PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS APOLITICAMENTE APOLITICAMEN TE INCORRETO
Autor: Octávio Henrique é graduando em Letras, antiolavette e polemista
medíocre. Em seu blog, Apoliticamente Incorreto, Incorreto, escreve sobre política, literatura, filosofia, futebol e algum outro tema correlato que lhe pareça interessante no momento. Apolítico declarado, já escreveu para seu antigo blog, O Homem e a Crítica, que transita entre o mundo dos blogs mortos e o mundo dos blogs vivos, além de alguns outros blogs na internet.
Editor e revisor: Roger R. Scar é fundador da Sociedade de Estudo e
Desenvolvimento Social e dono do site Modo Espartano, Espartano, no qual escreve ensaios tão precisos quanto breves e tão breves quanto preciso. Escreve, escreveu e escreverá em incontáveis lugares na internet.
Prefácio por Luciano Henrique Ayan, autor de “Liberdade ou Morte” e dono
do blog Ceticismo Político, Político, em que não poupa críticas àqueles que têm por hábito o negacionismo em relação à política. Junho de 2016 – 2016 – Edição única
PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS APOLITICAMENTE APOLITICAMEN TE INCORRETO
Autor: Octávio Henrique é graduando em Letras, antiolavette e polemista
medíocre. Em seu blog, Apoliticamente Incorreto, Incorreto, escreve sobre política, literatura, filosofia, futebol e algum outro tema correlato que lhe pareça interessante no momento. Apolítico declarado, já escreveu para seu antigo blog, O Homem e a Crítica, que transita entre o mundo dos blogs mortos e o mundo dos blogs vivos, além de alguns outros blogs na internet.
Editor e revisor: Roger R. Scar é fundador da Sociedade de Estudo e
Desenvolvimento Social e dono do site Modo Espartano, Espartano, no qual escreve ensaios tão precisos quanto breves e tão breves quanto preciso. Escreve, escreveu e escreverá em incontáveis lugares na internet.
Prefácio por Luciano Henrique Ayan, autor de “Liberdade ou Morte” e dono
do blog Ceticismo Político, Político, em que não poupa críticas àqueles que têm por hábito o negacionismo em relação à política. Junho de 2016 – 2016 – Edição única
Índice PREFÁCIO................................................................................................................................................... PREFÁCIO........................... ........................................................................................................................ 4
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... INTRODUÇÃO............................................................................................................................................. ....... 7
OS CONSERVADORES E A MULHER DE CÉSAR..................................................... CÉSAR............................................................................................ ....................................... 8
GUERRA POLÍTICA E MORALIDADE: OS ERROS DA DIREITA PURITANA.................................................... 11
O COMUNISMO NÃO É UMA UTOPIA: ENSAIO SOBRE MAIS UMA CEGUEIRA DIREITISTA....................... 16
LEGALISMO, UM DELÍRIO......................................................................................................................... 18
SETE LIÇÕES QUE MUITO DIREITISTA BRASILEIRO PRECISA APRENDER SOBRE POLÍTICA......................... 21
A FANFIC DE ESQUERDA E A DIREITA QUE PRECISA APRENDER A SE INDIGNAR POLITICAMENTE........... POLITICAMENTE........... 29
NÃO, AMIGO DE DIREITA VOCÊ NÃO TEM A MENOR IDEIA DE COMO O MUNDO FUNCIONA................ 31
REFUTAR PARA QUÊ?............................................................................................................................... QUÊ?................................................................................................................... ............ 34
THE BRAZILIAN CONSERVATIVE: DIÁLOGOS DA BLOGOSFERA................................................................. BLOGOSFERA................................................................. 36
“ESTIMULAR O “ESTIMULAR O DEBATE RESPEITOSO DE IDEIAS?” IDEIAS? ” NÃO TÃO RÁPIDO, RELATIVISTA DE BOTECO............. 39
POSFÁCIO: ENSAIO SOBRE A ORTODOXIA POLÍTICA................................................................................. POLÍTICA................................................................................. 41
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
PREFÁCIO Quase tudo que a direita brasileira tem escrito sobre política no Brasil pode ser resumido a um evangelho do desespero. Parece que escrevem por masoquismo. Avaliam como os socialistas se comportam e conquistam seus resultados. Em seguida, se revoltam não com suas próprias derrotas, mas com a atitude de seus adversários, sendo que estes estão claramente dedicados a vencer.
Não é raro ouvirmos um direitista afirmando: “o esquerdista não consegue deixar de lutar pelo monopólio da virtude”. Feito um bólido, aparece a constatação: “por “p or que eles não desistem disso?” Atitudes disso?” Atitudes assim pouco diferem da loucura, dado que, na realidade, o esquerdista que luta pelo monopólio da virtude está simplesmente fazendo sua obrigação, porque grande parte da guerra se ocupa com a propaganda, e uma das mensagens mais importantes a serem transmitidas com a propaganda é a de que você deve ocupar as planícies mais altas da moralidade. Um direitista que reclama por um esquerdista buscar ocupar as mais altas planícies da moralidade em seus discursos não fica além de chafurdar no bizarro: não apenas ele não entendeu aquilo que se tornou o diferencial para seu adversário vencer, como, feito maluco, parece querer “dar conselhos” ao oponente para que este se transforme em um perdedor. Chega a ser penoso assistir essas manifestações comportamentais. Os esquerdistas devem morrer de rir nesses momentos, mas, infelizmente, é assim que as coisas têm transcorrido no Brasil, salvo raras exceções.
A negação da política é uma doença direitista que, aos poucos, tem sido combatida em vários cantos do mundo. Finalmente há uma direita verdadeiramente combativa nos Estados Unidos e na Europa. Não temos tido melhor sorte no Brasil, onde a doença da negação colocou a direita em situação de metástase.
No momento em que escrevo este prefácio, há boas chances de que a extremaesquerda petista perca o poder, mas, nessa situação de superioridade de jogo, o poder só pode se esvair das mãos dessa gente quando a economia já se encontra em colapso. Caso contrário, ganham qualquer eleição para o principal cargo no n o Executivo com um pé nas costas. 4 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
Ao mesmo tempo, é um fato que para 2018 novamente teremos um candidato de extrema-esquerda – que pode muito bem ser Marina Silva, ou mesmo qualquer outro escolhido por partidos totalitários – em posição de favoritismo. A única chance de isso mudar adviria pela adoção dos princípios da guerra política por parte dos direitistas, dos centristas e até da esquerda moderada. Estes três grupos vivem tomando surra de relho da extrema-esquerda há tempos por essas terras. Uma das razões para isso é que quanto mais distante da extrema-esquerda alguém está, mais essa pessoa tem demonstrado imaturidade no jogo político, em termos gerais. No Brasil, a negação da política chegou aos níveis da estratosfera.
Se a direita realmente tem interesse em lutar pelo poder no Executivo, ou ao menos de obter vitórias relevantes nas principais questões políticas – como aquelas que demandam batalhas vencidas no Congresso -, precisa antes de tudo aceitar a política como ela é. Somente depois, é factível pensar em jogar a guerra política. Isso só virá com o reconhecimento de que não estamos fazendo um décimo daquilo que podemos. Por outro lado, isso demonstra que há um universo de oportunidades para a direita. Se ela vai querer aproveitá-las, falamos de outros quinhentos contos. Há grandes chances de que boa parte dos direitistas se apegue às suas manias e hábitos em vez de conquistarem resultados reais, mas isso não diz nada a respeito de não podermos estudar como eles poderiam conseguir seus resultados, no advento de superarem seus hábitos e manias danosos.
Já faz quase meia década que escrevo sobre guerra política em meu blog, Ceticismo Político. Atenção: não escrevo sobre ciência política tradicional, mas sobre guerra política. Embora a guerra política tenha algum parentesco com a ciência política tradicional – e é natural que queiramos estudá-la, vez por outra -, a primeira não é tão focada em discussões filosóficas ou abordagens empoladas.
Na guerra política, nos interessa saber o que permite a um lado vencer ou perder nos diversos confrontos políticos. A maioria dos autores da tradicional ciência política não nos dá esse tipo de resposta. Já analistas como David Horowitz, Gene Sharp, Saul 5 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
Alinsky e George Lakoff são extremamente úteis nesse sentido. É imperativo que a direita brasileira comece a pensar cada vez mais sob a ótica da guerra política. Isso será praticamente impossível, no entanto, enquanto essa mesma direita não aceitar a política como ela é.
Octávio Henrique, nos diversos textos deste ensaio, sai deste marasmo da negação da política. Ele visualiza a política como ela é. Nessas páginas, veremos insights poderosos. Entre eles, se inclui um puxão de orelha naqueles conservadores que parecem não se importar com a forma como são percebidos (negativamente) pelas minorias. Ou mesmo nos direitistas em geral – sejam eles liberais, conservadores ou libertários – que seguem acreditando no mito de que “jogar a guerra política é imoral”.
