MARIA DE FÁTIMA RODRIGUES RIBEIRO
GRAFISMO INFANTIL: Uma análise do processo de desenvolvimento do desenho infantil de crianças de 0 a 12 anos
BELÉM – PA 2002
MARIA DE FÁTIMA RODRIGUES RIBEIRO
GRAFISMO GRAFISMO INFANTIL: INFANTIL: Uma análise do processo de desenvolvimento do desenho infantil de crianças de 0 a 12 anos
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Educação Artística-Habilitação em Desenho, do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, da Universidade da Amazônia, como requisito parcial, para obtenção do grau em licenciado, orientado pelo professor Onofre Arcl Arclei eidy dy Pere Pereir ira. a.
BELÉM – PARÁ 2002
MARIA DE FÁTIMA RODRIGUES RIBEIRO
GRAFISMO INFANTIL: Uma análise do processo de desenvolvimento do desenho infantil de crianças de 0 a 12 anos
Aval Avalia iado do por: por: ____ ______ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ___ _ Prof. Orientador: Onofre Arcleidy Pereira ____ ______ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ___ _ Profa. Ms. Ana Del Tabor Magalhães ____ ______ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ____ ___ _ Profa. Esp. Carla Milena G.Gonçalves
BELÉM – PARÁ 2002
À minha mãe. Ao meu namorado Antônio Pinho. Aos colegas de turma e aos professores do Curso de Educação Artística - Habilitação em Desenho.
A Deus por ter me mantido forte e iluminado meus caminhos. À
Coordenadora
do
Curso
de
Educação
Artística da UNAMA, Profa. Ms. Ana Del Tabor, pelo incentivo e apoio recebidos durante o curso Ao
professor
compreensão
e,
Arcleidy, sobretudo
pelo pela
auxílio confiança
depositada em mim, durante todo o processo de desenvolvimento do trabalho. À direção e aos alunos da Creche - Escola Criarte e Centro Educacional Marirray.
Antes eu desenhava como Rafael, mas eu precisei de toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças.
Picasso
RESUMO
O trabalho mostra um estudo do desenvolvimento progressivo do desenho infantil dos 0 aos 12 anos de idade. Através da ação educativa e de desenhos coletados dos alunos da Creche-Escola Criarte e do Centro Educacional Marirray, analisa a passagem dos rabiscos iniciais, da garatuja, para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. Analisando que no decorrer da simbolização, a criança incorpora progressivamente regularidades ou códigos de representação das imagens do entorno, passamos a considerar a hipótese de que o desenho serve para imprimir o que se vê. Desse modo o estudo desenvolve novas possibilidades para o ensino da Arte através de uma proposta contextualizada revelando que por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressiva, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade.
Palavras-Chave: grafismo infantil, simbolização e arte.
LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Tales, 01 ano - Creche-Escola Criarte --------------------------------------------- 21 Figura 02 - Joelma, 2 anos – Creche- Escola-Criarte ----------------------------------------- 23 Figura 03 - Jade Ariel, 03 anos - Creche-Escola Criarte ------------------------------------- 23 Figura 04 - Filipe, 33 anos e 3 meses - Creche- Escola Criarte ---------------------------- 24 Figura 05 - Renan, 04 anos - Creche - Escola Criate ----------------------------------------- 25 Figura 06 -Renan, 04 anos - Creche-Escola Criarte ------------------------------------------ 27 Figura 07 - Mariza, 09 anos - Centro Educacional Marirray -------------------------------- 28 Figura 08 -Bianca, 08 anos - Centro Educacional Marirray --------------------------------- 29 Figura 09 - Manuel, 08 anos - Centro Educacional Marirray ------------------------------- 30 Figura 10 - Danielle,10anos - Centro Educacional Mariray --------------------------------- 31 Figura 11 - Leila, 10 anos - Centro Educacional Marirray ----------------------------------- 32 Figura 12 - Jullyana, 10 anos - Centro Educacional Marirray ------------------------------ 32 Figura 13 - Milena, 11 anos - Centro Educacional Marirray --------------------------------- 33 Figura 14 - O desenho da criança parece muito rígido --------------------------------------- 34 Figura 15 - Gabriela, 11 anos - Centro Educacional Marirray ------------------------------ 35 Figura 16 - Gláucia, 12 anos - Centro Educacional Marirray ------------------------------- 36 Figura 17 - Daniel, 03 anos - Creche-Escola Criarte ------------------------------------------ 37 Figura 18 - Daniel, 03 anos - Creche-Escola Criarte ------------------------------------------ 38 Figura 19 - Bianca, 04 anos - Creche-Escola Criarte ----------------------------------------- 40 Figura 20 - André, 07 anos - Centro Educacional Marirray --------------------------------- 42 Figura 21 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte --------------------------------------- 44 Figura 22 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte --------------------------------------- 44 Figura 23 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte --------------------------------------- 45 Figura 24 - Tales, 01 ano - Creche-Escola Criarte --------------------------------------------- 45 Figura 25 - Dara, 02 anos - Creche-Escola Criarte -------------------------------------------- 46 Figura 26 - Isis, 03 anos - Creche-Escola Criarte ---------------------------------------------- 46 Figura 27 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte --------------------------------------- 47 Figura 28 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte --------------------------------------- 47 Figura 29 - Jeovana, 05 anos - Creche-Escola Criarte --------------------------------------- 48 Figura 30 - João Paulo, 05 anos - Creche-Escola Criarte ----------------------------------- 49 Figura 31 - Creche-Escola Criarte ------------------------------------------------------------------- 50
Figura 32 - Creche-Escola Criarte ------------------------------------------------------------------- 50 Figura 33 - Bianca, 06 anos - Creche-Escola Criarte ----------------------------------------- 51 Figura 34 - Rafaela, 06 anos - Creche-Escola Criarte ---------------------------------------- 52 Figura 35 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray ------------------------------ 53 Figura 36 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray ------------------------------ 53 Figura 37 - Ação Educativa no Centro EducacionalMarirray ------------------------------- 54 Figura 38 - Eduardo Augusto, 07 anos - Centro Educacional Marirray ----------------- 54 Figura 39 - Caio, 07 anos - Centro Educacional Marirray ----------------------------------- 55 Figura 40 - Gustavo, 08 anos - Centro Educacional Marirray ------------------------------ 56 Figura 41 - Tomaz, 08 anos - Centro Educacional Marirray -------------------------------- 56 Figura 42 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray ------------------------------ 57 Figura 43 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray ------------------------------ 57 Figura 44 - Roberta, 09 anos - Centro Educacional Marirray ------------------------------- 58 Figura 45 - Valeska, 10 anos - Centro Educacional Marirray ------------------------------- 58 Figura 46 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray ------------------------------ 59 Figura 47 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray ------------------------------ 59 Figura 48 - Luiz, 11 anos - Centro Educacional Marirray ------------------------------------ 60 Figura 49 - Diego, 12 anos - Centro Educacional Marriray ---------------------------------- 61
INTRODUÇÃO
O desenho constitui o modo de expressão próprio da criança, uma forma expressiva que possui vocabulário e sua sintaxe. Percebe-se que a criança faz uma relação próxima do desenho e a percepção pelo adulto. Ao prazer do gesto, associase o prazer da inscrição, a satisfação de deixar a sua marca. Os primeiros rabiscos são quase sempre efetuados sobre livros e folhas aparentemente estimulados pelo adulto, possessão simbólica do universo adulto, tão estimado
pela
criança
pequena.
