DOUTRINA E PRÁTICA DO JEJUM SEGUNDO A BÍBLIA SAGRADA
PASTOR ALMIR ETELVINO DOS SANTOS
APRESENTAÇÃO Sempre tive minhas dúvidas com respeito à prática do jejum como doutrina cristã, todavia nunca tomei uma posição definida sobre a matéria, seja contra ou pró, pois nunca, também, me dei ao caso de estudá-la à luz da Palavra de Deus. Apesar de certa feita ter participado de um jejum promovido pela Igreja da qual eu era membro, considerava-o de pouca importância para a minha vida espiritual e, por isso, mantinha-me indiferente em relação à doutrina. Certo dia, ao terminar um estudo que vínhamos fazendo sobre a Oração, na Igreja em que eu era Pastor, fui interpelado por um irmão, perguntando-me se o crente deve ou não jejuar. Como não havia mais tempo para responder à pergunta, e também porque eu não estava preparado para dar uma resposta com fundamentos bíblicos, prometi aquele irmão e também à Igreja que numa próxima oportunidade falaria sobre o assunto. Foi aí que eu senti a responsabilidade pesar sobre mim com respeito à doutrina e prática do jejum. Manter uma atitude indiferente sobre a minha posição, relacionada comigo mesmo, seria uma coisa, porém ministrar o assunto à Igreja, seria outra coisa bem diferente. Eu não podia, de forma alguma, dar uma resposta incerta para o povo que Deus confiou em minhas mãos. Eu não poderia responder que isso depende do pensamento particular de cada um; quem quer jejuar, jejue e quem não quer, não jejue. Não, eu precisaria, como pastor que vela pelas suas ovelhas, ministrar aquilo que tenha realmente fundamento na Palavra de Deus, aquilo que a Bíblia ensina. Eu não sou ministro das minhas idéias, mas ministro da Palavra de Deus. Pensei nas palavras de Paulo: "Porque se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?" (I Cor. 14:8). Eu tinha a grande responsabilidade e dever de dar o sonido certo. Diante do que, pus-me a pesquisar o assunto dentro da Bíblia Sagrada. Se temos a Bíblia como nossa única regra de fé e prática, era a ela que eu deveria recorrer em busca da resposta para a pergunta sobre a questão do jejum como prática cristã ou não. Não me preocupei com o que os outros pensam ou ensinam. Eu estava interessado tão-somente em saber o que a Bíblia Sagrada ensina. A jornada foi árdua, demandou muita pesquisa, muito tempo e muita Oração, mas, graças a Deus, fui bem sucedido e muito abençoado. Agradeço a pergunta feita por aquele irmão, pois eu fui o primeiro a receber as bênçãos do estudo feito. Descobri o que a Bíblia realmente ensina sobre a prática religiosa do jejum. As minhas dúvidas se dissiparam e pude, então, tomar a minha posição concreta e definida sobre a matéria, que pode ser resumida na seguinte afirmação: O jejum não é doutrina e nem prática cristã. Levei o estudo à Igreja, senti que todos foram abençoados e, por isso me dei por satisfeito, mais uma vez, em face do esforço dispendido. Posteriormente, uma outra idéia surgiu-me: Aproveitar os materiais que tinha em mãos, ampliá-los com estudos mais pormenorizados e transformá-los em um livro, para partilhar com outros irmãos os resultados e bênçãos desse estudo. Essa idéia foi reforçada pelo fato de não encontrarmos em nossa literatura quase nada sobre a matéria e de estarmos atravessando uma época onde se faz necessário uma melhor definição doutrinária, dos preceitos cristãos, em face de tantas heresias que estão aparecendo no meio do cristianismo. E neste mister, o jejum é matéria atual. Assim fiz, e aí está o livro: DOUTRINA E PRÁTICA DO JEJUM - Segundo a Bíblia Sagrada. Portanto, caro leitor, este livro que está em suas mãos é o fruto de um sincero estudo da matéria, feito com oração e total dependência de Deus, com o único objetivo de
ser útil e ajudar aqueles que sinceramente se interessam por melhor conhecer os ensinos da Palavra de Deus. A não ser essa, não tenho outra pretensão. Se de qualquer forma tiver sido útil aqueles que o lerem, dou-me mais uma vez por compensado e grato a Deus pela sua direção e inspiração. Pr. Almir E. dos Santos
INTRODUÇÃO GERAL Para se estudar uma determinada matéria doutrinária nas páginas da Bíblia Sagrada, não basta apenas procurar-se algumas passagens bíblicas relacionadas de alguma forma com a doutrina que se quer estudar, fazendo-se uma simples e rápida leitura das mesmas, e pronto. Além de precisarmos ler e estudar as passagens e a doutrina à luz de todas as suas implicações doutrinárias e teológicas, precisamos, também, levar em consideração certos fatores colaterais, sem o que não estaremos em condições de alcançar um entendimento claro e satisfatório do ponto doutrinário em estudo. No caso do jejum, matéria doutrinária que passaremos a estudar neste livro, temos inicialmente quatro fatores fundamentais que não podem ser olvidados sem corrermos o risco de uma interpretação errada sobre a doutrina do jejum como prática religiosa, que são os seguintes: 1. Época: Precisamos saber em que época da história bíblica, ou da história de Deus com o seu povo, foi o jejum instituído como prática religiosa para o povo israelita. 2. Objetivo: Cada doutrina e prática religiosa instituída por Deus têm ou tiveram um objetivo na sua aplicação prática. Qual o objetivo do Jejum? Com que finalidade o Senhor Deus o instituiu? São perguntas que precisamos responder, e a Bíblia Sagrada nos dá a resposta. 3. Vigência de jejum: Até quando vigorou o jejum como prática religiosa dentro do próprio plano de Deus? Não é fato estranho de que muitas doutrinas e práticas bíblicas tiveram a sua vigência e atuação dentro de uma época determinada, vindo, depois disto, a se tornar sem qualquer finalidade ou significado espiritual. 4. Períodos bíblicos: Também é fato conhecido que a história bíblica, ou melhor dizendo, a história da revelação de Deus para com o seu povo passou por diversos períodos fundamentais, a que chamamos de "Dispensações", claramente definidos na Bíblia Sagrada, e que são de real importância nos estudos das doutrinas religiosas. Para o nosso caso, isto é, o estudo da doutrina e prática do jejum, vamos destacar três deles: 1) Dispensação da Graça de Deus: Chamamos assim ao período que vai desde a queda do homem até a implantação da Lei. Poderíamos dizer que vai desde a criação do mundo até a dádiva da Lei, porque foi pela graça que o Senhor criou este mundo com tudo que nele há. Nesse período, encontramos o Senhor Deus tendo uma relação de certa intimidade com o seu povo, que era constituído de algumas famílias que se destacavam pela fé e temor a Deus, cujo povo formava, por assim dizer, o "embrião" do futuro Israel. Foi nesse período que o Senhor, pela graça, salvou a Noé e sua família do dilúvio (Gen. 6:8). Nesse período, o Senhor separou a Abraão e o abençoou, por sua graça, colocando-o como pai da fé (Gen. 12:1 a 3 e 17:1 a 8). Foi ainda nesse período que o Senhor, pela graça, tirou o seu povo do Egito, com mão forte e poderosa, levando-o são e salvo até o deserto (Ex. 12:37 a 18:27). 2) Dispensação da Lei: É o período compreendido desde a implantação da Lei, no deserto, até a morte de Jesus Cristo. Observem de início que esse período não termina com o nascimento de Jesus Cristo, como pode parecer, mas com a sua morte expiatória na cruz, quando a vigência da Lei foi consumada. Nesse período, o da Dispensação da Lei, o Senhor Deus passou a atuar de uma forma já bastante diferente daquela do período anterior. Através de uma religião definida em suas doutrinas e princípios, caracterizada por uma forma cerimonial simbólica, o povo passou a conhecer melhor o seu Deus, principalmente no que diz respeito a sua Santidade, Justiça, Amor, Poder, Glória e outros aspectos da manifestação divina. O povo foi levado,
conseqüentemente, a ter consciência do seu estado de pecado e desobediência, sentindo as terríveis conseqüências em sua própria carne. Foi nesse período que o povo aprendeu sobre a necessidade de um sacrifício pelo pecado, preparando-se, dessa forma, para a vinda do Cristo prometido. 3) Dispensação da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo: Esse é o terceiro período que queremos salientar em nosso estudo. É o período em que estamos vivendo agora. É bastante semelhante ao primeiro, a Dispensação da Graça de Deus, quando temos o Senhor atuando em nossas vidas numa relação íntima, na qual ele nos chama de filhos e nós o chamamos de Pai: Aba, Pai (Rom. 8:15). Porém, é um período totalmente diferente do anterior, a Dispensação da Lei. A relação do homem com Deus ou de Deus com o homem efetua-se através de experiências concretas e espirituais. A religião é fundamentada em exercícios espirituais, baseados na fé em Jesus Cristo e no poder do seu sangue remidor, e não em atividades simbólicas, figurativas, como no período da Lei. A salvação é oferecida gratuitamente a todos, indistintamente, pela atuação constante do Espírito Santo,mediante o sacrifício eterno e todo suficiente de Jesus Cristo, empreendido, de uma vez por todas, na cruz do Calvário. Ao lado dos fatores expostos acima, ainda temos mais um que não deixa de ter a sua importância no caso presente, que é a divisão lógica da Bíblia Sagrada: Velho Testamento e Novo Testamento. Sempre que estudarmos um ponto doutrinário qualquer, esse fator não pode ser esquecido. Não estamos querendo insinuar que doutrinas registradas no Velho Testamento tenham perdido a sua validade para o Novo Testamento, mas sim, que não podemos aplicar práticas doutrinárias do Velho Testamento sem que as mesmas sejam estudadas à luz do contexto do Novo Testamento. Se assim não fizermos, correremos o perigo de criar uma miscelânea doutrinária com conseqüências desastrosas para a pureza das doutrinas cristãs. Por esse motivo, o nosso estudo vai ser feito em duas partes distintas: "Doutrina e Prática do Jejum no Velho Testamento" e "Doutrina e Prática do Jejum no Novo Testamento". Finalmente, informamos que, apesar do nosso estudo prender-se fundamentalmente à Bíblia Sagrada, teremos uma terceira parte, que é um Apêndice, onde iremos considerar rapidamente alguns fatores relacionados com a prática do jejum nos dias atuais, nas igrejas evangélicas, ou em algumas igrejas evangélicas, o que também achamos de uma certa importância para que algumas dúvidas e pormenores sejam elucidados em torno da matéria. Assim, como, no primeiro capítulo, faremos um estudo geral sobre o jejum a fim de que tenhamos bases para entrarmos no estudo da matéria bíblica propriamente dita.
PRIMEIRA PARTE
DOUTRINA E PRÁTICA DO JEJUM NO VELHO TESTAMENTO
CAPÍTULO I O JEJUM Conforme já explicamos na Introdução Geral, precisamos dividir o estudo em duas partes fundamentais: Doutrina e Prática do Jejum no Velho Testamento e Doutrina e Prática do Jejum no Novo Testamento. Assim fazendo, teremos de começar, conseqüentemente, pelo estudo no Velho Testamento, isso porque a base fundamental da doutrina e prática do jejum se encontra nessa parte da Bíblia. O jejum, como prática religiosa do antigo povo de Deus, tem a sua origem no Velho Testamento, como veremos adiante, e é no Velho Testamento que vamos encontrar todas as suas implicações doutrinárias. Não será possível encontrarmos respostas concludentes para as nossas indagações acerca do jejum, como prática religiosa, começando por outra parte da Bíblia, ou seja, pelo Novo Testamento. Para atuarmos dentro de um sistema racional e lógico, e entendermos perfeitamente as verdades doutrinárias do jejum, precisamos voltar às suas raízes, que estão no Velho Testamento. Antes, porém, de entrarmos propriamente no estudo bíblico da matéria, vamos discorrer um pouco sobre o jejum no seu sentido geral, o que nos será útil, também, dentro do escopo deste estudo.
UMA DEFINIÇÃO DE JEJUM Jejum, conforme definem os dicionários, é: "Abstinência parcial ou total de alimentos em certos dias, por penitência, prescrição religiosas ou outros motivos; abstenção; estado de quem não come desde o dia anterior.
NATUREZAS DO JEJUM O jejum pode ser de natureza voluntária ou involuntária, como passaremos a expor em seguida: 1) Jejum de natureza voluntária: É aquele que é praticado voluntariamente pela pessoa, embora muitas vezes em caráter coletivo e oficial, podendo-se distinguir, dentro desse aspecto, motivos ocasionadores diferentes: a) Exibicionismo: Praticado especialmente por profissionais, em demonstrações públicas, geralmente com o objetivo principal de ganhar dinheiro e fama. b) Religioso: Praticado por pessoas de determinadas crenças religiosas, com o objetivo principal de prestar um sacrifício pessoal à Divindade, para alcançar um favor qualquer ou perdão dos seus pecados. 2) Jejum de natureza involuntária: É o jejum motivado por circunstâncias alheias à vontade do praticante. Destacamos dentro desse aspecto dois fatores ocasionadores: a) Falta de apetite: Motivada por algum fenômeno fisiológico ou psicológico na vida do indivíduo, tais como enfermidade, tristeza, tensão nervosa e outros mais. b) Falia de alimento: Decorrente de fatores diversos, impedindo a pessoa de ter o alimento para alimentar-se.
No decorrer do nosso estudo, os leitores observarão que todas essas formas e aspectos do jejum são encontrados nas páginas da Bíblia Sagrada e que, portanto, precisaremos ter a faculdade necessária para distinguir uma coisa da outra.
O JEJUM RELIGIOSO Tratando-se do jejum como prática religiosa, na forma em que o encontramos na Bíblia Sagrada, podemos fazer a seguinte classificação: 1) Jejum oficial: Chamamos assim ao jejum que era praticado normal e oficialmente pelo povo de Deus, por prescrições legais, numa determinada época do ano. É o que encontramos em Lev. 23:26 a 28 e Zac. 8:19. 2) Jejum ocasional: Referimo-nos ao jejum que era praticado ocasionalmente pelo povo, quando de uma necessidade especial, geralmente proclamado pelo rei ou por um líder do povo. Exemplos desse jejum temos em Esd. 8:21, Neem. 9:1, Est. 4:16 e Jon. 3:5. 3) Jejum particular: Nesta forma, arrolamos os jejuns que eram praticados por iniciativa particular de uma pessoa, família ou grupo de pessoas, que, por um motivo especial qualquer, sentia ou sentiam a necessidade de buscar a Deus, fazendo-os dessa forma para demonstrar arrependimento, humilhação e sacrifício. São enquadrados nessa forma os jejuns registrados em II Sam. 12:16, Est. 4:3 e At. 10:30. Esses são alguns dos aspectos mais importantes relacionados com o jejum e que não poderiam deixar de ser comentados, uma vez que tais conhecimentos, embora pareçam sem muita importância, nos darão um lastro indispensável ao presente estudo. As referências bíblicas citadas são apenas algumas, como exemplos, dentre as muitas que encontramos em toda a Bíblia, sendo que outras delas serão comentadas minuciosamente nos capítulos seguintes.
