HOSPITAL
O PAPEL DO PSICANALISTA N A INSTITUIÇÃO
EGOÍSMO
CRISES PODEM NOS TORNAR ATENTOS A NECESSIDADES ALHEIAS
ESQUIZOFRENIA O R I G E N S GENÉTICAS DO TRANSTORNO
CIENTIFIC A M E R I C A N segmento
s i c o l o g i a • IpJ sd ii cL cai nM ác il ii isd ec -• i ni ee uur ru oL ci ei êi inL ci id a
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PSICOLOGIA
AJUDA V O C Ê A
HÁBITOS
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ALCANÇAR
OBJETIVOS
Lidar com a ansiedade e aproveitar melhor o tempo aumenta chances de realizar seus desejos
ESPECIAL A S CRIANÇAS D E H O J E SÂO
MAIS INTELIGENTES'
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Língua é a revista q u e evidencia a riqueza e a diversidade d a expressão e m língua portuguesa. C o m u m o l h a r jornalístico s o b r e o t e m a explora assuntos interessantes e variados, aborda questões d o cotidiano e m o s t r a q u e o s estudos s o b r e a língua e a l i n g u a g e m a j u d a m a e n t e n d e r m e l h o r o ser h u m a n o ,
LÍNGUA COMO 0 IDIOMA AFETA
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I segmento " editores de educação
O u n i v e r s o d o i d i o m a e m revista.
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lojasegmento.com.br
revistalingua.com.br
c a r t a a o leitor
Como se fosse a primeira vez
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s t a v a n u m a l i v r a r i a , p a s s e a n d o o s o l h o s p o r títulos q u e i n s i s t i a m e m c a p t u r a r m i n h a a t e n ção, q u a n d o d e r e p e n t e m e d e i c o n t a : não v a i d a r t e m p o ! S i m p l e s m e n t e não v o u c o n s e g u i r n e s t a v i d a ( d e d i a s q u a s e s e m p r e l o t a d o s ) ler t o d o s o s livros q u e m e i n t e r e s s a m , escrever t o d o s o s t e x t o s q u e m o r a m e m a l g u m l u g a r d a m i n h a cabeça, e s t u d a r t o d o s o s c a s o s clínicos, participar d e t o d o s o s cursos q u e gostaria, conhecer t o d o s o s lugares a q u e planejei ir e n e m m e s m o retornar a t o d o s aqueles e m q u e vale a pena estar mais d e u m a vez. Penso n a v o z d e u m a a m i g a d e m u i t o t e m p o q u e , c a s o l h e r e v e l a s s e e s s a s angústias, m e d i r i a n u m m e i o s o r r i s o , q u a s e d i s p l i c e n t e : " M a s você não s a b i a d i s s o ? " . P o i s é, e u s a b i a - e a o m e s m o t e m p o não s a b i a o u não q u e r i a m e d a r c o n t a n o nível d a consciência. O f a t o é q u e , d e u m i n s t a n t e p a r a o o u t r o , a e s c a s s e z d e t e m p o m e p a r e c e u i n e x o r a v e l m e n t e óbvia ( m a s s e m a q u e l a n a t u r a l i d a d e apática q u e i m p r e g n a a q u i l o q u e s e m p r e s o u b e m o s e até p o r i s s o n o s i s e n t a d e g r a n d e s implicações, a d q u i r e a r e s d e cenário c o m o q u a l n o s a c o s t u m a m o s t a n t o q u e s e q u e r p r e s t a m o s atenção).
A i n d a n a l i v r a r i a , o l h e i e m v o l t a e a m i n h a compreensão s e a m p l i o u : não v a i d a r t e m p o p a r a a g r a n d e m a i o r i a d a s p e s s o a s ! E j u s t a m e n t e p o r i s s o é tão i m p o r t a n t e e s t a b e l e c e r p r i o r i d a d e s . C o n s i d e r a n d o q u e o s e r h u m a n o t e m e s s a tendência tão f r e q u e n t e d e s e a t r a p a l h a r e n t r e d e s e j o s e contradições, n u m i r e v i r e m m e i o à dialética d o c o n f l i t o psíquico, p a r e c e u q u e j a n e i r o s e r i a u m ótimo m o m e n t o p a r a f a l a r s o b r e p r o j e t o s a s e r e m r e a l i z a d o s e hábitos q u e q u e r e m o s t r a n s f o r m a r s o b a óptica d a p s i c o l o g i a , d a psicanálise e d a neurociência n a c a p a d e Mente e Cérebro.
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L e m b r o - m e d e C a r l o s D r u m m o n d d e A n d r a d e : "Quem teve a Ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um Indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente". Então, s e é h o r a d e r e n o v a r , n a d a m e l h o r d o q u e o l h a r p a r a s i m e s m o , a v a l i a r d e s e j o s , motivações, traçar estratégias, c o n t a b i l i z a r r e c u r s o s . T u d o i s s o , c l a r o , l e v a n d o e m c o n t a q u e a l g o v a i d a r e r r a d o n o m e i o d o c a m i n h o . M a s já q u e o s d e s l i z e s são inevitáveis e q u e m u i t a c o i s a d o q u e q u e r e m o s i m p r e t e r i v e l m e n t e v a i ficar d e f o r a , q u e p e l o m e n o s prevaleça u m t a n t o d e p r a z e r - s u f i c i e n t e p a r a recomeçar e o l h a r a v i d a c o m a q u e l e a r d e e s t r a n h a m e n t o , d e p r i m e i r a v e z , q u e n o s l i v r a d o tédio. E s e o a n o q u e c h e g a não será s u f i c i e n t e ( n a d a é m e s m o , a g e n t e s a b e ) q u e p e l o m e n o s h a j a a l g u m espaço p a r a a diversão e p a r a o a f e t o . Feliz a n o - n o v o ! m±ÊÊk G L Á U C I A L E A L , editora
[email protected]
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sumário | j a n e i r o 2 0 1 5 C A P A : A R T E D E JOÃO SIMÕES S O B R E ILUSTRAÇÃO D A S H U T T E R S T O C K
capa
34
Bons hábitos, maus hábitos por A n n M . G r a y b i e l e K y l e S. S m i t h Cientistas identificam circuitos cerebrais que participam d a aquisição e manutenção t a n t o d e c o m p o r t a m e n t o s que nos fazem b e m q u a n t o d e f o r m a s prejudiciais d e a g i r q u e s e t o r n a m automáticas
Imaginação t u r b i n a d a
Especial Inteligência 4 8 P o d e m o s ser cada v e z m a i s inteligentes? por T i m F o l g e r A u m e n t o contínuo d o s r e s u l t a d o s n o s t e s t e s q u e m e d e m o q u o c i e n t e d e inteligência ( Q l ) s u g e r e q u e n o s s o s d e s c e n d e n t e s farão c o m q u e a geração a t u a l pareça lerda. O m a i s provável é q u e e s t e j a m o s a p e n a s e n c o n t r a n d o o u t r a s f o r m a s d e u s a r o cérebro
54 Primeiro o gesto, depois a palavra por G e r h a r d N e u w e i l e r O aperfeiçoamento d a coordenação m o t o r a f i n a e d a s expressões f a c i a i s p e r m i t i u q u e , a o l o n g o d o s séculos, desenvolvêssemos a cognição e a l i n g u a g e m
por S u s a n a M a r t i n e z - C o n d e e S t e p h e n L. M a c k n i k O u n i v e r s o fantástico d o s heróis n o s a j u d a a e n t e n d e r a c a p a c i d a d e d o cérebro d e a p r e e n d e r informações
4 4 Egoísta, e u ? por E s t h e r H s i e h O altruísmo p o d e s e r a p r e n d i d o ; c r e s c e r e m época d e c r i s e p o d e n o s t o r n a r m a i s a t e n t o s às necessidades alheias
64 O psicanalista n o hospital por M a r i a Lívia T o u r i n h o M o r e t t o E n q u a n t o a m e d i c i n a t r a b a l h a c o m doença, a psicanálise p r i o r i z a a experiência d o a d o e c e r e o s l u t o s q u e a situação e v o c a
7 0 U p g r a d e d o cérebro A popularização d o s c o m p u t a d o r e s está influenciando a maneira c o m o pensamos nossas habilidades mentais; é cada vez mais c o m u m usar t e r m o s d a t e c n o l o g i a p a r a descrevê-las
4
seçoes CARTA D A EDITORA PALAVRA D O LEITOR
8 ASSOCIAÇÃO L I V R E Notas sobre atualidades, p s i c o l o g i a e psicanálise
11
N A REDE O q u e há p a r a v e r e ler n a i n t e r n e t
nas bancas Dez anos, grandes temas U m a década d e existência d e Mente e Cérebro m e r e c e u m a edição c o m e m o r a t i v a . A s s i m , a redação s e l e c i o n o u a l g u n s d o s a r t i g o s q u e m a i s r e p e r c u t i r a m n o s 1 0 a n o s d a r e v i s t a p a r a u m número e s p e c i a l : Grandes temas. E n t r e o s a s s u n t o s , m a c o n h a m e d i c i n a l , A l z h e i m e r e drogas d e a p r i m o r a m e n t o neural. D e s t a q u e para o t e m a " s o n h o s " : dois a r t i g o s e x p l i c a m c o m o a s i m a g e n s oníricas são u m a f e r r a m e n t a aperfeiçoa d a a o l o n g o d a evolução d a espécie p a r a n o s a j u d a r a r e s o l v e r p r o b l e m a s . A r e p o r t a g e m Maconha para desvendar o cérebro m o s t r a c o m o o e s t u d o d a Cannabis sativa t e m a j u d a d o a c o m p r e e n d e r a f i s i o l o g i a d o cérebro e a s h a b i l i d a d e s m e n t a i s c o m p l e x a s , c o m o a memória. A d q u i r a o s e u n a s b a n c a s o u n a Loja S e g m e n t o : w w w . l o j a s e g m e n t o . c o m . b r .
12
CINEMA O senhor do labirinto p o r F e r n a n d a Teixeira Ribeiro
42/74
NEUROCIRCUITO N o v i d a d e s n a s áreas d e p s i c o l o g i a e neurociência
76 LIVRO Psicossomática VIntegração, desintegração e limites p o r Gláucia L e a l
78
LANÇAMENTOS
80
C A I X A LÚDICA
colunas 14
PSICANÁLISE Complexo de Turner p o r Christian Ingo Lenz Dunker
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CUIDE-SE! Q u a n d o o déficit d e atenção é real p o r Suzana Herculano-Houzel
n o site O que preocupa você? A tendência a s e "pré-ocupar" é u m a d a s p r i n c i p a i s características d o s transtornos de ansiedade. Dados d o Instituto A m e r i c a n o de Terapia Cognitiva revelam que quase 4 0 % das pessoas se afligem t o d o s o s dias por causa d a s m a i s v a r i a d a s questões. São " p r e o c u p a d o s crónicos" - a g e m s o b a percepção e n g a n o s a d e q u e , q u a n t o m a i s p e n s a r e m s o b r e a questão q u e o s i n c o m o d a e t e n t a r e m c o n t r o l a r c a d a situação, m e l h o r e s serão a solução d o s p r o b l e m a s e o p l a n e j a m e n t o d o f u t u r o . M a s , e m v e z d i s s o , e s s e padrão d e p e n s a m e n t o d i f i c u l t a a assimilação c o g n i t i v a e p r o v o c a a superestimulação d a s áreas c e r e b r a i s d e p r o c e s s a m e n t o d o m e d o e d a emoção. N o s i t e d e Mente e Cérebro, está disponível u m a versão r e s u m i d a d o Worry Domain Questionnaire, u m questionário-padrão q u e s e p a r a a preocupação e m c i n c o c a t e g o r i a s : r e l a c i o n a m e n t o , f a l t a d e confiança, ausência d e o b j e t i v o s , t r a b a l h o e d i n h e i r o . I n t e r e s s a n t e para identificar e refletir s o b r e o s c a m p o s o n d e s e c o n c e n t r a m a s m a i o r e s inquietações: w w w . m e n t e c e r e b r o . c o m . b r .
blog Neurociência, psicologia e psicanálise H o s p e d a d o n o p o r t a l d o Estadão, o b l o g Pensar PSI - Novidades e reflexões sobre neurociência, psicologia e psicanálise a b o r d a t e m a s d o
u n i v e r s o psíquico. E s c r i t a p e l a j o r n a l i s t a e p s i c a n a l i s t a Gláucia L e a l , e d i t o r a d e Mente e Cérebro, a página t e m atualizações n o mínimo s e m a nais: blogs.estadao.com.br/pensar-psi/.
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LIMIAR Magia Branca p o r Sidarta Ribeiro
www.mentecerebro.com.br NOTÍCIAS N o t a s s o b r e f a t o s r e l e v a n t e s n a s áreas d e p s i c o l o g i a , psicanálise e neurociência.. A G E N D A Programação d e c u r s o s , c o n g r e s s o s e e v e n t o s .
O S A R T I G O S P U B L I C A D O S N E S T A EDIÇÃO SÃO D E R E S P O N S A B I L I D A D E D O S A U T O R E S E NÃO E X P R E S S A M N E C E S S A R I A M E N T E A OPINIÃO D O S E D I T O R E S . janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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p a l a v r a d o leitor
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NATUREZA A c a p a d e d e z e m b r o (A cura pela natureza, n° 2 6 3 ) f o i u m a agradável s u r p r e s a . A f r a s e d i t a p e l o psicólogo Antônio C o r r a l i z a d e s c r e v e m i n h a experiência: " S o m o s o s lugares q u e h a b i t a m o s " . Recentemente, m u d e i c o m m e u m a r i d o para o i n t e r i o r . A p r i n c i p a l razão f o i p o r s e n t i r q u e o s e s t r e s s e s diários d a metrópole exigiam m u i t o d o corpo e d a mente. O evidente a u m e n t o d onosso bem-estar, a p e s a r d a s d i f i c u l d a d e s d a mudança, m o s t r a q u e t o m a m o s a m e l h o r decisão. Luciana Gonçalves - Andradina, SP
P e n s a m e n t o (edição m e n s a l n° 2 6 2 , d e n o v e m b r o ) e s o b r e Consciência ( e s p e c i a l n°46). A l e i t u r a m e a j u d o u e m u m d e s a f i o n o qual devia escrever sobre o t e m a " O queéo Eu?". Jorge Raggi - Belo Horizonte, MG
NATUREZA 2 Tudo que nos conecta à natureza n o s traz s e n t i m e n t o d e p e r t e n c i m e n t o . Nossa ancestralidade é m u i t o recente. Há a l g u n s m i l h a r e s d e a n o s vivíamos e m hordas. Nossa fisiologia ainda reage c o m o s e lá estivéssemos. Tânia Flores - via Facebook
PSICANÁLISE E LITERATURA C o n h e c i r e c e n t e m e n t e a excelente revista Mente e Cérebro. Parabéns p e l o t r a b a l h o ! S o u p o l i c i a l m i l i t a r , e s t u d a n t e d e gestão
SOBRE O E U F o r a m d e m u i t a valia o s textos sobre
mente
cereoro
www.mentecerebro.com.br Presidente: E d i m i l s o n Cardial Diretoria: Carolina Martinez, Mareio Cardial, M i r i a m C o r d e i r o , Rita M a r t i n e z e R u b e m B a r r o s Diretor editorial: Rubem Barros E d i t o r a - c h e f e : Gláucia Leal S u b e d i t o r a : F e r n a n d a Teixeira R i b e i r o E d i t o r d e a r t e : João M a r c e l o Simões Estagiária: A n a C a r o l i n a L e o n a r d i (redação) C o l a b o r a d o r e s : Luiz C a r l o s L. Júnior ( t r a d u t o r / inglês); E d n a A d o r n o , M a r i a Stella V a l l i e R i c a r d o J e n s e n (revisão); T h a i s i A l b a r r a c i n L i m a ( i c o n o g r a f i a ) Processamento de i m a g e m : Paulo Cesar Salgado Produção gráfica: Sidney L u i z d o s S a n t o s PCP: Isabela Elias PUBLICIDADE Gerente: Marco A n t o n i o Garcia
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Edição n°264, j a n e i r o d e 2 0 1 5 , I S S N 1 8 0 7 1 5 6 - 2 . Distribuição n a c i o n a l : D I N A P S.A. R u a Dr. K e n k i t i S h i m o m o t o , 1 6 7 8 . Impressão: Edigráfica ANER
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pública e p s i c a n a l i s t a e m formação. L e n d o a r e v i s t a , percebi a p r o f u n d i d a d e d o s temas abordados. Gostaria de sugerir u m assunto q u e cons i d e r o i n t e r e s s a n t e : a análise psicanalítica d e e s c r i t o r e s . Diego Magalhães - Januário, MG Na edição de dezembro, n°263, publicamos um texto dentro desse tema: "O discurso melancólico de Ana Gristina César", sobre a obra da poeta, da perspectiva psicanalítica.
DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO S e m u m olhar para o context o , a s relações e o m o m e n t o d e v i d a d o indivíduo não há diagnóstico d e c e n t e . E x i s t e m pessoas consideradas saudáveis m e n t a l m e n t e , m a s são a p e n a s m a i s a d a p t a d a s a c o n t e x t o s e relações a d o e c i d o s , (sobre a resenha do livro F u n d a m e n t o s d o Diagnóstico Psiquiátrico, de Allen Frances, publicada na edição n°263) Gris Jatene - via Facebook
CONCURSO CULTURAL: ESCREVA E G A N H E UM LIVRO! Mande sua opinião sobre u m dos artigos desta edição para o e-mail
[email protected] ou uma sugestão e concorra a um livro. Por limitação de espaço, tomamos a liberdade de selecionar e editar as cartas recebidas. A premiada deste mês é Luciana Gonçalves -Andradina, SP
FALE
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EXPOSIÇÕES
Arte sinestésica de Kandinsky chega ao Brasil MOSTRA RIO
DE PIONEIRO
D O A B S T R A C I O N ISM O
RELACIONOU CORES A SONS
f m azul claro é c o m o u m a flauta; u mpouco mais \ J escuro, u m cello; mais escuro ainda torna-se u m retumbante contrabaixo." Era assim q u e Wassily Kandinsky descrevia as cores. F o r m a d o e m direito, começou a e s t u d a r p i n t u r a só d e p o i s d o s 3 0 a n o s . D e c i d i u dedicar-se à arte durante u m a viagem a o interior da Rússia n o final d o século 1 9 - lá, r e l a t a m e s t u d i o s o s d e sua obra, sentiu-se t r a g a d o pela vivacidade d a s cores das aldeias c a m p o n e s a s . " S e n t i - m e cercado d et o d o s o s lados por u m a pintura, n aqual eu havia penetrado", teria d i t o . L o g o , não é s u r p r e s a e n c o n t r a r s e u t r a b a l h o q u a s e s e m p r e a s s o c i a d o a o c o n c e i t o d e s i n e s t e s i a , fenómeno d e c r u z a m e n t o d o s s e n t i d o s . A s experimentações s e n s o 8
"
JMm
PASSARÁ P O R BRASÍLIA,
D E J A N E I R O , B E L O H O R I Z O N T E E SÃO P A U L O E M 2015;
MÚSICA, P I N T O R
,J
E
INSPIRADO
PELA
M O V I M E N T O S
riais d o p r e c u r s o r d a arte a b s t r a t a , i n c l u i n d o e x e m p l a r e s clássicos d a s u a trajetória, p o d e m s e r v i s t a s d e p e r t o e g r a t u i t a m e n t e n a m o s t r a Kandinsky: tudo começa num ponto, q u e percorrerá a s u n i d a d e s d o C e n t r o C u l t u r a l B a n c o d o Brasil (CCBB) d e capitais brasileiras a ol o n g o d e 2015. P e s s o a s sinestésicas p o d e m , p o r e x e m p l o , a s s o c i a r letras a cheiros, texturas a sabores, notas musicais a c o r e s , e n t r e t a n t a s o u t r a s c o m b i n a ç õ e s . Não é possível a f i r m a r q u e K a n d i n s k y t i n h a e s s a condição neurológica, m a s é e v i d e n t e a associação d e s e n t i d o s e m s u a o b r a , e m e s p e c i a l visão e audição. A f i c i o n a d o p o r música e r u d i t a , d e u n o m e s c o m o Composições e Improvisação a a l g u m a s de suas pinturas. C o m o se criasse u m a partitura, fazia
associação livre
AFICIONADO POR M Ú S I C A ERUDITA, o artista deu nomes como Improvisação e Composições a alguns de seus trabalhos
a r r a n j o s c o m c o r e s e f o r m a s primárias, c o m o a s geomét r i c a s , c o m intenção d e p r o v o c a r emoções n o e s p e c t a d o r e expressar u m a "necessidade interior" - t e r m o que usav a - d e criação l i v r e e espontânea. C o m o e s c r i t o r , c r i o u t e x t o s q u e e n v o l v i a m música p a r a o t e a t r o n o s q u a i s o s a t o r e s d e v e r i a m s e v e s t i r d e t o n s , c o m o O som amarelo. M a i s d e c e m o b r a s d o a r t i s t a estão e x p o s t a s e m Brasília até 1 2 d e j a n e i r o . D e p o i s s e g u e m p a r a o R i o , o n d e ficarão até março. E m a b r i l , B e l o H o r i z o n t e r e c e b e a exposição e , e m j u l h o , S ã o P a u l o . D e a c o r d o c o m o s o r g a n i z a d o r e s , a disposição d o s t r a b a l h o s p r e t e n d e d e s t a c a r a evolução d o a r t i s t a e s u a s referências - além d e produções d e contemporâneos d o p i n t o r , s ã o e x i b i d o s
o b j e t o s d e r i t u a i s xamânicos e d a c u l t u r a p o p u l a r r u s s a que influenciaram Kandinsky e m sua busca por u m a arte q u e não s e r e s t r i n g i a à s i m p l e s reprodução d a r e a l i d a d e e n a t u r e z a e i n f l u e n c i a r i a a s d e m a i s c o r r e n t e s artísticas q u e s u r g i r a m n o século 2 0 .
Kandinsky: tudo começa num ponto. Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília. S e t o r d e C l u b e s S u l , T r e c h o 2 , edifício T a n c r e d o N e v e s . D e q u a r t a a s e g u n d a , d a s 9 h às21h. Informações: ( 6 1 ) 3 1 0 8 - 7 6 0 0 . Grátis. Até 1 2 d e j a n e i r o . CCBB Rio de Janeiro. R u a P r i m e i r o d e Março, 6 6 , C e n t r o . Informações: ( 2 1 ) 3 8 0 8 - 2 0 2 0 . D e 2 8 d e j a n e i r o a 3 0 d e março. CCBB Belo Horizonte. Praça d a L i b e r d a d e , 4 5 0 , Funcionários. Informações: ( 3 1 ) 3 4 3 1 - 9 4 0 0 . D e 1 9 d e a b r i l a 2 9 d e j u n h o . CCBB São Paulo. R u a Álvares P e n t e a d o , C e n t r o . Informações: (11) 3 1 1 3 - 3 6 5 1 . D e 19 de j u l h o a 2 4 d e o u t u b r o . janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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associação livre Ilusões ópticas na Casa Daros
P
arece u m p r o v a d o r d e r o u p a s c o m o qualquer o u t r o , u m p e q u e n o espaço c o m c o r t i n a e e s p e l h o . M a s o v i s i t a n t e q u e não r e s i s t e à tentação d e t e n t a r t o c a r s e u r e f l e x o s e s u r p r e e n d e a o p e r c e b e r q u e é possível atravessar a m o l d u r a e cair d e n t r o d e o u t r a cabine, n u m p r o c e s s o q u e p a r e c e interminável. A o b r a Provadores ( 2 0 0 8 ) é n a v e r d a d e u m a fileira d e p o r t a s c o m u m e s p e l h o n a p a r e d e a o f u n d o . A p r o p o s t a d e reflexão é c l a r a : o q u e v e m o s n e m s e m p r e corresponde à realidade. B a s t a u m a p e r s p e c t i v a d i f e r e n t e p a r a q u e u m a situação a d q u i r a n o v o s a s p e c t o s . A instalação d o a r g e n t i n o L e a n d r o E r l i c h é u m a d a s 5 0 ilusões ópticas q u e o c u p a m o primeiro andar d a Casa Daros, n o R i od e Janeiro. Composta de trabalhos d eartistas latino-americanos p e r t e n c e n t e s à Coleção D a r o s L a t i n a m e r i c a , d e Z u r i q u e , a m o s t r a Ilusões e v i d e n c i a , n a s p a l a v r a s d o c u r a d o r Hans-Michael Herzog, o "autoengano". "Nossa vida está c h e i a d e ilusões. S ó q u e n e m s e m p r e g o s t a m o s de a d m i t i r q u e seja a s s i m . P r e f e r i m o s n o s agarrar a o conceito de realidade", c o m e n t a . E n t r e a s o b r a s , vídeos, instalações, d e s e n h o s e fotografias. U m d o s destaques é 76m (2010), d a dupla cubana L o s Carpinteros: u m a arara c o m 2 0 0 t e r n o s impecáveis, m a s t o d o s c o m u m f u r o n o m e s m o lugar; enfileirados, f o r m a m u m buraco d e 16 m e t r o s de longitude. O u t r o , a s gravuras d a argentina Liliana P o r t e r , c o m o Prego ( 1 9 7 2 ) , n a q u a l s e p o d e c o n f u n d i r u m prego i m p r e s s o c o m u m real. Ilusões. C a s a D a r o s . R u a G e n e r a l S e v e r i a n o , 1 5 9 , B o t a f o g o , R i o d e J a n e i r o . D e q u a r t a a sábado, d a s 1 l h às 1 9 h . D o m i n g o s e f e r i a d o s , d a s 1 I h às 1 8 h . I n formações: ( 2 1 ) 2 1 3 8 - 0 8 5 0 . R $ 1 4 (grátis n a q u a r t a - f e i r a ) . Até 13 d e f e v e r e i r o .
LANDSCAPE AS AN ATTITUDE (1979), de Luis Camnitzer, e Linha Mauricio Alejo: coleção destaca artistas latino-americanos
(2002), de
o q u e há p a r a v e r e l e r |
l\di YGÚG
Menina de 4 anos c o m autismo pinta quadros
H
á pouco m a i s d e u m ano, rar a m e n t e a p e q u e n a Iris G r a c e saía d a c a m a a n t e s d o m e i o d a manhã. A g i t a d a e c o m c o m p o r t a m e n t o s r e p e t i t i v o s , não f a l a v a n e m olhava o s pais n o s o l h o s . Hoje, a mãe, A r a b e l l a C a r t e r - J o h s o n , s e surpreende a cada d i a a ov e ra m e n i n a levantar cedo para seguir a g a t i n h a d e estimação T h u l a pelas escadas, m u r m u r a n d o a p a l a v r a " g a t o " . É c o m u m também a m e n i n a c a m i n h a r até o l u g a r da casa o n d e f i c a m guardados p o t e s d e t i n t a e pincéis e a p o n t a r s i l e n c i o s a m e n t e quais deseja e, e m seguida, passa "duas horas pintando, incrivelmente concentrada", segundo Arabella. Tanto a atividade c o m astintas c o m o a
PUC
convivência c o m o b i c h i n h o f o r a m a princípio estratégias d e intervenção p r e c o c e p a r a o a u t i s m o , diagnóstico q u e Iris r e c e b e u c o m q u a s e 2 a n o s . Os trabalhos da pequena ficaram conhecidos q u a n d o o s pais c r i a r a m u m s i t e p a r a i n f o r m a r a síndrome e v e n d e r réplicas d a s o b r a s . A página contém u m b l o g n o q u a l A r a b e l l a fala sobre o d i a a d i a d a m e n i n a e p o s t a f o t o s e vídeos d e l a t r a b a l h a n d o e interagindo c o m Thula. "Ela sorri radiante quando gosta d o s resultados das pinturas. Isso melhora m u i t o s e u h u m o r " , c o n t a a mãe. Acesse e m irisgracepainting.com.
§ | I | I
Pós-graduação Lato
C O M E Ç O U COMO TERAPIA: o trabalho com as tintas e a companhia da gatinha Thula estimulam as habilidades sociais de Iris Grace
Sensu
PSICOLOGIA
JURÍDICA C o n s i d e r a n d o a relevância d o t r a b a l h o d o psicólogo n o âmbito, d a Justiça, p r e t e n d e - s e i n s t r u m e n t a l i z a r p r o f i s s i o n a i s p a r a o t r a b a l h o n a s áreas d a família, infância, j u v e n t u d e e i d o s o , c o n t r i b u i n d o p a r a u m a m a i o r reflexão s o b r e as questões específicas d e s t e c a m p o d e atuação, suas implicações éticas e técnicas.
Inscrições Abertas P U C - R i o Gávea R. Marquês d e São V i c e n t e , 2 2 5 C a s a X V - Gávea/RJ
P a r a m a i s informações:
0800 970 9556 | c c e . p u c - r i o . b r
cinema
O SENHOR D O LABIRINTO l h 2 0 m i n - Brasil, 2014 Direção: G e r a l d o M o t t a F i l h o , G i s e l l a d e M e l o E l e n c o : Flávio B a u r a q u i , I r a n d h i r S a n t o s , Maria Flor e outros
Os castelos de Arthur Bispo do Rosário FILME ROMANCEIA
TRAJ ETÓRIA D E U M D O S M A I O R E S
SÉCULO 2 0 , Q U EV I V E U
NOMES
DAARTE BRASILEIRA D O
E M U M MANICÔMIO P O R M A I S D E 5 0 A N O S
p o r F e r n a n d a Teixeira Ribeiro
M
t e r g e n t e , c e r v e j a e o u t r o s resíduos uito pouco se sabe da vida Trabalhava à exaustão descartados n o sarredores da cod e A r t h u r B i s p o d o Rosário e fazia jejuns lónia. S e u o b j e t i v o , o u s u a m i s s ã o , antes d o s 3 0 anos d e idade: nasrigorosos: queria c o m o ele definia, era representar " o ceu e m Sergipe, f o i m a r i n h e i r o , material existente na Terra d e u s o aprendeu a lutar boxe e trabalhou "secar pra virar santo". d o h o m e m " . Começou c o s t u r a n d o c o m o e m p r e g a d o d o m é s t i c o até Com a intenção de e s t a n d a r t e s c o m f i o s d o próprio começarem a s a l u c i n a ç õ e s . A c r e apresentar as coisas uniforme. Suas habilidades de ditava q u ese comunicava direto boxeador, q u eusava para controlar c o m a V i r g e m Maria, q u e dizia do mundo a Deus, os outros internos, lhe garantiam s e r s u a mãe. C o n s i d e r a v a - s e u m produziu mais de regalias, c o m o portar agulhas e m e s s i a s , o próprio C r i s t o . F i c h a d o mil peças a c u m u l a r m a t e r i a l e m s u a cela c o m o esquizofrênico-paranoico, f o i s e u " c a s t e l o " , d i z i a - e a confiança e n c a m i n h a d o p a r a a Colónia J u l i a n o d o s g u a r d a s d o m a n i c ômio, q u e o n o m e a r a m x e r i f e d o M o r e i r a , n o R i o d e J a n e i r o , u m d o s m a i o r e s manicômios pavilhão. O a t o r I r a n d h i r S a n t o s v i v e u m d e s s e s v i g i a s , d a América L a t i n a . E r a 1 9 3 9 e d o e n t e s m e n t a i s d i v i d i a m o sensível W a n d e r l e y , p e r s o n a g e m fictício c r i a d o p a r a o o espaço i n s a l u b r e , s e m c a m a s , c o m f e z e s e s p a l h a d a s roteiro. A s cenas e m q u e interage c o m o protagonista, p e l o chão. O a m b i e n t e é c u i d a d o s a m e n t e r e p r o d u z i d o i n t e r p r e t a d o p o r Flávio B a u r a q u i , q u e v i v e B i s p o j o v e m e n o f i l m e O senhor do labirinto, q u e reconstrói a trajetória i d o s o , são r e v e l a d o r a s d a s motivações d o a r t i s t a - a W a n d e Bispo. d e r l e y e l e e x p l i c a , p o r e x e m p l o , s u a compulsão p o r b o r d a r O r o t e i r o é i n s p i r a d o n a b i o g r a f i a homónima d o a r t i s centenas de nomes de pessoas q u e conheceu ao longo ta, escrita pela jornalista Luciana H i d a l g o e editada pela da vida, p r i n c i p a l m e n t e m u l h e r e s : e r a m consideradas p o r Rocco e m 1 9 9 6 . N a s p a l a v r a s d a a u t o r a , e n q u a n t o a r t i s t a s e l e p u r a s e d i g n a s d a misericórdia d e D e u s n o Juízo F i n a l . do m u n d o se rebelavam contra o s excessos da sociedade S u a o b r a m a i s c o n h e c i d a , o Manto da apresentação, s e r i a d e c o n s u m o - t r a n s f o r m a n d o e m s í m b o l o d a pop art a a mortalha q u eusaria n o dia d o j u l g a m e n t o . Bordada latinha d es o p a C a m p b e l l , por e x e m p l o -, Bispo criava, n a c o m imagens d e objetos, animais e n o m e s d o s eleitos, solidão d a s u a c e l a , assemblages ( c o l a g e n s c o m o b j e t o s e r a u m a afirmação d a s u a m i s s ã o d e r e c o n s t r u i r o m u n tridimensionais) c o m embalagens de desodorante, de-
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d o p a r a apresentá-lo a o C r i a d o r . C o m e s s a intenção, p r o d u z i u m a i s d e m i l peças. T r a b a l h a v a e x a u s t i v a m e n t e e fazia jejuns rigorosos, pois queria "secar pra virar santo". C h a m a m a t e n ç ã o , aliás, a s réplicas d e o b r a s u s a d a s n a s f i l m a g e n s . Artesãs d e J a p a r a t u b a , cidade o n d e nasceu o artista, e presidiários d e S e r g i p e p a r t i c i p a r a m d a produção d a s peças. D e acordo c o m o sdiretores d e arte Sérgio S i l v e i r a e L a n a B e n i g n o , o g r u p o social c o n f i n a d o seria u m "leitor mais adequado" da obra d e Bispo, capaz d e conferir r e a l i s m o a o trabalho. O s cenários e a i n t e n s i d a d e d a l u z usada n a scenas evocam as i m a g e n s d a Colónia J u l i a n o M o reira captadas n o s a n o s 8 0 pelo cineasta e psicanalista Hugo Denizart, m o r t o e m 2014, para o documentário O prisioneiro da passagem ( 1 9 8 2 ) , n o q u a l o próprio Bispo explica s u aobra. " O louco é u m h o m e m vivo guiado p o r u m espírito m o r t o " , " d o e n t e s m e n t a i s são c o m o b e i j a -flores, nunca p o u s a m , ficam a d o i s m e t r o s d o chão" e "só obedeço a o s a n j o s " são a l g u m a s das frases d e Bispo registradas p o r D e n i z a r t . Diálogos e n t r e o s d o i s são reconstituídos n o f i l m e , c o m o ator O d i l o n Esteves n a pele d o j o v e m psicanalista q u e "descobriu" Bispo e organizou s u a p r i m e i r a exposição - d a q u a l o artista s erecusou a participar. O contraste entre o ambiente e n c a n t a d o d a cela d e Bispo e a pobreza m a t e r i a l das dem a i s dependências d a colónia a b o r d a d e l e v e a situação d o s manicômios a n t e s d o m o v i m e n t o a n t i m a n i c o m i a l e d a r e f o r m a psiquiátrica. C h o q u e s elétricos, agressões e c o n f i n a m e n t o f a z i a m parte d odia a dia dos i n t e r n o s . D a m e s m a m a n e i r a q u e e s c u l p i u b a r c o s q u e f a z i a m referência a s e u p a s s a d o d e m a r i n h e i r o , B i s p o u s o u s e r i n g a s , c a n e c a s e t a l h e r e s d o refeitório e u n i f o r m e s d e i n t e r n o s para recriar s e u cotidiano n ohospital. N atentativa d e
representar o m u n d o a Deus, t o r n o u - s e ele m e s m o u m c r i a d o r . A o d a r n o v o s s e n t i d o s a o s símbolos m a n i c o m i a i s , c o m o pontua Luciana Hidalgo, levou adiante u m a ousada desconstrução d o p o d e r d o hospício. FERNANDA TEIXEIRA RIBEIRO é j o r n a l i s t a e s u b e d i t o r a d e Mente e C é r e b r o . A S S I S T A A O T R A I L E R D O F I L M E N O S I T E : www.mentecerebro.com.br janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
13
V
psicanálise
inconsciente a céu aberto
Complexo de Turner O DEPRESSIVO SE COLOCA E M U M LUGAR TERCEIRO ENTRE A VIDA E O MUNDO, DE MANEIRA
HOMÓLOGA A U M PINTOR
C H R I S T I A N IJsíGO LENZ DUNKER
FORMALISTA
O U M O N O C R O M Á T I C O - O N D E HÁ F O R M A , FALTA C O R
D
epois de atender pacientes dep r e s s i v o s , clínicos e sub-clínicos, crónicos e a g u d o s , narcísicos o u e n l u t a d o s , d e s e n v o l v i u m a espécie d e teoria intuitiva q u e m e ajuda a ver, d e quando e m quando, se a l g u m progresso foi realizado. N o s o f r i m e n t o destas pessoas o m u n d o fica cinza, a vida fica m e i o s e m graça e m e i o s e m g o s t o . M a s há s e m p r e c e r t a a t i t u d e filosófica, q u e o l h a para o m u n d o e para a vida, d e u m l u g a r t e r c e i r o , difícil d e d i s c e r n i r . N o s últimos t e m p o s p a s s e i a l e v a r m e n o s a sério a t e o r i a aristotélica d o s e n t i d o d o s h u m o r e s ( o s líquidos d o c o r p o ) e m a i s e m c o n t a o f a t o d e q u e até p a r a e l e t r a t a v a - s e d e u m a cor, u m a p a t o l o g i a d a bílis negra. E s t e l u g a r t e r c e i r o e n t r e a v i d a e o m u n d o , n o qual o depressivo se col o c a , é homólogo a o l u g a r d o p i n t o r . U m p i n t o r monocromático o u f o r m a l i s t a . O p i n t o r d e p r e s s i v o está o b c e c a d o p o r u m m o d o d e v e r o mundo, s e p a r a n d o d o i s p r o b l e m a s clássicos d a representação visual: a f o r m a e a cor. A l i o n d e a vida t e m f o r m a , o m u n d o não l h e g a r a n t e c o r . E a l i o n d e a v i d a t e m c o r , não s e discerne sua f o r m a n o m u n d o . P o r i s s o m e u s três t i p o s d e p r e s s i v o s não são a d i s t i m i a , o t r a n s t o r n o d e p r e s s i v o maior o u a bipolaridade, m a s o s q u e v i v e m u m a espécie d e dissolução d a s cores, o s q u e se a p a i x o n a m pelo reino das f o r m a s e o s q u e s e e v a d e m para o m u n d o das texturas.