Essas
garatujas
refletem,
sobretudo,
o
prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir se transformam em formas definidas que apresentam maior ordenação, e podem estar se referindo a objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros desenhos. Na evolução da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de elaborar imagens no fazer artístico. Desse modo, desenvolvi o trabalho intitulado: GRAFISMO INFANTIL: Uma
análise do processo de desenvolvimento do desenho infantil de crianças de 0 a 12 anos, no qual analiso o desenho como possibilidade de falar e de registrar, que marca o desenvolvimento da infância, ressaltando que em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio. Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. Desse modo, buscando uma melhor análise desse processo, dividi o trabalho em quatro capítulos e Considerações Finais. No Capítulo 1, denominado “Trajetória da Pesquisa”, encontra-se o conteúdo metodológico que permitiu a realização desta pesquisa; no Capítulo 2, ”Arte infantil”, como deixa entrever a própria denominação, analisa os elementos essenciais da linguagem gráfica, que revela a integração do desenvolvimento que a criança apresenta entre seus sentidos e o meio social em que está inserida.
No Capítulo 3: “Os significados do grafismo e as etapas de desenvolvimento da criança”, mostro a originalidade dos desenhos infantis, destacando as fases do grafismo infantil, e as concepções relativas à infância que se modificaram progressivamente. No Capítulo 4, “O desenvolvimento do grafismo, no ensino da arte”,
que
consta a análise descritiva de todo o processo de ação educativa realizado na Creche-Escola Criarte e no Centro Educacional Marirray – localizado na Travessa Humaitá, s/n, Belém-PA – fazemos a descrição e análise dos trabalhos produzidos pelos alunos mostrando a verificação de uma linguagem própria da arte infantil e a demonstração da originalidade de seu desenvolvimento que levaram a admitir a especificidade desse universo. Nas Considerações Finais, ressalto algumas sugestões para a melhoria do ensino da Arte na escola, a partir do conhecimento do grafismo infantil, objetivando desenvolver o processo de articulação da criatividade e percepção estética dos indivíduos de forma contextualizada. Conhecer a evolução gráfica assim como as etapas do desenvolvimento infantil é fundamental para um bom educador, não só para avaliar os seus alunos, mas para propor novos desafios.
CAPÍTULO 1 – TRAJETÓRIA DA PESQUISA Desenhar é registrar o lúdico, o artístico ou o científico através de linhas, pontos e manchas. Daí o desenho ser um eficiente meio de comunicação enquanto expressa idéias graficamente. Indivíduos de diferentes origens e valores sociais têm no desenho uma indispensável e importante ferramenta para a comunicação (Derdyk,1994). No processo de comunicação Derdyk, destaca que: A vivência é a fonte do crescimento, o alicerce da construção de nossa entidade. Fornece um leque de repertório, amplia a possibilidade expressiva (...) pode significar um caminho aberto para o desconhecido, ampliando a nova consciência (1994, p.11).
Dessa forma, o grafismo é o meio pelo qual a criança manifesta sua expressão e visão de mundo, constituindo-se assim como uma linguagem artística, na qual a sua elaboração é constituída por fases, conforme o nível de desenvolvimento psíquico infantil que é variável a cada criança e envolve também estados de ânimo e o exercício de uma atividade imaginária, que relaciona-se a um processo dinâmico, em que a criança procura representar o que conhece e entende. Luquet analisa que: O desenho, uma vez executado ou em plena execução, recebe do seu autor uma interpretação, a intenção era apenas o prolongamento de uma idéia que a criança tinha no espírito no momento de começar o traçado; do mesmo modo a interpretação deve-se a uma idéia que tem no espírito enquanto executa o traçado, ao qual dá o nome (1969,p.37).
Desse modo, verifico que por ser o desenho infantil um meio de compreensão da realidade, é um valioso instrumento da arte educação, pois mostra um produto resultante da imaginação e atividade criadora da criança. A escolha do tema surgiu do resultado de alguns conhecimentos adquiridos ao longo das minhas vivências acadêmicas, principalmente na disciplina prática de ensino I, na qual desenvolvi um projeto de Alfabetização Visual, que visou
desenvolver no aluno a sua capacidade estética e criativa, a partir do estudo do desenho artístico. Segundo Pillar: O desenho enquanto imagem gráfica, vincula-se mais aos aspectos figurativos da cognição, porque busca uma correspondência entre o objeto real e a imagem mental que o sujeito tem do objeto (19 96,p.21).
No entanto, como aquela havia sido minha primeira experiência profissional, faltavam-me na bagagem além de outros
conhecimentos, um estudo mais
aprofundado que servisse como parâmetro para avaliar o trabalho que desenvolvi. Observei que durante o projeto realizado no ano passado, os alunos trabalharam
as
modalidades
do
desenho,
numa
perspectiva
multicultural
confrontando suas idéias e expressões com as experiências vivenciadas no cotidiano, e a partir de então, resolvi mergulhar nesse universo de pesquisa. Segundo Fusari;Ferraz: “O professor de arte, tem a possibilidade de contribuir para a preparação de indivíduos que percebam melhor o mundo em que vivem, saibam compreendê -lo e nele possam atuar ” (1992, p.20). Como futura arte-
educadora, meu interesse esteve sempre relacionado a aspectos da educação em geral e a um aspecto bastante específico que me vem instigando, incitando e estimulando: o desenho. Comecei a querer entender mais e melhor o processo de desenvolvimento do desenho infantil. Descortinava-se, para mim, um mundo novo: o da busca consciente e inexorável de novos conhecimentos no sentido de tentar compreender tantas inquietações que me perseguiam em minha trajetória e em minha busca incessante de desvendar os mistérios que nos revelam as crianças através de seus próprios desenhos. Diante dessa experiência do desenho no ensino da arte é que resolvi analisar as etapas de desenvolvimento do desenho da criança desde a garatujas até os 12 anos de idade, objetivando propor ações que possibilitem novas práticas do ensino da arte na educação infantil, ocasionando um ensino inteligente e sensível depende
de ensaio e erro, de pesquisa, investigação, experimentação na busca de solução de problemas que geram dúvidas, incertezas, a respeito dessa temática, porque a arte sempre conspira a favor de um espírito curioso, atento e experimental, logo, desenhar constitui um complexo processo em que cada indivíduo reúne diversos elementos de sua própria experiência. Wallon afirma que: A fantasia é constituída sempre com material retirado do mundo real, ou seja a imaginação se encontra em relação direta com a riqueza e a variedade da experiência acumulada diretamente pelo homem. Quanto maior for a experiência do mesmo, maior será as suas possibilidades para imaginar (1971,p.18).
