LETRAMENTO DIGITAL ASPECTOS SOCIAIS E POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS
Carla Viana Coscarelli Ana Elisa Ribeiro (Orgs.)
LETRAMENTO DIGITAL ASPECTOS SOCIAIS E POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS
3ª edição
Copyright © 2005 Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) 2007 2. ed. CONSELHO EDITORIAL DA COLEÇÃO LINGUAGEM & EDUCAÇÃO
Antônio Augusto Gomes Batista (coord.), Ana Maria de Oliveira Galvão, Artur Gomes de Morais, Ceris Salete Ribas da Silva, Jean Hébrard, Luiz Percival Leme Brito, Magda Soares, Márcia Abreu, Vera Masagão Ribeiro PROJETO GRÁFICO DA CAPA
Marco Severo EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Glenda Milanio REVISÃO
Ana Elisa Ribeiro
Revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico. Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.
Rua Aimorés, 981, 8º andar. Funcionários 30140-071 . Belo Horizonte . MG Tel: (55 31) 3222 68 19 TELEVENDAS : 0800 283 13 22 www.autenticaeditora.com.br
L649
Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas / Carla Coscarelli, Ana Elisa Ribeiro (organizadoras). – 3. ed. – Belo Horizonte : Ceale ; Autêntica, 2011. 248 p. — (Coleção Linguagem e Educação) ISBN 978-85-7526-170-5 1. Letramento. 2. Leitura - estudo e ensino. 3. Novas tecnologias. I.Coscarelli, Carla. II. Ribeiro, Ana Elisa. III. Título. IV. Coleção. CDD - 372.4 Catalogação da Fonte: Biblioteca da FaE/UFMG
Í NDICE
Apresentação................................................................................................ 07
Capítulo 1 Educação e Sociedade da Informação João Thomaz Pereira....................................................................... 13
Capítulo 2 Alfabetização e letramento digital Carla Viana Coscarelli.................................................................... 25
Capítulo 3 Letramento e novas tecnologias: questões para a prática pedagógica Cecília Goulart................................................................................. 41
Capítulo 4 Alfabetização digital: problematização do conceito e possíveis relações com a pedagogia e com aprendizagem inicial do sistema de escrita Isabel Cristina A. da Silva Frade.................................................... 59
Capítulo 5 Educação e novas tecnologias: um olhar para além da técnica Otacílio José Ribeiro......................................................................... 85
6
Letramento digital – Aspectos sociais e possibilidades pedagógicas
Capítulo 6 A angústia da interface Antônio Zumpano............................................................................. 99
Capítulo 7 Contribuições das teorias pedagógicas de aprendizagem na transição do presencial para o virtual Renato Rocha Souza........................................................................105
Capítulo 8 Ler na tela – letramento e novos suportes de leitura e escrita Ana Elisa Ribeiro...................................................................................125
Capítulo 9 Chat: E agor@? Novas regras – nova escrita Else Martins dos Santos...............................................................151
Capítulo 10 A coerência no hipertexto Luiz Antônio Marcuschi...................................................................185
Capítulo 11 Ensino/aprendizagem da escrita e tecnologia digital:o e-mail como objeto de estudo e de trabalho em sala de aula Juliana Alves Assis...........................................................................209 Os autores................................................................................................. 241