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M i n h a especulação e n c o n t r o u a l g u m reforço empírico d i a n t e d a r e c e n t e exposição d o p i n t o r romântico inglês W i l l i a m T u r n e r ( 1 7 7 5 - 1 8 5 1 ) , no Tate Britain d e Londres. Pintando p o r e n c o m e n d a p a r a a s exposições a n u a i s d a A c a d e m i a e l e pôde n e g o c i a r c o m s e u público a g r a d u a l exclusão da f o r m a retrato c o m a s u b s e q u e n t e introdução d e g r a n d e s v o l u m e s d e c o r , e m representações m a j e s t o s a s e c a t i v a n t e s d o céu, d o m a r , d o s r e f l e x o s d o céu n o m a r , d a s t e m p e s t a d e s , d o sol poente, d a s avalanches d e neve junto c o m seu t e m a depressivo maior: o naufrágio. T e n d o l e v a d o u m a v i d a d e raro reconhecimento, Turner chegou à velhice afetado p o r estados confusionais, p r o v a v e l m e n t e gerados p o r anos d e acúmulo d e c h u m b o , p r e s e n t e n a s t i n t a s q u e u s a v a e m s e u ofício. E s t a é também a o r i g e m d a alusão d e L e w i s C a r o l i , e m Alice no País das Maravilhas, ao Chapeleiro Louco (os que faziam chapéus t i n h a m d e l i d a r c o m o c h u m b o u s a d o n a s a b a s d o s chapéus, e a s s i m t e r m i n a v a m "loucos"). Para d i m i n u i r os efeitos d o c h u m b o , Turner ingeria d o s e s c a v a l a r e s d e cherry t o d o d i a , tornando-se assim, mais provavelment e , alcoólatra. D e v e m o s a c r e s c e n t a r a o p r o b l e m a d o "último T u r n e r " , f o c o d a exposição ( O Último T u r n e r ) , o f a t o d e q u e e l e t i n h a u m t i p o específico d e c a tarata, q u e o fazia perceber c o m m a i o r
dificuldade certos tons de amarelo,q u e realmente se t o r n a m inigualavelmente vivos e impressionantes e m seus derradeiros trabalhos. Turner tinha u m método d e produção b a s e a d o e m sucessivas retomadas de u m a m e s m a tela, legando a o final mais de u m a cent e n a d e t r a b a l h o s e m s e u estúdio. l£so c o l o c o u u m p r o b l e m a p a r a o s críticos: seriam estas obras inacabadas, q u e não c o u b e r a m n o t e m p o d e u m a v i d a , o u então são t r a b a l h o s q u e , d e m o d o visionário, a n t e c i p a - s e a o próprio t e m p o , r a d i c a l i z a n d o a tendência d a o b r a à decomposição e n t r e f o r m a e c o r , t a l c o m o s e verá n a a r t e v i n d o u r a ? O "complexo deTurner" mostra como é possível, a o m e s m o t e m p o , d i s s o l v e r as f o r m a s e a s cores t o r n a n d o a l u z o próprio o b j e t o d o o l h a r . T a l v e z e s s a s e j a a essência d a experiência d e p r e s s i v a : i n a c a b a m e n t o e antecipação, p e r c e p ção d e m a s i a d a m e n t e p e r f e i t a e ilusão. Catarata m e n t a l . Sequeremos entender c o m m a i s precisão a experiência d e pressiva p r e c i s a m o s rever nossa teoria d a formação d o e u , c u j a metáfora é a d e Narciso, introduzindo n o seu interior o p r o b l e m a d a integração e n t r e f o r m a e c o r n a determinação d a i m a g e m . ® CHRISTIAN INGO LENZ DUNKER, psicanalista, professor livre-docente d o Instituto de Psicologia da Universidade de São P a u l o ( U S P ) .
cuide-se! Q u a n d o o déficit de atenção é real UMATIRINHAADULTERADA TRATANDO
SUZANA HERCULANO-HOUZEL
DECALVIN MOSTRA O MENI N O MEDICADO,
H O B B E S L A C O N IÇAM E N T E , S E M Q U E R E R B R I N C A R , ATÉ Q U E
O T I G R E V O L T A A S E R A P E N A S O B I C H O D E PELÚCIA Q U E
A
s t i r i n h a s d o m e n i n o Calv i n e s e u t i g r e d e pelúcia, Haroldo, desenhadas pelo a m e r i c a n o Bill W a t e r s o n , m e a c o m p a n h a r a m p e l a adolescência. Calvin s e m p r e é retratado c o m o u m m e n i n o inteligente, criativo, e s p i r i t u o s o , d e espírito s a u d a v e l m e n t e rebelde, e c o m u m a certa preferência p o r v i a j a r p o r o u t r o s planetas a o u v i r a p r o f e s s o r a falar. M a s a l g u m fã r e s o l v e u " t r a t a r " C a l v i n d e u m a s u p o s t a d o e n ça, e n a t i r i n h a a d u l t e r a d a , fácil d e a c h a r n a i n t e r n e t , o s diálogos m o s t r a m Calvin, m e d i c a d o , t r a t a n d o H o b b e s laconicamente, s e m q u e r e r b r i n c a r , até q u e H o b b e s v o l t a a s e r a p e n a s o t i g r e q u e é. A impressão q u e f i c a é d e u m a t e n t a t i v a d e p r o t e s t o c o n t r a a s u p o s t a "medicalização" d a s crianças e j o v e n s h o j e e m d i a . O p i o r é q u e há até q u e m a c r e d i t e n o diagnóstico: C a l v i n s o f r e r i a d e distúrbio d e déficit d e atenção. E u p r o t e s t o d u p l a m e n t e , c o m o n e u r o c i e n t i s t a e c o m o leit o r a . A t i r i n h a m o d i f i c a d a pressupõe q u e C a l v i n só p o d e r i a s e r c r i a t i v o e brincalhão s e s o f r e s s e d e D D A , e p i o r , a i n d a p e r d e r i a sua criatividade se f o s s e t r a t a d o c o m m e d i c a m e n t o s . Trata-se d e u m desserviço àquelas p e s s o a s q u e s o f r e m r e a l m e n t e d o t r a n s t o r n o e p r e c i s a m d e t r a t a m e n t o , p o i s f i c a a impressão n e g a t i v a d e q u e c o r r i g i r o déficit d e atenção e q u i v a l e a f a z e r u m a lobotomia. Q u e m sofre do transtorno, o u acompanha de p e r t o alguém a f l i g i d o , s a b e q u e a v e r d a d e é b e m d i f e r e n t e . O u , p i o r , s o f r e s e m s a b e r q u e p o d e r i a s e t r a t a r e não s o f r e r m a i s . E n t r e 0 , 5 e 5 % d a população, d e p e n d e n d o d o s critérios diagnósticos u s a d o s , s o f r e d e u m legítimo déficit d e atenção, associado a u m f u n c i o n a m e n t o s u b n o r m a l dos sistemas dopaminérgicos e noradrenérgicos q u e s e r v e m à alocação d o f o c o d e atenção e s u a manutenção s o b r e o a l v o d a v e z , r e s i s t i n d o a distrações a o r e d o r . 16
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Não é s u r p r e s a , p o r t a n t o , q u e e s s a s p e s s o a s s e j a m f a c i l m e n t e distraídas, s u c u m b i n d o a q u a l q u e r n o v i d a d e q u e p a s s a r p e l a f r e n t e a o invés d e s e c o n c e n t r a r n o t r a b a l h o o u d e v e r d e c a s a . P o r c a u s a d e s s a d i f i c u l d a d e d e s u s t e n t a r a atenção, l e r u m t e x t o até o f i m é u m a t a r e f a q u e p o d e d u r a r h o r a s e s e t o r n a r d e s m o t i v a n t e , l e v a n d o a d e s i n t e r e s s e e a u m a aparência d e preguiça, d i f i c u l d a d e d e memória e d e a p r e n d i z a d o . P i o r a i n d a , p a r a a criança q u e s o f r e d e s s e déficit, é a f a l t a d e informação d o s p a i s e p r o f e s s o r e s , q u e r e c l a m a m d e u m c o m p o r t a m e n t o q u e não d e p e n d e d e e s c o l h a d a criança. R e t o r n o n e g a t i v o , n a f o r m a d e comentários d o t i p o "você é preguiçoso" o u "você não está s e esforçando", só f a z c r i a r u m a a u t o i m a g e m a i n d a m a i s n e g a t i v a , d a q u e l a s q u e s e t o r n a m p r o f e c i a s autorrealizáveis. Para q u e m consegue ser a t e n d i d o por u m b o m profissional que reconhece o problema e oferece tratamento, contudo, a v i d a m u d a d a água p a r a o v i n h o . A criança, o j o v e m o u a d u l t o f i n a l m e n t e d e s c o b r e o q u e é a v i d a " n o r m a l " , e m q u e é possível m a n t e r o f o c o d a atenção e m u m m e s m o a s s u n t o p o r m a i s d o q u e p o u c o s s e g u n d o s ; o n d e é possível f a z e r u m a p r o v a e m p o u c a s d e z e n a s d e m i n u t o s , e não h o r a s ; o n d e é possível l e r u m livro e n q u a n t o o u t r a s p e s s o a s c o n v e r s a m n a sala. P o d e r t o m a r remédio, q u a n d o o remédio é necessário, é u m a m a r a v i l h a p a r a q u e m s o f r e d e déficit d e atenção. Q u e m t i v e r dúvida é só p e r g u n t a r a e l e s . Não v e j o o t a l " p r o b l e m a d a medicalização d a infância" de que f a l a m alguns psicanalistas. Vejo, s i m , o problema dos m a u s p r o f i s s i o n a i s , s e j a psicólogos, médicos, p r o f e s s o r e s o u p e d a g o g o s , q u e t a c h a m u m diagnóstico e r r a d o e m p e s s o a s q u e s o f r e m d e o u t r o s p r o b l e m a s , não tratáveis c o m o s m e d i c a m e n t o s q u e t r a z e m t a n t o alívio p a r a q u e m r e a l m e n t e t e m u m déficit d e atenção v e r d a d e i r o . ® S U Z A N A H E R C U L A N O - H O U Z E L , neurocientista, professora da U n i v e r s i d a d e Federal d o Rio d e J a n e i r o ( U F R J ) , a u t o r a d o livro Pílulas de neurociência p a r a u m a v i d a melhor (Sextante, 2009).
Publicar a melhor informação é compartilhar 1 c o n h e c i m e n t o e multiplicar] a cultura. Há 21 anos a Editora Segmento é líder brasileira na produção de conteúdo sobre educação e gestão de pessoas. Marcada pelo pioneirismo e pelo crescimento constante, a Segmento sempre se apoiou em três princípios fundamentais: S ©ÇJ ÍT1 © í l t O e d i t o r e s d e educação
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Imaginação turbinada O UNIVERSO NOS
FANTÁSTICO D O S HERÓIS D A S H I S T O R I A S E M
QUADRINHOS
A J U D A A E N T E N D E R A C A P A C I D A D E D OCÉREBRO D E A P R E E N D E R INFORMAÇÕES E FAZER DISTINÇÕES E N T R E
ELAS
p o r S u s a n a M a r t i n e z - C o n d e e S t e p h e n L. M a c k n i k
Jfjf^|
i P n i v e r s o s inteiros cabem confortavelmente d e n t r o d o crânio. Não a p e n a s u m o u d o i s , m a s infinitos m u n d o s p o d e m ser acomodados nesse osso oco, escuro e m o l h a d o s e m quebrá-lo", d i s s e o e s c r i t o r d e histórias e m q u a d r i n h o s escocês G r a n t M o r r i s o n . D e f a t o . P e r s o n a g e n s d e q u a d r i n h o s v i v e m n u m a espécie d e r e a l i d a d e a m p l i a d a , u m l u g a r o n d e é possível t r a n s c e n d e r n o s s a s c a p a c i d a d e s n a t u r a i s . Q u e m já esteve n u m e v e n t o d e cosplay c e r t a m e n t e e n c o n t r o u pela f r e n t e z u m b i s , p e r s o n a g e n s d e m a n g a e d i v e r s o s vilões e heróis. H á a l g u n s m e s e s , vários d e s s e s a p a i x o n a d o s p o r e s s e m u n d o de fantasia transpiravam sob a m a q u i a g e m n o clima quente d o verão d o A r i z o n a e n q u a n t o c a m i n h a v a m p e l a convenção Phoenix C o m i c o n de 2014. N o s quatro andares dessa imensa e s t r u t u r a , q u e s e e s p a l h a p e l o espaço subterrâneo d e vários quarteirões d a c i d a d e , e s t a v a m demónios c a r r e g a n d o a r c o s , m a r t e l o s medievais e sabres de luz.
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OS AUTORES SUSANA MARTINEZ-CONDE e STEPHEN L MACKNIK são professores de oftalmologia do Centro Médico SUNY Downstate em Brooklyn, em Nova York. Ambos são autores, com Sandra Blakeslee, de Truques d a m e n t e (Zahar, 2011). Publicado originalmente nos Estados Unidos com o título de Sleights of mind, ganhou o prémio Prisma de 2013 de melhor livro do ano. (http://sleightsofmind.com).
N e m s e m p r e , porém, n o s d a m o s c o n t a d e q u e a s histórias d o s super-heróis d i z e m r e s p e i t o a d r a m a s h u m a n o s e m l a r g a escala: o S u p e r - H o m e m v o a para resgatar o planeta d e u m f i m trágico. O H o m e m - A r a n h a e s c a l a edifícios p a r a e s c a p a r
ARTISTA C H I N Ê S Liu Bolin desaparece entre produtos em prateleiras
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d e vilões. E, nós, r e l e s m o r t a i s , t e m o s u m p o d e r d o qual n e m sempre nos d a m o s conta: u m sistema nervoso que oferece, entre tantas outras coisas, muitas maneiras d e participar desse universo fantástico. N o s s o s o l h o s p o d e m c a p t a r e m abundância c o r e s , l u z e s e m o v i m e n t o s , t r a d u z i d o s p e l o cérebro c o m o a l g o inteligível. O s s i s t e m a s p e r c e p t u a l e cognitivo dependem e m grande parte da busca, d a identificação e d o d e s t a q u e d e c o n t r a s t e s - u m princípio também f u n d a m e n t a l p a r a histórias e m quadrinhos, que utilizam c o m o t e m a central a luta do bem contra o mal. O g a n h a d o r d o N o b e l de fisiologia H a l d a n Keffer Hartline, da U n i v e r s i d a d e Rockefeller, identificou essa c a p a c i d a d e d o cérebro n a s células n e r v o s a s d a r e t i n a , q u e r e v e s t e a superfície i n t e r i o r d o s o l h o s h u m a n o s . Ele o b s e r v o u q u e a excitação d e u m neurônio l e v a à inibição d e o u t r o s a o r e d o r c o m o s q u a i s c o m p e t e . O u s e j a : r e s p o s t a n e u r a l m a i s i n t e n s a a estímulos v i s u a i s a n d a d e mãos d a d a s c o m o b l o q u e i o d e i m p u l s o s a n t a g o n i s t a s próximos. H a r t l i n e c h a m o u e s s a a t i v i d a d e d e "inibição l a t e r a l " . O p r o c e s s o d e excitação v e r s u s inibição a m p l i a os contornos de objetos enquanto o s comparara. Cálculos s i m i l a r e s o p e r a m n a p a r t e e x t e r i o r d o s i s t e m a v i s u a l c o m o o b j e t i v o d e alcançar p r a t i c a m e n t e t o d a s a s áreas c e r e b r a i s . A inibição l a t e r a l também p o d e desempenhar u m papel n a f o r m a c o m o comparam o s i d e i a s e a r g u m e n t o s . É provável q u e d i s t i n g u i r o m u n d o ( a u m e n t a n d o a s diferenças e n t r e a s c o i s a s ) s e j a u m a "obrigação n e u r a l " . Não s o m o s c a p a z e s d e perceber v e r m e l h o - e s v e r d e a d o o u amarelo-azulado, p o r e x e m p l o , p o r q u e a s c o r e s c o r r e s p o n d e n t e s são p r o c e s s a d a s c o m o t i p o s o p o s t o s d e informação p e l o s neurónios v i s u a i s . São c o m o óleo e água p a r a a m e n t e . N o salão d e exposição d a P h o e n i x C o m i c o n , u m dos nossos criadores de q u a d r i n h o s favorito, Dennis C a l e r o , a f i r m o u q u e a gestão d e d u a l i d a d e s também é c r u c i a l p a r a histórias d e super-heróis. É c o m u m e n c o n t r a r p r o t a g o n i s t a s c o m p e r s o n a s o p o s t a s : o s leit o r e s g e r a l m e n t e se i d e n t i f i c a m c o m Clark K e n t e Peter Parker e m vez de S u p e r - H o m e m e H o m e m - A r a n h a . E a figura d o vilão t e m o m e s m o p e s o . S e m u m a m e n t e m a l i g n a c o n v i n c e n t e , a s histórias f r a c a s s a m . A oposição e n t r e l u z e t r e v a s dá f o r m a à n a r r a t i v a . A s i m a g e n s a s e g u i r b r i n c a m c o m a i d e i a d e heróis e superpoderes. Desafiam nossos circuitos visuais e cognitivos para classificar figuras c o m o possíveis v e r s u s impossíveis. A a m b i g u i d a d e i n e r e n t e à percepção v i s u a l q u e você está p r e s t e s a c o n h e c e r t o r n a e s s a t a r e f a d i g n a d o H o m e m d e Aço.
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CAMUFLAGEM DE C A M A L E Ã O O a r t i s t a chinês L i u B o l i n (acima), u s a s e u corpo c o m o tela para desaparecer. Elee s u a equipe c h e g a m a passar dias se preparando p a r a u m a sessão d e f o t o s . B o l i n já s e m i s t u r o u c o m g r a n d e s construções históricas, l i v r a r i a s e até c o m u m a e s c a v a d e i r a c o m a m e s m a f a c i l i d a d e d e transformação d a m e t a m o r f o M e g a n M o r s e , d a publicação Teen Titans, q u e pode controlar sua e s t r u t u r a m o l e c u l a r para se esconder e m qualquer ambiente. E enquanto e l e s e e s c o n d e , n o s s o s o l h o s s e esforçam p a r a encontrar o artista. A pintura reduz o contraste entre as extremidades d e seu corpo e o fundo, s u b v e r t e n d o o s princípios d e inibição l a t e r a l que nos a j u d a m a encontrar o sc o n t o r n o s das outras imagens.
A MENINA (QUASE) INVISÍVEL S u e R i c h a r d s , também c o n h e c i d a c o m o a M u l h e r Invisível d o f a m o s o Q u a r t e t o Fantástico, p o d e m a n i p u l a r o n d a s d e l u z p a r a d e s a p a r e c e r . E s s a i m a g e m p r o d u z i d a p e l a fotógrafa L a u r a W i l l i a m s , d e 1 8 a n o s , m o r a d o r a d e C a m b r i d g e , n a I n g l a t e r r a , é fantástica. À p r i m e i r a v i s t a , o cérebro não h e s i t a e m p e r c e b e r a g a r o t a c o m o p a r c i a l m e n t e invisível, e m v e z d e c o n c l u i r q u e , i n d u b i t a v e l m e n t e , o cenário é impossível. Todos t e m o s m o d e l o s mentais d o corpo h u m a n o , por isso p o d e m o s d e d u z i r q u e e l a está s e n t a d a atrás d o e s p e l h o - e não q u e s e j a u m a cabeça s e m c o r p o , a p e n a s c o m o s m e m b r o s . N o e n t a n t o , a capacidade do sistema visual d e vincular a paisagem d of u n d o da i m a g e m c o m o i n t e r i o r d o e s p e l h o ( q u e o b v i a m e n t e r e f l e t e o q u e está n a f r e n t e , e não atrás) é a i n d a m a i s p o d e r o s a d o q u e o s e s q u e m a s c o r p o r a i s d o cérebro. Este t i p o de costura perceptual, que a Gestalt, o u psicologia da f o r m a , d e o r i g e m alemã, c h a m a d e " l e i d a b o a continuação", s u p e r a a s hipóteses mentais sobre a f o r m a do corpo h u m a n o . C o m o resultado, n u m primeiro m o m e n t o i m a g i n a m o s u m a m e n i n a p a r c i a l m e n t e invisível s e n t a d a atrás de u m a m o l d u r a vazia e m vez d e percebermos a paisagem refletida. janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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ilusões
D i s t i n g u i r u m herói d e u m vilão p o d e s e r u m a questão d e p e r s p e c t i v a . N a i m a g e m d o m e s t r e d a arte 3 D Kurt Wenner, exibida n a Universal S t u d i o s d o Japão p a r a c o m e m o r a r s e u 10° aniversário e m 2 0 1 1 , a p e n a s q u e m o b s e r v a d e d e t e r m i n a d o ângulo ( m u i t o p a r e c i d o c o m o s e u p o n t o d e v i s t a e n q u a n t o lê Mente e Cérebro) c o n s e g u e v e r o H o m e m - A r a n h a e n t r e o s prédios d e N o v a Y o r k s e p r e p a r a n d o p a r a d i s p a r a r t e i a s n a d i r e ção d o e q u i l i b r i s t a . D a p e r s p e c t i v a d e q u e m a n d a n a armação d e f i o s é possível e n x e r g a r o super-herói c o m o r e a l m e n t e é: u m a e n o r m e p i n t u r a n o chão. A ilusão, c h a m a d a d e p i n t u r a anamórfica, a p r o v e i t a a m a n e i r a c o m o o sistema visual u s a pistas, c o m o s o m b r e a m e n t o , perspectiva e t a m a n h o r e l a t i v o d o s o b j e t o s , p a r a p r o d u z i r a percepção d a distância, forma e profundidade. 22
SUPERPAI A fotógrafa i t a l i a n a G i u l i a P e x t e m u m a série d e i m a g e n s c h a m a d a Pai, você é meu superherói favorito, q u e c o m b i n a d e s e n h o s , i l u s trações e f o t o g r a f i a s p a r a m o s t r a r a m a n e i r a c o m o ela enxerga o s s u p e r p o d e r e s p a t e r n o s . O s artistas s a b e m que linhas n u m desenho ou n u m a pintura servem como atalhos visuais para o c o n t o r n o d e u m objeto e que o s p e r c e b e m o s p o r m e i o d a inibição l a t e r a l . A l é m d i s s o , neurónios n o s p r i m e i r o s estágios d o p r o c e s s a m e n t o v i s u a l não são c a p a z e s d e d i s t i n g u i r e n t r e u m a f o r m a sólida e u mq u a d r o vazio. C o m o resultado, o s olhos aceitam facilmente desenhos feitos c o m traços, m e s m o q u a n d o são o f e r e r e c i d a s a p e n a s a s b o r d a s . D e f a t o , o esforço e x t r a necessário p a r a i n t e r p r e t a r a i m a g e m p o d e t o r n a r e s s e t i p o d e f i g u r a até m a i s atraente para o sistema visual, fazendo c o m q u e n o s s a atenção s e j a c a p t u r a d a p o r u m l o n g o t e m p o . A q u i , G i u l i a Pex e n g a n a n o s s o s neurónios e s t i m u l a n d o - o s c o m l i n h a s : elas f o r m a m o d e s e n h o d e u m a capa c o m detalhes suficientes para nos fazer enxergar o s t a t u s d e super-herói d e s e u p a i .
PARA SABER MAIS The importance of mixed selectivity in complex cognitive tasks. M . R i g o t t i e o u t r o s e m Nature, v o l . 4 9 7 , págs. 5 8 5 - 5 9 0 , 3 0 d e m a i o de 2013.
SUBINDO PELAS PAREDES A instalação i n t e r a t i v a Bâtiment, d o a r t i s t a L e a n d r o E r l i c h , e x i b i d a n a edição d e 2 0 0 4 d o f e s t i v a l La Nuit Blanche, e m P a r i s , é c o m p o s t a d e u m a d e t a l h a d a f a c h a d a q u e f i c a n o chão. C o m u m g r a n d e e s p e l h o a n g u l a r à f r e n t e , a f a c e d o prédio é r e f l e t i d a n a v e r t i c a l , a s s i m c o m o o s v i s i t a n t e s , q u e p o d e m f a z e r p o s e s , p a r e c e n d o e s t a r p e n d u r a d o s às j a n e l a s c o m o s d e d o s o u escalar paredes a o e s t i l o d o H o m e m - A r a n h a . S i m i l a r a o m u r a l d e W e n n e r , e s s a ilusão t e m a v e r c o m a p e r s p e c t i v a , o q u e p e r m i t e a o s v i s i t a n t e s u m a experiência a s s u s t a d o r a e impossível.
Adaptive neural coding in frontal and parietal córtex. J o h n D u n c a n e E a r l K. M i l l e r e m Principies of Frontal Lobe Function. S e g u n d a edição. E d i t a d o p o r D o n a l d T. S t u s s e R o b e r t T . K n i ght. O x f o r d University Press, 2 0 1 3 . Supergods: what masked vigilantes, miraculous mutants, and a sun god from Smallville can teach us about being human. G r a n t M o r r i s o n . Spiegel & G r a u ( R a n d o m H o u s e ) , 2 0 1 1 . Asphalt renaissance: the pavement art and 3-D illusions of Kurt Wenner. K u r t W e n n e r . S t e r l i n g S i g n a t u r e ( S t e r l i n g P u b l i s h i n g ) , 2 0 1 1 . Bâtiment L e a n d r o E r l i c h . I m a g e m disponível n o s i t e d o a r t i s t a argentino: www.leandroerlich.com.ar Dad, you are my fâvourite superhero. P o r t f o l i o o n - l i n e d e G i u l i a Pex: w w w . b e h a n c e . n e t / g a l l e r y / d a d - y o u - a r e - m y - f a v o u r i t e superhero/9101573
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NO-NOVO
Al V O U EU!
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O INÍCIO D E U M N O V O A N O O F E R E C E OPORTUNIDADES
D E R E V E R M E T A S E TRAÇAR
PERSPECTIVAS. E M B O R A N E M S E M P R E SEJA
FÁCIL
ATINGIR O Q U EPLANEJAMOS, Q U A N D O E N T E N D E M O S C O M O O CÉREBRO E A M E N T E A U M E N T A M O S
NOSSAS CHANCES
F U N C I O N A M , D EOBTER
AO LIDAR C O M DIFICULDADES CAUSADAS A N S I E D A D E E PELA T E N DÊNCIA À
SUCESSO PELA
PROCRASTINAÇÃO
p o r Gláucia L e a l
A AUTORA G L Á U C I A LEAL é jornalista, psicóloga, psicanalista e editora-chefe de M e n t e e Cérebro. janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 2 5
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D
e b o a s intenções o i n f e r n o está c h e i o , d i z o d i t a d o . O início d e c a d a a n o também c o s t u m a s e r r e p l e t o d e p l a n o s b e m - i n t e n c i o n a d o s - c o m o m e ditar, p r a t i c a r exercícios físicos, e m a g r e c e r , c u i d a r m e l h o r d a alimentação, c o n c l u i r a q u e l e c u r s o há t a n t o t e m p o a d i a d o , p a s s a r m a i s t e m p o c o m a família e o s a m i g o s , a p r e n d e r o u t r o i d i o m a , p o u p a r d i n h e i r o . . . E n f i m , u m a g a m a d e b o n s propósitos q u e c e r t a m e n t e f a r i a m diferença s i g n i f i c a t i v a n a q u a l i d a d e d e v i d a d e q u e m o s i n c o r p o r a s s e . Porém, é p r e c i s o e n c a r a r a r e a l i d a d e : c o n c r e t i z a r a l g o , a i n d a q u e e x t r e m a m e n t e benéfico, m a s q u e não f a z p a r t e d a r o t i n a , r e q u e r determinação. A l g u m a s pesquisas realizadas n o s Estados U n i d o s e na Inglaterra m o s t r a m que apenas 1 0 % das pessoas, a p r o x i m a d a m e n t e , c u m p r e m suas resoluções d e a n o - n o v o n o s m e s e s s e g u i n t e s . F e l i z m e n t e , e n t e n d e r c o m o o cérebro e a m e n t e f u n c i o n a m pode aumentar nossas chances de s u c e s s o . A p r o v e i t a n d o q u e t e m o s pela frente 12 m e s e s n o v i n h o s e m f o l h a p a r a c o l o c a r e m prática o s b o n s intentos, talvez o p r i m e i r o desafio s e j a r e c o n h e c e r q u e tropeços são inevitáveis e é f u n d a m e n t a l a p r e n d e r a lidar c o m eles. D o p o n t o d e v i s t a d a dinâmica psíquica, r i g i d e z e autoexigência e x a g e r a d a s são tão n o c i v a s q u a n t o d e s c o m p r o m e t i m e n t o e autoindulgência. A atitude mais madura - q u e contempla a existência d a s d i f i c u l d a d e s • F O C 6 S S O S 6 deixar t o m a r pela Cr6nÇ3.S d O S CfUSUS sensação d e impotência s
nem sequer nos .
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v A u i i i w * ? w w i k V M , fwv«v»i
estar por trás do que denominamos
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estudo
recente desenvolvido o o r oesquisadores da Universidade R u t g e r s , e m N o v a Jersey, n o s
Estados Unidos, d e m o n s t r o u que pessoas q u e acreditavam d o m i n a r as adversidades e ter algum a p o s s i b i l i d a d e d e e s c o l h a , p o r m a i s difícil q u e f o s s e a situação, e r a m m a i s p r o p e n s a s a i n s i s t i r n a realização d e s e u s o b j e t i v o s . O resultado c o r r o b o r a diversos trabalhos seg u n d o o s quais t e m o s maiores chances de seguir e m f r e n t e q u a n d o , a p e s a r d a decepção, m a n t e m o s a l g u m a a u t o n o m i a , o q u e n o s p e r m i t e lidar c o m as dificuldades s e m n o s sentirmos complet a m e n t e t o m a d o s p e l a s frustrações. E s s e r e c u r s o interno, q u e n o s f a z insistir n oq u e desejamos, a p e s a r d a s d i f i c u l d a d e s , é c h a m a d o d e resiliência p e l a p s i c o l o g i a . O t e r m o - e m p r e s t a d o d a física e u s a d o o r i g i n a l m e n t e p a r a s e r e f e r i r à resistência dos diversos materiais - indica a capacidade d e s o b r e v i v e r p s i q u i c a m e n t e às a d v e r s i d a d e s . Não s e t r a t a d e n e g a r a s frustrações o u e v i t a r vivê-las a q u a l q u e r preço, m a s s i m d e p a s s a r p o r e l a s s e m d e i x a r q u e s e t o r n e m o c e n t r o d a existência. "Pessoas m a i s resilientes t e n d e m a lidar m e l h o r c o m o s d e s a f i o s não p o r q u e s e j a m necessariamente m a i s c o m p e t e n t e s d o q u e as d e m a i s , m a s p o r q u e não e n c a r a m o s d e s l i z e s o u e r r o s c o m o determinação d e i m p o s s i b i l i d a d e e, c o n s e q u e n t e m e n t e , d e f r a c a s s o " , a f i r m a o
EXPANDIR HORIZONTES PARA FUGIR DA GELADEIRA O a t o d e a p r e c i a r p a i s a g e n s n a t u r a i s t e m s i d o a s s o c i a d o c o m d i v e r s o s benefícios, c o m o alívio d e d o r , recuperação d o e s t r e s s e e m e l h o r a d o h u m o r . U m e s t u d o p u b l i c a d o e m m a i o d e 2 0 1 4 n a PLoS ONE a c r e s c e n t a a e s s a l i s t a a h a b i l i d a d e d e c o n t r o l a r o s i m p u l s o s de f o r m a m a i s eficaz. Pesquisadores d a Universidade Estadual d e U t a h c h e g a r a m a essa conclusão após u m e x p e r i m e n t o : p e d i r a m a três g r u p o s d e voluntários q u e c o m p l e t a s s e m u m a t a r e f a q u e t e s t a v a a c a p a c i d a d e d e r e s i s t i r a gratificações instantâneas p a r a a d q u i r i r u m a r e c o m p e n s a m e l h o r u m p o u c o m a i s tarde. A n t e s d a atividade e d u r a n t e ela, u m d o s g r u p o s o b s e r v a v a i m a g e n s d e m o n t a n h a s , e n q u a n t o o s o u t r o s v i a m f o t o s d e edifícios o u triângulos. A q u e l e s q u e v i s l u m b r a r a m c e n a s n a t u r a i s t o m a r a m decisões m e n o s i m p u l s i vas d o que o restante. Experimentos d ea c o m p a n h a m e n t o revelaram que olhar a natureza nos ajuda a pensar m a i s n o f u t u r o , s e g u n d o a psicóloga M e r e d i t h S . B e r r y , a g o r a n a U n i v e r s i d a d e d e M o n t a n a , p r i n c i p a l a u t o r a d o e s t u d o . " Q u a n d o o t e m p o é e x p a n d i d o , f i c a m a i s fácil i m a g i n a r o q u e está p o r v i r . E s s e e f e i t o p a r e c e d i m i n u i r n o s s a inclinação d e s u c u m b i r a tentações i m e d i a t a s " , a f i r m a . O s r e s u l t a d o s s i g n i f i c a m q u e , m e s m o q u a n d o e s t a m o s p r e s o s n o t r a b a l h o até t a r d e , a i n d a p o d e m o s c o l h e r a l g u n s benefícios c o g n i t i v o s . V i s u a l i z a r i m a g e n s d e p a i s a g e n s na tela d oc o m p u t a d o r pode contribuir para nos m a n t e r longe d a geladeira. O u simplesm e n t e nos acalmar q u a n d o nos sentimos confusos, incapazes d edar conta daquilo que e s t a m o s s e n t i n d o . (porTori Rodriguez, jornalista científica)
janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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psicólogo P e t e r G o l l w i t z e r , d a U n i v e r s i d a d e d e N o v a Y o r k . E m s u a s p e s q u i s a s s o b r e motivação, e l e d e s e n v o l v e u u m a estratégia q u e favoreçam a realização d e o b j e t i v o s , d e n o m i n a d a "se-então". O u seja: s e acontecer algo q u e m e tire d o m e u c a m i n h o , então faço d e t e r m i n a d a c o i s a . A i d e i a é q u e , p a r t i n d o d e m e t a s realistas, a p e s s o a estabeleça, d e antemão, estratégias r a c i o n a i s q u e atingir m e t a s . M a s , para isso, o p r i m e i r o passo é s a b e r o q u e s e p r e t e n d e alcançar.