CAPÍTULO II A INSTITUIÇÃO DIVINA DO JEJUM Pelas considerações preliminares do capítulo anterior, evidencia-se que o jejum não tem apenas uma finalidade religiosa, mas muitos outros fatores podem contribuir para a sua existência ou prática. Mas, por outro lado, é indiscutível a existência do jejum como prática religiosa entre o povo de Deus, conforme se pode observar na Bíblia Sagrada, principalmente no Velho Testamento. Também podemos deduzir, através dos textos bíblicos, que o preceito de jejum, como prática religiosa para o povo israelita, obedeceu a uma instituição feita pelo próprio Deus. Não foi algo criado ou imitado pelo povo à revelia da vontade de Deus. Tendo o jejum, portanto, obedecido a uma instituição do Senhor, obviamente o fato teve um começo institucional e isso deve ter ficado registrado nas páginas da Bíblia Sagrada. Por certo que o passo mais importante, agora, neste início do estudo, é descobrirmos os registros da instituição divina do jejum nas páginas da Bíblia Sagrada, a fim de sabermos quando se deu o fato, isto é, em que época da história bíblica, ou da história de Deus com o seu povo, foi o jejum instituído como prática religiosa. Essa foi uma das tarefas mais difíceis que enfrentamos em nossas pesquisas bíblicas sobre a matéria, porém a mais venturosa em face das importantíssimas
descobertas que fizemos e que nos trouxeram base fundamental para todo o estudo realizado. 1.
Não encontramos o Jejum na "Dispensação da Graça de Deus"
Naquele período inicial da história bíblica, que vai da queda do homem até a implantação da Lei, no Sinai, a que denominamos de "Dispensação da Graça de Deus", não existem quaisquer sinais ou traços da prática religiosa do jejum entre os servos de Deus. Encontramos, nessa parte da história, os registros da vida e atividades espirituais de grandes homens de Deus, tais como Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José e tantos outros, os quais alcançaram os títulos de homens de fé, homens de Deus, heróis da fé, e que a Bíblia afirma que foram homens que agradaram e procuraram agradar a Deus. Encontramos os registros das atividades do povo israelita, desde a sua entrada no Egito até a sua saída em ) direção à "terra prometida", com as suas lutas, os seus clamores, sua devoção espiritual. Porém, nada encontramos sobre a prática do jejum. Não cremos que tenha havido aí uma omissão dos registros bíblicos, mas sim que o jejum não era realmente praticado naquela época pelos servos de Deus, como preceito religioso. E essa verdade è bastante sintomática dentro do escopo do nosso estudo. 2.
"Jejum" ou "Jejuar" não é encontrado em iodo o Pentateuco
Também não encontramos em todo o Pentateuco, os primeiros cinco livros da Bíblia, o substantivo "jejum" ou o verbo "jejuar". Sabemos que nessa parte da Bíblia estão registrados praticamente todos os preceitos doutrinários do Velho Testamento, sendo um tanto curioso não encontrarmos algo neles ligado diretamente ao jejum Parece-nos que a primeira vez que encontramos o registro de um jejum voluntário, com alguma tendência religiosa, foi no caso de Davi, registrado em II Sam. 12:22. 3.
O Dia do Jejum
Em nossas buscas através da Bíblia Sagrada para encontrarmos algo relacionado com a instituição do jejum, encontramos uma "pista" registrada pelo profeta Jeremias, em que ele se refere ao "Dia do jejum": "Entra pois tu, e lê pelo rolo que escreveste da minha boca as palavras do Senhor, no dia do jejum" (Jer. 36:6) A última expressão do texto citado, "no dia do jejum", é a que consideramos como peça importantíssima em nossa pesquisa. Essa escritura nos informa de que, entre o povo de Deus, havia um dia conhecido como "Dia do Jejum". Agora só precisamos pesquisar os relatos bíblicos para encontrarmos esse dia que, conseqüentemente, estará relacionado com a instituição divina do jejum. Recorrendo às referências bíblicas sobre o texto acima, encontramos a indicação de Lev. 23:26-32, onde lemos: "Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Mas aos dez deste mês sétimo será o dia da expiação: tereis santa convocação, e afligireis as vossas almas; e oferecereis oferta queimada ao Senhor. E naquele mesmo dia nenhuma obra fareis, porque é o dia da expiação, para fazer expiação por vós perante o Senhor vosso Deus. Porque toda a alma, que naquele mesmo dia se não afligir, será extirpada do seu povo. Também toda a alma que naquele mesmo dia fizer alguma obra, aquela alma eu destruirei do meio do seu povo. Nenhuma obra fareis: Estatuto perpétuo é pelas vossas gerações em todas as
vossas habitações. Sábado de descanso vos será; então afligireis as vossas almas: aos nove do mês à tarde, duma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado". Esse texto é uma repetição da lei instituída em Lev. 16:29-34, denominada "A festa anual das expiações", cuja primeira parte diz o seguinte: "E isto vos será por estatuto perpétuo: no sétimo mês, aos dez do mês, afligireis as vossas almas, e nenhuma obra fareis, nem o natural nem o estrangeiro que peregrina entre vós. Porque naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos: e sereis purificados de todos os vossos pecados perante o Senhor. É um sábado de descanso para vós, e afligireis as vossas almas: Isto é estatuto perpétuo" (Lev. 16:29-31). Estabelecendo-se dessa forma a ligação dos fatos bíblicos, deduzimos que o "Dia do Jejum" referido pelo profeta Jeremias, no texto supracitado, é' o "Dia da Expiação" instituído em Lev. 16:29-34 e 23:26, conforme registramos acima. O jejum, embora não apareça no texto, está identificado na frase: "afligireis as vossas almas", repetida algumas vezes nos referidos textos (Lev. 16:29 e 31; 23:27,29 e 32). Essa identificação encontra apoio em Is. 58:3 e 5, onde jejuar está, por duas vezes, relacionado com o "afligir a alma": "... Por que jejuamos e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, almas, e tu não sabes?" "Seria este o jejum que eu escolheria: que o homem um dia aflija a sua alma ...?" Diante dos fatos apresentados acima, não resta dúvida de que realmente encontramos resposta para a nossa indagação sobre a época em que o jejum foi instituído por Deus como prática religiosa para o seu povo. O Senhor o instituiu como parte integrante de um cerimonial anual denominado de "O dia da expiação". Esse fato aconteceu quando o povo israelita estava acampado no deserto, a caminho da "terra prometida", já em plena "Dispensação da Lei". Nada mais encontramos na Bíblia Sagrada sobre a instituição inicial do jejum e, como afirma John Davis, "é este o único jejum ordenado por lei". (Dic. da Bíblia — pág. 215).
CAPÍTULO III A FINALIDADE DO JEJUM O valor de um determinado ponto doutrinário não está tão-somente na sua simples prática e nem no sentido ou objetivo que cada um queira dar, segundo a sua maneira de pensar, ou na aplicação que essa ou aquela igreja esteja fazendo, mas sim em que seja praticado com a mesma aplicação e objetivo dado originalmente pelo próprio Deus, quando a doutrina ou prática religiosa foi instituída. Cada ponto doutrinário ou prática religiosa instituídos por Deus tem uma finalidade definida, e só tem valor espiritual quando é ministrado dentro da sua original finalidade. Observamos hoje que muitas igrejas têm mudado o sentido e a aplicação espiritual de algumas doutrinas fundamentais do Evangelho, em prejuízo da própria fé cristã. É o que tem acontecido com as doutrinas do batismo e da Ceia, principalmente, que, embora estejam sendo praticadas, muitos grupos trocaram as suas finalidades originais, dando outras finalidades sem qualquer apoio nas escrituras, estando, algumas delas, bastante distanciadas dos ensinos do Novo Testamento. Repetimos, não há qualquer valor em se
praticar uma determinada doutrina com a sua finalidade trocada, ou até sem qualquer finalidade definida como acontece muita vez. Não devemos pensar que Deus vai se sujeitar às nossas idéias e caprichos uma vez que estamos em desarmonia com os seus sagrados ensinos. Por isso, nunca devemos e nem podemos perder de vista os ensinos fundamentais da Palavra de Deus, sobre uma prática doutrinária, para não corrermos o perigo de elaboramos em erros, e até mesmo em heresias, nos afastando dos ensinos do Senhor. Por esse motivo, vamos, no presente capítulo, através de um exame cuidadoso dos textos sagrados, descobrir qual a finalidade que Deus teve ao instituir o jejum como prática religiosa. Conforme já demonstramos, o jejum foi instituído por Deus como parte integrante de um cerimonial religioso denominado de "O dia anual de expiação". Portanto, o caminho certo a seguir agora em nossa pesquisa é fazermos um exame nos textos relacionados com o "dia da expiação", e procurarmos os elementos necessários e fundamentais que nos esclareçam sobre a finalidade do jejum. 1. O Dia da Expiação O Dia da Expiação era uma das solenidades mais importantes para o povo israelita. Era o dia anual de expiação dos pecados de todo o povo, numa solenidade cheia de um cerimonial ritualista, conforme veremos mais adiante. Era comemorado no dia dez do mês sétimo, conforme os registros que encontramos em Lev. 16:29, 23:27 e Núm. 29:7. O mês sétimo, dos hebreus, era o mês chamado Etanim ou Tirsi, correspondendo mais ou menos ao mês de outubro do nosso calendário atual. Nesse mês, aconteciam três grandes solenidades religiosas do povo hebreu: 1) A Festa das Trombetas, no dia primeiro do mês, que marcava o início do ano civil (Lev. 23:23-25 e Núm. 29:1-6). 2) O Dia da Expiação, realizado no dia dez (Lev. 16:29-34, 23:26-32 e Núm. 29:7). 3) A Festa dos Tabernáculos, também conhecida como Festa das Colheitas, realizada no dia quinze do mês, prolongando-se até o dia vinte e dois (Lev. 23:33-34). O Dia da Expiação; que é o que nos interessa no momento para o nosso estudo, consistia da paralisação total de todas as atividades entre o povo, quando então havia uma "santa convocação" em que o povo se reunia para o cerimonial da expiação de pecados através de jejum e oferecimentos de ofertas e sacrifícios de animais. Em Núm. 29:7-11, temos a relação das vítimas que eram oferecidas no ritual, bem como as instruções de Deus sobre a maneira e ordem em que as vítimas deveriam ser sacrificadas. Nesse dia, o Sumo Sacerdote oferecia sacrifícios de expiação pelos pecados seus e dos demais sacerdotes, pelo povo e pelo santuário, também. (Lev. 16:29-34). 2. Jejum e Expiação O jejum, como já observamos, foi instituído dentro desse cerimonial de expiação de pecados. E isso não foi por mera coincidência ou sem qualquer planejamento da parte de Deus. Por certo que tudo estava sendo traçado já dentro de um plano preestabelecido pelo Senhor. Nesse plano, relacionado com o cerimonial de expiação de pecados, Deus colocou o jejum como parte integrante. Não era o jejum a única peça do cerimonial e nem a mais importante, mas sim fazia parte de um todo composto de outras partes cerimoniais, tais como ofertas de manjares e sacrifícios de animais.
Diante dos esclarecimentos acima, não resta dúvida de que o jejum foi instituído por Deus com a finalidade de um sacrifício pessoal para expiação de pecados, pecados , segundo o ritual religioso do Velho Testamento. Essa finalidade está bem clara, incontestavelmente clara, nos termos dos próprios textos, como se pode observar: "... afligireis as vossas almas... almas... porque naquele dia se fará expiação por vós, vós, para purificar-vos; e sereis purificados de todos os vossos pecados". pecados". "E naquele dia nenhuma obra fareis, porque é o dia da expiação, para fazer expiação por vós perante o Senhor vosso Deus" (Lev. 16:29, 30 e 23:28). O jejum foi com essa finalidade introduzido por Deus no cerimonial da expiação para levar o pecador a sentir, na sua própria carne, as torturas do pecado. O pecador era, por esse meio, levado a olhar não somente para a vítima que estava imolada sobre o altar do sacrifício, mas, também, para dentro de si mesmo. Aliás, vemos aí um simbolismo da mensagem evangélica: O pecador é levado a olhar para dentro de si mesmo, num exame introspectivo, para ver e sentir os efeitos dos seus pecados, para, então, olhar para Jesus Cristo, "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". Afora desse valor simbólico, consignado pelo próprio Deus, como simbólicos são os demais preceitos sacrificais do Velho Testamento, não encontramos outro que possa ser aplicado ao jejum em toda a Bíblia Sagrada.
CAPÍTULO IV A OBSERVÂNCIA DO JEJUM NO VELHO TESTAMENTO A instituição do jejum, como preceito religioso para os israelitas, se deu quando o povo ainda estava acampado no deserto, conforme já demonstramos no capítulo segundo. Isso aconteceu mais ou menos dois mil anos antes da vinda de Jesus Cristo. Através dos tempos, algumas alterações foram aplicadas à prática do jejum, principalmente no que diz respeito ao seu sistema cerimonial, como se pode deduzir pelo estudo da matéria no Velho Testamento. Não sabe mos quando e nem como as modificações foram entrando, e nem se essas alterações sempre obedeceram a uma instrução Divina. Parece-nos que o próprio povo, principalmente os seus líderes religiosos é que foram arbitrariamente ditando e aplicando as alterações que são encontradas na prática do jejum. Neste capítulo, que tem como finalidade complementar o anterior vamos discorrer sobre as principais alterações que foram aplicadas à doutrina do jejum através dos tempos, examinando-se, por conseguinte, alguns textos bíblicos. 1. Época O jejum foi instituído por Deus como uma cerimônia anual, para ser praticado no dia dez do mês sétimo (Lev. 16:29, 23:27 e Núm. 29:7). Todavia, esse período foi alterado e o jejum passou a ser realizado também noutras épocas e períodos. Isto é, além do jejum oficial, instituído por Deus, que era observado no "dia da expiação", outros jejuns foram oficializados entre o povo.