Apresentação
APREsENTAÇÃO
“Creio qu e há um m ercado m un dial para uns cinco com p utado res”. Foi com essa frase qu e o p resid ente da IBM , Tho mas, J. Watson, em 1943, perdeu seu cargo de profeta bem -suced id o p ara os garoto s do Vale do Silício (B ill G ates e Cia.), que se tornariam donos da Microsoft. Também Ken Olsen, presidente da Digital Corporation, em 1977, avaliou mal a forma como se daria a difusão das máquinas: “Não há razão p ara qualquer ind ivíduo ter um com p utador em casa”. H o je, sabe-se qu e não f o i b em assim q u e as coi sas acon teceram. Em apenas vinte anos, os microcomputadores cresceram em esp aço d e m emó ria e em velocidade de p rocessam ento, mas diminuíram muito de tamanho, o que permitiu seu uso p ortátil e do m éstico. As máqu inas, que tam bém ganh aram o mercado de genéricos, passaram a ser empregadas na administração de escolas e empresas, em seguida, ganharam as casas das pessoas (passando ao status de eletrod om éstico) e chegaram às salas de aula, inclusive fundando as salas de aula virtuais, em um a esp écie de evo lução d o ensin o à d istância, antes feito por cartas, só que muito mais ágil e eficiente. Na década de 1990, determinadas faixas da população com eçaram a emp regar a m áqui na em seu d ia a di a, no trabalho e nas tarefas de casa, se apropriando das possibilidades qu ase infin itas do m un do digital. Fazend o um a busca ráp ida
7
8
Letramento digital – Aspectos sociais e possibilidades pedagógicas
na memória, qualquer pessoa é capaz de lembrar há quanto tem p o e em qu e circunstâncias viu p ela p rim eira vez um m icrocomputador. A maneira como essa máquina ganhou as empresas, os caixas de banco, do supermercado e da padaria, assim como nossas casas, foi algo de surpreendente. No entanto, se esse nos parece um aparato datado e recente, as geraçõ es vin do ur as terão a sensação d e qu e as m áqu in as sem pre estiveram aí. (Você já imaginou seu dia a dia sem uma caneta esfero gráfica? Pois é. Mas as pesso as q u e n asceram n a década de 1920 só conheceram um ‘bolígrafo’ na década de 50, p rovavelmente). Tam bém a In ternet, seja com con exão di scada ou em b anda larga, deixou de ser luxo ou acessível apenas a grandes corporações e passou a ser também de uso dentro das casas das pessoas. Com a finalidade de estudar, pesquisar, comunicar, ter momentos de lazer ou de fazer um curso virtual, a Internet tornou-se uma nova ferramenta. E as escolas não d evem , não p od em e não qu erem ficar de fora desse no vo m un do de p ossibilid ades. A com p ra de m áqu inas e a mo ntagem de laboratório s de in form ática foram os m eios qu e as in stituições de ensin o encon traram de abri r esse caminho aos alunos, especialmente aos que não possuíam com p utadores em casa. No entanto, ter os microcom p utado res não era suficiente, era necessário ter pessoas para operálos e para desenvolver projetos pedagógicos adequados à escola. Iniciou-se, então, uma nova empreitada: a de atualizar os educadores para que pudessem formular novos modos de dar aulas, de inserir os alunos e as disciplinas na Sociedade da Informação. Para atualizar os docentes é preciso repensar a sala de aula, refletir sobre os ambientes de ensino/aprendizagem, reconfigurar conceitos e práticas. Assim, com a emergência das novas tecnologias, emergiram formas de interação e até mesmo novos gêneros e formatos textuais. E então a escola foi atingida pela necessidade de incluir, ampliar, rever.