RESOLUÇÕES D E A N O - N O V O L e m b r o - m e d e u m ex-paciente q u e m e disse, logo nas primeiras entrevistas: " V i m ao seu consultório p o r q u e q u e r o s e r f e l i z " . N o e n t a n t o , e l e não t i n h a a m e n o r i d e i a d o q u e i s s o s i g n i f i c a v a e m sua vida. Durante anos, nosso trabalhofoi, antes d e mais nada, delinear afetos e n o m e a r desejos para q u e ele pudesse, aos poucos, e n t e n d e r o q u e q u e r i a p a r a s i e , a p a r t i r daí, f a z e r e s c o l h a s . D e f a t o , e m vários níveis, s a b e r o q u e q u e r e m o s f a z t o d a a diferença. A q u e l e s q u e conseguem definir exatamente o que anseiam
c o s t u m a m chegar mais facilmente a seus objet i v o s , a i n d a q u e s e j a necessário f a z e r a l g u m a s correções d e r o t a a o l o n g o d o p e r c u r s o . M a i s e s p e c i f i c a m e n t e e m relação às p r o messas de ano-novo, o problema é que, muitas v e z e s , a s p e s s o a s traçam o b j e t i v o s m u i t o g e r a i s - assim c o m o o h o m e m que simplesmente q u e r i a " s e r f e l i z " . Psicólogos c o g n i t i v o s a r g u m e n t a m que colocar n o papel nossas metas, d e preferência c o m d e t a l h e s , p o d e s e r m u i t o útil. A técnica c o n s i s t e e m e s p e c i f i c a r a s possíveis d i f i c u l d a d e s q u e a p e s s o a poderá e n f r e n t a r até c h e g a r a s e u o b j e t i v o e a s estratégias q u e p o d e m ser usadas e m cada caso. C o m isso, as dificuld a d e s são a n t e c i p a d a s j u n t o c o m a s soluções, o que, para m u i t a s pessoas, ajuda a d i m i n u i r o nível d e a n s i e d a d e . " I d e n t i f i c a r c o m p o r t a m e n t o s específicos, d e c i d i r q u a n d o realizá-los e, d e p o i s , i n s i s t i r e m r e p e t i - l o s c o s t u m a s e r b a s t a n t e e f i c a z " , d i z a psicóloga e p e s q u i s a d o r a P h i l l i p p a Lally, d a U n i v e r s i d a d e College L o n d o n . U m e s t u d o c o o r d e n a d o p o r ela m o s t r o u q u e f o r m a r u m n o v o hábito p o d e l e v a r
PELO MENOS QUE SEJA DIVERTIDO! Coração a c e l e r a d o , respiração d e s c o m p a s s a d a , p e n s a m e n t o s a m i l p o r h o r a - angústia, m e d o e tensão. Q u e n o m e t e m e s s a sensação? P o r m a i s e s t r a n h o q u e p o s s a p a r e c e r , n e m s e m p r e a s p e s s o a s s e dão c o n t a d o q u e a s a f l i g e , e m e s p e c i a l n o s m o m e n t o s d e m a i o r a n s i e d a d e , q u a n d o n o s s e n t i m o s a v a l i a d o s e t e m e m o s n o s e x p o r a o o l h a r a l h e i o - a i n d a q u e u m a p a r t e d e nós q u e i ra f a z e r i s s o . E s t u d o s r e a l i z a d o s n a U n i v e r s i d a d e H a r v a r d r e v e l a m q u e , a o i n t e r p r e t a r e m e s s e s s e n t i m e n t o s c o m o excitação e m v e z d e a n s i e d a d e , a s p e s s o a s t e n d e m a d e m o n s t r a r m a i s c o m petência e m três t i p o s d e situação e s t r e s s a n t e ( p r o p o s t o s p e l o s p e s q u i s a d o r e s ) : c a n t a r n a f r e n t e d e e s t r a n h o s , f a l a r e m público e r e s o l v e r p r o b l e m a s difíceis d e matemática. N o s e x p e r i m e n t o s , a l g u n s p a r t i c i p a n t e s f o r a m instruídos a t e n t a r s e a c a l m a r o u s e a n i m a r a n t e s d a t a r e f a ; o u t r o s não r e c e b e r a m n e n h u m a d e s s a s instruções. A q u e l e s q u e s e p e r c e b i a m a p e n a s e m p o l g a d o s não só r e l a t a r a m m a i o r animação c o m o também t i v e r a m m e l h o r d e s e m p e n h o que o restante e m todas astarefas: canto a p r o x i m a d a m e n t e 3 0 % mais p r e c i s o ; pontuação c e r c a d e 2 0 % m a i o r e m u m t e s t e q u e a v a l i a v a d i v e r s a s dimensões d a c a p a c i d a d e d e f a l a r e m público; e r e s u l t a d o s , e m média, 1 5 % m e l h o r e s e m u m exercício c r o n o m e t r a d o d e matemática, s e g u n d o a r t i g o p u b l i c a d o e m j u n h o n a Journal of Experimental Psychology. O u t r o e s t u d o d e H a r v a r d , p u b l i c a d o n a Emotion e m a g o s t o d e 2 0 1 4 , também a p o n t a e f e i t o s p o s i t i v o s : p e s s o a s c o m a n s i e d a d e s o c i a l q u e e n c a r a r a m o e s t r e s s e c o m o útil s e saíram m e l h o r d u r a n t e atuações e m público. O s a u t o r e s d o e s t u d o o b s e r v a m q u e a m a i o r i a d e nós t e n t a s e a c a l m a r d i a n t e d e situações e m q u e t e m o s m u i t o a perder, m a s n e m s e m p r e c o n s e g u i m o s , e p a s s a m o s u m b o m t e m p o r u m i n a n d o sobre o que poderia dar errado. E m vez d e disso, é mais eficiente nos concentrarm o s n o s p o t e n c i a i s p o n t o s a l t o s d o cenário - p o r e x e m p l o , f o c a r d i v e r t i r o s c o l e g a s d u r a n t e u m a apresentação o u c o m o r e s o l v e r a l g u n s p r o b l e m a s e m u m t e s t e . " S e n t i r - s e c o n f i a n t e d e q u e a s c o i s a s irão b e m reforça a segurança e a e n e r g i a , além d e a u m e n t a r a s p o s s i b i l i d a d e s d e c o n c r e t i z a r o s r e s u l t a d o s p o s i t i v o s q u e i m a g i n a m o s " , d i z a p r o f e s s o r a d e administração d e e m p r e s a s A l i s o n M a d e i r a B r o o k s , d a E s c o l a d e Negócios H a r v a r d , a u t o r a d o e s t u d o . (T. R.)
janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 2 9
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capa d e 1 8 até 2 5 4 d i a s , d e p e n d e n d o d o c o m p r o m e t i m e n t o d a p e s s o a , d o g r a u d e motivação, d a s c o n dições e x t e r n a s e d a d i f i c u l d a d e d e incorporação d o n o v o c o m p o r t a m e n t o . "Claro que e m algum m o m e n t o v a m o s n o s sentir t e n t a d o s a desistir, m a s , s e t i v e r m o s p l a n o s p r e v i a m e n t e traçados, t e r e m o s m e n o s oportunidade desabotar as boas intenções", o b s e r v a . S e g u n d o a p e s q u i s a d o r a , s e a p r o p o s t a é t e r u m a d i e t a m a i s saudável, c o m m a i s f r u t a s e v e g e t a i s n o cardápio, p o r e x e m p l o , é útil d e f i n i r e m q u e m o m e n t o d o d i a v a m o s c o m e r a s porções: t a l v e z u m a e m c a d a refeição p r i n c i p a l , o u t r a n o l a n c h e d a t a r d e , a última após o j a n t a r . Também é p r e c i s o d e f i n i r e m q u e o c a sião o a l i m e n t o será c o m p r a d o , p r e p a r a d o e até t r a n s p o r t a d o c a s o a s refeições não s e j a m f e i t a s e m casa. Detalhes, c o m certeza - m a s , q u a n d o se t r a t a d e cuidar d e si m e s m o , eles p o d e m fazer t o d a a diferença.
M E N O S FUMAÇA, M A I S E C O N O M I A U m d o s g r a n d e s i n i m i g o s d a realização d e o b j e t i v o s está n o p e n s a m e n t o mágico, u m a f o r m a p r i m i t i v a d e raciocínio: s e g u n d o e s s a lógica, a l g o q u e f a z e m o s , e l u c u b r a m o s o u apenas q u e r e m o s t e m a capacidade d e influir no m u n d o concreto, c o m o q u e por encanto, a i n d a q u e não e x i s t a n e n h u m a relação e f e t i v a entre o q u e t o m a m o s p o r causa e p o r efeito. O psiquiatra Derek Bolton definiu esse funcion a m e n t o c o m o " a expressão d e fenómenos reais p o rcausas irreais". "Embora seja Embora essa maneira d e p e n s a r s e j a típica d a infântentadora a cia, m u i t o s c u l t i v a m n a v i d a possibilidade de adulta a ideia equivocada d e 'escolher' entre a q u e a l g o e x t e r n o n o s trará a aparente profusão de realização d e u m propósito, s e m que t e n h a m o s de fazer opções que o mundo a l g u m a c o i s a específica p a r a atual nos oferece, s u a concretização - o q u e o problema é que a nos a c o m o d a e afasta d a realização d o o b j e t i v o . maioria delas leva
a lugares distantes da raiz dos nossos conflitos e aflições, impedindo que os enfrentemos" (Zygmunt Bauman) 30
O fato é que, na contramão d a s tão a l m e j a d a s s o l u ções p r o n t a s , e m p e n h a r - s e e m realizar o q u ese quer exige c o m p r o m e t i m e n t o e esforço. M a s , s e g u i n d o a lógica d o i m e d i a t i s m o , c u l t i v a m o s a ilusão d e q u e t u d o
d e v e s e r fácil, múltiplo, s e m p e r d a s . A s s i m , f o c a r u m único o b j e t i v o q u e e x i j a esforço c o s t u m a ser c o n s i d e r a d o e n t e d i a n t e , exageradamente s o f r i d o . É c o m o s e d i a n t e d a f a l t a d e espaço psíquico p a r a s u p o r t a r a e s p e r a d a r e c o m p e n s a buscássemos gratificações m e n o r e s , a i n d a q u e paliativas. " E m b o r a seja tentadora a possibilid a d e d e ' e s c o l h e r ' e n t r e a a p a r e n t e profusão d e opções q u e o m u n d o a t u a l n o s o f e r e c e , o p r o b l e m a é q u e a m a i o r i a delas leva a lugares d i s t a n t e s d a r a i z d o s n o s s o s c o n f l i t o s e aflições, impedindo que os enfrentemos", afirmou o sociólogo Z y g m u n t B a u m a n , e m e n t r e v i s t a a M e n t e e Cérebro.
" F e l i z m e n t e m u i t o s e s t u d o s já c o m p r o v a m que podemos aprimorar o autocontrole c o m a prática", d i z o d o u t o r e m p s i c o l o g i a M a r k Muraven, professor da Universidade d o Estado de N o v a York, e m Albany. Ele c o m p a r a o proc e s s o p a r a a u m e n t a r a força d e v o n t a d e a o d o fortalecimento da musculatura. E mu m estudo r e a l i z a d o há p o u c o s m e s e s , o p e s q u i s a d o r o b servou queos fumantes quepermaneciam e m abstinência p o r m a i s t e m p o e r a m o s q u e t a m bém s e m o s t r a v a m c a p a z e s d e e x e r c e r domínio e m o u t r a s áreas, c o m o c o r t a r a s o b r e m e s a . M a s é i m p o r t a n t e ficar a t e n t o aos exageros q u e m i n a m a força d e v o n t a d e . D e c i d i r f a z e r várias mudanças a o m e s m o t e m p o , e m g e r a l , l e v a a o fracasso e m t o d a s elas. " A p r e n d e m o s c o m nossos experimentos que é m e l h o r se concentrar n o o b j e t i v o principal e, s e se c o n t i n u a r a falhar, convém r e v e r o s o b j e t i v o s e r e d i r e c i o n a r o s esforços p a r a a l g o e m q u e p o s s a m o s p r a t i c a r o autocontrole", salienta Muraven. Por exemplo, s e u m a p e s s o a não c o n s e g u e d e i x a r t o t a l m e n t e o c i g a r r o , p o d e p e l o m e n o s e s t i p u l a r horários d o d i a e m q u e não v a i f u m a r e m hipótese a l g u m a . A d i f i c u l d a d e p a r a a realização d e u m a m e t a , porém, p o d e não sertão óbvia e g u i a d a a p e n a s p e l a v o n t a d e i m e d i a t a . P r o c e s s o s e crenças, d o s quais n e m sequer nos d a m o s conta, p o d e m est a r portrás d o q u e d e n o m i n a m o s " i n c a p a c i d a des". Nesses casos, a ajuda d e u m psicanalista c o s t u m a s e r e s s e n c i a l . D u r a n t e a análise, vêm à t o n a questões l a t e n t e s , q u e s u b j a z e m a o q u e p a r e c e m a i s i m e d i a t o e acessível à c o m p r e e n são. E m e s m o a d i f i c u l d a d e e m r e a l i z a r a q u i l o q u e a p e s s o a s e propôs p o d e g a n h a r s e n t i d o s q u e a j u d a m a e n t e n d e r a dinâmica psíquica. " S e você s e t o r n a i m p a c i e n t e e i r r i t a d o
TOMAR DECISÕES FAZ BEM E m comparação a n o s s o s a n t e p a s s a d o s , h o j e e m d i a f a z e m o s e m períodos m a i s c u r t o s m u i t o m a i s c o i s a s - c o m o viajar, m a n d a r m e n s a g e n s e p r o d u z i r o u a d q u i r i r o b j e t o s . " O p r o b l e m a não é o q u e f a z e m o s , m a s é quão e f e t i v a s são n o s s a s ações", o b s e r v a B a u m a n . " E s t r e s s e e depressão d e c o r r e m d a experiência g e n e r a l i z a d a d e i n f e l i c i d a d e e desesperança, o q u e n o s r e l e m b r a d a c o m p r o v a d a ( o u p e l o m e n o s s u s p e i t a ) ineficácia d e n o s s a s ações. A m a i o r i a d e nós s e s e n t e i g n o r a n t e o u i m p o t e n t e a r e s p e i t o d o q u e o f u t u r o r e s e r v a e , m e s m o s e soubéssemos q u e u m a catástrofe s e a p r o x i m a , poderíamos f a z e r m u i t o p o u c o o u nada para evitar sua chegada." V o l t a n d o p a r a a s p e s q u i s a s q u e m o s t r a m o q u a n t o s e s e n t i r c a p a z d e t o m a r decisões e m relação à própria v i d a é i m p o r t a n t e , a p o s s i b i l i d a d e d e e s c o l h e r c o m o u s a r o próprio t e m p o pode ser f u n d a m e n t a l q u a n d o se trata d e atingir objetivos. Pesquisadores ingleses d o Cent r o I n t e r n a c i o n a l d e Saúde e S o c i e d a d e d e s c o b r i r a m q u e a diferença m a i s m a r c a n t e e n t r e a s p e s s o a s m u i t o e a s p o u c o e s t r e s s a d a s não está n o s f a t o r e s genéticos n e m n a e s t r u t u r a psíquica, m a s n o q u a n t o o indivíduo s e s e n t e autónomo e d o n o d o próprio d e s t i n o . D u r a n t e vários a n o s , o s c i e n t i s t a s a n a l i s a r a m a saúde e a s condições d e t r a b a l h o e d e v i d a d e 1 0 m i l funcionários públicos d e m e i a - i d a d e . C u r i o s a m e n t e , c o n s t a t a r a m q u e p r o f i s s i o n a i s a t a r e f a d a s o u m e s m o c o m c a r g a e x c e s s i v a d e t r a b a l h o são m a i s r e l a x a d o s q u e funcionários s u b a l t e r n o s c o m a obrigação d e c u m p r i r t a r e f a s q u e l h e s são i m p o s t a s , d e o b e d e c e r a p r a z o s e ritmos detrabalho. P s i c a n a l i s t a s e psicólogos a c r e d i t a m q u e , a i n d a q u e n a v i d a p r o f i s s i o n a l e v e n t u a l m e n t e a s p o s s i b i l i d a d e s d e e x e r c e r a c r i a t i v i d a d e s e j a m r e s t r i t a s , é i m p o r t a n t e q u e e x i s t a m "válv u l a s d e e s c a p e " - espaços o n d e s e j a possível m a n t e r c o m p r o m i s s o s c o n s i g o m e s m o , p o r e s c o l h a própria. N e s s e s e n t i d o , m a n t e r a p r o p o s t a d e d e d i c a r - s e a u m p r o j e t o p e s s o a l , u m h o b b y o u u m t r a b a l h o voluntário q u e b e n e f i c i e o u t r a s p e s s o a s p o d e s e r m u i t o saudável t a n t o para o c o r p o q u a n t o para a m e n t e .
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NA PRÁTICA, ALGUMAS ATITUDES PODEM SER ÚTEIS T e r e m m e n t e que as tarefas não se esgotam e m si. Ainda que sejam difíceis, oferecem a oportunidade do aprendizado
Erre, mas erre diferente; permita-se examinar suas ações para detectar encontrar o que pode ser feito de f o r m a diferente Entenda a persistência como u m a escolha, e não como u m traço de personalidade com o qual só alguns sortudos são agraciados
Não se torture; assumir responsabilidade é importante, mas culpar a si m e s m o e se sentir com pouco valor pode impedir a descoberta do que mudar da próxima vez
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Retrocessos são inevitáveis, fazem parte de qualquer processo; não significam a comprovação da inabilidade
Ainda que já tenha tentado e não tenha conseguido chegar a u m objetivo, refaça seu compromisso, encare a chance de tentar mais u m a vez como algo positivo
Você não precisa dar conta de tudo sozinho; procure ajuda de u m profissional experiente ( u m treinador, se a ideia for correr, por exemplo) ou m e s m o de u m psicanalista ou psicólogo
Use a frustração a seu favor; encare essa sensação como u m sinal saudável de preocupação e m alcançar os objetivos
q u a n d o t e n t a m o d i f i c a r s e u j e i t o d e agir, t e m poucas chances d eter sucesso. M a s , se encar a a situação c o m c a l m a e d e m a n e i r a m a i s flexível, é provável q u e t e n h a m a i o r a b e r t u r a para descobrir o s c a m i n h o s que c o n d u z e m a o n d e q u e r c h e g a r " , a f i r m a o psicólogo B. J. Fogg, pesquisador d a Universidade Stanford. E l e a c r e d i t a q u e f a z e r mudanças não d e v e s e r a s s o c i a d o a a l g o p e n o s o , c o m caráter p u n i t i v o . P r a t i c a r exercícios, p o r e x e m p l o , p o r m a i s q u e s e j a desconfortável p a r a a l g u n s , p r e c i s a t e r c o m p o n e n t e s d e prazer. P o r isso, vale ser m e t i c u l o s o na h o r a de p r o c u r a r a atividade que seja m a i s a t r a e n t e , t a l v e z até lúdica, c o m o práticas c i r c e n s e s , dança o u a l g u m t i p o d e l u t a . Da m e s m a maneira, a proposta de econom i z a r d i n h e i r o não p r e c i s a e s t a r v i n c u l a d a à privação - p e l o contrário. A o d e s e n v o l v e r m o s a p o s s i b i l i d a d e d e não c o m p r a r p o r m e r o impulso, p o r exemplo, podemos direcionar recursos para algo que realmente desejamos, a i n d a q u e d e f o r m a não i m e d i a t a . S e p e r c e b e r m o s q u a l a f a l t a r e a l q u e n o s i n s t i g a tão f o r t e m e n t e a c o n s u m i r ( e m geral, objetos d o s q u a i s não p r e c i s a m o s r e a l m e n t e ) , ficará a i n d a m a i s fácil f a z e r e s c o l h a s m a i s autónom a s . Além d i s s o , há s e m p r e a p o s s i b i l i d a d e de e n c o n t r a r f o r m a s criativas d e lidar c o m situações, c o m o e x p e r i m e n t a r n o v a s r e c e i t a s que t r a n s f o r m a m o ato d e cozinhar e m algo mais atrativo e m vez d ecomer fora.
O TEMPO C O M O ALIADO O q u e t o r n a a l g u m a s t a r e f a s m a i s difíceis d e completar d o que outras? A verdade é que o t e m p o e f e t i v o atribuído a d e t e r m i n a d a a t i v i dade importa m e n o s d oque a forma c o m o a m e n t e p e r c e b e o l i m i t e p a r a s u a conclusão. Q u a n d o u m prazo parece fazer parte d o presente, por exemplo, da semana e m q u e e s t a m o s , s o m o s m a i s propensos a iniciar mais rapidamente a tarefa. E m u m experim e n t o recente, pesquisadores pediram a 100 e s t u d a n t e s d e graduação q u e r e a l i z a s s e m , n o prazo d e cinco dias, u m a tarefa que envolvia c o l e t a d e informações. P a r a a l g u n s voluntár i o s , o t r a b a l h o hipotético começaria e m 2 4 o u 2 5 d e a b r i l ( e s e r i a e n t r e g u e até o fim d o mês), e n q u a n t o p a r a o u t r o s t e r i a início e m 26 o u 2 7 (devendo ficar p r o n t o , p o r t a n t o , n o início d e m a i o ) . E m b o r a o s g r u p o s t i v e s s e m o
m e s m o prazo para a tarefa, o s alunos c o m a d a t a final d e e n t r e g a n o início d e m a i o e s t a v a m m e n o s d i s p o s t o s a começar i m e d i a t a m e n t e , segundo artigo sobre o experimento publicado n o Journal of Consumer Research. O u t r o estudo c o m2 9 5agricultores n a índia a p o n t a r e s u l t a d o s i m i l a r . O s t r a b a lhadores a p r e n d e r a m n u m a palestra sobre f i n a n ç a s q u e p o d e r i a m g a n h a r benefícios monetários s e a b r i s s e m u m a c o n t a bancária e g u a r d a s s e m certa quantia d u r a n t e seis m e s e s . O p r a z o final d e u m g r u p o s e r i a d e z e m b r o ; o d o o u t r o , j a n e i r o . O s voluntários do primeiro f o r a m mais propensos a abrir a conta imediatamente e a cumprir a meta d e poupança p e l o período e s t i p u l a d o . O s r e s u l t a d o s i l u s t r a m c o m o o cérebro divide o t e m p o e m categorias distintas, p o r e x e m p l o , c o m o l i m i t e n o final d e u m mês o u o início d e u m n o v o a n o . O u s e j a , p e n s a r n o s prazos d ef o r m a diferente pode favorecer a motivação p a r a i n i c i a r u m a t a r e f a q u e t e m s i d o a d i a d a . É possível, p o r e x e m p l o , c o n s i d e r a r q u e a p e s s o a t e m a p e n a s três s e m a n a s p a r a e n t r e g a r o t r a b a l h o c o m a d a t a final p a r a o mês s e g u i n t e . O u t r o j e i t o d e " e n g a n a r " o cé-
r e b r o é c r i a r u m calendário q u e não c o n s i d e r e os meses, apenas o s dias corridos. Alguns n e u r o c i e n t i s t a s s u g e r e m também d i v i d i r u m a tarefa e m passos graduais, cada u m a c o m seus próprios p r a z o s - o q u e soará m a i s i m e d i a t o . P o d e m o s pensar que odesafio de u m estudante s e j a e n t r e g a r u m a m o n o g r a f i a até j u n h o . A c a d a mês e l e terá d e t e r e t a p a s c u m p r i d a s , e v i t a n d o a s s i m a procrastinação e o a t r a s o . Trabalhoso cumprir objetivos d e m o d o geral? Alguns mais, o u t r o s m e n o s . Certam e n t e é u m a tarefa que exige c o m p r o m i s s o c o m o q u e d e s e j a m o s , atenção a o s próprios c o m p o r t a m e n t o s e paciência c o m o s d e s l i z e s . A parte boa é que pode ser m u i t o r e c o m p e n s a d o r p e r c e b e r , n a prática, q u e , p o r m a i s q u e h a j a g e n t e e m p e n h a d a e m a j u d a r , há c e r t o s c u i d a d o s q u e s ó a própria p e s s o a p o d e t e r consigo. E t o m a r para si essa responsabilidad e é indício d e a m a d u r e c i m e n t o e m o c i o n a l . T a l v e z aí psicanálise e ciência s e e n c o n t r e m c o m a poesia e seja m e s m o c o m o escreveu Carlos D r u m m o n d d eAndrade: "Para ganhar u m a n o n o v o , q u e mereça e s t e n o m e , você, m e u c a r o , t e m d e fazê-lo n o v o ; e u s e i q u e não é fácil, m a s t e n t e , e x p e r i m e n t e , c o n s c i e n t e " . ®
DETALHES FAZEM A D I F E R E N Ç A : se a proposta é ter uma dieta saudável, com mais frutas e vegetais no cardápio, é útil definir em que momento do dia vamos comer as porções, em que ocasião o alimento será comprado e preparado
PARA SABER MAIS A dual operator view of habitual behavior reflecting cortical and striatal dynamics. Kyle S. S m i t h e A n n M . G r a y b i e l , e m Neuron, v o l . 7 9 , rf 2 , págs. 3 6 1 - 3 7 4 , 2 4 d e j u l h o de 2013.
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B O N S HÁBITOS, M A U S HÁBITOS CIENTISTAS IDENTIFICAM
CIRCUITOS CEREBRAIS Q U EPARTICIPAM
AQUISIÇÃO E MANUTENÇÃO T A N T O Q U A N T O
D E FORMAS
ENTENDER
C O M O
D EC O M P O R T A M E N T O S
Q U EN O S FAZEM B E M
AUTOMÁTICAS D E A G I R Q U ET E R M I N A M ESSES PROCESSOS F U N C I O N A M PODE AJUDAR A FAZER BOAS
D A
N O S
N O NÍVEL
PREJUDICANDO.
NEUROLÓGICO
ESCOLHAS
p o r A n nM . G r a y b i e l e K y l e S. S m i t h
D
OS
AUTORES
ANN M. GRAYBIEL é professora e pesquisadora do Instituto para Pesquisa do Cérebro McCovern do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). KYLE S. SMITH é professorassistente de ciências da psicologia e do cérebro no Dartmouth College. 34
e q u e l a d o d a c a m a você s e l e v a n t o u h o j e ? E s c o v o u o s d e n t e s ? Q u e a l i m e n t o s e s c o l h e u n o café d a manhã? Q u a l c a m i n h o p e r c o r r e u a o s a i r d e c a s a ? Se parar para pensar e m t u d o o q u e c o s t u m a fazer t o d o s o s d i a s , t a l v e z s e s u r p r e e n d a c o m a q u a n t i d a d e d e hábit o s q u e mantém. M u i t o s d e s s e s c o m p o r t a m e n t o s , c o m o d i r i g i r p o r u m t r a j e t o c o n h e c i d o , f u n c i o n a m n o " p i l o t o automático" p a r a q u e o cérebro não s e s o b r e c a r r e g u e c o n c e n t r a n d o - s e e m c a d a u m d o s inúmeros p e q u e n o s a j u s t e s a o v o l a n t e o u d e t a l h e s d a p a i s a g e m . A l g u m a s r o t i n a s são b e m - v i n d a s , f a z e m m u i t o b e m à saúde - é o c a s o d o s exercícios físicos, d a m e d i tação e d o u s o f r e q u e n t e d o fio d e n t a l . Já fisgar r e g u l a r m e n t e uma guloseima do pote de doces m e r a m e n t e porque estamos h a b i t u a d o s a i s s o (e m u i t a s v e z e s n e m s e q u e r n o s a t e m o s a o sabor d o a l i m e n t o ) p o d e ser bastante prejudicial. O p r o b l e m a são a s a t i t u d e s q u e v a g u e i a m p e l o território d o s e x c e s s o s , d a s
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SE V O C Ê QUER CORRER pela manhã, na noite anterior talvez deva colocar os ténis onde possa vêlos ao acordar: essa pista visual imita a sugestão sonora utilizada para treinar ratos e pode ser especialmente eficaz se houver uma recompensa após a corrida
compulsões e d a s dependências - e p o d e m até m e s m o ameaçar a v i d a . E m b o r a o s hábitos o c u p e m b o a p a r t e d o n o s s o c o t i d i a n o , c i e n t i s t a s têm d i f i c u l d a d e e m i d e n t i f i c a r c o m o o cérebro c o n v e r t e u m c o m p o r t a m e n t o n o v o e m r o t i n a . N o s últimos t e m p o s , porém, a l g u m a s d e s c o b e r t a s p e r m i t i r a m que neurocientistas decifrassem mecanismos neurais subjacentes a rituais cotidianos. Talvez o a c h a d o m a i s i m p o r t a n t e s e j a a definição d e n o s s o s c i r c u i t o s d e hábito - regiões e conexões c e r e b r a i s responsáveis p e l a criação e m a n u t e n ção d e r o t i n a s . N a prática, e s s a s informações são f u n d a m e n t a i s p a r a d e f i n i r c o m o n o s s o cérebro constrói b o n s háInicialmente b i t o s e p o r q u e é tão difícil evitar c o m p o r t a m e n t o s artomamos a decisão de raigados, m e s m o sabendo agir de determinada q u e não n o s f a z e m b e m . A maneira, mas, quando pesquisa sugere que, a o n o s se instala um padrão propormos deliberadament e a c o n t r o l a r o s hábitos, repetitivo guiado a possibilidade d e atingirpela compulsão, m o s esse objetivo é m u i t o deixa de haver a g r a n d e . O u s e j a : t a l v e z não s e j a m o s tão reféns d e n o s escolha deliberada 36
s o s c o s t u m e s q u a n t o às v e z e s i m a g i n a m o s . D e s s a p e r s p e c t i v a s u r g e u m a constatação i m p o r t a n t e d o p o n t o d e v i s t a neurocientífico: m e s m o q u a n d o parece q u e estamos agindo a u t o m a t i c a m e n t e , p a r t e d o cérebro m o n i t o r a nosso comportamento.
COMIDA, JOGO E FOGO Hábitos p a r e c e m s e d e s t a c a r c o m o ações b e m definidas, m a s , n e u r o l o g i c a m e n t e , se classificam a o l o n g o d e u m continuum d o c o m p o r t a m e n t o . N u m a d a s e x t r e m i d a d e s d e s s a " l i n h a " está aquilo q u e pode serexecutado quase q u e aut o m a t i c a m e n t e , l i b e r a n d o espaço n o cérebro para atividades diversas - escovar o s dentes s e e n q u a d r a aí. D o o u t r o l a d o estão o s q u e p o d e m e x i g i r m u i t o t e m p o e e n e r g i a - c o m o a edição d e s t e t e x t o q u e você lê a g o r a o u , a i n d a m a i s , f a l a r e m público c a s o a p e s s o a não e s t e j a a c o s t u m a d a a i s s o . O s hábitos s u r g e m n a t u r a l m e n t e a o e x p l o r a r m o s a m b i e n t e s físicos e s o c i a i s e e n t r a r m o s e m c o n t a t o c o m o q u e s e n t i m o s . Experimentamos c o m p o r t a m e n t o s e m contextos específicos, d e s c o b r i m o s q u a i s p a r e c e m s a t i s f a tórios e não m u i t o d i s p e n d i o s o s e , d e p o i s , n o s c o m p r o m e t e m o s c o m eles, f o r m a n d o rotinas.
P o r e x e m p l o , s e u m a p e s s o a começou a r o e r a s unhas e m m o m e n t o s d e ansiedade e isso l h e t r o u x e u m c o n f o r t o i m e d i a t o , é b a s t a n t e provável que incorpore esse c o m p o r t a m e n t o . Iniciamos esse processo quando muito j o v e n s , e, e m c e r t o s casos, ele a p r e s e n t a u m a c o n t r a p a r t i d a , q u e p o d e a g i r c o n t r a nós. Q u a n t o m a i s r o t i n e i r o u m c o m p o r t a m e n t o , m e n o s ficam o s c o n s c i e n t e s d e l e . Daí s u r g e m p e r g u n t a s : d e s l i g u e i o fogão a n t e s d e s a i r d e c a s a ? F e c h e i a p o r t a c o m c h a v e ? E s s a p e r d a d e vigilância p o d e não só i n t e r f e r i r n o f u n c i o n a m e n t o diário c o m o p e r m i t i r a criação d e hábitos i n d e s e j a d o s . Não raro, pessoas q u e e n g o r d a m alguns quilos d e r e p e n t e p e r c e b e m q u e estão c o m e n d o c a d a v e z mais, s e m se dar conta disso. E s s a d i f i c u l d a d e e m v e r i f i c a r ações c o t i d i a n a s também s i g n i f i c a q u e hábitos p o d e m s e t o r n a r s e m e l h a n t e s a compulsões. É o c a s o de jogos pela internet, postagens constantes ( e e m g e r a l desnecessárias) d e m e n s a g e n s e f o t o s - e , c l a r o , u s o d e álcool e d e d r o g a s . U m padrão m a r c a d o p e l a repetição e p e l o e x c e s s o de foco p o d e a s s u m i r parte d o que era escolha deliberada. Neurocientistas ainda debatem se compulsões são c o m o hábitos n o r m a i s , a p e n a s m a i s i n t e n s o s , e m b o r a c e r t a m e n t e p o s s a m ser consideradas c o m o exemplos extremos, n a p o n t a o p o s t a d o continuum. E m o s t r a m q u e c e r t a s condições neuropsiquiátricas - c o m o o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), e m q u e p e n s a m e n t o s o u ações i n v a s i v o s s e t o r n a m f r e q u e n t e s , f o r m a s d e depressão n a s q u a i s p e n s a m e n t o s negativos aparecem e m ciclo contínuo e f o r m a s r a d i c a i s d e hábito - p o d e m estar relacionadas a a u t i s m o ea esquizofrenia. E m b o r a hábitos p o s s a m s e r c l a s s i f i c a d o s e m diferentes categorias d o espectro d e c o m p o r t a m e n t o , c o m p a r t i l h a m c e r t a s características f u n d a m e n t a i s . A s s i m q u e se f o r m a m , p o r e x e m p l o , são p e r s i s t e n t e s . D i g a a s i m e s m o " p a r e d e f a z e r " a l g o e verá q u e , n a m a i o r i a d a s v e z e s , a admoestação f a l h a . É m a i s provável q u e a crítica ocorra tarde demais, depois de oc o m p o r t a m e n t o t e r s e i n s t a l a d o e a p a r e c e r e m consequências. E s s a situação, e m e s p e c i a l , é u m indício p a r a d e s v e n d a r c i r c u i t o s c e r e b r a i s responsáveis p e l a formação e manutenção d o hábito. E l e s s e t o r n a m tão a r r a i g a d o s q u e o s s e g u i m o s m e s m o contra a vontade, e m parte devido a o que c h a m a m o s d e "contingências d e reforço". D i g a
Agir sem pensar T e s t e s r e a l i z a d o s e m r a t o s r e v e l a r a m q u e o cérebro t r a t a u m hábito c o m o u m a única u n i d a d e d e c o m p o r t a m e n t o . R a t o s a p r e n d e r a m a correr por u m labirinto e m T e a virar à esquerda o u à direita e m direção a u m a r e c o m p e n s a , d e p e n d e n d o d e u m a instrução s o n o r a . D u r a n t e a s p r i m e i r a s c o r r i d a s (primeiro Tcolorido), a a t i v i d a d e n o c o r p o e s t r i a d o d o cérebro f o i a l t a (amarelo e vermelho) a m a i o r p a r t e d o t e m p o . C o m u m hábito f o r m a d o (segundo T), a a t i v i d a d e b a i x o u (verde e azul), e x c e t o q u a n d o o r a t o d e v e r i a d e c i d i r e n t r e v i r a r o u b e b e r . A s s i m q u e u m a r o t i n a s e d e f i n i u (terceiro T), a a t i v i d a d e f i c o u e l e v a d a a p e n a s n o início e n o f i m , g r a v a n d o u m a u n i d a d e d e c o m p o r t a m e n t o .