A experiência é usada para a expressão de um significativo, pois os desenhos das crianças demonstram a sua percepção estética do mundo envolvendo-se no processo de análise das imagens apresentadas sob as mais diversas formas no meio sócio cultural. Assim, como questões problematizadoras, pergunto-me de que forma podese viabilizar novas práticas do grafismo infantil de modo a proporcionar o desenvolvimento das crianças? Como o grafismo poderá ser trabalhado no ensino da arte? Essas são algumas questões que considero fundamentais a serem respondidas à luz das teorias voltadas para o processo de desenvolvimento do grafismo infantil, para que se possa começar a discutir o processo de desenvolvimento
da
atividade
criadora,
onde,
certamente,
se
identificará
a
contribuição que a Educação Infantil poderá dar nesse aspecto. Entendendo o desenho como um processo que principia cedo, muito antes do ingresso da criança na escola, e que evolui, fundamentalmente, através das interações que a criança mantém com o mundo físico e social e com o movimento das mãos em contanto com o lápis e o papel, busquei estabelecer critérios para a análise dessa evolução. Logo, para o desenvolvimento da pesquisa, foi realizado um levantamento bibliográfico, no qual me fundamentei em DERDIK,, LOWENFELD, LOWENFELD e BRITTAIN, LUQUET, MEREDIÉU, WALLON, visando dar um
embasamento teórico, possibilitando um estudo dentro de uma abordagem qualitativa. Bogdan; Biklen destacam que: A abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a idéia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo (1992, p.49).
O processo de coleta de dados das imagens contidas nos textos foram coletadas em duas escolas para comporem as referidas análises. Para Bogdan; Biklen : O processo de análise de dados é como um funil: as coisas estão abertas de início (no topo) e vão se tornando fechadas e específicas no extremo. O investigador qualitativo planeja utilizar parte do estudo para perceber quais são as questões mais importantes. Não presume que se sabe o suficiente para reconhecer as questões importantes antes de efetuar a investigação (1994, p. 50)
Baseada nos autores, além dos desenhos que eu já havia guardado o ano passado, coletei novos desenhos durante a ação educativa que desenvolvi no mês de outubro de 2002, na Creche-Escola Criarte, com crianças da educação infantil e no Centro Educacional Marirray, com alunos de 1a a 6a séries do ensino fundamental. Separei os desenhos, de acordo com cada etapa de desenvolvimento que envolve o processo de criação que vai desde os primeiros traços, baseados na gestualidade até cada fase principal, que caracterizam-se como realismo fortuito, realismo falhado e o realismo intelectual, ressaltando que essas fases mostram que o desenho da criança, sofre modificações . Desse modo essas alterações acontecem na medida em que a criança vai avançando em idade, logo representam um meio de compreensão da realidade, através de uma tentativa em que o indivíduo procura firmar-se face ao mundo exterior.
Para Luquet: De fato é normal que uma criança cuja inteligência se desenvolve chegue a interrogar-se sobre a maneira como os objetos se apresentam aos seus olhos e a terem conta, desde que desenha, as observações que pode fazer (1969,p.10).
Sendo, assim, o trabalho faz considerações acerca do processo de desenvolvimento do grafismo infantil de crianças de 0 a 12 anos, ressaltando que o grafismo não é um conjunto de rabiscos, ou desenhos desprovidos de significações, é a representação simbólica que a criança manifesta de sua visão de mundo, inserida num contexto sócio cultural e dotado de um determinado nível de desenvolvimento
que
mostra
ao
arte-educador
um
universo
constituído
percepções e idéias a serem desenvolvidas para o crescimento geral da criança
de
CAPÍTULO 2 – A ARTE INFANTIL Analisa-se que a arte constitui um processo no qual a criança reúne diversos elementos de sua experiência visando formar um novo significado para tudo que vê, sente e observa. Quando a criança interpreta o desenho que faz, sua interpretação é pessoal
e geralmente difere da intenção inicial quando o começou. Se a intenção
inicial é desenhar um menino, no final ele pode se transformar em coisa. O que demonstra que a habilidade em desenhar um determinado objeto, dependerá do tempo e da prática que a criança possui em desenhá-lo, logo, sua habilidade gráfica geral será ampliada pelo número de desenhos e práticas que realizar. Quanto aos significados, destaca-se que através do desenho realizado pelo grafismo, a criança começa a perceber os limites do papel e desenvolver suas potencialidades iniciais em termos de reflexão, abstração e conceituação, por meio dos elementos essenciais da linguagem gráfica, que revela a integração do desenvolvimento que a criança apresenta entre seus sentidos, percepções e pensamentos de um contexto social historicamente construído e dinâmico. Nesse sentido, a arte é uma atividade dinâmica e unificadora, que na educação formal assume um papel significativo. Segundo Lowenfeld: (...) a arte pode constituir o equilíbrio necessário entre o intelecto e as emoções. Pode tornar-se como um apoio que procura naturalmente ainda que de modo inconsciente – cada vez que alguma coisa os aborrece; uma amiga à qual as crianças se dirigirão, quando as palavras se tornarem inadequadas (1977, p.19).
No entanto, destaca-se que para que a criança possa desenvolver a sua arte é necessário que não haja interferência em seu desenvolvimento natural, para que a criança não fique inibida por alguma pergunta do tipo: – O que é isso? Bem como um elogio indiscriminadamente pode anular a valorização da criança pela arte, isso porque a crítica auxilia a criança a encontrar-se a si mesma em sua própria arte.Segundo Lowenfeld ; Brittain: “Para a criança a arte é algo muito diferente e constitui primordialmente um meio de expressão” (1972, p.19).
Falando-se em interferências, destaca-se que os cadernos para colorir segundo estudos feitos nos Estados Unidos produzem um efeito negativo na criança e na sua arte. Isso porque os cadernos ao delimitarem os contornos, impedem que a criança faça sua própria conexão entre cor e espaço expressando suas próprias ansiedades e visão de mundo, além de que nesses cadernos a criança apenas colore e não desenha, e o fato dela não desenhar, não exercita sua sensibilidade e sua capacidade criadora. Lowenfeld destaca que: Uma criança, depois de condicionada à coloração de figuras terá dificuldades em desfrutar da independência de criar. A sujeição que esses cadernos produzem é arrasadora. A experimentação e a pesquisa têm provado que mais da metade das crianças expostas aos cadernos de colorir, perdeu sua criatividade e sua autonomia de expressão tornaram -se rígidas e dependentes de modelos (1977,p.24).
Uma outra interferência que pode surgir é do próprio professor que se não possuir um conhecimento sobre o grafismo infantil, pode ficar admirado com a beleza do desenho e faz com que a criança assimile esquema de cores parecidos com o que o professor admirou, criando modelos e padrões e isso é mais uma das formas de impedir a auto-expressão da criança. Lowenfeld; Brittain analisam que: Se fosse possível que as crianças se desenvolvessem sem nenhuma interferência do mundo exterior, não seria necessário estímulo algum para seu trabalho artístico. Toda criança usaria seus impulsos criadores, profundamente arraigados, sem inibição, confiante em seus próprios meios de exprimir-se. Quando ouvimos uma criança dizer” não sou capaz de desenhar, podemos estar certos que houve alguma espécie de interferência em sua vida (1972, p.19).