E que tal aqueles que insistem em acreditar que os esquerdistas são pessoas “dotadas de boas intenções, mas enganadas”? Octávio reserva mais do que um texto para quebrar essa ilusão, que simplesmente serve para impedir que o direitista veja seu adversário da forma como ele realmente é. Recomendo também dedicar especial atenção ao momento em que Octávio lembra que a direita precisa aprender a se indignar politicamente.
Não vale a pena pinçar destaques. Todas as páginas a seguir possuem a função clara de nos lembrar da importância do amadurecimento político. Precisamos deixar de ver a política com olhos infantis. Se não admitimos a infantilidade em vários dos aspectos da vida, por que devemos ser complacentes com a falta de maturidade política por parte da direita? Para sair do torpor, às vezes precisamos receber palavras duras. Os textos aqui presentes atendem a esse fim.
Luciano Ayan
Autor de “Liberdade ou Morte” e dono do blog Ceticismo Político São Paulo, 26/06/2016
6 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
INTRODUÇÃO Os textos que compõem este “livro”, se assim o podemos denominar, são ensaios políticos sobre política, isto é, ensaios que não tratam a política como o pior dos males do mundo, mas como uma das práticas inerentes e até certo ponto necessárias ao homem, escritos por este que vos digita para o seu blog pessoal, Apoliticamente Incorreto, e revisados para esta compilação.
Rotulando a mim próprio como um “apolítico”, conceito que planejo explicar em um artigo ainda a ser escrito em meu site, não costumo poupar críticas, tanto nos artigos abaixo quanto nos incontáveis outros que compõem o seu site, tanto a um setor totalitário da esquerda brasileira que vem pautando o debate público no Brasil há décadas quanto aos seus opositores, isto é, aqueles a quem chamo de “direita puritana”, que são justamente os direitistas que, em nome de uma falsa noção de moralidade e de um preciosismo pouco aceitável quando se tem como oponentes pessoas que farão de tudo e mais um pouco pelo poder, acabam por ajudar a esquerda com sua omissão e/ou com sua sinceridade excessiva em relação a alguns tópicos hoje considerados espinhosos.
Reunindo artigos escritos entre o ano passado (2015) e o ano presente (2016), inspiro-me na iniciativa do amigo (citado em vários destes ensaios) Roger Scar, que recentemente escreveu e tornou público e gratuito um seu ensaio sobre política, ao qual intitulou Bolas Quadradas: um ensaio sobre política (2016). Não sei se o ilustre colega e eu partilhamos da mesma intenção, mas a minha, no caso, é divulgar mais uma vez, mas desta vez de maneira compilada, uma série de ideias recorrentes em meu blog com as quais, penso, o sucesso do antiesquerdismo no Brasil só tenderia a crescer.
Quais são essas ideias? Essas ideias, naturalmente, vêm nos artigos a seguir. Desejo humildemente ao leitor, pois, nem tanto uma leitura prazerosa ou agradável, posto que a intenção deste “livro” é justamente tirá -lo de sua zona de conforto ideológica, mas principalmente uma leitura produtiva no sentido amplo da palavra.
7 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
OS CONSERVADORES E A MULHER DE CÉSAR “À mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta .”
Caso conseguissem se lembrar desse dito popular e soubessem como aplicá-lo à questão política, direitistas de todos os matizes possíveis, em especial aqueles que se identificam como “conservadores de direita”, teriam muito mais sucesso ao empreenderem sua cruzada contra o esquerdismo totalitário que vem, segundo eles próprios, assolando o país há pelo menos 14 anos.
Por que construí uma assertiva de tamanha ousadia para um mero blogueiro de internet com um público relativamente pequeno? Por uma série de razões muito simples cujas explicações não constituem, é lógico, um tratado sobre política, mas podem ajudar a esclarecer alguns pontos sobre a razão de eu vir descarregando as mais diversas críticas aos grupos conservadores.
Primeiro, é óbvio para qualquer ser humano que tenha mais de 10 anos de idade e mais de três neurônios ativos no cérebro que, quando lidamos com indivíduos, quer dentro do âmbito político, quer fora, até nos é possível, mas nem sempre nos convém, dizer tudo o que queremos e o que pensamos.
Para ficar em dois exemplos simples e muito cotidianos, o que pensaríamos de um homem que nos contasse ter dito de maneira pouco agradável e muito direta à sua namorada com problemas em relação a sobrepeso que esta deveria tomar um tanto mais de cuidado em relação à alimentação? Não pensaríamos, por exemplo, que sua sinceridade é, no mínimo, perigosa para ele próprio em termos de segurança?
Da mesma forma, quantos de nós teríamos a ousadia de dizer a um soropositivo cuja vida pregressa foi repleta das mais diversas experiências sexuais pouco seguras que este só colheu o que plantou? Mesmo se quiséssemos agir com crueldade, não pensaríamos pelo menos que dizê-lo poderia gerar um conflito desnecessário entre ambos? 8 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
Ora, se em episódios cotidianos não expressamos tudo aquilo que pode ser que nos venha à mente, por que o faríamos em pleno palanque político? Por que um conservador anti-gay ou mesmo meramente contrário ao casamento gay não pode, por exemplo, se abster de despejar seus preconceitos pouco fundamentados ou seu discurso contra o casamento gay excessivamente rebuscado enquanto o partido que quer ver fora do poder ainda está no poder?
Não é permitido a um conservador criacionista, outrossim, abster-se de atacar o evolucionismo em um ambiente cultural em que o criacionismo já não tem mais a mesma força e em que defender essa doutrina pode ser uma arma utilizada pelo oponente para desmerecer qualquer outra ideia sua?
Quando nos referimos a um conservador monarquista, então, o caso é ainda mais emblemático. Afinal, será mesmo necessário fazer campanha em prol da volta dos Bragança ao poder quando até mesmo a República que, segundo os próprios, foi incutida como valor essencial na mente dos brasileiros, está prestes a ruir e a dar lugar a um sistema em que tanto monarquistas quanto republicanos terão suas vozes caladas?
Cito, por fim, um exemplo um tanto diferente, mas que gerou uma divergência com dois colegas, ambos articulistas que poderíamos classificar como pertencentes à direita política. Se “utópico” é um adjetivo que, na maioria dos casos, não tem uma conotação tão negativa quanto “assassino” ou “genocida”, por que, ao descrever o conceito de “comunismo” em plena internet, lugar em que as pessoas procuram ideias prontas e acessíveis intelectualmente para defender, preferir utilizar aquele adjetivo, tornando o Comunismo só mais uma ideia a ser seguida, e não estes, que são muito mais efetivos do que qualquer argumento anticomunista no combate ao esquerdismo?
Trocando em miúdos, o que me incomoda no discurso conservador não é tanto seu conteúdo em termos filosóficos, mas sua forma pouco chamativa – que homossexual, ateu, umbandista ou negro em sã consciência apoiaria uma corrente política que, mesmo afirmando não o detestar, não dá mostras de que se preocupa com
9 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
sua situação como, para esses grupos, deveria? – e, principalmente, os momentos ainda menos oportunos em que tais ideias são veiculadas.
Em resumo: é lindo citar certo filósofo de renome com sua famosa platitude “moderação na defesa da verdade é serviço prestado à mentira”. A realidade, porém, quase nunca é tão, digamos, “charmosa”, e é por isso que é também preciso lembrar que burrice e ingenuidade políticas na defesa da verdade são esse serviço em triplo.
10 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
GUERRA POLÍTICA E MORALIDADE: OS ERROS DA DIREITA PURITANA Quando articulistas como Luciano Ayan, do blog Ceticismo Político, e Roger Scar, do blog Modo Espartano, escrevem textos defendendo que a direita passe a pensar mais estrategicamente e deixe o puritanismo de lado ainda que por alguns instantes na política, passando a ser jogadora assídua da chamada “guerra política”, não é incomum ver objeções, em alguns casos pouquíssimo educadas, como:
1 - “Se fizéssemos isso, nós estaríamos nos igualando aos esquerdistas! ”
Ou, mais comum ainda:
2- “Ah, então o que vocês querem é que a direita vire uma esquerda de sinal trocado! ”
Para essas pessoas, a quem chamarei por aqui de “direita puritana” ou “direitistas puritanos”, está claro que participar da guerra política seria imoral porque a mais experiente jogadora, a esquerda, usa toda a sua imoralidade no debate político enquanto se utiliza desse método para ganhar poder.
Mal sabem esses direitistas puritanos políticos do Brasil varonil, aqueles mesmos que vivem a alegar que sabem como o mundo reage, que mais uma vez estão enganados acerca de como o mundo funciona. O caso é que, para qualquer um que tenha maturidade suficiente para encarar o mundo em suas facetas, está mais do que claro que, no fundo, e principalmente no caso brasileiro, a guerra política é, muito possivelmente, a única alternativa de fato moral (ou, no mínimo, moralmente justificável) para se combater o PT ou, em maior escala e de modo mais geral, o esquerdismo. Mais ainda: recusar-se a jogá-la é que é, na verdade, a alternativa mais imoral de todas, ou seja, o real mentiroso moral é o direitista puritano político.
