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Colecção O Essencial Coordenação Maria Helena Mira Mateus Faculdade
de
Letras
da
Universidade
de
cial
Lisboa
ILTEC
Alina ViIIalva
LINGuíSTICA
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Maria Helena Mira Mateus
Alina Villalva
Coordenação·
Colecção O Cssendal HeIena Mlfa . Mateus e Alina Víllalva
Mana '
CAMIN-IO
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o Essencial
é uma colecção dedicada à divulgação do
conhecimento que tem vindo a ser produzido no domínio da linguística, particularmente no que diz respeito ao Por-
tuguês. Esta colecção é constituída por vinte volumes que tra tam independentemente matérias diversas, mas estão organizados de acordo com uma estrutura comum. Em cada volume poderá o leitor encontrar, na secção Antes
de mais..., uma informação sumária sobre as questões pos
teriormente desenvolvidas. Perguntas &
interessantes
respostas conhecidas abre espaço para a apresentação
dos assuntos próprios de cada volume, segundo as esco lhas do seu ou seus respectivos autores. A informação aqui apr esentada é complementada pelo conteúdo do
Glossário, que dispõe alfabeticamente os termos funda mentais de cada disciplina. Os leitores que desejarem aprofundar os seus conhecimentos encontrarão algumas o ESSENCIAL SOBRE LINGuíSTICA Autoras: Maria Helena Mira Mateus Alina ViIIalva Design gráfico'da capa: José Serrão Ilustração da capa: Reprodução de uma iluminura . da árvore de gramática inclufda nas Grammatices Rudimenta, de João de Barros (c. 1540) 2006 © Editorial Caminho, SA, Lisboa Tiragem: 5000 exemplares Impressão e acabamento: Tipografia Lousanense, L. d. Data de impressão: Fevereiro de 2006 Depósito legal: 238 708/06 ISBN 972-21-1777-7
sugestões em Outras leituras. Esta série destina-se a um público alargado com forma
ção muito diver sa, que procure consolidar um nível mé dio de cultura geral. Destina-se, em particular, a todos os profissionais que usam a língua como ferramenta de tra balho, dos professores de Português aos tradutores e dos jornalistas aos criadores literários. Dada a profusão de relações de interdisciplinaridade em que a linguística par ticipa, esta série também deverá interessar a profissionais de diversas formações e actividades, como psicólogos, so-
www.editorial-caminho.pt
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ciólogos, terapeutas da fala, agentes culturais e políticos. 2/56
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íNDICE
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Antes de mais...
19 Perguntas interessantes & respostas conhecidas 21
29 39 49
55 79
Como se sabe que uma língua é uma língua? De onde vem a reflexão sobre a linguagem e as línguas? Onde começa a linguística? Será a linguística uma ciência? Do que trata a linguística? Para que serve a linguística?
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O utras leituras
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Referências
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ANTES DE MAIS ...
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A reflexão sobre as línguas vem de há muito tempo, mas a linguística é uma ciência recente, pouco divulgada e mal conhe- . cida. Ainda menos conhecida é a actividade dos que trabalham em linguística - os linguistas. Serão pessoas que sabem muitas línguas? Ou serão aqueles cuja especialidade consiste apenas na decisão sobre o correcto uso da língua (escrita e oral), no conhe cimento da origem das palavras ou na informação sobre se existe uma região onde se fale 'bem' uma determinada língua? É certo que o linguista tem conhecimentos em qualquer um destes domí nios, mas a sua actividade ultrapassa muitíssimo este tipo de pro blemas. Vejamos algumas perguntas a que a linguística procura dar resposta: Como aprendemos a falar? Quais as características comuns e as que diferenciam as línguas? Como se relaciona o uso da língua com a actividade do nosso cérebro? Por que variam as línguas, por que desaparecem umas e surgem outras? E mais, muitas mais são as questões com que se preocupam os que estudam a linguagem e as línguas. Dar a conhecer o que constitui a ciência da linguagem e a actividade dos linguistas é o objectivo da colecção que se inaugura com este livro e que, para tal, é constituído por uma apresentação geral do que se entende hoje como linguís tica. Comecemos, então, por indagar como se define este termo. Quando procuramos uma definição de linguística em dicioná rios gerais ou especializados, em enciclopédias ou em obras dedicadas especificamente a esta área, encontramos, em síntese, uma frase do tipo: Iingurstica é o estudo cientrficoda linguagem
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MARIA HELENA MIRA MATEUS! ALlNA VILLALVA
humana e das línguas naturais. Para quem nunca teve contacto com esta disciplina, a definição pode causar alguma perplexidade: ... línguas naturais... Mas haverá línguas 'não-naturais'? E por quê estudar só as naturais? Comecemos por esta questão das línguas naturais. Este é o n o ~ e dado a línguas como o Português, o Francês, o Irlandês ou o Arabe, já que podem ser aprendidas como língua materna, mas que também é dado ao Latim 1, que ainda hoje pode ser aprendido e falado, mas que já não está disponível como língua materna' ou ao Sânscrito, que perdura na índia apenas como língua s a g r ~ d a .
As línguas artificiais . Integrado n b h ~ o u
~
um. ~ ~ s a l o ,
colecção Construir a Europa, Umberto Eco [081 puonde estabelece uma tipologia das ( línguas cons
a.rtlflclalmentell com base na identificação dos seus objectivos. Eco distingue assim:
t r U l d a ~
• as línguas que buscam a perfeição estrutural ou funcional como as línguas filosóficas criadas em Inglaterra nos séculos XVI" e XVIII (que procuravam substituiro Latim por outra língua veicular), como o Lo!ba.n (uma língua oral criada com o propósito de eliminar a ~ m b l g u l d ~ d e ) ou como o Láadan (que é apresentada como uma hngua mais adequada à expressão das mulheres); • as chamadas línguas internacionais, como o Esperanto ou o Ido (que pretende ser um aperfeiçoamento do Esperanto); • e aslrnguas s e c r ~ t ~ s ou cifradas, .como a Língua dos Pês, que tem algum prestigio entre as crianças, ou o Minderico dos cardadores e negociadores de lã de Minde, no início do século XVIII, lembrar os sistemas de criptologia q ue o s meios de comu nlcaçao actualmente disponíveis tornam cada vez mais necessários. q ~ e f ~ z
Fora d e s t ~ tipologia fic?m a i ~ d a vária s línguas artificiais, como, por exemplo, o Khngon, uma Ilngua Inventada para os alienrgenas do Star Trek.
1 Latim é um termo que recobre sistemas linguísticos muito distin tos: do Lati.m ~ I á s s i c o dos textos literários de autores consagrados, ao Latim EcleSIástiCO usado regularmente na liturgia católica até ao início do século XX, por exemplo.
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o ESSENCIAL SOBRE LlNGU{STlCA •
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Ainda que a questão da origem das línguas continue a fazer p ar te da l is ta do s t em as em d eb at e, o q ue se sabe é qu e as lín guas naturais (e mais especificamente, as protolínguas de que não existem registos materiais) são manifestações espontâneas da capacidade de linguagem, ou seja, não foram construídas 'pelo' homem, foram construídas 'com' o homem. Pelo contrário, as línguas artificiais foram arquitectadas deliberadamente por uma pessoa ou por um pequeno grupo de pessoas, num tempo relati vamente curto e, portanto, não se desenvolveram espontanea mente numa comunidade de falantes, nem nuncaforam aprendidas como língua materna. Por outras palavras, as línguas artificiais são definidas à partida, enquanto as línguas naturais correspon dem à activação de um potencial inscrito no código genético hu mano. O interesse da linguística pelas línguas naturais e o comple mentar desinteresse pelas línguas artificiais (embora haja alguns trabalhos de descrição da forma como estas línguas se organi zam) decorrem do entendimento da linguística como uma ciência cognitiva, o que nos conduz à segunda questão: ... linguagem humana... Mas haverá linguagem 'não-humana'? E porquê restringir? Esta restrição põe fora do alcance da linguística outros siste mas de comunicação, como o das linguagens dos animais, que são igualmente naturais, mas se distinguem da linguagem huma na (são clássicos os exemplos de comunicação entre abelhas ou e nt re g ol fi nh os ); ou o de f or ma s de c om un ic aç ão c od if ic ad as , como a linguagem das flores, a linguagem dos tambores ou ainda linguagens de programação. Quando a 'linguagem' se acrescenta o adjectivo 'humana', o que se pretende é referir exclusivamente a actividade que de corre da existência geneticamente determinada da faculdade da linguagem. Ora, se este é um mecanismo universal, então a rela ção c om a g ra má ti ca da s l íng ua s também é uni ver sa l, o que i mp li ca q ue t od as as línguas possuem propriedades comuns. A estas propriedades dá-se o nome de universais linguísticos: por exemplo, o conjunto de sons que podem ser utilizados pelas línguas naturais é universal; tal como a presença de elementos
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A faculdade
da linguagem
O conhecimento dos processos cogniti vos ligados às formas de comportamento humano alcançou enormes progressos na segunda metade do século xx. o que tornou posslvel afirmar que esses processos decor r em d e u m a b as e genética universal. Sendo a linguagem uma forma de comportamento humano. já que todos os seres humanos falam. deve então também admitir-se a exis tência de uma capacidade do sistema cogni tivo. inata e universal, que lhe está associada. É essa capacidade. a que se dá o nome de faculdade da linguagem. que permite a rea lização de actividade linguística, ou seja, que permite compreender e construir, com base n um as po uc as dezenas de s ons e n um conhecimento gramatical implfcito. uma in finidade de expressões linguísticas. A existência da faculdade da linguagem não é. porém. uma hipótese assente apenas na constatação da universalidade dos proces sos cognitivos e de q ue todos os homens falam. Esta hipótese é também sustentada pela forma como se processa a aquisição da língua. Trata-se de um processo comum a todas as crianças. qualquer que seja o estí mulo linguístico a q ue s ão expostas. isto é. qualquer que seja a Ifngua que ouvem falar à sua volta. Em tempo incrivelmente breve. e perante dados incompletos. a competência linguística é rapidamente adquirida. Essa aprendizagem não pode provir senão de um mecanismo cognitivo universal e genético es pecialmente preparado para esse fim.
o ESSENCIAL
SOBRE LINGuíSTICA
fundamentais na f ra se .
(a l in gu ag em h um an a e as línguas naturais) é uma abordagem
como o sujeito e o pre dicado . A par dos uni
o b jectiva, siste m ática, rigorosa e teoricamente enquadrada.
v ers ais
l i nguí st i cos.
c om un s a todas as lín guas, há características particulares que as dife
livro.
têm u ma f l ex ã o verbal
A n at ur eza con ci sa d as d ef in içõe s d ei xa e nt re ve r q ue muito f ica d e f or a. Fe ch a- se e nt ão , a qu i, a d ef in ição da enciclopédia e abre-se a porta a uma visita guiada pelas diversas dimensões deste d om ín io d o con he ci me nt o, q ue é a linguística.
C om pe te , p oi s,
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No entanto, a d em on st ra çã o d e q ue a l in gu ísti ca é u ma ciê ncia , como sucede com qualquer outro domínio do conhecimento, e em particular com as chamadas ciências humanas, é uma tarefa exi g en te . A a fi rm ação ser ve , e nt ão , p ar a já, como uma declaração de princípios e a demonstração virá um pouco mais adiante neste
r en c ia m: p o r exemplo, nem todas as línguas
t ão r ica como a do Por tuguês; nem todas as línguas têm acento fixo na última sílaba de cada palavra, como o F ra n cês.
•
à
linguística contemporânea estudar a capacida de h um an a de f al ar e d e compreender enuncia-
dos linguísticos e e st a b el ecer a r el ação entre a faculdade da linguagem e as línguas que a actualizam. A última d as q ue s tões suscitadas pela de finição apresentada no início diz respeito ao ca rácter científico d os estudos linguísticos:
... estudo científico ... Mas porquê 'científico'? E 'científico' p or o po si çã o a q uê ? Esta restrição serve, antes de mais, para garantir que a abor d ag em q ue a l in gu ís ti ca faz ao seu objecto de conhecimento
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PERGUNTAS INTERESSANTES & RESPOSTAS CONHECIDAS
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COMO SE SABE QUE É UMA LíNGUA?
UMA
LíNGUA
Se, entre outras competências, à linguística cabe o estudo das línguas, então justifica-se reflectir sobre o que é uma língua e conceitos relacionados, como dialecto, sociolecto, idiolecto e va riedade. O entendimento comum destes termos faz com que se aceite que dialecto identifica o sistema linguístico próprio de uma dada região (como o dialecto de Lisboa, por exemplo); que língua remete para o sistema linguístico que conjuga todos os dialectos falados num país (o Português é uma língua); e que variedade seja interpretada como a manifestação nacional que uma língua fala da em países diversos assume em cada um deles (o Português Europeu é uma variedade do Português). Sociolecto fica fora desta hierarquia de conceitos, embora se possa definir como um con junto de idiolectos que corresponde a um recorte social da língua (pode falar-se no sociolecto dos adolescentes, dos surfistas ou dos economistas). O termo sociolecto tende a ser substituído por dialecto (que ganha em generalidade), encontrando mesmo uma designação específica para algumas destas realidades, como nos
casos de 'economês' ou de 'futebolês'. Idiolecto, que identifica o sistema linguístico de cada falante, individualmente considerado, é um conceito praticamente desconhecido. O que o entendimento comum destes termos mostra é que a definição destes conceitos não assenta em critérios de natureza linguística. Deste ponto de vista, uma língua é um sistema de comunicação que faz uso da faculdade da linguagem activada pela exposição dos falantes a estímulos linguísticos, durante o cha-
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mado período de aquisição da língua. Ora, do ponto de vista da linguística, o conceito de dialecto pode ser definido da mesma exacta maneira. Tem, aliás, sido defendido por muitos linguistas que devem
Por outro lado, em deter minadas circunstâncias, o ter mo lí ng ua não ch eg a para identificar o conceito, razão
Os ser tratados no âmbito de uma política jectivos linguística. ob(como critérios a inteligibi lidade mútua, o número de A língua portuguesa falantes, a coesão geográ «A realidade da noção de língua fica e política da comunida portuguesa, aquilo que lhe dá uma de d e falantes) nem sempre dimensão qualitativa para além de identificar com permitem um mero estatuto de repositório de clareza o que é uma língua variantes, pertence, mais do que ao e o que é um d ia lec to . domínio lingUístico, ao domínio da história, da cultura e, em última ins Na verdade, são muitos tência, da política. Na medida em que os casos em que sistemas a percepção destas realidades for linguísticos diferentes são com o decorrer dos tempos classificados ora como lín será certamente de evariando das gerações, guas diferentes, ora como esperar, concomitantemente. quea uma l íng ua e um d ia le ct o extensão da· noção de língua portu dessa língua. Por exemplo, guesa varie também.)) o f ac to de o Port uguê s e o Eduardo Paiva Raposo (*) [151 Galego serem, por alguns, consideradas duas línguas, . ain da que derivadas de um mesmo Galaico-Português saído da matriz latina, não pode deixar de ser relacionado com a soberania dos países onde essas línguas são originalmente faladas: o Galego, em Espanha; o Português, em Portugal. Em contrapartida, que o
peladistinções qual a linguística uso língua de como faz materna, língua segunda, lín gua estrangeira, língua oficial, língua de trabalho, língua de comunicação, língua franca ou língua ágrafa, para referir ape nas alguns exemplos. Face a esta variedade ter minológica, não é, pois, fácil d et er mi na r o n úm er o de lín guas existentes no mundo:
Português Europeu e o Português Brasileiro sejam considerados mesma língua é o resultado, por vezes contestado, de um dadoa percurso histórico, quer por via da herança que Portugal partilha com o Brasil, quer pela vontade que o Brasil sentirá de manter a conexão com Portugal. A escolha do Português, língua falada nas sedes do poder político desde o início da colonização europeia, poderá servir esse fim.
(*) Os números delimitados por parênteses rectos remetem para as referências bibliográficas que encontra no final.
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M ARI A HELENA M I RA MATEUS/ALINA VILLALVA
ESSENCIAL SOBRE LlNGUfSTlCA
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o Português Brasileiro
Muitos intelectuais brasileiros, particularmente no início do sécu lo xx, procuraram atribuir ao Portu guês Brasileiro o estatuto de língua e de língua distinta do Português Eu ropeu. O carácter voluntarista desta tentativa condenou-a ao fracasso. Em contrapartida, tem-se vindo a vulgarizar, em Portugal, a opinião (algo pejorativa) de que a língua falada pela crescente comunidade imigrante brasileira é o 'brasileiro'. Talvez os portugueses ainda não tenham compreendido as implica ções desta posição: de um ponto de vista estratégico, a unidade linguís
tudo depende do que se con tica entre Portugal e o Brasil interes sa ao Brasil e interessa também a s id era ser u ma língUa ou se Portugal. classifica como dialecto. En contram-se algumas referências a um número próximo dos 3000, mas o The Ethn%gue [9l, uma base de dados sobre as línguas do mundo, apresenta um total de 6809, sendo que a Europa contribui com apenas 3% (ou seja 230 línguas, muitas das quais estão quase extintas). É também inte ressante notar que 96% das línguas existentes no mundo são fala das por apenas 4% da população mundial; que cerca de 80 % das línguas são faladas apenas em um país e quecerca de 20 línguas são faladas por vários milhões de pessoas em diversos países. O interesse destes dados não é meramente estatístico. O volu me de Abril de 2000 do The Courier [181 é dedicado aos confli t os e à coexistência das diferentes línguas do mundo. Aí se chama a atenção para o facto de metade da população mundial usar ape nas oito línguas, enquanto um sexto das línguas do mundo são faladas apenas na Nova Guiné. O mesmo documento refere o ala s tramento do Inglês como meio de comunicação mundial (visto como resultado de um fenómeno de imperialismo cultural). Emen c io na ai nda o facto de grande número das chamadas línguas minoritárias estarem a desaparecer a um ritmo cada vez mais
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acelerado (sendo que comunidades linguísticas formadas por um número de indivíduos inferior a 10 0 000 não asseguram a sobre vivência da sua língua).
Áfric a 30%
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zação do uso de tecnologias multimédia, como a televisão, tende a esbater as diferenças dialectais. Por outro lado, ainda que o Português não s eja a única língua oficial de Portugal, é esta a língua falada por maior número de falantes e a que tem maiores possibilidades de crescimento. As outras línguas oficiais são a Língua Gestual P or tuguesa e o Mirandês. A Língua Gestual Portuguesa é utilizada por boa parte da comunidade surda portuguesa como
Repartição das línguas por continentes
O nome das línguas é outra das questões que pode suscitar controvérsia. Parece ser um facto pacífico, esperável até, que em Portugal se fale Português, mas que esse seja o nome da língua falada no Brasil é um dado que só é compreensível à luz do con texto histórico de formação desse país. Por outro lado, que uma das línguas oficiais de Espanha seja o Espanhol, quando esse nome corresponde a uma renomeação do Castelhano, é um facto que muitos dos falantes nativos das restantes línguas oficiais de Es panha (como o Catalão ou o Basco) têm dificuldade em aceitar. A caracterização linguística de Portugal mostra-nos que a comunidade de falantes é maioritariamente falante nativa do Por tuguês, o que significa que se trata de uma comunidade que não é afectada por muitas tensões linguísticas. Por um lado, as des crições da diversidade do Português no território de Portugal (cf. [06al e [07]) mostram uma divisão mais ou menos estável entre os dialectos setentrionais (que incluem os dialectos transmonta nos, minhotos e beirões), os dialectos centro-meridionais (que in cluem os dialectos do Centro e do Sul) e os dialectos insulares (dos Acores e da Madeira)2. Sabe-se, no entanto, que a general i-
2 Há registos sonoros dos dialectos portugueses em camoes.pt/cvc/hlp/geografia/mapa06.html
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língua materna. Esta língua só foi oficialmente reconhe cida em 2003, facto que veio a per mitir, por exem plo, a es colariz ação dos seus falantes nesta língua. O Mirandês 3 , que é uma língua de origem asturo-Ieo nesa e não galaico-portu guesa (como o Português), tem estatuto de língua ofi ciai desde 1999, mas só é fa lad o p or um p equ eno número de falantes, numa região do Nordeste trans montano, o que a caracte riza como língua minoritária e, a p ra zo , p ode pô r em causa a sua sobrevivência. Para alé m das línguas oficiais
Varíedades dó Português Português Falado. Documentos Autênticos [1 O] é um registo (com cerca de 9 horas de gravação e transcrição orto gráfica alinhada com o som). quer de conversas informais quer de interven ções mais formais, exemplificativo do Português falado em todos os paises de expressão oficial portuguesa.