Apresentação
Se uma parcela dos novos alunos tem acesso à informação antes e fora da escola, apresentando tendência a sentirem-se desestimulados em sala de aula, uma outra parcela não teve sequer acesso à máquina e não sabe operar essa nova possibilidade. Estes alunos ‘excluídos digitais’, no entanto, têm notícia da existência da Internet e dos microcomp utado res e desejam (e p recisam m ais qu e aqueles) co nh ecer novas modalidades de estudo, comunicação, lazer e cultura. A escola, ao repensar o ensino e a possibilidade de empregar esta nova tecnologia nas salas de aula ou como sala de aula, de forma cuidadosamente tecida, empresta conceitos d a so ciedad e do im p resso e rep ensa o s im p actos da escrita em meio digital. Os computadores oferecem diversidade de tratam ento da im agem e do texto n a form a de p rogram as concebidos para escrever ou diagramar. Já a Internet constitui-se com o no vo amb iente de leitura e escrita, de p esqu isa e publicação de textos. A cultura escrita (necessariamente impressa) estabilizou gêneros com o a carta, o con to, o b ilh ete, o anún cio classificado, a notícia de jornal, o editorial ou o artigo científico; a cultu ra escrita di gital (m ais do qu e digitalizada) recon figu rou certos gênero s e origin ou ou tros tanto s, con hecid os ho je com o o e-mail, a conv ersa de ch at, os gêneros po stado s em bl ogs e os textos prod uzido s p ara w ebjornais. O no m e do livro q ue ora oferecem os ao leitor tem m uito a ver com tudo isso. Se o letramento vem sendo discutido n as e p elas escol as, assim com o as p o ssib ili d ades d e uso d e labo ratóri os de in form ática, p ensa-se na in clusão do s sujeitos também em relação às possibilidades que computadores e Internet oferecem. Letramento digital é o nome que damos, então, à ampliação do leque de possibilidades de contato com a escrita também em ambiente digital (tanto para ler quanto para escrever). Organizar esta obra significou, além de imenso prazer, o con tato p essoal e virtual com p esqu isadores p reocup ados em
9
10
Letramento digital – Aspectos sociais e possibilidades pedagógicas
estud ar as n o vas p o ssib ili d ades d a Rede e d as m áqu in as, m as também preocupados com a execução de novos planos de trabalh o n as escol as. Mas sem fo rçar as h abil id ades d o alun o que ainda não havia tido contato com computadores e nem adotando uma postura receosa e excludente, com nuances de ‘coitadismo’, com relação a meninos e meninas a quem aind a não foram apresentados os m od os de trabalhar em conexão e d e form a não p resencial. N osso sum ário, dá ideia do qu e o leito r e a leitora, p rofessores e/ ou in teressados no assun to, p od erão enco ntrar neste livro, além de serem os ícones das possibilidades de caminh o e acesso ao texto qu e m ais in teressar, nu m a dem on stração clara de hipertexto impresso. A quem se interessar por uma reflexão sobre “Educação e Sociedade da Informação”, é só entrar pela senda aberta p or João Th om az Pereira, qu e tam bém apresenta as p o ssib ilid ades p resentes e futu ras da “co nv ergência digital”. D e m aneira fácil e superinclusiva, Carla Coscarelli bate um papo esclarecedor sobre alfabetização e letramento digital, seguid a po r Cecília Gou lart, qu e trata de q uestões p ara a prática p edagógica, com Letram ento e no vas tecno logi as . Isabel Frade, entrand o de v ez no amb iente inform ático, di scute a alfabetização di gital, pro blem atizand o esse con ceito e p ensando su as relações com a pedagogia e com a aprend izagem in icial do sistema de escrita. Para finalizar uma parte deste livro em que as discussões têm caráter mais amplo, Otacílio Ribeiro provoca o leitor e a leitora com reflexões sobre educação e novas tecnologias. A angústia da interface é o texto de Antônio Zumpano, que aborda a relação do usuário com as interfaces digitais presentes em nosso dia a dia. Renato Souza Rocha oferece subsídios para que se repensem as teorias pedagógicas de aprend izagem na transição do p resencial p ara o virtu al, in serindo o/a leitor/leitora nas possibilidades da sala de aula digital. Para mergulhar nas práticas de leitura tradicionais e
Apresentação
11