Sugestão de partida
Leite com chocolate
Instrução sonora
®
Água com açúcar
Exploração
Formação de hábito
m *
APRENDIZAGEM Atividade nos neurónios no corpo estriado Baixa I
I
Alta
q u e fará A e, d e p o i s , você será r e c o m p e n s a d o d e a l g u m a m a n e i r a . S e f i z e r B, não terá r e c o m p e n s a n e m será p u n i d o . E s s a s consequências d e n o s s a s ações - a s contingências - i m p u l s i o n a m o c o m p o r t a m e n t o futuro de u m a f o r m a o u outra. S i n a i s i d e n t i f i c a d o s n o cérebro p a r e c e m corresponder a esse aprendizado relacionado a o reforço, c o m o r e v e l a m e s t u d o s o r i g i n a l m e n te realizados pelos neurocientistas W o l f r a m S c h u l t z e R a n u l f o R o m o , a m b o s , n a época, d a U n i v e r s i d a d e d e F r i b u r g o , Suíça. H o j e e m janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 3 7
capa d i a , e s s e s t r a b a l h o s são d e s e n v o l v i d o s p o r cientistas computacionais. Especialmente r e l e v a n t e s são o s " s i n a i s d e e r r o d e predição d e r e c o m p e n s a " q u e r e v e l a m a avaliação d a m e n t e s o b r e q u a l e x a t a m e n t e é a eficiência d e u m a previsão d e reforço f u t u r o . D e a l g u m a f o r m a , o cérebro c a l c u l a e s s a s avaliações q u e esculpem nossas expectativas e adicionam o u s u b t r a e m v a l o r a p a r t i r d e c u r s o s específicos d e ação. A o m o n i t o r a r ações i n t e r n a m e n t e e adicionar u m peso positivo o u negativo a elas, o cérebro reforça c o m p o r t a m e n t o s específicos, d e s l o c a n d o ações d e d e l i b e r a d a s p a r a h a b i t u a i s - m e s m o q u a n d o s a b e m o s q u e não d e v e m o s jogar o u comer demais. Nós e o u t r o s c i e n t i s t a s r e f l e t i m o s s o b r e o q u e s e p a s s a n o cérebro p a r a p r o v o c a r e s s a mudança e s e e r a possível interrompê-la. N o s s o g r u p o i n i c i o u e x p e r i m e n t o s n o laboratório d e A n n Graybiel, n o Instituto de Tecnologia de M a s s a c h u s e t t s ( M I T ) , para decifrar quais vias c e r e b r a i s e s t a v a m e n v o l v i d a s n a formação de rotinas e c o m o s u aatividade poderia m u d a r . P r i m e i r o , precisávamos d e u m t e s t e e x p e r i m e n t a l para d e t e r m i n a r se u m c o m p o r t a m e n t o é u m hábito. U m t e s t e c r i a d o p e l o psicólogo britânico A n t h o n y D i c k i n s o n , n a década d e 8 0 , ainda é bastante utilizado. Ele e seus colegas t r e i n a r a m r a t o s d e laboratório a p r e s s i o n a r u m a alavanca e m u m a caixa e x p e r i m e n t a l para receber u m a guloseima c o m o recompensa.
P A R A NÃO E S Q U E C E R Q u a n d o o s a n i m a i s assimilaram b e m essa tarefa e v o l t a r a m às g a i o l a s , o s p e s q u i s a d o r e s " d e s valorizaram" a recompensa, deixando o s ratos c o m e r e m a r e c o m p e n s a até ficarem supersaciados, o u Diga a si mesmo ministrando u m a droga q u e "pare de fazer" p r o d u z i a l e v e náusea após a algo e verá que, na r e c o m p e n s a ser c o n s u m i d a . Posteriormente, levaram maioria das vezes, o s ratos d e volta à caixa de nada adianta; é e x p e r i m e n t a l , c o m a opção mais provável que a de pressionar a alavanca o u crítica ocorra tarde não. S e u m r a t o p r e s s i o n a v a a alavanca, m e s m o q u ea demais, depois de o recompensa tivesse sido comportamento ter se insatisfatória, D i c k i n s o n c o n instalado e aparecido siderava o c o m p o r t a m e n t o c o m o hábito. M a s , s e u m consequência
rato estava atento e "consciente" (se é que p o d e m o s f a l a r d e consciência d e u m r a t o ) , então e l e não p r e s s i o n a v a a a l a v a n c a p o r p e r c e b e r a r e c o m p e n s a c o m o a l g o desagradável. O u s e j a , n e s s e c a s o , o hábito não s e f o r m a v a . O t e s t e p e r m i t i u aos cientistas u m a m a n e i r a d e verificar s e u m a mudança d e c o m p o r t a m e n t o p r o p o s i t a l p a r a h a b i t u a l h a v i a o c o r r i d o o u não. U s a n d o variações d e s s e t e s t e básico o s p e s quisadores Bernard Balleine, da Universidade de Sydney, e S i m o n Killcross, d a Universidade d e N e w S o u t h W a l e s , n a Austrália, d e s c o b r i r a m indícios d e q u e d i f e r e n t e s c i r c u i t o s c e r e b r a i s a s s u m e m a liderança c o n f o r m e ações d e l i b e r a d a s s e t o r n a m h a b i t u a i s . N o v a s evidências o b t i d a s c o m experiências f e i t a s c o m r a t o s , m a c a c o s e h u m a n o s a g o r a a p o n t a m p a r a c i r c u i t o s múltip l o s q u e i n t e r c o n e c t a m o neocórtex e o c o r p o e s t r i a d o , n o c e n t r o d o s núcleos d a b a s e , m a i s p r i m i t i v o , i n s t a l a d o s n o c e r n e d o n o s s o céreb r o (veja imagem na págseguinte). E s s e s c i r c u i t o s se t o r n a m m a i s o u m e n o s envolvidos c o n f o r m e a g i m o s d e f o r m a d e l i b e r a d a o u p o r hábito. E n s i n a m o s ratos e c a m u n d o n g o s a executar c o m p o r t a m e n t o s s i m p l e s . E m u m a tarefa, eles aprenderam a correr por u m labirintoe m f o r m a d e T assim que ouviam u m dique. Dependendo d e u m a "instrução" s o n o r a q u e s o a v a d e p o i s , e n q u a n t o c o r r i a m , eles v i r a r i a m à esquerda o u à d i r e i t a e m direção a o t o p o d o T e c o r r e r i a m até a q u e l a e x t r e m i d a d e p a r a r e c e b e r u m t i p o o u o u t r o d e r e c o m p e n s a . O objetivo era e n t e n d e r c o m o o cérebro j u l g a o s prós e c o n t r a s d e d e t e r m i n a d o c o m p o r t a m e n t o e depois grava u m a sequência d e c o m p o r t a m e n t o s c o m o u m "padrão", u m hábito. N o s s o s r a t o s c e r t a m e n t e d e s e n v o l v e r a m hábitos. M e s m o q u a n d o u m a r e c o m p e n s a s e t o r n a v a desagradável, o s r a t o s c o r r i a m p a r a e l a a o s o m d a instrução. P a r a d e s c o b r i r c o m o o cérebro g r a v a u m c o m p o r t a m e n t o q u e s e t o r n a u m hábito, o l a boratório d o M I T começou a g r a v a r a a t i v i d a d e elétrica d e p e q u e n o s g r u p o s d e neurónios (células cerebrais) n o c o r p o e s t r i a d o . A s d e s c o b e r t a s de nosso grupo n o ssurpreenderam. Q u a n d o os ratos p e r c e b i a m o l a b i r i n t o pela p r i m e i r a v e z , neurónios n a p a r t e d o c o n t r o l e m o t o r n o corpo estriado ficavam ativos durante todo o t e m p o e m q u eo s ratos corriam. Mas, quando o c o m p o r t a m e n t o se t o r n o u mais habitual, a a t i v i d a d e n e u r o n a l começou a s e a c u m u l a r n o
início e f i n a l d a s c o r r i d a s e s e a c a l m o u d u r a n t e a m a i o r p a r t e d e s s e i n t e r v a l o . Era c o m o se t o d o o comportamento setornasse programado, c o m a s células d o c o r p o e s t r i a d o p e r c e b e n d o o início e o f i m d e c a d a c o r r i d a (veja quadro 33). E r a u m padrão i n c o m u m : p a r e c i a q u e a s células d o c o r p o e s t r i a d o f i c a v a m maleáveis e p o d i a m ajudar a "acumular o s m o v i m e n t o s " , deixando r e l a t i v a m e n t e p o u c a s células e s p e c i a l i s t a s l i d a rem c o m o s detalhes d ocomportamento. E s s e padrão n o s l e m b r o u a f o r m a c o m o o cérebro f i x a memórias. S a b e m o s c o m o é útil l e m b r a r u m a sequência d e números e m blocos maiores, e m vez de u m a u m , c o m o a o p e n s a r m o s e m u m número d e t e l e f o n e c o m o 555-1212 e m v e z d e 5-5-5-1-2-1-2. O falecido psicólogo a m e r i c a n o G e o r g e A . M i l l e r c u n h o u o t e r m o "segmentação" p a r a s e r e f e r i r a e s s e b l o c o d e i t e n s e m u m a u n i d a d e d e memória. A atividade neural d o s ratos observada n o início e n o f i m d a c o r r i d a p a r e c e u s e m e l h a n te. É c o m o s eo c o r p o estriado estabelecesse m a r c a d o r e s d e limites para blocos d e c o m p o r t a m e n t o - hábitos - q u e o p r o c e s s o d e avaliação i n t e r n a d e c i d i u q u e d e v e r i a m s e r armazenados. S efor verdade, essa m a n o b r a significaria q u e essencialmente o corpo estriad o n o s a j u d a a c o m b i n a r u m a sequência d e ações e m u m a u n i d a d e única. Você vê o p o t e de doce, a u t o m a t i c a m e n t e o pega, busca u m a guloseima e a c o m e " s e m pensar". C i e n t i s t a s i d e n t i f i c a r a m também u m " c i r c u i t o d e deliberação", q u e e n v o l v e o u t r a p a r t e d o corpo estriado e s e ativa q u a n d o as escolhas não são f e i t a s n o p i l o t o automático, d e m a n d a n d o a l g u m a t o m a d a d e decisão. P a r a e n t e n d e r a interação e n t r e e s s e s c i r c u i t o s d e deliberação e d e hábitos, a p e s q u i s a d o r a C a t h e r i n e T h o r n , de nosso grupo, registrou sinais e m a m b o s o s circuitos s i m u l t a n e a m e n t e . Q u a n d o os animais a p r e n d i a m u m a t a r e f a , a a t i v i d a d e n a área d e deliberação d o c o r p o e s t r i a d o s e t o r n a v a intensa d u r a n t e o m e i o das corridas, especialm e n t e para definir o c a m i n h o at o m a r na parte s u p e r i o r d o T , b a s e a d o s n a instrução s o n o r a . E s s e padrão f o i q u a s e o e x a t o o p o s t o d o padrão d e segmentação q u e o b s e r v a m o s n o hábito n o c o r p o e s t r i a d o . A i n d a a s s i m a a t i v i d a d e r e c u o u q u a n d o o c o m p o r t a m e n t o se t o r n o u t o t a l m e n t e h a b i t u a l . O padrão s i g n i f i c a q u e , à m e d i d a q u e fixamos hábitos - p e l o m e n o s
Explorar, agir, gravar U s a m o s três p a s s o s p a r a a d q u i r i r hábitos: e x p l o r a r u m n o v o comportamento, comportar-se dedeterminada maneira e depois gravá-la n o cérebro (números coloridos). A p e s a r d e c i e n t i s t a s não t e r e m r e f i n a d o t o d o s o s d e t a l h e s , o c o r p o e s t r i a d o (centro) c o o r d e n a c a d a p a s s o . E m b o r a pareça q u e e x e c u t a m o s r o t i n a s " s e m p e n s a r " , o córtex infralímbico (canto inferior direito) a i n d a a c o m panha o que fazemos. Córtex sensório-motor
^ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ Córtex pré-frontal
Hl
/
Córtex infralímbico
Novo comportamento explorado: o córtex pré-frontal se comunica com o corpo estriado, que interage com o mesencéfalo, onde a dopamina auxilia a aprendizagem e atribui valor aos objetivos. Esses circuitos (linhas contínuas e t r a c e j a d a s ) formam ciclos de feedback positivo que nos ajudam a descobrir o que funciona ou não no comportamento.
Formas de hábito: ao repetirmos um comportamento, um ciclo de feedback entre o córtex sensóriomotor e corpo estriado torna-se fortemente engajado, o que nos ajuda a gravar rotinas como uma única unidade, ou bloco, de atividade cerebral. O bloco em parte se instala no corpo estriado e depende da entrada de dopamina do mesencéfalo.
Hábito gravado e autorizado: assim que um hábito é armazenado como um bloco de ações, o córtex infralímbico parece ajudar o corpo estriado a marcá-lo ainda mais como atividade cerebral semipermanente. Auxiliado pela dopamina o córtex infralímbico também parece atuar quando temos permissão de nos envolver em um hábito. O bloqueio dessa região pode suprimir rotinas profundamente arraigadas
janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 3 9
capa c o m o f a z e m o s ratos - circuitos relacionados a e s s e s c o m p o r t a m e n t o s g a n h a m força, m a s também o c o r r e m alterações n e l e s . C o m o o corpo estriado trabalha e m conjunto c o m u m a p a r t e d o neocórtex v i n c u l a d a a o hábit o , n a p a r t e f r o n t a l d o cérebro c o n h e c i d a c o m o córtex infralímbico, g r a v a m o s a a t i v i d a d e n e s s a região. I s s o também f o i r e v e l a d o r . E m b o r a o b s e r vássemos o m e s m o acúmulo n o início e n o f i m da atividade habitual do corpo estriado, durante o período d e a p r e n d i z a g e m i n i c i a l v i m o s u m a mudança m u i t o s u t i l n o córtex infralímbico. Só depois d e o s animais t e r e m sido intensamente t r e i n a d o s e o hábito t e r s e f i x a d o é q u e a a t i v i d a d e infralímbica s e a l t e r o u . S u r p r e e n d e n t e m e n t e , q u a n d o i s s o o c o r r e u u m padrão d e segmentação s e d e s e n v o l v e u a l i . E r a c o m o s e o córtex infralímb i c o f o s s e o "sábio", a g u a r d a n d o até o s i s t e m a d e avaliação d o c o r p o e s t r i a d o d e c i d i r q u e o c o m p o r t a m e n t o deveria ser m a n t i d o , antes d e e n g a j a r a porção m a i o r d o cérebro n e l e .
LIGAR E DESLIGAR D e c i d i m o s t e s t a r s e o córtex infralímbico t e m c o n t r o l e i m e d i a t o s o b r e a expressão d e u m hábito. P a r a i s s o u s a m o s a optogenética. C o m e s s a n o v a técnica, poderíamos c o l o c a r molécul a s sensíveis à l u z e m u m a minúscula região d o cérebro e, então, i l u m i n a n d o - a , " l i g a r e d e s l i g a r " o s neurónios d e s s a região. E x p e r i m e n t a m o s d e s l i g a r o córtex infralímbico e m r a t o s q u e a s s i m i l a r a m c o m p l e t a m e n t e o hábito n o l a b i r i n t o , f o r m a n d o o padrão d e fragmentação. Q u a n d o d e s l i g a m o s o neocórtex a p e n a s p o r a l g u n s s e gundos e n q u a n t o os ratos corriam, bloqueamos t o t a l m e n t e o hábito.
Uma área do cérebro chamada corpo estriado nos ajuda a combinar uma sequência de ações em uma única unidade: você vê o pote de doce, automaticamente o pega, busca uma guloseima e a come "sem pensar" 40
O hábito p o d i a s e r b l o q u e a d o r a p i d a m e n t e , às vezes d e imediato, e esse b l o q u e i o p e r m a n e c e u até depois d odesligamento da luz. O s ratos, n o e n t a n t o , não p a r a r a m d e c o r r e r p e l o labirinto. Apenas as corridas costumeiras para a r e c o m p e n s a d e s v a l o r i z a d a não ocorreram mais. O s animais a i n d a c o r r i a m p a r a alcançar a recompensa positiva d o lado oposto d o labirinto. Na verdade, enquanto re-
petíamos o t e s t e , o s r a t o s d e s e n v o l v i a m u m n o v o hábito: c o r r e r p a r a o l a d o p o s i t i v o d a recompensa d o labirinto, independentemente d o estímulo q u e r e c e b i a m . Q u a n d o , p o s t e r i o r m e n t e , i n i b i m o s a m e s m a área d o córtex infralímbico, b l o q u e a m o s o hábito n o v o - e o antigo reapareceu instantaneamente. Esse r e t o r n o à r o t i n a a n t i g a o c o r r e u e m questão d e s e g u n d o s e p e r m a n e c e u e m todas as corridas q u e t e s t a m o s , s e m q u e tivéssemos d e d e s l i g a r o córtex infralímbico. M u i t a s p e s s o a s c o n h e c e m a sensação d e t e r s e d e d i c a d o i n t e n s a m e n t e p a r a q u e b r a r u m hábit o e l o g o r e t o r n a r a e l e , c o m força t o t a l , após u m período e s t r e s s a n t e . Q u a n d o o c i e n t i s t a r u s s o I v a n P a v l o v e s t u d o u e s s e fenómeno e m cães, há m u i t o s anos, concluiu que os animais nunca se esqueciam de c o m p o r t a m e n t o s profundamente c o n d i c i o n a d o s c o m o o s hábitos. O máximo q u e p o d e m fazer é suprimi-los. Estamos diante d a m e s m a permanência d e hábitos e m n o s s o s r a t o s . M a s , c u r i o s a m e n t e , p o d e m o s ligá-los e desligá-los p e l a manipulação d e u m a p e q u e n a porção d o neocórtex d u r a n t e o c o m p o r t a m e n t o r e a l . Não s a b e m o s até q u e p o n t o e s s e c o n t r o l e p o d e r i a ir. S e e n s i n a r m o s a o s r a t o s três hábitos d i f e r e n t e s e m sequência, p o r e x e m p l o , e d e p o i s b l o q u e a r m o s o t e r c e i r o , o s e g u n d o hábito a p a recerá? E s e , d e p o i s , b l o q u e a r m o s o s e g u n d o , o p r i m e i r o aparecerá? U m a questão e s s e n c i a l é s e poderíamos e v i t a r a formação d o hábito, e m p r i m e i r o l u g a r . T r e i n a m o s r a t o s a p e n a s o s u f i c i e n t e p a r a vê-los c h e g a r a o f i n a l c o r r e t o d o T, m a s não o s u f i c i e n t e para o c o m p o r t a m e n t o instalar-se c o m o rotina. Depois, continuamos o treinamento, m a s a o l o n g o d e c a d a c o r r i d a u s a m o s a optogenética p a r a i n i b i r o córtex infralímbico. O s r a t o s c o n t i n u a r a m correndo b e m pelo labirinto, m a s nunca a d q u i r i r a m o hábito, a p e s a r d e m u i t o s d i a s d e t r e i n a m e n t o intensivo, que teria t o r n a d o essa característica p e r m a n e n t e . U m g r u p o d e c o n t r o l e de ratos s u b m e t i d o ao m e s m o treinamento, s e m a interrupção d a optogenética, d e s e n v o l v e u o s hábitos n o r m a l m e n t e . Não é d e a d m i r a r q u e hábitos s e j a m tão difíc e i s d e r o m p e r . E l e s s e t o r n a m fixos e g r a v a d o s c o m o blocos a p a r e n t e m e n t e padronizados de atividade neural, processo que envolve a operação d e vários c i r c u i t o s c e r e b r a i s . S u r p r e e n d e n t e m e n t e , n o e n t a n t o , e m b o r a pareçam q u a s e
QUANDO O CIENTISTA RUSSO Ivan Pavlov trabalhou com cães, percebeu que os animais nunca se esqueciam de um condicionamento; entretanto, é possível suprimi-lo
automáticos, hábitos estão s o b c o n t r o l e contín u o d e p e l o m e n o s p a r t e d o neocórtex, e e s s a região d e v e e s t a r s e m p r e a t i v a p a r a e l e s e f i x a r . É c o m o s e e s t i v e s s e m lá, p r o n t o s p a r a a g i r s e o neocórtex d e t e r m i n a r q u e a s circunstâncias são favoráveis. M e s m o s e não t i v e r m o s consciência desse controle sobre c o m p o r t a m e n t o s habituais - afinal, essa é a m a i o r parte d e seu valor para nós - , t e m o s c i r c u i t o s q u e o s m o n i t o r a m s e m interrupção. P o d e m o s e s t e n d e r a mão p a r a o pote d e doces s e m "pensar", mas u m sistema d e vigilância n o cérebro está e m operação, c o m o o d e m o n i t o r a m e n t o d e v o o e m u m avião. P r o v a v e l m e n t e a i n d a v a i d e m o r a r m u i t o até alguém u s a r u m i n t e r r u p t o r p a r a d e s v i a r hábitos i r r i t a n t e s . O s métodos e x p e r i m e n t a i s q u e nós e outros pesquisadores estamos usando ainda não p o d e m s e r e m p r e g a d o s d i r e t a m e n t e e m p e s s o a s , m a s a neurociência s e t r a n s f o r m a à v e l o c i d a d e d a l u z , e , nós, d e s s e c a m p o , e s t a m o s nos a p r o x i m a n d o de algo de fato importante: as r e g r a s p e l a s q u a i s o s hábitos o p e r a m . S e p u d e r m o s e n t e n d e r de f o r m a m a i s a m p l a c o m o eles são f o r m a d o s e r o m p i d o s , p o d e r e m o s e n t e n d e r m e l h o r n o s s o s c o m p o r t a m e n t o s idiossincrátic o s e s a b e r c o m o alterá-los. Também é possível q u e n o s s o c o n h e c i m e n -
t o e m expansão p o s s a até a j u d a r p e s s o a s n a extremidade final - e mais grave - do espectro d o hábito, o f e r e c e n d o indícios s o b r e c o m o t r a t a r o distúrbio o b s e s s i v o - c o m p u l s i v o , síndrome de Tourette, fobia o u t r a n s t o r n o d e estresse pós-traumático. S e você q u e r s e c o n d i c i o n a r a c o r r e r p e l a manhã, então n a n o i t e a n t e r i o r t a l v e z d e v a c o l o c a r o s ténis d e c o r r i d a o n d e p o s s a vê-los a o a c o r d a r n o d i a s e g u i n t e . E s s a p i s t a v i s u a l i m i t a a sugestão s o n o r a u t i l i z a d a para treinar ratos - e p o d e ser e s p e c i a l m e n t e e f i c a z s e você s e r e c o m p e n s a r após a c o r r i d a . Faça i s s o d e f o r m a q u e s e u cérebro p o s s a d e s e n v o l v e r o padrão d e segmentação d e s e j a d o . O u , s e q u i s e r a b r i r mão d o p o t e d e d o c e s , r e t i r e - o d e p e r t o - e l i m i n a n d o o estímulo. C e r t o , s a b e m o s q u e a l t e r a r c o s t u m e s não é fácil. É c o m o e s c r e v e u M a r k T w a i n : "Hábito é hábito, e não p o d e s e r a t i r a d o p e l a j a n e l a por qualquer pessoa, m a ss i m persuadido a descer o s degraus passo a passo". Nossos experimentos, no entanto,nos conduzem a u m p o n t o de vista otimista: aprendendo mais sobre c o m o o cérebro f i x a e mantém r o t i n a s , t a l v e z se t o r n e m e n o s s o f r i d o s e c o n v e n c e r a evitar ações indesejáveis e a d o t a r c o m p o r t a m e n t o s que fazem bem. ®
PARA SABER MAIS Optogenetic stimulation of lateral orbitofronto-striatal pathway suppresses compulsive behaviors. E r i c Burguière e t a l . , e m Science, v o l . 3 4 0 , págs. 1 2 4 3 - 1 2 4 6 , 7 d e j u n h o de 2013. Human and rodent homologies in action control: corticostriatal determinante of goal-directed and habitual action. B e r n a r d W . B a l l e i n e e J o h n P. 0 ' D o h e r t y e m Neuropsychopharmacology, v o l . 3 5 , págs. 4 8 - 6 9 , 2 0 1 0 . Habits, rituais, and the evaluative brain. A n n M . G r a y b i e l , e m Annual Review ofNeuroscience, v o l . 3 1 , págs. 3 5 9 - 3 8 7 , julho de 2008.
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• NEUROBIOLOGIA
Raízes genéticas da esquizofrenia MAIOR
ESTUDO GERACIONAL SOBRE T R A N S T O R N O S
MENTAIS
JÁ
REALIZADO
E N C O N T R O U 1 2 8V A R I A N T E S A S S O C I A D A S À D O E N Ç A E M M A I S D E U M A C E N T E N A D E REGIÕES D I S T I N T A S N O G E N O M A
H U M A N O
e n c a d e i a m para f o r m a r genes. O O a s p e c t o m a i s característico d a As descobertas e s t u d o envolve registrar conhecidas esquizofrenia é a dificuldade d e disreforçam a hipótese mutações c o m u n s d e s s a s d u p l a s e m t i n g u i r experiências r e a i s e imaginápessoas c o m e s e m esquizofrenia. rias - pessoas c o m e s s e t r a n s t o r n o da predisposição Variações q u e aparecem significatim e n t a l c o s t u m a m s o f r e r alucinações genética do distúrbio; v a m e n t e mais vezes naquelas c o m e delírios persecutórios, além d o s os pesquisadores a doença são c o n s i d e r a d a s " a s s o c i a chamados sintomas negativos, c o m o d a s " a o distúrbio. " O G W A S p r o m o o e m b o t a m e n t o afetivo, q u e é a dificompararam o v e u m a visão m u i t o m a i s a b r a n g e n t e c u l d a d e d e e x p r e s s a r emoções e s e n genoma completo de d o s f a t o r e s biológicos e m j o g o n o t i m e n t o s . A prevalência m u n d i a l d a aproximadamente t r a n s t o r n o d o q u e o s e s t u d o s genéesquizofrenia é d e 1 % .O s primeiros ticos anteriores", diz o geneticista sinais aparecem, n a m a i o r i a d o s ca37 mil pessoas com a B e n j a m i n Neale, u md o s principais sos, entre 16e 3 0 anos. Suas causas patologia com mais têm s i d o d e b a t i d a s , p r i n c i p a l m e n t e autores d o estudo, d o Instituto Brode 113 mil sem s u a provável o r i g e m genética. E m b o ad, e m Cambridge, Massachusetts. r a e s t u d i o s o s já t e n h a m o b s e r v a d o a relação e n t r e histórico A técnica não é c a p a z d e i d e n t i f i c a r a s mutações e x a t a s f a m i l i a r d a doença e c h a n c e s d e desenvolvê-la, a m o s t r a s q u e c a u s a m doenças o u m e s m o a p o n t a r g e n e s específicos. p e q u e n a s e o u t r o s obstáculos metodológicos f r u s t r a r a m E m v e z d i s s o , m a r c a áreas d o g e n o m a q u e c o n t r i b u e m as p r i m e i r a s t e n t a t i v a s d e i d e n t i f i c a r c o m p o n e n t e s h e r e d i p a r a o r i s c o . O s g e n e s n e s s a s regiões j u s t i f i c a m i n v e s t i g a r tários. Até a g o r a , porém. D i v u l g a d o n a Nature, u m e s t u d o o s p r o c e s s o s orgânicos s u b j a c e n t e s a o p r o b l e m a . " E s t i genético q u e t e v e a colaboração d e m a i s d e 3 0 0 c i e n t i s t a s m u l a m o s o s cientistas a se dedicar a oestudo detalhado d e 3 5 países, d o G r u p o d e T r a b a l h o s o b r e E s q u i z o f r e n i a d a da biologia d a esquizofrenia", d i z o psiquiatra M i c h a e l Associação Genômica Psiquiátrica, e n c o n t r o u 1 2 8 v a r i a n 0 ' D o n o v a n , u md o sautores d a pesquisa, da Universidade t e s a s s o c i a d a s a o t r a n s t o r n o e m 1 0 8 regiões d i s t i n t a s n o d e C a r d i f f , n o País d e G a l e s . genoma humano. O s t r a t a m e n t o s farmacológicos c o n t r a o distúrbio não A grande maioria delas nunca havia sido relacionada c o m o distúrbio. O s r e s u l t a d o s reforçam e m m u i t o a hipótese s o b r e predisposição genética d a doença. O s pesquisadores c o m p a r a r a m o genoma completo de aproximadamente 37 mil pessoas c o ma patologia c o m mais de 113mil s e mo transtorno, n om a i o r estudo geracional s o b r e transtornos m e n t a i s já r e a l i z a d o , b a t i z a d o p e l o s a u t o r e s d e associação d o g e n o m a ( G W A S ) . O m a t e r i a l genético, o u D N A , é c o m p o s t o d e u m a sequência d e m i l h a r e s d e p a r e s m o l e c u l a r e s , q u e s e 42
avançaram m u i t o n o s últimos 5 0 a n o s , d e s d e a d e s c o b e r t a d e d r o g a s p a r a r e d u z i r a a t i v i d a d e d o m e n s a g e i r o químico d o p a m i n a . A principal teoria focava o s sinais hiperativos d e s s e n e u r o t r a n s m i s s o r . C e r t a m e n t e , u m a d a s regiões i d e n t i f i c a d a s contém u m g e n e q u e p r o d u z o t i p o d e r e c e p t o r dopaminérgico q u e é b l o q u e a d o p o r fármacos antipsicóticos. O u t r o n e u r o t r a n s m i s s o r , o g l u t a m a t o , também f o i a l v o d e intervenção farmacológica, e m b o r a s e m m u i t o s u c e s s o n o s t e s t e s clínicos. O n o v o e s t u d o traçou relações genéti-
neurocircuito 1
c a s e n t r e e s s e m e n s a g e i r o químico e a esquizofrenia. "Essa é u m a import a n t e evidência d e q u e o g l u t a m a t o e x e r c e a l g u m a influência n o t r a n s t o r n o " , d i z C D o n o v a n . S e g u n d o ele, algumas drogas desenvolvidas n o passado p o d e m ter falhado porque visavam o tipo errado d e receptor d e s s a substância. O s r e s u l t a d o s g e néticos p o d e m a j u d a r a d e s e n v o l v e r m e d i c a m e n t o s m a i s eficazes. Alguns dados, n o entanto, ainda não são m u i t o c l a r o s . O s c i e n t i s t a s o b s e r v a r a m a l g u m a relação também c o m g e n e s d o s i s t e m a imunológico, a s s i m c o m o já h a v i a m n o t a d o a s s o c i a ção c o m o t a b a g i s m o . O s r e s u l t a d o s não s i g n i f i c a m , porém, q u e a e s q u i z o f r e n i a está r e l a c i o n a d a à i m u n i d a d e o u q u e o t a b a g i s m o p r o v o c a a doença. A área d o g e n o m a r e l a c i o n a d a c o m o s i s t e m a imunitário contém c e n t e n a s OS RESULTADOS AJUDAM de genes, alguns d o s quais afetam o u a explicar por que drogas t r o s a s p e c t o s d a b i o l o g i a , q u e também antipsicóticas típicas, como clorpromazina, bloqueadora p o d e m d e s e m p e n h a r papéis d i s t i n t o s de receptores de dopamina, e m vários t e c i d o s . " U m a i n f i n i d a d e são eficazes d e proteínas d o s i s t e m a imunológico p r o v a v e l m e n t e t e m funções d i f e r e n t e s n o cérebro", d i z u m mistério p a r a a ciência. A p e s q u i s a G W A S a j u d o u a 0 ' D o n o v a n . A ligação c o m o t a b a g i s m o também não é d e s c o b r i r o u t r o s p r o b l e m a s d e saúde c o m raízes genéticas c l a r a . P o r e x e m p l o , u m a v a r i a n t e genética p o d e p r e d i s p o r e a m b i e n t a i s e m a r a n h a d a s , c o m o d i a b e t e s e doença d e u m a pessoa a f u m a r e a u m e n t a r o risco d e esquizofrenia, C r o h n . O s especialistas e s p e r a r a m ocorrer o m e s m o c o m a sem q u e u m cause o outro. e s q u i z o f r e n i a . "Já é u m a i m p o r t a n t e d e s c o b e r t a i d e n t i f i c a r U m a conclusão g e r a l e i m p o r t a n t e : e m b o r a e s s a p a t o l o g i a s e j a c o m p l e x a e m u l t i f a t o r i a l , c o m o , aliás, a m a i o r i a d o s t r a n s t o r n o s m e n t a i s , não s i g n i f i c a q u e vá p e r m a n e c e r
o s d i v e r s o s e p e q u e n o s e f e i t o s genéticos c o m u n s e s p a l h a d o s p e l o g e n o m a " , d i z N e a l e . " M a s há m u i t o s p r o c e s s o s biológicos d i f e r e n t e s e n v o l v i d o s . " janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 4 3
í
comportamento
Egoísta, eu? O ALTRUÍSMO P O D E S E RA P R E N D I D O . N O
QUAL
VIVEMOS
A CULTURA E O M E I O
N A INFÂNCIA A J U D A M
A MOLDAR
C R E S C E R E M ÉPOCA D E C R I S E P O D E N O ST O R N A R NECESSIDADES
SOCIAL
CRENÇAS;
MAIS ATENTOS
ÀS
ALHEIAS
por Esther Hsieh
e s t h e r h s i e h éjornalista.
^^•^^ u v i m o s c o m frequência q u e e s t a m o s c a d a m ^ v e z m a i s i n d i v i d u a l i s t a s . E, d e f a t o , u m e s ^ M t u d o r e c e n t e p u b l i c a d o n a Personality and ^^iKt^r Individual Differences a p o n t a q u e a v e r d a d e não está m u i t o l o n g e d e s s a percepção d o s e n s o c o m u m : a s o c i e d a d e contemporânea p a r e c e c a d a v e z m a i s e g o cêntrica q u a n d o c o m p a r a d a à d e é p o c a s p a s s a d a s . O a u m e n t o n a p r o s p e r i d a d e económica, d e f o r m a g e r a l , t a l v e z t e n h a c o l a b o r a d o p a r a e s s e cenário, s e g u n d o outra pesquisa: jovens adultos que passaram por t e m p o s difíceis são m e n o s v o l t a d o s p a r a s i d o q u e a q u e l e s q u e a t i n g i r a m a m a i o r i d a d e d u r a n t e períodos d e m a i o r p r o s p e r i d a d e económica.