Português Falado DOCUMENTOS A U T ~ N T I C O
G r t v . ç ~ j ' ~
.udlo com
t r . n ' ç r l ~ l o
S
.Ilnh,ada
lIna ola brasf ;"""1,
cabovH1l."
lul"é-!)l....,
m.cau f·'"
moçambique póf1Illillr
.10lomn"prlnclpe d m o r - l f l l ~ 8 : : ' ~
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!
há, em Portugal, comunidades fa
lantes estrangeiras, como o Crioulo Caboverdiano, o Romenodeoulínguas o Ucraniano. Por último, a distribuição geográfica das comunidades falan tes do Português assegura a presença desta língua na Europa (Por tugal), em África (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique
www.instituto 3
Sobre este assunto pode consultar-se mirandes.no.sapo.pt
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MARIA HELENA MIRA MATEUS /
ALlNA
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VILLALVA
e São Tomé e Príncipe), na América do Sul (Brasil) e na Ásia (Timor Lorosae e, residualmente, Macau). O reconhecimento do Portu guês como língua de trabalho em organizações internacionais, como a União Europeia, o Mercosul ou a Organização de Unidade Africana, veminternacional desta disseminação diversos continentes. A de Português já encontrou, comunidade falante pelos mesmo, uma instituição sua representante, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A esta diversidade geográfica cor responde uma esperável diversidade linguística.
Os crioulos de base portuguesa
são línguas natUrais , de formação rápida, criadas pela crioulos necessidade entre indivíduosin de expressão e comunicaçãoplena seridos em comunidades multilingues relativamente estáveis. Cha mam-se de base portuguesa os crioulos cujo léxico é, na sua maioria, de origem portuguesa. No entanto; do ponto de vista gramatical, os crioulos são línguas diferenciadas e autónomas. I... ) Em África formaram-se os Crioulos da Alta Guiné (em Cabo Ver de, Guiné-Bissau e Casamansa) e os do Go lfo da Guiné (em São Tomé, Príncipe Ano Bom). Classificam-se como Indo-port\.lgueses os crioulos da India (de Diu , Damão, Bombaim, Korlai, Quilom, Cananor, Tellicherry, Cochim é Vaipim e da Costa de Coromandel e de ~ e n g a l a ) e os crioulos do Sri-Lanka, a n t i ~ ( ) C e i l ã o (Trincomalee e Battlcaloa, Mannar e zona de Puttallam). NaAsia surgiram ainda criou los de base portuguesa na Malásia (Malaca, Kuala Lumpur e Singapura)' e em algumas ilhas da Indonésia (Java, Flores,remate, Ambom, Macassar e Timor) conhÇlcidos soba designaçãode Malaio portugueses. Os criOlJlos S i n o ~ p o r t u g u e s e s S ~ q O S de Macau eHong -Kong. Na América encontramos ainda um crioulo que se poderá con siderar de base ibérica, já que o português partilha com o castelhano a origem d e u ma grande parte do léxico (o Papiamento de Curaçau, Aruba e Bonaire, nas Antilhas) e um outro brioulohO SlJ riname, o Saramacano, que, sendo de base inglesa, manifesta no seu léxico uma forte influência portuguesa.) «Os
Dulce
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A situação do Português é, pois, complexa e merecedora de atenção linguística e política. No conjunto das línguas do mundo, o P or tu gu ês é u ma d as m ai s fal ad as : e mb or a a o rd en aç ão das línguas varie de autor para autor, em função dos dados considera d os e da s fontes utilizadas, a graduação mostra com clareza que o Português ocupa uma das posições de topo. Vejamos o seguinte exempl04: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
A propósito da diversidade do Português não pode deixar de referir-se o papel desta língua na formação de um grande número de crioulos:
Pereira
[06 b]
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7.
8. 9. 10.
Chinês, M and ar im Espanhol Inglês Bengali Hindi/Urdu Português Russo Japonês Alemão Chinês, Wu
885,000,000 332,000,000 322,000,000 189,000,000 182,000,000 170,000,000 170,000,000 125,000,000 98,000,000 77,175,000
Esta descrição do 'valor' do Português numa hierarquização das línguas d o m un do p ode i nd uz ir no er ro d e que há línguas melhores ou mais importantes do que outras. Não é esse o senti do que deve ser dado ao que acaba de ser dito: não é por ser falada por mais pessoas, em mais países ou em mais instituições internacionais que uma língua ganha maior valor intrínseco. O que essas medidas asseguram é a vitalidade da língua e alguma ga rantia da sua preservação, com o que isso pode significar de van tagem para as comunidades que a falam. Do ponto de vista l in gu ís ti co , o n úm er o de fal an te s de u ma l ín gu a ou o p re stíg io internacional que ela possa ter são critérios de comparação abso lutamente vazios de significado. A presunção de que há línguas melhores ou mais importantes do que outras radica integralmente em raciocínios preconceituosos, semelhantes, aliás, aos que tomam a norma de uma língua como um dialecto mais 'correcto', 'respeitável' ou 'sofisticado' d o q ue
4 Dados do Ethnologue Survey (1999), disponfveis em web.archive.orgl web/19990422030645/www.sil.org/ethnologueltop100.html
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MARIA H E LE NA M I RA M A TE U S I ALlNA VILLALVA
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outros ou aos que consideram que os crioulos não são línguas ou são línguas 'deficientes', ou ainda àqueles que afirm am que a gramática de u ma dada língua é mais complexa ou difícil do que a de outra. Não existe qualquer fundamento linguístico para ne nhum destes raciocínios - trata-se de manifestações de uma ideo logia que reconhece aos detentores do poder dir eitos que não reconhece aos restantes indivíduos e que defende que o acesso
DE ONDE VEM A REFLEXÃO SOBRE A LINGUAGEM E AS LíNGUAS?
ao poder passa pela imitação dos poderosos.
As notícias conhecidas sobre a origem das línguas humanas situam-nos entre 100 000 e 2 0 0 00 a. C. Sabe-se que o tracto vocal evoluiu de uma forma não-humana, de modo a per mitir o estabelecimento de um sistema de comunicação rápido e eficaz, ainda que à cu st a de uma perda de p ro fi ci ên ci a no si ste ma respiratório e na deglutição. Também se sabe que o tracto vocal de um Neandertal é semelhante ao de uma criança recém-nasci da nossa contemporânea, o que permite pôr a hipótese de que a sua acuidade linguística seria idêntica. A origem das reflexões sobre as línguas tem, naturalmente, de ser posterior. O que se segue procura dar conta dos pontos de viragem na história deste domínio do conhecimento.
A INVENÇÃO
DA ESCRITA
Povos como os egípcios ou os sumérios, que inventaram for mas de escrita numa época longínqua situada entre o IV e o II mi lénios a. C" tiveram necessariamente que tomar consciência da estrutura da sua língua para a escrever. A invenção da escrita teria que levar a uma reflexão sobre a natureza da língua, visto tratar se de uma técnica que deveria dar conta dos elementos da língua falada separando, pelo menos, as frases umas das outras. Tanto os egípcios quanto os sumérios escreviam já frases constituídas por uma sucessão de símbolos que correspondiam às palavras.
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Além disso, os hieróglifos egípcios associavam frequentemente imagens de objectos reais a sons. Por sua vez, entre 1500 e 1000 a. C., os chineses utilizavam ideogramas, ou seja, pequenos de senhos que representam objectos ou conceitos e correspondem a palavras monossilábicas, para representar outras pala vras. Um dicionário chinês Alfabetos do século I a. C. regista 9000 Os alfabetos de base fonética são símbolos correspondentes a listas de símbolos gráficos convencio 9000 palavras. Há portanto, nalmente ordenados, que represen num caso como no tanto tam sons. A estes símbolos dá-se o outro, uma análise, ainda nome de grafemas. que muito elementar, de cer Um sistema de escrita de base fonética corresponde a um avanço na tas unidades básicas das lín história do conhecimento, já que a re guas como as frases e as lação entre um som e um símbolo grá palavras. fico pode ser mais universal do que a relação que envolve um conjunto de porém, osumfení al cíos,Foram, que inventaram sons associado a um significado, rela" fabeto de base fonética na ção que s6 é compreensível numa segunda metade do II milénio dada língua particular. a. C., os primeiros a tomar consciência dos sons que constituíam a sua língua. Embora não possua caracteres que re presentem as vogais, este sistema de escrita pode classificar-se como um sistema de base fonética. E é este alfabeto fenício, reinterpretado primeiro pelos gregos e pelos romanos depois, que está na base do alfabeto usado pela generalidade dos sistemas de escrita contemporâneos: Alfabeto fenício { A
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PRIMEIRAS GRAMÁTICAS
As primeiras descrições linguísticas conhecidas foram produ zidas em obras de gramáticos hindus, no I milénio a. C. Na índia antiga, o Sânscrito (palavra quee significa conside e, por essaerarazão, rado como uma língua mágica sagrada 'perfeito') não podia sofrer a menor alteração de pronúncia ao ser usada nos ri tuais religiosos. É, pois, em consequência de uma preocupação religiosa que as descrições desta língua vão surgir. O mais conhecido dos gramáticos hindus é Panini, que viveu no século V ou IV a. C. A descrição dos sons, a representação das sílabas por diferentes caracteres conforme as consoantes e as vogais que as constituem, as regras ou definições com que o autor explica a construção das frases ou dos nomes compostos mostram um conhecimento aprofundado do funcionamento do Sânscrito. Esta preocupação com a preservação da pureza da língua, ou seja, com as consequências da mudança linguística - atitude que caracteriza a gramática de Panini e dos restantes gramáticos hindus -, irá sendo retomada ao longo dos séculos e persiste ainda nas chamadas gramáticas normativas, como, por exemplo, as gramáticas escolares destinadas ao ensino da língua.
OS
GREGOS E OS ROMANOS
O estudo das línguas desenvolvido pelos gregos orienta-se em dois sentidos. Por um lado, a curiosidade e o interesse acerca da origem da linguagem, da mudança e da diversidade linguística levam a reflexões filosóficas como as que encontramos em Platão (428-348 a. C.l e em Aristóteles (384-322 a. C.). O ponto cru cial destas reflexões situa-se na discussão entre a defesa, feita por Pla tão no Crátílo [13], de que as palavras reflectem, por na tureza, a realidade que nomeiam, e a convicção aristotélica de que o seu significado resulta de um acordo entre os homens e, portanto, é convencional [01]. Outros autores procuraram alcançar um conhecimento mais aprofundado acerca do funcionamento da sua língua. A análise do Grego em todos os seus níveis começa por permitir um aper-
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feiçoamento do alfabeto, mas também conduz à elaboração de gramáticas. A autoria da primeira gramática grega, que distingue oito partes do discurso5 - artigo, nome, pronome, verbo, particí pio, advérbio, preposição e conjunção - é atribuída a Dionísio de Trácia (170-90 a. C.l. A análise sintáctica do Grego é desenvol vida na obra de Apolónio Díscolo (século II d. C.) que, na esteira de Aristóteles, considera que a estrutura da frase assenta em dois elementos fundamentais: o sujeito e o predicado. O conhecimento da língua e o desenvolvimento da gramática entre os gregos estiveram intimamente ligados à preocupação com a inter pr etação dos textos dos poetas antigos, sobretudo dos célebres poemas épicos Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero (século IX ou VIII a. C.), dando, deste modo, origem à criação da filologia, disciplina que estuda as línguas a partir de textos, literá rios ou não. As obras dos gramáticos gregos e a sua doutrina gramatical tiveram repercussão sobretudo no oriente grego, chegando tar diamente ao ocidente da Europa, através dos gramáticos latinos. Nas palavras de Mounin, «se Roma merece um capítulo numa história da linguística, é bem menos por ter produzido que por haver transmitido» [12]. Na realidade, e apesar de as obras dos gramáticos latinos serem mais demoradamente descritas na his tória da linguística do que as dos gregos, o seu mérito é sobretu do o de nos ter em dado a conhecer as reflexões gramaticais e filosóficas dos seus antecessores, na linha, aliás, de outros ensi namentos que Roma foi buscar à Grécia subjugada. No entanto, também se deve ter em conta a importância dos gramáticos latinos, sobretudo porque muitas das suas obras apon tam, originalmente, para uma finalidade diferente do estudo filo sófico ou da doutrina gramatical. Note-se, por exemplo, que Varrão (116-27 a. C.), um gramático latino, distingue o uso da língua comum do uso literário (considerado como o bom uso), presta uma atenção especial às questões etimológicas e procede a uma codi-
5 Chama-se 'partes do discurso' ou 'partes da oração' às categorias sintácticas, como 'verbo', 'adjectivo' ou 'advérbio', que também podem ser designadas categorias gramaticais.
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SOBRE
LINGUíSTICA
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ficação das regras fundamentais da língua latina. Por outro lado, a obra de Quintiliano (c. 40-100 d. C.), professor de retórica, des tinava-se basicamente a formar o orador que utilizava a língua para convencer o seu auditório. E não se pode esquecer, por fim, Elius Donatus (século IV d. C.), a ut or da obra De Partib us Orationis, que se ocupa, como Dionísio de Trácia, da categorização das palavras.
A
IDADE MÉDIA
Os gramáticos latinos mantiveram-se como modelo durante toda a Idade Média. Nos países nórdicos e anglo-saxónicos, as gramáticas latinas foram as primeiras a ser sistematicamente e l a ~ boradas para o ensino de uma língua estrangeira - neste caso o Latim que, durante séculos, cumpriu a função de língua franca. Nos países de matriz r omânica, o estudo das línguas ver náculas - como as várias línguas faladas na Europa Ocidental _ era feito, até meados do século XVI, a partir de gramáticas escri tas em Latim e que seguiam o modelo das primitivas gramáticas latinas. A partir dessa altura, a alfabetização recebeu um notável impulso, que prosseguiu com a possibilidade de difusão dos tex tos escritos, nos quais se incluíam as gramáticas. A partir da Bíblia de Mainz, com apenas 42 linhas e cujos cerca de 180 exem plares foram impressos entre 1 4 5 2 e 1 45 5 nas o fi ci na s de Gutenberg (ou talvez a partir da Ars Minor, uma gramática esco lar de Elius Donatus cuja edição pode ter antecedido a da Bíblia de Gutenberg), a tipografia assegurou uma difusão muito maior a muitos mais textos. As gramáticas das línguas vernáculas e escritas nessas mesmas línguas passaram, assim, a chegar mais
facilmente às mãos dos estudantes da época. Em Portugal, onde já se falava Português há alguns séculos, a Gramática da Linguagem Portuguesa que Fernão de Oliveira pu blicou em 1 53 6, e a Gramática da Língua Portuguesa (1540), de João de Barros, são as primeiras gramáticas do Português, escri tas em Português. Além de se tratar de obras escritas em verná culo, estas gramáticas fornecem informações sobre a construção das palavras e das frases. Mas a área do estudo das línguas que
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conheceu maior desenvolvimento durante e a partir do século XVI foi a fonética, em consequência da importância que se deu, pela primeira vez, à língua falada. A descrição que Fernão de Oliveira faz das vogais e das consoantes do Português é um interessan tíssimo exemplo do lugar de relevo em que o autor colocava as questões de articulação dos sons.
A primeira
gramática portuguesa
A primeira edição da Gramática da Linguagem Portuguesa, de Fernão Oliveira, foi publicada e m L isbo a, e m 1536. O único exemplar conhe cido desta edição pertence à Biblioteca Nacional, que, em 1981, editou um fac-simile. Mais recentemente foi disponibilizada uma versão integral na Série Memória da Ungua da Biblioteca Nacional Digital (purl.pt/120j, de que a qu i s e reproduz a folha de rosto. A terceira edição é d e 1 93 3 efoipre parada por Rodrigo de Sá Nogueira (Lisboa: José Fernandes Júnior). Em 1975, a edição e notas preparadas por Maria Leonor Carvalhão Buescu são publica das pela Imprensa Nacional - C as a d a Moeda. A edição mais recente, fixada por Amadeu Torres e Carlos Assunção, de
foi publicada em 2000 pela Academia das Ciências de Lisboa.
o
RENASCIMENTO
EO
INTERESSE PELO VERNÁCULO
Com o Renascimento desenvolveu-se, de forma sistemática, o estudo das línguas particulares. Afastando-se da tradicional atenção dada a aspectos gerais que ultrapassavam as línguas in dividuais (por exemplo, as definições genéricas de 'sujeito' e 'pre dicado' como partes indispensáveis da oração), os gramáticos começaram a examinar as características que distinguiam as lín guas entre si. O começo do interesse pela variação dialectal per-
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tence aos primórdios do Renascimento e pode localizar-se no iní cio do século XIV, a partir de um tratado de Dante sobre catorze dialectos italianos 6 , que mostra a sensibilidade do poeta às dife renças dialectais, embora as considere pouco dignas da «verda deira língua italiana», É t am bém no f inal da Idade Média e no início do Renascimen A Ortografia to que se dá um i nc rement o do de Nunes de Leão ensino da leitura e da escrita em Alguns exemplares estão dis vernáculo, correspondendo à s n eponíveis nos reservados da Bicessidades provocadas pelas cir blioteca Nacional. A folha de cunstâncias históricas da época rosto aqui reproduzida provém da (como por exemplo as v iagens edição digitalizada, que pode ser marítimas e as consequentes consultada em purl.pt/15. trocas económicas). Durante a A edição maisrecente, que é primeira metade do século XVI, a 4. a, tem introdução, notas e lei Cartinhas, surgem numerosas ou Cartilhas, para aprender a ler, uti lizadas em Portugal mas também enviadas para terras longínquas, como a Cartinha publicada em conjunto com a Gramática de João de Barros, ou a indicação, datada de 1512, de u m e nv io de livr os para a fndia co m a se g u inte in for m açã o «Remete-se um caixote de Cartilhas para Cochim» [111.
de Maria tura Leonor Carvalhão Buescu e foi publicada pela Im prensa Nacional ... Casa da Moe da, em 1983.
A parti r do s éc ul o XVI publi cam-se várias Ortografias, das quais vale a pena destacar a Ortografia da Língua Portuguesa, de
Duarte Nunes de Leão (1576), as
6 Apesar de escrito em Latim, no De Vulgari Eloquentia /1304-1305), Dante faz um elogio da língua vulgar, que n o s eu caso é o Toscano, lín gua que está na base do moderno Italia no.
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Regras Gerais, Breves e Compreensivas da Melhor Ortografia, de Bento Pereira (1666), e a Ortografia ou Arte de Escrever e Pronunciar com Acerto a Língua Portuguesa, de Madureira Feijó (17341. Entre os séculos XVI e XVIII, o ensino das línguas vernáculas ocupou um espaço progressivamente mais amplo. Em Portugal, a p ar d as g ra má ti ca s, d as c ar ti nh as e das o rt og ra fi as , s ur gi ra m dicionários e vocabulários - são descrições do léxico da língua por-
incluindo a 'ortografia bárbara' ou a 'sintaxe solecista', termos usados para referir erros de ortografia e de sintaxe. A par desta perspectiva prática do ensino e do estudo da lín gua, os séculos XVII e XVIII foram pródigos em reflexões filosófi cas sobre a linguagem humana e as características universais das línguas. Tendo como exemplo a Grammaire Générale et Raisonée dos franceses Arnault e Lancelot (1660), surgiram nos séculos
tuguesa em que o Latim ocupa
seguintes, em várias línguas, gramáticas filosóficas que procura vam os fundamentos da capacidade humana de falar e interpre tavam as estruturas das línguas de acordo com aspectos lógicos do pensamento. Em Portugal, a obra mais notável e conhecida n es te d om ín io f oi a Gramática Filosófica da Língua Portuguesa, de Jerónimo Soares Barbosa.
va já uma parte diminut a.
o Verdadeiro Método de Vieira
A.Série Memória da Língua da Biblioteca Nacional Digitaldisponibi liza uma reprodução digitalizada da 1.• edição do Verdadeiro Método de Estudar, em purl.pt/118. . E x i s ~ e uma edição em cinco volumes, de. António Salgado Júnior, publicada -pela Sá da CQsta Elntre 1949 e 1952. ..
