Afinal, o que faz um PRODUTOR MUSICAL? Esta pergunta não é tão fácil responder. Trata-se de uma dúvida muito comum, mas sei que minha profissão não é das mais conhecidas... Você sabe qual é o papel de um produtor musical? Conhecer um pouco mais sobre esta profissão pode ajudar no seu trabalho como músico, compositor ou técnico, seja você hobbysta ou profissional. Quem sabe até despertar em você interesse por uma nova carreira! Foi assim que aconteceu comigo. Quando decidi "me tornar" produtor, já havia terminado a faculdade de engenharia há muitos anos e trabalhava na área de marketing e vendas de uma multinacional de tecnologia. Logo percebi que não bastava eu querer me tornar um produtor. Como qualquer outra profissão, precisamos de tempo para compreender os novos conceitos, aprender as técnicas de trabalho e nos tornarmos experientes. De fato, demorei um bom tempo para entender muitos dos assuntos com os quais me deparei. Principalmente porque não existem tantas opções de bons cursos sobre o assunto, muito menos literatura em português. Não queria simplesmente aprender um software, queria aprender o ofício. Hoje tudo é claro e vivo 100% desta nova carreira. Agora sou capaz de explicar o que significa ser um produtor e o que fazer para se tornar um. Se eu pudesse definir em um parágrafo:
"A produção musical tem a função de REGISTRAR uma música que é resultado de uma composição OTIMIZADA, em um determinado arranjo e e interpretação, através de técnicas de comunicação, GRAVAÇÃO e MIXAGEM. O produtor musical é responsável por gerenciar todas as ATIVIDADES - técnicas e artísticas – necessárias para que a música desempenhe a sua função de transmitir uma MENSAGEM tão clara e universal quanto possível, despertando REAÇÕES no ouvinte."
(no idioma inglês, produtor musical normalmente é descrito como record producer, que seria literalmente traduzido como “produtor de discos”. O trabalho do produtor musical está quase sempre associado a uma gravação, à concepção de um “produto” como um disco ou qualquer meio físico ou virtual que o substitua)
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
2
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Em pouco tempo percebi que um bom produtor musical precisaria estudar muito, acumulando várias horas de vôo. Para mim, foi uma descoberta incrível. Era tudo que eu queria e precisava: uma profissão que pudesse unir Arte e Técnica. Cada produtor tem a sua própria maneira de trabalhar e, de certa forma, sua área de especialidade. Conheço alguns que são mais músicos do que qualquer outra coisa - fazem arranjos e tocam instrumentos em gravações. Há outros que vieram de uma formação técnica em áudio e trabalharam como engenheiros de gravação e mixagem por muitos anos. Acho que é importante buscar um equilíbrio entre os dois lados. E acima de tudo, gostar muito de música e escutar de tudo. Ouvidos treinados capazes de avaliar e apreciar boas produções - são as melhores ferramentas que um produtor musical pode desejar. Na Academia do Produtor Musical, estudamos e praticamos um monte de conceitos e técnicas de produção musical. Os membros possuem diferentes níveis de experiência e objetivos variados. Mas todos concordam que sempre existe algo para aprender e ensinar! Agora que tal vermos algumas...
Dicas para montar seu HOME STUDIO Muitos leitores do Blog me perguntam como poderiam montar um estúdio de produção musical em casa. Quais seriam os equipamentos, os softwares e os cuidados necessários com a acústica, para iniciarmos uma carreira ou simplesmente praticar em casa? Se fosse para classificar estes itens e decidir onde investir mais tempo e dinheiro, a minha ordem de prioridades seria a seguinte:
1. Conhecimento (teoria e prática) 2. Ambiente (geometria, posicionamento, acústica, elétrica) 3. Equipamentos e Softwares
Eu tive a oportunidade de fazer dezenas de projetos acústicos, estúdios pequenos e grandes. Já experimentei equipamentos caros e raros. Trabalhei com profissionais iniciantes e experientes. Por isso, posso te afirmar com segurança:
Equipamentos e softwares são APENAS ferramentas.
