HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios: 1875-1914. São Paulo: Paz e Terra, 1988. 13ª edição revista, 2011. p. 16 - O mundo que vivemos ainda hoje (contemporâneo ao autor), em grande medida é um mundo feito por homens e mulheres que cresceram e viveram entre 1875 a 1914. - O autor inicia falando de suas memórias pessoais: encontro entre seus pais; - Discussão sobre o historiador de fatos contemporâneos e o historiador de fatos passados a bastante tempo. p. 19 - Mais que qualquer outra, a Era dos Impérios exige desmistificação precisamente porque nós – inclusive os historiadores – não vivemos mais nela, mas não sabemos quanto dela ainda vive em nós. Isso não quer dizer que ela precise ser desmascarada ou denunciada. - Esse período, não é crucial apenas para o desenvolvimento dos movimentos trabalhistas e socialistas, sobre o problema do declínio econômico britânico, sobre a natureza e a origem da Revolução Russa, Primeira Guerra Mundial, entre outros. p. 24 - Hobsbawm se referindo aos três volumes de seus livros: “O eixo central em torno do qual tentei organizar a hist histór ória ia do sécu século lo XIX XIX foi, foi, basi basica came ment nte, e, o triu triunf nfo o e a tran transfo sform rmaç ação ão do capi capita talilism smo o na form forma a historicamente historicamente específica de sociedade burguesa em sua versão liberal. p. 25 - A era dos impérios é marcada e dominada por contradições: foi uma era de paz sem paralelo no mundo ocidental que gerou uma era de guerras mundiais igualmente sem paralelo. - Foi uma era de estabilidade social crescente dentro da zona de economias industriais desenvolvidas desenvolvidas que forne fornecer ceram am os peque pequeno noss grupo gruposs de homen homenss que, que, com uma uma facili facilidad dade e que que beirav beirava a a insol insolênc ência, ia, conseguiram conquistar e dominar vastos impérios; mas uma era que gerou, inevitavelmente, em sua periferia, as forças combinadas da rebelião e da revolução que a tragariam. - Era do surgimento de movimentos de massa organizados pela derrubada do capitalismo; capitalismo; - Era de profunda crise de identidade e transformação [...] p. 87 “Então como podemos sintetizar a economia mundial da Era dos Impérios? - economia cuja base geográfica era muito mais ampla do que antes; - a industrialização industrialização aumentara dentro e fora da Europa; - O mercado internacional internacional de produtos primários cresceu enormemente; - Era em que alguns países foram integrados a geografia industrial, exportação de bens e moças as cidades novas e surgimento de teatros de ópera erguidos sobre os ossos dos índios í ndios mortos... p. 88 - Economia mundial era muito mais pluralista do que antes; - Era caracterizada pela rivalidade entre os Estados; - Relações entre o mundo desenvolvido e subdesenvolvido também foram mais variadas e complexas do que em 1860; - Por volta de 1900 a participação britânica caiu para um ¼ e as exportações do 3º mundo crescera significativamente para outros países da Europa – a era do impérios já não era monocêntrica; p. 89 - A posição central da Grã-Bretanha estava sendo reforçada pelo próprio desenvolvimento do pluralismo mundial p. 90 - Revolução tecnológica, antes de ser chamada de 2ª Revolução Industrial e preciso pensar que “para o século XIX, a principal inovação consistia na atualização da primeira revolução industrial, através do aperfeiçoamento aperfeiçoamento da tecnologia do vapor e do ferro: o aço e as turbinas - Transformação da empresa capitalista; por um lado, houve a concentração de capital, o aumento da escala, que levou à distinção entre empresa e grande empresa, ao retraimento do mercado de livre concorrência e a todos os demais aspectos (...) por outro lado, houve uma tentativa sistemática de racionalizar a produção e a direção das empresas aplicado ‘métodos científicos’ não apenas à tecnologia, mas também à organização e aos cálculos. p. 91