nas características da leitura em meio digital, Ana Elisa Ribeiro oferece Ler n a tela – letramen to e n ov os sup ortes de l eitura e escrita . Else Martins apresenta uma reflexão sobre a escrita n o s chats . E, dando limites ao livro, mas não às possibilidades que esta obra abre ao leitor/à leitora, Luiz Antônio Marcuschi anali sa a coerên cia no h ip ertexto e Ju lian a Alv es Assis relaciona ensino/aprendizagem da escrita e tecnologia digital, ap resentando o e-m ail com o o bjeto de estud o e de trabalho em sala de aula. Esp eramo s, verd adeiram ente, qu e esta seja u m a ob ra acessada com p razer e liberdade; qu e seja um hi p ertexto con ectado a muitos outros percursos de leitura, remissivos e avançados; e, mais importante, que seja uma janela (real ou virtual) aberta pelo/a leitor/leitora onde se escorem alegremente os cotovelos para um gostoso bate-papo. As coordenadoras
Capítulo 1 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
João Thomaz Pereira
Formar cidadãos preparados para o mundo contemporâneo é um grand e desafio p ara qu em d im ension a e p rom ove a educação. Em p lena Era do Conh ecim ento, na qu al inclusão digital e Sociedade da Informação são termos cada vez mais frequentes, o ensino não poderia se esquivar dos avanços tecnoló gicos qu e se im p õem ao no sso co tidiano. Para Ad izes (2002), é preciso entend er qu e tod a organização (a escola é um a organi zação) , com o q ualq uer organi sm o vivo , tem u m ciclo de vida e se sub m ete a p adrões m uito previsíveis e repetitivos de comportamento enquanto evolui e se desenvolve. Para cada estágio do desenvolvimento a organi zação se con fron ta com no vo s desafios, de acordo com o am biente no qu al está inserida. Qu ão bem ou m al a organização administra e enfrenta cada desafio reflete diretamente em sua evolução e no sucesso de seus objetivos. Conduzir uma organização com as transições do ciclo de vida não é fácil ou ób vio. O s m esm os método s qu e pro du ziram sucesso no estágio p assado p od em não ter serventia algu m a no estágio atual ou n o futuro. N o con texto atual, o grand e desafio d as escolas, do s edu cado res e da socied ade civil é a exclu são d igital ou o analfabetismo digital. Se as pessoas que estão à frente desse p rocesso n ão com p reend em o q ue é necessário e o qu e não é
14
Letramento digital – Aspectos sociais e possibilidades pedagógicas
necessário fazer, podem inibir o desenvolvimento de nossas instituições de ensino ou mergulhá-las no envelhecimento p rematuro . Não p recisamo s ir m uito lon ge para saber o qu e acontece, basta refletirmos sobre a situação atual de nossas escolas públicas. O s desafios que cada in stituição d e ensin o, edu cado res e alunos devem superar manifestam-se como problemas inerentes à sua p róp ria evo lu ção e m ud anças no amb iente externo, na tecnologia e no ambiente político. Isso conduz às seguin tes reflexõ es sob re a natureza do s p rob lem as qu e iremos enfrentar participando da Sociedade da Informação na Era do Conhecimento: • Problemas são normais e desejáveis, são o resultado natural da mudança. O único lugar no ciclo de vida em que não há nenhu m prob lema é o lugar em qu e não há nenhu m a m ud ança, qu e é a m orte. • O papel daqueles que cond uzem o ensino não é imp edir problemas ou retardar o ritmo das mudanças. Em vez disso, deve-se focalizar e acelerar suas habilidades e competências para reconhecer e resolver problemas. • A maioria dos problemas que as instituições de ensino na Sociedade da Informação irão enfrentar é comum a todas as instituições, não somente no Brasil, mas em todo o mundo. Para aqueles que ainda não se alertaram, a Sociedade da In form ação n os cond uz, irreversivelm ente, à glob alização. Isso não serve de consolo, mas a exclusão digital não é um problem a exclusivo do s p aíses do terceiro m un do , é um p rob lema global. Em todas as partes do mundo esse problema é discutido por educadores, sociedade civil e governos. Podese econo m izar mu ito temp o e esforço com p reend endo qu ais são as boas práticas adotadas ao redor do mundo. Um a diferença-chave entre o ciclo d e vida para o ser hu m ano em comparação a uma instituição ou organização é que as coisas vivas, inevitavelmente, morrem, quando as instituições ou organizações não necessariam ente estão fadadas ao m esm o fim .