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
3
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Meus cursos não ensinam a produzir em um software em particular e nem se prendem a modelos específicos de equipamentos e plugins. Aprender a usar as ferramentas é importante e a Academia também pode te ajudar nisso, mas quando compreendemos os conceitos - aí sim podemos utilizar qualquer software. Cada produtor tem suas preferências e muitas das ferramentas atuais serão substituídas em poucos meses. Não é viável trocar de software ou aprender a usar novos equipamentos todos os meses para fazer exatamente a MESMA coisa. A intimidade e a produtividade que um profissional tem com sua ferramenta pesam muito mais no resultado final do que as ferramentas em si. Certamente você conhece desenhistas fazem um retrato perfeito, usando apenas um lápis. Mesmo que eu tivesse todas as tintas e pincéis do mundo, não conseguiria desenhar meu rosto com um décimo da precisão. Porque não conheço a ARTE e não aprendi as TÉCNICAS. Na lista de prioridades, o melhor investimento que você pode fazer na sua carreira é em seu CONHECIMENTO. Faça cursos, procure estágios, leia livros, crie uma rede de contatos, produza músicas sem pretensão comercial. Grave os amigos, grave bastante! Nenhum software moderno ou microfone famoso poderá substituir o seu conhecimento. E conhecimento sempre requer dedicação e tempo. Não aprendi o que sei em poucos meses e sempre continuo estudando para que um dia, quem sabe, aprender tudo o que desejo aprender. Trata-se de um processo constante: passo a passo, conceito por conceito. Se a sua vontade de comprar um equipamento é grande e você já está pesquisando produtos (todos nós gostamos de brinquedos novos), então pelo menos tenha em mente: seu estúdio (quarto, sala) também é um equipamento, com uma particularidade: não pode ser desligado nem trocado por outro modelo. Você é obrigado a conviver com seu estúdio. Querendo ou não, ele está sempre ligado, interagindo e modificando o som de gravações e mixagens.
Ambientes que não possuem um bom tratamento acústico (e isso inclui vários estúdios supostamente profissionais) acabam funcionando como EFEITOS, EQUALIZADORES e REVERBS, modificando a todo instante o que estamos escutando. Como poderíamos tomar uma decisão – avaliar um equipamento ou ajustar o áudio de uma produção - se a sala está alterando todo o resultado?
É por isso que ACÚSTICA é prioridade. As necessidades acústicas variam de acordo com as intenções da sala: locução, mixagem, gravação de bandas, audição de orquestras, masterização etc. Mas sem uma acústica razoável, não vale a pena gastar dinheiro em equipamentos melhores - como monitores de referência ou microfones famosos. Tenho alguns vídeos que mostram meu antigo Home Studio e falam um pouco do seu tratamento acústico e dos seus equipamentos: http://www.audicaocritica.com.br/o-que-e/258-meu-home-studio.html
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
4
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Espere gastar um bom dinheiro para o tratamento acústico, pelo menos algo equivalente ao valor de um dos seus melhores equipamentos. É melhor investir mais dinheiro no tratamento do que em novos monitores. Falaremos mais sobre isso neste texto. Não caia no erro de confundir TRATAMENTO acústico com ISOLAMENTO acústico, são duas coisas bem diferentes. Ao contrário do tratamento, nem sempre vale a pena investir em isolamento. Um projeto de isolação acústica é bem complicado e custoso, assim como materiais e mão de obra necessários. Para isolar o som, precisamos de estruturas muito bem desenhadas e instaladas, nada que espumas ou paredes simples possam resolver. Você poderá aprender muito mais sobre acústica e isolamento na Academia do Produtor Musical. Voltando ao nosso Home Studio...
Conheça alguns EQUIPAMENTOS BÁSICOS Vou procurar sugerir alguns equipamentos essenciais para você conseguir um mínimo de qualidade em suas produções, focando em uma boa relação custo-benefício. Na minha opinião, um Home Studio deveria ter no mínimo:
•
01 microfone multi-uso, versátil e confiável.
•
01 pré-amplificador silencioso, preferencialmente externo, com alimentação Phantom Power
•
Interface de áudio 24 bits, com 02 entradas (pelo menos uma compatível com sinais do tipo INST)
•
Par de monitores decentes
•
Software de Gravação e Mixagem
Veremos abaixo mais detalhes sobre estes itens.