P a r a m e d i r e m e s s a tendência, c i e n t i s t a s d a U n i v e r s i dade d e Michigan percorreram u m c a m i n h o curioso: analisaram discursos d e presidentes americanos entre 1790 e 2012. Eles a p o s t a r a m q u e a f o r m a de falar dos eleitos pelo v o t o revela as ideias, n e m s e m p r e assumidas a b e r t a m e n t e , c o m as quais a s p e s s o a s e m geral se i d e n t i f i c a m . P a r t i n d o desse pressuposto, o s pesquisadores calcular a m o "índice d e i n d i v i d u a l i d a d e " d e c a d a oratória c o m p a r a n d o o número d e p a l a v r a s q u e i n d i c a m i n t e r e s s e c e n t r a d o n o próprio u n i v e r s o ( c o m o " e u " , " n ó s " o u "mãe") c o m a quantidade determos que sugerem cuidado com o outro ( c o m o " e l e " , " v i z i n h o " o u " a m i g o " ) . E l e s o b s e r v a r a m não só o a u m e n t o c o n s t a n t e n o u s o d e p a l a v r a s q u e s e r e f e r i a m
ao u n i v e r s o pessoal - e m geral ligadas a o "eu e a o " m e u " - c o m o também q u e a n t e s d e 1 9 0 0 a s f a l a s c o n t i n h a m m a i s t e r m o s r e l a c i o n a d o s c o m a preocupação c o m o o u t r o . Depois d e 1920, praticamente todos o s discursos giravam e m t o r n o d o indivíduo e d e extensões d e s i m e s m o ( p o r e x e m p l o : suas c o i s a s , seus p a r e n t e s e t c ) . P a r a v e r i f i c a r s e e s s a s constatações r e f l e t i a m o egoísmo de f o r m a mais ampla, a equipe c o m p a r o u o s resultados c o m pesquisas sobre o t e m a e m produtos culturais c o m o l i v r o s e canções d o século 2 0 . E, r e a l m e n t e , c o m p r o v a r a m o a u m e n t o d a noção d e i n d i v i d u a l i d a d e . " O s d a d o s s u g e r e m q u e e s s a característica não está a p e n a s n a s conferências p r e s i d e n c i a i s , m a s r e f l e t e u m a tónica c u l t u r a l e o m o d o janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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j ^ -
comportamento
P e s s o a s gentis l e v a m v a n t a g e m NAS S O C I E D A D E S Q U EV A L O R I Z A M
O C O L E T I V O , A C O R D I A L I D A D E C O N T A M A I S P A R A A POSIÇÃO
P R O F I S S I O N A L D O Q U EA S H A B I L I D A D E S
N o s s a cultura c o s t u m a c o n f e r i r resp e i t o , prestígio e admiração àqueles q u e são a v a l i a d o s c o m o c o m p e t e n t e s . A g e n t i l e z a é até c o n s i d e r a d a u m a característica b e m - v i n d a , m a s fica e m s e g u n d o lugar. Essa regra, porém, não é c o m u m a t o d a s a s s o c i e d a d e s , já q u e o q u e é v a l o r i z a d o varia d e u m grupo para outro. O q u e não m u d a , o n d e q u e r q u e e s t e j a m o s , é o fato d eq u e para subir n a escada social é preciso incorporar o s valores e m alta. E m u m artigo recente p u b l i c a d o p e l a Organizational Behavior and Human Decision Processes, o doutor e m m a r k e t i n g Carlos Torelli, professor da Universidade d e Min-
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n e s o t a , r e l a c i o n o u a influência d o individualismo e d e senso d e coletiv i d a d e c o m n o s s a s i d e i a s e m relação à posição p r o f i s s i o n a l . E l e e s e u s colaboradores descobriram q u e o s americanos eram mais propensos a u s a r a competência ( p o r e x e m p l o , r e s o l v e n d o p r o b l e m a s difíceis d o t r a b a l h o ) c o m o estratégia p a r a g a n h a r r e s p e i t o , d e q u e o s l a t i n o s . Já e s t e s últimos t e n d i a m a s e r m a i s a f e t i v o s e cooperativos c o mo s colegas. Além d i s s o , i n d i v i d u a l i s t a s e n c a r a m o c a r g o p r o f i s s i o n a l - e não a cordialidade - c o m o sinal d e capac i d a d e , e v i c e - v e r s a , e m relação a o s c o l e t i v i s t a s . I g n o r a r e s s a s diferenças
culturais p o d e criar conflitos e d e cepções s e , p o r e x e m p l o , você e s e u s u p e r i o r hierárquico u s a m d i f e r e n t e s métricas p a r a a v a l i a r d e s e m p e n h o . "Essa linha d e pesquisa t e m c o m o b a s e m i n h a s observações s o b r e d i ferenças políticas n a América L a t i n a e n o s Estados U n i d o s " , diz Torelli. O s c a n d i d a t o s a m e r i c a n o s , não r a r o , discursam sobre as obras que entreg a r a m . " O s l a t i n o s , porém, têm m a i s tendência a i d e a l i z a r líderes p o p u l i s tas, c o m o Salvador Allende e H u g o Chavez, vendo-os c o m o benfeitores abnegados q u erealmente se preocup a m c o m o b e m - e s t a r d o p o v o . " (Por Mateus Hutson, jornalista científico).
de a s p e s s o a s e m geral s e relacionarem c o n s i g o m e s m a s e c o m o s o u t r o s " , acred i t a a psicóloga S a r a K o n r a t h , c o a u t o r a do estudo e professora d oInstituto d e Pesquisa Social, e m Michigan. E m u m experimento relacionado, m a s independente, publicado e m 2014 na rev i s t a Psychological Science, a p e s q u i s a d o r a Emily Bianchi, professora da Universidade Emory, analisou af o r m a c o m o a economia d o país a f e t a o g r a u d e i n d i v i d u a l i s m o . E l a utilizou dois tipos d e teste de personalid a d e p a r a m e d i r e s s a característica e m 32.632 participantes d e 18 a 83 anos d e idade. A cientista observou q u e pessoas que t i n h a m entre 18 e 25 anos e m temp o s e c o n ó m i c o s difíceis ( m e d i d o s p e l a t a x a d e d e s e m p r e g o ) t i n h a m tendência a s e t o r n a r m e n o s egocêntricas n a v i d a a d u l t a , e m comparação c o m a q u e l a s q u e a t i n g i r a m a m a i o r i d a d e d u r a n t e períodos d e m a i o r p r o s p e r i d a d e . O m e s m o , porém, não o c o r r e u c o m o u t r o s g r u p o s etários. E m i l y B i a n c h i a r g u m e n t a q u e a diferença e x i s t e p o r q u e o início d a i d a d e a d u l t a é m a i s d e t e r m i n a n t e . Funcionários i n e x p e r i e n t e s são o s m a i s vulneráveis d u r a n t e recessões, e o i m p a c t o d e c r i s e s t e n d e a s e r m a i o r n a q u e l e s q u e s e esforçam p a r a estabelecer u m a identidade profissional. A p e s q u i s a d o r a i n v e s t i g o u também a remuneração d e chief executive officers ( C E O s , d i r e t o r e s e x e c u t i v o s ) , e m relação a o u t r o s funcionários q u e o c u p a m p o s t o s d e c h e f i a . "É u m e x c e l e n t e i n d i c a d o r d e n a r c i s i s m o ; a q u e l e q u e está n e s s e c a r g o c o n t r o l a o salário d a s e g u n d a p e s s o a m a i s importante d a empresa." Ela analisou dados d e2.095 C E O s e descobriu q u e a q u e l e s q u e f i c a r a m a d u l t o s d u r a n t e booms económicos t i v e r a m u m a compensação financeira 2,3 m a i o r d o q u e o segundo a l t o e x e c u t i v o , c o m u m a diferença d e 1 , 7 e m relação a o s q u e c r e s c e r a m e m t e m p o s m e n o s prósperos. E m i l y B i a n c h i a c r e d i t a , p o r t a n t o , q u e a r e c e n t e recessão d e 2 0 0 8 e 2009 n o s Estados Unidos e seus efeitos duradouros sobre o mercado de trabalho p r o v a v e l m e n t e poderão a m e n i z a r tendências narcisistas n o s j o v e n s adultos - u m a b a i x a n u m a tendência a s c e n d e n t e g e r a l . ®
Arroz para c o m b a t e r o individualismo PRÁTICAS AGRÍCOLAS HISTÓRICAS
INFLUENCIAM
MENTALIDADES MODERNAS
M u i t o s a s s o c i a m d e i m e d i a t o a cultura chinesa à rivalidade entre o leste e o o e s t e d a q u e l e país. A g o r a , u m a p e s q u i s a c o n j u n t a e n t r e E s t a d o s U n i d o s e C h i n a indica q u e o s m o r a d o r e s d o norte a p r e s e n t a m u m a m e n t a l i d a d e m a i s i n d i v i d u a l i s t a , c o m o a a m e r i c a n a , e m comparação c o m s e u s c o m p a t r i o t a s d o s u l . E o a r r o z é f a t o r d e t e r m i n a n t e d e s s a diferença, d e a c o r d o c o m a r t i g o p u b l i c a d o n a r e v i s t a Science. " O r i o Y a n g t z e s e p a r a a C h i n a e m n o r t e e s u l e s e r v e também d e d i v i s o r agrícola e c u l t u r a l " , d i z o psicólogo T h o m a s T a l h e l m , d a U n i v e r s i d a d e d e V i r gínia, p r i n c i p a l a u t o r d o e s t u d o . H a b i t a n t e s d o n o r t e c u l t i v a m p r e d o m i n a n t e m e n t e o t r i g o , e o s d o s u l o a r r o z . E s s a última a t i v i d a d e é b a s t a n t e t r a b a l h o s a e n e c e s s i t a d e água o t e m p o t o d o , o q u e e x i g e a p a r t i l h a d e r e c u r s o s p a r a q u e s e j a b e m - s u c e d i d a . A s c o m u n i d a d e s a j u d a m a p l a n t a r e a r e g a r . Já o t r a b a l h o c o m t r i g o r e q u e r m e t a d e d o esforço e d e p e n d e m a i s d o s padrões d e c h u v a , p o r i s s o p o d e s e r g e r e n c i a d o c o m m e n o r dependência d o s v i z i n h o s . T a l h e l m s e p e r g u n t o u s e a s práticas agrícolas p o d e r i a m a j u d a r a e x p l i c a r a mentalidade mais individualista d o lado ocidental, comparadas c o m a f o r m a m a i s a b r a n g e n t e d e r a c i o c i n a r d o s h a b i t a n t e s d a região o r i e n t a l . P a r a investigar a "teoria d o arroz", a equipe d e cientistas analisou o p e n s a m e n t o holístico, a preocupação c o m o b e m d a m a i o r i a e a l e a l d a d e d e 1 . 1 6 2 e s t u d a n t e s d e 2 8 províncias d a C h i n a . C o m o e s p e r a d o , o s p e s q u i s a d o r e s c o m p r o v a r a m q u e e s s a s q u a l i d a d e s e s t a v a m m a i s p r e s e n t e s n a s províncias d e c u l t i v o d e a r r o z , e n q u a n t o o i n d i v i d u a l i s m o e r a m a i s c o m u m n a s áreas e m que o s moradores trabalhavam c o m trigo. O s c i e n t i s t a s a n a l i s a r a m também a s t a x a s d e divórcio d e c a d a província, o u t r o i n d i c a d o r d o p e n s a m e n t o a u t o c e n t r a d o . " O número d e separações e n t r e c a s a i s n a s regiões d e t r i g o e r a 5 0 % m a i o r d o q u e n a s áreas d e a r r o z " , a p o n t a T a l h e l m . " E m b o r a o u t r a s variáveis p o s s a m s e r c o n s i d e r a d a s , a t e o r i a está d e a c o r d o c o m o u t r a s p e s q u i s a s c u l t u r a i s s o b r e c o m o a a t i v i d a d e agríc o l a i n f l u e n c i a o p e n s a m e n t o " , d i z o psicólogo R i c h a r d N i s b e t t , p r o f e s s o r d a U n i v e r s i d a d e d e M i c h i g a n , q u e não p a r t i c i p o u d o e s t u d o . Na Turquia, por exemplo, Nisbett descobriu que os que sededicavam à a g r i c u l t u r a (ocupação i n t e r d e p e n d e n t e ) e r a m m u i t o m a i s altruístas d o q u e o s q u e v i v i a m d o p a s t o r e i o ( a t i v i d a d e i n d e p e n d e n t e ) . O s r e s u l t a d o s reforçam n o s s a c r e s c e n t e compreensão d e q u e a história agrícola d e u m a região p o d e influência d u r a d o u r a s o b r e a m e n t a l i d a d e d e s e u s cidadãos m o d e r n o s .
janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 4 7
especial
Podemos ser c a d a v e z mais inteligentes? A U M E N T O CONTÍNUO D O S RESULTADOS O QUOCIENTE DESCENDENTES
N O STESTES
D E I N T E L I G Ê N C I A ( Q l )S U G E R E
Q U E M E D E M
Q U E
NOSSOS
FARÃO C O M Q U EA GERAÇÃO A T U A L PAREÇA
ESSE EFEITO, E N T R E T A N T O , PODE E N C O N T R A N D O
OUTRAS
REVELAR
Q U EESTAMOS
APENAS
F O R M A S D E USAR O CÉREBRO
por T i m Folger
O AUTOR TIM FOLGER é jornalista especializado em divulgação científica, editor da coleção The best American Science and n a t u r e w r i t i n g .
LERDA.
|^
especial
H
á três décadas, o p e s q u i s a d o r J a m e s R. F l y n n , d a U n i v e r s i d a d e d e O t a g o , n a N o v a Zelândia, d e s c o b r i u u m fenómeno q u e o s c i e n t i s t a s sociais a i n d a s e esforçam p a r a explicar: o s q u o c i e n t e s d e inteligência ( Q l ) vêm c r e s c e n d o c o n s t a n t e m e n t e e m t o d o o m u n d o d e s d e o início d o século 2 0 . P o r m a i s questionável q u e e s s a seja medição (veja quadro/gráfico na página seguinte 52), o r e s u l t a d o d a p e s q u i s a d e F l y n n v a l e p e l o m e n o s ser c o n s i d e r a d a . Ele e x a m i n o u d a d o s d e t e s t e s d e inteligência d e m a i s d e 2 0 países e d e s c o b r i u q u e a pontuação está s u b i n d o 0,3 p o n t o p o r a n o - o u 3 p o n t o s p o r década. Q u a s e 3 0 a n o s d e e s t u d o s d e a c o m p a n h a m e n t o c o n firmaram a r e a l i d a d e estatística d o avanço g l o b a l , c o n h e c i d o a g o r a c o m o e f e i t o F l y n n . E os pontos continuam subindo.
" P a r a m i n h a s u r p r e s a , n o século 2 1 o s a u m e n t o s c o n t i n u a m " , d i z F l y n n . " O s últimos d a d o s m o s t r a m o s ganhos a c o m p a n h a n d o a velha taxa d e três décimos d e p o n t o p o r a n o . " U m d o s a s p e c t o s m a i s e s t r a n h o s desse efeito Flynn é certa m o n o t o n i a - e l e não d e s a c e l e r a , p a r a o u recomeça. A p e n a s se m o v e regularmente para cima, " c o m o s e g u i a d o p o r u m a mão invisível", reforça F l y n n . O psicólogo J o s e p h R o d g e r s , d a U n i v e r s i d a d e d e O k l a h o m a , e x a m i n o u o s resultados d o s testes d e q u a s e 13 m i l e s t u d a n t e s a m e r i c a n o s para ver s e p o d e r i a d e t e c t a r o fenómeno n u m a e s c a l a d e t e m p o m a i s restrita. " Q u e s t i o n a m o - n o s se o s p o n t o s d o s e s t u d a n t e s m e l h o r a r i a m n u m período d e cinco o u dez a n o s . B e m , eles m e l h o r a r a m n u m período d e u m a n o . O a u m e n t o está lá, s i s t e m a t i c a m e n t e , a n o após a n o . P e s s o a s n a s c i d a s e m 1 9 8 9 têm Cada ganho resultado u m pouco m e l h o r tecnológico demanda que as nascidas e m 1988."
capacidade mental de acomodar a mudança, o que desencadeia novas transformações
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O efeito Flynn significa q u e a s crianças vão, e m média, conseguir 1 0 p o n t o s a mais nos testes de Q l d o que s e u s p a i s . Até o fim d e s t e sé-
c u l o , n o s s o s d e s c e n d e n t e s terão u m a v a n t a g e m d e q u a s e 3 0 p o n t o s s o b r e nós - a diferença e n t r e a inteligência média e o s 2 % d o t o p o d a população - s e o fenómeno s e p e r p e t u a r . S u r g e m , porém, a l g u m a s questões. A tendência s e manterá i n definidamente, levando a u m futuro repleto d e p e s s o a s q u e s e r i a m c o n s i d e r a d a s génios p e l o s padrões d e h o j e ? O u há a l g u m l i m i t e n a t u r a l a o d e s e n v o l v i m e n t o d a inteligência h u m a n a ? E, m a i s i m p o r t a n t e : a u m e n t a r a pontuação n e s s e t i p o d e t e s t e s i g n i f i c a r e a l m e n t e q u e a s p e s s o a s são m a i s i n t e l i g e n t e s o u a p e n a s q u e o cérebro e n c o n t r o u f o r m a s d e o b t e r pontuações m a i s a l t a s ?
MENTE MODERNA Logo que reconheceram o efeito Flynn, os pesquisadores v i r a m que o s pontos ascendentes e r a m r e s u l t a d o q u a s e i n t e i r a m e n t e d o avanço n o d e s e m p e n h o e m p a r t e s específicas d o s m a i s u s a d o s t e s t e s d e inteligência. U m d e l e s , o W e c h s l e r I n t e l l i g e n c e S c a l e f o r C h i l d r e n ( W I S C , e m inglês), t e m múltiplas seções, e c a d a u m a a v a l i a c a p a c i d a d e s d i f e r e n t e s . S e r i a m a i s plausível e s p e r a r avanços n a inteligência c r i s t a l i z a d a - c a r a c t e r i z a d a p e l o t i p o de c o n h e c i m e n t o o b t i d o na escola -, m a s isso
não a c o n t e c e . O s p o n t o s n a s seções q u e m e d e m o s níveis d e aritmética e vocabulário c o n t i n u a r a m constantes a olongo do tempo. A m a i o r parte dos ganhos d e Q l veio justam e n t e d e d o i s s u b t e s t e s d e d i c a d o s a o raciocínio abstrato. U m lida c o m " s i m i l a r i d a d e s " e apres e n t a questões c o m o " E m q u e u m a maçã e u m a l a r a n j a são s e m e l h a n t e s ? " . U m a r e s p o s t a d e b a i x a pontuação s e r i a " a m b a s são comestíveis". U m a d e pontuação m a i s a l t a s e r i a " a s d u a s são f r u t a s " , já q u e t r a n s c e n d e s i m p l e s q u a l i d a d e s físicas. O u t r o s u b t e s t e contém u m a série d e padrões geométricos r e l a c i o n a d o s d e a l g u m a f o r m a a b s trata para q u e a pessoa identifique c o r r e t a m e n t e a relação e n t r e o s padrões. U m paradoxo d o efeito Flynn é que testes c o m o esses f o r a m projetados para ser u m a m e d i d a c o m p l e t a m e n t e não v e r b a l e c u l t u r a l m e n t e n e u t r a d o q u e o s psicólogos c h a m a m d e i n t e l i gência f l u i d a : u m a c a p a c i d a d e i n a t a p a r a r e s o l v e r problemas desconhecidos. M a s o efeito Flynn m o s t r a c l a r a m e n t e que algo n o a m b i e n t e t e m a c e n t u a d a influência n o s s u p o s t o s c o m p o n e n t e s c u l t u r a l m e n t e n e u t r o s d a inteligência e m p o p u lações d o m u n d o t o d o . O s psicólogos A i n s l e y M i t c h u m e M a r k Fox, d a U n i v e r s i d a d e d o E s t a d o d a Flórida, q u e f i z e r a m e s t u d o s d e t a l h a d o s d a s diferenças e n t r e gerações n o d e s e m p e n h o e m t e s t e s d e inteligência, s u s p e i t a m q u e o a p r i m o r a m e n t o de nossa capacidade de pensar de maneira abstraía p o s s a e s t a r r e l a c i o n a d o à t e c n o l o g i a , q u e nos p r o p o r c i o n a u m a nova flexibilidade na f o r m a c o m o percebemos o s objetos. " T o d o m u n d o c o n h e c e o 'botão' i n i c i a r n a t e l a d o c o m p u t a d o r , m a s não s e t r a t a r e a l m e n t e d e u m botão", d i z M i t c h u m . " E u e s t a v a t e n t a n d o e n s i n a r p a r a m i n h a avó c o m o d e s l i g a r o c o m p u t a d o r e d i s s e : ' A p e r t e o botão i n i c i a r e s e l e c i o n e d e s ligar'. Ela b a t e u c o m o m o u s e n a t e l a . " M i t c h u m a c r e s c e n t a , n o e n t a n t o , q u e não s e t r a t a d e f a l t a d e inteligência d a avó: e l a c r e s c e u n u m m u n d o e m q u e botões e r a m botões e t e l e f o n e s c e r t a m e n t e não e r a m máquinas fotográficas. M u i t o s p e s q u i s a d o r e s , e n t r e e l e s o próprio F l y n n , r e c o n h e c e m q u e o a u m e n t o n o s p o n t o s d o Q l não r e f l e t e u m a u m e n t o e m nossos recursos intelectuais brutos. N a realidade, o efeito Flynn m o s t r a c o m o nossa
m e n t e se t r a n s f o r m o u . Esses testes e x i g e m facilid a d e p a r a r e c o n h e c e r c a t e g o r i a s abstraías e f a z e r conexões e n t r e e l a s , o q u e s e t o r n o u m a i s útil n o último século d o q u e e m q u a l q u e r época a n t e r i o r n a história h u m a n a . " S e você não c l a s s i f i c a r abstrações e não e s t i v e r a c o s t u m a d o a u s a r a lógica, não p o d e r e a l m e n t e d o m i n a r o m u n d o m o d e r n o " , avalia Flynn. "Ao fazer algumas entrevistas c o m camponeses r u s s o s n o s a n o s 2 0 , o psicólogo A l e x a n d e r L u r i a d i z i a : ' O n d e s e m p r e há n e v e , o s u r s o s são b r a n c o s . Então, s e s e m p r e há n e v e n o p o l o n o r t e , q u a l é a c o r d o s u r s o s d e lá?'. E a m a i o r i a r e s p o n d i a q u e só v i a u r s o s m a r r o n s . E l e s não e n t e n d i a m a questão hipotética."
PODEMOS N Ã O SER cognitivamente superiores a nossos antepassados, mas não há dúvida de que nossa mente mudou; a transformação pode ter começado no século 18, com a Revolução Industrial e mudanças no estilo de vida, como ensino em massa, famílias menores e uma sociedade em que empregos técnicos e administrativos substituíram os agrícolas
M a s o s c a m p o n e s e s não e r a m i g n o r a n t e s . O m u n d o deles exigia a p e n a s habilidades diferentes. " A c h o q u e o a s p e c t o m a i s f a s c i n a n t e não é q u e e s t a m o s indo m u i t o m e l h o r nos testes d e Q l " , a n a l i s a F l y n n . "É a n o v a l u z q u e lança s o b r e o q u e c h a m o d e história d a m e n t e n o século 2 0 . " U m a interpretação ingénua d o e f e i t o F l y n n l e v a r a p i d a m e n t e a a l g u m a s e s t r a n h a s conclusões. A s i m p l e s extrapolação d o e f e i t o a o l o n g o d o t e m p o , p o r e x e m p l o , s u g e r i r i a q u e a p e s s o a c o m inteligência
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especial
Cientistas especulam que a disseminação de videogames pode ajudar crianças a aumentar as habilidades necessárias para solucionar problemas propostos pelos testes
média n a Grã-Bretanha e m 1900 teria u m Q l d e cerca d e 7 0 p e l o s padrões d e 1 9 9 0 . " I s s o s i g n i f i c a r i a q u e o britân i c o t i n h a deficiência m e n t a l limítrofe e não s e r i a c a p a z d e e n t e n d e r a s n o r m a s d o críq u e t e " , c o m p a r a o psicólogo cognitivo David Hambrick, professor da Universidade d o Estado de Michigan. P o d e m o s não s e r m a i s inteligentes q u e nossos a n t e p a s s a d o s , m a s não há dúvida d e q u e n o s s a m e n t e m u d o u . F l y n n a c r e d i t a q u e a mudança começou c o m a Revolução I n d u s t r i a l , q u e t r o u x e novas realidades: m a i o r acesso a o e n s i n o formal, famílias m e n o r e s e u m a s o c i e d a d e e m q u e e m p r e g o s técnicos e a d m i n i s t r a t i v o s substituíram o s agrícolas. N o v a s c l a s s e s p r o f i s s i o n a i s s u r g i r a m - e n g e n h e i r o s , eletricistas, arquitetos industriais - e s e u s p o s t o s e x i g i r a m domínio d e princípios a b s t r a t o s . A educação, p o r s u a v e z , t o r n o u - s e o m o t o r d e m a i s inovação e mudança s o c i a l , d e s e n c a d e a n d o u m c i r c u i t o d e realimentação
positivo entre nossa m e n t e e a cultura c o m base n a t e c n o l o g i a q u e não d e v e t e r m i n a r e m b r e v e . A maioria d o s pesquisadores concorda c o m a avaliação g e r a l d e F l y n n d e q u e a Revolução I n d u s t r i a l e o s avanços tecnológicos são r e s p o n sáveis p o r e s s e e f e i t o . M a s e s p e c i f i c a r a s c a u s a s p r e c i s a s - o q u e p o d e r i a p e r m i t i r a elaboração d e políticas e d u c a c i o n a i s e s o c i a i s p a r a a m p l i a r o r e s u l t a d o - t e m s i d o difícil. P r o g r e s s o s n a educação c e r t a m e n t e r e s p o n d e m p o r p a r t e d o s avanços. H o j e , c e r c a d e m e t a d e d o s a d u l t o s t e m pelo m e n o s a l g u m grau d eescolaridade superior. A educação f o r m a l , c o n t u d o , não e x p l i c a c o m pletamente o que acontece. Alguns pesquisadores pressupõem q u e a m a i o r p a r t e d o a u m e n t o n o Q l n o século 2 0 p o s s a t e r s i d o l i d e r a d a p o r g a n h o s n a p o n t a e s q u e r d a d a c u r v a d e s i n o d a inteligência e n t r e a q u e l e s c o m a s pontuações m a i s b a i x a s , u m r e s u l t a d o q u e s e r i a p r o v a v e l m e n t e consequência de m e l h o r e s oportunidades educacionais. M a s , e m u m estudo recente, Jonathan W a i e M a r t h a Putallaz, d a Universidade Duke, analisaram 2 0 a n o s d e d a d o s c o m p r e e n d e n d o 1,7 milhão d e r e s u l t a d o s d e t e s t e s d e a l u n o s d e 5-, 6^ e 7 - séries e descobriram que o s pontos de 5 %dos melhores
Como se mede o Ql? U m teste popular é o Wechsler Intelligence S c a l e f o r C h i l d r e n , q u e c o n s i s t e e m múltiplos s u b t e s t e s . A l g u n s m e d e m o vocabulário, h a b i l i d a d e e m aritmética o u c o n h e c i m e n t o s g e r a i s d a criança - o q u e a d u l t o s p o d e m chamar d etrivialidades. Outros e x a m i n a m U o a c a p a c i d a d e c o n c e i t u a i d a criança. N o £ Q teste de similaridades, porexemplo, ela l l t e m d e considerar similaridades abstraías e n t r e p a l a v r a s ( c o m o r a p o s a e c o e l h o , p o r e x e m p l o ) . Só n e s s a s categorias conceituais os pontos d ê ui o s t e s t e s s u b i r a m . E o e f e i t o Flynn mostra q u e estamos O 2 ficando mais familiarizai d o s c o m a abstração. 1948
1972
1989
C R I A N Ç A S CONSEGUEM, em média, 10 pontos a mais nos testes de Ql em comparação a seus pais; até o fim deste século nossos descendentes terão uma vantagem de quase 30 pontos sobre nós - a diferença entre a inteligência média e os 2% do topo da população
estudantes e s t a v a m s u b i n d o e m perfeita sintonia c o m o efeito Flynn. O s resultados sugerem que, c o m o a c u r v a t o d a está m u d a n d o , a s forças c u l t u r a i s p o r trás d o a u m e n t o d e v e m e s t a r i n fluenciando a t o d o s igualmente. O s cientistas e s p e c u l a m q u e a disseminação d o s s o f i s t i c a d o s videogames e m e s m o d e alguns programas d e televisão p o d e a j u d a r crianças a a u m e n t a r a s h a b i l i d a d e s necessárias p a r a s o l u c i o n a r p r o b l e m a s propostos pelos testes de Q l . Para Rodgers, a universalidade d o efeito Flynn c o n f i r m a q u e é inútil b u s c a r u m a c a u s a única: "Deve haver quatro o u cinco causas dominantes, cada u m a selevantando contra fluxos o u desapar e c i m e n t o s d e o u t r a s " . M e l h o r nutrição i n f a n t i l , educação u n i v e r s a l , famílias m e n o r e s e a influência d e mães c o m educação s u p e r i o r são a l g u m a s d a s m a i s prováveis. " D e s d e q u e d u a s c a u s a s estejam presentes, m e s m o q u a n d o algo c o m o a Segunda Guerra provoca o desaparecimento d e o u t r a s d u a s , o e f e i t o F l y n n mantém s u a c u r v a . "
M A I S RÁPIDOS O q u e o f u t u r o trará? O s Q l s seguirão s u b i n d o ? Algo de que p o d e m o s ter certeza é que o m u n d o continuará m u d a n d o , e m g r a n d e p a r t e p o r n o s s a s próprias ações. F l y n n g o s t a d e u s a r u m a a n a l o g i a tecnológica p a r a d e s c r e v e r a interação d e l o n g o prazo e n t r e m e n t e e cultura. "A velocidade dos automóveis e m 1 9 0 0 e r a a b s u r d a m e n t e b a i x a porque as estradas e r a m m u i t o ruins", compa-
r a . M a s r o d o v i a s e c a r r o s evoluíram. Q u a n d o o s c a m i n h o s m e l h o r a r a m , também o s veículos m e l h o r a r a m - e estradas melhores levaram o s engenheiros a projetar carros mais velozes. T a n t o a m e n t e q u a n t o a c u l t u r a são a t r e l a d a s n u m circuito d efeedback semelhante. Estamos c r i a n d o u m m u n d o o n d e a informação a s s u m e f o r m a s e s e m o v e c o m v e l o c i d a d e s impensáveis há a p e n a s u m a década. C a d a g a n h o tecnológico d e m a n d a m e n t e s capazes d e a c o m o d a r a mudança - e a m e n t e m o d i f i c a d a r e f o r m a a i n d a mais o mundo. U m fato a serconsiderado é que a m e n t e p a r e c e e s t a r f i c a n d o m a i s rápida. U m a prática c o m u m n a p e s q u i s a reação-tempo é d e s c a r t a r respostas q u e e s t e j a m abaixo d e cerca d e 2 0 0 milissegundos. "Pensava-se que 200 milissegund o s e r a o m a i s rápido q u e a s p e s s o a s p o d i a m responder, m a s hoje digitamos textos, j o g a m o s videogames, fazemos m u i t o mais coisas q u e e x i g e m respostas r e a l m e n t e velozes", diz o psicólogo c o g n i t i v o D a v i d H a m b r i c k . I s s o é b o m ? Não n e c e s s a r i a m e n t e , já q u e e m m u i t a s t a r e f a s c r u c i a i s u m i n s t a n t e a m a i s d e hesitação p o d e significar m e n o r possibilidade d e erro. A s s i m c o m o o e f e i t o F l y n n , a r a p i d e z e m s i não é n e m b o a n e m r u i m - é u m a evidência d e n o s s a adaptabilidade. C o m sorte, talvez c o n t i n u e m o s construindo u m m u n d o que nos torne mais int e l i g e n t e s e hábeis p a r a f a z e r m e l h o r e s e s c o l h a s . A f i n a l , i s s o s i m é s i n a l d e inteligência. ®
PARA SABER MAIS Are we getting smarter? Rising IQ in the twenty-first century. J a m e s R. F l y n n . Cambridge University Press, 2012. Solving the IQ puzzle, j a m e s R. F l y n n , e m Scientific American Mind, v o l . 1 8 , n° 5, págs. 24-31, o u t u b r o de 2007. Flynn's effect. M a r g u e r i t e H o / l o w a y , e m Scientific American, v o l . 2 8 0 , r\° 1 , págs. 3 - 3 8 , j a n e i r o d e 1 9 9 9 .
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especial
P r i m e i r o o gesto, d e p o i s a palavra A INTELIGÊNCIA H U M A N A SE REFLETE DA M U S C U L A T U R A ; M O T O R A
CONTROLE
F O IP O R M E I O D AAMPLIAÇÃO D A C O O R D E N A Ç Ã O
F I N A E D A SE X P R E S S Õ E S F A C I A I S
DESENVOLVEMOS
N OSOFISTICADO
Q U E ,A OL O N G O
A COGNIÇÃO, A L I N G U A G E M MAIS VARIADOS
D O S SÉCULOS,
E A CAPACIDADE
INSTRUMENTOS
por Gerhard Neuweiler
O AUTOR GERHARD NEUWEILER, doutor em neurobiologia, foi professor de zoologia e anatomia comparada da Universidade Ludwig Maximilian, em Munique. Este texto, publicado originalmente nos Estados Unidos, na Scientific American, foi escrito pouco antes de sua morte, em 2008.
D E USAR O S
especial
V|
flP
m m a c a c o j a m a i s poderia tocar piano. Falta-lhe, para isso, a capacidade de m o v e r o s d e d o s c o m v e l o c i d a d e e precisão p a r a p r e s s i o n a r a s t e c l a s e m I rápida sucessão. Nós, h u m a n o s , porém, m e s m o q u a n d o não s a b e m o s ^^I^F n a d a d e música, e m p o u c o t e m p o p o d e m o s a p r e n d e r a t o c a r p e l o m e n o s u m a m e l o d i a c u r t a . I s s o s e m f a l a r n a v e r t i g i n o s a execução d e p i a n i s t a s p r o f i s s i o n a i s . N o s s a habilidade m a n u a l ultrapassa e m m u i t o a dos o u t r o s primatas - e esse é u m fato, e m geral, m e n o s considerado que o u t r o s diferenciais na capacidade de articulação v o c a l e n a l i n g u a g e m . N o e n t a n t o , d o p o n t o d e v i s t a neurobiológico, e s s a s d u a s h a b i l i d a d e s estão e s t r e i t a m e n t e l i g a d a s , p o i s o s m e s m o s c e n t r o s c e r e b r a i s c o n t r o l a m g r a n d e p a r t e d o s r e c u r s o s necessários p a r a a f a l a e p a r a o u s o d a s mãos. N o s últimos séculos, a p e s q u i s a c o m p o r t a m e n t a l d e r r u b o u q u a s e t o d a s a s s u p o s t a s barreiras que separavam o s h o m e n s dos animais, c o m o o u s o d e f e r r a m e n t a s , a comunicação simbólica e a categorização abstraía. O m e s m o vale para as atividades cognitivas, faculdades d e p e n s a m e n t o e compreensão q u e - e m b o r a e m f o r m a r u d i m e n t a r - o s a n i m a i s também p o s s u e m . Só a l i n g u a g e m p a r e c e s e r e x c l u s i v a m e n t e n o s s a : a p e s a r d e t o d o s o s esforços, até h o j e n e n h u m m a c a c o a p r e n d e u a f a l a r , p e l o m e n o s não c o m o nós. O p o u c o d a l i n g u a g e m de sinais que alguns a p r e n d e m c o m dificuldade é suficiente apenas para atender necessidades d e comunicação c o m o t r e i n a d o r . U m a característica d a f a l a é o c o n t r o l e d a m u s c u l a t u r a d o a p a r e l h o f o n a d o r . É notável q u e a d e s t r e z a m a n u a l também s e a p o i e e m u m a motricidade refinada. S o m o s capazes de c o m a n d a r a m u s c u l a t u r a d a s mãos e d o s braços c o m m a i s precisão d o q u e q u a l q u e r a n i m a l . M a s é i m p o r t a n t e observar que essa habilidade m o t o r a já começa a s e m a n i f e s t a r n o s p r i m a t a s . S e u s
d e d o s s e t o r n a r a m m a i s rápidos, e s u a mímica m a i s p r o n u n c i a d a - o q u e a i n d a não b a s t a p a r a a articulação v o c a l . O f a t o é q u e só o h o m e m t e m o d o m d a fala, a s s i m c o m o a capacidade de realizar atividades m a n u a i s complexas. Acred i t o q u e e s s a extraordinária inteligência m o t o r a f o r n e c e u a b a s e d e n o s s a evolução c u l t u r a l . É e l a q u e provê o f u n d a m e n t o p a r a a f a l a e , c o n s e q u e n t e m e n t e , para a cultura e a tecnologia. E s s a afirmação p o d e s u r p r e e n d e r . M u i t o s a n i m a i s c o r r e m e s a l t a m m e l h o r d o q u e nós. P a r a f a z e r i s s o , dispõem d e u m c o m p l e x o a p a r a t o n e u r o n a l q u e e m i t e instruções d e m o v i m e n t o e o s a j u s t a às circunstâncias. N a evolução d a inteligência m o t o r a h u m a n a é nesse m e s m o f u n d a m e n t o que se baseiam n o s s a c a p a c i d a d e linguística e n o s s o c o n trole manual. O c o n t r o l e d e m o v i m e n t o s d o s mamíferos p e r c o r r e três instâncias n e u r o n a i s a r t i c u l a d a s h i e r a r q u i c a m e n t e . A m a i s baixa situa-se n a m e d u l a e s p i n h a l . Lá s e o r i g i n a m s i n a i s p r o d u z i d o s e m pequenas redes n e u r o n a i s - o s geradores
c e n t r a i s d e padrões - q u e d e t e r m i n a m , p o r e x e m p l o , a alternância rítmica automática d a musculatura d a s pernas a ocaminhar. Esses s i n a i s são t r a n s m i t i d o s e m s e g u i d a a o s neurón i o s m o t o r e s , c u j a s ramificações s e e s t e n d e m d a m e d u l a a o s músculos. A m e d u l a e s p i n h a l , p o r s i só, c o n s e g u e p r o d u z i r o s m o v i m e n t o s básicos, já q u e s e u s padrões são c o o r d e n a d o s c o m as j u n t a s i n d i v i d u a i s . Essas redes n e u r o n a i s p o d e m l e v a r e m c o n t a informações d o s s e n t i d o s e ajustar o m o v i m e n t o c o n f o r m e a necessidade.