Ressalta-se que o repertório gráfico da criança, bem como sua experiência, encontram-se condicionados pelo meio que ela vive e realiza seus desenhos. Lembrando-se que condicionamentos não representam uma imposição, mas ocorrem na forma de motivação. Luquet analisa que: As “ circunstâncias exteriores, se num sentido estimulam a espontaneidade da criança, não a subordinam a uma vontade estranha; propõem lhe um motivo, mas não lhe impõe” (1969, p.24). Dessa forma, ressalta-se que
capacidade criadora da criança tem vários tipos de desenvolvimento, no qual salienta-se o desenvolvimento intelectual, o físico, o perceptual, o social, o estético e o criador; que pode ser revelado a partir das produções artísticas de cada uma, isso porque de acordo com as etapas de evolução do desenho a criança passa a ter uma maior consciência visual dos objetos, sendo que isso não significa que ela tenha tendências naturalistas, mas sim demonstra que ela não está interessada em copiar o mundo natural e sim em representar o seu mundo real com muitos detalhes em conseqüência de sua ampliada e criativa consciência visual. Segundo Merediéu: A representação da realidade por um caminho que se estabelece com os inícios da figuração. Apresenta a evolução do desenho não como uma caminhada para uma figuração adequada ao real, mas como uma caminhada para uma desgestualização progressiva (1994, p.23).
Logo, analisa-se que a figuração se inicia com um desenho informal passando depois para um grafismo voluntário, enriquecido pelos olhos que movimentam o traçado. Porém no capítulo seguinte quando se referir às fases do desenho infantil analisar-se-á cada uma dessas etapas de desenvolvimento. Com efeito, a arte e a criatividade estão intimamente ligadas e essa atividade criadora surge de forma simples e elementar a outras mais elaboradas, ou seja, torna-se mais complexa a medida que o desenvolvimento infantil vai se delineando. Lowenfeld; Brittain afirmam que: ”Cada criança tem seu próprio e exclusivo método de organização. O desenvolvimento de conceitos criadores vem de dentro e não pode ser ensinado” (1977, p.63). Assim, dentro desse contexto de imaginação e
criação é que surge a linguagem no desenho da criança, na qual se observam a leitura de imagens que são feitas através da memória, da imaginação, da observação e da capacidade que a criança possui de estabelecer relações com o mundo real e com o mundo imaginário. No entanto, para que a criança comece a desenhar é necessário que lhe forneçam instrumentos necessários para que comece a produzir.
Segundo Merediéu: Nesse aspecto, o aparecimento do que se chama arte infantil foi condicionado pela evolução das técnicas gráficas e plásticas, e pela difusão cada vez maior do papel e do lápis, ocasionada pela baixa do custo de fabricação desses produtos (1994,p 4).
Demonstra-se dessa forma que em um estudo sobre o desenho infantil é importante destacar que, hoje temos uma liberação muito maior do desenho infantil do que antes pois os materiais como caneta hidrográfica, papel, lápis etc. são mais acessíveis, o que vêm a possibilitar diversas expressões. Iniciando-se no rabisco, observa-se que o traço proveniente desse está impregnado do dinamismo do gesto que o produziu e que esse vai diminuindo sua rapidez à medida que a criança vai avançando em idade, assim como os desenhos também vão evoluindo, pois quando uma criança começa a desenhar deve estar pensando em algo significante para o seu próprio eu e para sua experiência pessoal. Derdyk destaca que: “O ato de desenhar impulsiona outras manifestações, que acontecem juntas, numa atividade indissolúvel, possibilitando uma grande caminhada pelo quintal do imaginário” (1994, p.18). Com efeito, o desenho constitui
a expressão da visão de mundo que cada criança possui, pois através do desenho a criança desenvolve suas potencialidades manifestando suas reflexões. Dessa forma, analisar a arte infantil nos possibilita a descoberta da construção espacial e das relações formais em elementos que a criança destaca e reorganiza segundo um critério próprio e individual.
CAPÍTULO 3 – OS SIGNIFICADOS DO GRAFISMO
Analisa-se que o corpo humano expressa-se de diversas maneiras, sendo que o movimento corporal some no ar e o movimento gestual do traço, das linhas e pontos ficam guardados no papel. Quando a criança pega no lápis e descobre seus registros, começa a rabiscar obsessivamente até desgastar toda a ponta do lápis ou quando pega uma caneta esferográfica, o processo é o mesmo. Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos rabiscos ou garatujas (termo utilizado por Viktor Lowenfeld para nomear os rabiscos produzidos pela criança). Derdyk destaca que: A permanência da linha no papel se investe de magia e esta estimula sensorialmente a vontade de prolongar este prazer, o que significa uma intensa atividade interna, incalculável por nós adultos. (1989, p. 56)
Com isso, a repetição de gestos ocasiona a produção de diferentes resultados descomprometidos dos de figuração, no entanto, a medida que a criança faz a associação de gestos e traços desenvolve sua atividade mental (Figura 1).
Figura 1 - Tales, 1 ano - CrecheEscola Criarte
Fonte: Acervo da autora
Essas primeiras garatujas básicas classificam-se como unidades gráficas e estarão contidas em qualquer desenho, seja ele figurativo ou não. No momento em que desenha, a criança imprime marcas no papel de uma forma espontânea e em diversas direções, isso ocorre devido a mesma ainda não ter o domínio de proporção sobre o papel. Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. Segundo Derdyk: O dinamismo, a flexibilidade e a transitoriedade do movimento se manifestam na pontinha do lápis (...). No ato de desenhar, a criança é o papel, a linha, o objeto, a pontinha que contactua e mergulha neste universo anímico e mutante (1989, p. 84)
Desse modo, inserção da mão, olho e do cérebro, evidencia a capacidade de imaginar e suas projeções concretizam a maravilhosa experiência de existir. Durante o ato de desenhar, as crianças visualizam as formas em meio ao seu rabisco, mostrando a sua própria experiência individual. A medida em que a criança passa a ter o domínio das sensações imediatas, ela se torna capaz de estabelecer semelhanças e diferenças entre os elementos. Ressaltando-se que isso acontece a partir dos 02 anos de idade, quando os gestos naturalmente vão se arredondando, logo o aparecimento do círculo, mostra no desenho a composição de uma forma fechada (Figura 2).
Figura 2- Joelma, 2 anos - Creche-Escola Criarte Fonte: Acervo da autora
Derdyk destaca que: ”O círculo elevado ao estatuto de forma fechada, de corpo de objeto, ganha importância. Gera a noção de autonomia, atribuindo a cada signo gráfico um sentido de permanência” (1989, p.90). Portanto, a partir do círculo
são criadas formas geométricas concêntricas, tensões internas, externas e outras, nascendo o círculo de movimentos contínuos em que o gesto motor é instintivo (Figura 03).
Figura 3 - Jade Ariel, 3 anos- Creche-Escola Criarte Fonte: Acervo da autora
Assim, partindo do círculo, a criança pode fazer diferentes tipos de desenho e como toda evolução destaca-se a conservação e a modificação do tipo.
A conversação do tipo evidencia-se através dos bonecos que possuem o mesmo molde, caracterizando-se por ausência de tronco, de onde os braços partem diretamente desse, ou mesmo os braços partem da cabeça. Geralmente percebidos na faixa etária de 03 a 04 anos (Figura 4 e Figura 5).