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Notável neste domínio é o Vocabulário de Rafael de Bluteau, uma obra enciclopédica em dez volumes, publicada entre 1712 e 1721. Foi também no século XVIII, e com o firme apoio do Mar quês de Pombal, que floresceu e se i mp ôs a i mp or tâ nc i a da aprendizagem do Português
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A Gramática Filosófica
A Série Memória da Língua da Biblioteca Nacional Digital disponibiliza uma reprodução digitaliz ada da 1. a ediç ão d a Gramática Filosófic a, publicada em 1822, pela Academia das Ciências de Lisboa (purl.pt/128).
nas escolas básicas. Luís An t ón io Ver ne y i ni ci a o seu Verdadeiro Método de Estudar p ar a s er Útil à República e à Igreja, Proporcionado ao Estilo e Necessidade de Portugal (1746) pela afirmação de que é necessário aprender a gramá tica da l ín gu a m at er na c om o base e 'porta' para outros estudos. Foi, aliás, a preocupação c om o e ns in o da ' no rm a c ul ta ' e da correcta ortografia e sinta xe que levou à criação, no tem po de Pombal, da Real Mesa Censória, cuja função consistia em eliminar os textos que apre sentassem aspectos censuráveis de conteúdo ou de forma,
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ONDE COMEÇA
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LINGuíSTICA?
Pode dizer-se que a especulação acerca da origem das línguas é quase infrutífera: não há registos e não há como contornar a efemeridade da produção linguística. Os enunciados vivem enquan to são produzidos e recebidos, pelo que deles mais não pode res
t ar do que a m emó ri a nos f al an te s e nv ol vi do s na situação de enunciação. Saber se a capacidade de linguagem nasceu com a espécie humana, ou se o desenvolvimento do homo loquens (ex pressão latina usada para r efer ir a espécie humana dotada de capacidade de linguagem) é posterior, e se todas as línguas têm origem num único sistema linguístico ou se a diver sidade é um dado de partida, são desígnios tão (in)alcançáveis, para já, quanto o do conhecimento da origem e evolução da própria humanidade. A dificuldade de encontrar uma teoria satisfatoriamente ex plicativa acerca da origem de todas as línguas levou a Société de Linguistique de Paris a aprovar, em 1866, uma moção proibindo qualquer referência à origem da linguagem nas suas reuniões. Esta proibição não fez, contudo, desaparecer o interesse pela relação histórica e genealógica entre as línguas. Foi, aliás, esse interesse que motivou a enorme aceitação com que foi recebida uma con ferência sobre o Sânscrito, apresentada por William Jones, um estudioso de línguas orientais, na Sociedade Asiática de Bengala, em 1786. Nessa conferência, Jones afirmou que o Sânscrito pos suía uma estrutura maravilhosa, mais perfeita do que o Grego e mais abundante do que o Latim, mas que, simultaneamente, evi denciava um estreito parentesco não só com essas duas línguas mas também com o Céltico, o Gótico e o antigo Persa. A existên-
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cia d e u m t al p ar en te sco p od er ia vir a m ostr ar q ue t od as d er iva vam de u ma fonte comum que talvez já não existisse, sendo por tanto necessário proceder a uma comparação do Sânscrito com línguas europeias, para que se pudesse ir mais longe no conheci mento da sua origem e das suas características gramaticais. Se e sse p ar en te sco vie sse a ser p ro va do , e nt ão a lí ng ua f al ad a na índia antiga e as línguas que estavam na base das línguas euro peias actuais teriam tido uma 'mãe' comum. A hipótese da existên cia dessa protolíngua desconhecida veio a ser aceite, tratando-se de u ma r ecri ação a p ar ti r d os a sp ecto s com un s q ue era p ossível detectar entre as suas 'filhas' (as línguas antigas da índia e da Europa), ou seja, entre as línguas a que se podia ter acesso, fos se directo, através de documentos escritos, ou indirecto, anali sando as línguas contemporâneas. Essa protolíngua passou a ser denominada Indo-europeu. Iniciou-se, então, a grande empresa dos linguistas da época que, seguindo o interesse contemporâneo pela descoberta das origens do pensamento e da religião, o estenderam ao estudo das línguas, tomando em mãos o trabalho de estabelecer sistemati camente a comparação entre elas. Dos estudiosos comparatistas cujas obras ainda hoje são merecedoras de atenção, destacam -se Rasmus Rask (1787-1832), filólogo dinamarquês, e Franz Bopp (1791-1867), f il ó lo go a le mã o, q ue e st ab el ecer am p ri ncíp io s e métodos para o estudo comparado das línguas a partir da análise filológica de textos. A e ste s n om es d ev e a cr es ce nt ar -s e o de Wilhelm von Humboldt (1767-1835), linguista e político alemão que se interessou pela relação entre o homem e a linguagem (<
I
vivo que nasce, cresce e morre aproximou o seu estudo das hipó teses formuladas por Darwin sobre a origem das espécies e a sua evolução por meio de uma selecção natural. No entanto, não foi por causa deste enfoqu e hist órico que
essa época foi enten dida c om o a d o nas cimento da linguística como ciência. Foi sim em consequência da descrição sistemáti ca, rigorosa e compa rada das unidades fonéticas e morfoló gicas das línguas em análise. Não se tra tava já de estudar as p e ct os
h i st ó ri c os
ou filosóficos atra vés das línguas, mas, co mo d izi a Franz
Bopp [05], as línguas eram estudadas por si mesmas, como objec to e não como meio de conhecimento. Este é o m om en to em que se consi dera que a linguística se constitui como um domínio do conheci-
A palavra 'linguística' Cabe aqui abrir um parêntese sobre a utili zação dotermo linguística, já que alguma re lação existe entre o seu uso e. a consideração da linguística como um domínio científico. 'Sprachwissenschaft', 'Iinguistics', 'Iinguistique' e 'linguística' são termos de línguas diferentes (Alemão, Inglês, Francês e Português, respec tivamente) que não começaram a ser usados si multaneamente. Com os linguistas alemães, o termo Sprachwissenschaft surgiu a partir da se gunda metade do século XIX. O uso dos termos equivalentes nas outras línguas é bem posterior. Vale como curiosidade referir que, até há bem ~ o u c o tempo, a palavra inglesa 'Iinguist' signi
ficava, sobretudo, 'aquele que sabe línguas'. A România (designação que engloba o conjun t o dos parses românicos) também foi muito renitente na substituição da denominação tra diCio nal de filologia (que estuda textos escritos) p ela d e 'linguística' quando se tratava do estu d o d as línguas. Note-se, por exemplo, que nos anos 50 do século XX as disciplinas que trata vam de língua na Faculdade de Letras de lis boa - mesmo quando já se falava do trabalho de Saussure - se chamavam 'Filo logia Portugue sa' e 'Gramática Comparativa'.
J~
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m e ~ t o . A. marca visível aparece nos trabalhos de toda uma plêiade de investigadores alemães e nórdicos, maioritariamente redigidos e ~ A l e ~ ã o , que fixaram a relação entre as línguas indo-europeias, eVidenCiando as correspondências fonéticas e morfológicas detectadas na análise das línguas escandinavas e germânicas, do G re go e d o L at im , d o L it ua no , d o A rm én io , do S ân scri to e do Iraniano.
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A Língua portuguesa A Série Memória da Língua da Biblioteca Nacional Digital disponibiliza uma reprodução digitalizada da 1." edição de A Língua Portuguesa, em purl.pt/141 e uma outra da 2." edição, de 1887, emendada e aumentada pelo autor, em purl.pt/30.
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Importa agora sublinhar duas importantes orientações que se manifestaram no estudo das línguas durante a segunda metade do século XIX. A primeira resulta de um crescente interesse pela des crição das línguas vivas, fa
não tinham sido estudados sistematicamente. A orientação que toma ram os estudos das línguas elaborados pelos sucessores dos linguistas da primeira metade d o s éc ul o XIX fo i
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A Esquisse de Leite de Vaconcelos A Esquisse foi publicada em 1901. Em 1987, o Centro de linguís tica da Universidade de Lisboa patrocinou uma reimpressão da 2." edição, que inclui aditamentos e correcções do autor. A Série Memória da Língua da Biblioteca Nacional Digital dispo nibiliza uma reprodução digitalizada da 2." edição em purl.pt/160.
quadro que Adolfo Coelho publica A Lfngua Portuguesa: Fonologia, Etimologia, Morfologia e Sintaxe, sendo a data d a s ua publicação - 1868 - considerada por Leite de Vasconcelos (médico de for mação de base, mas notável como etnólogo, arqueólogo e filólogo) o «limite a quo da filologia científica portuguesa»7. A segunda orientação dominante está relacionada com o de
pela geração seguinte, a geração dos neo gramáticos (uma tradução desajeitada do termo original alemão - Junggrammatiker que significava 'jovens gramáticos'), cuja s perspectivas se desen volveram durante o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Aceitando um ponto de vista eminentemente histó rico, os neogramáticos introduziram a hipótese da existência de
da fonética. Assente em métodos experimentais, senvolvimento beneficiou do progresso da física e da anatomia que permitiu a construção de instrumentos adequados à análise do chamado contínuo sonoro e dos movimentos articulatórios ligados à pro dução dos sons da fala. Em simultâneo, com o progresso dos estudos fonéticos, o estudo histórico ou diacrónico, que relacio nava estados de língua separados no tempo, era substituído por uma abordagem sincrónica, que prestava atenção aos diversos fenómenos linguísticos que caracterizam um único momento na existência de uma língua. É este o contexto que justifica que, na primeira metade do século XX, os estudos de dialectologia e de geografia linguística passassem a primeiro plano na atenção dada
leis fonéticas de carácter absoluto, como aaspartir leis de estabeleceram correspondências fonéticas da Grimm, evoluçãoque de palavras cognatas em línguas irmãs. Por exemplo: as palavras começadas por [f], no Português, correspondem com muita fre quência a palavras começadas por uma consoante aspirada, no Castelhano: farinha / harina, filho / hijo). Estas leis eram apresen tadas como universais, ou seja, aplicar-se-iam cegamente sobre os sons e explicariam as mudanças linguísticas de uma forma idên tica para todas as línguas. A atestação de pares de palavras como fogo / fuego veio a mostrar que a realidade é um pouco mais com plexa, dado que, neste caso, a evolução fonética não gerou o re sultado previsto. Apesar de objecções deste tipo, esta foi uma
pelos linguistas à língua falada. Este interesse foi suscitado pelo trabalho de Jules Gilliéron, dialectólogo de origem suíça que, na última década do século XIX, preparou o Atlas Linguistique de la France, publicado entre 1902 e 1923. Em Portugal, a Esquisse d'une Dialectologie Portugaise, de Leite de Vasconcelos, deu a conhecer as particularidades dos dialectos portugueses que ainda
época em que floresceram as gramáticas históricas das línguas europeias. As seguintes obras merecem especial relevo, pela in dubitável importância que têm para o conhecimento da história do Português: a Sintaxe Histórica Portuguesa de Epifânio A Série Memória da Língua da da Silva Dias foi publicada em Biblioteca Nacional Digital disponi 191 8 e o Compêndio d e G ra bili za uma reprodução digitalizada da mática Histórica Portuguesa 1." edição da Sintaxe Histórica em de J osé J oa qu im Nunes fo i purl.pt/190. publicado em 1919.
contestada
l ad as p el as populações contemporâneas.
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A expressão latina a q uo significa 'data a partir da qual se começa a contar um prazo'. 7
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A linguística portuguesa for a de portugal
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O interesse pelo estudo do Português não tem fronteiras, ~ o m o ber;' I o demonstra o trabalho de Jules Comu, autor da primeira gramatica hlsto- i rica do Português, publicada em 1888, em Alemão, com o título Grammatik I der portugiesischen Sprache; ou o livro Altportugiesisches: E l e m e n t a r b ~ c h , \ de Joseph Hüber, publicado e m 1 93 3 e traduzido em 1986 c om o titulo : Gramática do Português Antigo; e ainda From Latm to Portugues e, que Edwin Williams apresentou e m 1 93 8 e que só em 1975 fOI traduzida com o título Do Latim ao Português. . I Papel particularmente relevante neste domínio é o que cabe ao ~ r a s l i , I com linguistas como Said Ali. autor de diversos textos de r e f ~ r e n c l a . A sua Gramática Histórica [da Língua Portuguêsa]. de 1931 (que reune dOIs volumes anteriormente publicados - a Lexeolog ia do Português H ~ s t ó r i c o , de 1921, e a Formação de Palavras e Sintaxe do Português H I s t o r ~ c o , de 1923). foi, à data da sua publicação, um trabalho inovador e mantem-se, até hoje, como uma referência incontornável.
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SÉCULO
XX
Descobertas as relações genéticas entre as línguas e algumas das bases fonéticas da mudança linguística, chega-se ao século xx e ao início da pesquisa que olha para as línguas na sua especifici dade, como expressão de uma faculdade humana. Por reacção ao positivismo dos neogramáticos, e admitindo uma dimensão psi cológica para além da dimensão mecânica anteriormente reconhe cida, surgiu na Europa, durante a primeira metade deste século, a c or re nt e qu e i ri a o cu pa r d ur an te l ar go s an os o l ug ar ma is i m portante no estudo da ciência da linguagem e das demais ciên cias humanas. Trata-se do estruturalismo, corrente de pensamento que se baseava na importância que a 'forma' vinha assumindo na recém-criada psicologia, e na perspectiva de que a linguagem era uma actividade com uma estrutura especial, ou seja, uma activi dade que funcionava em sistema. Enquanto, na Europa, essa ver tente das teorias psicológicas influenciou largamente a linguística, nos Estados Unidos da América foi a teoria do comportamento, que relacionava estímulo e resposta, o instrumento que os linguis-
tas norte-americanos usaram para explicar o funcionamento da linguagem. A e st as d ua s v er te nt es d o e st ru tu ra li sm o e st ão l ig ad os os nomes de dois grandes linguistas: Ferdinand de Saussure (1857 - 1 9 1 ~ ) , na Europa [17], e Leonard Bloomfield (1887-1949), na América do Norte [04]. Para a história da linguística um dos mais relevantes movimentos da época foi a criação, em 1926, do Círculo Linguístico de Praga, que estabeleceu uma coordenacão nos estudos da fonética e da fonologia das línguas e r e p r e s e n t ~ u uma inovação nos métodos de análise estruturais. Os linguistas mais n ot áv ei s d es te g ru po f or am o p ol ac o Bau do ui n de C ou rt en ay (1845-1929) e os russos Nicolai Trubetzkoi (1890-19381 e Roman Jakobson (1896-1982). Para todos estes linguistas, 'estrutura' significa um conjunto de elementos que constituem um sistema pelas relações que esta belecem entre si. Assim, por exemplo, afirmar que as línguas têm uma estrutura fonológica significa que se servem de um conjunto de sons que funcionam nas palavras por contraste e na relacão de uns c om os o ut ro s. O c on ce it o de e st rut ura é uma p r e s e ~ ç a constante nos trabalhos dos linguistas da época, motivando a criação de métodos e técnicas de descrição e análise próprios. Os dados em que assentam as descrições das línguas constituem o corpus que, na perspectiva estrutural, deve ser recolhido junto dos falantes para atestar as particularidades e os elementos que pertencem, na realidade, à língua em estudo. Os bons resultados da investigação realizada no que diz respeito à descrição das lín guas, com metodologias de trabalho claras e sistemáticas, e que se tornaram visíveis no efectivo progresso do conhecimento lin outras ciências humanas, como a antropo g U í ~ t i c o , c o . n v i d ~ r a m logia, a sociologia e a arqueologia, a adoptar os instrumentos de análise que a linguística desenvolveu. . E ~ Portugal, a perspectiva estruturalista está presente, pela pr.lmelra vez, na obra de Jorge de Morais Barbosa (cf. [03]), pu b h c a d ~ em 1965. No Brasil, também nos anos 60, distinguiu-se Joaquim Mattoso da C âma ra J r. , q ue , por o po si cã o ao meca nicismo reinante na época na linguística n o r t e - a m e ~ i c a n a tomou então como referência a visão mentalista desenvolvida p ~ r Sapir (cf.[16]).
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o ESSENCIAL SOBRELINGuíSTICA
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A LINGuíSTICA FORMAL A linguística foi precursora na adopção da abordagem estru turalista, mas também recorreu a outros domínios do conhecimen to, como a lógica, a estatística e a computação, para encontrar instrumentos de análise. Foi durante o século XIX e o início do s éc ulo XX que a lógica abandonou certos fundamentos que remontavam a Aristóteles (por exemplo, a noção filosófica abstracta de 'forma' por oposição à de 'matéria') e, tomando a matemática como modelo, construiu uma linguagem constituída por símbolos e regras para a expres são do conteúdo do pensamento lógico. Na interacção da matemática com a lógica foram adoptados instrumentos teóricos como os sistemas formais ou a lógica de pre dicados, que influenciaram profundamente os estudos linguísticos a partir de meados do século XX. OS linguistas passaram, desde então, a recorrer a representações formais das unidades e dos processos linguísticos. De uma forma muito simplificada, pode di zer-se q ue o s elementos concretos são substituídos por símbolos que permitem representar, de um modo abstracto, as relações entre os elementos dos sistemas linguísticos. A utilização destes instru mentos por linguistas norte-americanos desenvolveu, por exemplo, a análise das frases em constituintes imediatos, ou seja, em unida des menores do que a frase, como o sintagma nominal e o sintag ma verbal (representados respectivamente por SN e SVI. e a análise dos sintagmas em constituintes menores, até chegar às palavras. Quando se representa a unidade 'frase' por F, a unidade que inclui o nome e os s eus especificadores e modificadores por SN e o verbo e seus complementos por SV, podem apresentar-se as relações entre estas três unidades através de uma representação, que faz uso de parênteses rectos para mostrar os limites de cada constituinte e as suas relações hierárquicas. Por exemplo, em: [F [SNI [SVIl F: • [SNI e [SV I são unidades do mesmo nível, linearm ente dis postas pela ordem apresentada: [SNI precede [SVI e [SVI é precedido por [SNI; • [FI do mi na [ SNI e [SVI ou, i nver sa me nt e, [SNI e [ SVI são dominados por [FI.
•
47
Esta é uma representação formal extremamente elementar, mas que cobre todas as frases que integrem apenas um sintag ma nominal e um s intagma verbal, c om o é o caso de: O irmão do meu cunhado tem um carro descapotável. [F
[o irmão do meu cunhado]sN [tem um carro descapotável]sv IF
Ainda que seja equivalente à anterior, a representação formal das frases que mais se vulgarizou foi a dos chamados indicado res sintagmáticos, mais conhecidos como árvores. Os parênte ses são substituídos por ramos que nascem no nó que dom ina e terminam no(s) nó(s) dominado(s). Os ramos que se unem na base, formando um triângulo, indicam que o constituinte que dominam não está plenamente analisado:
F SN
SV
o irmão do meu cunhado
tem um carro descapotável
A v antagem de um modelo de análise linguística que utilize este tipo de representação face aos modelos não-formalizados reside no acréscimo de capacidade explicativa e na melhoria da classificação das estruturas complexas. A linguística é um domí nio em que o objecto do conhecimento é descrito por si próprio: 8
é a língua que permite descrever a língua. Sendo a ambiguidade 8 A ambiguidade é uma propriedade das línguas naturais. Neste sen tido, ambiguidade não é sinónimo de imprecisão. O que esta propriedade quer dizer é que determinadas unid ades linguísticas permitem mais do que uma interpretação. É o q ue s uc ed e n uma f ra se c om o o João trouxe um livro do colégio, em que do colégio tanto pode ser '0 local deonde o João trouxe o livro', como '0 possuidor do livro'. Por vezes, o contexto permite seleccionar a interpretação adequada, mas há circunstâncias em que tal não é possível.
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uma das propriedades das línguas naturais, só a utilização de um sistema formal permite descrever os fenómenos linguísticos de
SERÁ
A LINGuíSTICA UMA
CIÊNCIA?
forma inequfvoca.