TRÊS P L A N O S D E C O N T R O L E Se q u i s e r m o s m a n t e r u m m e m b r o e m certa posição, p o r e x e m p l o , a s r e d e s n e u r o n a i s f o r necem o s programas adequados: selecionam a possibilidade q u e deve ser ativada, a partir de informações e n v i a d a s d o c e n t r o d e m o v i m e n t o n o mielencéfalo, a instância n e u r o n a l i m e d i a t a m e n t e s u p e r i o r à q u a l estão s u b o r d i n a d a s . E s s a p a r t e p o s t e r i o r d o cérebro também r e c e b e e a n a l i s a informações s e n s o r i a i s s o b r e a posição atual d o m e m b r o durante o m o v i m e n t o . D u r a n t e a evolução d o s v e r t e b r a d o s s u p e r i o r e s , o s c e n t r o s d o mielencéfalo f i c a r a m c a d a v e z m a i s s u b m e t i d o s à influência d o córtex m o t o r . N e s s a instância s u p e r i o r d e c o n t r o l e d o m o v i m e n t o , q u e s e e s t e n d e por u m a faixa t r a n s v e r s a l n o t o p o d o cérebro, o r i g i n a m - s e t o das as atividades intencionais, tanto n o caso d e u m f e l i n o carnívoro p r e p a r a n d o - s e p a r a o s a l t o c o m o q u a n d o m o v i m e n t a m o s a língua p a r a f a l a r . M a s o córtex m o t o r não está e m c o n d i ções d e p r o d u z i r , s o z i n h o , o s m o v i m e n t o s
a p r o p r i a d o s . Para isso ele precisa d e o u t r a s instâncias h i e r a r q u i c a m e n t e s u p e r i o r e s . A estimulação elétrica d e regiões i s o l a d a s d o córtex m o t o r g e r a , e m g e r a l , a p e n a s c o n t r a ções d e m ú s c u l o s i n d i v i d u a i s . P a r a q u e o córtex m o t o r e n v i e indicações d e u m a ação c o o r d e n a d a e a d e q u a d a às n e c e s s i d a d e s e à situação é necessária a integração d e regiões cerebrais situadas i m e d i a t a m e n t e à frente: as áreas pré-motoras. E l a s f o r n e c e m o s p r o g r a m a s c o m a sequência d e estímulos necessária para dirigir o s m o v i m e n t o s a d e t e r m i n a d o o b j e t i v o . P a r a i s s o , reúnem informações p r o v e n i e n t e s d o s órgãos d o s s e n t i d o s , d a musculatura e d o s centros associativos n a região a n t e r i o r d o cérebro. N a s regiões pré-motoras d o córtex f o r m a m - s e t a m b é m a s intenções d e r e a l i z a r ações voluntárias, q u e são p o s t e r i o r m e n t e t r a n s m i t i d a s a o córtex m o t o r . M a s e s s a s área s não p r o d u z e m s o z i n h a s s u a s instruções. N a v e r d a d e , r e c e b e m u m g r a n d e auxílio d o cerebelo, que supervisiona o d e s e n r o l a r t e m p o r a l d e séries c o m p l e x a s d e m o v i m e n t o s . O cerebelo funciona c o m o u m "treinador", q u e c u i d a p a r a q u e a s n o v a s ações s e j a m a p r e n d i d a s ; e l e é a t i v a d o p a r a a fixação d e programas de m o v i m e n t o , c o m o ocorre nas brincadeiras dos filhotes de animais e quando crianças a p r e n d e m a c o r r e r . O s três p l a n o s hierárquicos p a r a o c o n t r o l e d a a t i v i d a d e m u s c u l a r v a l e m p a r a o s mamíf e r o s e m g e r a l , m a s n e l e s começa a a p a r e c e r a l g o c o m p l e t a m e n t e n o v o - u m a aquisição
AS MAIORES R E A L I Z A Ç Õ E S NA ARTE e na ciência não existiriam sem essas habilidades; nada saberíamos da riqueza intelectual de Sigmund Freud, Charles Darwin ou das criações musicais de Igor Stravinsky se estes não tivessem expressado ou escrito suas ideias, em palavras ou notação musical
janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 5 7
gfe»- e s p e c i a l q u e logo iria alterar e m m u i t o s aspectos o c o m p o r t a m e n t o d o s p r i m a t a s , e m b o r a só n o h o m e m a s s u m a a máxima importância. O q u e surgiu foi u m a "via expressa", por a s s i m dizer, ligando d i r e t a m e n t e a parte a n t e r i o r d o cérebro à m e d u l a e s p i n h a l , p r o v o c a n d o u m curto-circuito n o scentros motores d o mielencéfalo: a c h a m a d a v i a c e r e b r o s p i n a l , o u v i a piramidal. Cerca d e m e t a d e d e seus f i l a m e n t o s n e u r o n a i s v e m d o córtex m o t o r ; e a o u t r a p a r t e , d a s áreas pré-motoras. O s f i l a m e n t o s d a v i a p i r a m i d a l d o s mamíferos e s t e n d e m - s e e m p r i m e i r o l u g a r até o s g e r a d o r e s c e n t r a i s d e padrões n a m e d u l a e s p i n h a l . C o m i s s o , a p a r t e a n t e r i o r d o cérebro p o d e influenciar diretamente os centros motores da m e d u l a e, desse m o d o , c o n t r o l a r c o m m a i s f a c i l i d a d e a s ações. N o s p r i m a t a s o c o r r e a i n d a o u t r o acréscimo. O s filamentos da via piramidal q u e c o n t r o l a m a mão e o s d e d o s p r o v o c a m u m c u r t o - c i r c u i t o até m e s m o n o s g e r a d o r e s d e padrões e e s t i m u l a m d i r e t a m e n t e o s próprios neurónios m o t o r e s , q u e s e p r o l o n g a m d a m e -
d u l a até o s músculos. É provável q u e a p e c u l i a r destreza m a n u a l d o s primatas e d o h o m e m f u n d a - s e n e s s a ligação d i r e t a e n t r e o córtex c e r e b r a l e o s neurónios m u s c u l a r e s . Graças a e l a , nós e o s símios s o m o s c a p a z e s d e m o v e r os dedos individualmente, d e acordo c o m n o s s a v o n t a d e , c o i s a q u e o u t r o s mamíferos, c o m o o s g a t o s , não c o n s e g u e m f a z e r . U m a lesão n a v i a p i r a m i d a l f a z c o m q u e símios p e r c a m a d e s t r e z a d o s d e d o s . D e p o i s d e u m c u r t o período d e r e s t a b e l e c i m e n t o , e s ses a n i m a i s p o d e m v o l t a r a correr e subir e m árvores, m a s não são m a i s c a p a z e s d e a g a r r a r coisas. Por o u t r o lado, m e s m o c o m u m defeito n a ligação c o m o mielencéfalo, e v o l u t i v a m e n t e m a i s antigo, eles c o n t i n u a m capazes de retirar alimento c o m o sdedos de u m buraco, e m b o r a não p o s s a m m a i s s e l o c o m o v e r . I s s o o c o r r e p o r q u e , n e l e s , a locomoção s e e f e t u a a p a r t i r d o s c e n t r o s m a i s a n t i g o s d o mielencéfalo, a o passo que o m o v i m e n t o dos dedos é comand a d o através d a v i a p i r a m i d a l , m a i s r e c e n t e . C h a m a a atenção o f a t o d e q u e , já n o s símios, a m a i o r i a d o s f i l a m e n t o s n e s s a s v i a s
Manipulação e articulação S e d e s e n h a r m o s s o b r e o córtex d e u m m a c a c o a s p a r t e s d o c o r p o n a proporção e m q u e são a l i r e p r e s e n t a d a s , o r e s u l t a d o será u m a n i m a l a p e n a s u m p o u c o d i s t o r c i d o (imagem à esq.). O m e s m o p r o c e d i m e n t o r e s u l t a , n o c a s o d o h o m e m , n o b i z a r r o "homúnculo m o t o r " , c o m f a c e e mãos g i g a n t e s c a s , m a s p e r n a s minúsculas (à dir.) Símio
Homem
rápidas q u e l e v a m à m e d u l a c o m a n d e m a l i j u s t a m e n t e o s neurónios q u e c o n t r o l a m músc u l o s d a s mãos e d o s d e d o s , e e s s e fenómeno a c e n t u a - s e n o s h u m a n o s . Além d i s s o , e m n o s s o c a s o , o s neurónios m o t o r e s d o s braços e ombros recebem ordens diretamente"de c i m a " , d a região a n t e r i o r d o cérebro. É p o r isso q u eo s seres h u m a n o s p o d e m atingir u m a l v o c o m g r a n d e precisão, e o s m a c a c o s não c o n s e g u e m a c e r t a r n e m u m a única v e z a cabeça d o p r e g o c o m u m m a r t e l o . A s p e r n a s r e c e b e m p o u c a atenção n a v i a piramidal, c o m o se m o s t r a naconhecida figura d o "homúnculo m o t o r " , u m e s q u e m a d i s t o r c i d o d e u m h o m e m c o l o c a d o s o b r e o córtex m o tor, cuja g r a n d e z a relativa d a s partes i n d i v i d u a i s d o c o r p o c o r r e s p o n d e à s u a representação n e u r o n a l (veja imagem na pág. 58). E m relação às p e r n a s , a s mãos a p a r e c e m c o m o s u p e r d i mensionadas, c o m o sdedos, particularmente o p o l e g a r , a s s u m i n d o proporções g i g a n t e s c a s . O esquema correspondente deu m chimpanzé a p r o x i m a - s e m u i t o m a i s d a s proporções n a t u r a i s d e s e u c o r p o ; a p e n a s a s mãos e o s pés p a r e c e m u m p o u c o m a i s e n c o r p a d o s . M a s não é a p e n a s a competência d o h o m e m n o u s o d a s mãos q u e s e r e v e l a n o e s q u e m a d o homúnculo m o t o r . A f i g u r a a j u d a t a m b é m a c o m p r e e n d e r a evolução d a c a p a c i d a d e d e articulação v o c a l d o h o m e m - a l g o i n t e r e s s a n t e p a r a o s biólogos e v o l u c i o n i s t a s . A grotesca i m a g e m representa o h o m e m c o m o constituído p r i n c i p a l m e n t e d e mãos e r o s t o - u m r o s t o c o m u m a e n o r m e b o c a . Lá- § b i o s e língua, e m p a r t i c u l a r , a p a r e c e m c o m o | f o r t e m e n t e r e p r e s e n t a d o s n o córtex m o t o r . « De fato, n oh o m e m , u m espesso r a m o § da v i a p i r a m i d a l a c o m o d a o s nervos para a I m u s c u l a t u r a d a f a c e , lábios, língua e p a l a t o , ? b e m c o m o - e i s t o é u m c a s o único e n t r e o s | p r i m a t a s - p a r a a l a r i n g e . N o s símios, já há l f i l a m e n t o s d e s s a v i a rápida q u e c o n t r o l a m a | m u s c u l a t u r a f a c i a l e , e n t r e o u t r a s c o i s a s , a mí- | m i c a , m a s e s s a ligação d i r e t a só s e a c e n t u a n o ,| ser h u m a n o . A isso se acresce - o q u e é m a i s g interessante - que ocontrole fino damuscula- £ tura facial agora n o s p e r m i t e produzir o s sons
o
§
A construção do centro da fala A l g u m a s áreas d o córtex d o s p r i m a t a s , i m p o r t a n t e s p a r a a geração e c o n t r o l e d e ações, r e c e b e m , n o cérebro h u m a n o , n o v a s funções l i g a d a s à f a l a . A área F 5 d o s p r i m a t a s torna-se o c e n t r o d a fala ( o s cérebros não estão r e p r e s e n t a d o s e m proporção). Símio
Área F5
Homem
Área de Broca (centro da fala)
^
especial
Elementos essenciais dos algoritmos neuronais já se encontram nos símios, mas só o cérebro humano é capaz de concatenar ações elementares em cadeias infinitamente diversificadas com alta precisão
da fala. E m outras palavras, f o i a g r a n d e ampliação d a inteligência m o t o r a p a r a c o n t r o l e d a f a c e e d a s mãos que nostornou humanos.
NEURÔNIOS-ESPELHO
Isso t u d o p o d e ser expresso da seguinte m a n e i r a : a destreza m o t o r a d e u m a parte do corpo é tanto maior quanto mais extensamente estiver representada n o córtex m o t o r . N o s h o m e n s e n o s símios, i s s o s i g n i f i c a q u e há u m número m a i o r de filamentos piramidais associados a ela. N o s s e r e s h u m a n o s , d o i s terços d a superfície d o córtex m o t o r estão d e d i c a d o s à f a c e e às mãos; n o s chimpanzés, i s s o é m e n o s d a m e t a d e ( e e s s a diferença também s e m a n i f e s t a no cerebelo). M a s porque, ainda assim, u m c h i m p a n z é não c o n s e g u e a p r e n d e r a f a l a r e tocar piano? Simples. Essas duas habilidades e x i g e m c o i s a s além d o a l c a n c e d e s e u cérebro: u m a competência m o t o r a m a i s f i n a e p r o g r a m a s m a i s d i v e r s i f i c a d o s d e sequências d e m o v i m e n t o s longas e organizadas. É só após u m l o n g o exercício q u e c h e gamos a dominar movimentos complexos e p r e c i s o s d o s braços, mãos e d e d o s . I s s o v a l e t a n t o para trabalhos m a n u a i s q u a n t o para tocar piano. Para isso, o aprendiz recorre e m g r a n d e m e d i d a à imitação. E e m b o r a o s símios a n t r o p o i d e s n e m d e l o n g e a l c a n c e m o g r a u necessário d e a p r e n d i z a d o m o t o r , t o d o s o s p r i m a t a s dispõem d e a l g u n s m e c a n i s m o s n e u r o n a i s notáveis e a i n d a não m u i t o b e m c o n h e c i d o s , a p a r t i r d o s q u a i s n o s s a inteligência m o t o r a p o d e t e r s e construído. A s áreas pré-motoras g e r a m a s intenções c o n c r e t a s d e m o v i m e n t o e f o r n e c e m a o córtex motor os programas neuronais adequados. U m a região d a p a r t e f r o n t a l d o cérebro d o s símios i n t e r e s s a e s p e c i a l m e n t e o s n e u r o psicólogos: a área F 5 , q u e p a r t i c i p a d e c e r t a s ações p a r t i c u l a r e s d a s mãos e d a b o c a . E l a
coincide, e m b o a parte, c o m o centro d a fala n o s h u m a n o s , a c h a m a d a área d e B r o c a . S ó r e c e n t e m e n t e s e v e r i f i c o u q u e a área d e B r o c a não está e n v o l v i d a a p e n a s n a f a l a , m a s t a m bém e m a t i v i d a d e s d a s mãos e d e d o s , o q u e t o r n a e s s a região d o cérebro i m p o r t a n t e p a r a a compreensão d a evolução h u m a n a . A área F 5 d o s s í m i o s , p o r s u a v e z , não p a r t i c i p a d a emissão d e s o n s ; s e u s neurónios d e s t i n a m - s e a funções d e o u t r o t i p o . E m g e r a l e l e s não s e a t i v a m p a r a q u a l q u e r m o v i m e n t o d a mão o u d a b o c a , m a s a p e n a s p a r a ações propositais e aprendidas, que se realizam sobre o b j e t o s , o u p o r m e i o d e l e s . A ação d e s s e s n e u rónios s e d i v i d e , além d i s s o , e m u m a série d e t a r e f a s d i v e r s a s . N o s símios, a s células d a área F 5 estão d e d i c a d a s , e m s u a m a i o r i a , à t a r e f a d e p e g a r c o i s a s . E m consequência, a região não a p r e s e n t a neurónios d e m o v i m e n t o , m a s v e r d a d e i r o s neurónios d e ação, q u e c o m a n d a m c o m p o r t a m e n t o s adquiridos e propositais. P a r e c e c l a r o q u e e s s a área d o cérebro a p r e s e n t a u m c o n j u n t o d e instruções p a r a situações c o r r e n t e s d o d i a a d i a . E m princípio, esses programas individuais poderiam ser a g r u p a d o s p a r a f o r m a r e m c a d e i a s d e ações d o s mais variados comprimentos. O neurologista W i l l i a m H . Calvin, d a Universidade Estadual d e W a s h i n g t o n , e m S e a t t l e , t r o u x e evidências d e q u e a área F 5 d o s símios só e x e c u t a e s s a s instruções d e f o r m a r e l a t i v a m e n t e l e n t a , i m precisa e l i m i t a d a . A área F 5 e x i b e o u t r a p r o p r i e d a d e i n s t i g a n t e : u m a c l a s s e d e células c h a m a d a n e u rônios-espelho d i s p a r a não a p e n a s q u a n d o o s í m i o e x e c u t a d e t e r m i n a d a ação a p r e n d i d a , m a s t a m b é m q u a n d o e l e vê alguém e x e c u t a r e s s a ação. N e s s e s c a s o s , t r a t a - s e s e m p r e d e ações p r o p o s i t a i s r e a l i z a d a s s o b r e u m o b j e t o , c o m o agarrá-lo. É i m p o r t a n t e q u e o e x e c u t a n t e faça o m e s m o m o v i m e n t o . S e o i n v e s t i g a d o r não a p a n h a r o o b j e t o c o m o s d e d o s , m a s c o m u m a pinça, a s células n e r v o s a s d o símio o b s e r v a d o r p e r m a n e c e m i n a t i v a s . P o d e r i a m e x i s t i r , então, a l g o r i t m o s n e u r o nais refinados e a m p l i a d o s q u e p e r m i t i r i a m o a p r e n d i z a d o d e c o m p l e x a s sequências d e ações
p e l a s i m p l e s imitação, i n c l u i n d o a f a l a ? O a p r e n d i z a d o p o r imitação é m a i s i m p o r t a n t e p a r a o h o m e m d o q u e para qualquer o u t r o primata. A i n d a não t e m o s m u i t a s informações p r e c i s a s s o b r e neurônios-espelho n a área d e B r o c a d o s s e r e s h u m a n o s , m a s já s a b e m o s q u e e s s a s cél u l a s estão p r e s e n t e s a l i e p o d e m d e s e m p e n h a r u m papel i m p o r t a n t e e m nossa capacidade d e imitação, n a q u a l crianças p e q u e n a s são m e s t r a s . É possível q u e e s s a região d o cérebro, e m p a r t i c u l a r , t e n h a s u p r i d o a s p r i n c i p a i s condições para u m a m o t r i c i d a d e fina p l e n a m e n t e desenv o l v i d a . P o d e s e r q u e o s neurónios d e ação f o r neçam a b a s e p a r a d i r i g i r m o v i m e n t o s p r e c i s o s , através d a v i a p i r a m i d a l . E o s neurônios-espelho ajudariam, antes de tudo, aaprender complexas sequências d e m o v i m e n t o s . A l g u n s neuropsicólogos supõem q u e d e f i ciências n e s s a região d o cérebro p o s s a m s e r a razão p e l a q u a l a l g u m a s crianças a u t i s t a s têm d i f i c u l d a d e s d e imitação. M u i t a s d e l a s f a l a m p o u c o , várias não s e c o m u n i c a m v e r b a l m e n t e e só c o n s e g u e m p l a n e j a r ações d e f o r m a i n c o m p l e t a . A s p r i m e i r a s investigações r e v e l a m q u e , e m a u t i s t a s , a área d e B r o c a é b e m m e n o s ativa que o n o r m a l .
OUTROS SONS A linguagem distingue o h o m e m d e outros a n i m a i s . O l o c a l n o cérebro responsável p o r e s s a função, a área d e B r o c a , d e s e n v o l v e u - s e a p a r t i r d a área F 5 d o s símios, n a q u a l a s i n s t r u ções p a r a o s m o v i m e n t o s c o o r d e n a d o s l e v a m e m c o n t a t a m b é m informações v i s u a i s . C o m o todos o s primatas, s o m o s "animais visuais", i s t o é, a g i m o s e m g r a n d e m e d i d a o r i e n t a d o s p e l a visão. A s crianças a p r e n d e m a f a l a r não a p e n a s o u v i n d o , m a s também o b s e r v a n d o o s m o v i m e n t o s d a b o c a - e não é p o r a c a s o q u e c o n s e g u e m a p r e n d e r u m a língua d e s i n a i s tão f a c i l m e n t e c o m o u m a l i n g u a g e m f a l a d a . P o d e - s e até m e s m o e s p e c u l a r q u e m e c a nismos semelhantes a ocomportamento dos neurônios-espelho p a r t i c i p e m d o s p l a n o s q u e f a z e m o s e d a fala interior, silenciosa. D e fato, n o s s í m i o s , e s s e s neurónios s e a t i v a m c o m a m e r a observação d e u m a ação, s e m realizá-
la - c o m o s e o a n i m a l e s t i v e s s e e x e c u t a n d o a ação a p e n a s " m e n t a l m e n t e " . N o s seres h u m a n o s , u m simples pensam e n t o já s e c o n e c t a à m o t r i c i d a d e e n e s s e trabalho de e n t e n d i m e n t o p u r a m e n t e m e n t a l , e x t e n s a s regiões d o c e r e b e l o são a t i v a d a s . E s s a constatação é r e c e n t e , p o i s há a l g u n s anos ainda se pensava que o cerebelo desemp e n h a s s e a p e n a s funções m o t o r a s . O r i c o repertório v o c a l d o s p r i m a t a s não é a p r e n d i d o p e l o s símios j o v e n s : e l e s n a s c e m c o m e l e , e s u a área F 5 não d e s e m p e n h a n e n h u m a função n a produção d e s s e s s o n s i n a t o s . É u m erro, portanto,procuraras origens de nossa l i n g u a g e m n a vocalização d e o u t r o s p r i m a t a s . Q u a n d o s e d e s e j a p r o v o c a r a emissão d e s s e s s o n s p e l o s símios, é p r e c i s o a c e s s a r o u t r a área d o cérebro, d e n o m i n a d a g i r o c i n g u l a d o . A e s timulação elétrica d e s s a área d e s e n c a d e i a n o s seres h u m a n o s sons e m o c i o n a i s c o m o c h o r o o u riso, m a s j a m a i s e l e m e n t o s d a fala. E m c o n t r a p a r t i d a , regiões pré-motoras d o s s e r e s h u m a n o s f a z e m c o m q u e eles p r o n u n c i e m sílabas e p a l a v r a s , m a s não d e s e n c a d e i a m
O CEREBELO FUNCIONA como um "treinador", que cuida para que as novas ações sejam aprendidas; ele é ativado para a fixação de programas de movimento, como ocorre nas brincadeiras dos filhotes de animais e quando crianças aprendem a correr
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especial
Olhar, imitar, falar O s neurônios-espelho, l o c a l i z a d o s n a área F 5 d o s p r i m a t a s , e n t r a m e m ação q u a n d o o sím i o p r e s e n c i a u m a sequência d i r i g i d a d e m o v i m e n t o s . E s s a p r o p r i e d a d e p o d e t e r contribuíd o para a capacidade imitativa m a i s desenvolvida d o s seres h u m a n o s . Sons animais
Sons da linguagem
Ciro cingulado
Córtex motor/ Córtex motor facial
Porta no cérebro médio/ substância cinzenta central
Mielencéfalo Nervos motores
Nervo da laringe da face
Nervos motores da face
Musculatura da face
n e n h u m s o m n o soutros primatas. Assim, o córtex c e r e b r a l é e m princípio dispensável p a r a a vocalização i n a t a d o s p r i m a t a s . O repertório s o n o r o específico, b e m c o m o a c a p a c i d a d e d e vocalização, p e r m a n e c e i n a l t e r a d o q u a n d o e s s a s áreas d o córtex são l e s a d a s . E x a t a m e n t e o contrário o c o r r e n o c a s o d a f a l a h u m a n a : p a c i e n t e s c o m lesões b i l a t e r a i s d o córtex m o t o r não c o n s e g u e m m a i s f a l a r n e m c a n t a r . O s símios dispõem a p e n a s d e s o n s i n a t o s , cuja o r i g e m neuronal ainda é desconhecida. F o r a m i d e n t i f i c a d a s , porém, várias regiões cerebrais que, a o serem eletricamente e s t i m u ladas, d e s e n c a d e i a m esses sons. U m a porta p a r a o repertório c o m p l e t o está n o mesencéf a l o ( o u cérebro médio). V a l e l e m b r a r q u e a m a i o r i a d a s vocalizações específicas p o d e m ser desencadeadas a partir d o giro cingulado, q u e s e l o c a l i z a b e m n o i n t e r i o r d o córtex,
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1f
f
Musculatura de articulação
Musculatura da laringe
próximo à região e m q u e o s d o i s hemisférios cerebrais see n c o n t r a m . Ainda s a b e m o s p o u c o sobre o papel d o g i r o c i n g u l a d o n a emissão d e s o n s p e l o s seres h u m a n o s . Ele c e r t a m e n t e participa d a produção d e s o n s c o m c a r g a e m o c i o n a l , m a s é irrelevantepara o se l e m e n t o s s o n o r o s d a ling u a g e m . E m consequência, o s v e l h o s c e n t r o s v o c a i s d o s p r i m a t a s não são - e n u n c a f o r a m - u m m o d e l o p a r a n o s s a f a l a . A s regiões m o t o r a s e pré-motoras d o córtex são m u i t o m a i s importantes, porque fornecem os programas p a r a ações e c o n t r o l a m a m u s c u l a t u r a d a f a c e e d e t o d o o a p a r e l h o d e articulação fonética. I m p u l s o s para a fala originam-se ainda d e o u t r o l u g a r , u m e x t e n s o c a m p o d o córtex s i t u a d o a c i m a d a área d e B r o c a - o v e r d a d e i r o c e n t r o d a f a l a (veja Imagem na pág. 5 9 ) . E s s e c a m p o , a área m o t o r a s u p l e m e n t a r ( A M S ) , já a s s u -
m e u m a posição i m p o r t a n t e n a m o t r i c i d a d e voluntária d o s a n i m a i s , e é f r e q u e n t e m e n t e incluído n o córtex pré-motor. D e s s a área s a i u m a grande parte d o s f i l a m e n t o s d a via piram i d a l , i n c l u i n d o a q u e l e s q u e s e e s t e n d e m até a f a c e . A A M S é i m p o r t a n t e p a r a a produção d e programas d e comportamentos intencionais p a d r o n i z a d o s e , p o r t a n t o , p a r a a preparação e execução d e ações. Q u a n d o e s s e c a m p o d o córtex é e s t i m u lado e l e t r i c a m e n t e n o s seres h u m a n o s , o p a c i e n t e e n u n c i a sílabas o u e l e m e n t o s linguíst i c o s i n d i v i d u a i s . A A M S , n o e n t a n t o , não é o centro d a l i n g u a g e m n o s seres h u m a n o s . É a combinação e n t r e a A M S e a área d e B r o c a que gera palavras e frases, u n i n d o a s s i m o s elementos e m u m todo. A A M S parece s e r i m p o r t a n t e para a fala espontânea. Q u a n d o e s s a área é destruída, o paciente ainda consegue responder a pergunt a s , m a s não é m a i s c a p a z d e f a l a r e s p o n t a n e a mente-écomo se lhe faltasse o i m p u l s o para f a l a r . T a n t o n o s símios c o m o n o h o m e m , e s s e c a m p o dá início a o s m o v i m e n t o s m a n u a i s a d quiridos, e isso nos ajuda a entender m e l h o r a função d a A M S . E l a p o d e t e r , n o h o m e m , u m a função d u p l a : b u s c a r n a memória o s padrões aprendidos d o s m o v i m e n t o s d o s dedos, e também d o s m o v i m e n t o s d o a p a r e l h o f o n a d o r . M a s a i n d a não está c l a r o o m o d o c o m o a s d u a s áreas, a A M S e a área d e B r o c a , t r a b a l h a m e m c o n j u n t o , e q u a i s a s funções d e c a d a u m a .
PENSAMENTO E MOVIMENTO O f a t o d e q u e e s s a s d u a s áreas d e s e m p e n h e m no h o m e m u m d u p l o papel - controle d o s movimentos manuais e d o aparelho fonador - faz alguns pesquisadores acreditarem q u ea linguagem se desenvolveu a partir da crescente h a b i l i d a d e m a n u a l d o s p r i m a t a s . O s símios a p a r e n t e m e n t e p o s s u e m n a F 5 ( p r e c u r s o r a d a área de Broca h u m a n a ) a l g o r i t m o s neuronais q u e concatenam m o v i m e n t o s individuais, e m b o r a as sequências r e s u l t a n t e s c o n t i n u e m s e n d o c u r t a s . E v i d e n t e m e n t e , f a l t a a o s símios a c a p a c i d a d e de articular m o v i m e n t o s complexos e m longas c a d e i a s d e ações, e r e c o r d a r e m - s e d e l a s .
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E s s a c a p a c i d a d e é indispensável não a p e n a s p a r a t o c a r p i a n o , m a s p a r a c o n c a t e n a r sílabas e m palavras, e palavras e m frases. Apenas o h o m e m dispõe d e r e d e s n e u r a i s l o c a i s q u e p o s s i b i l i t a m e s s a s concatenações e m princípio infinitas de m o v i m e n t o s sequenciais. D o ponto d e v i s t a d e s u a história e v o l u t i v a , d e f a t o a f a l a parece estar e s t r e i t a m e n t e ligada a nossas h a b i l i d a d e s m a n u a i s . A s m a i o r e s realizações n a a r t e e n a ciência não e x i s t i r i a m s e m e s s a s h a b i l i d a d e s ; n a d a saberíamos d a r i q u e z a i n telectual d eS i g m u n d Freud, Charles Darwin o u d a s criações m u s i c a i s d e I g o r S t r a v i n s k y s e e s t e s não t i v e s s e m e x p r e s s a d o o u e s c r i t o s u a s i d e i a s , e m p a l a v r a s o u notação m u s i c a l . A o l e r o u o u v i r o s p e n s a m e n t o s científicos o u musicais d e outras pessoas, p o d e m o s chegar a pensá-los nós m e s m o s . O s c e n t r o s d a l i n g u a g e m n o cérebro h u m a n o , p r i n c i p a l m e n t e a área d e B r o c a , p e r m i t e m j u n t a r ações e l e m e n t a r e s d a m u s c u l a t u r a q u e c o m a n d a a articulação v o c a l d e f o r m a m u i t o rápida e p r e c i s a , f o r m a n d o c a d e i a s tão l o n g a s q u a n t o sequeira. D i s p o m o s , para esse f i m , de algoritmos neuronais q u econcatenam o s comandos motores individuais formando séries a r b i t r a r i a m e n t e l o n g a s e s e m p r e d i f e rentes. Esses encadeamentos p o d e m seguir r e g r a s a p r e n d i d a s , c o m o u m a gramática o u o d e d i l h a d o d e u m a peça p a r a p i a n o . A i n d a não s a b e m o s , porém, q u a l é a o r i g e m das e s t r u t u r a s gramaticais q u e o r d e n a m as palav r a s e m f r a s e s s i n t a t i c a m e n t e b e m construídas. A p e s q u i s a biológica e n c o n t r a aí s e u s l i m i t e s . A geração d e sequências g r a m a t i c a i s d e s o n s c a p a z e s d e v e i c u l a r s e n t i d o s e x i g e competências d e t i p o fonológico e sintático, c o m o a s d e s c r i t a s p o r N o a m C h o m s k y . E s s a s competências d e v e m ter se desenvolvido e m c o n j u n t o c o m as c a p a c i d a d e s m o t o r a s , m a s a i n d a não é possível, hoje, responder c o m o isso sedeu. N o s s o s pens a m e n t o s m o t o r e s m u i t a s v e z e s não são s e q u e r e x e c u t a d o s , m a s e x p e r i m e n t a d o s e m silêncio. Nossa capacidade d e pensar desenvolveu-se a p a r t i r d e n o s s a e s p e t a c u l a r inteligência m o t o r a , c o m o s e a moldássemos c o m a s mãos e a e x pressássemos e m p a l a v r a s . ®
PARA SABER MAIS Are we getting smarter? Rising IQ in the twenty-first century. j a m e s R. F l y n n . Cambridge University Press, 2012. Solvingthe IQ puzzle, j a m e s R. F l y n n , e m Scientific American Mind, v o l . 1 8 , n° 5 , págs. 24-31, outubro de 2007. Flynn's effect. M a r g u e r i t e H o l l o w a y , e m Scientific American, v o l . 2 8 0 , n° 1 , págs. 3 - 3 8 , j a n e i r o d e 1 9 9 9 .
janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 6 3
escuta
O psicanalista no hospital E N Q U A N T O
A MEDICINA
T R A B A L H A C O M DOENÇA E M S I ,A PSICANÁLISE
P R I O R I Z A A EXPERIÊNCIA D OA D O E C E R E O S L U T O S Q U EA SITUAÇÃO EVOCA. U MDIFERENCIAL IMPORTANTE
DESSA ABORDAGEM
É A
POSSIBILIDADE D EARTICULAR VERTENTES E SABERES TANTO N O TRABALHO DIRETO C O M O PACIENTE Q U A N T O
N OÂMBITO D A
INSTITUIÇÃO E N ACONSTRUÇÃO D E POLÍTICAS
p o r M a r i a Lívia T o u r i n h o
PÚBLICAS
Moretto
A
A AUTORA MARIA LÍVIA TOURINHO MORETTO é psicanalista, professora doutora em psicologia, professora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, membro do Fórum do Campo Lacaniano de São Paulo, autora de O que pode um a n a l i s t a no hospital? (Casa do Psicólogo, 2013, reimpressão 2014).
psicanálise n a s c e u e s e d e s e n v o l v e u d e n t r o d o h o s p i t a l , c o m a experiência d e M a r t i n C h a r c o t n a Salpêtrière, d e S i g m u n d F r e u d n o H o s p i t a l Geral d e Viena e d e Jacques Lacan n o Hospital d e S a i n t e - A n n e . H o j e , e m n o s s o m e i o , porém, a v i a b i l i d a d e d o método psicanalítico n o c o n t e x t o h o s p i t a l a r p a r e c e s e associar, r a p i d a m e n t e , a dificuldades. N o e n t a n t o , a s pesq u i s a s e o t r a b a l h o já d e s e n v o l v i d o s n e s s a área i n d i c a m a v i a b i l i d a d e d o método psicanalítico n e s s e c o n t e x t o - u m a v e z q u e o q u e d e f i n e o caráter analítico d e u m a prática não é o l u g a r físico o n d e e l a s e r e a l i z a , m a s s i m a s referências teóricas, clínicas e éticas q u e a n o r t e i a m . E s s a m a r c a t e m nos identificado c o m o u m grupo de trabalho c o m p o s t o d e p s i c a n a l i s t a s d e n t r o d a instituição d e saúde e n a u n i v e r s i d a d e s i m u l t a n e a m e n t e e m três âmbitos: assistência, e n s i n o e pesquisa. janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 6 5
A p a r t i r daí, a s questões c o t i dianas convocam o s psicanalistas a c o n s t r u i r d i s p o s i t i v o s clínicos q u e c o n s i d e r e m a importância d a interlocução c o m o s o u t r o s c a m p o s d e s a b e r q u e compõem a c e n a i n s titucional, e o s colocam diante d e desafios q u e evidenciam a i m p o r tância d e pôr e m prática o c o n c e i t o de interdisciplinaridade.