Por exemplo, nos dias do profeta Zacarias foram oficializados mais quatro jejuns anuais (Zac. 8:19), em comemoração a certas datas históricas de Israel: 1) No quarto mês, em memória do cativeiro (II Reis 25:3 e Jr. 52:6 e 7). 2) No quinto mês, pela destruição do Templo (II Reis 25:8-9 e Jer. 52:12-13). 3) No sétimo mês, pelo assassínio de Gedalias e dos judeus que com ele estavam (II Reis 25:25 e Jer. 41:1-2). 4) No décimo mês, em memória dos princípios das calamidades com o cerco de Jerusalém (II Reis 25:1 e Jr. 52:4). Além desses jejuns já com suas épocas determinadas e oficializadas, encontramos jejuns ocasionais, que eram proclamados em casos de calamidades públicas ou quando o povo se achava em grande falta com Deus. Alinham-se aqui os jejuns registrados em Jer. 36:9, apregoados em virtude do furor de Deus por causa do pecado do povo, quando então deveria ser lido o livro por Jeremias (Jer. 36:10); Joel 1:14, apregoado quando o povo estava passando por problemas de calamidades pública (Joel 1:1-13); Jonas 3:6-8, proclamado pelo rei de Nínive, quando da eminência da destruição anunciada pelo profeta Jonas; Esd. 8:21-23, apregoado por Esdras antes da viagem de retorno a Jerusalém. Como esses casos citados, existem muitos outros através de todo o Velho Testamento, demonstrando dessa forma que realmente houve alterações sobre a época inicial da comemoração do jejum. 2. Cerimonial A comemoração compreendia um cerimonial que consistia da paralisação total de todas as atividades, jejum, ofertas e sacrifícios de animais. Era um dia de feriado nacional, um dia Santo, em que todo o povo era convocado: "tereis santa convocação" (Lev. 16:2931 e 23:27, 30-32). Também todo o cerimonial era oficiado pelo Sumo Sacerdote (Lev. 16:32-33). Muito embora o jejum tenha sido instituído dentro de um cerimonial com todas essas formalidades, encontramos, todavia, a prática de jejuns, no Velho Testamento, com essas formas cerimoniais completamente alteradas. Observamos que o jejum, em muitos casos, deixou de ser um ajuntamento solene para todo o povo, deixou de ser um dia de "santa convocação", passando a ser praticado particularmente por pessoas ou grupo de pessoas. Também foi desligado das demais partes cerimoniais, sendo observado independentemente, isto é, sem as ofertas e sacrifícios de animais. Afora os jejuns oficiais, os demais não contavam com a liderança oficial do Sumo Sacerdote. Assim é, que encontramos em muitos lugares no Velho Testamento os registros dos chamados jejuns particulares, destacando-se dentre eles os seguintes: O jejum de Davi, quando suplicava a Deus pela vida de seu filho, registrado em II Sam. 12:16, que, aliás, é o primeiro caso de jejuns particular registrado no V. Testamento, como prática religiosa. Temos o jejum solicitado pela rainha Ester, diante da calamidade em que foi lançado o povo judeu no reino de Assuero (Est. 4:16-17). O jejum de Daniel, na sua intercessão particular pelo povo (Dan. 9:3). Também nos Salmos encontramos os registros de alguns desses jejuns particulares (Sal. 35:13; 69:10 e 109:24). 3. A Finalidade do Jejum não foi Alterada Embora algumas alterações tenham sido introduzidas na prática do jejum, conforme já discutimos, a sua finalidade foi mantida, isto é, sejam nos jejuns ocasionais como nos particulares ou nos oficiais, a finalidade era sempre a prestação de um sacrifício
a Deus em busca do perdão dos seus pecados, apesar de muitas vezes não estar sendo feito com sinceridade, sendo por isso condenado pelo Senhor (Is. 29:13). Quando olhamos superficialmente para algumas práticas voluntárias e particulares de jejum, pode parecer-nos que isso não é verdade e que tenha havido alterações também no que diz respeito a finalidade do jejum e que outras aplicações foram dadas à doutrina. Todavia, quando nos demoramos um pouco mais num exame cuidadoso do texto à luz do seu contexto e da ocasião, verificamos que a finalidade do jejum foi sempre um sacrifício pelo pecado. Excluindo-se, é lógico, os jejuns involuntários, ocasionados por outras circunstâncias que não a religiosa. Para provar essa verdade, vamos examinar alguns casos: 1) O jejum de Davi (II Sam. 12:16-22): Inicialmente, parece-nos que foi um jejum com a finalidade de alcançar a cura da criança. Não resta dúvida de que Davi objetivava isso, todavia para que tal acontecesse ele precisava alcançar perdão de Deus pelo pecado cometido, que havia motivado a enfermidade da criança. Primeiro, Davi confessou: "pequei contra o Senhor..." (II Sam. 12:13). Mais adiante, ele afirma: "Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se o Senhor se compadecerá de mim, mim, e viva a criança?" (II Sam. 12:22). Foi realmente um sacrifício para alcançar a misericórdia de Deus que o estava condenando pelo seu terrível pecado de adultério. 2) O jejum pela morte de Saul (I Sam. 31:13): Este jejum dá a idéia de uma atitude de luto pela morte do rei. Sete dias de jejum. Não obstante, o que aconteceu mesmo foi um grande sentimento de culpa, de pecado, de que foi tomado o povo que havia sofrido um dos mais amargos reveses diante dos filisteus, tendo morrido muitos israelitas, inclusive o rei e seus filhos. Essa calamidade despertou no povo a consciência de pecado, de falta com Deus. Diante do que, o povo temeu o peso da mão de Deus e daí o jejum de sete dias, buscando o perdão do Senhor e a sua misericórdia diante de uma situação tão terrível. 3) O jejum do povo em Mispá (I Sam. 7:6): Basta lermos todo o texto, dos versículos 1 a 6, para entendermos que o povo estava sofrendo por causa do pecado. No versículo três está a exortação de Samuel para que o povo se converta a Deus, abandonando a idolatria. A reunião em Mispá foi o resultado do arrependimento e conversão do povo, vindo então o Culto de sacrifício, em que o povo confessa: "Pecamos contra o Senhor" (v. 6). 4) O jejum de Daniel (Dan. 9:3 a 19): Lendo-se todo o texto observa-se que a tônica do jejum era indubitavelmente um sacrifício pelo pecado dele e do povo. No versículo cinco ele afirma: "Pecamos e cometemos iniqüidade, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos". E no versículo dezenove encontramos a seguinte Oração: "O Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e opera sem tardar..." Juntamente com esses, podíamos arrolar os jejuns registrados em Jer. 36:9-10, Joel 1:14, Jonas 3:6-8, Esd. 8:21-23 e tantos outros registrados por todo o Velho Testamento. Ele pode estar relacionado com tristeza, com alegria, com luto ou com festa, ou com qualquer outra circunstância, porém sempre tem a mesma finalidade central: UM SACRIFÍCIO PESSOAL PARA O PERDÃO DE PECADO, seja na prática coletiva ou na individual. 4. Jejuns Involuntários Muitos dos jejuns encontrados na Bíblia Sagrada são de caráter involuntário, nada tendo a ver com preceitos religiosos. Por isso, precisamos estar atentos aos relatos
bíblicos para não confundirmos os fatos e formarmos uma falsa interpretação sobre algumas narrações de jejuns involuntários. Cada texto precisa ser examinado à luz do seu contexto e dos demais fatos a ele relacionados para descobrirmos se se trata de um jejum voluntário, como preceito religioso, ou involuntário, ocasionado por um outro fator circunstancial qualquer. Para exemplificarmos, vamos apresentar alguns desses textos relacionados com jejuns involuntários: 1) O jejum de Ana, mãe de Samuel (I Sam. 1:7): Não foi um jejum como preceito religioso, apesar de Ana ser bastante religiosa e de estar na Casa do Senhor, mas sim provocado pela falta de apetite motivada pelas tristeza com as irritações que lhe eram impostas pela sua "competidora" (v. 6). 2) O grande jejum de Elias (I Reis 19:8): De acordo com o relato bíblico, no texto acima, o profeta ficou em jejum durante quarenta dias e quarenta noites. Mas é fácil de entendermos que não se tratou da observância de um preceito religioso. Foi um jejum circunstancial motivado pela falta de alimento que o profeta enfrentou durante a sua longa viagem. O texto diz: "... com a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, até o monte de DEUS". Também devemos observar que se tratou de uma alimentação especial providenciada pelo próprio Deus, através de um anjo (I Reis 19:5-7). 3) O jejum do rei Dário (Dan. 6:18): O rei Dário jejuou não pelo fato de ter cometido um pecado, condenando Daniel a morrer na cova dos leões, como pode parecer, mas sim um jejum motivado pela falta de apetite de que foi tomado quando descobriu que traiçoeiramente havia condenado o jovem Daniel. O rei perdeu o apetite e o sono. Foi um jejum involuntário, não há dúvida. 4) O grande jejum de Moisés (Ex. 34:28 e Deut. 9:9): Por certo que Moisés jejuou muitas vezes, com jejum religioso, voluntário, todavia no caso presente foi um jejum involuntário, circunstancial. Ele precisou ficar no monte com Deus durante todo aquele tempo, quarenta dias, recebendo do Senhor as leis e instruções para o seu povo. Não tinha comida e nem condições para comer. Devemos levar em consideração que naquela época, em que Moisés estava no monte com Deus, o jejum ainda não havia sido instituído como preceito religioso, o que aconteceu um pouco mais tarde. 5. Outras Referências no Velho Testamento Além das referências bíblicas já citadas e discutidas acima, encontramos ainda no Velho Testamento mais as seguintes, que de alguma forma estão relacionadas com jejuns, que vamos registrá-las, enquadrando-as nos diversos casos de jejuns já apresentados: a) Sobre jejum de caráter coletivo: Juízes 20:26; II Sam. 1:12; I Reis 21:912; Neem. 9:1; Joel 2:12-15. b) Sobre o jejum de caráter individual: individual: Esd. 10:6; Neem. 1:4. c) Sobre jejum de caráter circunstancial: Êxodo 34:28; I Sam. 20:34; I Reis 21:4.
CAPÍTULO V A VIGÊNCIA DO JEJUM Uma peça importantíssima neste nosso estudo sobre a doutrina e prática do jejum, diz respeito ao que vamos estudar neste capítulo: A Vigência do Jejum. Jejum. A coisa mais importante em matéria de doutrina bíblica não é o fato de estar registrada em algum lugar na Bíblia Sagrada, mas sabermos qual o tempo da sua vigência. Até quando ela vigorou ou vai vigorar. É muito perigoso e até contraproducente, doutrinariamente falando, querermos praticar uma determinada doutrina só pelo fato de se encontrar registrada na Bíblia Sagrada ou porque tenha sido praticada por servos de Deus no passado. Sabemos que a Bíblia Sagrada envolve um espaço de tempo bastante longo, no qual a humanidade, e o povo de Deus mui especialmente, passou por várias fases no seu desenvolvimento. A própria revelação de Deus para com o seu povo, bem como a sua maneira de atuar e aplicar as doutrinas fundamentais da salvação, passaram por modificações impressionantes. São consideráveis as diferenças doutrinárias encontradas no Velho Testamento em relação ao Novo Testamento, assim como são consideráveis as diferenças existentes entre a atuação de Deus nessas duas partes da Bíblia Sagrada. Por isso, precisamos ser muito cuidadosos no estudo das doutrinas bíblicas e suas aplicações práticas para a vida cristã, para não incorrermos em erros peculiares àqueles que se apegam a qualquer preceito religioso sem os devidos conhecimentos dos mesmos em relação a toda a Bíblia Sagrada. Essa falta de cuidado tem patrocinado o aparecimento de seitas e práticas doutrinárias que não têm qualquer apoio na Palavra de Deus em relação às doutrinas cristãs. Muitos, em defesa de suas práticas doutrinárias, afirmam: "Isso è bíblico; está escrito na Bíblia; é ensino da Palavra de Deus". Se fôssemos incluir no corpo doutrinário de uma religião todas as doutrinas e práticas religiosas que encontramos na Bíblia, teríamos como resultado a mais confusa religião do mundo. Não é estranho para qualquer pessoa que estuda a Bíblia Sagrada, que muitas práticas doutrinárias, dadas e ensinadas pelo próprio Deus, tiveram vigência para uma determinada época ou ocasião, perdendo, depois, totalmente a sua finalidade. Assim aconteceu com a serpente de metal, levantada por Moisés, no deserto, para curar as pessoas feridas pelas serpentes ardentes. Foi grandemente útil para aquela ocasião, mas sem qualquer utilidade depois. Vale registrar aqui que quando o povo quis dar uma nova finalidade à serpente de metal, a mesma foi quebrada, nos dias do rei Ezequias (II Reis 18:4). O sacrifício de animais também é preceito bíblico, também foi instituído por instrução de Deus, cuja prática era ensinada e exigida ao povo hebreu. Porém, tal doutrina já não tem qualquer finalidade espiritual para os crentes em Jesus Cristo. A circuncisão foi instituída por Deus, até mesmo antes da Lei. Foi nos dias de Abraão, no período da história a que chamamos de "A Dispensação da Graça de Deus". Não obstante, também se tornou uma prática sem qualquer finalidade religiosa para os nossos dias, no mundo cristão. Poderíamos falar da Arca do Concerto, dos queru¬bins, do voto de nazareno e tantas outras particularidades doutrinárias que encontramos no Velho Testamento. São doutrinas, práticas e princípios que estão registrados na Bíblia, foram preceitos vindos de Deus, não há dúvida, mas já não têm mais viabilidade doutrinária e nem finalidades espirituais para o nosso tempo. Já passaram, já ficaram para trás.
Mas, quanto ao jejum, até quando perdurou a sua vigência? Também é prática do passado, ou ainda tem viabilidade para as igrejas cristãs? São perguntas que vamos responder neste capítulo, à luz dos ensinos da Palavra de Deus. Esse é, realmente, o escopo fundamental deste livro. Tudo o que escrevemos até aqui e daqui para frente tem como objetivo principal mostrar se a prática do jejum é ou não doutrina ou preceito religioso para o povo cristão. Queremos chamar a atenção dos leitores para o fato de que, apesar de ainda estarmos no estudo dentro do Velho Testamento e de incluirmos este capítulo nessa parte do estudo, iremos evocar muitas passagens do Novo Testamento que serão apresentadas como argumentos bíblicos para o presente estudo. Quando fizemos a apresentação deste livro, no início, afirmamos ter descoberto que o jejum não é doutrina e nem prática cristã. Essa nossa afirmação decorre do fato de termos entendido, através do estudo que fizemos e que estamos apresentando neste livro, que o jejum teve a sua vigência unicamente no Velho Testamento. Foi uma prática instituída pela lei, conforme demonstramos, e que vigorou tão-somente dentro do período da "Dispensação da Lei", conforme iremos demonstrar neste capítulo, pelos fatos sobre os quais passaremos a discorrer: 1. Insuficiência Espiritual da Lei Cerimonial A lei cerimonial, instituída por Deus para ser observada e praticada pelo seu povo, com o objetivo de guiá-lo até Cristo (Gál. 3:24), além de não ter qualquer outra finalidade ou significado a não ser o que lhe fora dado como figura do próprio sacrifício de Jesus Cristo, foi pouco a pouco perdendo o seu significado espiritual entre o povo. Os preceitos cerimoniais eram observados com tanta superficialidade que, praticamente, não havia mais o necessário sentimento de pecado. Nada mais era do que simplesmente uma prática tradicional para os judeus, com raras exceções. Sobre essa verdade, encontramos as seguintes declarações bíblicas: "Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, com a sua boca, com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens em que foi instruído". instruído". (Is. 29:13). "Porque o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne". (Rom. 8:3). "Porque o presente mandamento é abrogado por causa da sua fraqueza e inutilidade" inutilidade" (Heb. 7:18). Queremos chamar a atenção dos leitores para as partes dos textos que grifamos. No primeiro texto, o de Isaías, o Senhor se refere à triste situação espiritual do seu povo, que tinha uma religião de lábios e não de coração. No segundo texto, Paulo declara que a lei estava "enferma pela carne". E no terceiro, o escritor fala do mandamento antigo, que foi abrogado, "Por causa da sua fraqueza e inutilidade". Sobre o jejum, que era parte integrante da lei cerimonial, o Senhor afirma o seguinte: "Quando jejuarem, não ouvirei o seu clamor, e quando oferecerem holocaustos e ofertas de manjares, não me agradarei deles; antes eu os consumirei pela espada, pela fome e pela peste" (Jer. 14:12). Essas declarações divinas, apresentadas nos textos acima, falam-nos da terrível situação espiritual do povo de Israel, conforme nos referimos atrás, que praticava uma religião superficial, onde as práticas cerimoniais da lei já haviam perdido o seu significado
espiritual. Religião de lábios, religião de tradição, religião sem vida e, sobretudo, sem espírito. Por isso o Senhor pergunta: "De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor?" (Is. 1:11). 2. A Transitoriedade da Lei Cerimonial O jejum, como já demonstramos, fazia parte de um cerimonial de expiação de pecados. Esse cerimonial juntamente com outros registrados no Velho Testamento, mui especificamente no livro de Levítico, formavam o conjunto de preceitos religiosos comumente conhecido como a "Lei Cerimonial", ou simplesmente a Lei. Todo o conjunto da lei cerimonial tinha uma finalidade simbólica que apontava para Jesus Cristo, em quem teria o seu cumprimento cabal. Sobre isso encontramos as seguintes afirmações bíblicas: "Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios, que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam" (Heb. 10:1). "Portanto ninguém vos julgue pelo comer, pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou lua nova ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo" (Col. 2:16-17). "De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados" (Gal. 3:24). Observem que nos dois primeiros textos acima citados a lei é apresentada como uma "sombra" e não a "imagem exata das coisas". O último texto nos apresenta a lei como um aio, ou guia de crianças, para conduzir o povo de Deus até Cristo. Esses fatos falam-nos, sem dúvida, da transitoriedade da lei cerimonial, que em Jesus Cristo encontraria o seu ponto final, pois, uma vez sendo Ele, Cristo, a imagem exata, qual a finalidade da sombra? Qual a finalidade do aio? Em II Cor. 3:7-11, o apóstolo Paulo fala da lei como sendo de vigência transitória, não deixando dúvida alguma a esse respeito. 3. A Lei foi Substituída por Cristo Toda a lei, com seus preceitos e práticas doutrinárias, foi substituída por Jesus Cristo, através do seu sacrifício feito na cruz do Calvário. E quando afirmamos que toda a lei foi substituída por Cristo, ou nele foi cumprida, estamos nos referindo a sua totalidade de preceitos cerimoniais, incluindo o jejum também, é óbvio, pois ele era parte integrante dos preceitos da lei, tendo sido instituído dentro da lei. Não podemos e nem temos autoridade escriturística para desassociarmos o jejum do restante da lei. Os textos que se seguem provam, à saciedade, que o sacrifício de Jesus substituiu todo o cerimonial de sacrifícios do Velho Testamento: "Como acima diz, sacrifícios e ofertas e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então disse: Eis aqui venho, para fazer a tua vontade, ó Deus. TIRA O PRIMEIRO PARA ESTABELECER O SEGUNDO". (Heb. 10:8-9). j "Tira o primeiro (Sacrifícios, ofertas, holocaustos e oblações, que se oferecem segundo a lei) para estabelecer o segundo (O novo testamento no sangue remidor de Jesus Cristo). Realmente é impossível querermos ficar com os dois. Ou o sacrifício de Jesus ou os nossos sacrifícios. O texto é claro. "Porque dele (Jesus) assim testifica. Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque.