As árvores do conhecimento O uso da metáfora da árvore na representação das
e s t r u t u r a ~
linguís
ticas não é original. No domínio dos estudos linguísticos, r e g l s t a - ~ e a árvore da gramática, uma elegante iluminura incluída nas Grammatlces Rudimenta, u m m an ua l (incompleto) de ensino de verbos, datado de 1538, que ......... - - - ~ • •ií João de Barros dedicou à Infanta D. Ma- ! ria. A primeira utilização da árvore como f instrumento para a representação do f c o n h e c i m ~ n t o é, contud?,.bastante mais I. antiga: a arvore de PortlrlO encontra-se
r
-
I
I "
na tradução para Latim que este fidlósdOfO fenício (século III a. C.) f ez d o trata o as categorias de Aristóteles [141. Na tradição generativa, as árvores (invertidas) mos-
tram hierarqui a dos constitUintes: os ramos aindicam relações de domínio entre nós (os pontos onde pode haver ramifi cação), que são identificados por etique tas categoriais.
~.t'f~
l'
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, .,,1 : ......
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I
I
Esta dúvida sobre o carácter científico da linguística é comum a todas as chamadas ciências sociais ou humanas. Tal como em relação à psicologia, à sociologia ou à antropologia, também no â mb it o d os e st ud os da l in gu ag em con vi ve m d iver sa s f or ma s de conhecimento, que vão desde as abordagens filosóficas e históri cas às construções teóricas e formalizadas, passando pelas des crições pré-científicas e pelas aplicações em domfnios de grande diversidade, da sociologia à informática, às neurociências ou ao e nsin o. Esta m u lt ip l ici da d e de t ra ta m en to s d ecor re da p ró pr ia natureza da linguagem, que é simultaneamente veículo de inte gração social (a I fn gu a é u ma d as f or ma s de com un icação com os o ut ro s) e factor constituinte da construção do indivfduo: em boa medida, é através da Ifngua que as pessoas vão integrando a experiência da sua vivência. Na verdade, a relação da actividade l in gu fsti ca com os factos h is tó ri co s e s oc ia is , c om o u ni ve rs o p si co ló gi co e com a cri ação a rt fsti ca , col oca o e st ud o da l in gu a gem e das Ifngu as no c en tr o de u ma c on st ela çã o f or ma da p or múltiplas interacções com outras formas de comportamento hu m an o. A lé m d isso , co mo j á f oi d it o, a e sp ecif icid ad e da l in gu a gem humana leva a uma coincidência entre o objecto de análise e o meio c om que se e xp li ci ta e p ro du z essa a ná li se : é com pala vras que se estudam as palavras. Estes aspectos particulares do estudo da linguagem permitem, estimulam e valorizam interpre tações e análises subjectivas e não-cientfficas. Por t od as e sta s raz ões t em s id o d iff ci l o c am in ho de quem defende que a lingufstica é uma ciência. Para justificar esta afir-
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mação é, pois, necessário reflectir sobre as características essen ciais do que se considera ser uma ciência e verificar se essas características também existem neste domínio do saber.
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outros domínios que procedem de modo idêntico - a linguística teórica é um deles.
A LINGuíSTICA
TEÓRICA
o CONCEITO DE CIÊNCIA Pode definir-se ciência como um conhecimento sistematizado d o q ue vulgarmente se denomina 'o real'. Para que seja considerada científica, a forma de produzir esse conhecimento deve obedecer a um conjunto de requisitos que permitam, em idênticas circuns tâncias, a sua verificação. Esses requisitos incluem, entre outros: • uma clara delimitação do objecto de estudo: não é possível estudar tudo ao mesmo tempo, é preciso garantir que o estu do seja exequível;
Ainda que os anteriores paradigmas da análise linguística, como, por exemplo, o do estruturalismo, constituam quadros teó ricos coerentes, é no início da segunda metade do século xx que a linguística teórica conhece um desenvolvimento de maior r el ev o. T ra ta -s e da Teoria Generativa, indissociavelmente ligada à publicação, em 1957, do livro Aspects of the Theory of Syntax, de Noam Chomsky. A relevância da Teoria ~ ' \ I Chomsky em Português I Generativa é tributária de um conjunto de factores. 1965 Aspects of the Theory of Syntax 1975 Aspectos da Teoria da Sintaxe Antes de mais, esta propos Coimbra: Arménio Amado ta teórica r etoma e desen I
• a escolha de uma metodologia de trabalho: é necessário defi nir como se constitui um objecto de estudo e como se vai estudar o que se pretende conhecer; • uma descrição rigorosa dos dados, que permita uma repre sentação formalizada das estruturas, das relações e das fun ções das unidades que constituem o objecto de estudo, de modo a garantir que os mesmos dados possam voltar a ser analisados; • a formulação de hipóteses que dêem a conhecer a porção de 'real' analisada, sabendo-se que as hipóteses validadas por um dado estudo científico poderão vir a ser rejeitadas pelas hipóteses colocadas por um estudo posterior e que e ssa r ejeição não deve ser entendida como um retrocesso, mas sim como um progresso no desenvolvimento do conhecimento científico. Resta dizer que todos estes requisitos têm de ser cumpridos no quadro de uma dada escolha teórica, que explicite um conjun to de hipóteses coerentemente formuladas que permitam descre ver e analisar um dado domínio do conhecimento. Estas são características das áreas habitualmente consideradas 'científicas', como a física, a biologia ou a matemática, mas há
a hipótese da existência d e u ma capacida de e sp ec íf ic a d o h om em , denominada faculdade da linguagem, que te m sido entendida como u m d os fac t or es p ri nc ip ai s, s en ão o mais importante, na distin ção entre o homem e os animais. volve
1975 1971
Reflections on Language Reflexões sobre a Linguagem Lisboa: Edições 70
Knowledge of Language. Its Nature, Origin and Use 1994 O Conhecimento da Língua, sua Natureza, Origem e Uso Lisboa: Caminho
1986
1995
The Minimalist Program Minimalista
1999 O Programa
Na sequência desta hi Lisboa: Caminho pótese, a Teoria Generativa defende que todas as línguas do mundo compreendem um mes mo conjunto de princípios, a que dá o n ome de Gramática Universal (GU). Por outras palavras, as línguas 'escolhem' o modo de aplicação dos princípios da Gramática Universal. E defende também que a diversidade linguística resulta da selecção de um dos possíveis modos de aplicação desses princípios, ou seja, da parametrização dos princípios da GU. Este desenvolvimento da Teoria Generativa é chamado Teoria dos Princípios e Parâmetros.
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de sujeito; em quero a rosa, rosa ocorre em posição de com plemento directo) ou antepondo uma preposição (com a rosa,
o Parâmetro do Sujeito Nulo
da rosa)9.
Português. a presença de um sujeito foneticamente realizado pode ser dispensada. Vejam-se frases como: No
Eu fui Tu
Em
à
queres ir ao cinema? Inglês ou em Francês,
I went Tu
praia.
to
the beach.
veux aller au cinema?
vs.
Fui
vs.
Queres ir ao cinema?
à
Uma outra preocupação da Teoria Generativa consiste na pro cura de uma adequada descrição do modo como o conhecimento linguístico está organizado no cérebro dos falantes. Esta preocupa ção deu origem à idealização de um modelo de gramática que
praia.
a explicitação do sujeito é obrigatória: vs.
* went to
vs.
* veux aller au cinema?
os domínios que a integram, ou seja, os seus módulos, eexplicita o modo como estes módulos se relacionam. Em geral, e apesar das divergências que as diferentes propostas teóricas em confronto encerram, um modelo de gramática inclui um módulo lexical - o léxico; um módulo que se encarrega da geração das estruturas linguísticas - a sintaxe; um módulo que trata da interpretação semântica dos enunciados - a semântica; e um módulo que se encarrega da materialização dos enunciados - a fonologia. Um outro aspecto fundamental na concepção do modelo de gramáti ca é a hipótese de existência de diferentes níveis de representa ção, que vão do mais abstracto - c hama do representacão subjacente - a um nível mais concreto, próximo da materializa
the beach.
No quadro da Teoria dos Princípios e Parâmetros" o Português é classificado como uma língua de sujeito nulo. ou seja, como uma língua que marca positivamente o Parâmetro do S u j e i ~ o Nulo. Pelo contrário, o Francês e o Inglês marcam este mesmo parametro negativamente.
Resta s aber o que es tá na base dessas 'escolhas' que se manifestam nas diferenças entre línguas. A diversidade resulta, por um lado, da evolução que as línguas tiveram d u r a ~ t ~ séculos, pelo facto de serem faladas por comunidades que vIviam s e ~ a radas política e geograficamente (assim aconteceu com as \In guas r omân ic as e a sua diferenciação do Latim, ou com as línguas germânicas, derivadas do antigo Germânico). Por outro lado a diversidade surge do contacto entre línguas diferentes, em c o n ~ e q u ê n c i a de movimentações dos povos, ao longo da sua his-
ção do enunciado, com a representação de superfície. Em suma,ao descrever uma língua, a investigação linguística desenvolvida no quadro da Teoria Generativa, procura conhecer os princípios da Gramática Universal e os parâmetros da variacão responsáveis pela diversidade linguística. . A Teoria Generativa não é a única abordagem teórica dispo nível para quem trabalha em linguística, mas é, sem dúvida, a mais relevante na segunda metade do século XX, quer pela coerência e dinamismo das hipóteses que coloca quer pelo volume de tra balho produzido sobre um grande número de línguas, num gran de número de países.
tória. À Gramática Universal pertencem categorias universais, como 'vogal' e 'consoante', 'sujeito' e 'predicado' ou 'nome' e ' v e r ~ o ' . Mas estas categorias universais são concretizadas de forma dife nas diversas línguas. Por exemplo, em algumas línguas, como rente o Al emão ou o Lat im, o ' ca so ', que é uma c at eg ori a un ive rsal , manifesta-se morfologicamente nos sufixos dos nomes e adjecti vos indicando-se através desses sufixos se o nome ocorre como ' s u j ~ i t o ' ou como 'complemento' da frase (em Latim, rosa é a forma sujeito, rosam é a forma complemento directo); outras lín guas, como o Português, manifestam o caso por meio da c o l ? c ~ ção do nome na frase (em a rosa é bela, rosa ocorre na poslçao
____
9 No Português, a pronominalização mostra vestígios da variacão casual lexicalmente realizada. Assim, quando rosa é sujeito, o pron;me que a substitui é diferente daquele que ocorre quando rosa é objecto di recto:
a r osa é bela quero a r osa
I J
ela é bela quero-a j
ii ~ ; , í
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-
,
:
;
'
~
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DE QU E TR ATA
A LINGuíSTICA?
Já v im os q ue a l in gu ís ti ca se ocupa do conhecimento da linguagem e das línguas humanas, mas, para ir mais longe na ex plicitação do que é o seu objecto de trabalho, é essencial com p re en de r qu e essa não é um a t ar ef a g lo ba lm en te r ea li zá ve l: nenhum linguista estuda a capacidade de linguagem ou uma língua na sua totalidade, nem exaustivamente. O que os linguistas fazem é delimitar um objecto de estudo, seleccionando um deter minado aspecto de um determinado fenómeno, num determinado dialecto de uma determinada língua, por exemplo. A primeira escolha recai geralmente sobre uma língua ou um pequeno conjunto de línguas. Imaginemos que a selecção recai sobre o Português. Globalmente considerada como sistema lin guístico, a 'língua portuguesa' é uma abstracção necessária à sua descrição enquanto língua particular, que, nessa perspectiva, se distingue e contrasta com as restantes línguas naturais. Os seus difer entes usos no espaço e no tempo revelam a existência de variação nos diversos módulos da gramática permitindo, assim, em função quer de factores internos quer de factores externos à língua, a caracterização de dialectos, de sociolectos e até de idiolectos. Simplificando, pode dizer-se que a linguística reconhece, de forma mais ou menos estável, um conjunto de diferentes discipli nas. Em alguns casos, as disciplinas são fundadas a partir da iden tificação de unidades de análise (para os s on s, a f on ol og ia e a prosódia; para as palavras, o léxico e a mor fologia; para as fr ases, a sintaxe; e para o texto, a linguística textual). N outr os
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c as os , a
Esse ncàia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om das disciplinas assenta na atenção odada OS SONS DA FONOLOGIA E DA PROSÓDIA dos enunciados (como a semântica e a pragmática). Noutros ainda, a linguística pode centrar a s ua aten: As mais pequenas unidades que se analisam em linguística cão no c onhec i mento da variedade linguística dominante (que e s ão o s s on s. Para o s estudar é necessário que o contínuo sonoro dialecto socialmente mais prestigiado, falado na contempora seja registado, o que, em geral, é feito por transcrição fonética. neidade p o r u m m ai or n ú me r o de pessoas, e geralmente designa d o c om o norma-padrão), ou no estudo da variação, quer no tempo (que cabe à linguística histórica) quer no espaço (com a dialecto logia e a linguística comparada), A transcrição fonética A transcrição fonética é uma representação dos sons da fala que util iza um alfabeto fonético criado com base nas propriedades acústicas e arti culatórias dos sons. Se especificar com pormenor as variações de pronúncia, Os DOMíNIOS DAS UNIDADES DE ANÁLISE é uma 'transcrição fonética estreita'; se for pouco especificada, é uma 'trans criç ão fonética larga', Os enunciados linguísticos são c ontínuos s onor os, l i mi tados O Alfabeto Fonético Internacional (AFI) tem como objectivotornar pos por pausas que podem ser m otiv adas por exigências f i s i o l ó g . i ~ a s , sível a representação dos sons de todas as línguas do mundo, fazendo cor como a inspiração de ar, por razões de processamento COgnitiVO, responder ao mesmo símbolo um mesmo som, qualquer que seja a Ifngua como as hesitacões na escolha de uma palavra, ou ainda por ne em que ocorra. Os símbolos do Alfabeto Fonético Internacional necessários cessidades c o ~ u n i c a t i v a s , como as interrupções solicitadas pe para transcrever a norma-padrão do Português Europeu são os seguintes: los interlocutores. O que as pausas não permitem é a inequívoca Vogais orais
identificação
construção do s i gni fic ado
[i]
identificacão das unidades que a análise linguística reconhece e ss a é u ~ a operação realizada num determ i nado q u a d r ~ teórico, o q ue e xp li ca p or que r azão nem todos os autores consideram as mesmas u ni da de s ou as c ons i der am do m e sm o m o do . Um dos exemplos clássicos de discordância entre l i ~ g u i s ~ a s , no q ~ e . ~ i z respeito à identificação d as u ni da de s d e a ná li se , e o d a deflnlçao do conceito de morfema: para os linguistas da escola norte-ame ricana 'morfema' identifica a menor unidade por tadora de signi f i cacão (a palavra livros, p or e x em pl o, é f orm ada po r t rês morfemas: livr-, -o e -sI; para os linguistas da escola europeia (par ticularmente francesa) 'morfema' identifica apenas as unidades m íni m as que r epres entam relações gramaticais (como o -o e o -s f in a is d e
vê pé
[e]
[i] [uI [aI
de para
[uI [o]
avô
pá
[::lI
pó
[U]
!iiI
banco
[õ]
atum bo m
[w]
pau
[kl [gl
gato
tu
Vogais nasais sim
fí] [el
pente
Semivogais ou glides UI
pa i
Consoantes
livros).
se caracteriza cada um dos dom íni os da linguística q ue se fundam na s egmentaç ão do c o n t í n u ~ sono ro, começando pelas unidades menores, os sons, e terminando nas m aior es , que s ão o s textos.
vi
[e]
Vejamos, então, como
[pI [bl
pá
[tI
tu
[f] [v]
be m
[d]
fé vê
dou caça casa
[sI
[mI
mão
[zl [nl
[I]
lá
[r]
[A:)
caro
[RI
não valha carro
carro chave
lSl [31 (PI
já
[tI
ma l
venho
Para mais facilmente poder ser reconhecida, a transcrição fonética é delimi tada por parêntesis rectos (Le, [ J) e as representações mais abstractas, ou seja, as representações fonológicas, são delimitadas por barras oblíquas (i.e. / IJ . ...
-
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Este é um t ip o de registo que procura usar um símbolo diferente para representar cada som (por exemplo, a palavra casa e m P ortuguês representa-se como [kázu)). Do ponto de vista do seu funcionamento na língua, os sons constituem um sistema, quer dizer, só cumprem a sua funcão em
contraste com os restantes elementos. O estudo do funcionamento dos sons integrados num sistema é objecto da fonologia e da pro sódia. Mas o que significa 'funcionar na língua'? Tomemos como exemplo o sistema das vogais em Português. Esse sistema inclui todas as vogais que, ao serem substituídas por outras numa sequência de sons, criam uma nova palavra da língua. Neste caso, as vogais que assim 'funcionam' têm um papel linguístico e chamam-se fonemas ou segmentos. Por exemplo, as palavras fala, com vogal tal, e fila, com vogal Iii, que têm significa dos diferentes, mostram que estas duas vogais fazem parte do sistema do Português. Neste sistema não entram, por exemplo, vogais como o /ü/ francês da palavra reçu, que significa 'recebi do'. Duas palavras cujo significado se distingue pela existência
Pares mínimos figo -? fogo -? fungo mágoa -? água -? égua fila -? filha -? fita lado -? dado -? fado
sultado da utiliza ção quotidiana da língua em várias situações. Essas alt erações int e-
g ra m- se n os c ha mados processos fonológicos, que podem actuar de um m odo geral,
suprimindo, acres centando ou modi f ic an d o s on s: a supressão da vogal final não-acentua da em palavras como bate [bát] ou fome [fj"m], no P or -
o ESSENCIAL SOBRE LINGuíSTICA
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·'1
Classificação básica dos sons
O sistema de sons de qualquer língua possui, obrigatoriamente. vogais e consoantes, e facultati vamente semivogais que, em conjunto com as vogais, constituem os ditongos (em Português. as palavras pau e pai têm ditongos em que as semivogais estão representadas pelas letras e
de um ú ni co
t uguês Europeu
f o ne ma d i fe -
• o ponto de articulação (podem ser dentais coloquial, denomi como /t/ ou labiais como /f/ ou, ainda. velares como na-se uma 'apóco /g/). p e' ; a i ns er çã o de um [i] no Português Brasileiro, em formas como captar [kapitát], designa-se 'epêntese'; a modificação de uma vogal que se torna semelhante a outra que está próxima é uma 'assimilação', como na forma antiga mirabilia q ue se t or no u a a ct ua l maravilha. Outros processos actuam so bre grupos de sons como sucede, no Português Europeu, com as
r en t e c o ns ti tuem um par
mínimo. A s u ni da des da fonologia são abstractas, mas os falantes têm uma repre sentação mental dessas unidades. A sua realização faz-se através dos sons da fala. Por razões várias (diferenças dialectais, indivi duais, dificuldades articulatórias, etc.), esses sons podem apresen tar alguma variação fonética, mas são interpretados pelos falantes da língua como um único fonema (por exemplo, a palavra partir, . em Português Europeu, pronuncia-se com a vogal /a/ reduzida, representada foneticamente por [u], enquanto em Português Bra sileiro se pronuncia com o /a/ aberto, [a]; trata-se, pois, do mes mo fonema). Todos os sons com valor distintivo são classificados de acordo com as suas propriedades articulatórias e acústicas. Quando se e st ud a o s is te ma de s on s de uma língua devem ser consideradas também as alterações que se verificam nesse nível, quer em consequência de mudanças históricas, quer em re-
II
vogais não-acentuadas que se pronunciam de forma reduzida, sendo este um dos factores que distingue, de imediato, as varie dades europeia e brasileira da língua portuguesa (comparem-se as realizações de parar [purár] / [parár] ou poder [pudérl / [podér] respectivamente do Português Europeu e do Português Brasileiro. Os sons das línguas não possuem apenas as propriedades articulatórias que diferenciam um la l de um iii ou de um 10/. Eles têm também propriedades prosódicas, como a intensidade (a vo gai pronunciada com maior intensidade é a que contém o acento da palavra), a duração (em certas línguas as vogais podem con-
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o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om trastar pelo tempo de pronunciação, sendo umas breves e outras As PALAVRAS DA LEXICOLOGIA E DA MORFOLOGIA longas), e a altur a ou tom (a sequência de tons das vogais de uma palavra ou frase constitui a entoação). Um outro tipo de unidades linguísticas, talvez aquele que os Porém, no Português, o tom e a duração não per mitem dis falantes mais facilmente identificam, é o das palavras. Delas se tinguir significados, ao contrário de que acontece em outras lín ocupam duas disciplinas: a lexicologia, que estuda o léxico de uma guas, como o Mandarim, em que a mesma sequência de sons, lín.gua, ou seja, o repositório das palavras e de todas as suas pro por exemplo ma, pode ter significados diferentes se a vogal lal priedades; e a morfologia, que trata do conhecimento da estrutura tiver um tom baixo ou um tom alto; ou como no Latim, em q ue a interna e dos mecanismos de formação de palavras. duração da vogal numa mesma sequência pode indicar a função sintáctica da palavra - rosa, com vogal final breve, é nominativo A LEXICOLOGIA (tem função de sujeito) e com vogal final longa, rosã, é ablativo O léxico das línguas é uma entidade abstracta: ilimitada no (tem uma função complementar). tempo, dado que integra todas as palavras, de todas as sincronias, Uma outra propriedade prosódica, a intensidade, está relacio da formação da língua à contemporaneidade; ilimitada no espa nada com o acento tónico da palavra e marca uma sílaba que é ço, dado que compreende todas as palavras de todos os dialecpronunciada com mais força, tornando-se proeminente na sequên tos; e irrestrita na adequação ao real, dado que inclui as palavras cia de sílabas que constituem a palavra. Em Português, todas as de todos os registos de língua. Mas s er á que o léxico só contém palavras possuem acento, sendo possível distinguir duas palavras palavras? Não, o léxico integra também unidades menores do que com as mesmas vogais mas com acento em sílabas diferentes as palavras e que ser vem para for mar novas palavras, como o (por exemplo, dúvida e duvida, em que o diacrítico (f ) marca o radical eucalipt- e o sufixo -iz(ar), que se combinam no verbo
lugar do acento na palavra esdrúxula dúvida, que assim se distin gue de duvida). As unidades prosódicas contribuem largamente para o ritmo que caracteriza cada língua. Em Português, a menor unidade prosó dica, que é a sílaba, tem características particulares (por exem plo, só certas sequências de duas consoantes podem pertencer à mesma sílaba: Ibrl integra a segunda sílaba de pobre mas a se quência Istl pertence a duas sílabas na palavra pasta). Pela função que têm as unidades prosódicas na caracterização e funcionamento das línguas, elas são o objecto de estudo da prosódia. Estas características prosódicas, ou traços prosódicos, rela cionam a fonologia com outros módulos da gramática. Por exem plo, ao estabelecerem a diferença de significado entre uma frase declarativa e uma frase interrogativa por meio de entoação dife rente com que é produzida a mesma sequência de palavras: Frase declarativa
Amanhã vens jantar cá a casa.
