Colégio Estadual do Paraná Caroline Alexandria dos Santos Prüss
O Discurso do Método
Curitiba
2011
René Descartes
O DISCURSO DO MÉTODO “Para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências.”
Resenha da matéria de filosofia. 3ª série; Ensino Médio; Manhã. Colégio Estadual do Paraná. Professora Vilma.
Curitiba 2011
Desenvolvimento
Primeira Parte
“(...) embora no juízo que faço de mim próprio eu procure pender mais para o lado da desconfiança do que para o da presunção (...)”. Palavras do autor, que são fiéis sobre a sua forma de pensar durante a apresentação do método. Na maioria das suas reflexões, Descartes se mostra desconfiado: não nega, mas também não afirma. Ao comentar sobre a utilidade do método na busca da verdade, e elevar essa busca à uma ocupação solidamente boa e importante, logo recua e coloca a possibilidade de estar exagerando. Ou, como diria o matemático, “tomar por ouro e diamantes um pouco de cobre e vidro”. Isso porque acredita que somos frequentemente enganados pelo juízo que fazemos de nós mesmos e por opiniões de amigos. Descartes conta que estudou em uma renomada escola da Europa, mas que quando chegou ao fim dos seus estudos, sentia se mais ignorante do que antes. Em seguida, apresenta seu ponto de vista sobre as diversas áreas do conhecimento. A literatura seria necessária e benéfica ao espírito, a matemática facilita as artes e reduz o trabalho, a filosofia ensina a falar com coerência e conquistar a admiração daqueles que não são tão instruídos, a teologia ensina a “ganhar o céu”, e todas foram estudadas pelo autor. Até os conhecimentos mais supersticiosos e falsos, o que garantiria que este não fosse enganado pelos mesmos. Sobre a literatura, acredita que é o mesmo que viajar, pois conhece-se hábitos diferentes que aumentam nossa visão de mundo. Quanto à arte de falar, aqueles que sabem ordenar bem seus pensamentos têm o poder de convencimento, ainda que não tenham estudado em grandes instituições. Tendo a preferência pela matemática, por sua precisão, Descartes se mostra perplexo ao vê la sendo apenas aplicada às artes mecânicas. No que diz respeito à teologia, acredita que é um conhecimento fora do nosso alcance. Pela variedade que opiniões e dúvidas que a filosofia proporciona, foi desconsiderada. E pelo mesmo motivo, ignora as outras ciências que tomam como base a filosofia. Por essas considerações, largou o estudo das letras e passou a viajar, presumindo que isso traria mais conhecimento do que se ficasse trancado em uma sala especulando e se envaidecendo. Viajando, pôde perceber tão diferentes costumes quanto as verdades da filosofia, e com isso aprendeu a não crer cegamente naquilo que lhe foi ensinado, pois isso o afastaria da razão. Após algum tempo estudando “o livro do mundo”, decidiu estudar a si próprio.
Segunda Parte
Enquanto estava na Alemanha, Descartes dispunha de todo o seu tempo para os seus pensamentos por não ter outras paixões ou obrigações. Observou primeiramente, que as construções que foram projetadas por um único arquiteto têm mais qualidade do que as que foram construídas de qualquer forma, a cada pedaço por uma pessoa. Essas últimas, de tão irregulares, mais pareceriam obra do acaso do que do trabalho de homens racionais. Concluindo esse pensamento, considerou que as leis teriam surgido apenas quando o homem passou a incomodar se com os crimes. Atentou ao fato de que as leis que nem sempre são boas, funcionam melhor quando são criadas por uma única pessoa e que, consequentemente, têm apenas uma finalidade. A mesma ideia é usada para pensar os livros. Ou seja, se encontram longe da verdade, e com poucas demonstrações, aquelas ciências que são compostas por diferentes pontos de vista. Com essa linha de raciocínio, Descartes afirma que seu único objetivo é reformar seus próprios conceitos e visões por mais trabalhoso que seja, e não incentivar outros a fazerem o mesmo. Isso porquê cada indivíduo segue seu método. Entre esses, existem os que, por se julgarem hábeis, se avaliam com pressa e sempre se desviam do caminho. E outros que, pela modéstia, seguem as opiniões alheias por julgaram-nas melhores do que as suas. O autor se coloca no último grupo, alegando que não seguiu sua tendência à modéstia, por ter conhecido tão diversas e absurdas ideias, entre essas as da filosofia, que não poderia aceitá las. Outro motivo seria o fato de ter viajado e conhecido diversos povos e crenças, e isso o coagiu a pensar por si mesmo. E ao começar a fazê lo, procurou não descartar qualquer opinião conhecida antes de avaliá-la. Por considerar as leis da lógica, dos geômetras e da álgebra vagas, superficiais, e por vezes até danosas, decidiu reformulá las afim de manter apenas suas vantagens, reduzindo para quatro o número de preceitos. O primeiro orienta a nunca tomar como verdadeiro algo sobre o qual exista uma dúvida, ainda que essa seja mínima. O segundo, a decompor o problema em várias partes para melhor solucioná lo. O terceiro, o de conduzir os pensamentos seguindo uma ordem lógica, na qual os primeiros facilitem o entendimento dos que se seguem. O quarto diz que deve-se revisar e relacionar os entendimentos e conclusões de forma a garantir que nada seja omitido.