Porque o precedente mandamento é abrogado, por causa de sua fraqueza e inutilidade. (Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus" (Heb. 7:17-19). Notem que o escritor sagrado afirma a inutilidade da Lei, para declarar, a seguir, que ela foi substituída por "uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus". É a esperança firmada unicamente no sacrifício eterno e todo suficiente de Jesus Cristo. "Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez. Mas este havendo oferecido um único sacrifício, pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus. Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados" (Heb. 10:10,12 e 14). Não é difícil de entender, pelo texto acima, que o sacrifício de Jesus foi realmente completo para a nossa salvação e santificação, não havendo, por conseguinte, mais finalidades para os preceitos antigos. Isso fica ainda bem claro na seguinte declaração da Palavra de Deus: "Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado" (Heb. 10:18). Baseado nesses fatos, Paulo faz as seguintes afirmações: "Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio" (Gál. 3:25). "Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne" (Rom. 8.2-3). Quando Paulo se refere à lei como um aio ou como uma sombra, dizendo da sua transitoriedade, e que estava enferma, ou quando no Novo Testamento lemos das obras da lei que foram substituídas por Jesus Cristo, não há dúvida de que isso se refere a todo o cerimonial. Não há exceção deste ou daquele preceito. Todos os preceitos da lei estão incluídos: Ofertas, holocaustos, jejuns, circuncisão e tudo o mais. Indubitavelmente, não temos qualquer alternativa diante dos ensinamentos neotestamentários para querermos "salvar" algum preceito da lei. Os textos bíblicos citados são claros e incontestáveis para afirmarmos, sem qualquer sombra de dúvida, que o jejum, juntamente com todo o cerimonial da lei, com as suas formas diversas de sacrifícios religiosos, conforme encontramos no Velho Testamento, teve o seu tempo de vigência esgotado por ocasião do sacrifício eterno de Jesus Cristo. Quando o Mestre amado, o "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo", bradou do alto da cruz: "Está consumado", ali, com Cristo, expirou para sempre o "dia da expiação" e todas as formas de sacrifícios do velho concerto. Querer praticar o jejum, em plena "Dispensação da graça de nosso Senhor Jesus Cristo", é querer ressuscitar o que já morreu por determinação de Deus. Finalizando este capítulo, vamos transcrever abaixo uma exortação e um conselho do apóstolo Paulo: "Mas agora, conhecendo a Deus, ou antes, sendo conhecido de Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Estai pois firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão" (Gál. 4:9 e 5:1). Cremos termos sido claros dentro do estudo desse capítulo, mas sabemos, outrossim, que muitas interrogações estão sendo feitas em relação às práticas de jejuns que são encontradas no Novo Testamento. Por isso, vamos passar, em seguida, para a segunda parte do nosso estudo, que será feita no Novo Testamento, examinando-se, por conseguinte, cada caso ali encontrado.
SEGUNDA PARTE
DOUTRINA E PRÁTICA DO JEJUM NO NOVO TESTAMENTO
CAPÍTULO VI FASES DOUTRINÁRIAS NO NOVO TESTAMENTO Até agora, limitamo-nos a estudar o jejum dentro do Velho Testamento, com exceção do último capítulo em que usamos textos do Novo Testamento, porém com o objetivo de discutir o ministério expiatório de Jesus Cristo e não a doutrina do jejum. Pudemos assim constatar que o jejum, como prática religiosa, teve a sua instituição e vigência dentro do período do Velho Testamento, ou mais precisamente, dentro da "Dispensação da Lei". Todavia, não olvidamos a prática do jejum também no Novo Testamento e, por isso, reservamos uma parte neste livro para tratarmos do assunto, em que vamos examinar e discutir todos os casos de jejuns registrados nesta parte da Bíblia Sagrada. Sempre que fazemos um estudo de práticas doutrinárias no Novo Testamento, torna-se necessário estabelecermos algumas divisões na fase doutrinária neotestamentária, sem o que, encontraremos uma série de dificuldades para entendermos o sentido e aplicação de uma determinada doutrina ou prática, correndo até mesmo o perigo de incidirmos em erros doutrinários. Precisamos conceber, e isso é bastante claro, que a história do cristianismo no período neotestamentário passou por algumas fases distintas, destacando-se principalmente três delas. E só quando localizamos as matérias doutrinárias dentro dos contextos dessas fases é que teremos capacidade para entendermos e aplicarmos os ensinamentos e práticas das doutrinas cristãs. Portanto, antes de entrarmos no estudo da prática do jejum no Novo Testamento, vamos estabelecer essas divisões e assim prepararmo-nos convenientemente para o estudo propriamente dito da matéria. 1. O Período do Ministério Terreno de Jesus A primeira fase, ou período, é aquele compreendido pelo ministério terreno de Jesus, que vai desde o seu nascimento até a sua morte na cruz. Embora esta fase da história esteja registrada no Novo Testamento, e não poderia ser de outra forma, ela pertence realmente ao Velho Testamento, isto é, à Dispensação da Lei. O ministério da Dispensação da Lei não terminou com o nascimento de Jesus Cristo e nem com as atividades do seu ministério terreno. Em outras palavras, a Dispensação da Graça não foi implantada com o nascimento de Jesus. O final da Dispensação da Lei e o início da Dispensação da Graça aconteceram quando da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto, até o momento quando Jesus deu o brado de vitória, dizendo: "Está consumado", tudo transcorreu sob a lei, embora em fase de transição. Cristo nasceu e viveu sob a lei, não há dúvida, e não podemos esquecer esse fato sempre que estudarmos as práticas religiosas registradas nos primeiros quatro livros do Novo Testamento. Paulo disse: "Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gál. 4:4). Observem a expressão: "... nascido sob a lei". Ou seja, nascido embaixo da lei, sob o domínio da lei. Jesus Cristo, explicando a sua missão, declarou:
"Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim abrogar, mas cumprir" (Mat. 5:17). O apóstolo Paulo, exaltando a pessoa de Jesus Cristo, afirmou: "E, achado em forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte..." (Fil. 2:8). Ao instituir a Ceia, Jesus ensinou: "Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós" (Luc. 22:20). Esta afirmação de Jesus deixa claro que o Novo Testamento, a Dispensação da Graça, seria instituído com o seu sangue. Jesus Cristo em todo o seu ministério terreno procurou andar e viver de acordo com os preceitos sagrados do Velho Testamento, sem no entanto, é lógico, enveredar- se pelos extremos das tradições religiosas da sua época, sendo, por isso, taxado de transgressor da lei. Ele foi obediente a Deus e aos seus estatutos até a morte. Assim é, que vamos encontrar Jesus observando as festas cerimoniais do Velho Testamento, principalmente a Páscoa, vamos encontrá-lo guardando o Sábado, no bom sentido do termo, indo nas sinagogas e observando outros preceitos da lei, bem como ensinando o povo sobre a maneira certa de praticar os preceitos da lei, em contraposição à maneira errada dos fariseus e saduceus. Também encontramos, neste período, homens e mulheres, servos piedosos de Deus, praticando com sinceridade as obras da lei e sendo assim instruídos por Jesus como seus seguidores. 2. O Período Inicial das Igrejas Primitivas O segundo período é aquele compreendido pelos primeiros anos do cristianismo, começando com a ascensão de Jesus. Não temos nos registros do Novo Testamento uma linha divisória nítida do seu término, mas podemos constatar com clareza a existência desse período. Constatamos que os nossos irmãos cristãos, na fase inicial da igreja primitiva, não tinham muita firmeza doutrinária. Isso é bastante admissível, quando consideramos os fatos à luz das diversas circunstancias da época, tais como a falta de uma literatura cristã, pois o Novo Testamento e nenhum outro livro ainda haviam sido escritos, e as dificuldades de comunicação, tudo agravado ainda mais com a falta de firmeza doutrinária do próprio grupo apostólico e das intromissões de outros grupos religiosos que começaram a surgir, principalmente os chamados "judaizantes", que queriam fazer uma mistura de doutrinas cristãs com preceitos judaicos da lei. Os fatos acima são deduzidos facilmente quando fazemos um estudo cuidadoso dos primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos e de algumas das epístolas, principalmente as paulinas. Como exemplo, vamos observar alguns fatos que destacamos dentre outros existentes: 1) A Primeira Comunidade Cristã (At. 2:44-47): 2:44-47): Percebe-se, por este fato, que os crentes estavam sendo ensinados que Jesus iria voltar por aqueles dias, fruto de uma má interpretação dos ensinos de Jesus Cristo sobre a sua volta, e daí passaram a vender as suas propriedades e tudo o que tinham, passando a viver em conjunto, orando, comendo, estudando sobre as doutrinas e preparando-se, dessa forma, para o reencontro com Cristo por aqueles dias. Hoje praticamente ninguém mais defende uma comunidade assim para os crentes, aqui na terra, mas fizeram isso no começo; está registrado no Novo Testamento. É bíblico, poder-se-ia dizer.
2) O Batismo de Cornélio (At. 11:1-18): Lendo-se este texto, observamos que Deus teve que falar de uma maneira especial com Pedro, para que ele entendesse a extensão da salvação aos gentios, pois do contrário, Cornélio não teria sido batizado. Sendo batizado, Pedro precisou com muito jeito explicar o acontecimento ao grupo apostólico, para evitar que Cornélio não fosse aceito como salvo. É que até aquela data, eles, os apóstolos, ainda não tinham entendido que o Evangelho era extensivo a todo o mundo, inclusive aos gentios. Apesar de terem estado tanto tempo com Jesus, aprendendo as doutrinas cristãs, e de ouvirem o seu mandado: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura, quem crer e for batizado será salvo", ainda entendiam que o Evangelho de Jesus Cristo era apenas para os judeus. 3) Os Problemas com a Igreja de Antioquia (At. 15:1-34): Observamos que a Igreja de Antioquia estava em problemas doutrinários. Uns ensinavam uma coisa, sobre uma determinada doutrina, outros ensinavam outra coisa, e ninguém sabia o que estava realmente certo. Foram para Jerusalém, a fim de consultar o grupo apostólico e resolver o problema, ou problemas doutrinários, todavia observamos que os apóstolos também não estavam muito aptos para dar a solução cabível ao impasse criado, tendo havido até mesmo um certo desentendimento entre eles em relação ao caso. No versículo 7 está registrado que houve uma "grande contenda" entre eles. Precisou Pedro falar, depois Tiago e, então conseguiram chegar a um acordo. 4) Paulo e Pedro (Gál. 2:11-21): Nesse texto, Paulo relata os problemas acontecidos em Antioquia, tendo como principal personagem o apóstolo Pedro, com quem Paulo diz ter discutido e resistido na cara, porque era repreensível. No mesmo texto, Paulo cita outros judeus que também estavam na mesma situação, incluindo Barnabé que, conforme se referiu, "... não andavam bem e direitamente conforme a verdade do Evangelho..." (Gál. 2:14). 5) O Problema da ressurreição em Tessalônica (I Tes.4:13-18 e II Tes. 2:1-3): Paulo estava enfrentando alguns problemas com respeito à doutrina da ressurreição dos mortos e da vinda de Senhor na Igreja cristã de Tessalônica. Parece-nos que alguns irmãos estavam espalhando algumas doutrinas heréticas sobre o assunto, trazendo dúvidas doutrinárias para aqueles irmãos. O apóstolo procurou mostrar a verdade e doutrinar corretamente aquela Igreja. Pelos fatos apresentados acima, e outros que encontramos no Novo Testamento, podemos nos aperceber de que o período inicial das igrejas cristãs foi caracterizado por instabilidade e dúvidas doutrinárias, em que o próprio inimigo se aproveitava para espalhar o seu joio, não sendo difícil, por conseguinte, encontrarmos muitos crentes praticando certos costumes e ritos da antiga dispensação, bem como não tendo um conhecimento perfeito e correto de muitas doutrinas e princípios cristãos. 3. O Período da Maturidade Doutrinária A terceira fase, nesse contexto histórico das igrejas primitivas, é aquela em que vamos encontrar as igrejas e os crentes, conseqüentemente, atingindo a maturidade espiritual e doutrinária na fé cristã. Algum tempo, não sabemos quanto, foi necessário para que isso acontecesse. A conversão de Paulo e a sua chamada para o ministério apostólico, vindo a se tornar um dos maiores teólogos e grande expositor das doutrinas cristãs; não só expositor, mas defensor, também. As suas viagens missionárias, as suas
epístolas que até hoje se constituem como grandes depositárias das doutrinas e verdades cristãs, as experiências pessoais dos apóstolos e dos demais crentes e das igrejas são fatores incontestáveis que muito contribuíram para que o cristianismo alcançasse a sua maturidade no conhecimento das doutrinas fundamentais do Evangelho de Cristo e conseqüentemente a sua estabilidade espiritual. A partir de então, nós podemos vislumbrar já nas pá¬ginas do Novo Testamento a firmeza doutrinária das igrejas e a inexistência de práticas doutrinárias ultrapassadas. Aí podemos ver a simplicidade e a pureza das doutrinas evangélicas, assim como devem ser recebidas e praticadas pelos crentes em Jesus Cristo. Com esses fatos em mente, e sem nunca perdê-los de vista, é que devemos estudar a questão da prática do jejum no Novo Testamento. Só assim estaremos aptos para por as coisas no seu devido lugar, sem o perigo de promovermos uma mistura doutrinária de resultados negativos para a vida cristã. Não basta apenas citar que uma determinada prática está registrada no Novo Testamento para já a incluirmos no corpo doutrinário evangélico. Precisamos saber, antes de tudo, por que e em que circunstância foi ali registrado. Senão, teremos que incluir em nossas doutrinas não só o jejum, mas muitas outras práticas, tais como o lava-pés, a páscoa com o cordeiro pascoal, a comunidade cristã nos moldes de Atos dos Apóstolos, o uso do véu nas mulheres, e outras que encontramos através do Novo Testamento.