Frase interrogativa
Amanhã vens jantar cá a casa?
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eucalíptizar, um neologismo que os falantes conseguem interpre tar porque conhecem as partes que o constituem. Por outro lado é no l é x i ~ o que cabe o registo de expressões sintácticas cuja i n ~ terpretaçao requer uma aprendizagem específica: é esse conhe cimento que faz com que brinco de princesa possa ser o ' nome d.e ~ ~ a flor' e não um 'tipo de brinco', ou esticar o pernil seja SinOnimo de morrer e não de 'alongar a perna'.
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A esta diver sidade de tipos de unidades lexicais (radicais afixos, palavras e expressões sintácticas), que se junta à i n e x i s ~ tência de fronteiras ou d e filtros que limitem o conjunto do possível, acresce todo o universo de neologismos trazidos por empréstimo ~ c o m o os frequentes galicismos do século XIX, de q ue maquilhar um e x ~ m p l o , ou os anglicismos do final do século XX, cuja vitalidade nao cessou ainda de crescer, o que é atestado por formas como secanear ou fidebeque - se forem estas as melhores grafias para ~ s palavras). F a l t ~ acrescentar a formação morfológica, responsavel pelo aparecimento de palavras como eucalíptizar ou ministricida, e a pura invenção de palavras, que é um processo raro na formação de neologismos. A condição necessária para o
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aparecimento de novas palavras reside na capacidade de c ad a u ma delas vir a ser utilizada e compreendida pela comunidade linguís tica e não em factores de ordem gramatical. O léxico é, pois, o módulo que contém o que pode ser visto como a matéria-prima para a construção e a compreensão de
curso histórico. Como, por exemplo, a informação sobre a ori gem das palavras, que é geralmente chamada etimologia: uma palavra como livro está associada ao étimo latino LlBER, aldeia tem como étimo o árabe AD-DA YHA.
enunciados linguísticos e que, por esta razão, se relaciona com todos os outros módulos da gramática. Mas não é um mero repo sitório de formas: a cada unidade lexical está associado um con junto de propriedades que vai permitir a sua integração, quer em estruturas de palavras complexas quer em frases. Vejamos algu mas destas propriedades:
Cada unidade lexical pode ainda ser portadora de outras in formações. É o caso de restrições quanto ao uso, como as indi cações relacionadas com o registo de língua em que as palavras podem ocorrer (veja-se o contraste entre cara, face e focinho). É também com base neste tipo de informação que se pode esta belecer uma distinção entre o léxico geral e léxicos de especiali dade: o primeiro integra as palavras que podem ser utilizadas em qualquer contexto discursivo. Os léxicos de especialidade só en contram adequação em contextos discursivos pré-estabelecidos. Note-se que uma palavra que se integre num vocabulário geral conhecerá menos restrições de ocorrência do que uma palavra especificamente destinada a um uso mais formal, ou outra cuja
• A categoria sintáctica (i. e. adjectivo, preposição, etc.) é uma das propriedades basilares da palavra. É ela que condiciona a sua distribuição na frase. Por exemplo, querendo modificar o nome casa de modo a dar conta de duas das suas caracterís ticas, a idade e o material de construção, pode recorrer-se a um
adjectivo, como novo, ou a um nome, como pedra. No primeiro caso, basta pospor o adjectivo ao nome - casa nova; no segundo caso, o nome tem de ser integrado numa expres são com preposição, como em casa de pedra. • As categorias morfossintácticas esclarecem, por exemplo, acerca da natureza de palavra variável (como os verbos) ou invariável (como os advérbios) e das categorias de variação formal (género e número, para as palavras de natureza nomi nal; tempo, modo, aspecto, pessoa e número para os verbos, por exemplo). • A representação fonológica, como I#kaz + a#l, de casa, ou I#man + u#l, de mão,
permite, depois defonética processada pela fonologia, chegar a uma dada realização (['kazuJ e ['mãw], nos exemplos anteriormente considerados). • A representação semântica garante que a cada conjunto de sons corresponda um dado significado ('casa', por exemplo, receberá uma informação semântica do tipo 'inanimado' e 'contável' e uma paráfrase, mais ou menos complexa, como 'construção tipicamente destinada a habitação humana'). • Às palavras está ainda associada informação sobre o seu per-
ocorrência possa até ferir a susceptibilidade de quem a ouve fora de um contexto informal e não-familiar. Sendo o léxico formado por uma tão grande quantidade de informação, não pode deixar de obedecer a princípios de organi zação interna. Na verdade, o léxico é uma entidade multi-estrutu rada, ou seja, estruturada de acordo com diversos princípios, sem que nenhum deles exclua os restantes. Ainda que os falantes possam não ter consciência dessa classificação, um dos princípios de organização do léxico é o da categorização gramatical. A in formação crucial diz respeito à categoria sintáctica, que permite, por exemplo, distinguir os adjectivos dos advérbios, dos nomes, das preposições e dos verbos, para referir apenas as categorias principais. Mas o léxico também se estrutura a partir de algumas categorias morfossintácticas: no caso do Português, o valor de género dos nomes, que subdivide este grupo em dois novos con juntos (o dos nomes femininos e o dos nomes masculinos) com consequências visíveis nas marcas de concordância sintáctica (veja-se, por exemplo, que sendo carta, notícia ou mensagem nomes femininos, é no feminino que ocorr e um modificador adjectival - carta I notícia I mensagem secreta; em contraparti da, sendo recado, bilhete ou apontamento nomes masculinos, é
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nc ia l/Sobre Linguistic A - slide om no masculino que ocorre um modificador adjectival - orEsse ecado livr(o)) e pdf.c palavras complexas (como livrarí(a)): o radical das pala / bilhete / apontamento secreto). vras simples não pode ser decomposto em unidades menores mas Um outro princípio, de natureza semântica, reparte as pala o radical das palavras complexas é formado por diversas ~ n i d a vras por categorias de significação, com base em relações de des. Nestas se inclui, obrigatoriamente, um radical simples e um semelhança, como a sinonímia (aluno e estudante são nomes prefixo (cf. des-Ieal), um sufixo (cf. livr-ari(a)), ou mesmo outro radical (cf. insect-i-cid(a)). semanticamente muito próximos), de oposição, como a antonímia (alto e baixo são qualificadores que se situam nos pólos opostos Simples ou complexas, as palavras do Português dividem-se
de um mesmo ou de i ncélu um sã o,hipónimo como a de hipo nímia eoua hiperonímia: por eixo) exemplo, vaca bovídeo, seja o significado de vaca está incluído no significado do hiperónimo bovídeo, no sentido em que bovídeo é a classe a que pertencem as vacas. Um terceiro princípio de organização do léxico é de natureza fonética, dando origem, por exemplo, ao subconjunto das pala vras que começam por uma consoante vibrante (veja-se a popu laridade de um ' tr ava- línguas' como .,. o r at o roe u a rol ha da garrafa de r um do r ei da Rússia... ). É provável que a facilidade no desenho de rimas varie em função do maior ou menor grau de preponderância deste princípio no léxico de cada falante.
A
aindas da por dois grupos: o das flexionáveis, subconjun to palavras variáveis, que palavras apenas inclui aquelas que varia m de forma sistemática. No Português, este é o caso dos nomes que variam em número (cf. livro-livros) e dos verbos que varia m em tempo (cf. canto-cantei). O segundo é o grupo das palavras que nunca podem ser flexionadas, como os advérbios, por exem plo. Identificados os constituintes morfológicos, compete à mor fologia explicitar a forma como eles se estruturam, quer na dis posição linear, quer no relacionamento hierárquico. No Português, por exemplo, a estrutura interna das palavras exige o reconheci mento de que ao radical se associa um especificador morfológico que, nos verbos, é a vogal temática - (por exemplo, o -a final de canta) - e, nas outras palavras, é o índice temático (por exem ~ I o , o -e final em d e n t ~ ) . Em conjunto com o radical, este especi ficador forma o tema. Ea esta estrutura que se juntam os sufixos de flexão, responsáveis por boa parte da variação morfossintáctica
MORFOLOGIA
Para além das propriedades que as caracterizam e que condi cionam a sua integração em frases, as palavras são estruturas analisáveis em unidades menores, como o radical e os afixos. Estes últimos incluem, por sua vez, unidades de muito diversa nature za, dos sufixos de flexão (como o -s final de livros ou o -va e o -mos de estudávamos) aos sufixos derivacionais (como os que formam nomes agentivos, que -dor - programador - e -ista - esteticista - exemplificam) ou a os prefixos modificadores (como in-, um prefixo de negação, que ocorre em inaceitável), e das vogais de ligação (como o -i- de insecticida ou o -0 - de biodiversidade) à vogal temática (como o -a da primeira conjugação, em cantar, o -e da segunda, em beber e o -i da terceira, em fugir) dos verbos. A todas estas unidades se dá o nome de constituintes morfológicos. No radical estão as propriedades nucleares da palavra, como a categoria sintáctica e o seu significado básico. É também no radical que se encontra a diferença entre palavras simples (como
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das palavras.
As
I
FRASES
DA SINTAXE
Para construir um enunciado, as palavras combinam-se em frases, mas a relação entre as palavras e a frase não é uma relaçã? directa: as palavras pertencentes a categorias principais, ou seja, os nomes, os adjectivos, os verbos, as preposicões e os advérbios, constituem-se como núcleo d e u ma unidade'maior os sintagmas, for mando, r espectivamente, sintagmas n o m i n ~ i s ~ d j e c t i v a i s , verbais, preposicionais e adverbiais. Os s i n t a g m a ~ Integram obrigatoriamente um núcleo, distinguindo-se, em seguida, aqueles que exigem a presença de complementos, como os verbos transitivos ou as preposições, daqueles que não exigem
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complementos, como os verbos intransitivos e a generalidade dos nomes e dos adjectivos. Assim, é porque incluem constituintes que exigem a presença de complementos que frases como * esta menina ofereceu 9 ou *esta menina ofereceu chocolates a não podem ser consideradas como frases bem construídas no Portu
disseram na televisão, decidiu dissolver o Parlamento) e por su bordinação (como em o crítico disse que o filme era espectacular). Tanto as frases simples quanto as complexas são ainda caracterizáveis como frases declarativas, interrogativas, impera tivas ou exclamativas. Em alguns casos, a distinção é sintactica
guês. É, no entanto, muito frequente que o núcleo dos sintagmas seja acompanhado por especificadores e por modificadores li. e., determinantes, como em a menina; pronomes possessivos, como em minha amiga; demonstrativos, como em esta menina, ou ou tros sintagmas, como em menina bonita ou menina de ouro). Qualquer que seja o seu grau de complexidade interna, os sin tagmas que constituem a frase estabelecem entre si determina das relações gramaticais relativamente ao predicado verbal, como sujeito, objecto directo, objecto indirecto ou oblíquo, com base nas quais é estabelecida a ordem básica das palavras na frase. No Português, em que a ordem das frases é normalmente sujei to-verba-objecto (pelo que se denomina uma língua SVO), mui tas frases são constituídas por um sujeito e um predicado verbal, que são as relações gramaticais básicas (por exemplo, o gato mia). Se o predicado verbal for transitivo, a frase integra ainda um com plemento directo, ou objecto directo, que é também uma relação gramatical central (por exemplo, a menina comeu um chocolate). Outra relação gramatical central é o complemento ou objecto in directo (por exemplo, a menina ofereceu um chocolate à amiga). Além destas relações gramaticais, existem outras denominadas oblíquas que cumprem diversas funções sintácticas (por exem plo, de localização em o livro estava na biblioteca, ela foi a Bar celona).
mente determinada, como na frase interrogativa o que é que vais fazer hoje?, ou na imperativa não digas nada. Noutros casos, a identificação do tipo de frase depende da entoação com que é pronunciada. A frase simples vamos almoçar é declarativa se constituir uma mera afirmação, é interrogativa se for uma per gunta, é imperativa se se tratar de uma ordem e é exclamativa se exprimir uma avaliação.
A descrição das estruturas sintácticas estabelece ainda uma distinção entre frases simples, correspondendo a orações que contêm uma única relação de predicação (como a menina está doente) e frases complexas que podem incluir duas ou mais ora ções ligadas por coordenação (como em ele foi ao aeroporto mas não embarcou), por aposição (como em o Presidente da República,
respeito à relação entre os elementos que constituem uma frase: por exemplo, a c oncordância entre s ujeito e v er bo. A c oesão inter fr ás ic a tem a v er com a ligaç ão entre frases, próximas ou distantes entre si (por exemplo, a r elação entre duas orações coordenadas: eu compr ei um vestido e ela comprou uma mala). Por sua vez, quando a relação entre os elementos cognitivos apre sentados no tex to e o c onhecimento que tem os do mundo nos permite inferir um sentido global e aceder à compreensão, fala mos em coerência textual (por exemplo, a sequência visitar ou tros continentes ajuda-nos a compreender melhor a relatividade
9 Usa-se um asterisco no início de uma expressão linguística para assinalar que se trata de uma expressão agramatical.
o TEXTO Tal como as palavras se combinam em frases, também as fra se s se integram numa rede que as relaciona umas com as outras e com o c on te xt o em que são produzidas. Essa rede é o t ex to . Numa interpretação mais estrita, texto identifica apenas um seg mento escrito e o discurso remete para uma sequência oral. Numa interpretação mais lata, texto é uma unidade de análise linguística que tanto diz respeito ao oral quanto ao escrito, incluindo ainda discurso espontâneo e discurso preparado. Para que um t ex to seja reconhecido como tal, deve possuir certas propriedades, como estar de acordo com a situação em que é produzido, transmitir informação relevante e respeitar con dições que garantam a sua boa-formaçaão. Entre os elementos dos textos existem relações de vários tipos. A coesão frásica diz
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cutor segue quando entra num intercâmbio comunicativo. Este dos nossos conceitos de vida só é compreendida se recorrermos o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om princípio desdobra-se nas chamadas máximas conversacionais: a a um conhecimento que não está nas palavras ditas: nomeada da qualidade, que assume que os falantes tentam dizer aquilo que mente, se soubermos que noutros continentes existem outros é verdadeiro, a da quantidade, relacionada com a informação dada, povos com outras formas de vida). que não deve ser excessiva nem insuficiente; a da relevância, que Um tipo particular de t ex to é o que se estabelece numa situa i mp li ca que o que f or d it o v enha a pr op ós it o; e a do mo do , secão de interaccão verbal entre, pelo menos, um locutor e um
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seja, quando duas pessoas conversam. Uma
Interlocutor, o ~
conversa uma situação extremamente condicionada, embora asé restrições não linguística sejam explicitadas com muita frequên cia. Numa conversa há um início - um meter conversa - (por exemplo, preciso de falar contigo...; podemos conversarcinco minutos?; olá ...) e um fim (por exemplo, bom, tenho de me ir embora ...; então, para já, ficamos assim, não é?; já viste as horas?), facilmente reco-
nhecíveis pelos in terlocutores. Pelo meio, há uma cons trução interpessoal que pressupõe um
Desconversar Isto parece uma conversa de surdos! Pára lá com a conversa de chacha ... Já chega de conversa fiada! Posso falar? Oeixa-me falar ... Não me interrompa... Agora quem fala sou eu! Está caladol Frases como estas são frequentemente utiliza das e m situações e m que o respeito pelas máximas conversacionais pode estar em risco. Mas o sucesso da comunicação também pode ser ameaçado por enunciados irónicos ou sarcásticos de um dos interlocutores se o outro não os reconhecer como tal. Por exemplo, Quando, num d ia d e chuva, alguém diz está um lindo dia! e o outro res-
sim?de perturbação diz respeito a \ ponde Umacha outroque 'actor enos de avaliação Que umlocutor'az do s eu inter\ Iocutor, por exemplo, Quanto àin'ormação Que este possui acerca do tema da con\Jersa·.
A Maria
A. 'C.
voltou. Sim? Mas onde é que
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de mínimo ração entre coope os par ticipantes: mesmo que queiram discu tir, os interlocutores tê m de concor-
em discutir. Isto pressupõe que cada participante aceita fazer contri buições para a conversa Que se
da r
ia m pertinentes,
dada a direcção to m ada ÇlO{ es ta.
Este é o princ\pio ô e c oo pe ra çã o:
caôa \ocutOf assume Que o i n t e r l o ~
gundo a qual o locutor deve evitar ser obscuro, ambíguo, prolixo ou desordenado.
Os DOMíNIOS DA SIGNIFICAÇÃO Para alé m das disciplinas que nascem da segmentação dos enunciados linguísticos em unidades de análise, a linguística in tegra ainda outras disciplinas. Duas delas, a semântica ea prag mática, tratam das questões da significação.
