Como trabalhar com “raça” em sociologia Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Como trabalhar com “raça” em Sociologia. Educação e Pesquisa . São Paulo, v. 29, n. 1, p. 93-107, jan/jun 2003. Data do fichamento: 01 de dezembro de 2013. Destino : Questão racial na
Sociologia.
*** Explicação de caráter teórico- metodológica sobre o uso da categoria “raça”, em conexão com outras categorias, como “cor”, “etnia”, “região”, “classe”. O autor faz a
distinção entre conceitos/categorias analíticos e nativos. Categoria analítica faz sentido apenas no corpo de determinada teoria, enquanto a categoria nativa faz sentido no mundo prático, efetivo (p. 95). É preciso contextualizar, portanto, os conceitos, sejam eles analíticos ou nativos. Isso implica em considerar o tempo e o espaço em que foram elaboradas as teorias e os termos analisados. A raça, por exemplo, tem pelo menos dois sentidos analíticos: o da biologia genética e o da sociologia; além de seu sentido enquanto categoria nativa. Ideia da biologia e antropologia física de dividir a humanidade em subespécies humanas, a partir da qual as divisões entre as subespécies determinariam o desempenho psíquico, moral e intelectual. O racismo surge a partir dessa ideia de dividir a humanidade em raças, que teriam qualidades específicas (p. 96). Tal ideia justificou, por exemplo, os genocídios. A partir daí os cientistas de diferentes áreas buscaram desautorizar o uso da ideia de raça para acabar com o racismo. Para substituir a ideia de raça, alguns cientistas – mais mais voltados para as áreas – propuseram o uso do termo “população” como forma de classificar alguns naturais – propuseram
grupos com proximidade genéticas. “As raças são, cientificamente, uma construção social e devem ser estudadas por
um ramo próprio da sociologia ou das ciências sociais, que trata das identidades sociais” (p. 96).
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Como trabalhar com “raça” em sociologia Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
Conceito de raça para a Sociologia: “Discursos sobre as origens de um grupo, que usam termos que remetem à transmissão de traços fisionômicos, qualidade morais, intelectuais, psicológicas, etc., pelo sangue (conceito fundamental para entender raças e certas essências)” (p. 96). Quando os discursos dizem respeito a lugares, falamos em etnias. Quando dizem respeito a
formas de se fazer as coisas, falamos em comunidade .
Associação é diferente de comunidade. Associação é uma união de pessoas ligadas por certos interesses. Por exemplo, um sindicato pode ser uma associação. Quando raças, etnias e comunidades buscam um destino político comum falamos em Nação. Falamos de povo quando nos referimos aos sujeitos dessas comunidades de origem e destino, o conjunto das pessoas da comunidade. Retoma a definição weberiana de Estado – “organização política que tem domínio sobre um território e monopoliza o uso legítimo da força”. (p. 9 7)
O autor simpatiza com a ideia de formação de classe, e não como classe dada analiticamente. Cor é um conceito nativo, que é naturalizado e por isso difícil de ser analisado. Autor mostra que cor pode ser um conceito nativo nas ciências sociais, mas não um conceito analítico. Anos 30 – busca pelo símbolo da nação. Índio. Ideia de que não existiam raças. Final dos anos 30 estudos de Donald Pierson pensam as raças em termos de classe e mostram que no Brasil a sociedade era aberta e as classes (negros, brancos, índios, mestiços) transitavam por todos os espaços e grupos sociais. Estudos patrocinados pela Unesco – Florestan Fernandes e Roger Bastide – mostram a existência do preconceito racial no Brasil. “Escola paulista de Sociologia” mostrou que em algumas á reas
tradicionais do
Brasil, como Bahia e Pernambuco não existia o preconceito racial porque não havia competição entre brancos e negros, então aqueles não se sentiam ameaçados. Entretanto, em áreas do desenvolvimento capitalista, existia o preconceito em razão da competição e do medo do branco de que o negro tomasse seu lugar. Essa escola cunhou a ideia de “mito da democracia racial” (p. 102).
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Como trabalhar com “raça” em sociologia Antonio Sérgio Alfredo Guimarães
“O termo „democracia racial‟ passa a carregar e sintetizar uma certa constelação
de significados. Nela, raças não existem e a cor é um acidente, algo totalmente natural, mas não importante, pois o que prevalece é o Brasil como Estado e como nação: um Brasil em que praticamente não existem etnias, salvo alguns quistos de imigrantes estrangeiros. Inventa-se, portanto, um povo para o Brasil, que passa a ter samba, passa a ter um pouco da cultura negra, que até aqui não existia pois se, no Império, predominou a mística do índio, e na República a mística do imigrante europeu, somente na Segunda República o negro vai dar col oração à nação, à ideia de uma nação mestiça” (p. 102). 1978 – Movimento Negro Unificado introduz novamente a ideia de raça. Para o negro ser cidadão era preciso reinventar a raça. Estudos de Hasenblag (1979) e Nelson do Valee e Silva (1980) mostram que as desigualdades econômicas e sociais entre brancos e negros (pretos e pardos) se dava em razão das diferenças de oportunidades de vida e formas de tratamento entre os grupos raciais – e não em razão da herança escravagista e pertença a classes sociais distintas. “Se pensarmos em „raça‟ como categoria que expressa um modo de classificação
baseado na ideia de raça, podemos afirmar que estamos tratando de um conceito sociológico, certamente não realista, no sentido ontológico, pois não reflete algo existente no mundo real, mas um conceito analítico nominalista, no sentido de que se refere a algo que orienta o discurso sobre a vida real” (p. 104).
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