Educação e sociedade da informação — João Thomaz Pereira
A idade de uma instituição, em termos de seu ciclo de vid a, não está relacion ada a sua id ade crono ló gica, ao n úm ero de funcionários ou ao tamanho de seus recursos. A idade do ciclo de vid a é definid a pelo in ter-relacionam ento entre a flexib ilid ade e a direção. Portanto , a p erenid ade se con segue com o equilíbrio entre direção e flexibilidade. Os organismos relacionados à educação na Sociedade da Informação, estou me referindo aos educadores, instituições de ensino e professores, gozarão de grande longevidade se tiverem uma di reção segura p ara saberem o qu e estão fazend o, p ara on de estão in do e o q ue farão q uando chegarem lá. Além de m uita flexibilidade para romper com métodos e metodologias do passado, inovando suas estratégias por meios das tecnologias disponíveis na Era do Conhecimento.
Inclusão digital Letrar é m ais qu e alfabetizar, é ensinar a ler e escrever d entro d e um con texto n o q ual a escrita e a leitura tenh am sentid o e façam parte da vida das pessoas (SOARES, 2003). O termo alfabetização , sempre entendido como uma forma restrita de apren di zagem do sistema da escrita, fo i amp liado. Já não b asta aprender a ler e escrever, é necessário mais que isso para ir além da alfabetização. No caso do letramento digital não é di ferente. É p reciso ir m ui to além do aprend er a di gitar em u m computador. Quando pessoas em situação de exclusão social p assam a ter acesso ao co m p utado r e a seus recursos, po de-se falar em p op ularização ou m esm o em dem ocratização da info rmática, mas não necessariamente em inclusão digital. Para algun s estud iosos, a inclu são é u m p rocesso em qu e um a pessoa o u grup o de p essoas p assa a participar do s usos e costumes de outro grupo, passando a ter os mesmos direitos e os mesm os deveres do s já particip antes daqu ele grup o em que está se incluindo. D entro d esse contexto , po deríam os descrever vários tip os de inclusão, por exemplo, a inclusão social, que diz respeito
15
16
Letramento digital – Aspectos sociais e possibilidades pedagógicas
àquelas pessoas que, de algum modo, foram ou estão marginalizadas pela sociedade. Mas estamos falando de inclusão d igi tal, e a palavra digital n o s leva à asso ciação im edi ata ao computador. Essa associação é racional e verdadeira porque os computadores, em sua essência, trabalham as informações em form a de dígitos (n úm eros). Por isso a p alavra digital está q uase sem p re associada a com p utado r e sign ifica, n um sentido mais vasto, um modo de processar, transferir ou guardar informações. Os números são utilizados para representar muitas coisas, p o r ex em p lo , q uanti d ades (3 [três] laranjas, 2 [do is] carros, etc.). Porém, quando nos referimos a computadores, os nú m eros são utilizado s p ara representar tod o e qu alqu er tip o de informação. Por exemplo, uma mensagem escrita, uma foto grafia, um a im agem , um vídeo , um a m úsica, etc. Isso tudo é informação, que nos computadores é representada digitalmente, ou seja, a palavra digital , qu and o referenciada a computação, tem sentido muito ampliado. Vamos fazer uma pequena reflexão: o modelo digital de p rocessamen to, transferência ou armazenam ento d e info rm ações difere do modelo tradicional basicamente por: tempo, espaço e custo. Vamos imaginar o tempo que levaria uma p esso a para escrever u m texto , a caneta, so b re So ciedad e da Informação, com dez páginas, para enviá-lo ao colegiado e no tempo que um bom digitador levaria para escrevê-lo em um m icrocom p utador. Seguram ente, o temp o que o digitador gastaria seria menor. Im agine qu e existam cem texto s di ferentes, com a mesm a quantidade de páginas, no espaço que eles ocupariam, o temp o p ara escrevê-lo s, p ostá-lo s, etc. Com p are com o esp aço p ara arm azenar esse mesm o co nteúd o em um CD . Pense tam bém no s custos envo lvid os com tinta, p apel, trabalho , número de pessoas, espaço físico e nos custos para se gravar um CD .