Figura 4 - Fillipe, 3 anos e 3 meses- Créche-Escola Criarte Fonte: Acervo da autora
Figura 5 - Renan, 4 anos - Creche-Escola Criarte Fonte: Acervo da autora
Salientando-se que mesmo que a criança tenha sugestões de outros para modificar seu tipo de boneco, ela continuará desenhando dessa mesma forma (“seu tipo”), pois a mudança só ocorre depois de um período de vivência e oscilação entre o tipo primitivo e o tipo novo. Luquet afirma que: O caráter automático da conservação do tipo, manifesta-se particularmente nos desenhos em que a criança continua a representar pormenores de que esqueceu a significação e por conseqüência, a reprodução pode explicar-se pela rotina (1969, p. 63)
Dessa maneira, o tipo original mantém-se conservado e somente há modificações quando é criado algo novo e esse passa para a fase posterior.Durante o processo de criação é comum muitos professores trabalharem de uma maneira errada, motivando os alunos a copiarem figuras.No entanto, analisa-se que o ensino que se fundamenta na cópia inibe a expressão original da criança, ocasionando um aprendizado deficiente.
Derdyk afirma que: O ato de copiar, diferentemente carrega um signifi cado opressor, censor, controlador. Poderíamos dizer que a necessidade de copiar igualzinho não inclui e não autoriza a criança a ser autora da ação. O ato de copiar é vazio de conteúdo, mera reprodução impessoal (1989, p. 110)
Deve-se, portanto, desenvolver o desenho como ato cultural, pois ensinar a criança a copiar é inibir a capacidade criadora reduzindo sua apropriação individual do universo.
3.1- AS ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA No processo de desenvolvimento do grafismo infantil, de acordo com o avanço da idade, a criança apresenta uma linguagem própria relacionada com a construção de seu próprio eu, confrontado com suas relações sociais e seu cotidiano. Salientando-se que não necessariamente a criança tem que “encaixar-se” exatamente na etapa descrita, pois se sabe que algumas se desenvolvem mais lentamente que as outras. No entanto, nos desenhos aqui coletados foi possível realizar-se uma análise contextualizada com a teoria dos autores. 3.1.1 - O GRAFISMO INFANTIL DE 04 a 07 ANOS Destaca-se que entre a faixa etária de 04 a 07 anos, as crianças começam a vincular os seus desenhos com o mundo exterior, logo começam a desenhar pessoas e coisas. No entanto, há crianças que não conseguem relacionar as coisas entre si, elas apenas as dispersam no papel, como se observa na figura 6.
Figura 6- Renan, 4 anos- Créche-Escola Criarte Fonte: Acervo da autora
Segundo Lowenfeld: Evidentemente, na maioria dos casos, a criança adquirirá, por si mesma, a necessária experiência e o estímulo, que a levarão à descoberta das “relações espaciais” sem precisar de nenhum apoio adicional por parte dos adultos (...) (1954, p. 113).
Isso acontece gradativamente, a partir de suas próprias experiências, tanto que, as motivações são necessárias para que a criança desenvolva a sua sensibilidade. A criança também começa a relacionar as cores com os objetos reais, a partir do significado emocional que o objeto têm para a mesma. Outro aspecto importante que se evidencia é a questão da proporção, pois essa está relacionada ao lado emocional da criança, ou seja, a criança desenha de acordo com suas percepções e não com o tamanho real dos objetos. LOWENFELD afirma: “A criança desenha proporcionalmente em relação aos seus sentidos e
desproporcionadamente para os que olham objetivamente, as suas pinturas” (1954,
p. 119). 3.1.2 - O GRAFISMO INFANTIL DE 07 A 10 ANOS As relações entre as coisas e desenhos vão melhorando a medida que a criança vai crescendo e se submetendo a diversas experiências.Nessa faixa etária a criança passa por uma fase em que se sente satisfeita com as figuras que desenha. Segundo Lowenfeld : Embora seja útil motivar nossos filhos, para uma expressão criadora, flexível e sensitiva, mais cedo ou mais tarde – geralmente entre os sete e os nove anos de idade – a criança precisará desse período de repouso, em que repete o mesmo tipo de figura (1954, p. 133)
Isso porque com a repetição da figura, a criança se convence de si mesma e continuará desenhando objetos iguais até que conscientemente tenha idéia de mudá-los para diferenciar, por exemplo, o grande do pequeno, o comprido do curto entre outros. Nessa fase, a criança ainda continua desenhando sem proporções, pois na verdade analisa-se que o exagero de certas figuras representa aos adultos a impressão desproporcional, porém trata-se apenas de foco de interesse. No caso do desenho abaixo (Figura 7), a professora pediu que a aluna desenhasse o que mais gostava de fazer e ela representou, então, o caderno de poesias em tamanho desproporcional ao seu corpo.
Figura 7- Mariza 9 anos, Centro Educacional Marirray Fonte: Acervo da autora
Outra forma de desproporção que se percebe é que muitas crianças desenham tudo numa linha só, pois para elas a beira do papel representa uma base (Figura 8).
Figura 8 - Bianca, 8 anos - Centro Educacional Marirray
Uma outra expressão é a concepção rígida dos desenhos, essa rigidez acontece quando há repetição de figuras como mostrou a figura acima, numa só linha. Nessa fase, a criança não pinta o que vê, mas o que significa, tanto que é comum ela nunca separar o sol do céu, tanto que em desenhos onde quer mostrar a chuva, ainda desenha o céu ao lado e somente irá parar de desenhar dessa forma quando começar a utilizar seus poderes de observação.Nesse desenho, observamos ao mesmo tempo o sol o céu, a lua e as estrelas (Figura 9).
Figura 9 - Manuel, 8 anos- Centro Educacional Marirray
Observa-se que a criança muitas vezes desenha as “coisas” de cabeça para baixo ou em ângulo. Para isso, a criança gira o papel para desenhar alguns elementos.No caso do desenho abaixo a criança girou o papel para desenhar o boneco na água, para dar a impressão de que ele esta nadando (Figura 10).
Figura 10 - Danielle,10 anos, Centro Educacional Marirray
Segundo Lowenfeld : No entanto, muito mais comuns são as chaminés “ inclinadas”, cujo desenho, em ângulo, é em direção ao teto, ou árvores ou casas desenhadas, inclinadamente, sobre a encosta de uma montanha (1953, p. 143).
Portanto, a expressão do desenho mostra como se a criança estivesse vivenciando aquela experiência. Na tentativa de expressar aquilo que mais lhe interessa, a criança desenha como se pudesse ver através das paredes detalhando tudo o que considera importante. Observa-se, nos desenhos (Figura 11 e Figura 12), que a casa foi desenhada como se não tivesse paredes e as crianças procuraram demonstrar detalhes do seu cotidiano.
Figura 11- Leila,10 anos- Centro Educacional Marirray
Figura 12 - Jullyana, 10 anos - Centro Educacional Marirray
Quanto ao processo de criação muitas crianças desenham em escala muito pequena. Nesse caso, o educador deve oferecer uma folha de papel menor, pois numa grande folha a criança se sente perdida. Porém se ainda assim a criança continuar a desenhar em escala reduzida LOWENFELD destaca que (...) “é possível que seja devido a um sentimento de incerteza ou falta de confiança nela própria”“
.(1954, p. 152) Nesse caso, talvez essa criança esteja precisando de afeto, além de ainda ter que passar por outras experiências para estabelecer significados. 3.1.3 - O GRAFISMO INFANTIL DE 10 a 12 ANOS Nessa faixa etária a criança prefere trabalhar em grupo e a troca de experiências possibilita a interação social e descobre que a menina possui aspirações diferentes do menino Nos desenhos, observa-se características de ambos, enfatizando-se nos desenhos das meninas: lábios vermelhos, vestidos e cabelos, nos meninos bigodes, uniformes e outros. Tanto que no desenho (Figura 13) observa-se que a boneca foi desenhada com muitos detalhes, como óculos, presilha no cabelo, e sandália de salto.