CAPÍTULO VII JESUS E A PRÁTICA DO JEJUM Não poderíamos começar esta parte do estudo da doutrina e prática do jejum de modo melhor a não ser estudando primeiramente a sua relação com Jesus Cristo; com o ministério terreno de Jesus. Ele é o nosso Mestre por excelência e assim o mais autorizado no que diz respeito à ministração das doutrinas evangélicas, pois Ele é particularmente o seu autor. Temos muito mesmo para aprender com o nosso Mestre sobre a prática do jejum no Novo Testamento. O pouco que temos sobre Jesus relacionado com o jejum, é o bastante e suficiente para descobrirmos e entendermos o seu ponto-de-vista e o seu ensino sobre a matéria. Aliás, é bom que se diga de passagem, que no Novo Testamento encontramos muito pouco mesmo sobre a prática do jejum, que não será difícil comentar cada passagem, como vamos passar a fazer, o que não foi possível quando estudamos a matéria no Velho Testamento, dado os muitos casos de jejuns que são lá encontrados. 1. O jejum de Jesus no deserto (Mat. 4:1-11; Mar. 1:12-13; Luc. 4:1-13): Começando com Jesus, vamos começar com o início do seu ministério terreno, examinando o seu jejum no deserto, narrado nos textos acima. Para mim não seria surpresa encontrar Jesus Cristo jejuando, uma vez que Ele cumpriu o seu ministério aqui na terra sob a legislação religiosa do Velho Testamento, como já demonstramos no capítulo anterior, porém o caso presente de jejum não se trata de uma cerimônia religiosa que esteja sendo executada por Jesus Cristo. Trata-se, tãosomente, de um jejum involuntário, ocasionado pelas circunstâncias em que se encontrava Jesus. Observem o início das três narrações dos evangelistas: "Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mat. 4:1). "E logo o Espírito o impeliu para o deserto" (Mar. 1:12).
"E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto" (Luc. 4:1). Pelas três narrações dos evangelistas, acima citadas, nos certificamos de que Jesus não havia programado ir para o deserto após o seu batismo. Os três evangelistas são unânimes em afirmar que Jesus foi "conduzido " conduzido", ", "impelido", impelido", "levado" levado" ao deserto pelo Espírito. A segunda coisa que temos a observar nessa narração, é a finalidade da ida de Jesus ao deserto: "Para ser tentado pelo diabo" (Mat. 4:1, Luc. 4:2 e Mar. 1:13). O objetivo, a finalidade, a tarefa de Jesus no deserto, segundo o plano de Deus através do Espírito Santo e não de Jesus, era enfrentar o diabo, começando dessa forma as suas lutas contra o inimigo no seu ministério terreno. Então o jejum foi uma decorrência circunstancial da sua estada no deserto. Ele não levou alimentação, no deserto não havia onde adquiri-la, bem como Jesus não iria suspender as suas atividades ali ou pedir uma trégua ao diabo para ir até à cidade comer e depois voltar, pois ele nunca se preocupou com a comida. Daí o jejum involuntário, ocasionado pela falta de alimentação. Mas, repito o que disse de início: Não veria qualquer problema mesmo que fosse um jejum voluntário, pois Jesus estava debaixo da Dispensação da Lei. 2. O caso da expulsão dos demônios (Mat. 17:14-21 e Mar. 9:14-29): 9:14-29 ): Para nossas considerações, vamos transcrever apenas o último versículo do texto de Mateus, pois ambos os textos são praticamente iguais: "Mas, esta casta de demônios não se expulsa senão pela Oração e pelo jejum" (Mat. 17:21). Temos duas explicações para o referido texto: a) A primeira diz respeito à autenticidade da expressão: A palavra "jejum" não se encontra nos melhores manuscritos. Teria algum copista, mais tarde, acrescentado esta parte; quem sabe um daqueles judaizantes que não podiam separar a Oração do jejum, por ainda não ter entendido o ensino evangélico. Mas deixemos essa explicação de lado, por ser um tanto controvertida, e vamos para a segunda. b) Este fato está dentro do período ainda sob a lei, na Dispensação da Lei, conforme já explicamos atrás, onde o jejum fazia parte do cerimonial para uma preparação espiritual necessária visando alcançar uma perfeita comunhão com Deus e ter, por conseguinte, o seu poder para tão importante tarefa que era a expulsão de um demônio. Por certo que os discípulos, contando com a ausência do Mestre e de outros colegas, que estavam no monte da transfiguração, já por algum tempo, não deviam estar nada preparados espiritualmente para enfrentar os demônios. Precisavam penitenciar-se diante do Todo-Poderoso Deus, e o jejum era, segundo a lei, um dos meios para isso, dentro da antiga dispensação em que estavam. O "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" ainda não havia sido morto; não havia sido sacrificado em expiação pelos pecadores. Ele, Jesus, ao ser inquirido pelos discípulos, não poderia ter dito: Esta casta de demônios só se expulsa com Oração mediante a vossa confissão de pecados, a mim, para que eu vos purifique com o meu sangue derramado na cruz. Não, naquela hora, naquela ocasião, a resposta só poderia ter sido a que Jesus deu. Tudo ainda estava debaixo do cerimonial antigo. A Dis¬pensação da Graça ainda não havia sido instituída. 3. Jesus ensinando o jejum (Mat. 6:16-18): Esta passagem é muito citada pelos jejuadores para argumentar que Jesus ensinou a jejuar. Vamos transcrever o texto: "E, quando jejuardes não vos mostreis contristados, como fazem os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Porém tu, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para que não pareça aos homens que jejuas, mas a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê em oculto, te recompensará". À primeira vista, parece mesmo que Jesus está dando um mandamento sobre a prática do jejum. Mas não é realmente isso que estava acontecendo. O jejum já era um mandamento, e bem antigo, observado pelo povo de Deus desde o Sinai. Fazia parte do seu cerimonial religioso, como já discutimos anteriormente. Todo o bom judeu devia praticá-lo com sinceridade de coração. O fato acon¬teceu naquele período do ministério de Jesus, aliás, parece-nos que bem no início, portanto em plena Dispensação da Lei. Naquela altura do seu ministério, Jesus não estava autorizado a abolir algum coisa dos preceitos da lei, nem mesmo o jejum. Ele não veio para abolir ou abrogar, mas para cumprir (Mat. 5:17). O que Jesus estava fazendo, naquela ocasião referida no texto em apreço, não era, repetimos, dando um mandamento para a prática evangélica do jejum, mas sim ensinando aos judeus a maneira certa e correta de se proceder na prática do jejum, em face dos erros que vinham sendo cometidos pelos fariseus hipócritas. Ele não disse: Vós deveis jejuar, mas sim: "Quando jejuardes..." 4. Jesus e os discípulos de João (Mar. 2:18-22): Esta é a passagem mais importante neste estudo, pois aqui temos realmente mui claro o pensamento e ensino de Jesus sobre a prática do jejum: Leiamos o texto: "Ora os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? E Jesus disse-lhes: Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar; mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias. Ninguém deita remendo de pano novo em vestido velho: doutra sorte o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior; e ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em odres novos". Vamos considerar esse texto em todas as suas minúcias, pois, como dissemos acima, estamos diante de uma das passagens mais importantes sobre a prática do jejum no Novo Testamento. Inicialmente, observemos a pergunta dos discípulos de João, feita a Jesus: "Por que não jejuam os teus discípulos?" Dentro dessa pergunta está implícita uma afirmação: Os teus discípulos não jejuam. Jesus não contrariou essa afirmação, o que torna claro que se tratava de uma verdade. Os discípulos de Jesus não jejuavam. Não podemos aceitar que, se o jejum fosse uma doutrina cristã e importante na vida espiritual, Jesus, que sempre teve o cuidado de ser um exemplo e ensinar todos os preceitos de Deus, o tivesse relegado. Também não aceitamos o fato de que, se Jesus praticava o jejum, os seus discípulos, que acompanhavam o Mestre no seu ministério, não o acompanhassem nesse mister. O certo mesmo é que nem Jesus e nem os seus discípulos praticavam a doutrina antiga do jejum. Todavia, o mais importante nesse texto não é a pergunta feita pelos discípulos de João, mas a resposta dada por Jesus Cristo, que é o que vamos considerar em seguida, dividindo-a segundo as figuras apresentadas pelo Mestre. 1) Os filhos das bodas e o Esposo (vs. 19-20): Está claro no próprio texto que "os filhos das bodas" eram os seus discípulos, ou, por extensão, os seus seguidores. O "esposo", não há dúvida, é o próprio Jesus. Não precisamos de muita profundidade teológica para entendermos o que o Mestre queria ensinar. Seria o mesmo que dizer:
"Enquanto eu estiver presente, os meus discípulos, meus seguidores, não podem jejuar". Em outras palavras, a presença de Jesus torna sem efeito e desnecessário o jejum. Esta afirmação está perfeitamente enquadrada dentro do escopo do jejum. Ele foi instituído para Vigorar dentro de um cerimonial da lei, cujo objetivo era realmente guiar o povo de Deus até Cristo (Gál. 3:24-25). Portanto, para vigorar na ausência de Jesus. Com Ele, conseqüentemente o jejum perde a sua viabilidade. Então, em última analise, o jejum identifica a ausência de Jesus. Ele afirmou: "Mas dias virão em que o esposo lhes será tirado, então jejuarão naqueles dias" (v. 20). Mas não vamos agora querer entender que essa declaração de Jesus se refira à presente época, em que o esposo foi tirado, voltou para o Céu. Para o verdadeiro crente Jesus nunca está ausente. Ele mesmo afirmou: "... e eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mat. 28:20b). A ausência referida por Jesus, nada mais seria do que aquela compreendida entre a sua morte e ressurreição, três dias apenas. Observem que Ele não disse que passariam a jejuar dali para frente, mas "naqueles dias". Seriam apenas dias, e graças a Deus por isso, pois, pela graça e poder de Deus, temos o "esposo" sempre presente. 2) Remendo de pano novo em vestido velho (v. 21): Cremos que essa declaração de Jesus é o suficiente para esclarecer e dar o seu ponto de vista sobre a doutrina levítica do jejum. "Pano novo" é o Evangelho de Jesus Cristo, com o seu corpo doutrinário, com toda a simplicidade e beleza, coberto pelo sangue precioso de Jesus, o sangue da Nova Aliança. "Vestido velho" era a roupagem do cerimonial judaico, já bastante roto, de cuja textura o jejum era parte integrante. Infelizmente, há muita gente por aí tentando remendar e usar o "trapinho velho" da Dispensação da Lei. Mas Cristo ensinou que não há qualquer proveito nisso, pois a rotura só vai ficar maior. Aprendamos a lição com o Mestre. 3) Vinho Novo em Odres Velhos (v. 22): A figura usada por Jesus aqui é igual em parte à anterior, porém existem outras lições importantes para serem salientadas. O "vinho novo", como no caso acima, é o Evangelho, e os "odres velhos" são, igualmente, os componentes do cerimonial judaico, inclusive o jejum que era o de que estava Jesus falando. Jesus apenas quis reafirmar a lição, usando figuras diferentes. Mas observemos a primeira afirmação de Jesus no caso presente: "Ninguém deita vinho novo em odres velhos; o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho". Jesus estava afirmando que o vinho novo seria perdido, no caso, pois os odres velhos não teriam capacidade para contêlo. Realmente, quando as doutrinas cristãs são misturadas com doutrinas antigas, do velho pacto, doutrina alheias ao Evangelho, o que de melhor acontece é uma perda irreparável para a pureza das doutrinas evangélicas e para a vida cristã do crente, que passa a depositar confiança em outros fatores que não Cristo somente. Isso é o que acontece com Evangelho mais idolatria, Evangelho mais paganismo, Evangelho mais espiritismo, Evangelho mais judaísmo, Evangelho mais socialismo. Mas a mais importante afirmação de Jesus, nesse texto, foi a última: "O vinho novo deve ser deitado em odres novos". Se muitos religiosos de hoje, até mesmo muitos crentes, inclusive pastores, dessem ouvidos a essa afirmação do mestre, não estariam praticando o jejum e ensinando-o para o povo. O bíblico, o cristão, o neotestamentário, é Evangelho com preceitos evangélicos; evangélicos; "vindo novo em odres novos". Encerrando este capítulo, queremos reafirmar o que dissemos acima: Cada vez que o homem mistura as doutrinas cristãs com preceitos da velha dispensação ou outros alheios ao Evangelho, o que resulta normalmente é um enfraquecimento e até destruição da fé cristã. A fé que crê em Cristo, o único e todo suficiente Salvador. A fé que crê no sangue de Jesus Cristo como tendo poder para nos purificar de todo o pecado. A fé que
crê em Jesus Cristo como o único mediador entre Deus e o homem. Quantas roturas espirituais por aí; quantas vidas inúteis e fé praticamente destruídas resultantes de dúvidas doutrinárias contraídas por uma mistura religiosa sem qualquer base ou fundamento na Bíblia Sagrada. Estejamos preparados e precavidos contra essas coisas.
CAPÍTULO VIII A PRÁTICA DO JEJUM NA ERA APOSTÓLICA Muito embora e inexistência de uma doutrina sobre o jejum, ensinada ou praticada por Jesus, seja o suficiente para entendermos que o jejum não é doutrina e nem prática evangélica, mas como encontramos nas páginas do Novo Testamento o registro de algumas práticas de jejum, relacionadas com os apóstolos ou com as igrejas primitivas, não podemos deixar o fato sem uma atenção especial, para que não perdure alguma dúvida sobre o assunto. Dessa forma, vamos procurar, neste capítulo, tratar de todos os casos encontrados nesse período da história do cristianismo. Os principais textos, e quase que todos, relacionados com a prática do jejum na era apostólica, encontramos em At. 10:30; 13:1-3; e 14:23. Depois temos mais dois casos, que são II Cor. 6:5 e 11:27. E nada mais encontramos até o Apocalipse. Vamos considerar cada um desses casos, seguindo a sua ordem de importância em nossa apresentação: 1. O Jejum na Igreja de Antioquia (Atos 13:1-3) Dos casos que temos a considerar sobre a prática do jejum nesse período, esse é realmente o de maior importância para aqueles que defendem o jejum como prática cristã. "E na Igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simão, chamado Niger, e Lúcio cirineu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e Saulo para a obra que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos os despediram". Apesar de parecer um texto importante em defesa da doutrina do jejum no Novo Testamento, não o consideramos como tendo autoridade para isso, analisando-se à luz do seu contexto histórico. O fato aconteceu dentro daquele período, de que falamos anteriormente, caracterizado por instabilidades e dúvidas doutrinárias. E um fator importantíssimo a observarmos no caso presente, é que o mesmo se deu na Igreja de Antioquia. Sim, naquela Igreja onde estavam acontecendo problemas de caráter doutrinário (At. 15:1-29), em que os doutores, alguns dos quais vindos do judaísmo, estavam querendo fazer uma miscigenação religiosa (At. 15:1-2 e Gál. 2:11-14). Em Atos 13:1, Barnabé aparece como o primeiro da lista de doutores e profetas existentes em Antioquia, e não deixa de ser sintomático que Paulo o tenha citado em Gál. 2:13 como um dos que se deixou levar pelas dissimulações dos judeus. E fato importante a consideramos, no caso, é que a prática do jejum aconteceu, segundo os registros em Atos, antes da grande reunião em Jerusalém, quando os problemas doutrinários da Igreja cristã de Antioquia foram debatidos e solucionados (At. 15:1-35).
