, e todo cristão é um interprete. A imitação está acima da educação. Repito novamente que a educação não é algo ruim. Eu o encorajo a buscála, se você puder. Ela fará uma grande diferença, ajudandoo a interpretar a Escritura. Não estou incentivando um movimento contra as escolas bíblicas dominicais ou os seminários. Se você se sente chamado para esse tipo de instrução, vá! Mas, se não pu de r ir, você também pode crescer na leitura, interpretação e aplicação corretas da Palavra de Deus, pois, se é cristão, não há nada que o im peça de fazêlo.
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Quando estiver lendo, lembrese, antes de tudo, de que Jesus é o principal intérprete da Palavra de Deus. Assim, siga o exemplo de Jesus, lendo claramente a Bíblia no conhecim ento de que tudo nela é sobre ele. Ele é o assunto, o objeto da Escritura. Podem os fazer isso. Na verdade, devem os fazer isso, se quisermos ser bons discípulos de Jesus. É difícil, mas não im possível. Deus n os deu seu Espírito para nos guiar em to da verdade. Conhecemos a estrutura das Escrituras porque conhecemos seu Objeto e Intérprete. Portanto, vá com Deus!
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