Figura 13 - Mylena, 11 anos Fonte: acervo da autora
Nessa fase, é comum que as crianças repitam muitas vezes o mesmo desenho, principalmente a forma geral do boneco, embora mude alguns detalhes, quando isso acontece, os desenhos podem aparecer rígidos.Observe no desenho de Joãozinho, (Figura 14) LOWENFELD, ressalta que: sempre que desenha um homem ele o faz da mesma maneira, embora modifique algumas partes cada vez que alguma experiência determina tal mudança (1954,p.138).
Figura 14 - O desenho da criança parece muito rígido Fonte: LOWENFELD,1954,p.139
A percepção do ambiente torna-se significativa e atinge uma nova concepção espacial, visualizando a linha do horizonte, observando que o céu junta-se com a terra, como se observa no desenho (Figura 15) em que a linha do horizonte ficou diferenciada pelas cores que separam a grama do céu.
Figura 15 - Gabriela, 11 anos - Centro Educacional Marirray Fonte: acervo da autora
Em outro desenho (Figura 16), a linha do horizonte foi desenhada, além de ser diferenciada por dois tons de azul, que mostravam a divisão entre o mar e o céu.
Figura 16- Gláucia, 12 anos - Centro Educacional Marirray Fonte: acervo da autora
Segundo Lowenfeld: A percepção com referência ao ambiente torna-se muito mais intensa, quando este se faz significativo. Enquanto a criança está sendo muito cuidada pelos pais e não tem consciência das suas potencialidades sociais, dentro de um grupo da sua própria escolha, o ambiente só tem algum significado para ela, quando está estreitamente vinculado ao seu “eu” imediato (1954, p.157)
Dessa forma, o trabalho em grupo possibilita a descoberta do espaço, pois ao trabalharem em grupo as crianças trocam idéias e confrontam suas experiências.
3.2 - AS FASES DO GRAFISMO INFANTIL Com relação à evolução do espaço, o grafismo infantil apresenta-se em três estágios; realismo fortuito, realismo falhado e o realismo intelectual. Essas fases são importantes, pois demonstram que o desenho sofre mudanças, destacando um realismo que se desenvolve na medida em que a criança vai avançando em idade.
3.2.1 - PRIMEIRA FASE: REALISMO FORTUITO Durante essa fase, não existe profundidade. Essa concepção de desenho abrange as crianças por volta dos 03 anos de idade. Devido ser um desenho espontâneo, a criança traça linhas, movimentando a mão, utilizando diversos acessórios, sem corresponder a uma utilidade específica. Esses movimentos espontâneos da mão sobre o papel correspondem apenas a uma prazer que a criança sente ao traçar (Figura 17).
Figura 17 - Daniel, 3 anos - Creche-Escola Criarte Fonte: acervo da autora
Segundo Luquet: Esta obra involuntária poderia parecer a um adulto, insignificante e sem qualquer interesse; mas para a criança é um produto de sua atividade, uma manifestação da sua personalidade, uma criação (1969,p.136).
Dessa forma, a criança por ter a consciência de um poder criador, desenvolve o desenho que primeiramente é esporádico, mas que depois torna-se intencional, como se fossem assinaturas instintivas de seus autores.
Nessa fase, em seus desenhos a criança procura mostrar que é capaz de criar composições próprias, mesmo que induzida pela imitação dos adultos. A criança começa a perceber os desenhos bem elaborados de revistas, livros, jornais, etc. Assim, a medida em que desenha e repete traçados, vai identificando semelhanças, podendo também produzir inicialmente um desenho sem semelhança e depois adicionar acessórios para caracterizá-lo. Observa-se na figura que a criança repetiu as formas geométricas sem intenção de associá-las a algo (Figura 18).
Figura 18 - Daniel, 3 anos - Créche - Escola Criarte Fonte: acervo da autora
Segundo Luquet: A criança, em virtude da sua imaginação ao mesmo tempo rica e desordenada, tem uma aptidão especial para notar semelhanças, por vezes extraordinariamente longínquas e imperceptíveis a todos menos a ela, que lhe escaparão instantes depois.(1969,p.139)
Com efeito, a criança começa a fazer uma certa analogia entre seus traçados e o objeto real e é levada a aplicar uma interpretação diferente a cada um de seus desenhos.
Para Luquet: A semelhança fortuita entre o traçado e o objeto a que a criança dá o nome é das mais rudimentares, e a criança ao mesmo tempo que se apercebe disso reconhece essa imperfeição. Então, muito naturalmente, quer tornar mais semelhante a imagem que acaba de fazer (1969,141).
Observa-se que essa semelhança fortuita, acontece em dois momentos: No primeiro momento, o desenho fortuito é semelhante. No segundo, a criança acrescenta alguns detalhes para que esse torne-se semelhante. Existem também traçados que não são provocados por uma intenção de representar algo, ou mesmo que depois de traçados são destituídos de qualquer significação. No geral, durante essa fase a criança começa a traçar sem qualquer intenção, só mais tarde é que verificará que os traços produzidos assemelham -se a algo.
3.2.2 - SEGUNDA FASE: O REALISMO FALHADO Nessa fase, o desenho quer ser realista, porém esse ainda possui algumas falhas. Geralmente essa fase começa a partir dos 04 anos de idade, momento em que a criança ainda não sabe dirigir seus movimentos gráficos para dar ao seu traçado o aspecto que queria. Para Luquet: “A intenção realista encontra ainda um outro obstáculo, já não de ordem gráfica, mas psíquica ou seja, o caráter ao mes mo tempo limitado e descontínuo da atenção infantil”. ( 1969,p.148)
Por isso, observa-se que a criança não desenha os pormenores, na realidade ela apenas tem a intenção, enquanto pensa, no entanto não desenha, percebe-se essa intenção no instante em que se pede uma explicação verbal sobre o desenho (Figura 19).
Figura 19 - Bianca, 4anos- Creche-Escola Criarte Fonte: acervo da autora
Destaca-se que ao desenhar a criança pensa em colocar o pormenor no desenho, no entanto, hipnotizada por esse pormenor, acaba esquecendo o que já desenhou, mesmo que esteja diante de seus olhos ela não os vê, ocasionando conseqüentemente a imperfeição geral do desenho. Essa imperfeição a qual denomina-se incapacidade sintética, manifesta-se primeiramente nas proporções. Luquet ressalta que: É assim que nos desenhos de várias crianças os senhores têm cabelos mais compridos que as pernas. Esta desproporção pode ser o resultado de causas múltiplas, por exemplo, a imperfeição gráfica, a impotência da criança para interromper os traços no momento desejado. (1969,p 151)
3.2.3 - TERCEIRA FASE: REALISMO INTELECTUAL Nessa fase, a criança consegue superar a incapacidade sintética tornando o desenho realista, ocorre a partir dos 06 a 07 anos de idade e vai se aperfeiçoando até os 12 anos. Porém esse realismo é diferente da criança para o adulto que analisa o realismo como sendo uma fotografia do objeto. Na concepção infantil, o desenho deve conter os pormenores do objeto, mesmo invisíveis, pois esses elementos existem no espírito de quem desenha. Nessa fase, a criança desenha os objetos como se fossem transparentes, para impedir o ocultamento dos detalhes (Figura 20). A planificação também é uma outra característica, que consiste representar o objeto em projeção no solo, como se o mesmo fosse visto em linha reta.