Terceira Parte
Para reformar e avaliar suas ideias, assim como na reforma de um prédio, Descartes considera necessárias as opiniões “cômodas”,
que no exemplo do prédio seriam como uma morada
provisória. Serviriam para o conjunto dessas opiniões, àquelas pertencentes aos homens mais
sensatos, uma vez que, longe de extremos, são diminuídas as chances de errar. Dentro dessa mesma máxima está a orientação de seguir as leis do seu país e a religião de sua infância. A segunda máxima consiste em seguir o caminho mais reto quando não se sabe qual seguir. Ou seja, quando não conseguirmos fazer escolhas com convicção, deveríamos escolher o caminho com maior chances de ser o correto, usando nossa razão. Para que isso seja feito completamente, seria conveniente libertar-se de arrependimentos em decisões passadas. A terceira e última máxima: “Devemos estar conscientes daquilo que está ou não ao nosso alcance, e desejar somente aquilo que nos é possível.” Só possuímos o total controle sobre nossos pensamentos, e isso seria suficiente para não desejarmos mais nada. Assim, formuladas as reflexões, o autor sentia-se livre para desfazer-se das outras opiniões. Voltou a viajar, e tornou se um observador do mundo a das situações. Percebeu que tudo tinha alguma coisa que era certa, ainda que fosse insignificante. E, assim como numa casa mal feita, aquilo que não foi derrubado serve de alicerce para erguer uma outra, as ideias equivocadas trazem experiência e ajudam a formar as mais corretas. Após muito tempo viajando, Descartes passou a viver em um lugar retirado.
Quarta Parte
Quando Descartes presume que os sentidos nos enganam, quer dizer que eles nunca são verdadeiros. Porém, mesmo que considere tudo uma ilusão, aceita que, só pelo fato de se pensar que tudo era falso, o pensamento existia. E se existia o pensamento, existia também, o ser pensante. Então chega-se a conclusão “Penso, logo existo”. Considerava se, que corpo e alma estavam separados, pois o corpo seria só uma ilusão, e que toda separação era um defeito. Logo, tudo o que estava separado da alma era imperfeição, e tudo que era da alma era também onipresente, infinito e eterno, ou seja, era Deus. E nós, por sermos seres constituídos de um corpo separado da alma, seríamos inconstantes, cheios de dúvidas e dependeríamos da perfeição, que seria Deus. Por isso as pessoas veriam Deus como algo difícil de conhecer, já que quase tudo o que conhecem está no imaginário de forma que a realidade se torna invisível. Para exemplificar esses conceitos, foi pensada em uma situação na qual, durante um sonho, acreditamos que o que vemos, ouvimos e sentimos é tão real como quando estamos acordados. Os nossos sonhos que nos apresentam objetos da mesma forma quando acordados, mesmo que nos deem a oportunidade de duvidar de tal realidade, ainda tornam possível que essas ideias de desconfiança estejam erradas. Ainda que, todas as noções, por serem pensamentos e fazerem parte da alma, contém algo de certo.
Quinta Parte
Descartes inicia essa parte falando sobre a criação do mundo. Após várias proposições, chega a conclusão de que a natureza foi se modificando e evoluindo ao longo do tempo. A partir dessas reflexões, se prolonga no estudo da alma e corpo. Presume que Deus primeiro havia criado uma alma, que seria toda a nossa razão, e juntara a esta um corpo, que é considerado como uma máquina durante a a apresentação de todo o método. Em seguida, compara os órgãos de um animal com os de um humano, na tentativa de induzir o leitor a consentir com a ideia de um corpo-máquina. Ou seja, todos os seres teriam (ou seriam, no caso dos animais) essa máquina, que é o corpo. Porém, só os humanos, os animais racionais, além do “corpo- máquina” possuem a alma e a razão. Isso porque os animais não se comunicam da mesma forma que os humanos. Ou seja, não possuem capacidade cognitiva, e por esse mesmo motivo, não conseguiriam resolver problemas cujas soluções não estivessem já programadas, como num computador. Seguindo essa linha de raciocínio, o corpo morre, mas a alma, sendo independente do corpo, não. Como não poderíamos constatar a morte de uma alma, o autor a supõe imortal.