- Transformação excepcional do mercado de bens de consumo: uma mudança tanto quantitativa como qualitativa: com o aumento da população, da urbanização e da renda real o mercado de massa cresceu enormemente, elementos que antes estava restrito ao consumo de bens básico como alimentação e vestuário, agora outros produtos passam a fazer parte dos bens de consumo da população de massa. p. 92 - O crescimento acentuado, tanto absoluto como relativo, do setor terciário da economia, tanto público como privado – trabalhos em escritórios, lojas e outros serviços. - Crescente convergência de política e economia, quer dizer, o papel cada vez maior do governo e do setor publico, ou o que os ideólogos da persuasão liberal, consideravam como o avanço ameaçador do coletivismo à custa da velha, boa e vigorosa iniciativa individual ou voluntária – um dos sintomas do retraimento da economia da livre concorrência. p. 93 - Embora o papel estratégico do setor público pudesse ser crucial, seu peso real na economia permaneceu modesto - Foi um tempo de prosperidade e melhoria da condição de vida dos trabalhadores. A Era dos Impérios – p. 97 - Era muito provável que uma economia mundial cujo ritmo era determinado por seu núcleo capitalista desenvolvido ou em desenvolvimento se transformasse num mundo onde os avançados dominariam os atrasados. - 1875 a 1914 pode ser chamado por Era dos Impérios não apenas por ter inventado um novo tipo de imperialismo, mas porque foi provavelmente o período da história mundial moderna em que chegou ao máximo o número de governantes que se autodenominavam ‘imperadores’, ou que eram considerados pelos diplomatas ocidentais como merecedores desse título. - duas regiões maiores do mundo foram inteiramente divididas: África e Pacífico. Não restou qualquer Estado independente no Pacífico, então totalmente distribuído entre os britânicos, franceses, alemães, holandeses, norte-americanos e japoneses. p. 100 - A África em 1914 pertencia inteiramente aos impérios britânicos, francês, alemão. Belga, português e espanhol, com exceção da Etiópia, Libéria e parte do Marrocos que ainda resistia a conquista completa; - A Ásia conservava uma extensa área nominalmente independente; - As Américas permaneceu sem uma conquista formal, mas não livre da dominação imperialista das grandes potencias européias. - As Américas constituíam a única parte do globo que não havia rivalidade séria entre as grandes potencias – também nenhuma nação via motivo para hostilizar os EUA e sua doutrina Monroe (A América para os americanos); - A divisão do mundo entre algumas nações aumentou consideravelmente o território de dominação de cada uma dessas potências mundiais; p. 102 - O colonialismo mesmo sendo o colonialismo apenas um dos aspectos de uma mudança mais geral nas questões mundiais, foi o de impacto mais imediato – ele constituiu o ponto de partida de analises mais amplas e não há duvidas de que a palavra ‘imperialismo’ passou a fazer parte do vocabulário político e jornalístico em 1890 no decorrer das discussões sobre a conquista colonial – foi então que adquiriu a dimensão econômica que, como conceito nunca mais perdeu. - A palavra imperialismo deriva dos imperadores e impérios antigos, mas a palavra imperialismo era um termo novíssimo. p. 105 - a divisão do globo tinha uma dimensão econômica; p. 106 - Então o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de transações econômicas, comunicações e movimentos de bens, dinheiro e pessoas ligando países desenvolvidos entre si e ao mundo não desenvolvido – essa globalização da economia não era nova, mas acelerou nas décadas centrais do século XIX. - A civilização precisava do exótico – intensa exploração do petróleo e da borracha e de outros produtos retirados da natureza; - crescimento vertiginoso da indústria alimentícia viabilizado pela velocidade dos transportes p. 110 - Os territórios dependentes que não pertenciam ao que foi denominado ‘capitalismo de povoamento’ (branco) não se saíram tão bem. Seu interesse econômico residia na combinação de recursos a uma f orça
