UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA HISTÓRIA MODERNA I DOCENTE: CAROLINA SOARES SOUSA DISCENTE: BLANDU CORREIA MARTINS DA SILVA – 150119542 150119542
Fichamento: "O Mundo de Ponta Cabeça". HILL, Christopher.
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO Hill inicia seu texto afirmando que o intuito de seu livro será estudar as ideias e os episódios secundários ocorridos durante a Revolução Inglesa: as tentativas de vários grupos, formados em meio à gente simples do povo, para imporem suas próprias soluções aos problemas de seu tempo. Ele apresenta a ideia de que no interior da Revolução foram apresentadas diversas formas de solução, algumas das quais são bem mais conhecidas do que outras. Entre elas: soluções políticas e econômicas. Porém, diz o autor: "é provável que incorra em equívocos quem pretender encontrar naquela época uma diferenciação muito pronunciada entre entre (...)" tais soluções. soluções. Hill discorre sobre a nossa tendência em impor contornos claros demais à história inicial das seitas inglesas. Sendo assim, ele afirma que um dos objetivos do livro estará em sugerir que as coisas eram muito mais "enevoadas". "enevoadas". Mais ou menos entre 1645 e 1653 procedeu-se na Inglaterra uma enorme contestação, questionamento e reavaliação de tudo. Foram questionadas as velhas instituições, as velhas crenças, assim como os velhos valores. E não houve apenas estes questionamentos, isto é, indagações sobre a velha sociedade hierárquica, porém, da mesma forma, os novos valores foram postos em pauta, a própria ética protestante foi questionada. Hill, ao afirmar que o objeto de seu livro está em examinar as revoltas no interior da Revolução, destaca que houve duas revoluções na Inglaterra em meados do
século XVII. Uma, a que venceu, estabeleceu os sagrados direitos da propriedade, conferiu poder político aos proprietários e removeu tudo que impedia o triunfo da ideologia dos homens com propriedades. A outra, que nunca chegou a se concretizar, deria haver estabelecido um sistema comunal de propriedade e uma democracia muito
po
mais ampla nas instituições legais e políticas.
CAPÍTULO 2. O PERGAMINHO E O FOGO TENSÕES SOCIAIS. Na Inglaterra anterior a 1640 existia uma hostilidade entre classes bem maior do que os historiadores costumaram reconhecer. Esse antagonismo de classe foi exaltado pelas dificuldades financeiras dos anos que vão de 1620 a 1650, destacados como dos mais terríveis na história inglesa. O governo era condenado por seu desgoverno da economia e pelos monopólios e outros expedientes fiscais dos anos 1630. Muitas vezes exibindo também um elemento de hostilidade de classe o povo comum ("os homens sem camisas", descamisados, como os chamou um irado realista) teve uma participação inusitada nas eleições para os dois Parlamentos de 1640, votando contra a corte. Além disso, quando o Longo Parlamento se viu frente a um rei que se recusava a aceder a suas reivindicações, sentiu-se forçado a procurar apoio fora do círculo encantado da classe dirigente. "Era tal o ódio dos cidadãos aos fidalgos, e especialmente aos cortesãos, que poucos se atreviam a entrar na City, ou, se o faziam, era com a certeza de que ouviram afrontas e ofensas." Esse pano de fundo de insubordinação social naturalmente influenciou os proprietários, quando tiveram de escolher entre o rei ou o Parlamento, ao deflagrar-se a guerra civil. Os anos de guerra civil presenciaram a abolição dos tribunais eclesiásticos e da censura. Antes de começar a guerra civil, Carlos I advertira os partidários do Parlamento quanto ao perigo de que, "finalmente, o povo comum" pudesse "proclamar as suas pretensões, chamar de liberdade à paridade distinções de família e mérito". Muitos observadores temiam que o povo comum, abaixo da escala do pequeno proprietário rural ( yeoman), se apresentasse na contenda como um terceiro partido. Isso aconteceu em 1645, quando grupos de camponeses ( clubmen) tomaram em armas, por todo o sul e oeste da Inglaterra, para se oporem igualmente a realistas e
parlamentaristas. Não foi possível dispersá-los, até que os enfrentou o Exército de Novo Tipo, com suas características de paga regular e estrita disciplina. O Novo Tipo, cuja instituição havia sido contestada tão ferozmente pelos conservadores, parecia haver salvado a ordem social. Mas, como apresentado por Hill, o Novo Tipo, como declararia em junho de 1647, "não era um vulgar exército mercenário"; era o povo comum em uniforme, portanto mais próximo de suas convicções do que das da pequena nobreza ou do Parlamento. E a liberdade de discussão que foi permitida nesse exército excepcional levou a um desenvolvimento fantasticamente rápido do pensamento político.