11 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
Imoralidade puritana
Por que digo isso? Muito simples. Primeiro, é necessário o leitor saber que parto, por uma questão mais de dialogar na mesma língua do que de crença pessoal, da premissa de que a narrativa mais conhecida da direita sobre a situação brasileira – isto é, aquela que pinta o PT como um partido totalitário que, ao passar do tempo, só recrudescer-se-á ainda mais no poder e piorará a vida dos brasileiros – corresponde aos fatos.
Segundo, coloco como premissa, também, algo que muito comumente (e muito coerentemente, diga-se de passagem) ouço de amigos de direita, principalmente no que se refere à questão do Aborto: a de que não existe imoralidade maior e mais atroz do que colocar vidas humanas, especialmente se forem inocentes, em risco por causa de caprichos pessoais.
Terceiro, é necessário nos lembrarmos de que, na absoluta maioria dos casos, métodos, abordagens, táticas e estratégias não são imorais, mas sim moralmente neutros. O método científico, por exemplo, certamente é, sempre foi e sempre será utilizado tanto por pessoas de moralidade ilibada quanto por canalhas e facínoras do naipe de Josef Mengele. Isso se dá exatamente porque o método não é um ente com vida própria, mas sim um instrumento a partir do qual podemos tanto fazer excelentes descobertas quanto protagonizar as piores canalhices.
O mesmo se dá, para ficar em um exemplo que a direita adora defender, com relação às armas, pois, ora, assim como um assassino psicótico pode sair matando pessoas pelo simples prazer de matar, também é possível que um cidadão bemintencionado se beneficie da arma para proteger àqueles por quem tem carinho de alguma violência.
Se métodos, abordagens, táticas e estratégias são, pois, moralmente neutros, e se a guerra política é composta principalmente por esses e outros elementos também moralmente neutros, disso se conclui que a guerra política por si só é moralmente 12 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
neutra, isto é, que pode ser utilizada tanto em benefício do bom, do belo e do moral,
assim como é uma arma ótima para defender o mau, o grotesco e o imoral. Tamanho escândalo em relação à mera proposição de se praticá-la, então, é, no mínimo, uma frescurite aguda inadmissível para pessoas que se dizem adultas, responsáveis e centradas.
Se está sendo honesta, o grande erro que a direita puritana tem cometido é muito simples de ser enunciado. Para esse grupo político, se a esquerda joga a guerra política com base na mentira e isso dá certo, é lógico que o problema é a guerra política em si. Não, amigo direitista: se a esquerda se utiliza de uma série de métodos moralmente neutros para espalhar suas canalhices e é bem-sucedida, o problema não está no método, mas na canalhice, ou seja, o problema não está na guerra política, mas nas mentiras que a esquerda espalha por meio dela sem ser cobrada corretamente por
isso.
Exemplificando o que foi dito acima, duas práticas de guerra política por meio das quais a esquerda faz a festa são a rotulação, que consiste em rotular o oponente de acordo com quem ou o que este ataca – por exemplo, colocar publicamente a pecha de “fascistas” em todos aqueles que discordem da agenda totalitária da esquerda -, e o shaming, palavra inglesa que, traduzida ao pé da letra, significaria “envergonhamento”,
que é justamente fazer o oponente sentir vergonha e o público sentir vergonha alheia pelo que o oponente defende, deixando-o como alguém que não deve ser seguido nem respeitado – a esquerda se utiliza muito bem desse expediente, por exemplo, com relação a quem ataca o Bolsa Família e outros pilares retóricos do PT.
Raciocine comigo, leitor: se rotulação e shaming são moralmente neutros, isto significa que tanto os bons quanto os maus podem se utilizar deles para conseguirem seus objetivos. Se os direitistas, por exemplo, não só acham como têm absoluta convicção de que os esquerdistas no poder são totalitários, fascistas, canalhas e perigosos, por que não os rotular de modo a que as pessoas tenham, no mínimo, a curiosidade atiçada para ouvir mais sobre o porquê de os antiesquerdistas sustentarem esse ponto de vista? Se estão certos de que um projeto de regulamentação de mídia ou 13 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
de financiamento de artistas chapa-branca são não só um roubo aos cofres públicos como também um insulto ao povo trabalhador, por que, ao invés de ficarem com ironias baratas ou explicações tediosas, não são um pouco mais incisivos e tentam fazer o público enxergar o quão dignas de nojo e de vergonha alheia são essas ideias?
Fica claro, pois, que, de imoral, a guerra política teria muito pouco ou quase nada. Resta saber, então, o porquê de essa alternativa ser, talvez, a única de fato moral para o combate ao totalitarismo, e de seus detratores serem, na verdade, os imorais.
Moralidade antipuritana
Um passo decisivo para se entender em que consiste a guerra política é que esta é quase totalmente retórica, isto é, que se trata de uma guerra em que as armas só seriam de fogo em uma última instância quase inimaginável. Na guerra política, o que se pode perder mais comumente é capital político e reputação, além de podermos salvar milhões de vidas sem disparar um tiro sequer, enquanto que, em guerras comuns, o que se perde é quase sempre justamente milhões de vidas.
Passar a jogar guerra política, então, vai exatamente na direção do princípio moral de muitos direitistas, já que, além de não colocar vidas em risco por meros caprichos pessoas, ajudará a salvar diversas pessoas do poder tirânico do Estado e de sua capacidade de ceifar vidas como se fossem meros números. É, portanto, o método mais moral possível, já que não só deixa a vida fora de risco como também a protege dos que a querem instrumentalizar.
A direita brasileira, porém, tem ido justamente na contramão da moralidade, pois tem apelado a três métodos (e se dividido, com isso, em três grupos) que variam desde a ineficiência criminosa até o descarte explícito de vidas humanas, passando também pela omissão criminosa.
No primeiro grupo, temos aqueles que esperam com que a esquerda apronte das suas e, sem hesitar, denunciam o plano imoral e assassino da esquerda de dominação 14 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
mundial. Até que isso daria certo, não fosse o fato de que esses estorvos confundem denúncia com sensacionalismo barato e trazem total descrédito ao que dizem, o que o torna um método arriscado e ineficiente, sendo esta uma ineficiência que, ao deixar espaço livre para os totalitários, dar-lhes-á poder cada vez maior e porá a vida de pessoas em risco, tornando-se uma ineficiência criminosa.
No segundo grupo, temos os omissos, aqueles que, por causa de sua alta moralidade e alta cultura, preferem ler os clássicos a se envolver nesse “mundo sujo” da política. Creio que nem preciso dizer mais nada sobre como isso coloca a própria vida dos omissos e as vidas inocentes alheias em risco, certo?
No terceiro grupo, temos os estorvos que adoram lamber um coturno ou que não aguentam God of War no nível Médio, mas querem porque querem uma “revolução civil democrática” ou uma “intervenção militar constitucional que salvará o Brasil desses comunas malditos”. Traduzindo: não só estão pondo vidas humanas em risco como também expressam claramente o desejo de ver um banho de sangue que inclui pais de família civis e/ou militares ocorrendo para “solucionar os problemas do Brasil”. É tão patético e ao mesmo tempo tão repugnante que, creio, também nada mais precisa ser dito, certo?
Se tudo isto que foi posto não conseguir convencer a direita brasileira, ou pelo menos os mais relevantes e mais ativos de seus membros, de que é muito mais moral incutir na mente das pessoas que canalhas são canalhas do que meramente ficar fazendo denúncias sensacionalistas, omitir-se ou propor um banho de sangue como solução para os problemas brasileiros, nada mais convence. De qualquer maneira, senhores, agradeço pela vossa atenção e, à inglesa, I rest my case.
15 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
O COMUNISMO NÃO É UMA UTOPIA: ENSAIO SOBRE MAIS UMA CEGUEIRA DIREITISTA Não é difícil encontrar, internet afora, páginas e indivíduos declaradamente de direita que, ao terem de entrar na arena da política contra a esquerda, se embananam e, seja por excesso de bom mocismo artificial, seja por preciosismo petulante, acabam por perderem excelentes chances de desferirem bons golpes na esquerda e, ao invés de atacarem-na sem dó, incorporam um tom arrogante e partem para a discussão quase abstrata de conceitos pelos quais a população tem, na realidade, zero de interesse.
Um caso marcante é quando o direitista médio, do alto de sua aparente falta de sangue nas veias, passa a discursar longa e insossamente sobre como as ideias estatizantes vendidas pelos esquerdistas, isto é, o socialismo e o comunismo, não passam de utopias baseadas em abstrações acerca de um ser humano ideal ainda por vir.
Chamam, pois, os esquerdistas de “utópicos” . Chamam, pois, o ideário esquerdista de “utopia”. Mal sabem, porém, o serviço que prestam à esquerda, visto que, no fundo, o comunismo NÃO É uma utopia.