Sexta Parte
Após anos de estudo do método, Descartes adiou sua publicação por receio de que houvesse algum equívoco na obra, ainda que tivesse sido muito cuidadoso (pelo menos na sua própria concepção) na formulação desse estudo. Através deste, poderíamos chegar a conhecimentos muito úteis, que a especulação da filosofia por muitas vezes não permitiria, segundo o autor. Este, que desejava expor às pessoas com fidelidade aquilo que havia descoberto, e abrir espaço para que outros possam desenvolver suas ideias, aprimorando-as. Uma vez que, ao terminar uma proposição, já não a considera tão verdadeira enquanto apenas a formulava. Ao analisar as reações que poderiam surgir da publicação dessas observações, atenta ao fato de que, por mais evidentes e demonstrativas que sejam, nem todos estão de acordo. Apesar do desejo do autor de tirar proveito dessas diferenças de raciocínio, Descartes afirma que logo prevê quais serão os argumentos contrários aos seus, o que não acrescentaria nenhum conhecimento de maior importância. Não foi recomendado o uso prático dos seus pensamentos pois, como já foi dito anteriormente, cada um tem seu método. Até porque, apenas Descartes interpreta O Discurso do Método em sua forma mais pura, pois foi ele mesmo quem o criou. Outras pessoas podem tirar conclusões parecidas. Mas não a essência do pensamento. Por esse motivo, o autor recomenda às futuras gerações, que não creiam no que dizem a respeito do método ou dele próprio. E sobre muito fala se ousadamente, sem estudo prévio de causa.
Mesmo havendo motivos para a não publicação da obra, haviam dois motivos favoráveis a esta. O primeiro era a preocupação com o que os demais pensariam, pois Descartes já havia comentado com algumas pessoas os seus projetos. O segundo era o de deixar um estudo, para ser aprimorado futuramente, melhor do que o que lhe foi deixado. O matemático pede que lhe enviem cartas com as devidas objeções para que houvesse uma curta discussão sobre. E finaliza revelando sua decisão de dedicar o resto da sua vida em busca do conhecimento da natureza e da medicina.
Introdução
Descartes era francês, e foi físico, matemático e filósofo. Nascido em uma época na qual se iniciavam as transformações, o começo da Idade Moderna, contribuiu principalmente com
a
matemática. Naquele tempo ainda, havia grande dominação da forma de pensar por parte da Igreja Católica. O Discurso do Método é, basicamente, um manual feito pelo autor para ele mesmo. Esse manual mostra como proceder para se chegar a verdade usando a nossa razão. “(...) que a leitura de todos os bons livros é igual a uma conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram seus autores, e até uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam apenas seus melhores pensamentos; que a eloquência possui forças e belezas incomparáveis .” De fato, a leitura do método traz um sentimento de conversação pelo fato de o autor se dirigir muito ao leitor. E nesse livro, René Descartes mostra os seus melhores pensamentos, já que foram anos de muitas reflexões aprofundadas para construí los. Mesmo que não concordemos com tais pensamentos, deve se admitir que esses foram bem trabalhados pelo autor, que transmite uma certa eloquência, talvez por ter viajado e conhecido costumes e pessoas diferentes. Nesse trabalho será apresentado um resumo da obra de René Descartes, “O Discurso do Método”, subdividido em seis partes, como no livro.
Conclusão
A obra, evidentemente, apresenta um único ponto de vista, de um autor até certo ponto persuasivo. Isso pode resultar em uma certa concordância com seu conteúdo. Concluindo, muitas ideias racionais e úteis podem ser tiradas da leitura do livro, mas muitas outras se tratam de visões muito particulares do autor. Como por exemplo o corpo como uma máquina, os sentidos como ilusórios, a alma como razão, os animais como seres sem alma. Ou seja, são conceitos que não podem ser aceitos pelo leitor sem uma análise cuidadosa. O próprio autor afirma que não tem o objetivo de convencer a todos do que escreve. O que se pode concluir de melhor da leitura da obra, é que deve se buscar a verdade, de acordo com sua própria razão, sem ter preguiça de esmiuçar, estudar e analisar. Logo, fazer como Descartes e achar a nossa verdade, e não apenas aceitar cegamente a verdade do autor. Fazer o que ele faz, mas não o que ele diz, necessariamente. Pois segui-lo cegamente não seria pensar, e se nós não pensamos não existimos. Logo, se existimos, devemos pensar. “Cogito, ergo sum!”
Sumário
Introdução................................................................................................3 Desenvolvimento: ...................................................................................4 Primeira Parte..........................................................................................4 Segunda Parte..........................................................................................5 Terceira Parte...........................................................................................5 Quarta Parte.............................................................................................6 Quinta Parte.............................................................................................7 Sexta Parte...............................................................................................7 Conclusão................................................................................................9 Referências..............................................................................................10
Referências
O Discurso do Método, René Descartes
http://pt.wikipedia.org/wiki/René_Descartes