A SEMÂNTICA
o significado dos textos, das frases e das palavras das é o objecto da semântica. do estudo As propriedades semânticas línguas naturais podem, pois, estudar-se em todos os níveis linguísticos. Tanto a semântica frásica quanto a semântica de texto estudam aspectos do significado das orações integradas num enunciado, podendo ser entendidas como proposições lógicas constituídas pelo predicado e seus argumentos. Por exemplo, em a Inês ofereceu um jantar aos amigos, o verbo - ofereceu - é o predicado, e as expressões nominais - a Inês, um jantar, aos amigos - são os argumentos da proposição. É neste domínio que se integra a semântica das categorias gramaticais, como tempo, aspecto ou nome. Tomemos o caso do 'tempo', Os tempos gramaticais pa recem estar ordenados de forma linear, organizando-se em três domínios: o 'passado', o 'presente' e o 'futuro'. Mas, na realidade, a nossa utilização dos tempos dos verbos não corresponde a esta organização linear, até porque associamos ao tempo a dimensão de 'duração'. Exemplificando: ao descrever um acontecimento histórico passado no século XV, podemos usar o tempo verbal ,.resente', o chamado 'presente histórico' (como na frase no
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reinado de D. Manuel I, Portugal descobre o caminho marítimo para a índia); quando informamos alguém da nossa intenção de praticar uma acção posterior ao momento da fala, utilizamos fre quentemente o 'presente' (por exemplo, vou ao cinema amanhã, frase em que a semântica do advérbio permite localizar a acção
alguém está muito bonita hoje for acompanhada por uma expres são facial que a contrarie. A última é uma condição de sincerida de, que faz com que um pedido de desculpa possa, de facto, ser aceite. O uso que os falantes fazem da sua língua é muito condicio
do futuro apesar de o verbo estar flexionado no pre
nado pelo contexto de interacção social em que esse uso ocorre. Ainda que o constrangimento não seja explicitado, a verdade é que, de um modo geral, os falantes sabem como 'comportar-se' Iinguisticamente em situações diversas. Assim, o relato de uma tentativa de assalto feito por um dado cidadão ao seu grupo de amigos não será idêntico àquele que o mesmo cidadão fará na esquadra da polícia. Também um adolescente que gostaria de sair com o ca rro do pai e que desejaria que o irmão lhe devolvesse o seu perfume preferido se dirigirá aos seus dois interlocutores de forma muito distinta. Estes constrangimentos manifestam-se de forma diversa em diferentes línguas: a análise das chamadas formas de tratamento (por exemplo, tu já leste o jornal? vs. você já leu o jornal? vs. o Senhor Doutor já leu o jornal? vs. Vossa Excelência já leu o jor nal?) m os tr a óbv ios c ontr as tes entre o P or tuguês Europeu e o P or tuguês do Brasil. A v ar iação tam bém é frequente no que diz respeito à escolha de uma estratégia de expressão da delicadeza: enquanto o Português recorre ao pretérito imperfeito do indicati vo para s uavizar uma ordem (telefonavas-me logo à noite?), o Inglês não dispensa a palavra please (please call me tonight).
num ponto sente).
Na semântica de texto são também analisadas as funções temáticas, ou seja, as funções de 'agente', de 'alvo', ou outras cumpridas por elementos da frase. Na frase anterior, a Inês tem a função de 'agente', e aos amigos tem a função de 'alvo'. A semântica lexical, que, como o próprio nome indica, está intimamente relacionada com o léxico, trata sobretudo da signifi cação das palavras e das relações semânticas entre as unidades lexicais (por exemplo, a relação entre sinónimos como belo e for moso, ou entre antónimos como triste e alegre). A PRAGMÁTICA Independentemente da estrutura gramatical usada para cons truir um enunciado linguístico, é necessário reconhecer que nem todos os enunciados são do mesmo tipo. A distinção fundamen tai opõe aqueles que veiculam informação (por exemplo, li este livro em meia hora) aos enunciados que servem para alterar um dado estado de coisas e que são chamados actos de fala. Quan do alguém diz prometo que acabo este trabalho hoje ou juro que não fui eu ou apenas desculpa!, esse alguém está a fazer alguma coisa: está a comunicar ao interlocutor uma determinada inten e espera que este a interprete adequadamente. ção Para que os actos de fala sejam bem sucedidos devem res. peitar algum as c ondições , a que se dá o n ome de c on di çõ es de felic idade. Uma destas c ondições está r elac ionada c om o reco'r:lhecimento da autoridade do loc utor : para que um acto de fala do tipo venham jantar a minha casa amanhã seja entendido como um convite efectivo e fiável é necessário que os interlo cutores saibam que o locutor é o dono da casa, por exemplo. Por outro lado, as expectativas do interlocutor não podem ser frus tradas, o que poderá suceder, por exemplo, se a opinião de que
Os DOMíNIOS
DA MUDANÇA
E
DA VARIAÇÃO
Todas as disciplinas da linguística vistas até agora podem estabelecer como objecto de estudo o sistema linguístico do dialec to habitualmente conhecido como norma, tal como esse dialecto se manifesta contemporaneamente. Quando o objecto de estudo incide sobr e um outro dialecto é hábito identific ar esse estudo em função da variação considerada. Assim, a variação temporal constitui-se como o domínio da linguística histórica; da variação no espaço ocupam-se a dialectologia e a linguística comparada.
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A LINGuíSTICA HISTÓRICA
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A comparação de diferentes estádios de uma língua pressu põe a capacidade de acesso aos dados. Os dados das sincronias mais recentes ou es tão di r ec tamente acessíveis (o linguista des c r e v ~ o seu próprio conhecimento da língua) ou existem registos relativamente abundantes e fiáveis. Quem quiser descrever algum aspecto do dialecto de Lisboa no segundo quartel do século xx encontra, por exemplo, nos diálogos de filmes como A Cancão,
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Hoje em dia é quase um lugar comum d iz er q ue as l ín gu as são entidades dinâmicas e que variam ao l o ng o d o t e mp o , embo ra o confronto d o s f a la nt e s c o m os casoS de mudança em curso não cause exactamente a mesma reacção. Como se chega a essa afirmacão? Confrontando um a língua c ontem por ânea c om fases a n t e r i ~ r e s
mesma dessa mesma língua. Por outras
( 1933), O Pai Tirano ( 1941), O Pátio das C a n t i ~ a s (1942) ou O Leão da Estrela (1947) u m b om acervo,de informa
de Lisboa
o is e s tá d io s passados da língua ouodconhecimento palavras, da mudança
ção. Quanto a o a ce ss o a fontes de sincronias mais distantes, há restrições relacionadas co m a disponibilidade das necessárias tec nologias: o estudo da oralidade, por exemplo, só é possível a partir da i nv enç ão do registo do s om , e m 1898 (com o 'Telegraphone' de Poulsen). Para a maior parte do período de vida do Português, o a ce ss o a os d ad os fica, pois, restringido a fontes escritas, que tambe' nao - sao - t od as do mesmo tipo: os textos mais antigos são n ec essa ria me nt e manuscritos (cuja leitura exige com frequência o recurso a c o n he c i me n to s e s pe c ia l iz a do s , c o m o os da paleografia); os que se seguem à descoberta da imprensa são ma. nuscntos ou impressos, dos incunábulos (que são os primeiros livros impressos) aos mais variados tipos de documentos da a c-
linguística não pode olhar para o processo de evolução, m a ~ pode comparar diferentes estádios da existência de uma língua. E esse o objecto de conhecimento da linguística histórica, também cha mada linguística diacrónica. Mudança em curso
I I
A flexão verbal da segunda pessoa do singular d o pretérito perfeito p ode
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que real'lza esta flexão é -ste (por exemplo, compraste, leste, ,
I ser considerada como um caso de mudança linguística em curso. O sufl~ o r ~ n l s t e ) ,
I mas a realização mais frequente no Português [1 talfv ezI Ja ( ' Europeu
nao seja
"d ao su ' f IXO) um s no ma por exem[ esta, talvez seja aquela que acrescenta tu "comprastes, tu "lestes, o r m l s t e ~ . , . ' ' tu i pio, A crescente popularidade destas formas nao ficara a dever-se a Igno\ rância dos falantes (embora um ensino do Português menos p e r m l s s ~ v o do que o actual pudesse te r c ontido por mais algum tempo esta tenden' cia de mudança). Na verdade, há uma conjunção de factores que a_ propicia: por um lado, -stes é um sufixo de flexão eXistente no Portugues - trata-se do sufixo de segunda pessoa do plural do mesmo paradigma da flexão verbal (exs. vós comprastes, vós lestes, vós dormistes); • por outro lado, esta segunda pessoa do plural tende a ser eliminada de qualquer paradigma da flexão verbal (pelo menos no d l a l e c t ~ de Lisboa), sendo substituída por uma forma de segunda pessoa e flexao de tercel-
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tualidade. A outr a di s ti nç ão tem a ver co m a origem das fontes escritas, par ti c ular mente no que diz respeito à sua natureza literária o u o u tr a , c o mo por exemplo os textos de natureza administrativa ou as gramáticas. A mudança linguística pode afectar qualquer aspecto de um s i stema l i nguísti c o. As primeiras descrições destes fenómenos ocuparam-se exclusivamente d e a sp ec to s f on ét ic os ( co mo , p or exemplo, o desaparecimento de c onsoantes i nter v ocál i cas na passagem do Latim para o Português: FILU > fiol, mas também outros domínios d as l ín gu as sã o afectados por fenómenos de
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cimento de algumas palavras (os chamados arcaísmos, como
Quanto ao modo de .actuação de um processo de mudanca
o objecto de estudo da dialectologia são os dialectos pertencen tes a uma determinada língua. A generalidade das descrições do Português realizadas em Portugal incide sobre o dialecto de Lisboa, considerado como nor ma-padrão do Português Europeu. Note-se que não se trata de
nÚ linguística, sabe-serelativamente que ele é desencadeado pornúmero um pequeno mero a um pequeno de falantes, de situa ções linguísticas, que progressivamente alastra de forma a atingir a globalidade dos contextos linguísticos apropriados e, finalmente, se generaliza a toda a comunidade linguística. Quanto à motivação, é provável que ela se encontre na pró pria natureza humana: em causas de natureza social, como a diversidade geográfica, no confronto do velho com o A história das línguas nov o, em deficiências na À linguística histórica está intima aprendizagem da língua ou na mente associada uma outra disciplina, procura de um acréscimo de chamada rela história adaHistória língua.daEm prestígio social. A mudança ção ao Português, Língua linguística também pode ser preocupa-se com o relacionamento de desencadeada por razões de fenómenos de mudança linguística natureza linguística, como o com os dados da ocupação do territó contacto entre línguas, ou rio português e do contacto de portu gueses com populações falantes de pela busca de um p on to de outras línguas. equilíbrio entre a simplificação do sistema e a garantia da sua eficácia, como sucede com as mudanças fonéticas que desencadeiam mudanças morfológicas ou sintácticas.
um dialecto superior do ponto de vista linguístico. No que respeita à realização de uma língua em diversas regiões (à sua distribuição geográfica), as variedades regionais, ou dialectos, têm idêntico estatuto linguístico. Assim, o termo 'dialecto' não refere uma forma diferente (ou desprestigiada) de falar uma língua, mas sim a for m a de falar uma língua conforme a região a que pertence o falante. Existe, com frequência, uma estreita relação entre a dialecto logia e a linguística histórica. Na verdade, é fácil encontrar exem plos de dialectos que mostram semelhanças com sincronias passadas de um outro dialecto. É por esta razão que se pode fa lar de dialectos mais ou menos conservadores (alguns dialectos das Beiras, por exemplo, conservam a consoante fricativa [ ~ L habitualmente designada como 's beirão', que tem a mesma pro núncia do s do Latim. No território de Portugal continental, que não é muito exten so e que está quase integralmente coberto pelas redes de trans missão de som e imagem, a variação dialectal tende a diminuir. É nos arquipélagos da Madeira e dos Açores, nomeadamente neste último, que ainda se encontram alguns dialectos que apresentam claras diferenças em relação à maioria dos dialectos continentais. Os métodos de trabalho da dialectologia são exigentes, quer no que diz respeito à selecção dos informantes, quer quanto ao registo dos dados obtidos. Os atlas e os mapas dialectais repre
luscar, substituído por brincar, ou fiúza, abandonado em proveito de confiança), ou o aparecimento de palavras novas (chamadas neologismos, como telemóvel ou vitrocerâmica).
A DIALECTOLOGIA A variação geográfica é outra das vertentes da diversidade linguística. De um modo geral, a dialectologia, a que também se dá o nome de geografia linguística, ocupa-se da variação dentro do espaço que a convenção dominante aceita tratar-se de uma língua. É hoje em dia comummente aceite, no domínio dos estudos linguísticos, que dialecto e norma não são conceitos opostos _ pelo contrário, a norma é um dos dialectos de uma língua. Assim,
sentam a distribuição dos dialectos uma região, seja um graficamente país ou um conjunto estão de países em que asdelínguas relacionadas. A dialectologia é uma área da linguística com grande tradição em Portugal. Além de trabalhos parciais (como, por exemplo, o Atlas Linguístico e Etnográfico dos Açores), os dialectólogos por tugueses colaboram no Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG) e no Atlas Linguarum Europae (ALE). Todos estes Atlas contêm uma parte referente aos dialectos do Portu guês Europeu.
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de 2000, faladas por 480 milhões outros continentes (cerca pessoas): de entre os muitos grupos linguísticos deve realçar -se o ramo Bantu, a que pertence a maioria das línguas nacionais de Angola e de Moçambique. A tipologia linguística tradicional, estabelecida no início do século XIX, reconhece três tipos de línguas com base na estrutura das palavras: línguas isolantes, em que as palavras são invariáveis
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guas diferentes. Este tipo de análise assenta em bases científi cas, como já ocorria na comparação entre línguas desenvolvida a partir dos finais do século XVIII. Havia, então, a preocupação de identificar relações históricas entre as línguas, preocupação a que se juntou, posteriormente, uma análise comparativa com o ob
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jectivo de estabelecer uma tipologia linguística assente nas pro priedades dos sistemas gramaticais. Os estudos comparativos que se desenvolveram sobretudo no século XIX produziram uma classificação genética das línguas e foram responsáveis pelo aparecimento das chamadas famílias de línguas, frequentemente representadas por uma espécie de árvo re genealógica. Na família românica, por exemplo, o Latim é a lín gua-mãe, o Português é uma língua-filha e o Castelhano, o Catalão, o Francês, o Italiano ou o Romeno são as suas línguas-irmãs. A família românica é descendente do Indo-Europeu, que, como já foi dito, é uma língua reconstruída de que não existe qualquer vestígio material. Esta classificação genética das línguas não é, pois, isenta de críticas e discussões. A família das línguas de ma triz indo-europeia (entre as quais se inclui o Latim) pode ser re presentada do modo expresso na página seguinte. Apesar de ser dominante em toda a Europa, a matriz indo -europeia coexiste com algumas pequenas bolsas linguísticas de distinta natureza: o Basco resistiu à invasão indo-europeia; o Hún garo, o Estónio e o Finlandês são línguas pertencentes à família urálica; e o Turco é uma das línguas da família altaica. Na Ásia, línguas como o Malaio ou o Tamil, faladas na índia, pertencem à família dravídica, enquanto na China e no Tibete se encontram as línguas sino-tibetanas. África contém mais línguas do que todos
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e as relações gramaticais são determinadas pela ordem de palavras (é o caso do Chinês ou do Vietnamita); línguas flexionais, em que as palavras exibem afixos de flexão que expressam relações gramaticais (por exemplo, o Latim ou o Português); e línguas aglutinantes, em que as palavras são construídas pela agluti nação de unidades (como o Japonês ou o Turco). Mas muitas línguas são de tipo misto, contendo palavras invariáveis e flexionadas, e expressando, por vezes, as categorias gramaticais através da ordem de palavras. A dificuldade de classificação das línguas a partir de um tão pequeno conjunto de propriedades gramaticais acabou por con duzir ao quase abandono desta categorização. Em seu lugar, têm vindo a surgir estudos que descrevem um determinado fenóme no linguístico (ou conjunto de fenómenos linguísticos co-relacio nados) em diversas línguas, o que permite encontrar critérios de proximidade entre línguas e conduz à identificacão dos universais linguísticos. . para concluir, que a comparação entre línguas pode Note-se, para a (in)validação de hipóteses da história e de ciên contribuir cias sociais como a sociologia ou a antropologia.
PARA Q UE SERVE
A UNGU{ST\CA?
No início deste capítulo vale a pena relatar um episódio que teve lugar, há alguns anos, numa Faculdade de Letras portugue sa . N a conclusão do primeiro curso de Linguística, os estudantes quiseram conversar com os seus professores, para lhes pergun tar qual a designação que tinham como profissionais e o que poderiam fazer com o curso que acabavam de concluir. Aparen temente, a primeira pergunta tem resposta fácil: os profissionais que trabalham em linguística são linguistas. A resposta à segun da questão é mais extensa: vai da contribuição para o avanço do conhecimento nos diversos domínios da linguística e dos domí nios interdisciplinares que envolvem a linguística como um dos parceiros às diversas profissões relacionadas com o uso e os uti lizadores das línguas. Vejamos, então, quem são e o que fazem os linguistas.
QUEM SÃO OS LINGUISTAS? Linguista é uma profissão da segunda metade do século XX: comecou a haver linguistas depois de a linguística se ter insti tuído c o ~ o um domínio do conhecimento. Antes de haver linguis tas houve gramáticos, como Fernão de Oliveira, foneticistas, como Gonçalves Viana, filólogos, como Adolfo Coelho e dialectólogos como Leite de Vasconcelos. Nos últimos anos, a formação dos linguistas conheceu, em Portugal, uma notória evolução: a primeira licenciatura em só
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A profissão de linguista A p ro fi ss ão de l in gu is ta é tã o recente q ue , e m Portugal, ainda não aparece registada na Classificação Nacional de Profissões (documento patrocinado pelo Ministério das Activi dades Económicas e do Trabalh o, cuja última versão conhecida data de 1994). No grupo dos 'especialistas das profis sões intelectuais e científicas' há lugar I apenas para 'filólogos', 'tradutores' e 'intérpretes'.
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linguística
Fa 10 surgiu na p ro cu ra q ue , ano culdade de Letras da Uni a pó s a no , te m gao Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om versidade de Lisboa em r an ti do o p re en ch imento d e t od as as 1987; a segunda foi criada disponíveis. vagas na Faculdade de Ciências Tratando-se de uma Sociais e Humanas da Uni
versidade Nova de Lisboa, seis anos ma is t ard e. U m
formação académica recente, não são ain-
pouco antes, tivera início a formação pós-graduada em linguística, com diversos cursos de mestrado em di - . . . ~ - - - - - - - - - - - - - - ' versas univer sidades, e, mais recentemente, foi a vez da institucionalização de cursos de doutoramento. Anteriormente, a formação em linguística era assegurada pe las licenciaturas em filologia clássica, românica ou germânica, que desenvolviam planos de estudos muito dirigidos ao conhecimen to dos textos literários. No início dos anos 80 d o s éc ul o XX, es t es c ur so s f or am s ub st it uí do s pel as l ic en ci at ur as em l ín gua s e
da muito numerosos os profissionais cre-
literaturas clássicas e modernas. Para além da mudança de nome, a reforma destes cursos introduziu grandes alterações nos pIa nos de estudos, abrindo espaço para uma formação mais siste mática em áreas estruturantes da linguística, como a fonologia e a sintaxe, e em domínios de aplicação, como a psicolinguística e a sociolinguística, sem esquecer o lugar para a filologia e o estu do da história da língua. Quanto à formação pós-graduada, regis ta-se, ao l on go do s éc ul o XX, a a pr es en ta çã o de u m c re sc en te número de dissertações de doutoramento, laboriosa e individual mente preparadas por docentes universitários contratados para o ensino de matérias de linguística, sob a supervisão de um ou dois professores orientadores. A p re pa ra çã o a ca dém ic a d os l in gu is ta s e st á, p oi s, ho je em dia, basicamente assegurada, quer pela oferta de cursos quer pela
d e nc ia d os . A in d a menos numerosos são a qu el es q ue ,
até agora, já encon-
A Associação Portuguesa de linguística Fundada em 1984, a Associação Portuguesa de Linguística [02] é uma instituição que congrega a generalidade dos linguistas portugueses e também muitos linguistas de outros países que se interessam pelo Português. A A PL o rganiza anualmente uma reunião científica que i acolhe a apresentação de um grande número de trabalhos de investigação em linguística (posteriormente publi cados nos volumes de Actas) e patrocina, pontualmente, a realização d e o u tras reuniões de idêntico teor. A APL atribui anualmente um prémio dirigido a sócios não doutorados que submetam um trabalho de investigação sobre o Português. )
t ra r am c o lo ca ç ão
fora das universidades ou dos centros de investigação. A profissão de linguista estará p ró xi ma de um p on to de v ir ag em , e m que o r ec on he ci me nt o do mercado de trabalho se torna indispensável, mas, para que isso aconteça, é necessário mostrar, quer aos futuros profissionais quer aos potenciais empregadores, para que servem estes profissionais.
o QU E FAZEM OS LINGUISTAS?
o entendimento comum
acerca do que fazem os linguistas assenta na expectativa de que se trata de pessoas cujo uso da língua é modelar e cuja proficiência linguística passa pelo domí nio de várias línguas. Ainda que estas sejam qualidades desejá veis para qualquer falante, logo também para um linguista, o seu perfil profissional é bem mais variado e exigente. Vejamos, en tão, no que consiste esta actividade, repartida pelas diferentes áreas de especialidade.