U m a reflexão crítica a r e s p e i t o das d e m a n d a s dirigidas a o psicanalista n o h o s p i t a l indica q u e , d e m o d o g e r a l , a e q u i p e d e saúde c o n v o c a esse profissional q u a n d o e m e r g e m dificuldades próprias d o m a n e j o d a s u b j e t i v i d a d e d o s p a cientes, n u m contexto e m que o a p a r e c i m e n t o d a angústia p a r e c e inevitável, s e j a d o s p a c i e n tes, seja d o s m e m b r o s d e e q u i p e . O q u e j u s t i f i c a , p o r t a n t o , a presença d e u m p s i c a n a l i s t a n o h o s p i t a l é, a n t e s d e t u d o , a p r e sença d o s o f r i m e n t o , a urgência s u b j e t i v a . Aliás, f o i a s s i m d e s d e o começo. I s s o n o s p e r m i t e falar d oq u e c h a m o d e "indicadores d e risco", q u e , s e p r e s e n t e s e m d e t e r m i n a d a s situações, j u s t i f i c a m q u e o psicanalista seja c h a m a d o . E s s a s são situações q u e c o n s t i t u e m p a r a o p s i c a n a l i s t a " i n d i c a d o r e s " d e q u e o s u j e i t o está e m risco d e "apagar-se" c o m o sujeito. O trabalho d o psicanalista n o hospital se 66
f a z n a articulação d a clínica c o m a teoria, e é d e s u a responsabilidade a transmissão d o s a b e r q u e a l i s e constrói. O f a t o d e o t r a b a l h o o c o r r e r n a instituição d e saúde ( e não d e n t r o d e u m consultório) p r o d u z consequências e m vários níveis. Há, n o e n t a n t o , a l g o específico d o t r a b a lho d o psicanalista n o hospital q u e p r o p o n h o c o m o p r e s s u p o s t o básico: s u a atuação s e dá simultaneamente n a articulação d e d u a s v e r t e n t e s : a clínica e a i n s t i t u c i o n a l . A p r i m e i r a está r e l a c i o n a d a a o t r a b a l h o d o p s i canalista c o m pacientes efamiliares, nos diversos m o d o s d e a b o r d a g e m clínica d o s o f r i m e n t o q u e o s e n v o l v e m ; a s e g u n d a , à interlocução d o psicanalista c o m o u t r o s profissionais e equipes d e saúde n o h o s p i t a l e c o m a gestão d e serviços t a n t o n o âmbito a d m i n i s t r a t i v o q u a n t o n o âmbito d o e n s i n o e d a p e s q u i s a n a instituição.
A presença do analista como interlocutor permite a passagem do acontecimento do corpo para a experiência singular; essa transição se faz por meio da construção de uma narrativa
O específico d o t r a b a l h o d o p s i c a n a l i s t a é a articulação simultânea d e s s a s d u a s v e r t e n t e s , o u s e j a , o exercício d a clínica n a instituição e a interlocução c o m o s o u t r o s s a b e r e s , d e m o d o q u e s e j a possível c o n t r i b u i r e f e t i v a m e n t e p a r a a construção d e decisões t a n t o n o âmbito clínico m a i s específico - c a s o a c a s o - q u a n t o n o nível i n s t i t u c i o n a l m a i s a m p l o - n a construção d e políticas públicas.
Indicadores de risco H á n a a t u a l i d a d e a tendência a u m d i s c u r s o científico s o b r e o diagnóst i c o q u e t o m a o s o f r i m e n t o psíquico pela v e r t e n t e d a patologia, favorecendo aquilo q u e u m psicanalista entende c o m o risco principal: o apag a m e n t o d o sujeito. M u i t a s vezes, d i a n t e d o s o f r i m e n t o psíquico, a e q u i p e médica s e i n q u i e t a e s e v a l e d e d e t e r m i n a d a s expressões d i a g nosticas (tais c o m o "ansiedade", "depressão" e t c . ) p a r a s e o r g a n i z a r novamente, namedida e mque e s s a s expressões p o d e m f a c i l i t a r a suspensão d a s i n c e r t e z a s a n g u s tiantes, devolvendo aos profission a i s a condição d e a g i r c o m a s s e r t i vidade: s e m vacilos, é verdade, m a s também s e m q u e s t i o n a m e n t o s . Aqui d e v e m o s n o s deter c o m t o d o cuidado a respeito d ou s oquese faz d o s t e r m o s diagnósticos próprios d e certo discurso d e saber nesse context o , não p e l o s t e r m o s e m s i , m a s p e l a c e r t e z a c o m a q u a l e l e s são e m p r e g a d o s . I s t o é, j u s t a m e n t e , o q u e n o s preocupa: o q u eé eficaz para tratar d a angústia d a e q u i p e p o d e não f u n c i o n a r p a r a o t r a t a m e n t o d a angústia d o paciente. Percebe-se que esse tipo d e a b o r d a g e m - a patologização d o s o f r i m e n t o , a medicalização d o s l u t o s - indica pouca o u n e n h u m a disponibilidade e m face d o d e s a m p a r o , podendo produzir ainda mais desamparo, o q u e p o rs u a vez d i m i n u i signif i c a t i v a m e n t e a força q u e u m p a c i e n t e adoecido precisa ter para lutar pelo q u e l h e é possível. Por isso, vale citar ainda a l g u m a s o u t r a s situações q u e e n v o l v e m o q u e c h a m a m o s aqui d e "indicadores d e risco", n a s quais é i m p o r t a n t e q u e o s p r o f i s s i o n a i s d e saúde façam o c h a m a d o a o psicanalista, ainda q u e a situação não a p a r e n t e i m i n e n t e p e r i g o d e angústia. São e l a s :
Q U A N D O A EQUÍPE p e r c e b e q u e
o p a c i e n t e está s e i d e n t i f i c a n d o c o m a doença, o u s e j a , não f a z a diferença e n t r e " t e r u m a doença" e " s e r u m a doença".
N O S CASOS EM Q U E A E Q U I P E
percebe q u e o paciente utiliza m o d o s d e e n f r e n t a m e n t o contrários o u c o n traditórios à direção d o t r a t a m e n t o ; há chances d e cura e ele se coloca c o m o v e n c i d o p e l a doença, o u v i c e - v e r s a .
EM SITUAÇÕES EM Q U E A EQUIPE
p e r c e b e a reação d e " e s t r a n h a m e n t o " e / o u d e racionalização e x c e s s i v a p o r parte d o paciente, ficando claro q u e ele s e r e f e r e a s u a doença c o m o s e e s t a não f o s s e s u a , s e m s e a p r o p r i a r d e l a .
Q U A N D O A EQUIPE e n c o n t r a d i f i c u l d a d e s p a r a l i d a r c o m a " l i v r e associação" do paciente a respeito d e seus afetos e se f o c a n a doença, d i f i c u l t a n d o a expressão do doente, destituindo-o de sua condição d e s u j e i t o , c o l o c a n d o - o m e r a m e n t e c o m o objeto de seus cuidados.
DIANTE DA A N G Ú S T I A D O PACIENTE,
q u a n d o a equipe f r e q u e n t e m e n t e utiliza u m a atitude "explicativo-causal" s e m sucesso, buscando fazer u s o d o diagnóstico psicológico p a r a t e n t a r e n t e n d e r o s o f r i m e n t o psíquico d o p a c i e n t e .
NAS OCASIÕES E M Q U E A E Q U I P E
p e r c e b e q u e a família a s s u m e u m a a t i t u d e d e exigência d e adaptação d a pessoa a u m a realidad e q u e ela ainda não a s s i m i l o u , o u , a i n d a , e m q u e o s entes queridos a s s u m e m u m a atitude d e negação d a doença, a g i n d o c o m o se o paciente n a d a tivesse.
janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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escuta " M O R R E R É POSSÍVEL" O adoecimento é u m acontecimento que pode ser e n t e n d i d o pela pessoa c o m o u m m a r c o capaz d e fazer u m corte n o percurso d e s u a vida e produzir u m "antes" e u m "depois" d e s s a situação. M u i t a s v e z e s , e s s e e v e n t o d e f l a g r a u m a série d e consequências, e n t r e e l a s a s u r p r e s a o u a experiência d e impotência, o q u e e x i g e u m t r a b a l h o psíquico i m p o r t a n t e d e e n f r e n t a m e n t o e elaboração d e l u t o s , s e m o qual o paciente encontra dificuldade para lutar p e l o q u e l h e é possível. R e s s a l t o a q u i a diferença e n t r e a s noções d e acontecimento e experiência. O p r i m e i r o r e f e r e - s e ao fato e m si, n o c a s o o a d o e c i m e n t o propriam e n t e d i t o . P o r experiência p r o p o n h o q u e s e c o m p r e e n d a a dimensão s u b j e t i v a d e s s e f a t o . O a c o n t e c i m e n t o e m si - n o caso a d o e n ça - é a l v o d i r e t o d a m e d i c i n a c o m t o d o o s e u a p a r a t o teórico-clínico. N ó s , p s i c a n a l i s t a s , s o m o s p r o f i s s i o n a i s d a experiência, q u e e n faticamente n o sinteressa. Trabalhamos c o m pessoas a partir dos a c o n t e c i m e n t o s e de suas consequências e m vários s e n t i d o s . O m o d o pelo qual cada u m lida c o m o a c o n t e c i m e n t o não está a p e n a s a s s o c i a d o à n a t u r e z a d a situação e m s i , m a s às condições s u b j e t i v a s d e s s a p e s s o a . É n a relação c o m o a n a l i s t a q u e o paciente t e m a o p o r t u n i d a d e de tratar d o adoecim e n t o c o m o a c o n t e c i m e n t o de seu corpo, algo q u e só p o d e s e r d i t o p o r e l e m e s m o . A clínica psicanalítica n o h o s p i t a l p r o p o r ciona à pessoa a possibilidade de passagem d o
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a c o n t e c i m e n t o d o c o r p o p a r a a experiência s i n g u l a r : i s s o não s e a c o n t e c e s e m u m i n t e r l o c u t o r . E s s a transição s e f a z p o r m e i o d a construção d e u m a n a r r a t i v a n a relação c o m o a n a l i s t a . O a d o e c i m e n t o e x i g e u m esforço psíquico extraordinário d o p a c i e n t e p a r a " a c o m o d a r " e s s e f a t o e m s u a v i d a psíquica, m u i t a s v e z e s t e n t a n d o d a r s e n t i d o a o q u e a princípio, m u i t a s v e z e s , é s e m s e n t i d o a l g u m para ele. A s s i m , é habitual que as pessoas c o m e c e m a lidar c o m o a d o e c i m e n t o n a linha da tentativa de lhe atribuir algum sentido, o q u e se expressa e m p e r g u n t a s c o m o : " O q u e significa i s s o ? " ; " Q u a l o s e n t i d o d i s s o e m m i n h a v i d a ? " . É f r e q u e n t e q u e , p a r a além d o " s e m s e n t i d o " , d i a n t e d e u m a situação d e s o f r i m e n t o inédito, o p a c i e n t e - a n g u s t i a d o não e n c o n t r e p a l a v r a s p a r a s e r e f e r i r a o q u e a c o n t e c e c o m e l e próprio e e x p e r i m e n t e u m e s t r a n h a m e n t o típico d a q u e l e q u e s e e n c o n tra esvaziado d esaber e d esentido. Pode-se entender que u m a d a scoisas que a experiência d o a d o e c i m e n t o e v o c a n o p a c i e n t e ( e n a e q u i p e q u e o a c o m p a n h a ) é a lembrança d a condição h u m a n a e m s u a dimensão d e finitude, h a b i t u a l m e n t e recalcada. O i m p a c t o d e s s a lembrança s e f a z n o t a r e m outra pergunta frequente, que quase sempre a p a r e c e n a s p r i m e i r a s associações d o p a c i e n t e e m atendimento: "Por que comigo?" o u "Por q u e a g o r a ? " . E s s a s indagações são i m p o r t a n tíssimas e s p e c i a l m e n t e p o r q u e , a r i g o r , não têm r e s p o s t a i m e d i a t a . E, c a s o h a j a , terá d e s e r construída.
D i a n t e d a angústia d a condição E e m situações d e emergência O que principalmente inédita, é f u n d a m e n t a l q u e o p s i c a das singularidades q u e o psicanase perde na nalista possibilite a o paciente, p o r lista é c o n v o c a d o a atender, q u a n d o experiência direta m e i o d a o f e r t a d e u m espaço d e f a l a , a e q u i p e d e saúde s e e n c o n t r a c o m a construção d e u m a n a r r a t i v a n a d i f i c u l d a d e s d i a n t e d e manifestações de adoecimento q u a l e l e p o s s a a s s u m i r a condição d e d e s o f r i m e n t o psíquico d o p a c i e n t e , é a ilusão de a u t o r d e s u a história, a f a s t a n d o - s e , n a especialmente quando osofrimento imortalidade; em tese, m e d i d a d o possível, d a condição d e exige u m t r a t a m e n t o singular. É o q u e c o a d j u v a n t e e m u m cenário n o q u a l e l e diante do impossível basta para u m c h a m a d o . estaria identificado c o m o objeto dos R e s p o n d e n d o a e s s a convocação, cabe o luto; quando c u i d a d o s médicos. P r o p o r c i o n a r u m o analista introduz o singular n o deparamos com o d i s p o s i t i v o clínico q u e favoreça a f a l a c a m p o epistêmico, não a p e n a s c o possível cabe a luta é b e m diferente d e r e s p o n d e r ao chalocando-se ao lado d o paciente, m a s m a d o d o p a c i e n t e f a l a n d o p a r a / p o r ele. também c o m o m e m b r o d e e q u i p e , A experiência d e a d o e c i m e n t o está f r e q u e n ciente de q u e é o m o d o pelo qual ele r e s p o n d e a t e m e n t e associada a perdas: e n t r a r e m contato essas d e m a n d a s que lhe possibilita, por m e i o d a c o m afinitude deixa marcas, e a principal delas participação n o c a m p o d a s decisões, s u s t e n t a r p a r e c e s e r a constatação d e q u e " m o r r e r é a clínica psicanalítica n o h o s p i t a l , f a v o r e c e n d o possível". O q u e s e p e r d e n a experiência d e também, d e c e r t o m o d o , a própria clínica médica. a d o e c i m e n t o é a ilusão d e i m o r t a l i d a d e . A o q u e t u d o i n d i c a , n a instituição h o s p i t a l a r A clínica psicanalítica n o s e n s i n a q u e aí s e o s o f r i m e n t o psíquico é inevitável. E m t o d o dá u m a experiência n a q u a l a m o r t e p a s s a d o planejamento d etrabalho cabe considerar o p s i q u i s m o p a r a o c a m p o d o possível - o q u e , inevitável. D i t o d e o u t r o m o d o : é i m p o r t a n t e curiosamente, parece p r o d u z i r e m alguns sujeinão t r a b a l h a r n a contramão d o inevitável. O u t o s o desejo d e lutar pela vida. Desse p o n t o d e s e j a , d i a n t e d o s o f r i m e n t o psíquico, não há v i s t a , e s s a b a t a l h a não s e f a z d e s v i n c u l a d a d o razão a l g u m a p a r a q u e o p r o f i s s i o n a l d a saúde acredite que e n c o n t r o u u m p r o b l e m a ; ele f a z p r o c e s s o d e elaboração d o l u t o d e s s a condição p a r t e d a situação, e é a s s i m q u e d e v e s e r a b o r perdida (idealizada?) d e imortalidade. E m tese, d a d o . Não é u m a intercorrência, é u m e l e m e n t o d i a n t e d o impossível, c a b e o l u t o ; d i a n t e d o p o s que faz parte d o c o n j u n t o . sível, c a b e a l u t a . D e s s e p r o c e s s o d e l u t o p a r e c e e m e r g i r a decisão d e l u t a r p e l a v i d a possível. U m a v e z m a r c a d a a presença d o p s i c a n a l i s -
A FÓRMULA Q U E NÃO S E R V E Se o a d o e c i m e n t o c o m o a c o n t e c i m e n t o d o c o r p o p r o d u z experiências s i n g u l a r e s , c o m o e l e m e n t o d e u m c a m p o epistêmico e s s e f a t o conecta diversos saberes, convocando a equipe d e saúde a o d i s c u r s o i n t e r d i s c i p l i n a r n o c a m p o institucional, m a r c a d o pelas diferentes ancorag e n s éticas. F u n d a d a n a lógica d o u n i v e r s a l , o h o s p i t a l , c o m o q u a l q u e r instituição, s e o r g a n i z a m a l e m face d o s u r g i m e n t o das singularidades, t e n t a n d o r e t o r n a r , t a n t o q u a n t o possível, à lógica p r o t o c o l a r d o " p a r a t o d o x, então y " . S e n a o r d e m médica o i m p e r a t i v o m e t o d o lógico é a exclusão d a s u b j e t i v i d a d e t a n t o d o médico q u a n t o d o p a c i e n t e , é n a c e n a médica que m u i t a s vezes essa subjetividade retorna, i n d i c a n d o q u e a fórmula a n t e r i o r ( " p a r a t o d o x , então y " ) não s e r v e , p o i s "há p e l o m e n o s u m x p a r a o q u a l y não f u n c i o n a " .
PARA SABER MAIS O que pode um analista no hospital? M a r i a Lívia T o u r i n h o M o r e t t o . Casa d o Psicólogo, 2 0 1 3 . Psicanálise e saúde mental - Uma aposta. Sónia A l b e r t i e Ana Cristina Figueiredo. C o m p a n h i a d e Freud, 2006. Psicanálise e hospital. M a risa Decat d e M o u r a . Revinter, 2000.
ta n ohospital, vale ressaltar que sua principal a p o s t a d e t r a b a l h o s e g u e e s t a direção: r e s g a t a r o sujeito, nam e s m a medida e m que seu trabalho possibilita a passagem d o a c o n t e c i m e n t o d e c o r p o p a r a a experiência s i n g u l a r . É nesse sentido que se pode dizer que falar a u m p s i c a n a l i s t a , p o r t a n t o , não é o m e s m o q u e descrever u m a c o n t e c i m e n t o . Falar a u m psicanalista é contar-se. N e s t e p o n t o é desejável q u e f i q u e c l a r a p a r a o l e i t o r a importância q u e o p s i c a n a l i s t a c o n f e r e à oferta d e u m dispositivo d e fala a o paciente angustiado, porque, ainda que confiante n o s avanços d a ciência e m n o m e d a saúde e d a v i d a , é função d o a n a l i s t a c o n v o c a r o s u j e i t o à r e s p o n s a b i l i d a d e e às consequências d e s u a s e s c o l h a s , p o r q u e o q u e a ciência n u n c a fará p o r nós - e i s s o não i m p o r t a o q u a n t o e l a a v a n c e - é escolher o que pretendemos, afinal d e contas, fazer de nossa vida. ffi janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 6 9
comportamento
Upgrade
d o cérebro VOCÊ G O S T A R I A D E " A B A L I Z A R " A L G U M A S "LIMPAR"
FUNÇÕES C O G N I T I V A S ?
O U
INFORMAÇÕES D E S U AMEMÓRIA? A POPULARIZAÇÃO D O S
COMPUTADORES
ESTÁ I N F L U E N C I A N D O
NOSSAS HABILIDADES MENTAIS, TERMOS
A MANEIRA
C O M O
PENSAMOS
E É CADA V E Z MAIS C O M U M
D AT E C N O L O G I A PARA
S
USAR
DESCREVÊ-LAS
e você p u d e s s e a p r i m o r a r u m a c a p a c i d a d e d o cér e b r o , q u a l e s c o l h e r i a ? A r e v i s t a Scientific American Mina, p a r c e i r a d e M e n t e e Cérebro n o s E s t a d o s Unidos, f e z essa pergunta a o s leitores e m u m a p e s q u i s a o n - l i n e . E m 2 1 5 r e s p o s t a s , a redação n o t o u u m a tendência: m u i t o s u s a r a m vocabulário d a t e c n o l o g i a , c o m o memória R A M e cartões S D , p a r a d e s c r e v e r características d o cérebro e funções c o g n i t i v a s . C l a r a m e n t e , a p o p u l a r i z a ção d e s m a r t p h o n e s e c o m p u t a d o r e s está i n f l u e n c i a n d o a maneira c o m o pensamos nossas habilidades mentais. O f o c o tecnológico p o d e e x p l i c a r o f a t o d e 2 5 % t e r e m e s c o l h i d o m e l h o r a r a memória. D i s p o s i t i v o s tecnológicos capazes d e salvar r o t i n e i r a m e n t e u m a infinidade d e dados n o s l e m b r a m d o v a l o r d o m a i o r a c e s s o à informação. A c r e s c e n t e prevalência d e demência, q u e a f e t a 3 5 , 6 milhões
d e p e s s o a s e m t o d o o m u n d o , também p o d e t o r n a r n o s s a c a p a c i d a d e d e recordação e s p e c i a l m e n t e i m p o r t a n t e . C a d a v e z m a i s g r u p o s d e p e s q u i s a estão t r a b a l h a n d o p a r a d e s c o brir f o r m a s de c o m b a t e r o p r o b l e m a . U m a n o v a a b o r d a g e m u t i l i z a o u l t r a s s o m p a r a a u m e n t a r o p o d e r d e ação d e m e d i c a m e n t o s (veja U l t r a s s o m f o c a l i z a d o , na pág. 72). A p r e n d e r foi o u t r a habilidade bastante citada. N a maioria d a s v e z e s , a intenção e r a d o m i n a r matemática, música o u línguas e s t r a n g e i r a s . N e s s e s e n t i d o , p e s q u i s a s r e c e n t e s m o s t r a m q u e a l t e r a r e s t r a t e g i c a m e n t e o s padrões d e d i s p a r o n e u r a l p o d e a j u d a r a a p r i m o r a r funções r e l a c i o n a d a s à a p r e n d i z a g e m . P o r e n q u a n t o , e s s a s intervenções estão r e s t r i t a s à prática médica (veja M i r a r o s neurónios c e r t o s , na pág. 73), m a s técnicas s e m e l h a n t e s também p o d e m e s t i m u l a r a c r i a t i v i d a d e e a concentração.
F i n a l m e n t e , n e n h u m a p e s q u i s a hipotética s o b r e o "upgrade d o cérebro" - o u d a f o r m a c o m o o p e n s a m o s - e s t a r i a c o m p l e t a s e m i d e i a s i n s p i r a d a s n a ficção científica. D o i s l e i tores escreveram que gostariam de gravar seus p e n s a m e n t o s p a r a r e p r o d u z i r s e u s monólogos i n t e r n o s . O u t r o s s u g e r i r a m conexões n e u r a i s c o m a i n t e r n e t p a r a o b t e r informações m a i s r a p i d a m e n t e . H o u v e também q u e m d e s e j a s s e u m i n t e r r u p t o r q u e p u d e s s e u n i r n o s s a s m e n t e s n u m a espécie d e consciência cósmica p a r a e v i t a r c r i s e s humanitárias. E s s a s noções p o d e m p a r e c e r improváveis, m a s p e s q u i s a s feitas n o m u n d o real c o n t i n u a m a n o s s u r p r e e n d e r c o m a s n o v a s t e c n o l o g i a s . U m e x e m p l o é a estimulação d a língua c o m c h o q u e s elétricos p a r a a j u d a r a r e s t a u r a r a m o b i l i d a d e d e p a c i e n t e s c o m d a n o s n e u r a i s (veja na pág. 73). A s e g u i r , u m a seleção d o s plugins e power-ups m e n t a i s q u e estão s u r g i n d o . janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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comportamento
C O G N I Ç Ã O TURBINADA Pessoas que responderam à pesquisa gostariam de dominar: 52 (40%) Memória 25 (19%) Aprendizagem 21 (16%) Raciocínio 20 (15%) Foco 13 (10%) Criatividade e resolução de problemas
CORPO CIBORGUE Muitos entrevistados gostariam de redefinir radicalmente os limites biológicos, alterando a arquitetura cerebral, o controle motor, a sensibilidade e a dor.
TRAÇOS D E P E R S O N A L I D A D E Algumas propostas tinham teor moral, como vencer a dependência, ter mais coragem e praticar o altruísmo.
D E T U D O UM P O U C O Visão de ciborgue, comunicação telepática e ficção científica - implantes cheios de inspiração foram pedidos frequentes. 19/215
CURAR DOENÇAS Alguns leitores solicitaram tratamentos para distúrbios mentais e cerebrais.
12/215
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ULTRASSOM FOCALIZADO TÉCNICA P O D E M E L H O R A R EFICÁCIA D E M E D I C A M E N T O S POTENCIALIZAR OUTROS
E
TRATAMENTOS
O cérebro c o n t a c o m d e f e s a s formidáveis. Além d o crânio, a s cél u l a s q u e f o r m a m a b a r r e i r a hematoencefálica a j u d a m a i m p e d i r q u e substâncias tóxicas e patogênicas a t i n j a m o s i s t e m a n e r v o s o c e n t r a l . D e s v a n t a g e m d e s s a proteção é q u e e l a b l o q u e i a o a c e s s o d e m e d i c a m e n t o s a o cérebro. A g o r a , p e s q u i s a d o r e s t e s t a m u m a nova a b o r d a g e m para atravessar essa barreira: as ondas sonoras. O físico e médico K u l l e r v o H y n y n e n e s u a e q u i p e d o I n s t i t u t o d e P e s q u i s a S u n n y b r o o k , e m T o r o n t o , e s t u d a m u m a técnica p a r a a d m i n i s t r a r m e d i c a m e n t o p o r m e i o d e u m a injeção d e b o l h a s microscópicas d e gás. D e p o i s d a inoculação, o s p a c i e n t e s u s a m u m a t o u c a q u e d i r e c i o n a a s o n d a s s o n o r a s p a r a l o c a i s específic o s d o cérebro, a b o r d a g e m c h a m a d a d e u l t r a s s o m f o c a l i z a d o d e a l t a i n t e n s i d a d e . A s oscilações f a z e m a s b o l h a s v i b r a r , a f a s t a n d o t e m p o r a r i a m e n t e a s células d a b a r r e i r a hematoencefálica, o q u e p e r m i t e i n f i l t r a r m e d i c a m e n t o s n o cérebro. H y n y n e n e s e u s c o l e g a s e s t u d a m a p l i c a r o método p a r a a d m i n i s t r a r q u i m i o t e r a p i a e m pacientes c o m t u m o r e s cerebrais. Eles e o u t r o s grupos p l a n e j a m t e s t e s s e m e l h a n t e s c o m p e s s o a s q u e s o f r e m d e o u t r a s doenças d o cérebro, c o m o A l z h e i m e r . O s médicos começam a c o n s i d e r a r e s s e r e c u r s o c o m o a l t e r n a t i v a à c i r u r g i a c e r e b r a l . P a c i e n t e s c o m distúrbios d o m o v i m e n to, c o m o Parkinson e distonia, cada vez mais recebem tratamento p o r m e i o d eeletrodos i m p l a n t a d o s , capazes d e interferir n a atividade cerebral irregular. Pesquisadores d a Universidade d a Virgínia e s p e r a m u s a r o u l t r a s s o m f o c a l i z a d o p a r a a d m i n i s t r a r lesões térmicas p o r radiofrequência p r o f u n d a m e n t e n o cérebro s e m a necessidade d ecirurgia convencional. " U t i l i z a r o u l t r a s s o m p a r a c a u s a r lesões n o c o r p o não é u m c o n c e i t o n o v o . A a b o r d a g e m , porém, não p o d e s e r a p l i c a d a n o cérebro d e v i d o a o c o n t o r n o , d e n s i d a d e e e s p e s s u r a d o crânio", d i z o n e u r o l o g i s t a B i n i t S h a h , d a U n i v e r s i d a d e d a Virgínia. A n o v a técnica, s e g u n d o e l e , s u p e r a e s s e obstáculo: é c a p a z d e a p o n t a r m a i s d e m i l f l a s h e s d e l u z n u m a área-alvo. O s r e s u l t a d o s p r e l i m i nares d eShah e seus colegas c o m pacientes c o m t r e m o r essencial ( p r o b l e m a neurológico c o m u m , g e r a l m e n t e b e n i g n o , q u e c a u s a t r e m o r e s n a s mãos e braços) f o r a m p u b l i c a d o s n o New England Journal of Medicine, n o a n o p a s s a d o . E l e s c o n s t a t a r a m q u e a lesão ultrassônica d e p a r t e d o tálamo a j u d o u a d i m i n u i r a agitação m o tora. Agora, p r e t e n d e m expandir o s resultados d a pesquisa e lançar o u t r o s e s t u d o s p i l o t o s p a r a e x p l o r a r s i n t o m a s d e P a r k i n s o n . O s benefícios d o u l t r a s s o m f o c a l i z a d o p o d e m s e e s t e n d e r m u i t o além d a restauração d a m o b i l i d a d e e administração d e d r o g a s . O u t r o s g r u p o s d e p e s q u i s a e x p l o r a m s u a utilização t a m bém n o t r a t a m e n t o d o t r a n s t o r n o o b s e s s i v o - c o m p u l s i v o ( T O C ) e d a d o r neuropática. (por Bret Stetka, jornalista científico)
MIRAR OS NEURÓNIOS CERTOS O D E S A F I O D A ESTIMULAÇÃO C O M É A T I N G I R ÁREAS C A D A V E Z M A I S
C A M P O S ELÉTRICOS E MAGNÉTICOS ESPECÍFICAS
C a m p o s elétricos e magnéticos são c a p a z e s d e i n f l u e n c i a r e a l t e r a r a ação d e células n e u r a i s . O p r o b l e m a é q u e g e r a l m e n t e a f e t a m a s células i n d i s c r i m i n a d a m e n t e , inclusive as sadias. Agora, o s pesquisadores estudam c o m o a t i n g i r e s s a s áreas m a i s p r e c i s a m e n t e p a r a t r a t a r o câncer c e r e b r a l e a depressão m a i o r . E m 2011, o Food and DrugAdmin i s t r a t i o n ( F D A , órgão q u e c u i d a d a regulação d e d r o g a s e a l i m e n t o s n o s Estados Unidos) aprovou u m a touca portátil q u e d i s p a r a c a m p o s elétricos alternados d e baixa intensidade para tratar t u m o r e s e m a d u l t o s c o m glioblastoma m u l t i f o r m e recorrente, a f o r m a mais c o m u m e persistente d e câncer n o cérebro. Células cancerígen a s q u e s e d i v i d e m r a p i d a m e n t e têm f o r m a e c a r g a elétrica específicas, o q u e p e r m i t e q u e o s c a m p o s d e força a s d e s t a q u e m . A destruição d a máquina
d e c o p i a r células t u m o r a i s p o d e r i a incitá-las a o suicídio. A t e c n o l o g i a já está e m f a s e de teste contra outros tipos d e câncer, c o m o o d e pulmão e o m e n i n g i o m a (que atinge as m e m b r a n a s q u e r e c o b r e m e p r o t e g e m o cérebro). O u t r a técnica e m e r g e n t e procura atingir alvos específicos p a r a t r a t a r a depressão m a i o r . Ainda e m fase experimental, a terapia magnética c o n v u l s i v a ( T M C ) c o b r e c e r t a s áreas d o cérebro c o m i n t e n s o s e f o r t e s c a m p o s magnéticos a l t e r n a d o s , o q u e p r o v o c a alterações químicas n o s neurónios q u e o s f a z e m d i s p a r a r s i m u l taneamente, induzindo a u m a convulsão. O o b j e t i v o é o m e s m o d a t e r a p i a eletroconvulsiva (ECT), popularmente conhecida c o m o terapia de choque. Por razões não e s c l a r e c i d a s , p r o v o c a r a t i v i d a d e elétrica n o córtex a l i v i a s i n t o m a s
do transtorno. N o entanto, a ECT atinge u m a faixa m a i o r d e t e c i d o . O s e s p a s m o s cerebrais p o d e m provocar perda d e memória e o u t r o s e f e i t o s c o l a t e r a i s negativos. O s pesquisadores esperam, n u m f u t u r o próximo, s u b s t i t u i r e s s a a b o r d a g e m p e l a T M C l o c a l i z a d a , (por Julia Calderone, jornalista científica)
CHOQUE NA LÍNGUA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA P O D E A J U D A R A R E P A R A R D A N O S
U m f a t o p o u c o c o n h e c i d o : a língua é d i r e t a m e n t e c o n e c t a d a a o t r o n c o c e r e b r a l . A g o r a , o s c i e n t i s t a s exp l o r a m e s s a característica anatómica p a r a a j u d a r n a reabilitação neurológica. P e s q u i s a d o r e s d a U n i v e r s i d a de de Wisconsin-Madison descobriram recentemente q u e e s t i m u l a r e l e t r i c a m e n t e e s s e órgão p o d e a j u d a r p a c i e n t e s c o m e s c l e r o s e múltipla a a n d a r d e f o r m a m a i s e q u i l i b r a d a . A i n d a s e m c u r a , a doença d a n i f i c a o revestimento ao redor dos nervos, interrompendo a comunicação e n t r e o c o r p o e o cérebro. A p e r d a d e controle m u s c u l a r é u m dos principais s i n t o m a s . E m u m e s t u d o p u b l i c a d o n o Journal ofNeuroEngineeringand Rehabilitation, o n e u r o c i e n t i s t a Y u r i D a n i l o v e s u a e q u i p e a p l i c a r a m i m p u l s o s elétricos i n d o l o r e s , p o r 1 4 s e m a n a s , n a p o n t a d a língua d e p a c i e n t e s c o m a patologia e n q u a n t o f a z i a m fisioterapia. Aqueles q u e rec e b e r a m o estímulo m e l h o r a r a m o d o b r o e m variáveis c o m o equilíbrio e e s t a b i l i d a d e e m comparação c o m
NEURAIS
u m grupo de controle que f e z o s exercícios, m a s não foi s u b m e t i d o à suave c a r g a elétrica. D a n i l o v explica q u e e s s e órgão t e m u m a v a s t a integração s e n s o r i a l e m o t o r a c o m o cérebro. O s n e r v o s , e m s u a p o n t a , são d i r e t a m e n t e c o n e c t a d o s a o t r o n c o encefálico, q u e c o n t r o l a p r o c e s s o s c o r p o r a i s básicos. P e s q u i s a s a n t e r i o r e s d e m o n s t r a m q u e o e n v i o d e p u l s o s elétricos através d a língua a t i v a a r e d e n e u r a l r e l a c i o n a d a a o equilíbrio, o q u e p o d e reforçar o c i r c u i t o e n f r a q u e c i d o p e l a e s c l e r o s e múltipla. O s c i e n t i s t a s começaram a u t i l i z a r e s s a técnica p a r a t r a t a r p a c i e n t e s c o m p e r d a d e visão, d e r r a m e e danos causados pelo Parkinson. "Acredito que encont r a m o s u m n o v o c a m i n h o p a r a a reabilitação d e m u i t o s distúrbios neurológicos", c o m e m o r a D a n i l o v . (por Ester Hsieh, jornalista) janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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• NEUROQUÍMICA
Dependentes de bronzeamento LUZ
ULTRAVIOLETA ATIVA AS MESMAS
DROGAS OPIOIDES, C O M O
A
VIAS
DE RECOMPENSA CEREBRAL Q U E
HEROÍNA
A p e s a r d a c o n h e c i d a associação e n t r e b r o n z e a m e n t o s e m proteção e r i s c o d e câncer d e p e l e , m u i t o s s e e x põem a o s o l e m e x c e s s o d u r a n t e o verão. D e a c o r d o c o m u m e s t u d o p u b l i c a d o n a Ce//, i s s o o c o r r e p o r motivações q u e vão m u i t o além d a v a i d a d e d e " p e g a r u m a c o r " . N o e x p e r i m e n t o r e l a t a d o , c a m u n d o n g o s ficaram d e p e n d e n t e s d e b e t a e n d o r f i n a , u m a molécula o p i o i d e endógena produzida pela pele q u a n d o exposta à l u z ultravioleta. Pesquisadores d o Hospital Geral d e Massachusetts examinaram minuciosamente o sistema opioide, o camin h o d a r e c o m p e n s a p e r c o r r i d o p o r d r o g a s c o m o a heroína. T r a b a l h o s a n t e r i o r e s já h a v i a m c o n s t a t a d o q u e a b e t a e n dorfina e o p i g m e n t o d a pele, a m e l a n i n a , s e o r i g i n a v a m d a m e s m a proteína. O u t r o s e s t u d o s também a p o n t a m n e s s a direção: p e s s o a s q u e s e b r o n z e i a m f r e q u e n t e m e n t e a p r e s e n t a r a m s i n t o m a s d e abstinência q u a n d o i n g e r i r a m u m a droga que bloqueou o s receptores opioides. Nesse novo estudo, cientistas s u b m e t e r a m ratos depil a d o s a u m a d o s e diária d e l u z u l t r a v i o l e t a s u f i c i e n t e p a r a bronzear m a ss e mprovocar queimaduras - equivalente a 2 0 o u 3 0 m i n u t o s d o s o l d o m e i o - d i a d a Flórida p a r a u m ser h u m a n o d e pele clara. Depois d e alguns dias, o s níveis d e b e t a e n d o r f i n a a u m e n t a r a m n o s a n g u e d o s
camundongos. E mseguida, o s pesquisadores avaliaram, c o m c a l o r e t o q u e , a tolerância à d o r , u m m a r c a d o r d a dependência d e d r o g a s o p i o i d e s . O s r a t o s s u b m e t i d o s a o s r a i o s U V d e m o n s t r a r a m l i m i a r até três v e z e s m a i s e l e v a d o d o q u e o s r a t o s q u e não p a s s a r a m p e l o b r o n z e a m e n t o . A resistência a o incómodo a u m e n t o u n a m e s m a m e d i d a e m q u e o s níveis d e b e t a e n d o r f i n a s e e l e v a r a m . Q u a n d o o s ratos bronzeados receberam u m bloqueador opioide, o limiar d edor voltou a onormal. O s animais a p r e s e n t a r a m também s i n t o m a s d e abstinência, c o m o t r e m o r e s nas patas e ranger d edentes, chegando a m o d i ficar c o m p o r t a m e n t o s p a r a evitá-la: a q u e l e s q u e r e c e b e r a m b l o q u e a d o r e s d e o p i o i d e e m u m a caixa escura preferiam passar o t e m p o e m u m a branca, apesar da propensão n a t u r a l d o s r o e d o r e s a a m b i e n t e s s e m iluminação. Seres h u m a n o s e ratos c o m p a r t i l h a m esses processos químicos. " A b e t a e n d o r f i n a p o d e c a u s a r dependência e m p e s s o a s " , a c r e d i t a o c o a u t o r d o e s t u d o , D a v i d Fisher, d i r e t o r d o Programa M e l a n o m a n o Hospital Geral d e Massachusetts. " T o m a r s o l é g r a t i f i c a n t e p a r a o cérebro p o r q u e p r e c i s a m o s d e v i t a m i n a D " , e x p l i c a . O próximo p a s s o , d i z , é i n v e s t i g a r s e há relação d e s s e s p r o c e s s o s c o m t r a n s t o r n o s a f e t i v o s s a z o n a i s , o q u e p o d e p e r m i t i r u m n o v o a l v o terapêutico.