de trabalho que, composta por nativos, custava pouco e podia ser mantida barata. Entretanto, as oligarquias de proprietários de terras e de comerciantes, beneficiavam-se com a duração absoluta do período de expansão das matérias-primas de exportações de suas regiões. p. 112 - Um motivo geral mais convincente para a expansão colonial foi a procura de mercados. p.113 - Tratava-se de um protecionismo, que ganhou terreno em quase todas as partes após 1879. - O Novo imperialismo foi o subproduto natural de uma economia internacional baseada na rivalidade entre várias economias industriais concorrentes, intensificada pela pressão econômica dos anos de 1880. Daí não decorre que se esperasse a transformação de qualquer colônia em particular, por si só. - As colônias podiam propiciar apenas bases adequadas ou trampolins para a penetração na economia da região. - O protecionismo de qualquer tipo é a economia operando com a ajuda da política; p. 114 - A aquisição de colônias se tornou um símbolo de status em si, independente de seu valor; p. 115 - Alguns historiadores, tentaram colocar os motivos da expansão britânica na África em termos de necessidade de defender as rotas para a Índia, bem como suas vias de acesso marítimas e terrestres contra ameaças potenciais – este é um elemento importante a ser lembrado – mas não invalidam uma analise econômica do imperialismo: * Em primeiro lugar, eles subestimam o incentivo diretamente econômico para a aquisição de alguns territórios africanos, dos quais o sul da África é o mais óbvio; * Em segundo lugar, eles passam por alto o fato de Índia ser a “ gema mais esplêndida da coroa imperial” e o cerne do pensamento estratégico britânico global, justamente em virtude de sua importância muito real para a economia britânica; * Em terceiro lugar, a própria desintegração dos governos nacionais locais, que às vezes acarretou a implantação de um governo europeu em áreas que os europeus anteriormente não tinha se preocupado em administrar, derivou do fato de as estruturas locais terem sido solapadas pela penetração econômica; * Por fim, a vã tentativa de provar que nada de desenvolvimento interno do capitalismo ocidental nos anos de 1880 explica a redivisão territorial do mundo, pois o capitalismo mundial nesse período foi claramente diferente do que fora nos 1860. Agora ele consistia numa pluralidade de “economias nacionais” rivais “protegendo-se” umas das outras. - Em suma, a política e a economia não podem ser separadas na sociedade capitalista, assim como religião e a sociedade não podem ser isoladas nas regiões islâmicas. - A tentativa de formular uma explicação puramente econômica para o novo imperialismo irrealista; - O novo imperialismo também foi visto e percebido como uma estratégia para diminuir o descontentamento econômico das massas, embora, essa questão tenha sido a menos relevante; - Nunca foi tão fácil emigrar como em 1880 a 1914, entretanto, foram poucas as pessoas que fizeram isso e se dirigiram as colônias; P. 118 - De forma mais geral, o imperialismo encorajou as massas, e sobretudo as potencialmente descontentes, a se identificarem ao Estado e à nação imperiais, outorgando assim, inconscientemente , ao sistema político e social representado por esse Estado justificação e legitimidade. Numa era de política de massa, mesmo os sistemas mais antigos precisavam de nova legitimidade; - Não se pode dizer até que ponto o patriotismo foi válido para o imperialismo, tendo em vista que havia vários grupos de esquerda com forte tradição anti-imperialista. Mas também havia uma grande popularidade do imperialismo entre os grupos de uma nova classe média e os colarinhos brancos; - A idéia de superioridade das grandes potências “brancas” em relação aos de pele escura era extremamente popular. p. 119 - O mundo que era considerado barbárie a serviço da civilização – utilização das colônias para propagandas e apresentação do poderio militar; - A sensação de superioridade que uniu os brancos ocidentais – ricos, classe média e pobres – não se deveu apenas ao fato de todos eles desfrutarem de privilégios de governante, sobretudo quando efetivamente estavam nas colônias; - Mesmo onde a ideologia insistia em uma igualdade, ela gradualmente se transformava em dominação; - Neste período também houve um intenso trabalho missionário – este não deve ser visto como um intermediário da política imperialista, na maioria das vezes os interesses dos fiéis estavam em primeiro lugar. Entretanto, o sucesso dos missionários dependia da virtude do avanço imperialista; - Crescia o número de fieis nativos do catolicismo, mas o clero continuava branco.