MICROFONE É melhor ter um bom microfone multi-uso do que dois ou três duvidosos. Se fosse para eu escolher apenas um, fazendo um investimento duradouro, escolheria um modelo a condensador, com padrão CARDIÓIDE e cápsula GRANDE.
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
5
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Como regra geral (geral, e não absoluta), os microfones a condensador possuem maior sensibilidade para a captação de detalhes e transientes, oferecendo mais transparência na gravação de vozes e instrumentos, quando comparados aos modelos dinâmicos. O padrão cardioide é sem dúvida o mais utilizado no dia a dia, possivelmente em 90% das gravações, com boa rejeição da reverberação da sala e dos instrumentos que estejam fora da linha de captação. Cápsulas grandes tendem a gerar menos ruídos e são mais sensíveis. Numa faixa de preço de aproximadamente US$100 a US$200 (valor de varejo americano) existem dezenas de opções de microfones com estas características. Os modelos mudam regularmente e a cada ano temos novas e boas opções para o mercado de Home Studios. Assim, deixo apenas alguns exemplos mais conhecidos neste segmento. Lembre-se que provavelmente QUALQUER modelo com estas características, de qualquer um destes fabricantes, será uma opção pelo menos razoável para habitar seu estúdio. É apenas um microfone! E como quase tudo, quanto mais caro, melhor tende a ser. Minha proposta é não gastar mais do que o necessário neste momento, mas também investir o quanto for possível neste equipamento que será seu “canivete suíço”. Reforçando: são apenas referências, não posso recomendar ou deixar de recomendar modelos, mesmo porque não testei todos e uma escolha depende de inúmeros fatores. Certamente existem muitas outras boas marcas fora desta lista:
AKG C2000 B AKG Perception 120 AKG Perception 220 Audio-Technica AT2020 Audio-Technica AT2035 Behringer B-1 M-Audio NOVA MXL 990 MXL V67 Samson CL7 Samson CO1 sE Electronics X1 Shure PG27 Shure PG42 Studio Projects B1
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
6
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Como primeiro microfone multi-uso, não recomendaria um modelo abaixo desta faixa de preço. Para a maioria dos equipamentos, inclusive aqueles que veremos aqui, existe um limiar de custo mínimo, abaixo do qual a qualidade cai consideravelmente. Por outro lado, se você tem um orçamento maior poderia considerar modelos com o até dobro do preço, para uma maior qualidade e versatilidade, mas não faz muito sentido gastar mais do $500 no seu primeiro microfone. Meu primeiro microfone foi um Rode NT1-A e ele ainda é bastante utilizado em meus projetos.
PRÉ-AMPLIFICADOR Todo microfone precisa ter seu sinal pré-amplificado antes de seguir adiante para ser processado, gravado, monitorado etc. Apesar de a maioria das interfaces de áudio possuir ao menos um préamplificador integrado, este costuma ter uma qualidade inferior ao resto da cadeia de áudio, podendo prejudicar o resultado final da produção musical. Sobretudo quando precisamos de muito ganho para o microfone. O pré de baixa qualidade pode distorcer o áudio e adicionar ruídos, limitando a eficiência do microfone. Um único pré-amplificador externo, de boa qualidade, pode ampliar as nossas opções de gravação – situações, instrumentos, volumes – oferecendo gravações mais limpas. Além disso, provavelmente irá oferecer maior quantidade de ganho, um medidor de nível, atenuador PAD, filtro de graves e controles amigáveis. Muitos pré-amplificadores caros e tradicionais são famosos por alterarem a sonoridade, imprimindo uma característica própria que pode ou não ajudar alguns tipos de instrumentos e vozes. Neste momento, em se tratando do primeiro pré, eu buscaria um modelo transparente, que não modifique o som e consiga suportar grandes variações de volume da fonte sonora. Estas são algumas opções acessíveis, mais uma vez, apenas como referência para marcas e faixas de preço:
Cloud Microphones CL-1 Presonus TUBEPre Samson C-Valve Studio Projects VTB1
INTERFACE DE ÁUDIO A interface tem a função de converter os sinais elétricos em números digitais que podem ser compreendidos pelo computador. Muitas vezes, ela também faz o papel de pré-amplificador, conectando-se diretamente ao microfone. O coração de uma interface está nos conversores A/D (analógicodigital) para gravação e D/A (digital-analógico) para monitoração.