Se formos às origens do significado de utopia, inevitavelmente temos de encarar Utopia, obra em que o renomado filósofo inglês Thomas Morus se utiliza de um duplo
literário para misturar coerentes críticas ao absolutismo inglês de sua época (século XVI) com a demonstração de como seria um sistema de sociedade aparentemente perfeito baseado na coerção estatal, na regulamentação extrema da vida privada e na manipulação descarada dos padrões de moralidade pública por parte do Estado, tratado pelos habitantes de Utopia como uma espécie de Deus que tudo deve prover e que todos os pecados redimirá.
Com essa obra, e com a contribuição de vários pensadores de alto calibre, mas de pouco caráter, “utopia” deixa de significar apenas “não lugar/ lugar impossível” e
16 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
passa a ter como significado, no inconsciente coletivo, “sociedade ideal, mas impossível, proposta por alguns inocentes iludidos”.
Chamar esquerdistas de “utópicos” é, portanto, o mesmo que dizer que são idealistas, no sentido de que, apesar de incorrerem em erro, são apenas pobres bemintencionados que não querem o mal a ninguém. Que esquerdista, em sã consciência, teria a mesma piedade arrogante com o ideário “liberal-conservative”, por exemplo?
Além disso, se uma utopia é uma impossibilidade lógica, dar ao comunismo esse rótulo é jogar com, e não contra, o discurso da esquerda. Se o comunismo, segundo esses direitistas, é mera utopia, que razão teriam para negar o discurso esquerdista padrão de que URSS, China, Coreia do Norte, Iugoslávia, Checoslováquia, Alemanha Oriental, Vietnã, Camboja e outros não experimentaram “socialismo de verdade”?
Deve-se, sendo de direita ou não, ter muito claro em mente que o socialismo não foi ficção, mas realidade, e das mais distópicas, isto é, daquelas que mostram que o fim de toda Utopia, que teria sido o fim do living hell imaginado por Morus, é a perpetuação do morticínio nefasto em nome de ficções mais nefastas ainda.
Óbvio que qualquer estudioso de política sabe de tudo o que aqui foi registrado, mas o fato é exatamente que os alvos mais numerosos do discurso político não estudam política a ponto de enxergarem a pilantragem total dos utópicos. O que o cidadão comum que discute política quer, na verdade e no fundo, é um discurso fácil de entender e mais fácil ainda de reproduzir para aqueles que tentará convencer de suas ideias.
Negar essa essência do homem-massa para posar de superior perante “tudo isso que está aí” não é ter boas ideias. Entrar no jogo linguístico da esquerda ao discutir política e discursar com insuportável arrogância para as massas também não. Tais comportamentos devem ser descritos com apenas duas palavras: burrice criminosa.
17 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
LEGALISMO, UM DELÍRIO Escrevi, recentemente, um texto sobre quão incautos são aqueles que defendem a tese de que, por ser o Comunismo (ou, na linguagem esquerdista, “Socialismo real”) um sistema tão ou mais mortífero do que o Nazismo, e sendo a apologia a esta doutrina criminalizada, a apologia às “doutrinas vermelhas” também deveria ser considerada um crime.
No texto, abordei as diversas facetas do problema, entre elas a de que não há uma cultura que sustente essa criminalização e a de que esse tipo de projeto apenas reforça a ideia de que somos necessitados de um Estado-babá que nos diga em que pensar ou não, mas uma em especial, aquela que intitulei Legalismo, um delírio , merece um texto exclusivamente seu, pois não é difícil ver que, em muitos outros casos e em ambos os lados do espectro político-ideológico, esse é um erro comum.
Como no texto supracitado, defino legalismo não tanto como o sentimento de que as leis devem ser cumpridas a qualquer custo, mas principalmente como a crença de que são elas, e não a moral, a cultura ou outro fator de coesão social, que fazem as pessoas serem capazes de discernir entre o certo e o errado, o bom e o mau (e o bem e o mal, por corolário), o verdadeiro e o falso, o belo e o grotesco et cetera.
Não é muito difícil perceber que, a não ser que se creia em direitos naturais (e, portanto, em moral objetiva), este tipo de pensamento faria seus defensores caírem automaticamente no relativismo, pois lugares e culturas diferentes, por mais que tenham algumas leis em comum, inevitavelmente terão muitas que diferirão por causa de suas necessidades de momento, das diferentes ideias que sustentam e até mesmo dos gostos pessoais dos seus líderes de momento.
O problema, porém, é que quando se fala em “o certo”, “o bom”, “o verdadeiro”, “o belo”, especialmente para essas mesmas pessoas que defendem a criminalização de certas condutas ou doutrinas por não se encaixarem em qualquer dessas características – e aqui não falo com o neutralismo tedioso de muitos dos meios intelectuais, pois acho 18 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
comunismo algo abominável em quase todos os sentidos -, não se intenciona discutir sobre o que é mutável até mesmo por simples preferências pessoais, e sim sobre o que, independente de tempo e de espaço, serve como regra universal de julgamento moral, factual, político e estético.
Aliás, falando em tempo, volto às necessidades de momento e pergunto aos legalistas: se são as leis o principal instrumento para discernir o certo do errado, seria a Pena Capital certa durante o Regime Militar e errada em nossos tempos? E, principalmente, se esta mudança se deu pela mudança de percepção da verdade (como de fato ocorreu), como garantir que as atuais leis são as melhores e mais corretas? Seria a verdade, novamente, dependente do que o personagem O’Brien, do genial 1984, escrito pelo mais genial ainda George Orwell, chama de “solipsismo coletivo”, isto é, do julgamento de um coletivo determinado sobre o que é verdadeiro e o que é falso?
Já se o apelo for aos direitos naturais, essa crença na força das leis como elementos de geração de repúdio ou apoio moral a determinado item fica ainda mais fragilizada, pois, se os direitos naturais pressupõem (como de fato ocorre) uma moral objetiva, isto significa justamente que, antes de qualquer direito ou dever existir, deve haver uma moral imutável e universalmente válida que o sustente. Como seria, então, o direito responsável pela moral se é a moral que dá origem ao direito, e não o contrário?
O legalismo nos termos aqui colocados, entretanto, é tão frágil que apenas a observação atenta da realidade que nos cerca já seria mais do que suficiente para desmontá-lo. Afinal, se pirataria é crime, por exemplo, por que tantos não só a toleram e dela se utilizam como, em determinadas circunstâncias, também a apoiam moralmente? Será, também, que se certas condutas já não fossem repudiadas quase que por todos em nossa sociedade haveria como sustentar, apenas pela lei, que estão erradas sem cair em uma argumentação circular?
Por fim, enquanto os legalistas tentam nos mostrar o mistério de sua fé, os que queriam ver criminalizados e mandados para a lata de lixo da história é que, tão 19 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
politicamente habilidosos de tão estratégicos e tão estratégicos de tão politicamente habilidosos, sequer precisam se esforçar muito para mostrar quaisquer mistérios que bem prefiram. Eis, meus amigos, o triste fim de quem não acredita no conselho de Goethe: “é urgente ter paciência”.
20 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
SETE LIÇÕES QUE MUITO DIREITISTA BRASILEIRO PRECISA APRENDER SOBRE POLÍTICA As atuações recentes de grande parte da direita brasileira tanto em suas polêmicas internas – por exemplo, a recente altercação entre o amigo Luciano Ayan e certo ex-astrólogo – quanto em suas batalhas políticas contra a esquerda até vêm melhorando de uns tempos para cá, mas o fato é que continuam de dar dó. O caso, aliás, é tão grave que inspira pessimismo em qualquer um com menos de três neurônios ativos no cérebro, isto é, em pessoas que muitas vezes sequer conseguem perceber que o pessimismo é quase sempre a única opção viável.
Fato também é, contudo, que o panorama para a direita pode ficar menos pior. Bastará aos destros seguirem pelo menos as sete dicas abaixo, separadas por nossa equipe de um só membro para aqueles que querem parar de passar vergonha ao combaterem a esquerda brasileira:
1- Sejam diretos e mandem o preciosismo às favas
Uma das coisas mais tediosas em textos de direita são as explicações longas, detalhadas e entediantes antes de qualquer acusação ser feita contra os alvos daquela crítica. Se vocês da direita realmente querem impedir mais duas ou três décadas, no mínimo, de hegemonia cultural e política esquerdista, aprendam com os próprios: um título chocante aliado a um primeiro parágrafo incisivo farão com que o tamanho do restante do texto pouco importe a um leitor cuja curiosidade esteja aguçada; um título muito detalhado e um primeiro parágrafo mais chato do que os artigos do Marco Antônio Villa, por sua vez, farão o mesmo leitor dar as costas não só àquele escrito em questão, mas também a qualquer outro que vocês apresentem posteriormente.
Trocando em miúdos, é claro que é importante, aliás imprescindível, o leitor entender o assunto abordado em toda sua complexidade. Mais relevante, porém, é impactá-lo, convencê-lo de que o que o texto defende é bom, belo, moral e facilmente
21 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
defensável, e isso se faz combinando boa estética textual e fatos inapeláveis com ataques bem articulados contra aqueles que se quer ver longe do poder.
Será, porém, que os puristas conseguiriam ir além do bem e do mal, isto é, se importar tanto com o conteúdo político e moral de suas afirmações quanto com a forma como as fazem e divulgam?