Figura 20 - André, 7 anos- Centro Educacional Marirray Fonte: acervo da autora
Assim, verificou-se durante as análises que os desenhos das crianças são influenciados por fatores intelectuais e emocionais, que são essenciais ao ato criador, entretanto não se ajustam a modelos existentes, pois emanam da própria realidade e influi os objetos reais que ao se materializar trazem consigo uma força nova, capaz de modificar essa mesma realidade. Desse modo, analisa-se que se avaliarmos o desenho do adulto com o da criança saberemos que o primeiro nasce de necessidades profissionais, estéticas, ornamentais, etc.e o desenho da criança expressa uma linguagem, um meio
de
representação do mundo, mesmo que muitas vezes, essa não saiba dizer exatamente os significados dos desenhos que produz.
CAPÍTULO 4 – O DESENVOLVIMENTO DO GRAFISMO NO ENSINO DA ARTE – AÇÃO EDUCATIVA REALIZADA NAS ESCOLAS Para concretizar meu estudo desenvolvi nas escolas uma ação educativa. Durante a ação trabalhei com os alunos o conteúdo do Estudo das Cores, no qual abordei as cores primárias e secundárias. Destacando que o conteúdo foi articulado com base na metodologia triangular a partir de três eixos norteadores: fazer artístico, leitura de obra de arte e contextualização histórica, que permitiram aos alunos um desenvolvimento pelo qual foi possível analisar o processo de desenvolvimento de seu grafismo. A primeira escola que desenvolvi esse estudo foi a creche-Escola Criarte, que trabalha com Educação Infantil dos 0 aos 6 anos de idade e utiliza a pedagogia construtivista Em todas as séries expliquei o conteúdo sobre as cores.No primeiro momento mostrei a formação das cores secundárias a partir de suas misturas. No segundo, mostrei obras de arte de diversos artistas do movimento artístico Modernismo, destacando o uso das cores nessas obras, para que os alunos pudessem ter uma compreensão de forma contextualizada. Como atividade as crianças fizeram suas composições a partir do conteúdo estudado. Dessa forma, pude coletar os desenhos para desenvolver minhas análises a cerca do grafismo infantil. Durante a aula com as crianças de 0 a 3 anos que pertencem ao baby class e maternal, orientei as crianças sobre o trabalho e separei junto com elas as cores que seriam utilizadas nos desenhos (Figura 21).
Figura 21 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte Foto: Fábio Hassegawa
Observei que as crianças se deliciavam ao desenhar e as misturas de cores, as encantavam a cada gesto e traço, mostrando a originalidade do desenvolvimento do universo infantil (Figura 22 e Figura 23).
Figura 22 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte Foto: Fábio Hassegawa
Figura 23 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte Foto: Fábio Hassegawa
Depois da aula os desenhos desenvolvidos por essas crianças mostram a satisfação das cores e pigmentos que imprimiram sobre o papel. No desenho de Tales de 1 ano de idade (Figura 24), segundo Merediéu: “ Ao prazer do gesto associa-se o prazer da inscrição, a satisfação de deixar uma marca, de macular uma superfície” (1994,p.9 ). Assim como nos desenhos de Dara, 2 anos (Figura 25),
evidenciei esse prazer gestual.
Figura 24- Tales, 1 ano- Creche-Escola Criarte Fonte: acervo da autora
Figura 25 -Dara, 2 anos - Creche-Escola Criarte Fonte: acervo da autora
No desenho de Isis, de 3 anos (Figura 26), observei que a figura do boneco, já começa a se desenvolver a partir das primeiras irradiações que o desenho apresenta, pois encontra-se em uma fase em que o olho já orienta o traçado, combinando círculos e traços na tentativa de formar um “boneco”.
Figura 26 - Isis, 3 anos, Creche-Escola Criarte Fonte: acervo da autora
Nas turmas de Jardim, a concentração das crianças foi bem melhor, tanto que o conteúdo das cores foi bem associado em seus desenhos. Nessa fase as crianças de 4 a 5 anos, mostrara o espaço gráfico resultante de uma criação e interpretação do mundo (Figura 27 e Figura 28).
Figura 27- Ação Educativa na Creche-Escola Criarte Foto: Fábio Hassegawa
Figura 28 - Ação Educativa na Creche-Escola Criarte Foto: Fábio Hassegawa
No desenho de Jeovana (Figura 29 ) e no desenho de João Paulo (Figura 30), observei a desproporção que é freqüente nessa idade, mostrando um lugar definido, através dos principais temas do repertório gráfico Infantil: boneco, casa, árvore,sol, flores e pássaro.
Figura 29 - Jeovana, 5anos - Creche-Escola Criarte Fonte: acervo da autora
Figura 30 - João Paulo, 5 anos – Creche -Escola Criarte Fonte: Acervo da autora
Na turma de alfabetização (Figura 31 e Figura 32 ), em que as crianças encontram-se na faixa etária de 06 anos, através dos desenhos evidenciei a fase intelectual da criança, momento em que ocorre um conceito definitivo de homem e meio, dependendo do conhecimento ativo e da personalidade através da repetição, “esquema".
Nessa fase fase analisei o primeiro conceito conceito definido definido do espaço, espaço, "linha de base" base" e "linha do horizonte". Relacionei que que a
linha de base exprime: exprime: base, terreno, os os
objetos são desenhados perpendiculares a esta linha. A linha do horizonte exprime o céu. Afastamento do esquema da cor (mesma cor para o mesmo objeto), mostrando a experiência emocional.
Figura 31- Creche- Escola Criarte Foto: Fábio Hassegawa
Figura 32- Creche Escola Criarte Foto: Fábio Hassegawa
No desenho de Bianca (Figura 33), 6 anos, mostro que os objetos não estão representados em perspectiva,mas deitados ao redor da casa que é o eixo central.Para Merediéu: “a criança desenha do objeto, não aquilo que vê, mas aquilo que sabe” (1994, p.22).Nesse caso, Bianca mostrou o cotidiano da casa e da família.
Figura 33 - Bianca, 6 anos - Creche- Escola Criarte Criarte Foto: Fábio Hassegawa
O desenho de Rafaela (Figura 34), mostra a desproporção da cabeça do boneco em relação ao corpo. Essa transformação demonstra no plano gráfico que a folha de papel representa algo que a criança deve dominar independente de tamanhos, proporções, com isso, a criança expressa a conquista de desenhar.
Figura 34 - Rafaela, 6 anos Creche- Escola Criarte Criarte Foto: Fábio Hassegawa
No Centro Educacional
Marirray, dei continuidade ao meu estudo, realizando
a mesma ação educativa, da qual obtive o material para análise do grafismo. Anal Analis isei ei que que as cria crianç nças as da 1a e 2a séries com faixa etária de 7 a 8 anos (Figura 35, Figura 36 e Figura 37), como é analisado pelos autores estudados, que nessa faixa etária encontram -se em um período estacionário, durante o qual o desenho se mantém sem tantos progressos como os que ocorreram até esta fase.