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
7
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Uma entrada do tipo INST é necessária para uma correta gravação de alguns instrumentos, principalmente aqueles que possuem captadores, como guitarras e baixos elétricos. Na falta de uma entrada de alta impedância, pode-se usar uma DI BOX para captação destes instrumentos. Modelos portáteis USB ou Firewire são acessíveis e podem ser utilizados em diferentes situações: no estúdio, no palco, com notebook etc. É fundamental que exista um driver da interface para o sistema operacional do seu computador e que suporte algum padrão de baixa latência, como ASIO, disponível para sistemas PC/Windows. Se a latência (atraso) for grande, será mais difícil utilizar efeitos em tempo real pelo computador, enviar retorno para os músicos, realizar gravações MIDI e edições durante a mixagem. Muitas interfaces oferecem monitoração com "latência zero", permitindo que o sinal que esteja entrando na interface (para gravação) seja copiado para a saída dos fones de ouvido. Dessa forma, o artista pode regular o volume do seu retorno, mixando em tempo real as pistas de playback do computador, enquanto grava. Existem literalmente centenas de opções de interfaces, com diferentes recursos - número de entradas e saídas, controles, tamanhos e qualidade. Algumas características interessantes, mas não essenciais, seriam: mixagem DSP, filtros, pad, altas taxas de conversão, entradas e saídas digitais, cascateamento de mais de uma unidade. Considere os seguintes modelos como referências para sua pesquisa:
Apogee ONE Avid MBOX mini Focusrite Saffire 6 Lexicon Alpha Line6 POD studio X1 M-Audio Fast Track PRO Native Instruments Audio Kontrol 1 Presonus AudioBox Steinberg CI1 Tascam US-200
MONITORES Para muita gente, a palavra "monitor" remete aos monitores de vídeo, usados com computadores. No áudio, MONITOR refere-se à caixa acústica, ou a qualquer sistema de monitoração utilizado pelo técnico para escutar o áudio que está sendo reproduzido, gravado ou mixado. O termo “monitor de referência” também é popular no meio.
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
8
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
A importância de um bom monitor de áudio pode ser explicada através de uma comparação com monitores de vídeo. Quando um profissional da área de imagem (designer, ilustrador, cineasta, fotógrafo) realiza seus trabalhos, é fundamental que seu monitor de vídeo seja calibrado e confiável. Somente através de um bom monitor este profissional poderá fazer julgamentos confiáveis sobre cores, brilho, contraste, ruídos, aspecto, foco e diversas outras características da imagem. Se, por qualquer motivo, o monitor de vídeo "puxar" para o verde, o técnico tenderá a diminuir a cor verde das imagens, fazendo com que fiquem de fato desequilibradas, mesmo que apareçam perfeitas em seu monitor. Se o monitor for muito escuro, o técnico irá adicionar um brilho excessivo. E assim por diante. É por isso que monitores de vídeo profissionais são bem diferentes dos modelos “normais” utilizados pelos consumidores. Possuem outra faixa de qualidade, confiabilidade, funcionalidade e, naturalmente, preço. O monitor do consumidor (que será usado para a visualização das produções finais) talvez não seja tão preciso. Infelizmente não há o que se possa fazer. O importante é termos controle total sobre o produto, buscar um resultado equilibrado que possa ser apreciado da melhor maneira possível em praticamente QUALQUER monitor. Não sabemos qual será o nível de fidelidade do monitor do usuário final, se estará bem regulado ou não, mas como profissionais devemos entregar um produto que possa ser apreciado nos seus mínimos detalhes, caso o consumidor e seus equipamentos o permitam. Mesmo que as caixas acústicas do consumidor “puxem” para um som “brilhante e sem médios”, este consumidor já estará acostumado a considerar estas caixas como sua referência. Ele irá esperar que qualquer áudio bem produzido continue soando “com brilho e sem médios” – o que significa perfeitamente equilibrado em nossos monitores profissionais. Quando realizamos um trabalho através de um bom monitor, a apresentação final para o consumidor final tende a ser mais do que satisfatória, mesmo que utilizem monitores de baixa qualidade. Isto se chama “tradução”: as melhores produções costumam soar bem em qualquer sistema de reprodução, desde o radinho mono de pilha até o sistema audiófilo Hi-End do vizinho. Para gravar, editar ou mixar, é fundamental usarmos um sistema de monitoração CONFIÁVEL capaz de nos mostrar nada mais nada menos do que a REALIDADE. Somente assim seremos capazes de escolher microfones, posicionar instrumentos dentro do estúdio, equilibrar volumes, regular equalizadores e compressores com segurança.