2- Sinceridade demais atrapalha
Quando leio algum texto de bolsonaretes ou de olavettes (seguidores/fãs/alunos do pensador campinense Olavo de Carvalho) fanáticas – o que, aliás, é quase um pleonasmo vicioso -, fico impressionado como, muitas vezes, a assertividade do articulista está em um nível até melhor do que o ideal para um início de participação na guerra política. Por menos que o olavismo enquanto fenômeno político me agrade, apesar de preferi-lo ao esquerdismo, sou forçado a admitir que muitos, valendo-se de um estilo muito próximo ao de seu luminoso-mestre, conseguem produzir artigos que são capazes até mesmo de encurralar o mais articulado e malandro esquerdista.
Mesmo assim, há um problema desse ramo das olavettes, e este é explicável por uma paráfrase de uma parte de um texto do blog futebolístico Imortais do Futebol sobre a seleção brasileira de 2002.
Quando falamos de firmeza nas palavras, fica claro que essas olavettes são bestiais. Muitos esquerdistas, afinal, perdem totalmente o controle e, quando não partem para a ofensa grupal organizada pura e simples, são forçados a recuar e a deixar o artigo que queriam “desconstruir” em uma espécie de bolha, evitando divulgá-lo por meio de uma propaganda negativa claramente calcada na frustração por não se conseguir desmentir um autor.
Quando, porém, falamos de conquista de certos nichos, fica claro que esses direitistas são umas bestas, posto que são sinceros demais, muitas vezes, em suas opiniões quanto a grupos como mulheres, negros, gays, ateus e até mesmo quanto a 22 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
qualquer um que fuja o mínimo que seja da cartilha olavette ou que não louve Deus no céu e Bolsonaro na Terra. Que neutro, em sã consciência, aderiria um grupo que, se não se pronuncia contra alguma característica desse alguém, no mínimo parece não ligar para seu sofrimento? Qual indivíduo negro que ainda esteja aprendendo sobre política (ou seja, até que se prove o contrário, um neutro), por exemplo, ajudaria uma direita que está mais preocupada em dizer que a esquerda está promovendo a luta de classes ao acusar a existência de racismo do que em trazer alento a um negro que de fato já tenha sofrido racismo durante sua vida?
Claro que haverá a objeção de que toda minoria ciente da verdadeira face da esquerda preferirá a direita. Primeiro, respondo que isso não necessariamente ocorrerá, já que essas minorias, assim como as maiorias, estão sendo criadas com a ideia de que a dicotomia esquerda x direita é falsa, sendo a posição de direita ilegítima por “default” (ou seja, ambos os lados da dicotomia são igualmente falsos, mas um é mais igualmente falso do que outro).
Segundo, quanto tempo demorará para que um número relevante de pessoas pertencentes a grupos minoritários descubra e aceite essa verdade? Será mesmo que vale a pena ficar esperando que a esquerda erre de modo tão grotesco enquanto suas políticas vão corroendo o Brasil que a direita tanto diz querer proteger? Não seria essa preguiça ou inércia política, de certo modo, interpretável como uma espécie das mais cruéis de sadomasoquismo?
Mais uma vez trocando em miúdos, é claro que a honestidade é essencial para ganhos políticos permanentes. Ainda assim, ser honesto não implica, de forma alguma, ser sincero em 100% das ocasiões. Que tipo de ser humano, afinal, é tão língua de trapo a ponto de ser sincero até mesmo quando a sinceridade pode levá-lo às piores consequências?
23 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
3- Legalismo? Só quando estritamente necessário
Todos os leitores deste blog já estão carecas de saber que, para este articulista, legalismo é um delírio dos piores possíveis, seja porque o mundo dos legalistas provavelmente seria um “living hell”, seja porque achar que são as leis que influenciam a moralidade e a cultura, e não o inverso, é, no mínimo, desconhecer a natureza humana.
Devo admitir, entretanto, que, politicamente, o legalismo é, em algumas situações, muito aceitável. Uma delas, por exemplo, é quando o que está em questão são crimes como calúnia, latrocínio, estupro e homicídio, isto é, crimes que põem em risco a vida de uma pessoa ainda que indiretamente (calúnia, pelo menos em um país em que um acusado de um crime é considerado culpado já de partida, e em muitos casos o estupro) ou que a ceifem de vez (latrocínio, homicídio e alguns casos de estupro).
A mais interessante situação em que o legalismo é aceitável, no entanto, ainda é, em minha opinião, quando se é legalista na prática, mas não na teoria, isto é, quando se assume uma atitude ambivalente perante as leis para algum fim específico.
Exemplifico: que me desculpem os estudantes de Direito, mas tenho pouquíssimo respeito por qualquer ser humano que pense que a injúria, a não ser em raríssimas exceções, deva ser considerada um crime em qualquer Código Penal, quem dirá no brasileiro. É, para mim, um despropósito completo gastar tinta e papel com processos quilométricos e extremamente longos apenas porque sujeitos cujas honras devem ser muito facilmente atingidas ficaram ofendidos ao serem xingados por outras pessoas.
Mesmo assim, não seria eu quem recriminaria um militante político que, para atingir a reputação dos adeptos de sua ideologia adversária, se aproveitasse dessa prerrogativa para processar um figurão entre os adversários por alguma espécie de injúria que tenha cometido. Não recriminaria, por exemplo, algum direitista que, entrando em discussão com alguma figura proeminente da esquerda, conseguisse fazer 24 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
com que perdessem as estribeiras e dessem declarações públicas que levariam a um processo dessa natureza.
O ideal seria, então, que não se focassem tanto em defender ou criticar certas leis, mas em mostrar como as leis que julgam absurdas são absurdas utilizando-as contra seus principais defensores, ou, parafraseando o pensador esquerdista Saul Allinsky, “fazer o adversário sucumbir por seu próprio livro de regras”. Quantos esquerdistas brasileiros, por exemplo, não são ardentes entusiastas do Código Penal e de seus “crimes contra a honra”, dentre os quais, particularmente, o de calúnia me parece o único cuja existência é razoavelmente justificável?
O problema da direita brasileira, porém, é que, quando não são legalistas apenas em teoria (isto é, defendem o império da lei, mas nada fazem para lutar por sua ideia), fingem ser legalistas na prática política e ameaçam processar não grandes figuras de esquerda, mas blogueiros de direita que tenham falado mal de algum figurão ou mesmo blogueiros antidireitistas cujos números de seguidores muitas vezes mal chegam a uma centena.
Recusam-se, pois, a agir estrategicamente, agindo apenas por uma espécie de impulso contraproducente em termos de política, visto que podem acabar espantando aliados por problemas que poderiam muito bem ser resolvidos por meio de uma conversa privada via Facebook ou e-mail, por exemplo.
Ainda assim, afinal, o que esperar de uma direita que insiste em cometer o erro de lavar qualquer peça de roupa, por menos suja que esteja, em público, emporcalhando-a muitas vezes bem mais do que antes?
4- Esquerdista ingênuo/inocente/utópico? Não, direitista arrogante e condescendente mesmo
Chega a dar raiva quando vejo um direitista, principalmente aqueles que mais têm visualizações em seus blogs ou canais, falando, por exemplo, que “Tico Santa Cruz 25 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
tem uma visão inocente da política”, que “Luciana Genro é uma utópica“, que “esses meninos do Passe Livre são meros inocentes úteis” ou, ainda, a preferida de Luciano Ayan, que “Dilma é burra”.
Não. Não. Um milhão de vezes “não”. Que militante do PSOL, por exemplo, fala que os textos de Olavo de Carvalho são frutos de uma ilusão quanto ao livre-mercado? Que militante petista faz concessões a Rodrigo Constantino quando este critica as políticas econômicas de Dilma, dizendo que o ex-articulista de VEJA é só mais um liberal utópico? Que blog de esquerda vê em Reinaldo Azevedo um homem inocente, um coitadinho enganado? Qual colunista da Folha, quando da contratação de Kim Kataguiri, ficou falando que o “coleano do pastel de flango” mais famoso do Brasil era só um jovem iludido?
Nenhum, certo? Então por que motivos uma massa de articulistas de direita, ao discursar sobre o PSOL, fala sobre “utopia” e não sobre “distopia”? Por que, ao dissertarem acerca da política econômica do PT, usam o termo “equívocos” e não “crise planejada” ou, usando um termo olavette que se encaixa até melhor, “engenharia da crise”? Por que, ao criticarem Jean Wyllys, Tico Santa Cruz, Luciana Genro e tantos outros, agem com até mais leniência do que agiriam com um grupo direitista rival?
Por que, em resumo, tratam como inocentes aqueles que os tratam como malandros, canalhas, pérfidos e vendidos? A arrogância condescendente seria tanta que levaria à cegueira política?