p. 123 - O impacto econômico do imperialismo foi significativo, mas é claro, o que ele teve de mais significativo foi sua profunda desigualdade, pois as relações entre metrópoles e países dependentes eram altamente assimétricas; - A ação das potências sobre as colônias foi sangrenta e decisiva, entretanto, as potências não dependiam exclusivamente do mercado e do comércio com as colônias, a maior parte deste era realizado com países desenvolvidos p. 126 - após 1900 mais da metade da poupança britânica estava investida no exterior; - O objetivo britânico não era a expansão, mas impedir a intromissão de outros em territórios até então dominados pelo comércio e pelo capital britânicos, como a maior parte do mundo ultramarino; - A relação especial com o mundo não industrial não era economicamente crucial para nenhum outro país a não ser a Grã-Bretanha: * Em primeiro lugar, a ofensiva colonial parece ter sido inversamente proporcional ao dinamismo econômico dos países metropolitanos, onde até certo ponto servia para compensar sua inferioridade econômica e política em relação aos seus rivais; * Em segundo lugar, em todos os casos houve forte pressão dos grupos econômicos específicos – notadamente os associados ao comércio ultramarino e às indústrias que usavam matéria-prima ultramarina – em favor da expansão colonial, que eles, naturalmente justificavam com perspectivas de vantagens nacionais. * Em terceiro lugar, enquanto alguns grupos se saíam bastante bem dessa expansão, a maioria das novas colônias efetivas atraiu pouco capital, e seus resultados econômicos foram decepcionantes. - Em suma, o novo colonialismo foi um subproduto de uma era de rivalidade econômica política entre economias nacionais concorrentes, intensificadas pelo protecionismo; p. 127 - A era dos impérios não foi um fenômeno econômico e político apenas, mas também cultural: a conquista do globo pelas imagens, ideias e aspirações de sua minoria desenvolvida, tanto pela força e instituições como por meio do exemplo e da transformação social. - O que o imperialismo trouxe às elites efetivas ou potenciais do mundo dependente foi, portanto, essencialmente a ocidentalização – este fenômeno já havia iniciado a muito tempo; - A resistência da elite ao Ocidente era ocidentalizante, mesmo quando se opunha à ocidentalização indiscriminada no terreno da religião, da moral, da ideologia ou do pragmatismo político – Hobsbawm usa o exemplo de Gandhi – ele mesmo era financiado pelos proprietários de cotonifícios mecanizados, sendo ele advogado, formado no ocidente e visivelmente influenciado pelas ideologias dele derivadas. - De uma forma geral, o imperialismo contribuiu para difundir as ideias do mundo ocidental, até mesmo aquelas que provavelmente, os governantes e as elites não desejavam – as ideias de esquerda e de reivindicações. p. 131 - O mais poderoso legado cultural do imperialismo foi uma educação em moldes ocidentais para minorias de vários tipos: para os poucos favorecidos que se alfabetizaram, descobrindo portanto, com ou sem a ajuda da conversão cristã, o caminho mais direto para a ambição que usava o colarinho branco dos clérigos, professores, burocratas ou funcionários de escritório. Em algumas regiões também se incluíam aqueles que haviam adquiridos novos costumes, como soldados e policiais dos novos governantes envergando suas roupas, adotando suas ideias peculiares de tempo, de lugar e de organização doméstica. - Os países dominados também exerceram influência sobre os dominadores, esta se deu de uma forma e exibição do exótico e, na maioria das vezes, esta apresentação se remetia ideologicamente a ideia de superioridade do Ocidente. p. 135 - Um aspecto final do imperialismo deve ser mencionado: seu impacto nas classes dirigentes e média dos próprios países metropolitanos – o imperialismo destacou o triunfo dessas classes e das sociedades criadas à sua imagem como nada mais poderia ter feito. Mas o número de pessoas diretamente envolvidas com o imperialismo era relativamente pequeno, (tendo em vista que, um pequeno número de soldados e administradores metropolitanos conseguiam dominar milhares de colonos) mas seu significado simbólico era enorme. Pagina 425 – Rumo à Revolução