O SISTEMA DE MONITORAÇÃO Talvez a maior dificuldade de quem começa a projetar seu home studio seja compreender que o som que escutamos (oriundo dos monitores) é na verdade uma COMBINAÇÃO do som direto que atinge nossos ouvidos com as inúmeras reflexões da sala. Em outras palavras, não existe o som puro dos monitores! O que existe é o som do conjunto sala + monitores. O ambiente tem influência direta em nossos julgamentos e por isso realçamos a importância da acústica. © 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
9
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Uma sala não equilibrada, excessivamente "morta" ou "viva" que altere a monitoração de forma notável, poderá limitar todo o potencial dos seus monitores de áudio. Não adianta nada comprar o melhor monitor do mundo (se é que isso existe) se a sala impactar negativamente o som. Neste ponto, temos que fazer algumas considerações: MONITOR “PERFEITO”: Mesmo que a sala possua um excelente tratamento acústico e geometria favorável, ainda terá características bem particulares como volume de ar, dimensões, tipos de superfícies, disposição de móveis e equipamentos etc. Isso acaba determinando vários fenômenos acústicos que "pedem" um determinado tipo de monitor. Um modelo particular de monitor pode ser perfeito para sua sala e ao mesmo tempo péssimo para outra. Seria IMPOSSÍVEL indicar o modelo do "monitor perfeito” - ou qualquer outro modelo de monitor sem antes entender quais são as características particulares de uma sala, que equipamentos serão utilizados e quais os objetivos do estúdio. Sinto informar (talvez você estivesse esperando a dica do melhor monitor de R$1.000), mas entre todos os equipamentos que costumo avaliar e relatar alguma impressão, os mais difíceis de testar são os monitores e minhas impressões não importam muito para outro usuário. MONITORES PRÓXIMOS (NEARFILED): Se a sala tem muitas deficiências acústicas (típico de um Home Studio não tratado), podemos tentar aproximar os monitores do técnico, de maneira que a sala tenha uma menor influência sobre o som monitorado. A monitoração "nearfiled" é possivelmente a melhor solução para Home Studios, porque minimiza os efeitos da sala. Nesta configuração, os monitores estão a cerca de dois metros do ouvinte, formando com ele um triângulo equilátero. Todos os monitores sugeridos neste texto são do tipo nearfield. FONES DE OUVIDO: No caso extremo, podemos utilizar fones de ouvido, uma vez que não serão influenciados pela sala. Utilizar fones de ouvidos é um boa solução em algumas situações, mas NUNCA SUBSTITUI o uso de monitores tradicionais. É verdade que a influência da sala é anulada, mas surgem novos problemas. Por exemplo, a noção de estéreo (palco sonoro) se torna irreal e exagerada, dificultando o ajuste de panorama. Alguns detalhes do áudio podem parecer mais presentes do que são de fato, influenciando nos ajustes de volumes e efeitos aplicados durante a mixagem. Mas o grande problema é que treinamos nossos ouvidos a escutarem de uma forma diferente, “desaprendendo” aos poucos tudo o que já desenvolvemos em nossa audição. Deixarei algumas opções de marcas e modelos numa faixa de preço para Home Studios, mas não confie demais nesta lista (ou em qualquer outra que encontrar!). A melhor solução sempre foi - e sempre será - fazer um TESTE REAL, na sua sala. Se os fabricantes ou lojas permitissem este tipo de teste com mais frequência, tudo ficaria mais fácil. Você é o cliente, exija um teste! Normalmente, podemos melhorar BASTANTE o nosso sistema de monitoração através do correto POSICIONAMENTO dos monitores e do ouvinte. Se não está satisfeito com seus monitores, antes de comprar um modelo novo procure variar a posição atual na sala, você pode ficar surpreso com o resultado! Via de regra, as caixas deveriam ficar afastados das paredes (traseiras e laterais), formando um arranjo simétrico. Experimente também desacoplar os monitores da superfície de apoio, com borracha rígida ou qualquer outra solução que os faça vibrarem menos. Varie ângulos, alturas, mude de parede.