5- Reclamações vazias não movem moinhos
Eu sei que você, direitista, acha que o mundo superpolitizado que a esquerda está criando será um inferno, mas, adivinha? Apenas reclamar dele não parará esse processo. Se os seus inimigos superpolitizaram o mundo, façam com que eles sintam as
consequências de suas ações ao invés de perderem tempo dizendo que queriam ler mais os clássicos ou alguma platitude do gênero. Façam, voltando à linguagem allinskiana, o inimigo sucumbir pelo seu próprio livro de regras. 26 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
Ou é isso, ou acostumem-se à lata de lixo da história.
6- Falas despropositadas movem moinhos, mas na contramão
Dirá algo em relação aos fatos do momento? Pare e pense nas seguintes questões:
1- O que estou dizendo é útil? 2- O que estou dizendo é coerente com o que venho defendendo? 3- O que estou dizendo pode trazer uma imagem ruim ao grupo do qual faço parte? 4- O que estou dizendo pode atingir meus oponentes de uma forma a fazê-los perderem o moral?
Se as respostas de 1, 2 e 4 forem “não” e a de 3 for “sim”, pergunte-se: não posso mesmo deixar para dizê-lo em algum momento mais conveniente ou menos arriscado?
Se a resposta for “sim, posso dizê-lo em outro momento, então vou deixar quieto”, congratulations, you won at life . Se a resposta for “não, tenho que dizer isso agora”, desvincule-se publicamente de qualquer ideologia política e vá ler um bom livro sobre estética, biologia marinha, astrofísica ou gastronomia, porque a política definitivamente não é a sua praia.
7- Odeia a política? Guarde para você
Sim, eu sei que a política muitas vezes envolve disputa pelo poder, canalhice, perda de amizades e outras coisas ainda mais enfadonhas. O mundo, porém, não é muito diferente disso (a não ser, é claro, para um otimista, isto é, para uma pessoa cuja opinião não deve ser levada a sério por qualquer adulto respeitável), e não é por isso que você sai por aí dizendo “eu odeio o mundo”.
27 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
Sendo direitista, aliás, é muito provável que você sinta que quem odeia o mundo é, no mínimo, maluco e, no máximo, uma pessoa cujo convívio deve ser evitado. Pense que, para muitos, ao dizer “nós direitistas odiamos política”, você está dando a mesma impressão não tanto sobre si mesmo, mas principalmente sobre todo um grupo de pessoas que diz representar.
Em um mundo em que fazer política está sendo cada vez mais associado ao bom funcionamento da democracia, que já é largamente considerada um valor intocável, ficar bradando aos quatros ventos o ódio à política pode muito bem ser interpretado, ainda que lateralmente, como ódio à democracia, o que não é muito bem aceito socialmente.
Creio, portanto, que está claro que, a não ser que você seja um “liberteen” ou uma pessoa com graves problemas de percepção das emoções alheias, dizer “eu odeio política” não é fazer a declaração mais esperta do mundo.
Mas, enfim, o que esperar da galera que acha uma imoralidade intolerável alguém se tornar colunista de um jornal para deixá-lo menos esquerdista?
28 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
A FANFIC DE ESQUERDA E A DIREITA QUE PRECISA APRENDER A SE INDIGNAR... POLITICAMENTE Tenho defendido, em meus textos mais recentes, que a maneira mais pacífica e mais moral para se derrotar a esquerda é jogar a guerra política , essa mesma que é tão
vilipendiada pela direita puritana babaca que prefere promover um banho de sangue por meio de uma “revolução popular democrática” ou alguma canalhice do gênero a chamar totalitários de totalitários.
Parece, no entanto, que, antes de qualquer coisa, a direita precisa aprender a se indignar politicamente, ou seja, aprender a se mostrar revoltada não tanto contra aquilo que afronta seus valores morais, mas em especial com aquilo que, além dessa afronta, também esteja claramente sendo utilizado em nome de um projeto de poder que ceifará vidas e que trará a miséria em todos os seus aspectos a todos.
Emblemático caso, nesse sentido, é o das chamadas “fanfics de esquerda”, isto é, histórias ficcionais de baixa qualidade literária que circulam na rede cujo objetivo é transparente: promover sutilmente, na internet, por meio de personagens-chave, as agendas da esquerda totalitária brasileira, sendo as principais delas o feminismo e a defesa de certo ParTido que fará de tudo, principalmente mentir, para não perder o poder.
Muito se tem comentado, na direita, sobre essas fanfics, mas ninguém chegou ao verdadeiro ponto em que se pode deitar e rolar para cima de qualquer esquerdista nesse assunto. Por pior que seja, o problema desses textos não é o fato de que histórias mentirosas estão sendo espalhadas como verdades para fins de desinformação. Lógico, este é um grave problema, mas o maior problema desses escritos, na realidade, não é apenas político, mas moral e político.
O mais grave problema das fanfics de esquerda é que, na verdade, ao misturar histórias totalmente irreais com histórias plausíveis de terem ocorrido e ao adicionar a isso personagens com os quais o brasileiro sente algum grau de identificação
29 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
(crianças e idosos, por exemplo) e valores e causas com os quais muitos se solidarizam (a construção de um “mundo melhor” e a defesa de direitos de minorias, entre outros),
a esquerda faz de suas próprias mentiras totalitárias uma arma para demonizar seus opositores.
Estes, por sua vez, ao invés de comentarem tais escritos de maneira indignada rotulando-os pela canalhice e pela barbárie que são, ficam fazendo piadas cujas eficiências se restringem apenas a fazer rir os antiesquerdistas já convertidos, enquanto os neutros, mesmo diante de uma história claramente mentirosa, ainda sentirão mais simpatia pelo contador justamente por este ter se associado a valores e causas pelos quais é fácil ter simpatia, além de ter demonizado o outro com grande sucesso.
Em suma, não é vomitando bobagens do tipo “essas fanfics com criança só provam que a ideologia desses caras é infantil” (ah, sim, dar o frame de “inocente” para a esquerda é brilhante, só que não) ou “é impossível uma senhora ter ido rezar por Dilma Rousseff” que se fará danos à imagem da esquerda, que continuará parecendo bem intencionada apesar dos pesares.
O segredo para derrotar as fanfics, pois, não está em expô-las como ilógicas, mas sim como imorais e desumanas. Não é a lógica, afinal, que importa em política, mas sim a aparência de moralidade.
Para isso, direitistas, é necessário que vos indignai politicamente, isto é, que aprendam a, como bem diz o blogueiro de direita Luciano Ayan em diversos de seus artigos, deixar de apenas narrar os fatos e passar a mostrar a justa indignação devida a alguns deles. Duvido muito, porém, que pessoas que odeiam a política e não se
envergonham de dizer isso em público sejam capazes de uma ação tão moral, mas tão política ao mesmo tempo.
30 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
NÃO, AMIGO DE DIREITA, VOCÊ NÃO TEM A MENOR IDEIA DE COMO O MUNDO FUNCIONA Entre blogueiros conservadores prolixos que não conseguem paragrafar direito seus textos e colunistas liberais que vomitam bobagens políticas como “Dilma errou”, é bastante comum ler que a direita é direita exatamente porque sabe como o mundo funciona, enquanto que, para a esquerda, só sobram as abstrações e as utopias.
Francamente? Patético, mas não sei se patético a ponto de dar dó ou a ponto de causar raiva. Se essa afirmação da direita é verdadeira, isto é, se os reacionários (como os próprios adoram ser chamados) sabem como o mundo funciona, por que dão de bandeja aos esquerdistas, então, a chance de colarem em si mesmos rótulos políticos tão confortáveis e tão convenientes como “utópicos” e “bem-intencionados”? Por que, aliás, não gastar esse tempo que é gasto chamando a esquerda de “utópica” rotulandoa, como dizem em textos babacas e longos demais, pelo que ela é, ou seja, totalitária, fascista, intolerante, intolerável e canalha?
Episódios recentíssimos da política brasileira, por sinal, enfraquecem ainda mais essa frase de efeito deprimente utilizada pelos direitistas como autoajuda. Dois casos, aliás, são tão emblemáticos que sequer será necessário citar quaisquer outros eventos.
No primeiro caso, temos a esquerda depois da votação de domingo (17/04) espalhando a falsa e canalha informação de que, no caso do impedimento de Dilma, Cunha se tornaria vice-presidente e o apocalipse tupiniquim se tornaria ainda mais intenso e caótico.
O que faria, nesse caso, um indivíduo que entende como o mundo funciona? Espalharia à exaustão textos de Facebook, notícias e artigos de blogs, memes e até mesmo GIFs em que o foco fosse rotular, de ponta a ponta nos textos, a esquerda, por espalhar essa desinformação, de “mentirosa” e “canalha” para baixo, ao invés de o enfoque se dar em explicações tediosas, detalhistas e pouco politicamente úteis utilizando algo tão execrável quanto a nossa Constituição Federal. 31 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
O que a direita, com raríssimas exceções, faz? Textos longos, chatos, prolixos, monótonos e moralistas que só mesmo o convertido mais fiel respeitará e tomará com seriedade. Isso, é claro, fingindo querer informar bem alguém de algo, porque ninguém que tenha o mínimo de cérebro dará créditos a pessoas que deram microfone a bizarrices como “intervenção militar constitucional” ou, mais patético ainda, “revolução popular democrática”, mas que sequer conseguem atacar bem retoricamente o lado oponente na guerra política.