p. 448 – Ponto 6 do capítulo 12 – fala as revolução russa - Alguns historiadores pensam que a Rússia, a economia que mais rapidamente se desenvolvia no fim do século XIX, teria continuado a avançar e a evoluir numa sociedade liberal próspera se seu progresso não tive sido interrompido por uma revolução que só poderia ter sido evitada pela 1ª Guerra Mundial. Se havia
um Estado onde se acreditava que a revolução fosse não só desejável como inevitável, era o Império dos Czares: gigantesco, pesado e ineficiente, econômica e tecnologicamente atrasados, com 126 milhões de habitantes e 80% de camponeses; - O governo do Czar estava ciente que para se manter como país de grande linha, não bastava ser extenso e ter um grande numero populacional – precisa se modernizar; - O imenso número de camponeses não eram ouvidos; p. 451 - Independentes de suas opiniões, quase todos os participantes da vida pública russa, legal ou ilegal, concordavam em que o governo do czar administrara mal a reforma agrária e negligenciara os camponeses. - O descontentamento aumentou quando o governo destinou parte da verba que era para o campo, para a modernização do país e industrialização – o resultado dessa mescla de capitalismo privado e de Estado foi um rápido crescimento do país e de uma grande massa de proletariado urbano, comprometido com a revolução social; p. 454 - Ao final de 1890 a ideia de um partido apoiado no proletariado industrial era algo real, embora o forte apoio fosse para a social democracia formada por artesãos e trabalhadores autônomos. - Os bolcheviques era apenas uma entre as várias tendências dentro ou próximo da social democracia russa – só se tornaram um partido autônomo em 1912, quando se tornaram a força majoritária da classe trabalhadora organizada; - para os socialistas estrangeiros como para a grande massa de trabalhadores russos, as distinções entre diferentes tipos de socialistas ou eram incompreensíveis ou eram secundárias, todos sendo igualmente merecedores de apoio e solidariedade como inimigos do czarismo; - A principal diferença dos bolcheviques era que os camaradas de Lênin eram mais bem organizados, mais eficientes e mais confiáveis. p. 456 - A Revolução de 1905 foi como disse Lênin, uma “revolução burguesa realizada por meios proletários”; - Os trabalhadores se organizaram em conselhos (em russo: sovietes) e em 13 de outubro foi instalado uma espécie de Parlamento de Trabalhadores, que por um curto período ficou como a autoridade mais efetiva e real da capital do país. p. 457 - Não apenas a esmagadora maioria da classe média da classe média era favorável à revolução e a esmagadora maioria dos estudantes estavam mobilizados para lutar por ela, como também tanto os liberais como os marxistas admitiam, quase sem discordância, que a revolução, se fosse bem-sucedida, só poderia levar a implantação de um sistema parlamentarista ocidental burguês, com suas liberdades civis e políticas características, dentro do qual, os estágios posteriores da luta de classes marxiana seriam travados. - Havia o consenso de que a construção imediata do socialismo não fazia parte da revolução; - A Rússia era muito atrasada, não estava nem econômica nem socialmente pronta para o socialismo. - Lênin tinha a noção de que a burguesia pós czar era numérica e fraca demais para assumir o poder e as industrias eram fracas demais para modernizar o país. p. 458 - O que Lenin tinha de diferente dos mencheviques era que ele sabia que t eria que realizar uma revolução burguesa, sem a presença da burguesia – seria feita pela classe operária, organizada e conduzida pelo disciplinado partido de vanguarda de revolucionários profissionais. - A perspectiva leninista repousava num crescimento da classe operária, num campesinato que continuasse sendo uma força revolucionária. Mas continuaria os camponeses revolucionários? - O ministro do czar Stolypin criou uma massa substancial de camponeses conservadores, incremetando ao mesmo tempo a produtividade agrícola por meio do “cerceamento de terras” britânico. p. 460 - A revolução de 1905 fracassara, mas no verão de 1914, os únicos obstáculos que se lhe opunham eram a força e a firme lealdade da burocracia do czar; - A deflagração da guerra, deu vazão ao ardor social e político. Quando ela ocorreu, foi ficando cada vez mais evidente que o czarismo estava acabado – de fato, ocorreu em 1917. P. 460 - Todas as erupções ocasionadas pelo vasto terremoto social do planeta, a Revolução Russa teria a maior repercussão internacional.