INVESTIGAÇÃO FUNDAMENTAL 10 Os planos de estudos destas licenciaturas em universidades por tuguesas podem ser consultados em www.fl.ul.pt/dlgr/licJing.htm npl e em www.fcsh.unl.pt/linguistica/maior.html.
C om o s uc ed e c om q ua lq ue r o ut ra c iê nc ia , a i nv es ti ga çã o fundamental em linguística é indispensável para o progresso do
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conhecimento nesta área e também em áreas relacionadas. Por investigação fundamental entende-se a procura da explicação para o funcionamento do seu objecto de estudo (neste caso, a lingua gem e as línguas), observando os dados do real e propondo uma teoria para a explicitação desse saber.
presa. No caso específico da investigação em linguística, a sur presa está quase sempre relacionada com o aparato formal utili zado, com o grau de abstracção exigido e com a aparente falta de utilidade prática do trabalho realizado.
em linguística A investigação tem-se orientado principalmente parafundamental a discussão das seguintes questões:
As
DESCRiÇÕES • Elaboração de teorias linguísticas que permitam explicar o funcionamento das línguas; neste sentido, é possível falar de teoria da gramática, teoria fonológica, teoria morfológica, teo ria sintáctica ou teoria semântica. • Conhecimento da faculdade da linguagem. • Conhecimento da gramática das línguas particulares nos seus diversos domínios de análise, como a fonologia, a morfolo gia, a sintaxe e a semântica. Em Portugal este tipo de trabalho é geralmente desenvolvido no âmbito de universidades e centros de investigação, financiados maioritariamente pelo Estado, mas também por algumas entida des de capitais privados, nomeadamente no quadro de programas de mecenato científico, o que depende, quase integralmente, da existência de uma política científica esclarecida. Regra geral, este é um tipo de trabalho que não gera receitas, pelo que não pode auto-sustentar-se. Note-se que uma comunidade científica que não desenvolve investigação fundamental fica dependente dos resul tados da investigação externa e sem capacidade crítica para os avaliar. Além disso, a inexistência de investigação fundamental não permite construir aplicações credíveis. O perfil dos investigadores também merece comentário. Tra ta-se de uma actividade que requer uma especialização estrita, com o que isto implica de exigência no conhecimento do 'estado das artes'; de criatividade que garanta a originalidade das hipóte ses formuladas; e de persistência na procura dos melhores resul tados. Compreende-se, pois, que o número de candidatos ao seu exercício não seja muito grande e compreende-se também que a reacção da generalidade das pessoas ao tipo de trabalho que ca racteriza a investigação fundamental seja quase sempre de sur-
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ANÁLISES
Sem descrições rigorosas dos dados da realidade não é pos sível fazer investigação fundamental. Trata-se de trabalhos de referência, fundamentais no sentido em que potenciam quer os avanços teóricos quer os desenvolvimentos práticos. As descri ções necessárias par a a investigação em linguística incidem sobre os vários domínios da gramática das línguas, estudadas em si mesmas ou numa perspectiva comparada, com os seguintes objectivos:
• Descrição de fenómenos linguísticos (fonológicos, lexicais, morfológicos, sintácticos, semânticos). • Descrição de fenómenos de interface (entr e a fonologia e a morfologia, ou entre a morfologia e a sintaxe, por exemplo). • Descrição de fenómenos de mudança linguística. • Descrição de fenómenos de variação linguística, Quanto maior for o númer o de línguas descritas, mais apro fundado será o conhecimento das características da linguagem humana. Quando se trata de línguas já estudadas, as descrições partem de conhecimentos anteriores e enquadram-se numa teo ria considerada mais explicativa. A descrição das línguas pouco conhecidas ou nunca estudadas, como algumas línguas africanas e ameríndias, os crioulos ou as línguas gestuais, é um instrumen to de grande importância para o esclarecimento de questões an tropológicas, etnológicas e sociológicas, gerais ou específicas, dos povos que falam essas línguas. A descrição de línguas ágrafas, por exemplo, é condição indispensável para a criação de uma or tografia para essas línguas. Tal como a investigação fundamental, a elaboração de des crições e análises linguísticas é patrocinada fundamentalmente pelas universidades, correspondendo a trabalhos académicos
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os falantes quanto ao uso d a l ín gu a c on sa gr ad o p el a n or ma . as d is se rt aç õe s d e m es tr ad o e d e d ou to ra me nt o) o u a re A Nova Gramática do Português Contemporâneo de Celso Cunha há latórios de projectos de investigação, Mas materiais produzidos o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om e Lindley Cintra (Lisboa: João Sá da Costa) é uma gramática des a p ar ti r d e t ra ba lh os d es te tipo que t êm u m uso mais alargado. te tipo. É o ca so d as g ra má ti ca s, d os d ic io ná ri os o u d os a tl as e m ap as U ma o ut ra acepção deste termo é aquela que identifica as dialectais. chamadas gramáticas de referência. São também manuais, mas, n est e ca so , o objectivo é explicitar o conhecimento produzido GRAMÁTICAS acerca de um a língua, de forma exaustiva e sistemática. Trata-se (como
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Há diversas interpretações para o termo gramática e mesmo diferentes objectos a q ue se d á e st e n om e. A i nt er pr et aç ão m ai s comum é aquela que identifica manuais que t ê m c o mo o b je c ti vo ensinar 'o q ue se d ev e d ize r ' , qual é o us o Outras 'gramáticas' 'correcto' de uma lín Gramática pode não referir um manual g ua . Estas sã o as g ra e sim o próprio objecto do conhecimento. m á tica s norm ativ as É neste sentido que s e f al a de gramática (porque descrevem o universal, como o conjunto de princípios di al ect o consi derado que dão forma à faculdade da linguagem; de como a n or ma d e u ma gramática particular, como equiv alente de língua), também cha ou de sistema linguístico; mesmo gramá madas g r a m á t i c a s tica interiorizada, quando se faz apelo ao conhecimento da língua que cada falante prescritivas (porque possui e que é responsável pela sua produ apresentam conjuntos ção e compreensão de enunciados. de regras e excepções) Resta, por último, dizer que é a partir do ou gramáticas tradivalor de gramática, enquanto equivalente de c io na is ( po rq ue o se u sistema linguístico, que se estabelece um formato é muito próxi valor mais geral que permite a referência a m o d o formato das pri qualquer sistema. Nesta acepção, é possí vel encontrar expressões como' gramática m e ir a s gram átic as da criação', 'gramática da pintura' ou 'gramá gregas e latinas ). tica do teatro de vanguarda'. Trata-se, neste último
de trabalhos baseados na investigação linguística e destinados a quem p ro cu ra e st ud ar u ma l ín gu a e não a pe nas u m u so de ssa língua. A esta categoria pertence, po r exemplo, a Gramática da Língua Portuguesa, de Mateus et aI. (Lisboa: Caminho),
caso, de gramáticas
nicos. A ausência de uma palavra num determinado dicionário não deve, pois, ser interpretada ligeiramente como indiciadora da sua inexistência: pode tratar-se de uma palavra que cai fora do escopo do dicionário; que, po r erro, não foi incluída; ou, ainda, que não precisa de estar dicionarizada po r ser um produto previsível dos recursos morfológicos disponíveis (como sucede com a maioria
11
escolares apropriadas ao ensino da língua, manuais de gramática destinados ao uso corrente, cuja consulta dev erá es c lar ec er
Em Grego Antigo, a forma arte de ler e escrever', 11
grammatikê
significava 'a ciência ou a
DICIONÁRIOS Os objectos comummente utilizados para o conhecimento do léxico de uma língua são os dicionários. Convém esclarecer que entre o léxico de uma língua e os dicionários disponíveis para essa língua existem grandes diferenças. Os dicionários correspon Outros repertórios de palavras dem inevitavelmente a uma parte do léxico da língua. Quan Outros instrumentos para o conhecimento do léxico d e u ma língua to mais não seja por razões de são os glossários, que contêm as exequibilidade, devem os lexi palavras raras ou pouco conhecidas cógrafos dicionaristas proceder de um documento, obra ou época, à delimitação do â mb i to d o di acompanhadas da respectiva defi cionário, que pode, assim, ser nição, e os vocabulários, que são um dicionário das palavras em listas exaustivas de um corpus. Designam-se também como vocabulá uso à data da sua elaboração, rios os inventários das palavras maiSj um dicionário de neologismos frequentes d e u ma língua. ou um dicionário de termos téc ___ ~
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dos advérbios em -mente, como necessariamente, ou com dimi nutivos em -inho, como livrinho). Note-se que a organização típica dos dicionários em suporte impresso, que é a ordenação alfabética, não corresponde a ne nhuma das típicas estruturas do léxico. Veja-se, por exemplo, a dificuldade do 'jogo das letras', quando é necessário encontrar nomes de países, de cidades, de animais ou de plantas começados por S, I ou Z. Com efeito, a ordenação alfabética 12 não Forma de citação encontra motivação nos sis Como é sabido, algumas palavras temas linguísticos das lín podem apresentar mais do que uma guas em que é u til iz ad a, o forma - estas são as palavras variá que talvez lhe garanta o su veis. Os dicionários não incluem todas cesso internacional de que as formas das pala vras variáveis. Em desfruta na elaboração des geral, os dicionários incluem apenas uma das formas, dando-lhe o nome de te tipo de documentos de forma de citação. No Português, afor consulta pontual. Já a con ma de citação dos verbos do é adeforma impessoal; citação infinitivo a forma das palavras de natureza nominal é a forma do singular e a fo rm a d o m as culino, nos casos em que a variação em género é possível.
cepção dos dicionários elec trónicos se aproxima mais do que a linguística hoje sabe acerca do léxico das línguas naturais, permitindo pesqui sas combinadas, não só por uma forma de citação, mas por sequências menores localizadas em qualquer ponto da pala vra e por qualquer uma das suas propriedades. Não existe apenas um tipo de dicionários. A variação depen de, sobretudo, do número de línguas envolvidas (o que permite distinguir. dicionários monolingues de dicionários bilingues e plurilinguesl e do âmbito do dicionário. Neste caso, é necessário separar os dicionários de carácter geral dos dicionários especiali zados, também chamados dicionários técnicos ou terminologias.
12 Tal como o próprio alfabeto latino, a ordenação alfabética sofreu alg uns reajustes com o correr do tempo e a variação de língua para lín gua, mas pode alicerçar-se na ordenação do alfabeto fenício de há cerca de 3000 anos.
A esta última categoria pertencem os dicionários relativos ao léxico de determinadas ciências, tecnologias ou artes, mas tam bém objectos como os dicionários etimológicos ou os dicionários de neologismos. Tradicionalmente os dicionários são apresentados como livros, (ou entradas) dispostos os verbetes estando porestão ordem alfabética. Os avanços tecnológicos dos últimos 50 anos a mudar esta forma de apresentação tradicional: os dicionários electrónicos permitem utilizações muito mais ágeis e proveitosas e apresen tam muito menos restrições quanto ao volume de dados.
INVESTIGAÇÃO INTERDISCIPLINAR Muitos linguistas desenvolvem trabalhos de investigação in terdisciplinar, que envolvem mais do que um domínio de especia lização. É o que sucede, por exemplo, com a sociolinguística, a psicolinguística ou a neurolinguística, que cruzam a linguística com as A
ciências sociais e as neurociências. SOCIOLlNGuíSTICA
As relações entre a língua e a estrutura e funcionamento da sociedade são estudadas pela sociolinguística, um ramo da lin guística que se ocupa dos usos da língua, tomando em conside ração os factores sociais e culturais que caracterizam uma dada comunidade de falantes. Os conceitos de língua materna ou pri meira (a língua em que a criança faz a aquisição de linguagem), língua segunda (diferente da língua materna e usada com um fim específico como a educação ou a administração pública) e língua estrangeira (adquirida com finalidades sociais ou de investigação) são definidos no âmbito da sociolinguística. É também a sociolin guística que estuda as consequências do contacto entre línguas decorrente de processos históricos de migração e colonização, analisando as mudanças linguísticas responsáveis pela criação de línguas mistas que se caracterizam por ter mais do que uma língua na sua origem como os pidgins e os crioulos. Em circuns tâncias especiais, a sociolinguística identifica formas de comuni cação que ocorrem em mais do que uma língua em consequência da localização geográfica dos falantes, como ocorre com os
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habitantes de localidades fronteiriças que utilizam uma mistura de Português e Espanhol denominada familiarmente 'portunhol'. Duas das tarefas que competem à sociolinguística são a defi nição da norma-padrão e a inventariação de objectivos e estraté gias que devem caracterizar uma política de língua. • O uso das línguas é, naturalmente, um domínio de relevo que exige a observação e análise das línguas e a consideração de factores sociais e culturais de uma comunidade linguística.
A PSICOLINGuíSTlCA, A NEUROLlNGuíSTlCA E A LINGuíSTICA CLíNICA
A psicolinguística trata do estudo das relações entre a lingua gem, ou o funcionamento de uma língua particular, e os processos cognitivos que estão na base da produção linguística. Tratando -se de um campo interdisciplinar, é indispensável o concurso de especialistas de diversas formações para o estudo das bases neu rológicas do processo de
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Um dos problemas mais discutidos em relação a qualquer lín gua - tendo presente que ela varia no t em po e no espaço - é a determinação da norma-padrão. A norma deverá ser tida em conta no ensino, com a responsabilidade que lhe cabe na for mação de todos os 'utentes profissionais' da língua, ou seja, dos próprios professores, dos jornalistas, dos escritores ou d os p ol ít ic os , para d ar a pen as a lg un s e xe mp lo s. O u so da norma (ou, inversamente, o uso de um outro registo linguís tico) caracteriza o nível de escolarização do indivíduo, a sua proveniência e o seu enquadramento social. A escolha da variedade social e dialectal que deve ser consi derada como norma-padrão é uma questão delicada: se, do ponto de vista linguístico, todas as variedades são igualmen te válidas desde que sirvam para a comunicação dos falan tes, já numa perspectiva social a escolha de um determinado d ia le ct o c om o d ia le ct o da n orma é um factor de discrimina ção positiva, pelo que, geralmente, coincide com o dialecto do estrato da população que possui maior prestígio e poder. De um modo geral, o dialecto elegido como norma-padrão é o dialecto falado na sede do poder político de um país. • A determinação dos objectivos e das estratégias de uma po lítica de língua é outro dos domínios que compete à sociolin guística. A utilização de uma língua oficial ou de mais do que uma; os problemas respeitantes ao multilinguismo, por exem plo, com a consideração das consequências do bilinguismo a nível individual; o interesse pela preservação das línguas minoritárias, ou de menor expansão internacional, numa so ciedade multilingue. Todas estas são questões que devem ser equacionadas por uma política linguística.
aquisição de ling ua gem e do ( Aquisição da língua seu desenvolvimento. Entram A aquisição da língua é um procesnesta consideração, por um desencadeado so de forma involuntá lado, as análises dos dados ria em todas as crianças e que actua de da língua realizadas por lin forma muito semelhante, apesar das g uis ta s, p or o ut ro , o e st ud o diferenças entre línguas aprendidas. da me mó ria e da a te nç ão e o O processo de aquisição de linguaconhecimento das áreas do gem pode ser visto como a activação da faculdade de linguagem, face aos c éreb ro l ig ad as ao procesdados linguísticos a que a criança tem samento e compreensão da acesso. Este processo decorre num fa la e da e scrit a, q ue são d o breve espaço de tempo e envolve uma I domínio da neurolinguística. O estudo das patologias grande - - - - - --compl - - ~ e~ xidade - - ~ ~ de ~ - operações. - - - - - ~ / ; se da linguagem, quer trate de língua falada, escrita ou gestual, por ter de se desenvolver em in teracção com os conhecimentos das neurociências, denomina-se frequentemente como linguística clínica. A maioria das perturba ções de linguagem é constituída pelos diversos tipos de afasias que resultam de doenças ou traumatismos cerebrais e estão relacionadas com diferentes áreas do cérebro. As afasias provocam incapacida de de produção (afasia expressiva e afasia motora) ou de compreen são da fala (afasia de Wernicke e afasia fluente), quer no que respeita ao vocabulário (afasia nominal), quer às estruturas gramaticais (afa sia sintáctica) ou a outros aspectos da língua oral ou escrita.
APLICAÇÕES Há diversos domínios de aplicação da linguística. Os mais comummente considerados dizem respeito ao ensino das línguas, à tradução, à computação e à consultaria.
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o ENSIN O E A
F OR MAÇ Ao DE PROFESSORES DE LINGUA
TRADUçAo
O ensino de línguas é um dos domínios de aplicação da lin guística, que permite hierarquizar aprendizagens em função da complexidade dos fenómenos linguísticos envolvidos e também permite encontrar estratégias adequadas à resolução de proble
Globalmente considerada, a tradução é a conversão de uma língua para outra. O tradutor deve traduzir para a sua língua ma terna (ou que usa habitualm entel - a língua alv o - mas tem que conhecer bem a língua de que part e - a língua de origem ou lín
mas suscitados pela consolidação das competências linguísticas aprendidas. Neste domínio, há que distinguir o ensino da língua materna do ensino das outras línguas (língua segunda ou línguas estran geiras). O ensino da língua materna não apresenta uma língua nova, não ensina a falar - todos os estudantes de língua materna são falantes nativos dessa língua. Neste caso, o ensino da língua é o ensino de um uso específico dessa língua, geralmente o uso consagrado pela norma, e é a consideração da língua como um objecto de conhecimento, o que passa pela explicitação do saber gramatical de cada aluno. O ensino das línguas estrangeiras tem outras características: em muitos casos, inicia-se com o primeiro contacto dos estudan tes com essas línguas: trata-se, pois, de adquirir competências linguísticas diferentes. Numa fase inicial, a aprendizagem de uma língua estrangeira encontra semelhanças com a aquisição de lin guagem levada a cabo nos primeiros anos de vida e não as aulas de língua materna. Uma outra distinção que deve ser feita, no domínio do ensino e aprendizagem das línguas, é a distinção entre a aprendizagem do oral e a aprendizagem do escrito, dado que as competências envolvidas nestes duas actividades linguísticas não são idênticas. A formação de professores é outra das áreas em que se torna indispensável a aplicação dos conhecimentos em linguística. Nesta formação há que considerar a pré-graduação e a pós-graduação. Normalmente, os professores de língua recebem uma formação geral e teórica na licenciatura obtida nas universidades e nas es colas de ensino superior, com uma componente prática dirigida para o domínio das línguas em que se preparam. Os professores que se destinam ao ensino não universitário têm um complemen to de preparação pedagógica e didáctica, podendo, posteriormente, seguir um curso de pós-graduação.
gua fonte. Existem traduções de vários tipos: considerando a tra ducão de textos escritos, devemos estabelecer uma diferença entre a t ~ a d u c ã o literária e a traducão técnica. No primeiro caso, é ne c e s s á r i ~ que o tradutor tenha um conhecimento satisfatório do conteúdo do te xto originário e de aspectos culturais e sociais . (como questões de moda ou tabus linguísticos) que estão rela cionados com a utilização da língua de origem e devem reflectir -se na língua alvo. No caso da tradução técnica, é aconselhável algum contacto com a área em que se situa a tradução (informá tica, gastronomia, electricidade ou outra) e uma procura de apoio nas terminologias e nas obras especializadas do domínio em causa. Quando a oralidade é o meio utilizado na tradução quer como ponto de partida, quer como ponto de chegada - ou seja, na tra ducão simultânea -, o tradutor é normalmente denominado 'intérprete'; a mesma designação cabe ao tradutor que parte da língua oral para um a língua gestual. LINGulSTICA COMPUTACIONAL
A linguística computacional engloba o tratamento automá tico de todas as áreas da língua, ou seja, a descrição de qualquer módulo da gramática de uma língua natural, de m odo a que essa descrição pode ser compreendida e trabalhada por uma máquina. Esta actividade também pode ser designada processamento das línguas naturais (PLN). O trabalho neste campo necessita da colaboração entre linguistas, que conhecem o funcionamento das estruturas da língua, e especialistas na construção de sistemas informáticos, produ zindo aplicações em diversos domínios: • A traducão automática é um sistema informático que permi te obter'traducões entre duas ou mais línguas. Um a das mo dalidades m a i ~ comuns de tradução automática é a tradução assistida por computador, que permite a um tradutor humano
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servir-se
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vários módulos informáticos que ajudam no esta
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belecimento de correspondências entre as línguas ( fonte e alvo). Nestes módulos incluem-se gramáticas e dicionários o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om electrónicos de sinónimos e outros. Trata-se de módulos que memorizam expressões frequentes numa língua, léxicos infor matizados, analisadores morfológicos e sint áct icos e correctores ortográficos, sintácticos e até estilísticos.