Educação e sociedade da informação — João Thomaz Pereira
Facilmente, concluímos que o modelo digital de processar, transferir ou arm azenar info rm ações é m ais ráp id o e con som e muito menos espaço; com isso o custo cai. Isso é muito bom, pode-se investir mais em educação. Sei também que isso dep end e de v on tade p ol ítica, mas esse é um ou tro assun to. Voltando ao nosso ponto de partida, temos que a inclusão digital é um processo em que uma pessoa ou grupo de pessoas passa a participar dos métodos de processamento, transferência e arm azenam ento de in form ações que já são d o uso e do costum e de o utro gru p o, p assand o a ter os m esm os direitos e os mesmos deveres dos já participantes daquele grupo onde está se incluindo. Para isso, precisamos dominar a tecnologia da informação, estou me referindo a computadores, softwares , In ternet, correio eletrôn ico, serviços, etc., que vão m ui to além d e ap render a di gitar, con hecer o significado de cada tecla do teclado ou usar um mouse. Precisamos dominar a tecnologia para que, além de buscarmos a informação, sejamos capazes de extrair conhecimento. No Brasil, de maneira geral, principalmente no que se refere ao ensino público de base, podemos dizer que instituições, educadores, professores e alunos são digitalmente exclu ídos. Porém , esse não é um p rob lem a ap enas do Brasil. O mundo inteiro está se movendo no sentido de eliminar a exclusão digital da sociedade organizada. É claro que o problema tende a ser mais grave em países do terceiro mundo, cujas economias e diferenças sociais são mais extremas do qu e nos cham ado s p aíses de p rim eiro m un do . As com un idades rurais em todo o p aís no toriam ente possu em sérias lim itações d e acesso à in fo rm ação . A m aiori a não d isp õ e de jo rn ais e revistas, bib lio tecas, e m u itas fam ílias n ão possuem televisão. Nesse sentido, o computador passa a ser artigo de luxo, quase inexistente. Porém, trabalhos como os realizados em Serrinha, Biritinga e Teofilândia são exemplos de com o a inform ação p od e ser levada às com un idades com
17
18
Letramento digital – Aspectos sociais e possibilidades pedagógicas
o intuito de p rom ov er e melho rar as op ortunidades educacionais, socio culturais, econ ôm icas e pro fission ais da p op ul ação . (http://www.winrock.org/GENERAL/Publications/ Historiadeserrinha.pdf.) O p rob lem a central qu e um a Sociedade da Inform ação deve ven cer, em p rim eira instância, é o d a exclusão di gital, discutido glob almente pela prim eira vez em m eado s da década de 1980. A exclusão digital é uma exclusão de segunda ordem que soma-se a e agrava a exclusão econômica e social.
Convergência digital A Socied ade da In form ação tamb ém está fortem ente associada a uma outra expressão amplamente difundida, a c o n - vergência di gital . O qu e é essa tal de co nv ergência digital? Como havia mencionado anteriormente, a palavra digital quando referenciada no mundo computacional, tem sentido amplo, que quer dizer a representação de qualquer tipo de informação, seja ela, escrita, falada ou visual. Sendo assim, p od em os di zer qu e a con vergência di gital refere-se: • à habilid ade de diferentes p lataform as de redes de com p utadores para transportar essencialmente tipos similares de serviços; • à chegada in tegrada de di sp ositivo s m icrop rocessados do s consumidores, tais como: telefone, televisão, câmeras fotográficas e computadores pessoais; • à digitalização, fornecendo a rota para unificar meio e mídia. A flexibilidade da informação digital está criando meios para o enriquecimento de serviços convencionais (televisão digital, rádio e melhor qualidade nas comunicações móveis), assim com o um grand e espectro de n ov os serviços e ap licações. Ou seja, todos os nossos equipamentos microprocessados poderão estar integrados em uma grande rede digital convergida. O que isso significa? Significa que o meu computador vai se
Educação e sociedade da informação — João Thomaz Pereira
comunicar com meu DVD ou que poderei enviar uma foto p or m eio do m eu telefone celular. O asp ecto m ais im p ortante da con vergência digi tal é q ue ela p ossib ilita o acesso a info rmação em qualquer lugar, a qualquer momento.