Pelos fatos discutidos acima, reafirmamos que a prática do jejum na Igreja de Antioquia, no início da história cristã, não dá autoridade alguma para defendermos a doutrina como prática cristã. A Igreja de Antioquia era realmente uma boa Igreja, muito espiritual e grandemente missionária. O ímpeto missionário daquela Igreja deu-lhe o privilégio de ser a primeira a receber o nome de "cristã". Mas tudo isso não a imunizou de ser atacada por doutrinas estranhas aos ensinos de Cristo. Não estamos, dessa forma, condenando a Igreja de Antioquia por ter sido atacada por outros ventos doutrinários estranho às doutrinas cristãs, mas sim, argumentando que ela não serve de base para fundamentarmos um ponto doutrinário sobre a prática do jejum como doutrina evangélica. 2. O Jejum de Cornélio (At. 10:30) Seguindo a ordem de importância, temos a considerar o jejum de Cornélio, o centurião romano. O texto em apreço registra o seguinte: "E disse Cornélio: Há quatro dias estava eu em jejum até esta hora, orando em minha casa à hora nona". Em primeiro lugar o texto não deixa claro que Cornélio estivesse praticando um rito religioso. Poderia ter sido um jejum circunstancial em virtude do tempo que ele dedicou à Oração. Podemos comparar com At. 10:2, que nada registra sobre o jejum, bem como com a mensagem do anjo dirigida a Cornélio, na qual ele diz: "As tuas orações e as tuas esmolas têm subido para memória diante de Deus" (At. 10:4), nada havendo, também, sobre o jejum. Evidenciamos assim que o fator principal no caso era a Oração e não o jejum. Todavia, supondo-se que realmente se tratava de um jejum com objetivo religioso, voluntário, sacrifical, em nada altera a doutrina neotestamentária. Cornélio não conhecia a Cristo, portanto não era cristão, não sendo, conseqüentemente, convertido. Por conseguinte, não conhecia as doutrinas evangélicas. O conhecimento que ele tinha de Deus, a ponto de O temer, por certo recebeu dos judeus. Assim sendo, o que Cornélio conhecia sobre Deus e práticas religiosas referia-se aos ensinos do Velho Testamento, daí, a prática do jejum. Por outro lado, a sua sinceridade, o seu temor a Deus e o seu desejo de servir ao Deus verdadeiro, deu-lhe a bênção de encontrar a salvação em Jesus Cristo (At. 10:1-48). 3. Os jejuns pelos anciãos (At. 14:23) Este caso amolda-se dentro do que já discutimos e explicamos no item número um deste capítulo, porquanto se deu naquela fase inicial da igreja primitiva, antes da grande reunião de Jerusalém, registrada no capítulo quinze de Atos. Por esse motivo, vamos dispensar qualquer outro comentário sobre esse texto. 4. Os Jejuns de Paulo (II Cor. 6:5 - 11:27) Finalmente, temos mais dois casos, que podem ser enquadrados em um, dada a sua similaridade, registrados nos textos acima mencionados, que tratam de jejuns do apóstolo Paulo, conforme transcrição abaixo: "... nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nas vigílias, nos jejuns" (II Cor. 6.5). "Em trabalhos e fadigas, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejuns muitas vezes, em frio e nudez" (II Cor. 11:27). Em ambos os textos encontramos, não há dúvida, a palavra "jejum", dando a entender, numa leitura superficial, que Paulo estaria citando momentos de sua vida devocional, isto é, a prática cerimonial do jejum. Mas, para um leitor mais atencioso,
relacionando o termo "jejum" com o seu contexto lógico, não haverá dificuldade para entender que o apóstolo Paulo não está tratando e nem falando de exercícios cerimoniais ou devocionais, mas sim de lutas, problemas, dificuldades e perseguições decorrentes do seu ministério na causa do Evangelho. Isto é, os jejuns de que Paulo se refere nos textos citados eram motivados pela falta de alimento ou oportunidade para comer, ante os percalços das lides do Evangelho. Eram jejuns involuntários, circunstanciais. Observem, por conseguinte, que em ambos os textos a palavra "jejuns" vem relacionada com prisões, tumultos, vigílias, fadigas, sede, frio, nudez. Em um dos textos aparece a palavra "fome" e depois a palavra "jejum", parecendo que uma coisa se refere à falta de comida e a outra à prática religiosa. Mas ambas as palavras se referem ao mesmo fato, sendo que a pessoa pode estar com fome sem estar em jejum, e vice-versa. Paulo quis deixar claro que ele sofreu a falta de comida e a dor da fome na sua abnegação pela causa santa do Evangelho. E não nos será difícil lembrar alguns desses jejuns de Paulo: Um deles, por certo, foi em Filipos, quando ficou preso juntamente com Silas até o outro dia, quando então foi alimentar-se na casa do carcereiro (At. 16:22-34). Uma outra vez, foi na sua viagem para Roma, quando do naufrágio do navio em que esta¬va viajando (At. 27:33). Em I Cor. 4:11, encontramos a seguinte narração: "Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa". Em Filip. 4:12, esta outra declaração: "Sei estar abatido, e sei também ter abundância: em toda maneira e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome, tanto a ter abundância, como a padecer necessidade". Diante dessa declaração, não resta dúvida de que Paulo trabalhou e orou muitas vezes em jejum, e grandes jejuns! Porém, jejuns ocasionais, involuntários, circunstanciais e não cerimoniais, como querem alguns. Antes de encerrarmos este capítulo, queremos frisar que em At. 27:9 encontramos uma referência ao "dia do jejum", o qual não discutimos em nosso estudo pelo fato do mesmo não objetivar propriamente a cerimônia, mas sim a época, que era caracterizada por fortes tempestades, tornando a navegação perigosa (At. 27:9-10). Também não tratamos dos jejuns de Ana (Luc. 2:36-38), por se tratar, como todos sabem, de uma judia, da tribo de Aser, que esperava pelo Messias. Piedosa, sim, mas não-cristã. Era fervorosa na prática da sua religião, segundo o Velho Testamento. Bem como, deixamos de lado os jejuns do fariseu da parábola de Jesus, registrado em Luc. 18:12, que, por razões óbvias, dispensa comentários. Com esses fatos apresentados e discutidos neste capítulo, encerramos as nossas buscas sobre a doutrina e prática do jejum na era apostólica, e, portanto, no Novo Testamento. Mas ainda queremos chamar a atenção dos leitores para o que frisamos anteriormente sobre as fases em que devemos dividir o Novo Testamento a fim de estudarmos com acerto as doutrinas cristãs. Naquela oportunidade, falamos de que houve uma fase na história das igrejas primitivas caracterizada por certa instabilidade doutrinária, vindo, depois, a estabilidade e firmeza nas doutrinas cristãs. À luz desse fato, observem, agora, que a partir do capítulo quinze de Atos dos Apóstolos até o Apocalipse, nada mais encontramos sobre a prática religiosa do jejum nas igrejas cristãs. Os escritores epistolares, como Paulo, Pedro, Tiago, João e os demais, cujas cartas tinham como objetivo principal doutrinar e instruir os crentes nos preceitos da vida cristã, nas doutrinas evangélicas, nada escreveram sobre a matéria. Sabemos que foram bastante criteriosos e cuidadosos na defesa e exposição dos ensinos neotestamentários, por isso não podemos conceber que tivessem se esquecido da doutrina do jejum, ou relegado a um plano secundário, fosse ela uma prática cristã. Pelo contrário, de Paulo encontramos as seguintes afirmações: "Porque o reino de Deus não é comida e nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo" (Rom. 14:17).
"Portanto ninguém vos julgue pelo comer ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo" (Col. 2:16-17). "Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir" (I Tim. 4:8). Para complementar, observem mais os seguintes dados numéricos: Encontramos no Velho Testamento mais de trinta citações relacionadas com a prática do jejum. No Novo Testamento, naquela parte da história que ainda está sob a dispensação da lei, até a morte de Jesus, encontramos ainda doze citações e suas referências. Em Atos dos Apóstolos, até o capítulo catorze, apenas três casos são registrados. Do capítulo quinze de Atos até o final do Apocalipse, como já frisamos acima, não existe mais qualquer citação ou referência relacionada com a prática religiosa do jejum. Isso não é sintomático? Isso não depõe contra a prática do jejum como preceito cristão? Achamos que sim. Portanto, a falta de um mandamento ou instruções neotestamentários sobre a prática do jejum; a inexistência dessa prática nas igrejas primitivas; em resumo, o silêncio do Novo Testamento sobre a doutrina e prática do jejum, como preceito cristão, deve ser prova cabal e incontestável de que essa cerimônia religiosa do Velho Testamento não formava, e logicamente não forma, como doutrina e prática evangélica, confirmando, assim, o que afirmamos na primeira parte deste livro, quando estudamos sobre a vigência do jejum: O jejum também foi abolido pelo sacrifício completo de Jesus, juntamente com todo o cerimonial de sacrifícios da antiga dispensação.
CAPÍTULO IX O JEJUM CRISTÃO Trataremos neste capítulo, para encerrarmos o nosso estudo sobre o jejum no Novo Testamento, daquilo que entendemos ser o jejum para o crente em Jesus Cristo, segundo os próprios ensinamentos bíblicos. Nós que não j estamos mais embaixo da lei do pecado e da morte e sim da lei do espírito de vida em Cristo Jesus (Rom. 8:2), precisamos aprender a servir ao nosso Deus em "novidade de espírito, e não na velhice da letra" (Rom. 7:6). 1. Exercícios Espirituais Os preceitos cristãos, dentro da dispensação da Graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o Novo Testamento, resumem-se mais em exercícios espirituais do que materiais ou físicos. Quando a mulher samaritana mostrou-se um tanto preocupada sobre o lugar certo para se adorar a Deus, Jesus Cristo asseverou-lhe o seguinte: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" (João 4:23-24). A Nicodemos, que praticava uma religião superficial, baseada em cerimônias corporais, e que não tinha entendido o ensinamento de Jesus sobre a salvação, o Mestre declarou enfaticamente: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito é espírito" (João 3:6).