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
10
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Fones podem ser muito úteis durante a edição do material, para pequenos ajustes ou até mesmo como monitores ALTERNATIVOS durante o trabalho. Mas não recomendo que você se habitue a trabalhar com fones e nem confie muito neles. Há décadas, técnicos e produtores já descobriram que o uso exagerado de fones não se traduz em produções equilibradas. Acredite neles. Aqui estão alguns modelos de monitores ativos, do tipo nearfiled, que habitam muitos Home Studios ao redor do planeta com um desempenho satisfatório (desde que a sala seja tratada e eles estejam bem posicionados). A faixa de preço é de US$200 a US$300/par no varejo norte-americano:
Alesis M1 Active MkII JBL LSR2325P KRK Rokit 8 M-Audio BX5a Deluxe Mackie MR8mk2 Tannoy Reveal 601a Yamaha HS50M
Conforme já comentamos, como quase tudo na vida, quanto maior o preço melhor a qualidade. Pelo menos até um certo ponto, onde começa o exagero de marketing. Se puder gastar US$500 ou até US$1000 nos seus monitores, isso provavelmente será um excelente investimento. Mas nunca invista esse dinheiro se vai utilizá-los em uma sala sem um bom tratamento! Quando escolher seus monitores, repare se os tipos de conexões são compatíveis com os demais equipamentos. Possui circuito de proteção contra sobrecarga e tem resposta extensa nos graves (até cerca de 60Hz)?. Monitores muito pequenos podem demandar um sub-woofer adicional, encarecendo o setup e complicando os ajustes. Nos últimos anos, muitos fabricantes lançaram modelos de monitores com equalização corretiva, que trazem software de calibragem e microfone de medição. A promessa deste tipo de produto seria "compensar" as deficiências acústicas da sala. Costumo dizer que esta é uma solução "suja", equivalente a compensar o excesso de sal na comida com açúcar. Pode ajudar em alguns casos bem específicos, mas não resolve o problema por dois motivos principais: a equalização só funcionará para uma determinada posição da sala (nem sempre estaremos imóveis naquela mesma posição) e este procedimento não modifica em nada as características de reverberação da sala, que são tão ou mais importantes do que a resposta de frequência da mesma.
SOFTWARE Depois de experimentar vários pacotes de gravação, mixagem e produção musical, cada vez mais reafirmo: o melhor DAW (digital audio workstation) que existe é aquele com o qual temos mais familiaridade. A intimidade se traduz diretamente em velocidade e criatividade. © 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
11
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Se você já utiliza algum software de produção musical e passou pelos difíceis meses (ou anos) de aprendizado – para conhecer os recursos, ferramentas, atalhos, procedimentos – não faz muito sentido mudar de DAW. Continue com o mesmo, sem medo! Hoje em dia, a grande maioria dos pacotes oferece funcionalidades muito parecidas, além da mesma qualidade de áudio. Quando alguém diz que determinado software soa pior ou melhor do que outro, provavelmente não seja o software, mas sim alguma configuração feita pelo usuário. Durante as comparações, foram usados exatamente os mesmos equipamentos e plugins? Mesma sala, no mesmo dia? As impressões dos ouvintes tendem a ser muito subjetivas. Com raríssimas exceções, todos os principais DAWs estão aptos a gravar, editar e mixar com excelente qualidade, suportando todos os formatos de áudio e os principais plugins (marcas e modelos) do mercado, tanto em plataformas WINDOWS quanto MAC. Igualmente, módulos e softwares específicos para a GERAÇÃO de timbres - como samplers e sintetizadores podem funcionar interligados a estes pacotes sem qualquer problema. Voltando à analogia com imagens, que fizemos no início: é de conhecimento do público em geral que o programa referência para manipulação de imagens chama-se Adobe® Photoshop. Este software é praticamente um sinônimo de edição de imagem, mas naturalmente não é a única opção no mercado. Existem outros pacotes - alguns deles tão poderosos quanto o Photoshop - mas mesmo assim ele sempre será uma referência. Talvez por ter sido um dos primeiros poderosos a serem lançados, talvez porque venda mais, não importa. Mas sendo uma referência, é recomendável que qualquer profissional da área tenha um pouco de experiência com ele, ao menos conhecer o básico de Photoshop e poder importar projetos no seu formato. No Áudio, o equivalente ao Photoshop seria o Avid® Pro Tools. Sem dúvida é a linguagem universal entre os estúdios de produção. Dependendo dos trabalhos realizados por um produtor, é importante que exista um mínimo de familiaridade com este software. Novamente, isso não significa que ele seja o "melhor", o mais versátil e nem o mais fácil de usar. Particularmente, utilizo outra plataforma para minhas produções. Algumas DAWs alternativas, igualmente poderosas (e muitas delas bastante acessíveis), são: Ableton Live Apple Garageband Apple Logic Avid Pro Tools 9 (já não exige hardware específico) Cakewalk Sonar Cockos Reaper FL Studio Propellerhead Record e Reason (geração de áudio) Sony Sound Forge Steinberg Cubase
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
12
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.