Página 463 – Da Paz à Guerra
- A partir de agosto de 1914 a guerra mundial assombrou a vida dos europeus; - Desde 1815, não houvera nenhuma guerra envolvendo as potências européias. Desde de 1871, nenhuma nação européia ordenara a seus homens em armas que atirassem nos de qualquer outra nação similar...as grandes potências escolhiam suas vítimas no mundo mais fraco. - A guerra já era esperada e sabiam de que seria inevitável, entretanto, realmente havia a crença de que não aconteceria. p. 470 - Enquanto os civis tentavam entender a catástrofe que seria a futura guerra, os governos se lançavam numa corrida para se equipar com os armamentos da nova tecnologia. – esta preparação para guerra se tornou algo caro, porque um país sempre tentava ser o primeiro em armamento. - Essa corrida se iniciou de forma modesta em 1880 e intensificou anos antes do início da guerra – uma das conseqüências de gastos tão elevados foi a necessidade complementar de impostos mais altos ou de empréstimos inflacionários, ou de ambos. - Fizeram da morte em prol de várias pátrias um subproduto da indústria em grande escala. - A simbiose entre guerra e produção da guerra transformou inevitavelmente as relações entre governo e indústria; p. 472 - Os bens que essa indústria produziam eram determinados não pelo mercado, mas pela interminável concorrência dos governos, que os fazia procurar garantir para si um fornecimento satisfatório de armas mais avançadas e, portanto, mais eficientes. E mais, o que os governos precisavam não era tanto da produção real de armas, mas sim da capacidade de produzi-las numa escala compatível com uma época de guerra, se fosse o caso; isso quer dizer que eles tinham de zelar para que suas indústrias mantivessem uma capacidade de produção altamente excedente para tempos de paz. - o Estado Liberal britânico assinou acordos com as indústrias privadas de armamento – não admira que as empresas de armamento estivessem entre os gigantes da indústria, ou passassem a estar: a guerra e a concentração capitalista caminhavam juntas. - Empresas armamentistas emitiam propagandas para acelerar a venda de armas, através de propagandas falsas de um determinado país compraria tantas armas, assim outro país ia e fazia uma encomenda ainda maior – o desejo da indústria armamentista era incentivar a guerra; p. 474 - A guerra mundial não pode ser explicada como uma conspiração de fabricantes de armas, embora os técnicos faziam de tudo para convencer os militares a comprar o ultimo modelo de arma. Porem, a Europa não foi a guerra devido a corrida armamentista como tal, mas devido à situação internacional que lançou as nações nessa competição. p. 477 - Chegou ao um ponto em que todos sabiam que a guerra era inevitável e aos governos, sobrou a decisão de escolher o melhor momento para iniciar esta guerra; - Sem duvida, durante a crise final de 1914 – precipitada pelo irrelevante assassinato de um arquiduque por um estudante terrorista – a Áustria sabia que corria o risco de guerra mundial ao provocar a Sérvia; e a Alemanha, ao decidir dar total apoio à sua aliada, transformou o risco quase numa certeza; p. 478 - Descobrir as origens da Primeira Guerra Mundial, não está em identificar o agressor, mas repousa na natureza de uma situação internacional em processo de deterioração progressiva, que escapava cada vez mais do controle dos governos – gradualmente a Europa foi se dividindo em dois blocos opostos de grandes nações; P. 479 - Tensões internacionais que levaram a Primeira Guerra Mundial: - Formação da Tríplice Aliança: * A Alemanha e a França estariam em lados opostos, quanto mais não fosse porque a Alemanha anexara grandes porções da França (Alsácia-Lorena) após sua vitória em 1871. Também não era difícil prever a permanência da aliança entre Alemanha e Áustria-Hungria, forjada por Bismarck após 1866, pois o equilíbrio interno do novo Império Alemanha tornou essencial manter vivo o multinacional Império Habsburgo. Sua desintegração em fragmentos nacionais não apenas levaria, como Bismarck bem sabia, à ruína do sistema de Estados da Europa Central e Oriental, como destruiriam também a base de uma pequena Alemanha dominada pela Prússia. - A Áustria, envolvida nos turbulentos assuntos dos Balcãs devido a seus problemas multinacionais, e, principalmente depois de ter conquistado a Bósnia-Herzegovina em 1878, se achava em oposição à Rússia naquela região.