Figura 1: Convergência digital – Representação de uma rede digital convergida, em que todos os equipamentos microprocessados se comunicam. A digitalização da informação permite que esse cenário se estabeleça.
O qu e a conv ergência digital oferece? O acesso a info rm ações importantes: dados dos alunos, dos professores, notas, relatórios, textos, bibliotecas, publicações, etc. A escolha do m eu amb iente de trabalho , no jardim , em casa, no shop p ing, n a fazend a, etc. Q ual a relação entre a con vergência digital e a edu cação? Na realidade, a con vergência digital vai m ud ar tod as as p ráticas em todos os setores da sociedade civil organizada. Na verdade, ela já está ocorrendo e está mudando tudo. Nós é qu e não no s atentamo s p ara o qu e está acon tecend o a no ssa volta porque estamos mergulhados neste contexto ao qual m uitos se referem com o a Revolução da Informação . As coisas estão se m o di ficand o e n ão con segui m o s p erceber a transform ação p orq ue fazemo s p arte dela. As agências bancárias, hoje, são muito diferentes de há alguns anos. O número de caixas diminuiu, o número de
19
20
Letramento digital – Aspectos sociais e possibilidades pedagógicas
gerentes aum entou, p orém a mo dificação m ais p rofu nd a foi a virtualização. Hoje, facilmente, pagam-se boletos bancários p ela In ternet ou tom a-se din heiro emp restado ou , aind a, transfere-se din heiro de u m a con ta p ara outra. H oje, tod os os que têm con ta bancária, seguram ente, têm cartão bancário, q ue é o m étodo d e in clusão d igital oferecido p elos bancos aos seus usuários. Com o un iverso qu e envo lve a educação, in stituições, pro fessores, educadores e alunos, todos estarão sujeitos a mudanças oriundas da convergência digital. Da mesma forma qu e está acon tecend o com os banco s, a virtualização fará p arte do m un do educacion al. Não con sigo im aginar a educação n a Sociedade da Informação com problemas de vagas para alunos da rede pública porque os espaços físicos não comportam a d em and a. As escol as vir tuais serão um a realidad e, p o r um a qu estão de tem p o, esp aço, abrangência e custo. Isso já está acontecendo. Escolas que oferecem ensino a distância não são nenh um a nov idade. Se refletirm os um p ou co m ais so b re essa situ ação , verem o s q u e a escol a con seguiu oferecer seus serviços para uma comunidade distante, na qual ela não tinha presença física. Nesse caso, tudo se torn a virtu al: o p rofessor, o edu cad or, a adm in istração , o “ giz”, o qu adro, o cadern o, o lápis, a caneta, o di ário de classe. Temos que ter em mente que o processo de virtualização é a essênci a d a So ciedad e da In fo rm ação , p or q u e a rep resentação da informação não é física, nem abstrata, mas, seguramente, ela é digital .
Educação na Sociedade da Informação O impacto da tecnologia da informação e comunicação está provocando mudanças graduais, porém, muitas vezes, radicais no trabalh o, na edu cação e, de um m od o m ais geral, em no sso estilo de v id a. A socied ade tem q ue utilizar, da m elh or m aneira, as tecno logi as dispo níveis. Esse n ov o amb iente