HERESIA DE CLASSE INFERIOR. Hill começa afirmando que existia uma tradição plebeia de aversão ao clero e irreligião, onde destacam- se os “Lolardos” que contestavam a venda de missas; os “Anabatistas” que pregavam o batismo espontâneo e em idade adulta. Hill diz que teve
como fonte na pesquisa sobre os anabatistas, documentos de tribunais eclesiásticos. Um terceiro grupo, ao familistas, do qual Hill declara ter mais documentação a seu respeito, eram seguidores de Henry Niclaes que dizia que Deus faz o homem e do homem faz Deus. Os familistas duvidavam da divisão entre céu e inferno. Acreditavam os membros da Família do Amor que a humanidade voltaria, na terra, ao seu estado de inocência anterior a Queda. O familismo, prolongando o ceticismo de classe baixa dos lolardos, era um credo leigo e anticlerical. A Igreja oficial era impopular e templos eram profanados, imagens incendiadas e cruzes quebradas: "A impopularidade da Igreja oficial, como um todo, é igualmente comprovada pela iconoclastia popular que irrompia a cada oportunidade: no final da década de 1630 e durante a de 1640, arrancavam-se as divisórias que separavam os altares da parte do templo ocupada pelos fiéis, eram profanados os próprios altares, destruídas estátuas de túmulos, queimados documentos eclesiásticos, batizados porcos e cavalos". Bispos e Ministros da Igreja recebiam acusações e insultos, e havia uma total insatisfação com a ingerência dos tribunais eclesiásticos sobre a vida dos comuns. Pessoas eram levadas a julgamento acusadas de não guardar feriados, casarem sem licença e faltarem contra a castidade.
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA HISTÓRIA MODERNA I DOCENTE: CAROLINA SOARES SOUSA DISCENTE: BLANDU CORREIA MARTINS DA SILVA – 150119542
Fichamento: "O Mundo de Ponta Cabeça". HILL, Christopher.
Capítulo 3. HOMENS SEM SENHOR Hill começa este capítulo com a seguinte afirmação: "a essência da sociedade feudal residia no elo da lealdade e dependência entre homem e seu senhor. A sociedade era de estrutura hierárquica: alguns eram senhores, outros, seus servidores". Porém, ele logo contrapõe esta ideia: "é claro que a realidade jamais correspondeu a este modelo, e pelo século XVI a sociedade estava-se tornando relativamente móvel: não eram mais foragidos da lei os homens sem senhor, porém existiam em números alarmantes". Ao discorrer sobre os tipos de homens de sem senhores existentes naquele período, ele aponta: "havia vadios, vagabundos e mendigos, que perambulavam pelos campos, às vezes em busca de emprego, porém mais frequentemente como refugos para quem não havia lugar numa sociedade em transformação econômica e em rápida expansão demográfica". Esses homens não só eram desprovidos de condições econômicas e totalmente afastados de participação política, mas eram vinculados a nenhuma tendência religiosa e também política. Londres, cuja população subiu exponencialmente entre 1500 e 1650, comporia uma vasta população que se encontrava em condições precárias, abaixo da linha da pobreza. "Havia mais trabalho informal em Londres do que em qualquer outro lugar, havia mais caridade e melhores perspectivas de se ganhar a vida desonestamente". Dessa forma, Hill destaca que a existência dessa vasta população constituiria a matéria mais adequada para formar o que seria chamado de "populaça", isto é, a população basicamente não política, que pôde ser usada pelos presbiterianos contra o Exército, pelos realistas, pela Igreja e pelos partidários do rei sobre a rainha Ana. Hill declara: "a
sua mera existência já constituía uma permanente ameaça em potencial, especialmente em tempos de crise econômica". Importa-me destacar que, os membros de diversas seitas protestantes se constituiriam como os de segunda espécie desses grupos de homens sem senhores. Contudo, diferentemente dos já citados, estes pareciam mais organizados, chegando, inclusive, a constituir comunidades nas cidades. Encontra-se também, neste quadro, os camponeses pobres e os ocupantes ilegais das terras de cunho comunal de Londres. Sobre estes últimos, Hill afirma: "Trata-se de vítimas da rápida expansão da população inglesa ocorrida durante o século XVI; ora vitimas, ora beneficiários da ascensão de novas indústrias ou de crescimento de antigas". Ao destacar a quarta categoria de homens sem senhor, Hill discorre sobre "a população de artesãos de itinerantes, de bufarinheiros e carroceiros a corretores de grãos, isto é, intermediários nas trocas comerciais". Ele ainda se pronuncia sobre a qualidade de ser um homem sem senhor ao dizer que "um homem sem amo era o servidor de ninguém", e que isso podia significar a liberdade pra quem valorizasse mais a independência do que a segurança. Por fim, Hill declara que por baixo da estabilidade da Inglaterra rural havia a "fermentação e mobilidade dos invasores de florestas, dos artesãos e pedreiros itinerantes, de desempregados de ambos os sexos em busca de trabalho, de atores, menestréis e jograis ambulantes, bufarinheiros e charlatões, ciganos, vagabundos, vadios, concentrando-se principalmente em Londres e nas grandes cidades, mas também deitando ramificações em áreas de ocupação ilegal mais antiga, onde houvesse demanda de trabalho (...)". O autor deixa claro que nesse submundo eram recrutados os exércitos e as tripulações para a marinha, de homens dispostos a correr riscos na esperança de terem a propriedade da terra e, com ela, uma posição social que jamais poderiam aspirar numa Inglaterra superpovoada.