- Bismarck fez de tudo para manter as relações diplomáticas com a Rússia, mas sabia que cedo ou tarde iria estourar uma guerra; - Os problemas que separavam a França da Alemanha não tinham interesse para a Áustria, e os que representavam um risco de conflito entre a Rússia e a Áustria eram insignificantes para a Alemanha. P. 480 - Três problemas transformaram os sistemas de aliança numa bomba-relógio: a situação de fluxo internacional, desestabilizado por novos problemas e ambições mútuas entre as nações, a lógica do planejamento militar conjunto que congelou os blocos que se confrontavam, tornando-os permanentes, e a integração de uma quinta grande nação, a Grã-Bretanha, a um dos blocos – Entre 1903 e 1907, para a surpresa geral – incluindo a sua própria surpresa – a Grã-Bretanha se uniu ao lado antialemão. * A origem da Primeira Guerra Mundial pode ser mais bem entendida acompanhando-se o surgimento desse antagonismo anglo-germânico. p. 481 - Tríplice Entente - Esta formação foi surpreendente tanto para os inimigos como para os aliados britânicos. - No passado a Grã-Bretanha não tinha nenhum atrito com Prússia, conhecido agora como Império Alemão – Por outro lado a Grã-Bretanha fora antagonista quase automática da França em quase todas as guerras européias desde 1688 - * o atrito entre os dois países era visivelmente crescente, aos menos porque ambos competiam pelo mesmo território e influência como nação imperialista. - Em relação a Rússia, os impérios britânico e czarista haviam sido antagonistas permanentes na zona dos Balcãs e do Mediterrâneo da assim chamada “Questão Oriental” e nas áreas, mal definidas porém amargamente disputada, da Ásia Central e Ocidental que ficava entre a Índia e as terras do czar: Afeganistão, Irã e outras regiões com saída para o Golfo Pérsico. - Da diplomacia britânica uma guerra contra a Alemanha era uma possibilidade muito remota – Uma aliança permanente como qualquer nação continental parecia incompatível com a manutenção do equilíbrio de poder, que era o principal objetivo da política externa britânica. Uma aliança com a França seria considerada improvável, uma com a Rússia quase impensável. p. 482 - Contudo, o implausível se tornou realidade: a Grã-Bretanha, vinculou-se de forma permanente a França e à Rússia contra a Alemanha, resolvendo toda a diferença com a Rússia. - Este fato ocorreu porque ambos os jogadores, como as regras do jogo tradicional da diplomacia internacional mudaram: * As rivalidades entre as potências era agora global e imperial – com excessão da América que ficava sobre o domínio imperial dos Estados Unidos; * A aliança britânica com o Japão foi o primeiro passo rumo a Tríplice Aliança, porque reduzia a ameaça da Rússia à Grã-Bretanha e possibilitou o esvaziamento de antigas disputas russobritânicas. p. 483 - A globalização do jogo de poder internacional transformou automaticamente a situação do país, que fora até então a única das grandes potências com objetivos políticos realmente mundiais – Durante a maior parte do século XIX a função da Europa nos cálculos diplomáticos britânicos era ficar quietas para que os britânicos dessem continuidade as suas atividades políticos e econômicas. - O surgimento de uma economia industrial capitalista mundial, o jogo internacional se desenrolava em torno de apostas bastante diferentes. - É impossível argumentar que muitos dos capitalistas fossem provocadores conscientes da guerra – a maioria dos homens de negócio achava a paz vantajosa para eles – a guerra era aceitável somente na medida em que não interferisse nos negócios; p. 485 - O desenvolvimento do capitalismo empurrou o mundo inevitavelmente em direção a uma rivalidade entre os Estados, à expansão imperialista, ao conflito e à guerra – várias nações disputando o poder - Um certo número de economias industriais nacionais agora se enfrentavam mutuamente. Sob tais circunstâncias a concorrência econômica passou a estar intimamente entrelaçada com as ações políticas, ou mesmo militares do Estado. - Do ponto de vista do capital, o apoio político passaria a ser essencial para manter a concorrência estrangeira a distância; - Do ponto de vista do Estado, a economia passou a ser desde então, tanto a base do poder internacional como seu critério: “Agora era impossível conceber uma ‘grande nação’ que não fosse ao mesmo tempo uma ‘grande economia’. p. 486