Procure se familiarizar com um (ou dois) destes pacotes e muito provavelmente você estará apto a realizar qualquer tipo de produção: gravação, edição, mixagem, masterização. Especificamente na área de edição e masterização, conheça também opções como o simples – e gratuito Audacity ou o poderoso Steinberg Wavelab. Antes de colecionar inúmeros plugins (como efeitos, synths e samplers), priorize utilizar os plugins que já acompanham o DAW. Apesar de eu ter adquirido inúmeros plugins ao longo dos anos, ao final de um projeto provavelmente acabei utilizando os mesmos três ou quatro plugins com os quais já estou acostumado. No final das contas, um equalizador é um equalizador, e um compressor é um compressor. Dificilmente o modelo do plugin fará tanta diferença no resultado final quanto o domínio do usuário sobre a ferramenta, um bom sistema de monitoração ou ouvidos treinados. O mesmo conceito pode ser aplicado a reverbs, delays e samplers. É tudo uma questão de preferência pessoal - muito mais de familiaridade do que qualidade de áudio propriamente dita. Em resumo, não acredite que um novo software ou um determinado modelo de plugin possa, de uma hora para outra, melhorar a sua capacidade de produção musical. Podemos dizer o mesmo de microfones, prés e interfaces. Primeiro devemos explorar ao máximo os equipamentos que já temos, para depois descobrir na prática o que está faltando e como podemos adicionar uma cereja ao bolo. Regularmente recebo e-mails com perguntas sobre equipamentos. Querem saber se eu recomendaria o modelo X de microfone ou o que acho de determinado monitor ou interface de áudio. Desde que o equipamento tenha um mínimo de qualidade (e isso é fácil de descobrir), minha resposta sempre será a mesma: este modelo é mais do que suficiente para você realizar excelentes trabalhos! Lembre-se: primeiro vem o CONHECIMENTO, através de prática, anos de estudo, erros e acertos. Depois vêm acústica da sala, disposição, interligação e regulagem de equipamentos, energia elétrica, técnicas de captação, músicos, instrumentos, composição, planejamento etc., não necessariamente nesta ordem. Lá atrás, o modelo e a marca do equipamento. Como regra geral, existem duas possibilidades no universo do Home Studio: ou o equipamento é muito ruim a ponto de atrapalhar (o que é raro hoje em dia), ou ele é bom e mais do que suficiente. Em um nível acima de mercado, temos a categoria PRO, com equipamentos mais robustos, provavelmente mais duradouros, com recursos adicionais que atendem mercados específicos. Estas linhas de produtos possuem uma melhor apresentação e um ganho sutil de qualidade, que muita vezes é difícil de se se perceber. Acima desta faixa, muita coisa é puro marketing: marcas de desejo, modelos raros vintage, itens de colecionador – o lado emocional que fala mais alto, inflaciona os preços e cria falsas percepções. Não estou dizendo que não existem produtos superiores, acima de qualquer suspeita, minha intenção é reforçar que não são estes equipamentos caros e raros os responsáveis pelo sucesso de uma produção.
© 2008-2011 Dennis Zasnicoff | audicaocritica.com | Alguns direitos reservados | p.
13
Proibida a comercialização e criação de obras derivadas. Consulte sobre licenciamento. Cite o autor quando utilizar o texto.