Figura 35 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray Foto: Fábio Hassegawa
Figura 36 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray Foto: Fábio Hassegawa
Figura 37- Ação Educativa no Centro Educacional Marirray Foto: Fábio Hassegawa
Nos desenhos de crianças dessa faixa etária, observei que os acabamentos são melhores que o das crianças da fase anterior, entretanto,
não evoluiram nos
detalhes. A grande evolução agora é na escrita e é comum aparecer balões representando conversas entre personagens de seus desenhos ou pequenos textos, como no caso do desenho de Eduardo Augusto, 7 anos, (Figura 38) que a escrita aparece para explicar melhor a situação ou ação do desenho mostrado.
Figura 38 - Eduardo Augusto, 7anos, Centro Educacional Marirray Fonte: Acervo da autora
No desenho abaixo (Figura39), analisei que o aluno tem sérias dificuldades em criar seus desenhos parecem cópias de gibis, em que temos imagens da turma da Mônica. Esse aluno precisa urgentemente ser orientado e
estimulado para o
desenvolvimento de sua capacidade criadora, pois se limita a copiar desenhos.
Figura 39 - Caio, 7anos - Centro Educacional Marirray Fonte: Acervo da autora
No desenho de Gustavo 8 anos (Figura 40) observei que o aluno ainda encontra-se na fase das formas mal definidas,que segundo Luquet é o realismo falhado, a figura do boneco ainda é bem primitiva. Assim como no desenho de Tomaz, 8 anos (Figura 41 ), que apresenta imagens da figura humana incompleta(possui somente olhos). Observando isso, concluo mais do que nunca, que
o professor deve estimular a auto-expressão, desencorajando a cópia e o
desenho estereotipado.
Figura 40 - Gustavo, 8anos - Centro Educacional Marirray Fonte: Acervo da autora
Figura 41 - Tomaz, 8anos - Centro Educacional Marirray Fonte: Acervo da autora
Nas turmas de 3a e 4a série (Figuras 42 e 43), fase em que as crianças encontram-se com 9 a 10 anos, analiso que as formas dos desenhos já são bem definidas.
Figura 42 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray Foto: Fábio Hassegawa
Figura 43 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray Foto: Fábio Hassegawa
Observei através dos desenhos,
que ocorre uma tendência para as linhas
realísticas, havendo linha de base e linha do horizonte, que se encontram cobrindo o espaço em branco que existia na fase anterior (Figura 44 e Figura 45).
Figura 44 - Roberta 9 anos - Centro Educacional Marirray Fonte: Acervo da autora
Figura 45 - Valeska, 10 anos no Centro Educacional Marirray Fonte: Acervo da autora
Nas 5a e 6a série (Fgura 46 e Figura 47), fase em que a crianças encontra-se com 11 e 12 anos, durante o desenvolvimento do tema livre, observei em seus desenhos uma autocrítica pronunciada.
Figura 46 - Ação Educativa no Centro Educacional Marirray Foto: Fábio Hassegawa
Figura 47- Ação educativa no Centro Educacional Marirray Foto: Fábio Hassegawa
Quanto ao espaço dos desenhos, analisei que esse é descoberto, assim como o plano e a superposição, abandonando a linha de base, como no desenho de Luiz (Figura 48) e de Diego (Figura 49), que mostram no desenho, maior rigidez e formalismo além de que observei o abandono do esquema de cor, tanto que o primeiro aluno não usou cor e o segundo fez um fundo amarelo, substituindo o formalismo do azul, mostrando que nessa fase a criança desenvolve sua liberdade de criação.
Figura 48 - Luiz ,11anos, Centro Educacional Marirray Fonte: acervo da autora
Figura 49 - Diego, 12 anos - Centro Educacional Marirray Fonte: acervo da autora
Ao final da ação educativa, pude analisar a relação das crianças com o mundo que as cercam, suas experiências e até mesmo muitas dificuldades que evidenciei através dos desenhos de algumas. As dificuldades que evidenciei, fazem parte do processo de desenvolvimento de sua atividade criadora, e é justamente essa manifestação do eu que torna a arte expressiva tanto para o autor quanto para quem a observa. Logo, é importante que todo professor tenha conhecimento do desenvolvimento do grafismo, para que esse possa identificar as necessidades e os interesses da criança. Tendo esse aprofundamento, poderei em minhas futuras práticas dar oportunidades ao aluno para que esse desenvolva a sua capacidade criadora, deve incentivar atividades artísticas buscando a sensibilização da criança com o meio,
transformando a experiência artística em algo emocionante e compensador. Tal interesse, se for desenvolvido adequadamente, despertará no aluno outros interesses pelo novo, pela descoberta, pela invenção, impulsionando o mesmo para a ação construtiva e ao desenvolvimento da educação estética e artística.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A LDB-9394/96, estabelece no §2º, do art. 26 que: ”O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Dessa forma, analiso que é muito importante trabalhar a Arte, no âmbito escolar pois possibilita a valorização da pluralidade cultural do país. Por meio da arte comunicamos e manifestamos significados que nos permitem uma percepção sensível do mundo e da sua ambiência cultural. Durante a pesquisa foi possível conhecer os níveis de desenvolvimento do Grafismo Infantil e a grande responsabilidade do professor na construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento do desenho infantil. Destaco que o prazer encontrado pela criança no desenho deixará de existir se não forem permitidas a exploração de sua função expressiva e a realização de seu potencial criativo, por isso, com base nos resultados alcançados durante o estudo, analiso que o professor deve repensar as expectativas quanto ao desenho da criança, assim como o diálogo que estabelece com ela a respeito da sua produção gráfica. O olhar que o professor dirige ao desenho da criança apóia-se nas concepções que ele tem sobre o desenho enquanto linguagem, idéias constituídas na sua própria história e experiência com a linguagem. Desse modo, espera-se que esta pesquisa sobre o desenvolvimento do Grafismo Infantil venha contribuir para que professores e alunos a partir dessas vivências possam compreender os elementos intelectuais (significado e contextualidade) e elementos formais (cores, linhas, intensidade e dinâmica), que são evidenciados nos desenhos das crianças dentro de suas próprias linguagens e possam a partir desse conhecimento instigar sua capacidade criadora. Com este trabalho, espero também estar fornecendo elementos facilitadores da relação em ensino-aprendizagem, contribuindo para que os envolvidos no processo, ampliem sua capacidade perceptiva, cognitiva, assim como o seu fazer e pensar artístico e estético. Durante a pesquisa compreendi que os conteúdos e
métodos de ensino devem estar vinculados a um projeto educativo na área, associado a experiência individual de cada aluno e com a sua própria realidade sócio-cultural. Adotar uma metodologia adequada é um tanto difícil, pois cada uma delas apresenta suas vantagens e desvantagens.No entanto destaco que a proposta triangular da Dra. Ana Mae Barbosa, trabalha o processo de ensino-aprendizagem dentro de uma perspectiva multicultural, onde o fazer e o pensar é desenvolvido de modo a proporcionar uma educação escolar em Arte mais atualizada e com resultados significativos para o aperfeiçoamento do aluno.