- O que levou essa identificação entre poder econômico e político-militar a ser tão perigosas, não foram apenas as rivalidades nacionais pelos mercados mundiais e recursos materiais e pelo controle de regiões... p. 487 - O traço característico da acumulação capitalista era justamente não ter limite – foi este aspecto dos novos padrões da política mundial que desestabilizou as estruturas da política mundial tradicional; - O que se tornou o bloco anglo-franco-russo começou com um entendimento cordial anglo-francês de 1904, essencialmente uma negociação imperialista através do qual os franceses desistiram de reivindicar o Egito, e, em troca, a grã-Bretanha apoiaria suas reivindicações relativas a Marrocos, vitima a qual Alemanha também estava de olho. p. 488 - Mas o que tornou o mundo um lugar ainda mais perigoso foi a equação tácita de crescimento econômico ilimitado e poder político, que veio a ser aceita inconscientemente. p. 498 - A convocação do governo ao alistamento não enfrentou uma real resistência; - O que surpreendeu tanto os governantes, como a população de um modo geral, foi o entusiasmo patriótico com que seus povos pareciam mergulhar num conflito que matariam no mínimo 20 milhões de pessoas, sem fala em outras conseqüências; Epílogo p. 501 - A primeira Guerra mundial não foi os últimos dias da humanidade, mas com certeza depois dela, o mundo havia mudado drasticamente. p. 502 - A mudança mais óbvia e imediata foi que agora a história mundial se desenrolava, evidentemente, através de uma série de convulsões sísmicas e cataclismos humanos. A ideia de progresso ou mudança contínua nunca se mostrou tão pouco plausível como durante a vida dos que passaram pelas duas guerras mundiais, por dois períodos globais de revoluções após cada guerra, pela descolonização generalizada e em parte revolucionária, por duas expulsões em massa de povos que culminaram em genocídio e ao menos uma crise econômica cuja gravidade foi suficiente para despertar dúvidas sobre o próprio futuro dos setores do capitalismo ainda não derrubados pela revolução. - Após 1914 se tornou comum falar em vítimas em quantidades astronômicas por diversos fatores: guerras, epidemias, fome, imigrações; p. 511 - Os historiadores estranharam a coincidência que consiste no fato de que o superboom do século XX ter ocorrido justamente após cem anos do superboom do século XIX – 1850-1873/1950-1973 – mas isto, para o autor é mera coincidência. - o fim do século XX ainda é moldado pela era dos impérios e pelo século burguês; p. 512 - O elemento mais óbvio dessa herança do século XIX é a divisão do mundo em países socialistas e o resto. p. 513 - Outro elemento obviamente herdado é a própria globalização do modelo político mundial. - Outra herança da era dos impérios é o fato de todos esses Estados serem descritos e, muitas se autodescreverem como nações. Isso não se deve apenas ao fato de a ideologia da nação e do nacionalismo, produto europeu do século XIX, poder ser usada como ideologia de libertação colonial e como tal ser importada pelos membros das elites ocidentalizadas dos povos coloniais, mas também porque o conceito do “Estado-nação”, nesse período passou a estar ao alcance de grupos de qualquer tamanho que escolhessem assim se nomear, diferente do que acontecia em meados do século XIX que para usar este termo “nação”, deveria ser um país médio ou grande. p. 514 - A era dos impérios assistiu ao nascimento da maioria dos fatores que ainda caracterizavam a sociedade urbana moderna de cultura de massas, das formas internacionais de esportes para espectadores à imprensa e cinema – desde então, os meios tecnológicos só vem aperfeiçoando-se, sem invenções.