O outro caso, paralelo ao primeiro, é ainda mais simbólico: Bolsonaro cita e elogia Coronel Brilhante Ustra durante seu voto pró-impeachment, Jean Wyllys vota momentos depois e cospe em direção ao deputado do PP, e as esquerdas começam a espalhar sua narrativa de que a cusparada nada é perto da apologia a um torturador feita por Bolsonaro. O que um adulto que entende o mundo faria? No mínimo, processaria Wyllys ou o desmascararia em público. O que Bolsonaro, até o momento, fez? Pose de lorde inglês – como se isso virasse alguma coisa no Brasil.
O que mais esse mesmo adulto faria? Mostraria que, independente de Bolsonaros ou Ustras, o real monstro moral é Wyllys e os criminosos que este defende publicamente (Che Guevara é um exemplo claríssimo disso). Escreveria, em um primeiro momento, textos, então, não defendendo Bolsonaro muito e atacando Wyllys pouco, mas atacando Wyllys com tudo e, se necessário, mencionando no final e de passagem Bolsonaro e Ustra, deixando para defendê-los para o público quando o filme de Wyllys já estivesse suficiente queimado a ponto de o público aceitar ver a outra perspectiva.
O que a direita, em sua maioria, fez? O mais irrelevante e o menos eficiente: defendeu Ustra e Bolsonaro como se não houvesse amanhã, enquanto deixou, como se o amanhã sempre fosse garantido em política, de rotular Wyllys e seu séquito de puxasacos totalitários pelo que de fato são.
Fica evidente, portanto, que, para quem sabe como o mundo funciona, a direita se esquece do básico, isto é, que, em política, pouco importa saber como o mundo 32 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
funciona ou se a mulher de César é honesta. O que importa, na realidade, é parecer saber como o mundo funciona, assim como à mulher de César o mais importante é parecer honesta. Ou entendem isso e estão com um grau intolerável de burrice, ou não sabem como o mundo funciona.
33 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
REFUTAR PARA QUÊ? Sendo um assíduo espectador do debate político brasileiro na internet – porque, afinal, eu pago internet para ver tretas, não para ver conservador se achando o tal porque revelou ao mundo que a esquerda apenas defende membros de minorias quando estes são esquerdistas, como se isto fosse algum segredo acessível apenas a iluminados -, é com dó, quando não com certo sentimento de raiva, que tenho visto a seguinte reclamação por parte de alguns adeptos das ideias de direita: “ora, mas os esquerdistas não refutaram o conteúdo das afirmações de x.”
O caso mais recente, e um dos mais emblemáticos, tem sido, sem dúvida, o dos constantes ataques da esquerda à jurista e professora da USP, Janaína Paschoal, que, junto com o também jurista Hélio Bicudo, é responsável pelo pedido de impeachment que vem gerando toda uma celeuma dentro do Congresso Nacional há pelo menos um ano.
No caso em questão, Janaína tem sido alvo das mais diversas ofensas desde que seu nome foi mencionado no debate político pela primeira vez. Tais ataques, aliás, se tornaram ainda mais intensos por parte de nossa esquerda totalitária depois que a professora da USP participou de uma espécie de palestra pública em que, pelo visto, atacou o PT e defendeu o impeachment de forma bastante enfática.
Nossa esquerda, cretina como sói, não perdeu a oportunidade e, é claro, utilizouse da fala enfática da jurista para atacá-la, rotulando-a, entre outros adjetivos, como “louca”, “megalomaníaca” ou “surtada”, tentando fazer com que, lateralmente, qualquer discurso antiesquerdista pronunciado de maneira mais acalorada no futuro possa e deva ser rotulado do mesmo jeito.
Nossa direita, palerma como sói, ao invés de partir para a rotulação contra o lado oponente com ainda mais ênfase, mostrando, por exemplo, como vários ícones da própria esquerda é que seriam os loucos de verdade e, pior ainda, os tiranos de verdade, apenas acusa com textos chatos e longos a esquerda de incoerente, repetindo platitudes 34 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
do tipo “a esquerda só defende as minorias quando lhe convém” ou, pior ainda, a que serviu de inspiração para este artigo, que “nenhum esquerdista refutou o conteúdo das afirmações de Janaína, só se focaram na forma”.
Todo esse imbróglio mostra, na verdade, apenas uma coisa: a direita ainda não aprendeu que o apelo à lógica quando falamos de conteúdo é, na maioria das vezes, secundário no debate político. O que de fato vale, como já explicado em diversas ocasiões pelo amigo articulista liberal Roger Scar, escritor do espetacular ensaio Bolas Quadradas – um ensaio sobre política, é justamente a forma, e, mais ainda, como esta
é manipulada por cada um dos oponentes no jogo político.
Trocando em miúdos, é lógico que a esquerda não vai procurar refutar o conteúdo do que quer que seja. Os esquerdistas, aliás, nem sequer precisam fazer isso, assim como não precisam ter razão sobre o que quer que seja que estejam defendendo ou mesmo não precisam estar defendendo o bom, o belo e o moral. O que a esquerda fará e o que de fato vem decidindo o debate político a seu favor mesmo contra tudo e contra todos é, na verdade, fazer parecer que refutou certo conteúdo, isto é, dar às suas ideias a aparência de racional, de bom, de belo, de moral e do que mais for necessário para seus objetivos políticos.
Eis, meus amigos, o que diferencia adultos de crianças em um debate político. E eis um mistério: se a direita está tão certa de que conhece o mundo como sempre funcionou, por que será que ainda está demorando tanto para sacar que o debate político é, no fundo, e salvo raríssimas exceções (o que não é o caso brasileiro), um debate de formas, e não de conteúdos?
35 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
THE BRAZILIAN CONSERVATIVE: DIÁLOGOS DA BLOGOSFERA “Ei, cara, você viu a nova desses progressistas superpolitizadores defensores da sociedade de controle? ”
“Não, velho, não vi. Sabe como é, detesto política, então nem procuro mais me atualizar quanto ao que quer que seja disso. Mas, vá lá, tu é meu brother, então abro uma exceção. Qual é a nova? ”
“Mano, eles reclamaram de um comercial da Doritos só porque h umanizaram um feto, tratando-o como o bebê que ele de fato é. Que pessoal mais maluco…”
“Putz, cara, é verdade, essa galera da esquerda está cada vez mais pirada. Tudo bem que a gente sempre condenou o pensamento estratégico em termos de política como uma imoralidade inadmissível e que eles estão se aproveitando disso para nos fazer parecer contraditórios porque adoramos um comercial em que esse tipo de pensamento é elevado ao cubo, mas daí a reclamar de um comercial inocente já é demais. ”
“Na boa, essa galera não se toca que não é belo e moral eles ficarem fazendo política com tudo? Por que eles têm sempre que politizar todas as causas que nós não quisemos politizar por causa de nossa moralidade mais elevada? ”
“E o que eles fazem com grupos minoritários, então? Só porque a gente não se mostra tão solidário quanto deveria às minorias, eles vão lá e cooptam esses grupos para ganhar mais votos e poder! Isso pode até ser um movimento estratégico óbvio em política, mas tamanha imoralidade não pode ser imitada por pessoas com tão elevado senso de moral e civilidade quanto nós! ”
“Pois é, e eles nem ligam quando a gente fala que o indivíduo é a menor minoria que existe! Um disparate! Tudo bem que eu mesmo já te disse muitas vezes que 36 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
argumentos lógicos não convencem ninguém, mas a gente não pode descer ao nível deles e tentar mexer com as emoções da galera para reverter o dano que eles fizeram à alta cultura e ao senso de proporções do brasileiro. ”
“Isso mesmo. Nosso reino é o reino dos céus. É só sermos pied osos e seguirmos as leis de nosso senhor que nada de mal vai acontecer com a gente, mesmo que todo o poder político, esse poder vão e terreno, esteja nas mãos deles. ”
“Gloria in Excelsis Deo , irmão! ”
“Ainda assim, uma reclamação tão leviana não pode ficar sem resposta. Você sabe que eu não curto mesmo política, então não tenho ideia de como responder a uma coisa dessas. O que você vai fazer? ”
“Ah, meu amigo, eu já sei. Vou escrever um texto indignado com como o brasileiro não entende que essa imoralidade faz parte de um plano maior da esquerda para instituir uma sociedade de controle…” “Mas não é isso mesmo que o brasileiro comum quer? Eu mesmo já conversei com um monte de gente que quer a volta da ditadura e que rejeita essas ideias de Estado-mínimo que a gente defende. ”
“Bobagem. Você está se deixando levar pelo estereótipo da esquerda. O povo é conservador, só que ainda precisa que alguns iluminados lhe expliquem que reacionário não é ofensa e que quem superpolitiza a vida pode até ganhar poder e dinheiro inclusive para fazer o que quiser contra o povo, mas não ganha em termos de liberdade interior, que é o que importa. ”
“Ah, é mesmo, perdão, acho que eu fiquei tempo demais sem ler nada dos nossos colegas. Continue. ”
“Daí eu vou cagar bibliografia com um monte de livros que eu sei que ninguém vai ler mesmo, misturando obras clássicas com as teorias daquele nosso professor e de 37 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
outros colegas nossos de curso, escrever com uma sintaxe confusa e arcana e terminar com uma pergunta ou frase de efeito. ”
“Genial, cara. A esquerda vai tremer na base com esse texto cheio de discussões elevadas que não são acessíveis aos escravos do poder e do cotidiano como eles. Manda ver que eu compartilho logo depois de você. ”
“Você sabe que eu não ligo para o meu público mesmo, mas te agradeço, porque o que importa é divulgar essa mensagem que pode até parecer prolixa e vitimista por parte daqueles que, como eu, não gostam de política, mas é, na verdade, a forma que encontrei de fugir e de ir contra a corrente desse mar de superficialidade que é a discussão política no Brasil. ”
…
Senso comum? Não, meus amigos, muito pior do que isso. É um senso que, de comum, não tem nada.