neurocircuito 2
• COGNIÇÃO
Ginástica para o cérebro" não deixa você mais inteligente li
Não há evidências científicas sólidas q u e v a l i d e m a eficácia d e j o g o s e p r o g r a m a s d e c o m p u t a d o r e s q u e p r o m e t e m brain training ( t r e i n o p a r a o cérebro). É o q u e a f i r m a u m d o c u m e n t o a s s i n a d o p o r 7 0 n e u r o c i e n t i s t a s e psicólogos c o g n i t i v o s d e vários países. " N ã o há r e s u l t a d o s n a literatura q u e s u p o r t e m o a r g u m e n t o d eq u e 'jogos cerebrais' alterem o funcionamento neural d ef o r m a a melhorar o desempenho cognitivo n o d i a a d i a , p r e v e n i r o declínio c o g n i t i v o o u doenças d o cérebro", diz o texto divulgado pela Universidade S t a n f o r d e pelo I n s t i t u t o M a x Planck d e Berlim para o D e s e n v o l v i m e n t o H u m a n o . D e a c o r d o c o m o psicólogo D a v i d H a m b r i c k , p r o f e s s o r d a U n i v e r s i d a d e d o E s t a d o d e M i c h i g a n , é u m a má notícia p a r a a indústria d o t r e i n o c e r e b r a l , m a s não é s u r p r e s a . H á p o u c o m a i s d e u m a década, o c o n s e n s o n a p s i c o l o g i a é q u e a inteligência e m s i não p o d e s e r s i m p l e s m e n t e a u m e n t a d a . S e praticamos m u i t o u m a tarefa, ficamos m e l h o r e s n e s s a a t i v i d a d e específica e t a l v e z e m o u t r a s s i m i l a r e s . M a s nunca e m tarefas e m geral. "Jogar d e t e r m i n a d o v i d e o g a m e c o m frequência, p o r e x e m p l o , c e r t a m e n t e o fará ficar m e l h o r n o j o g o . M a s a f i r m a r c o m c e r t e z a q u e você desempenhará m e l h o r t a r e f a s p a r e c i d a s n o m u n d o r e a l não é possível", e x p l i c a H a m b r i c k . " C o m c e r t e z a há a l g o e r r a d o n e s s a s p r o m e s s a s d e rápidos g a n h o s d e inteligência. Até q u e h a j a conclusões m a i s c o n s i s t e n t e s , i n v e s t i r e m ginástica p a r a o cérebro é desperdício d e t e m p o e d i n h e i r o . "
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janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o 75
l i v r o | resenha
PSICOSSOMA V PSICOSSOMA V - INTEGRAÇÃO, DESINTEGRAÇÃO E LIMITES. R u b e n s M a r c e l o V o l i c h , W a g n e r Rannã e M a r i a Elisa P e s s o a Labaki (orgs.). C a s a d o Psicólogo, 2 0 1 4 . 4 8 8 págs. R $ 7 5 , 0 0 .
lllbr..-
Além d o c o r p o q u e a d o e c e NO
RECÉM-LANÇADO
P S I C O S S O M A V, PSICANALISTAS A B O R D A M
TRAUMAS,
FORMAS
CONTEMPORÂNEAS D E S O F R E R E TENDÊNCIA À MEDICALIZAÇÃO D O S A F E T O S por Gláucia L e a l
A
Recém-lançado, o l i v r o c o m 3 3 a r mente se manifesta n ocorpo - e "No polo neurótico tigos t e m c o m o proposta "ampliar as vice-versa - a cada etapa d o desenda economia f r o n t e i r a s d a p s i c o p a t o l o g i a clássica, volvimento, n o s gestos, na sexualidade, o f e r e c e n d o recursos para suplantar no a d o e c i m e n t o e cura, n o desejo, n o psicossomática i m p a s s e s d a prática médica d e s e n c a envelhecimento, n a morte. Cada m o ainda é possível d eados por u m olhar excessivamente m e n t o d a existência é d e l i n e a d o p e l a s encontrar tentativas de f r agmentados sobre o paciente e p a r t i c u l a r i d a d e s d a s transformações seus processos devida", escrevem n a forjadas n a carne e n o s ossos. Diante integração marcadas apresentação d a o b r a o s o r g a n i z a d o d e s s a r e a l i d a d e inexorável, o c o r p o por funcionamentos res R u b e n s M a r c e l o Volich, W a g n e r t a n t a s v e z e s n e g a d o p e l o a n a l i s t a atrás simbólicos e R a n n a e M a r i a Elisa P e s s o a Labaki. d o divã - g a n h a espaço n a c e n a clínica. representativos e por N o t e x t o d e apresentação, a f i r m a m : P a r e c e impossível não v e r o q u a n t o a s p e c t o s psíquicos e físicos s e e n g e n - melhores possibilidades " N o p o l o neurótico d a e c o n o m i a psicossomática a i n d a é possível dram e seconfundem - contemplando de elaboração." e n c o n t r a r t e n t a t i v a s d e integração t a n t o limitações q u a n t o p o s s i b i l i d a d e s . J u s t a m e n t e p o r s e r e m indissociáveis, t o r n a - s e impraticável m a r c a d a s p o r f u n c i o n a m e n t o s simbólicos e r e p r e s e n t a t i v o s d e t e r m i n a r o n d e s e e n c e r r a m u n s e s e i n i c i a m o u t r o s . O n d e e p o r m e l h o r e s p o s s i b i l i d a d e s d e elaboração". falta o p s i q u i s m o , t r a n s b o r d a m as impossibilidades d e Os mais 4 0 profissionais q u eparticipam daobra trazem simbolização e somatizações. O n d e f a l t a o c o n t a t o c o m o d i f e r e n t e s experiências d e a t e n d i m e n t o , t a n t o e m clínicas c o r p o , a v i d a m e n t a l p a d e c e . E c a b e a o a n a l i s t a a c o m p a n h a r p a r t i c u l a r e s q u a n t o e m instituições. Trajetórias e p e r t e n c i o p a c i e n t e n e s s e p e r c u r s o o n d e o s c a m i n h o s são construí- m e n t o s teóricos v a r i a d o s d e n t r o d a psicanálise e n r i q u e c e m d o s s e m esboço, à m e d i d a q u e s e p a s s a p o r e l e s . É n e s s a s o d e b a t e s o b r e a s f o r m a s contemporâneas d e s o f r e r , a m e i n t e r f a c e s q u e a d o r , e m s u a s v a r i a d a s f o r m a s - e p o r v e z e s dicalização d o s a f e t o s , a s m a i s v a r i a d a s m a n e i r a s d e l i d a r d e s p r o v i d a d e s e n t i d o s - , g a n h a c o n t o r n o s , a i n d a q u e ténues. c o m o s t r a u m a s , b e m c o m o a s a c e l e r a d a s transformações É d e s s e u n i v e r s o n o q u a l estão i m b r i c a d o s s o m a e p s i q u e c u l t u r a i s e s o c i a i s e s u a s repercussões s o b r e o p s i q u i s m o . q u e t r a t a Psicossoma V- Integração, desintegração e limites. O s a r t i g o s , p e r m e a d o s p o r r e c o r t e s clínicos, são o r g a n i z a d o s 76
e m 1 2 g r u p o s temáticos, q u e g u i a m e f a v o r e c e m a l e i t u r a . São e l e s : Integração, desintegração e l i m i t e s ; A função i n t e g r a d o r a d a n e u r o s e ; O s u j e i t o - c o r p o ; E x c e s s o s , violências e desorganização psicossomática; D e s a f i o s à integração p s i cossomática n a infância; Adolescência: l i m i t e s e s t r u t u r a n t e s e l i m i t e s d e s e s t r u t u r a n t e s ; P o r u m a integração possível n o e n v e l h e c i m e n t o ; Família e g r u p o s : dinâmicas psicossomátic a s d o s vínculos; O diagnóstico e m questão: f r a g m e n t a r o u i n t e g r a r ? ; E n q u a d r e terapêutico: d o s l i m i t e s d o s d i s p o s i t i v o s às situações-limite; A m e n t e d o clínico, l i m i t e s e integração; Saúde pública: u m a compreensão psicossomática.
e m 2 0 1 3 , e m São P a u l o . A m a i o r p a r t e d o s a u t o r e s está d e a l g u m a m a n e i r a v i n c u l a d a a o c u r s o d e especialização e m psicossomática psicanalítica d o I n s t i t u t o S e d e s S a p i e n t i a e , a t u a l m e n t e u m a referência n a transmissão d o p e n s a m e n t o teórico e d a prática clínica n e s s a área. N e s s e s e n t i d o , u m a das m a i o r e s qualidades d o livro é oferecer acesso à reflexão t a n t o p a r a p r o f i s s i o n a i s q u a n t o p a r a e s t u d a n t e s d a s áreas d a saúde, l e v a n d o e m c o n t a a m u l t i p l i c i d a d e não só d e e n f o q u e s , m a s também d e expressão d a s u b j e t i v i d a d e - somática, psíquica, s o c i a l - q u e p e r m e i a m a s m a n e i r a s contemporâneas d e a g i r , p e n s a r e s e n t i r .
A s s i m c o m o o s q u a t r o l i v r o s a n t e r i o r e s , q u e também l e v a m o título Psicossoma ( 1 9 9 6 , 1 9 9 8 , 2 0 0 3 e 2 0 0 8 , t o d o s p u b l i c a d o s p e l a C a s a d o Psicólogo), o lançamento é r e s u l t a d o d o V Simpósio d e Psicossomática Psicanalítica, r e a l i z a d o
GLÁUCIA L E A L é jornalista, psicóloga, psicanalista e editora-chefe de M e n t e e Cérebro. janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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l i v r o s | lançamentos F R E U D E AS MASSAS
O indivíduo n a multidão Sobre a concepção das afasias, d e 1 8 9 1 , é c o n s i d e r a d a a p r i m e i r a publicação teórica d e Sigm u n d F r e u d . O livro d e d i c a d o a J o s e f B r e u e r t r a t a d o distúrbio neurológico q u e faz c o m q u e a c a p a c i d a d e de p r o n u n c i a r palavras o u n o m e a r o b j e t o s u s a d o s n o dia a dia s e perca, e m consequência d e p r o b l e m a s cerebrais. A p e s a r da c a u s a orgânica, a questão não s e Psicologia das e s g o t a nela e c o n d u z a o e s t u d o d o lapso, d o a t o f a l h a d o , d o chiste, d o s o n h o - t e m a s massas e análise f u n d a m e n t a i s n a o b r a d e Freud. Classificado, porém, c o m o pré-psicanalítico, e s s e t e x t o do eu: solidão e i n a u g u r a l f i c o u f o r a d a s Obras completas, t o r n a n d o m a i s difícil o a c e s s o d o leitor a ele. O multidão. livro Afasias, o p r i m e i r o d a coleção Freud & S e u s I n t e r l o c u t o r e s , a p r e s e n t a , n u m m e s m o Ricardo Goldenberg. v o l u m e , o t e x t o d o c r i a d o r da psicanálise, c u i d a d o s a m e n t e t r a d u z i d o p o r R e n a t a D i a s Civilização B r a s i l e i r a , M u n d t , e u m a r t i g o a r e s p e i t o d o t e m a escrito pelo psicanalista Luiz A l f r e d o G a r c i a - R o z a , 2014. p r o f e s s o r emérito d a U n i v e r s i d a d e Federal d o Rio d e Janeiro (UFRJ). Para o s próximos 1 9 6 págs. R $ 2 0 , 0 0 . v o l u m e s d a coleção - c o o r d e n a d a pelo psiquiatra e psicanalista M a r c o A n t o n i o C o u t i n h o Jorge - estão p r e v i s t o s o s t e x t o s Cradiva e Bate-se numa criança, a i n d a e m preparação.
B.F. S K I N N E R uma perspectiva europeia
».*T^V_
,m
Inconsciente Social
M U N D O CONTEMPORÂNEO
BEHAVIORISMO
PSICANÁLISE
INCONSCIENTE
Psicanálise no diaa dia
Obra d e Skinner
Conceitos d e género
T r a u m a s eoletivos
De 2006 a 2009, o psicanalista Sérgio Telles p a r t i c i p o u d a programação d a Rádio E l d o r a do comentando, da perspectiva d a psicanálise, notícias d e jornais e fatos d o dia a dia. O avesso do cotidiano t r a z a t r a n s crição d a s reflexões f e i t a s p o r Telles. F o r a m selecionados para a obra t e x t o s s o b r e t e mas que permanecem atuais, a e x e m p l o d o s comentários sobre propaganda eleitoral e r e s s a c a pós-eleições, q u e c o m e n t a f a z e n d o referências às i d e i a s d a filósofa H a n n a h Arendt, assim c o m o seus esc r i t o s s o b r e a angústia r e l a t i v a à passagem de ano.
O a m e r i c a n o B u r r h u s Frederic Skinner foi u m d o s mais proePara F r e u d , a m a s c u l i n i d a d e e m i n e n t e s e c o n t r o v e r s o s psicóa f e m i n i l i d a d e p u r a s são c o n s l o g o s d o século 2 0 . Ele propôs truções teóricas d e conteúdo o b e h a v i o r i s m o radical, abori n c e r t o . Histeria e género: sexo dagem que entende o comporcomo desencontro propõe u m t a m e n t o c o m o resultado das diálogo e n t r e a psicanálise e o s relações e n t r e genética, a m e s t u d o s d e género c o m b a s e b i e n t e e história d e vida. E m B. nas concepções, c o m p a r t i l h a F. Skinner. uma perspectiva euro- das p o r a m b a s a s áreas, d e peia, o psicólogo M a r e Richelq u e f e m i n i n o e m a s c u l i n o são le d e s f a z m i t o s r e l a c i o n a d o s a construções i n f l u e n c i a d a s pela Skinner, não r a r o d e s c r i t o c o m o e s f e r a social e c u l t u r a l . R e u n i n u m "cientista ditador". A obra d o ensaios d e diferentes psio f e r e c e u m a visão geral d a s canalistas, a obra questiona o s u a s ideias e f a z relações e n t r e q u e n o s leva a a c e i t a r a i m p o s i a obra d o americano e a de aução d e género c o m o e s t r u t u r a t o r e s e u r o p e u s q u e s e destacabinária e estável. ram no estudo da mente, c o m o Histeria e género: I v a n Pavlov, F r e u d e Jean Piaget.
O avesso do cotidiano.
B. F. Skinner: u m a perspectiva europeia.
sexo como desencontro. Pedro E d u a r d o Silva A m b r a e N e l s o n d a S i l v a Jr. ( o r g s . ) .
Sérgio T e l l e s , 2 0 1 4 .
M a r e N . Richelle. EdUFSCar,
nVersos, 2014.
134 págs. R $ 4 4 , 0 0 .
2 0 1 4 . 2 9 6 págs. R $ 4 7 , 0 0 .
2 8 8 págs. R $ 4 9 , 9 0 .
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O conceito d e inconsciente social, e l a b o r a d o pela p r i m e i r a vez n o s anos 60, permaneceu p r a t i c a m e n t e i n e x p l o r a d o até o início d o século 2 1 , q u a n d o eventos c o m o o atentado de 11 d e s e t e m b r o e s t i m u l a r a m o est u d o d e situações q u e e n v o l v e m conflitos e traumas eoletivos na s o c i e d a d e . E m Inconsciente social, Carla P e n n a , d o u t o r a e m p s i c o l o g i a clínica, e x p l o r a essa ideia a i n d a e m construção, q u e a b a r c a c u l t u r a s e padrões d e comunicação internalizados, partilhados e herdados e m u m s i s t e m a social. A a u t o r a d i s c u t e , e m especial, o c o n c e i t o n o c o n t e x t o das práticas analíticas a p l i cadas a grandes grupos. Inconsciente social.
o
Carla Penna.
o
C a s a d o Psicólogo, 2 0 1 4 .
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4 8 8 págs. R $ 6 5 , 0 0 .
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REFERÊNCIAS LITERÁRIAS
A biblioteca pessoal de Carl Jung I
i i f C G , J U N G
C. G. Jung: u m a biografia e m livros. Sonu Shamdasani. Vozes, 2 0 1 4 . 2 2 4 págs. R $ 1 7 5 , 0 0 .
Carl G u s t a v J u n g f o i u m d o s principais s e g u i d o r e s d e S i g m u n d Freud, c o m q u e m r o m p e u , f u n d a n d o a p s i c o l o g i a analítica. S u a s c o n s t a n t e s referências à m i t o l o g i a e à l i teratura r e v e l a m q u e foi u m leitor voraz. Ele a f i r m a v a q u e , desde j o v e m , era t o m a d o " p o r u m a n s e i o i l i m i t a d o d e l e r q u a l q u e r f r a g m e n t o d e i m p r e s s o s q u e caía e m m i n h a s mãos". C. G.Jung: uma biografia em livros é u m p a s s e i o p e l a s o b r a s q u e i n f l u e n c i a r a m o p s i q u i a t r a suíço, l e v a n t a d a s p o r S o n u S h a m d a s a n i , p e s q u i s a d o r d e história d a p s i q u i a tria e psicologia d a Universidade College L o n don. Repleto d e imagens deexemplares q u e p e r t e n c e r a m a J u n g , o l i v r o a t e s t a s e u fascínio p e l o s clássicos d e H o m e r o e Virgílio, a influência d e Fausto d e G o e t h e p a r a s u a s i d e i a s s o b r e a f i l o s o f i a e s u a identificação c o m o s filósofos A r t h u r S c h o p e n h a u e r e I m m a n u e l Kant. A o b r a l e v a n t a a l g u m a s polémicas s o b r e referências d e a l g u m a s t e o r i a s j u n g u i a n a s . D e a c o r d o c o m o próprio J u n g , p o r e x e m plo, o c o n c e i t o d e i n c o n s c i e n t e d a psicologia analítica d e r i v a não d e F r e u d , m a s d e o u t r a influência literária, o filósofo alemão E d u a r d von H a r t m a n n . Suas ideias sobre o s s o n h o s f o r a m aperfeiçoadas c o m a l e i t u r a d a o b r a d e C a r l d u P r e l , filósofo c o m f o r t e viés e s p i r i t u a l i s t a . S h a m d a s a n i propõe q u e c o n h e c e r a bibliografia d e Jung é u m a maneira d e c o m p r e e n d e r m e l h o r o s c o n c e i t o s básicos d a p s i c o l o g i a analítica.
HISTÓRIA E S O C I E D A D E
Percepções s o b r e a m o r t e P h i l i p p e A r i e s f o i u m d o s g r a n d e s h i s t o r i a d o r e s a escrever s o b r e a v i d a diária, r e t r a t a n d o a m e n t a l i d a d e d e u m a época através d e r e t r a t o s d o c o t i d i a n o . C o m referência n a o b r a História da morte no Ocidente, p a s s o u a e l a b o r a r u m e s t u d o s o b r e a m o r t e e a s mudanças e m s u a s representações a o l o n g o d o s séculos. O r e s u l t a d o , e s c r i t o a o l o n g o d e 15 a n o s , é O homem diante da morte. A o b r a a b r a n g e d a I d a d e Média às últimas décadas d o século 2 0 , b u s c a n d o e m d o c u m e n t o s históricos e r e g i s t r o s artísticos a s f o r m a s d e representação d a m o r t e e s e u s r i t u a i s . N a e r a m e d i e v a l , p o r e x e m p l o , n o s r o m a n c e s d e cavalaria, n o t a - s e q u e a m a r c a p r i n c i p a l d a m o r t e é a consciência d o m o r i b u n d o d e q u e ela s e a p r o x i m a v a . C l a m a r a D e u s n a iminência d o f i m e r a u m a c e n a típica, q u e s e g u n d o A r i e s s e r e p r o d u z i a n a v i d a real. P o r o u t r o l a d o , a s m o r t e s súbitas e imprevisíveis, a não s e r d u r a n t e a g u e r r a , e r a m e n c a r a d a s c o m e s t r a n h e z a e t e m o r . O h o m e m M e s m o o s a s s a s s i n a d o s s o f r i a m reprovação p o p u l a r e s u a m o r t e era c o n s i d e r a d a d e - diante da morte. s o n r o s a . A e s s a s reconstruções d o p a s s a d o , ele traça u m p a r a l e l o c o m a relação a t u a l P h i l i p p e A r i e s . c o m a m o r t e . S e n a I d a d e Média e r a t r a t a d a c o m relativa n a t u r a l i d a d e , h o j e s e t r a t a E d i t o r a U n e s p , 2 0 1 4 . 8 3 7 págs. R $ 1 1 8 . d e u m t a b u ; e n q u a n t o o a p e g o à v i d a n a v e l h i c e e r a m o t i v o d e piada, a t u a l m e n t e o s avanços d a m e d i c i n a c u l m i n a m n a t e n t a t i v a d e e s t e n d e r a v i d a a o máximo. janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
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caixa lúdica | e s p e c i a l
Histórias p a r a ler p e n s a r e sentir #
AS
FÉRIAS C O S T U M A M
A LEITURA E M D I A - E
S E R U M B O MM O M E N T O
PARA
COLOCAR
I S S O V A L E TAMBÉM P A R A A S PUBLICAÇÕES
V O L T A D A S A O PÚBLICO
INFANTIL
H
istórias n o s a j u d a m a e n c a r a r a q u e l e s m o n s t r i n h o s q u e v i v e m e s c o n d i d o s e m a l g u m l u g a r s o m b r i o d e n t r o d a n o s s a cabeça e q u a n d o m e n o s e s p e r a m o s a p a r e c e m e m f o r m a d e d o r , t r i s t e z a , solidão o u m e d o . A s p a l a v r a s , e m e s p e c i a l , c o s t u m a m f u n c i o n a r c o m o ótimos antídotos c o n t r a e s s a s f i g u r a s a s s u s t a d o r a s , q u e s u r g e m d e f o r m a s n e m s e m p r e c l a r a s , m a s s e m p r e incómoda. O u s i m p l e s m e n t e n o s t r a z e m situações d e a c o n c h e g o , m a r c a d a s p e l o a f e t o , p e l a c h a n c e d e c u i d a r e s e r c u i d a d o . O m a i s c u r i o s o é q u e s e m p r e f u n c i o n a m c o m o l e m b r e t e d e q u e é possível s e r p r o t a g o n i s t a d o próprio e n r e d o . E, e m g e r a l , fica m a i l fácil v i v e r , p o r intermédio d o l i v r o , emoções q u e n o s ameaçam q u a n d o estão p e r t o d e m a i s . R e s u l t a d o : além d e m e x e r c o m a imaginação, histórias a j u d a m a s p e s s o a s ( i n d e p e n d e n t e m e n t e d a i d a d e ) a l i d a r c o m angústias. A s e g u i r , a l g u n s l i v r o s lançados e m 2 0 1 4 q u e p o d e m s e r b o n s c o m p a n h e i r o s p a r a a s próximas s e m a n a s .
Para q u e serve a terapia O q u e a c o n t e c e n a s sessões d e p s i c o t e r a pia m u i t a s v e z e s não p a r e c e m u i t o c l a r o n e m m e s m o para adultos - e principalm e n t e p a r a crianças. P o r i s s o , l e r u m l i v r o q u e ofereça a l g u m a s p i s t a s q u a n d o s e p e n s a e m i n i c i a r u m p r o c e s s o terapêutico p o d e s e r m u i t o útil. E s s a é a p r o p o s t a d a s psicólogas L u c i a n a T i s s e r e M a r i n a C a m i n h a e m Por que vou à terapia? Crianças entendendo a terapia cognitivo-comportamental. E m m e n o s d e 2 0 páginas i l u s t r a d a s , as a u t o r a s m o s t r a m q u e é n o r m a l a d i f i culdade de a d m i n i s t r a r b e m u m a o u o u t r a emoção e q u e a t e r a p i a p o d e a j u d a r a t r a n s f o r m a r "problemões" - r a i v a , m e d o , t r i s t e z a e a s sensações físicas q u e p r o v o cam - e m probleminhas. Nesse sentido, m u d a r a f o r m a d e pensar s o b r e eles é m u i to importante. Seguindo a abordagem da terapia c o g n i t i v o - c o m p o r t a m e n t a l (TCC), as psicólogas e s c l a r e c e m q u e a l g u n s c o m p o r t a m e n t o s são r e s u l t a d o s d o s "óculos e s c u r o s d o p e n s a m e n t o " , crenças n e g a t i v a s q u e s u r g e m a p a r t i r d a s emoções. E a f i r m a m q u e a terapia ajuda a r e m o v e r as l e n t e s e s c u r a s . O l i v r o t r a z espaços p a r a anotações c o m p e r g u n t a s q u e i n s t i g a m a criança a d e s c r e v e r s u a s emoções e p e n s a m e n t o s e p o d e s e r útil até m e s m o p a r a o t e r a p e u t a , d u r a n t e a s sessões. 80
Por que v o u à terapia Crianças entendendo a terapia cognitivo-comportamental. M a r i a n a Gusmão C a m i n h a , Luciana Alves Tisser. Sinopsys, 2014. 1 6 págs. R $ 2 7 , 0 0 .
Cenas d eu m encontro de amor O nascimento de Celestine é u m livro delicado, c o m poucas palavras. A autora, a belga M o n i que M a r t i n (queassinava c o m o Gabrielle Vincent), morreu e m 2 0 0 0 , a o s 7 2 a n o s , após t e r s e tornado bastante conhecida na Europa, n o s Estados Unidos e n o Japão c o m s e u s l i v r o s " E r nest e Celestine". C o m poucos diálogos e profusão d e i m a g e n s f e i t a s c o m traços lânguidos, g r a c i o s o s e monocromáticos, a série n a r r a o a f e t u o s o convívio entre u m urso e u m a ratinha. C o m mais de 160 desenhos, O nascimento de Celestine c o n t a c o m o o sensível v a r r e d o r d e r u a encontrou a protagonista, abandonada n u mdia chuvoso, es u a dedicação a e l a d e s d e o s p r i m e i ros instantes.
O nascimento de Celestine. Gabrielle Vincent. Editora 34, 2014. 1 7 5 págs. R $ 4 9 , 0 0
Ai, machuquei. Thiago Lopes. Brinque-Book, 2014. 1 2 págs. R $ 2 9 , 9 0
Não t e m j e i t o , p o r m a i s q u e o s a d u l t o s alertem o s pequenos para o s e v e n t u ais riscos d e s e f e r i r e m e s m o q u e a s crianças s e j a m c u i d a d o s a s , m a i s c e d o o u m a i s t a r d e alguém a p a r e c e d e j o e l h o r a l a d o , c o m u m pé f u r a d o p o r e s p i n h o , u m dedão e s p r e m i d o n a p o r t a . E aí não t e m j e i t o , p o r m a i s d i v e r t i d a q u e estivesse a brincadeira, o f e r i m e n t o se torna instantaneamente a coisa mais importante d o m u n d o . Nessas horas, a pior coisa q u e se pode dizer a u m a criança é q u e "não f o i n a d a " . F o i , m a s p a s s a . Dói, m a s sara. É s o b r e o m o m e n t o e m que de repente chega a d o r e (quase sempre) o s o l h o s se e n c h e m d e lágrimas q u e t r a t a Ai, machuquei, d e T h i a g o L o p e s . O l i v r o t r a z histórias curtas, e m rimas. Por exemplo: "Coitada da Vanessa: p u l a n d o n a c a m a , c o m u m s a l t o b e m a l t o , b a t e u a cabeça". O diferencial é a possibilidade q u e o peq u e n o leitor t e m d e passar d o papel d e q u e m recebe o s c u i d a d o s q u a n d o s e f e r e , para o d a q u e l e q u e c u i d a : a c a d a página, a criança p o d e a p l i c a r u m c u r a tivo n o personagem machucado.
Hum... q u e cheiro é esse?
D e p o i s d o divórcio d o s p a i s
Q u e m n u n c a d e i x o u escapar u m p u m ? Princesa, p o r c o , e l e f a n t e , c a n g u r u , bebé e até c a r r o v e l h o - ninguém está livre d e s s e v e x a m e . O a u t o r d e Puns, punzinhos e pumpunzões, A l m i r Correia, avisa l o g o d e cara: " E s t e livro é para t o d o s o s q u e s o l t a m p u m e também para aqueles q u e , m e n t i r o s a m e n t e , d i z e m q u e não s o l t a m n u n q u i n h a da silva". O livro, i l u s t r a d o p o r Cláudio M a r t i n s , a p r e s e n t a u m lugar c h a m a d o Pumpunzolândia, o n d e q u e m f o r " m e n o s i n i b i d o " vira rei. Lá, gases têm cor: o d e a n j a , p o r e x e m p l o , é cor d e laranja.
D o m i n g o é o d i a d a s e m a n a q u e J o n a s p a s s a c o m o p a i , q u e às v e z e s é m u i t o a t r a p a l h a d o - distraído, e l e s e c o n f u n d e a o p r e p a r a r o c h o c o l a t e q u e n t e d o f i l h o , não c o n s e g u e c u i d a r n e m d a s próprias r o u p a s e v i v e e m m e i o à bagunça. N a v e r d a d e , e l e está s e a d a p t a n d o a u m a n o v a r o t i n a e p r e c i s a também s e r c u i d a d o . J o n a s c o m p r e e n d e i s s o e r e solve pedir a o pai que o s dois " t r o q u e m d e lugar" por dia: o m e n i n o exerce a s funções d e p a i , o p a i a s s u m e o l u g a r d o filho. O domingo trocado f a z u m a p r o p o s t a i n t e r e s s a n t e a o p e q u e n o l e i t o r : v e r a situação d o divórcio d a p e r s p e c t i v a d o adulto. Durante a brincadeira, o s dois personagens c o m p r e e n d e m m e l h o r as responsabilidades e o s s e n t i m e n t o s u m d o outro, lidando de f o r m a b e m - h u m o r a d a c o m as dificuldades da nova rotina: t o m a m b a n h o j u n t o s , f a z e m o dever d e m a temática e p a s s e i a m n o p a r q u e , o n d e e n f r e n t a m u m a situação i n u s i t a d a : c o n h e c e m o n o v o n a m o r a d o d a mãe.
Puns, punzinhos e pumpunzões. A l m i r C o r r e i a . Ilustrações Cláudio M a r t i n s . Cortez, 2104. R$ 29,00
trocado
O domingo trocado. R u t h Lõbner. Ilustrações d e S a b i n e B u c h n e r . Escarlate, 2014. 6 3 págs. R $ 2 4 , 2 0 .
janeiro 2015 • m e n t e c é r e b r o
81
limiar
V
neurociencias
Magia branca "O Q U E É Q U E AS PESSOAS DIZEM QUE
SIDARTA RIBEIRO
EU S O U FEITICEIRA."
Hola amiga.
Hola. Te p u e d o hablar? Sí, como no. U s t e d e s d e acá? Sí. Y has siempre vivido aqui? No. A d o n d e más hás h a b i t a d o ? Yo v\vo en toda parte. Entiendo. Y usted, que hace? Yo estoy d e paso. Buscando. Y que buscas? N o l o sé. Comprendo. Y q u e m e dices? Nada, pues. Pero como, nada? Y que te voy a decir? Si no lo sabes tu... B u e n o , u s t e d e s más e n t r a d a d e a n o s . Maior é Deus. Você f a l a português? Falo. E pelo jeito você é brasileiro. S o u . Você é d e o n d e ? Eu nasci no Uruguai. Sério? M a s v o c ê não t e m s o t a q u e nenhum. Muitas vezes o importante não é a forma, mas o conteúdo. A s s i m d i z e m , p o d e crer... Q u a l é o seu n o m e ? Sabina. E o seu? Paulo. E o que você faz em Antofagasta? O m e s m o q u e você: v e n d o a r t e s a 82
DA SENHORA?
n a t o , t o c o música p r o s p a s s a n t e s , e junto u m a grana n o f i m d o dia. Pois eu não faço nada disso. E estas coisas espalhadas n o feltro? Não estão à venda. Eu faço pra me divertir. E o n d e g u a r d a o q u e já f e z ? Eu dou de presente. I n t e r e s s a n t e . Você é r i c a ? Tenho inúmeros amigos que me acolhem em todos os continentes. E a s e n h o r a é m e s t r a e m quê? Em nada. Eu não sei nada, eles é que me dão nomes. Mas alguma coisa a sen h o r a há d e s a b e r m e l h o r q u e n i n g u é m , p o i s não h a v i a m d e l h e d i s t i n g u i r s e não f o s s e p o r mérito. Assim dizem. P o d e crer. O q u e é q u e a s p e s s o a s dizem da senhora? Que eu sou feiticeira. A senhora entende de magia? Depende do que você chama de magia. P o d e crer... E o q u e a s e n h o r a c h a m a de magia? Nada. C o m o nada? Nada. Mas a senhora t e m algum poder mágico? Como assim? S e i lá., p o d e r e s s o b r e n a t u r a i s ? Não. Só poderes naturais.
S I D A R T A R I B E I R O , neurobiólogo, d i r e t o r d o I n s t i t u t o d o Cérebro da U n i v e r s i d a d e Federal d o R i o G r a n d e d o N o r t e ( U F R N ) e professor titular da U F R N .
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Grandes questões merecem uma edição especial.
A e d i ç ã o e s p e c i a l Grandes temas traz u m a s e l e ç ã o d o s assuntos q u e mais repercutiram entre o sleitores a olongo d o s 1 0 a n o s d e M e n t e e Cérebro: u s o m e d i c i n a l d a m a c o n h a , n o v o s t r a t a m e n t o s p a r a a depressão, a importância d o s s o n h o s p a r a a sobrevivência d a espécie h u m a n a , d r o g a s q u e p r o m e t e m " t u r b i n a r " o cérebro, a m o r n o s t e m p o s d e i n t e r n e t e A l z h e i m e r . U m a edição c o m e m o r a t i v a d a p r i m e i r a década d a r e v i s t a , c o m a r t i g o s e s c o l h i d o s e s p e c i a l m e n t e p a r a você.
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