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• As bases
de dados linguísticos
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os
corpora informatizados
são recursos de armazenamento de dados linguísticos com possibilidade de consulta interrelacionada, responsáveis, por exemplo, pelo aparecimento de dicionários electrónicos. •
Os
GLOSSÁRIO
sistemas de síntese e reconhecimento de fala são cons
truídos com base em padrões fonéticos de uma língua, que permitem reconhecê-Ia e produzi-Ia automaticamente. Aplica ções deste tipo são usadas, por exemplo, em investigações policiais, para determinação das características fonéticas da fala de um indivíduo com o objectivo de o identificar a partir de gravações de voz.
CONSUL TORIA LINGuíSTICA
Por último, os linguistas podem participar na vida das empre e das instituições, sempre que o uso da língua esteja em ques tão, assegurando uma maior eficácia comunicativa quer através da revisão linguística dos textos quer do esclarecimento de dúvi das dos falantes. Estas são as funções dos consultores linguís ticos. sas
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Perturbação da lingua regular e frequentemente, gem devida a danos cerebrais pode considerar-se multilingue. que afectam a capacidade do Existem vários graus de mul falante para produzir ou com tilinguismo, verificando-se, q ua se s em pr e, uma e sp e preender as estruturas linguís ticas. A afasia pode afectar os cialização do uso das línguas níveis fonológico, morfológico conforme a situação comunica ou sintáctico, lexical ou semân cional, o contexto ou o tipo de tico da língua. interlocutor. O ambiente multi lingue, quer de indivíduos quer AQUISlçAo DA LiNGUA - Proces so dur ante o qual a crianç a de comunidades, é mais fre aprende a sua língua materna quente do qu e se pode supor por simples exposição à língua e é muitas vezes decorrente ou utilizada no meio em que está promovido por políticas linguís inserida. ticas específicas. BILINGUISMO - Capacidade de CONTíNUO SONORO - Designação comunicar e de se expressar do nível oral da fala que se b a em duas línguas diferentes, re seia n o facto de, nível, sultante de um contacto fre ela ser constituídanesse por uma su quente com essas duas línguas cessão de sons em que não existe separação entre as uni (por exemplo, um filho de mãe portuguesa e pai francês pode dades da língua. tornar-se bilingue nestas duas CRIOULO- Língua materna de uma línguas). No caso de o indivíduo c omunidade que s ur ge em circunstâncias especiais (nor possuir essa capacidade de ex malmente, em consequência pressão em mais do que duas d e u m processo de colonização) línguas, com as quais contacta AFASIA -
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etem como base um pidgin (por
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do de construção dos pares mí
da em Lisboa, pelas Edições
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sentido, língua refere o conhe
João Sá da Costa). cimento e o uso que cada falan GRAMÁTICA INTERIORIZADA te tem e faz da faculdade da o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om Conhecimento que o falante linguagem que lhe é própria, tem do modo de funcionamen enquanto participante da espé to da sua língua, das estruturas cie humana. gramaticais e lexicais. Este líNGUA ARTIFICIAL - Opõe-se a lín conhecimento é adquirido in gua natural por se tratar de conscientemente durante o uma língua construída por uma período da aquisição da língua. pessoa ou por um grupo de GRAMÁTICA NORMATIVA - Manual pessoas com uma intenção que estabelece qual o dialecto determinada e num tempo re aceite como norma-padrão de lativamente curto, não sendo, uma língua e que contém um portanto, aprendida como lín conjunto de regras impostas gua materna. O Esperanto é por um grupo sociocultural uma língua artificial. m en te d om in an te a um ou líNGUA ÁGRAFA - Língua que não vários grupos de falantes. As possui uma representação es gramáticas escolares são gra crita. máticas normativ as. líNGUA DE COMUNICAÇÃO - lín GRAMÁTICA UNIVERSAL - Trata-se da ESTRUTURALISMO gua franca qual os bém aplic ar-se Conjun to dos princípios universais que falantes de através línguas da diferentes to implícito osconhecimen falantes têm que ao mais importante corrente filo comunicam. regulam a construção de um a do funcionamento da sua lín sófica e metodológica das ciên gramática e das possibilidades LiNGUA DE TRABALHO - Língua es gua. c ias humanas na primeira de aplicação desses princípios colhida em organismos interna metade do século xx. Segundo GRAMÁTICA DESCRITIVA - Estudo a uma língua particular. que descreve o funcionamen cionais plurilingues como uma esta perspectiva, a realidade e LiNGUA - Existem diversas acep to dos sistemas de elementos das línguas utilizadas em reu as formas de comportamento ções para este termo. A mais que pertencem aos vários ní niões de trabalho. - n om ea da me nt e a l in gu a comum é aquela que identifica líNGUA ESTRANGEIRA - Língua veis da língua (ou seja, dos gem - são sistemas organiza os limites geográficos de um sons, das palavras e das frases) não materna aprendid a no con dos em unidades e relações sistema linguístico de comuni e da interrelação existente en texto escolar que tem como entre essas unidades, siste cação entre indivíduos, geral tre esses sistemas, tomando finalidade ampliar conhecimen mas que são encarados, pois,
nimos para identificar os fone exemplo, o Crioulo Caboverdia mas de uma língual. no ou o Crioulo Guineense). DIALECTO - Variedade de uma lín FACULDADE DA LINGUAGEM - Ca pacidade humana, inata e uni gua conforme as regiões em versal, que permite a aquisição que é falada (por exemplo, o rápida das regras de funciona dialecto de Lisboa, de Faro, de mento da língua que a criança Évora). O termo varie dade é ouve durante os primeiros anos habitualmente portu usadooem de vida e que lhe possibilita a guês para designar conjunto construção progressiva da res de dialectos de uma língua que pectiva gramática. se falam num determinado país (por exemplo, o Português Eu GRAMÁTICA - Estudo do funciona mento das línguas, geralmente ropeu e o Português Brasileiro de uma língua, com referência são duas variedades da língua aos seus aspectos fonológicos, portuguesa) . morfológicos, sintácticos e se DISLEXIA - Tipo de afasia que se mânticos. O termo gramática caracteriza pela incapacidade aplica-se ao livro que explicita de compreender palavras escri esse estudo mas pode tam tas.
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como estruturas. Esta visão do mundo e das actividades hu manas motivou a criação de métodos e técnicas próprios para o estabelecimento dos sis temas das línguas numa base empírica (por exemplo, o méto-
como base tanto a sua utiliza ção oral como a escrit a. Tome -se c omo e xe mp lo a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e
Luís Lindley Cintra (a primeira edição é de 1984 e foi publica-
mente definidos em termos políticos (regra geral, esses limites são definidos pelas fron teiras de um país), o que per mite referências como 'língua portuguesa', 'língua francesa' ou 'língua chinesa'. Num outro
tos, desenvolver investi g açãodee permitir contactos sociais carácter internacional. líNGUA FRANCA - Língua que uti lizam falantes de diferentes lín guas para comunicar nas suas relações sociais, diplomáticas e
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comerciais. O Português foi lín gua franca nos portos da índia e do Sudeste da Ásia até mea dos do século XIX, permitindo o contacto entre europeus e asiá
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ticos. GESTUAL - A língua gestual, criada para utilização de surdos, é constituída por sis temas de sinais e tem caracte rísticas particulares de cada comunidade que a usa, existin do, portanto, a Língua Gestual Portuguesa, a francesa ou ou tra. Habitualmente, os sinais
líNGUA
das línguas gestuais correspon dem a palavras e a unidades gramaticais. LlNGUA MATERNA (OU PRIMEIRA) Língua que se fala em torno de uma criança durante os primei ros anos de vida e através da qual ela adquire o uso da língua. LlNGUA NACIONAL, VERNÁCULA OU NATIVA - Língua utilizada no quotidiano pelos elementos de uma sociedade para quem é
língua materna, podendo coin cidir, ou não, com a língua ofi ciai dessa sociedade. líNGUA NATURAL - Língua que se desenvolve espontaneamente
no seio de uma sociedade (por exemplo o Português ou o Francês) e que é aprendida
como língua materna. LlNGUA OFICIAL - Língua utilizada na escolarização e nos contac tos administrativos, oficiais e
o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om para referir internacionais dos elementos usado, também, de uma sociedade para quem sistemas de programação in pode ser, ou não, língua mater formática e certas formas de na. Quando essa sociedade é comunicação entre animais. constituída por comunidades ,NORMA (OU NORMA-PADRÃO) ou grupos de pessoas com lín Variedade dialectal e sociolin guas maternas diferentes, o guística utilizada no uso da lín Estado determina qual a língua gua em contexto escolar e nos (ou línguas) que deve(m) ser meios de comunicação. A nor considerada(s) língua oficial. ma-padrão coincide, geralmen São exemplos desta política lin te, com a variedade dialectal e guística certos países africanos sociolectal dominante (em Por como Angola e Moçambique tugal considera-se como nor que tê m o P ortu guê s c omo ma-padrão a varie dade util izada língua oficial ou, na Europa, o na região de Lisboa-Coimbra Luxemburgo que tem como lín pela classe social escolarizada). guas oficiais o Alemão, o Fran PATOLOGIAS DE LINGUAGEM - De cês e o Luxemburguês. ficiências da linguagem que se líNGUA SEGUNDA - Língua não manifestam na fala (compreen materna (da maioria) dos fa são e produção) e que t êm lantes de uma determinada origem nos sistemas neuropsi sociedade, ou de grupos de cológicos que estão na base da imigrantes, usada como meio produção linguística. A maioria de escolarização e como língua das perturbações da linguagem veicular nas instituições admi é constituída pelos diversos nistrativas e oficiais. A apren tipos de afasias que estão re dizagem da língua segunda lacionadas com diferentes faz-se normalmente no contex áreas do cérebro e provocam to escolar e permite a inserção incapacidade de produção ou do indivíduo no sistema socio fala compreensão da noàsque político dominante, constituindo respeita ao vocabulário, es
mesmo um factor de ascensão
social. LINGUAGEM - Meio de comunica ção humana e de expressão pessoal que utiliza, de forma sistemática e convencional, sons, sinais ou símbolos es critos. O termo 'linguagem' é
truturas gramaticais ou a ou tros aspectos da língua oral ou escrita. PIDGIN - Tip o de língua reduzida e mista que tem como origem o contacto prolongado entre fa lantes de línguas diversas que necessitam de comunicar en-
t re si. Esta necessidade de comunicação resulta de os fa lantes se encontrarem numa situação de escravidão ou pre cisarem de estabelecer rela ções comerciais ou outras, sem a possibilidade de aprendi
zagem de uma língua segunda.
POLITICA LINGuíSTICA - Conjunto de intenções e decisões do
governo de um país relativas ao uso oficial de uma ou mais línguas e à determinação da norma-padrão, tanto no que respeita à língua oral c omo à escrita (as reformas ortográfi cas são exemplo de acções de política linguística). Faz parte, igualmente, da política linguísti ca a forma de divulgação de uma língua como língua estran geira ou segunda de acordo com o contexto em que é en
sinada. PROTOlÍNGUA - Língua de que não existem registos materiais mas que se considera ser a origem
de uma família de línguas (ou de um ramo de uma família). A re constituição de uma protolíngua f az -s e a par ti r de aspec tos
comuns das línguas derivadas. Variedade de um a língua que caracteriza um meio
SOCIOLECTO -
sociocultural. UNIVERSAIS DE LINGUAGEM - Pro
priedades que as línguas natu rais possuem em comum. Os universais linguísticos podem
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ser universais formais (as con-
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analisar uma língua), Podem
ainda ser considerados os
dições abstractas a que obedece uma gramática) e universais substantivos (as categorias linguísticas como 'nome' ou 'verbo' que são necessárias para
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universais de acordo com deo Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om terminada área da gramática (universais fonológicos, semânticos ou outros),
OUTRAS LEITURAS
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Segue-se a indicação dos textos considerados mais relevantes para aprofundar conhecimentos no domínio da linguística. Sempre que possível e justificado, é dada informação sobre traduções em Português e sobre a disponibilidade de edições em linha. A listagem é alfabética (considerando o patronímico do primeiro autor). David Crystal 1987 The Cambridge Encyclopedia of Language Cambridge University Press 1993 Enciclopedia deI Lenguaje de la Universidad de Cambridge Madrid: Taurus Esta enciclopédia, elaborada com a colaboração de muitos especialistas, aborda, nas suas 480 páginas, doze temas que dizem respeito à linguagem e às línguas: ideias populares sobre a lingua gem, linguagem e identidade, a estrutura da linguagem e os meios de que se servem as línguas: a fala e a audição, a escrita e a leitura, as línguas gestuais; a aquisição da língua, a linguagem e o cére bro, as línguas do mundo e no mundo e, p or f im , a l in gua ge m e a comunicação. Profusamente ilustrada, é uma 'obra útil, informativa e formativa. Lamentavelmente não existe tradução portuguesa.
Isabel Hub Faria, Carlos Gouveia, Emília Pedro e Inês Duarte (organizadores) 1 99 6 Intro du çã o à Linguística Geral e Portuguesa Lisboa: Editorial Caminho
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Este livro possui uma introdução panorâmica com apresenta
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dade é não só substancial pela quantidade de informação trans
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mitida, como original e notável no modo como essa informação é ção dos doze capítulos que o constituem. Nesses capítulos são organizada e interpretada. O livro termina com uma breve intro tratados os aspectos biológicos, cognitivos e de representação o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om dução à linguística do século XX. da linguagem verbal, os domínios da fonética, fonologia, morfo logia, sintaxe, semântica e pragmática e, ainda, questões de in Steven Pinker teraccão verbal e de variação linguística. Cada capítulo é realizado 1994 The Language Instinct: the New Science por um ou mais especialistas e p od e ser entendido como um texto of Language and Mind introdutório ou como uma síntese do estado da arte na respectiva área.
Londres: Penguin O Instinto da Linguagem: Como a Mente Cria a Linguagem São Paulo: Editora Martins Fontes Steven Pinker é um dos maiores especialistas mundiais no estudo das relações entre linguagem e cognição. Nesta obra, de fende a teoria de que a linguagem é inata e que os homens pos suem uma gramática universal comum. Além de apresentar como argumento da sua opinião a formação das línguas crioulas, o autor considera o modo como se processam a aquisição da língua e as relações entre linguagem e mente como apoios à sua teoria. Pinker utiliza um estilo agradável e serve-se muitas vezes de exem 2002
Victoria Fromkin e Robert Rodman 1983 An Introduction to Language 1 99 3 Intro du çã o à Linguagem Coimbra: Almedina Trata-se de uma boa introdução aos problemas da linguística e da natureza das línguas. A obra está dividida em quatro partes: a natureza da linguagem humana, aspectos gramaticais, aspec tos sociais das línguas e aspectos biológicos da linguagem. Nos aspectos gramaticais, todas as á re as d a linguística são conside radas: fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, exis tindo, até, um excurso sobre a escrita. Cada capítulo, que termina com um resumo, é acompanhado de exercícios e referências bi bliográficas.
plos do quotidiano para desenvolver o conceito de que a lingua gem é um instinto humano cuja presença no nosso cérebro decorre da evolução da humanidade.
Georges Mounin 1 96 7 Histoire de la Linguistique des Origines au XX' Siec/e Paris: PUF sld História da Linguística. Das Origens ao Século XX Porto: Despertar Embora a data da edição francesa mostre que este trabalho tem quase 40 anos, a verdade é que não perdeu utilidade e con
Maria Francisca Xavier e Maria Helena Mateus (organizadoras) 1990 Dicionário de Termos Linguísticos, Volume I 1992 Dicionário de Termos Linguísticos, Volume II Lisboa: Edições Cosmos s/d www.ait.pt/recursos/dic_term_ling/index2.htm Esta obra pode ser consultada com proveito quando se necessita obter, de forma rápida e eficiente, uma informação res-
tinua a ser dos livros completos e interessantes sobredo a história da um linguística. A mais par de um conhecimento profundo acervo bibliográfico original e dos estudos sobre essa bibliogra fia, o autor tem uma opinião crítica sobre os gramáticos e linguis tas que desenvolver am o estudo da linguagem e das línguas, destacando, de forma criteriosa, os trabalhos de maior relevo em cada época ou movimento. A parte do estudo dedicada à antigui-
do estudo da linguística peitante a aspectos geraisI contém ou particulares e das línguas. O Volume 1468 termos das áreas de filo logia, fonética, fonologia, linguística histórica, pragmática, pro sódia e sociolinguística. O Volume II contém 1756 termos das áreas de morfologia, lexicologia e terminologia, semântica, sintaxe, psicolinguística e, ainda, um número apreciável de termos gerais. Todos os termos têm uma definição concisa e precisa (cuja fonte
106sse•nc ia Ml-sobre ARI A HELENA M I RA http://slide pdf.c om/re a de r/full/o-e -linguistic -a
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vem explicitada no caso de tal se justificar), bem comooaEsse indicanc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om ção da área em qu e se integra e o respectivo equivalente em Inglês. Frequentemente, foram introduzidos equivalentes em Francês. Grande parte das entradas contém a indicação de termos relacionados e de sinónimos. Ambos os volumes têm índices remissivos e uma bibliografia final.
REFERÊNCIAS
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o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om
,1.
[O 1]
Aristóteles c. 350 a. C. Organon 1985 Tradução portuguesa. Volume I. Lisboa: Guimarães Editores
[02]
Associação Portuguesa de Linguística
1
I
www.apl.org.pt/Undex.htm
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MARIA HELENA MIRA MATEUS/ ALlNA VILLALVA
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o ESSENCIAL SOBRE LlNGufSTlCA
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o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om
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COLECÇÃO O ESSENCIAL
o Esse nc ia l Sobre Linguistic A - slide pdf.c om
o Essencial sobre Linguística Maria Helena Mira Mateus e Alina Villalva
O
o Essencial sobre a História do Português
O
Essencial sobre Dicionários do Português
Margarita Correia Essencial sobre Fonética, Fonologia e Prosódia
Maria Helena Mira Mateus e Ana Isabel Mata
Esperança Cardeira o Essencial sobre a Sintaxe do Português André Eliseu
O
o Essencial sobre o Ensino da Língua Materna
O Essencialsobre
Maria José
Carlos Gouveia
O
o Essencial sobre Semântica Ana Cristina Macário Lopes e Graça Rio-Torto
O
o Essencialsobre a Ortografia do Português
O
Essencial sobre Processamento de Fala para o Português
José Pinto
de
O
Alina Villalva
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Léxico do Português
Essencial sobre Formação de Palavras
Alina Villalva O
Essencial sobre o Ensino do Português
Ana Isabel Mata
Lima
O Essencial sobre o
Essencial sobre Voz
Isabel Hub Faria
Fernando Martins Essencial sobre Pragmática Linguística
Essencial sobre Norma e Variação
Maria Helena Mira Mateus
Maria Helena Mira Mateus
O
Essencial sobre Jornalismo Linguístico
Alina Villalva e André Eli seu
Dulce Pereira
O
Gramáticas do Português
Maria Helena Mira Mateus
Ferraz
o Essencial sobre Crioulos de Base Portuguesa
Essencial sobre Texto e Discurso
O
Essencial sobre Política Linguística para o Português
Alina Villalva
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