38 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
“ESTIMULAR O DEBATE RESPEITOSO DE IDEIAS?”
NÃO TÃO
RÁPIDO, RELATIVISTA DE BOTECO Ando, ultimamente, muito angustiado com uma série de bobagens que tenho visto internet afora, e sobre as quais tentarei passar a comentar com mais frequência, amigo leitor. Estou vendo, por exemplo, que é extremamente necessário que as pessoas entendam de uma vez por todas que, a não ser em lugares que realmente se proponham a isso já em seus nomes ou em suas descrições, página NENHUMA do Facebook assim como movimento político NENHUM são obrigados a “estimular o debate respeitoso de ideias” dentro de seus domínios ou durante suas movimentações.
De uma página de Facebook que se chama, por exemplo, Aventuras na Justiça Social, cujo objetivo declarado sempre foi zoar certos setores progressistas, não se deve
esperar qualquer tipo de ponderação ou de crítica com o objetivo de fazer concessões às ideias do oponente progressista. Espera-se, na verdade, críticas no sentido de ridicularizar o oponente, mostrando não a sua face humana e respeitável, mas justamente a face mais desumana ou mais ilógica.
Da mesma maneira, não só seria ilógico como também injusto cobrar de uma página militante do PT que fizesse concessões aos adversários políticos, assim como não faz o menor sentido pedir, em meio a um protesto antipetista, falar em “é hora de debater” com pessoas que nisso têm interesse zero – qualquer protesto, aliás, é, em essência, o pior lugar para tentar racionalizar o que quer que seja.
No fundo, aliás, ninguém faz essas concessões sinceramente, nem mesmo administradores de páginas de debate político ou de grupos de debate universitário, isto porque quem concede demais ao outro acaba, de certo modo, caindo na forma mais pífia de relativismo, seja moral ou político: o relativismo não dos intelectuais, mas dos covardes, dos preguiçosos, daqueles que, ao invés de usarem a autonomia que alegam ter para procurar a verdade por si mesmos, decidem que é mais cômodo alegar que não há a verdade e que quem a procura só pode ser, no fundo, um ideólogo canalha, um fanático religioso/ateu ou um intransigente of some sort . 39 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
Neste sentido, por mais que minha admiração por Olavo de Carvalho tenha caído para níveis abaixo de zero, não tenho nada a contrapor quando este deixa claro que, de certa maneira, respeitar a opinião alheia é valorizá-la e, portanto, também tê-la como sua, mesmo que por um instante.
É óbvio que, se levada ao extremo, a postura de não respeitar qualquer tipo de opinião oposta, de não fazer concessão alguma em situação alguma, pode levar justamente à criação de movimentos cretinos como aqueles baseados justamente na doutrina de Olavo, mas fazer o total oposto, ou seja, respeitar totalmente qualquer tipo de opinião traz ao “respeitador” um problema ético insolúvel: o de que nem toda opinião é digna de respeito.
Como “respeitar”, por exemplo, a opinião de que judeus, negros e gays devem ser exterminados em nome da sociedade ariana perfeita, ou a opinião de que, em nome da sociedade sem opressão, a burguesia ou o “homem branco cristão cis-hétero carnívoro” devem necessariamente sumir da face da terra? Não seria a tentativa de ver lógica no que não é lógico, justamente, a maior prova de que já se caiu no relativismo covarde de que falei linhas atrás?
Estimular o debate respeitoso de ideias? Claro. Só resta saber onde, quando, com quem e com que ideias se deve fazê-lo. Não adianta, por exemplo, tentar estimular o debate de ideias em locais onde o que predomina é a figura do homem-massa. Destes locais, aliás, o debatedor de ideias, se honesto, deve fugir. Se desonesto, quem deve fugir são os locais dos falsos debatedores de ideias.
40 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
POSFÁCIO – ENSAIO SOBRE A ORTODOXIA POLÍTICA “Orthodoxy is unconsciousness.” (George Orwell, 1984)
Começo este texto com a culpa, leitor amigo, de quem tem uma confissão a fazer. Confesso que, ultimamente, fico irritado, além de cansado, quando tenho de debater com ortodoxos, com puristas de direita ou de esquerda que, em nome da ideologia e de valores de validade questionável, se recusam a enxergar o que já está praticamente na íris dos olhos de qualquer analista político, mesmo que mequetrefe, que não compartilhe de sua cegueira e, com isso, perdem não apenas votos como também a possibilidade de granjear mais simpatizantes até mesmo entre os desinteressados em política.
Óbvio que o fenômeno ao qual me reporto acontece bem mais à direita do que à esquerda, visto que esta percebeu, há pelo menos 40 anos, como funciona o jogo político, ou seja, que é necessário, muitas vezes, atualizar o discurso e torná-lo mais aberto a todos os grupos sociais e, principalmente, mais atraente para as massas, o que permite a quem as cative da melhor forma possível que tenha, no mínimo, maior respaldo para expor os itens de sua ideologia para o grande público e, com alguma habilidade retórica e muita propaganda, ir convencendo-o aos poucos até mesmo a mudar posicionamentos que eram tidos como imutáveis porque derivados de uma moral social ou de uma ordem política previamente vigentes.
Como muitos poderiam observar, é claro que a conquista dos corações das massas não depende apenas dessa flexibilização e dessa propaganda incessante. Se os militantes da causa gay, apenas para citar um exemplo que vem gerando mais controvérsia Facebook afora, adotassem, para a defesa dos seus interesses de grupo, uma retórica itaguaíense (os machadianos entenderão) ou tucana , estariam certamente fadados ao fracasso eterno, já que os únicos sentimentos possíveis diante de formalismos desnecessários e prolixidades irritantes que pessoas normais podem ter são que ou se trata de um embusteiro (não tanto por contar mentiras, mas principalmente por não falar coisa com coisa) ou de um chato de galochas. 41 Octávio Henrique
EU, APOLÍTICO – PENSAMENTOS E PALPITES DE UM BLOGUEIRO APOLITICAMENTE INCORRETO
Outro fator importante é que, para a criação de uma retórica adequada, também é preciso estar bem informado sobre as ideias que estão em voga nos meios intelectuais e nos meios midiáticos e não agir como um irresponsável metralhando-as com frases desconexas e com argumentos no mínimo mal explicados.
Foi esse o erro, por exemplo, do ex-presidenciável Levy Fidelix, um autodeclarado direitista no último pleito eleitoral, ao dizer que uma maioria heterossexual deveria combater “essa minoria” (no caso, os homossexuais): além de ter sugerido o seu desprezo (para dizer o mínimo) por uma minoria cada vez mais ativa politicamente no Brasil, ainda usou um tom que provavelmente levaria um “neutro” educado para a tolerância a ter nojo não só dessa fala de Fidelix como também de qualquer outra ideia que ele venha a defender.
De maneira parecida, erram também os religiosos que, em um país cada vez menos fã de religiosidade tradicional, usam como argumentos sobre temas como o Aborto as palavras ditas por sua divindade em um livro que para eles, e apenas para eles, é sagrado.
É aí, então, que o ortodoxo começa a mostrar suas falhas. Enquanto o flexível, o heterodoxo, procurará até mesmo aprender algumas estratégias com seus opositores políticos, o ortodoxo, o purista inflexível e babaca, provavelmente se recusará a isto sob a desculpa de que seu senso elevadíssimo de moral jamais lhe permitiria fazê-lo, pois estará copiando os imorais, os errados.
Enquanto o heterodoxo procurará, quando falar sobre homofobia (para ficar no mesmo exemplo), emplacar outro de seus discursos junto com o combate à homofobia, o ortodoxo, para combater a “histeria”, tentará convencer o grande público de todas as formas que o caso não é bem esse.
Enquanto o ortodoxo apenas zombará do que diz uma candidata como Luciana Genro (que, inclusive, foi muito mais bem-sucedida em número de votos no último pleito do que Fidelix mesmo sem ter sequer ido ao segundo turno), o heterodoxo 42 Octávio Henrique