Paulo, escrevendo ao seu filho na fé, Timóteo, afirmou-lhe: "Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir" (I Tim. 4:8). À Marta, que estava preocupada em servir a Jesus com coisas materiais, o Senhor exortou: "Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas. Mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada" (Luc. 10:41-42). Aos fariseus, que estavam criticando os discípulos de Jesus porque não respeitavam preceitos da lei, Jesus respondeu: "Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios, não condenaríeis os inocentes" (Mat. 12:7). Essas são algumas das muitas passagens que atestam de maneira inconfundível o teor espiritual das doutrinas cristãs. Na antiga dispensação, quando o povo ainda não possuía um melhor conhecimento de Deus e nem do verdadeiro sentido da vida espiritual, o Senhor precisou usar muito de figuras, de coisas e fatos materiais, para de maneira simples e útil levar o povo ao verdadeiro conhecimento da verdade. O povo, no início da revelação de Deus, era como uma criança, dependendo quase que exclusivamente daquilo que fosse palpável, que pudesse ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, sentir mais na carne do que no espírito. O próprio Deus se refere a esse tempo, chamando o seu povo de menino: "Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho". (Oséias 11:1). Porém, Deus foi se revelando mais e mais, até a sua revelação completa e perfeita em Jesus Cristo, e, por conseguinte, através da revelação de Deus e da sua vontade o crente adquire também o perfeito conhecimento do real sentido da vida espiritual, passando a viver, então, firmado naquilo que é espiritual. Foi isso que Paulo ensinou, quando disse: "Mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coi¬sas de menino" (I Cor. 13:1011). No cerimonial cristão, destacamos duas cerimônias (ordenanças), as quais foram instituídas por Jesus Cristo: O batismo e a Ceia. Ambas de significados estritamente simbólicos: O batismo, simbolizando, com a sua forma de imersão e emersão, a salvação do crente, na sua morte para o pecado e vida nova em Cristo Jesus. A ceia, com os seus elementos, pão e vinho, simbolizando o sacrifício eterno e todo suficiente de Jesus Cristo, na sua morte expiatória na cruz do calvário. Como já dissemos, são cerimônias pura e simplesmente simbólicas, sem qualquer valor expiatório. 2. Requisitos do Jejum Cristão Considerando-se o jejum cristão, que é o objetivo deste capítulo, vamos tomar por base o que o Senhor prescreveu a esse respeito pelo ministério do profeta Isaías: "Seria este o jejum que eu escolheria: que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto de jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura não é este o jejum que escolhi? Que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo? e deixes livres os quebranta- dos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados? vendo o nu o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será
a tua retaguarda. Então clamarás e o Senhor te responderá; gritarás, e Ele dirá: Eis-me aqui; se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar vaidade; e se abrires a tua alma ao faminto,e fartares a alma aflita; então a luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como ao meio-dia" (Is. 58:5-10). Pode parecer um paradoxo o fato de estarmos usando um texto do Velho Testamento para fundamentar o estudo do jejum cristão, um jejum para o Novo Testamento, para a dispensação da Graça. Mas realmente estamos certos. O profeta Isaías, apesar de ter vivido e profetizado dentro do período do Velho Testamento, ha mais de setecentos anos antes da vinda de Jesus Cristo, predisse, por inspiração de Deus, fatos relacionados com o Novo Testamento, com a dispensação da Graça. Ele pode muito bem ser considerado como o profeta da Graça de nosso Senhor Jesus Cristo. Se não, observem os seguintes fatos: No capítulo sete, está registrado o anúncio do nascimento de Jesus. No capítulo nove, o seu nascimento. No capítulo cinqüenta e três, está registrado com muita precisão o seu sofrimento e morte expiatória. E finalmente, no capítulo cinqüenta e cinco está a grande proclamação da dispensação da Graça, com a mensagem salvadora de Jesus Cristo dirigida a todos, universalmente: "O vinde, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde comprai, e comei, sim vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite" (Is. 55:1). Portanto, diante dos fatos acima, o jejum apresentado no capítulo cinqüenta e oito está em plena dispensação da Graça. Diríamos, é o jejum do Novo Testamento, o jejum cristão, o jejum que deve ser praticado constantemente pelo crente. Pelo texto em apreço, verificamos, inicialmente, que o jejum cristão é, fundamentalmente diferente do jejum judaico, ou da antiga dispensação. Enquanto este era um preceito cerimonial para expiação de pecados, o jejum cristão é um preceito de vivência espiritual para aqueles cujos pecados já estão perdoados pelo sangue do sacrifício expiatório de Jesus Cristo. Isto é, na dispensação da Graça não se faz sacrifícios pelos pecados, mas sim se observa um sistema de vida nova em Cristo que se resume em dois grandes mandamentos cristãos: "Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo" (Mat. 22:37-39). Destes dois mandamentos, disse Jesus, depende toda a lei e os profetas (Mat. 22:40). Isso quer dizer que o jejum cristão caracteriza-se, não pela abstinência de alimento para o corpo físico, mas sim pela abstinência de alimento para o "velho homem". Observem no texto de Isaías acima citado e transcrito, nos versículos seis e nove, as seguintes expressões: "Ligaduras de impiedade", "ataduras do jugo", "estender do dedo", "falar vaidades". São manifestações pecaminosas que caracterizam o velho homem e se apresentam não pelo fato de estarmos fisicamente alimentados ou não, mas pelo estado de vida atuante do "velho homem", que é alimentado pelas nossas concupiscências. Afirma Tiago: "Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência" (Tiago 1:14). Assim, o jejum cristão é um esforço espiritual, em nossa vivência de amor a Deus, no sentido de soltar as ligaduras da impiedade, desfazer as ataduras do jugo, deixar de falar vaidades e outras manifestações pecaminosas que tentam aniquilar a vida espiritual do crente. Logo, o jejum cristão é essa nossa atuação espiritual, promovendo a nossa santificação através de uma vivência em Cristo, no qual mortificamos o "velho homem" e revivificamos o "novo homem". Paulo, escrevendo aos efésios, exortou-os sobre esse fato, dizendo: "Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito de vosso sentido; e vos
revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade" (Ef. 4:22-24). E aos romanos, discorrendo sobre a atuação da lei e da graça, Paulo completa o pensamento afirmando: "Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis" (Rom. 8:13). Ainda, escrevendo aos romanos, Paulo exortou-os sobre a vida, ou vivência cristã, com as seguintes palavras: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rom. 12:1-2). Realmente o apóstolo está falando em sacrifício, mas num sentido diferente daquele do antigo pacto. É o sacrifício do culto racional. O culto do espírito e da razão. Um sacrifício com lógica, com razão, com entendimento. Sacrifício cristão não é qualquer tipo de sofrimento empreendido para "afligir a nossa alma", conforme a antiga dispensação, mas sim na atuação da nossa vida devocional para com Deus. Não é um sacrifício para pagar ou apagar pecados, mas um sacrifício para não pecar, para ter uma vida santa diante de Deus, que disse: "Sede santos porque eu sou Santo" (Lev. 11:44). Voltando ao texto de Isaías, chamamos agora a atenção dos leitores para as declarações dos versículos seis, sete e dez: "Deixes livres os quebrantados", "repartas o pão com o faminto", "recolhas em casa o pobre", "cubras o nu", "fartes a alma aflita". São declarações que expressam alguns dos nossos deveres para com o nosso próximo. Deveres que se identificam com o ensino de Jesus na segunda parte do grande mandamento já citado: "amar o próximo como a ti mesmo" (Mat. 22:39). Embora não pareça, isso também faz parte do jejum cristão. Não podemos pensar em ter uma boa relação com Deus quando as nossas relações com o próximo estão aquém dos deveres cristãos. E realmente essa parte da nossa vivência cristã está bastante relacionada com a nossa vida espiritual. Basta lermos a declaração de Jesus registrada em Mat. 25:31-46. Vamos transcrever abaixe apenas três versículos: "Vinde benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está proposto desde a fundação do mundo; porque tive fome e deste-me de comer, tive sede, e desteme de beber; era estrangeiro e hospedaste-me; estava nu e vestiste-me; adoeci e visitaste-me; estive na prisão, e foste ver-me" (Mat. 25:34-36). E o mestre completou a declaração, afirmando: "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes" (Mat. 25:40). Resumindo tudo o que dissemos até aqui, afirmamos: O jejum cristão sintetiza-se em atividades positivas do crente na sua relação consigo mesmo, com Deus e com o próximo. Neste sistema de vivência espiritual, o crente conscientiza-se de que é o templo do Espírito Santo, de que o seu próximo é digno do seu amor e respeito e de que Deus é o Santo e Todo-Poderoso Senhor dos céus e da terra. Com isso não queremos afirmar que o crente já é um ser perfeito, um santo no sentido absoluto do termo. Sabemos que o ser humano, pelo fato de sua constituição material, está sujeito às ciladas diabólicas e conseqüentemente a passar por fraquezas espirituais e até mesmo por quedas pecaminosas. Quantos crentes têm sido assaltados pelo tentador e lançados por terra! Mas, diante desses percalços da vida cristã, o que deve fazer o verdadeiro crente para reatar a comunhão com Deus? Recorrer ao jejum ou a outra forma de sacrifício qualquer? A Bíblia nos responde com clareza:
"Sacrifícios e ofertas, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez" (Heb. 10:810). Em síntese, deduzimos do texto acima três verdades: 1) Deus não aceita mais qualquer forma de sacrifício pelo pecado, que é apresentado segundo a lei (v. 8); 2) Deus já estabeleceu um novo pacto, com Cristo, em substituição ao primeiro (v. 9); 3) o nosso perdão e santificação agora vem tão-somente por outorga desse novo pacto, firmado na oblação do corpo de Jesus Cristo (v. 10). Baseado também nessa verdade, o apóstolo João afirmou: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça" (I João 1:9). Então, pelos textos citados, concluímos que o caminho para o crente reatar e manter a sua comunhão com Deus e promover a sua santificação é somente Jesus. Através dele encontramos o perdão, a força, a paz e a harmonia com Deus. Não há situação espiritual que o crente não possa resolver pelo poder e mediação de Jesus Cristo, através do arrependimento sincero. Portanto, em todo e qualquer tempo que nos encontrarmos em problemas ou deficiências espirituais, recorramos arrependidamente a Cristo, em Oração e sinceridade de coração, que Ele, pela sua graça e misericórdia nos dará a solução e nos devolverá à perfeita comunhão com Deus. Isso sem precisarmos de nos submeter a sacrifícios corporais. A Bíblia declara: "Porque te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus" (Salmo 51:16-17). "Misericórdia quero, e não sacrifício" (Mat. 12:7). "Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome" (Heb. 13:15). O crente que atua dessa maneira e que pratica o "jejum cristão" conforme discorremos neste capítulo capacita-se para receber as inefáveis bênçãos de Deus, conforme o texto de Isaías já citado: "Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás e Ele dirá: Eis-me aqui... Então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua j escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares secos, e fortificará teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam" (Isaías 58:811). Extasiados com tantas bênçãos e promessas do Senhor, juntamos as nossas vozes com a de Paulo e exclamamos: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu o intento do Senhor? ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; Glória pois a ele eternamente. Amém." (Rom. 11:33-36).
TERCEIRA PARTE
APÊNDICE DOUTRINA E PRÁTICA DO JEJUM NA ATUALIDADE
1ª - A PRÁTICA ATUAL DO JEJUM NAS IGREJAS EVANGÉLICAS Conquanto o escopo deste livro seja um estudo da doutrina do jejum dentro da Bíblia, o que fizemos na primeira e segunda parte, achamos necessário, para um melhor esclarecimento dos leitores, discorrermos um pouco sobre a prática do jejum ainda mantida em nossos dias entre os evangélicos, daí o fato de termos criado este apêndice, que sabemos ser de grande valia no sentido de corroborar com o estudo feito na Bíblia Sagrada. Atualmente, ainda encontramos igrejas evangélicas e pessoas, particularmente, que praticam o jejum com finalidades religiosas, principalmente entre as igrejas dos grupos pentecostais. Muitas delas têm a doutrina como atual, praticando-a com certa regularidade, muitas vezes em , caráter oficial, proclamado e regulamentado pela própria igreja. Em face disso, muitos crente ficam num dilema espiritual, perguntando e se perguntando se o jejum deve ou não ser praticado pelos cristãos. Por que uns jejuam e outros não? Se não temos base bíblica para a aplicação da prática do jejum como doutrina cristã; se os fatos e doutrinas neotestamentários provam que o sacrifício de Jesus substituiu todo o sistema antigo de sacrifícios pelo pecado, inclusive o jejum; pergunta-se: Por que ainda se pratica o jejum com finalidades religiosas no meio cristão? Estudamos o assunto em todas as suas principais implicações, mantivemos alguns contactos com crentes que jejuam nos diversos grupos evangélicos, procurando uma resposta à pergunta acima. Assim, podemos dizer que são vários os fatores que têm contribuído e vêm contribuindo para a existência de tal prática doutrinária no meio evangélico, porém todos sem qualquer fundamento nas páginas do Novo Testamento. Por isso achamos por bem registrar neste livro esses fatores para que o cristão sincero e interessado nas coisas de Deus possa conhecer quão frágil é a base doutrinária e teológica daqueles que jejuam e ensinam a doutrina do jejum como sendo cristã, evangélica, neotestamentária. Vamos a seguir tratar, separadamente, de cada um desses fatores, registrando apenas aqueles que achamos de maior importância entre muitos outros que podem ser citados, menos importantes. 1. Desconhecimento de suas implicações doutrinárias e teológicas Esse, não resta dúvida, é um dos principais fatores que encontramos sobre a prática atual do jejum entre os evangélicos. O jejum é praticado por muitos crentes que se baseiam tão-somente no fraco argumento de que a doutrina está na Bíblia. Logo que se pergunta a esses crentes, muitos deles obreiros, por que jejuam? respondem: Não está na Bíblia? O irmão nunca leu que Jesus Cristo jejuou? Paulo, Moisés, Elias, e outros grandes servos de Deus jejuaram. Portanto, eu os estou acompanhando. Citam, também, o ensino de Jesus sobre o jejum registrado em Mateus 6:16 e Marcos 9:29. São fatos e textos que não vamos discutir aqui, porque já o fizemos em outros capítulos deste livro, os quais nada provam sobre a validade do jejum como doutrina cristã. Aceitam o fato somente por uma simples leitura de alguns textos bíblicos sem se interessarem por um estudo profundo da matéria a fim de descobrir as suas implicações doutrinárias e teológicas. Quando se pergunta:
Quando foi instituído o jejum? Qual a finalidade do jejum? Por que foi o jejum instituído? Respondem com evasivas, demonstrando a sua falta de conhecimento da matéria. Fomos informados de uma Igreja Batista de um ramo com tendências "pentecostais", na qual o crente para participar da Ceia ao Senhor precisa estar em jejum completo, total. E o informante explicou: "Jejum total, quer dizer jejum de alimento e jejum de sexo". Pobre daquela Igreja e pobre daquele pastor, para quem alimento e sexo é pecado. Isso é ignorância doutrinária; é desconhecimento bíblico. E, infelizmente, nessa canoa estão embarcando muitos crentes sinceros por falta de esclarecimento. E isso compete a nós como obreiros, como "bons despenseiros de multiforme graça de Deus" (I Ped. 4:10). Muitos deles são realmente crentes piedosos, sinceros, honestos, que praticam o jejum querendo melhor se consagrar a Deus, não há dúvida. Como disse Paulo: "... têm zelo de Deus, mas não com entendimento" (Rom. 10:2). 2. Fatores Psicológicos ou Fisiológicos Alguns simplesmente jejuam porque dizem que se sentem bem quando oram e meditam em jejum. Que isso pode ser válido para certas pessoas, não discutiremos, mas não se deve confundir fatores psicológicos, ou Fisiológicos, com fator espiritual. Há pessoas que se sentem muito bem orando e estudando pela manhã, pela madrugada. Uns gostam de orar e estudar nos seus escritórios, outros, no Templo, e alguns indo para lugares ermos, longe de tudo e de todos. Assim, também, uns se sentem bem para o estudo, ou outra atividade espiritual, estando bem alimentados, já outros, estando em jejum. Mas nada disso tem alguma relação com a comunhão com Deus propria¬mente dita. Não há base bíblica e nem lógica para se pensar e ensinar que Deus atende melhor quando a pessoa está de estômago vazio. Isso seria limitar a atuação de Deus. O Senhor olha é para um coração vazio do pecado e não para o estômago vazio ou cheio de alimento. Como dissemos atrás, são fatores que realmente existem em determinadas pessoas, unicamente de caráter psicológico ou fisiológico, mas sem qualquer importância para a vida espiritual na sua comunhão com Deus. Não se pode e nem se deve firmar doutrinas espirituais nessas manifestações particulares do indivíduo. 3. Evocação de Fatos Históricos Ouvimos alguém que, defendendo a prática do jejum, relatou-nos o que aconteceu em épocas passadas, por exemplo na Letônia e na Suécia, quando houve nesses países manifestações de Deus e os crentes passaram por um grande avivamento espiritual, e que naquela época, entre outras atividades espirituais, os crentes jejuaram e tiveram grandes bênçãos de Deus, o que seria, por isso, prova da validade do jejum. É lógico que não vamos contestar os avivamentos espirituais acontecidos entre o povo de Deus em alguns países e igrejas, todavia, não devemos pensar e defender que tudo o que fizeram e praticaram nesses avivamentos, movidos pelo entusiasmo ou pelo temor, tenha tido a direção a aprovação de Deus ou tenha sido o fator principal das bênçãos obtidas, e que sirva de base para agora formularmos um ponto doutrinário qualquer, mesmo sem apoio nos princípios evangélicos. Aliás, é fato conhecido e a história tem registrado, que todos os movimentos espirituais acontecidos através da história cristã têm sido acompanhados de exageros, fanatismos e até mesmo de atuação do inimigo procurando confundir os crentes e desviá-los da verdade. Paulo disse que qualquer que se apresentar pregando outro evangelho, fora dos princípios cristãos, mesmo que seja um anjo do céu, céu, seja anátema (Gál. 1:8-9). Não importa de onde vem e por quem é trazido;
se não tem base bíblica, nos ensinos de Jesus Cristo, não é digno de crédito; não tem valor doutrinário: É anátema. E é interessante observar que nesse texto Paulo estava combatendo as intromissões da lei judaica no Evangelho de Jesus Cristo. É o que acontece com o jejum. 4. Nova Finalidade para o Jejum Esse é o argumento mais mesquinho que já vimos em matéria doutrinária. Dizem alguns defensores do jejum: "Sabemos que todo o ritual levítico foi abolido por Cristo na cruz. Sabemos que o jejum não tem mais a sua finalidade antiga de um sacrifício pelo pecado, todavia podemos praticá-lo com novos propósitos, para melhor nos consagrarmos a Deus". Perguntamos: Quem deu autoridade para se constituir nova finalidade ao jejum? Onde está escrito que o jejum agora tem uma nova finalidade espiritual? Onde está escrito que estômago vazio é sinal de coração limpo e consagração a Deus? Comparamos isso com as donas-de-casa que quando uma panela se fura e fica sem condição para fazer a alimentação, transformam num vaso e plantam uma folhagem. Ou então aproveitam as latas vazias de conservas, transformando-as em utensílios domésticos. Que isso tenha validade na vida doméstica ou em outro setor da vida humana é uma coisa, mas em doutrina cristã a coisa é muito série. É assunto que pertence a Deus e não ao homem. Só o Senhor é que tem faculdade absoluta de legislar em matéria doutrinária. Deus não deu essas credenciais ao homem, pelo contrário, adverte: "... se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro... E se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida ..." (Apoc. 22:18-19). Certo Pastor de uma Igreja nos Estados Unidos, escrevendo numa revista religiosa sobre o jejum, declarou que ele e sua Igreja jejuam, e explica que o jejum atualmente não tem a finalidade de um sacrifício para alcançar uma graça especial de Deus, mas é uma maneira especial de prestar um culto de louvor a Deus. E diz, naquele seu artigo, que o Senhor se alegra com isso. Não entendemos como um Pastor pode afirmar uma coisa dessa. Onde ele foi buscar isso na Bíblia? Onde está escrito sobre essa nova maneira de louvar a Deus? E ainda afirmar que Deus se alegra com esse sacrifício? Isso não é cristianismo não, meus irmãos; é paganismo, masoquismo, é heresia. A Palavra de Deus declara: "Misericórdia quero e não sacrifício" (Mat. 9:13 e 12:7). Ler também Sal. 51:16-17. Outrossim, perguntamos: Por que somente ao jejum, do velho cerimonial, deva ser dado uma nova finalidade? Por que também não aos sacrifícios de animais? Por que também não à circuncisão, ao óleo da unção e outros componentes do cerimonial judaico? Por que somente o jejum deva ser salvo dos escombros do cerimonial da antiga dispensação? Não vamos transformar os trapos da vestidura antiga numa nova peça para as doutrinas cristãs (Mar. 2:21). A Bíblia é a nossa única regra de fé e prática, por isso devemos nos manter unicamente dentro daquilo que ela realmente ensina como doutrina cristã. Não devemos seguir os maus exemplos das autoridades judaicas que a cada passo acrescentavam pontos sobre pontos nos preceitos de Deus, e por isso receberam a condenação de Jesus (Mar. 7:7-9). É o que vêm fazendo em nossos dias muitas seitas, principalmente a Igreja Católica, para as quais já está escrita a condenação divina (Apoc. 22:18-19).
5. Imitação ou Simpatia pessoal Há pessoas que, por incrível que pareça, não têm qualquer convicção sobre a prática do jejum, mas porque pessoas com quem se simpatizam ou que tenham um certo destaque denominacional jejuam, fazem o mesmo, imitando aos outros. Citam obreiros e crentes do presente e do passado, dizendo: Pastor "fulano" é batista, é um grande servo de Deus; ele jejua. "Sicrano", grande evan¬gelista do passado, jejuava e sempre foi muito usado por Deus. E arrematam: Então, se esses servos de Deus jejuavam e jejuam, por que eu não posso também fazer o mesmo? Para eles não tem muita importância o que a Bíblia diz, o que o Novo Testamento ensina. Se outros estão fazendo, acompanham. Costumamos cognominar a essas pessoas de "Maria-vai-com-as-outras". Mas o crente sincero não deve ser assim. Ele deve aceitar e praticar em sua vida cristã somente o que tenha plena convicção de ser a verdade, agindo com raciocínio e discernimento cristão. 6. Experiências positivas atribuídas ao jejum Muitos crentes que praticam o jejum têm tido expe¬riências positivas, bênçãos e vitórias, que atribuem ao jejum. Conversando com um jovem obreiro, ele afirmou-nos que pratica o jejum e o faz porque tem alcançado grandes bênçãos de Deus quando jejua. E completou com a seguinte expressão: "A experiência é argumento muito mais forte do que a teoria". Muitos, como esse jovem, têm tido experiências positivas também com a prática do jejum, como acham. Então, perguntamos-lhe como é que pratica o jejum, ao que nos respondeu: escolho um determinado dia, levanto-me pela manhã e dedico todo o dia para o jejum, oração, meditação e louvor a Deus. Clamo ao Senhor pelos meus problemas e Ele me responde. Nada mais. Praticamente, é assim que fazem todos os jejuadores. Não queremos ser irreverentes com ninguém, principalmente quando sentimos que há sinceridade na pessoa, mas não podemos deixar de refutar o assunto. Em primeiro lugar, queremos dizer que, em matéria religiosa, principalmente, a experiência não é realmente o maior argumento. Esse pertence à Bíblia. O que não tiver base bíblica, mesmo que venha estribado na maior experiência, não terá validade doutrinária, cristã. E se formos nos firmar nesse argumento, de que a experiência é mais forte do que a teoria, temos que aceitar muitas heresias que andam por aí fundamentadas em experiências humanas. Mas observem acima o conteúdo da resposta daquele jovem sobre a maneira que ele jejua. Vejam que ao lado do jejum entrou a oração, a meditação, o louvor a Deus e o clamor ao Senhor pelas suas necessidades materiais e espirituais. Depois de tudo isso que ele fez durante um dia, vem a dizer que tem tido grandes bênçãos com o jejum? Parece que as outras coisas, como a oração, o cla¬mor, o louvor, a meditação, não tiveram muito valor no caso. E foi realmente nessas outras coisas que acompanharam o jejum, que estava o perfeito valor para alcançar as bênçãos de Deus. Isso leva-nos a lembrar do que acontece com esses curandeiros e benzedores que andam por aí fazendo "milagres", os quais, depois de aplicar o seu ritual de magia, "receitam" uma série de medicamentos para o doente tomar ou aplicar em sua enfermidade. O doente sara, porque os remédios atuaram, mas quem leva a fama são eles, os curandeiros, com suas magias milagrosas. Sempre que falamos com alguém sobre esse assunto, lançamos o seguinte desafio: Passe de agora em diante a fazer tudo o que você tem feito, quando jejua, menos o
jejum. Isto é, separe um dia para estar a sós com Deus, ore, medite, leia a Bíblia, cante louvor ao Senhor e clame pela Sua ajuda naquilo que você esteja necessitando. E veja se Deus não lhe vai atender, como tem feito das outras vezes. Ou, por outro lado, faça ao contrário: Só jejue, um dia, dois, quantos quiser, mas não faça outra coisa, não ore, não medite, não louve a Deus, não leia a Bíblia, e veja qual vai ser o resultado desse jejum. Nada; a não ser resultados de caráter psicológicos, que já tratamos atrás. Essa é a verdade, caros leitores. O crente piedoso e sincero na sua fé, diante de um problema qualquer coloca-se na presença do seu Deus em busca do socorro. Nesse seu afã, introduz também o jejum. Deus que é misericordioso e não olha para os fatores exteriores, mas para a sinceridade de coração do seu filho, atende-o na sua necessidade, sem que o jejum tenha tido alguma utilidade no caso. Mas, infelizmente, o jejum é que tem levado a fama e isso tem contribuído para aumentar o número de jejuadores. Por isso a Bíblia nos exorta: "Examinai tudo, retende o bem" (I Tes. 5:21). Esse é nosso dever; todas as coisas precisam ser examinadas, e isso, à luz da Palavra de Deus. 7. Superstição Na verdade, temos muitos crentes supersticiosos em nosso meio evangélico. Certa vez, quando de um batismo realizado numa pequena Igreja do interior do nosso Estado, um irmão, e não tão simples assim, levou uma garrafa vazia para encher com água do rio retirada no momento do batismo. Disse ele que era para fazer remédio. É até uma superstição um tanto contraditória, pois se naquela água houvesse de ter algum produto saído do batismo, esse produto seria o pecado dos batizandos, se crêssemos assim. E o pecado não teria poder para curar alguma coisa. Seria mais uma dose de pecado para o coitado do pecador que estava doente. Mas, esta aí, foi um crente que saiu com essa. Outros acham que oração poderosa é aquela que é feita pela madrugada. Alguns acham que Deus só atende quando se ora dentro de um Templo. Muitos só acreditam em orações feitas de joelhos. E os jejuadores acham que o jejum é a chave para despertar a misericórdia de Deus. São superstições. E superstições evangélicas, diríamos. Assim o crente, ora, pede, clama, e, por um motivo ou outro que não sabemos por que, Deus não o atende, ou parece que não o atendeu. Talvez por não estar dentro da vontade de Deus. Ou quem sabe que algum pecado vem prejudicando a vida daquele crente, e ele não tem pensado nisso. Então, lá vem a superstição, e o crente começa a jogar com tudo que tem, e é aí que entra o jejum. E às vezes é alguém que lhe insinua: O irmão precisa orar em jejum; deixe de dar lugar a matéria; dê lugar ao espírito. E é aí que muitas vezes entra também o fator psicológico de que tratamos anteriormente: Realmente ele passa a notar que só consegue grandes vitórias quando ora em jejum. Todavia, nada mais é que simples superstição. 8. Inato espírito de sacrifício do ser humano Por um fator biológico qualquer, que desconhecemos, o ser humano já traz na sua natureza esse espírito de sacrifício. Aliás, ensina a Biologia que o óvulo materno empreende um grande sacrifício para deixar o ovário e transportar-se até o útero. É com sacrifício e dando sacrifício que a criança vem à luz, para, por toda a sua vida empreender um sacrifício constante pela existência. Então isso faz com que o ser humano passe a conceber que as grandes coisas, as grandes vitórias, só serão alcançadas a custa de sacrifícios. E isso tem afetado a vida espiritual com respeito à religião. "Que hei de fazer para herdar a vida eterna", perguntou o moço rico. "Que é necessário que eu faça para me
salvar?" perguntou o carcereiro de Filipos. Simão, o mágico, quis pagar com dinheiro o dom do Espírito Santo. Os pagãos, que não têm entendimento cristão, naturalmente criam as suas religiões baseadas em sacrifícios. Muitas religiões hoje, consideradas cristãs, tiram partido dessa fraqueza natural do indivíduo e prescrevem exercícios sacrificais para que os seus fiéis alcancem bênçãos. É o que acontece principalmente com a Igreja Católica, e, para que não dizer, até no meio evangélico. Isso tem feito com que muitas pessoas não entendam e não aceitem a simplicidade da mensagem evangélica de salvação, dizendo que um pecador não pode ser salvo pela simples aceitação de Jesus Cristo como seu Salvador. Acham que precisam de muitas outras coisas e muito sacrifício. E o crente em Jesus Cristo, vindo em grande parte desses ambientes, e trazendo no sangue também esse germe de sacrifício, não pode entender, muitas vezes, que venha a alcançar grandes bênçãos de Deus sem qualquer sacrifício, sem qualquer maceração do seu próprio corpo e espírito, vindo daí o fato de aceitar o jejum como uma forma especial de sacrifício. Só mesmo o estudo da Palavra de Deus e a confiança total no seu poder, o libertará de tudo isso. Jesus Cristo asseverou: "Errais, não conhecendo as escrituras, e nem o poder de Deus" (Mat. 22:29). E outra vez: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8:32).
2º QUANDO O JEJUM É VÁLIDO PARA O CRENTE Como preceito religiosos, de caráter espiritual, para ser praticado como uma parte da vida devocional, o jejum nunca é válido na vida do crente, pelos fatos já expostos neste livro. Porém, há algumas circunstâncias que podem levar o crente a jejuar. Jejum ocasional, circunstancial. Vamos alinhar, abaixo, alguns casos principais de jejuns circunstanciais, e até com um certo toque religioso, em que o crente pode jejuar. 1.
Jejum em benefício da saúde
Muitos crentes estão doentes, e até correndo o perigo de morte, porque estão incursos no pecado da glutonaria. Comem tudo e de tudo em prejuízo da própria saúde. E sabendo que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, precisamos nos abster daquilo que o prejudique. Então um jejum de vez em quando faz bem à saúde e é necessário. Bem como certo regime alimentar é de muita importância para a saúde. Às vezes, isso obedece a prescrições médicas, mas nós mesmos temos condições para saber quando devemos ou não comer certos alimentos e até mesmo quando devemos deixar de comer alguma coisa. 2.
Jejum em benefício do próximo
Quantas vezes nós estamos de barriga cheia, comendo do bom e do melhor, e o nosso próximo, ao nosso lado, às vezes um irmão em Cristo, está passando fome, sem ter nada para si e para os seus filhos. Apenas nos mostramos penalizados daquela triste situação e nos alheamos com a desculpa de que também somos pobres e temos nossas responsabilidades com nossa família. E se fizéssemos um jejum, dando o nosso alimento ou o dinheiro correspondente para amenizar um pouco a fome daquele que nada tem? Estamos informados de que nos Estados Unidos, os batistas do Sul, em todas as convenções estaduais, estão promovendo atualmente (abril de 1975) uma grande campanha alimentícia em favor dos que sofrem fome no mundo, principalmente na Ásia.
Como parte da campanha, famílias estão fazendo semanalmente um dia de jejum, sem contar as crianças, é ló¬gico, usando o dinheiro que seria gasto em alimentos naquele dia para enviar às diversas partes do mundo onde existe fome e miséria. Inclusive a Missão Batista de Richmond é uma das instituições que estão recebendo os donativos com essa finalidade. Isso sim é um jejum que merece aplausos e que é recebido por Deus. Ao mesmo tempo em que conseguem verbas para os pobres e famintos, sentem na própria carne a dor da fome, numa perfeita identificação com aqueles que sofrem (Ler Heb. 13:16). Por curiosidade, fizemos o seguinte cálculo: Se cada batista brasileiro contribuísse com o correspondente de um dia de jejum semanal, durante um mês, considerando-se um gasto per capita de Cr$ 20,00 por dia e um total de 300.000 batistas, levantaríamos um total aproximado de Cr$ 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de cruzeiros), num mês, para beneficiar os que têm fome. Valeria à pena um jejum assim. 3.
Jejum em benefício da vida espiritual e devocional do crente
Não resta dúvida de que a comida tem realmente prejudicado a vida espiritual e devocional de muitos crentes. Alguns não assistem aos cultos dominicais para não perder a hora do almoço. Muitas irmãs estão impedidas de irem à Escola Bíblica Dominical porque precisam preparar um bom almoço segundo as exigências do esposo e dos filhos, que são crentes também. Muitas empregadas crentes, de senhores crentes, também gastam o Domingo na preparação dos diversos pratos alimentares, não podendo, por isso, ir à Escola Bíblica Dominical e outras atividades da Igreja. Outros não vão ao culto de Oração, porque não dá tempo, chegando a casa em cima da hora, a não ser que deixassem a janta para a volta. Mas isso não, disse-nos uma vez um irmão. Muitos crentes não aceitam trabalhos em congregações em bairros distantes, onde precisam sacrificar o almoço ou a janta. E quantos crentes que não dão os dízimos porque têm medo de ficar sem alimento. São pessoas que se comparam aos ímpios, "cujo Deus é o ventre" (Filip. 3:19). Nesses casos, também valeria à pena um jejum. "Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Mat. 6:33). Ainda com respeito à vida devocional, é válido o crente dedicar de vez em quando um dia ao Senhor para oração e meditação. E se naquele dia, por qualquer circunstância, ele tenha que optar em permanecer no seu momento de comunhão com Deus ou ir em busca de alimento, achamos que o ficar em comunhão com Deus é muito mais importante. Mas observem que o jejum aí entrou como fator circunstancial e não cerimonial, isto é, o valor está no fato do crente manter a sua comunhão com Deus e não por estar em jejum. E se por fatores fisiológicos o jejum vai-lhe trazer problemas na sua comunhão com Deus, alimente-se primeiro para poder continuar depois na sua devoção. E, aliás, o crente não deve perder a comunhão com Deus quando alimenta-se. Deus deve estar à mesa com ele. Assim, discorremos um pouco sobre esses três casos principais, quem sabe que outros haverão em que o jejum é válido na vida do crente em Jesus Cristo. Mas frisamos, são casos que se referem a jejuns circunstanciais, sem qualquer valor cerimonial, nada tendo a haver com a antiga doutrina do jejum, segundo o Velho Testamento, a qual já foi refutada neste livro como doutrina alheia aos preceitos do Novo Testamento, da Graça de nosso Senhor Jesus Cristo.