Descrição: Memorias Quase Postumas de Machado de Assis 262
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Primeiro capítulo do livro 'Machado de Assis: impostura e realismo', de John Gledson, em que discute a obra 'Dom Casmurro', de Machado de Assis.Descrição completa
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O IRMÃO DE ASSrS INÁCIO LARRANAGA CAPÍTULO PRIMEIRO AMANHECE A LIBERD1DE Apesar de tudo, voltava tranqüilo. Tinha motive. > sentir-se abatido, mas, ao con trário do que esperava, i ' tranha serenidade inundava seu rosto e em seus ollm-, I" II, alguma coisa seinelliante à paz de um sonho atingido mi ,, amanhecer defini tivo. Naquela noite tinham saltado Iodos os gonzus, c- agot um novo centro de gravidad e. Tudo estava mudado (¦<* »>, naquela noite, o mundo tivesse dado uma volta di ir iil tenta graus. Na madrugada que se estendia pelo \.tl.-*í. i Espoleto até Perúsia, o filho de Bernardone ia cavalgai * paz, para sua casa. Estava disposto a tudo, e por iimi < ' !¦, livre e feliz. Falam de noite de Espoleto. Entretanto, ao conii i ' i que parece e se diz, a av entura franciscana não comrçi ' noite, porque nela culmina uma longa corrida de o!>« ' as'lc'. u ' >|ue os bia e abades recebiam solenemente "s ''"''icipes não as terras e os bens, mas tam^"1 " ' " nnel. Natui mente, a coisa não era tão sllB? ." '''"tv<-' à prime vista. Por trás dos báculos e mt 1 1 "i mundo c interesses e de ambições terrf1125' Em cinco expedições ass antes do nascimento de Franca' " " '"'ia investij» com especial as sanhamento con£ta 0"1 r "s'is, em cia recinto entrou vitorioso, receber^03 J''"^ s enhores fei dais e pondo a bota imperial sobre"P,"m'1 * humilhadi Quando se afastou, deixou «>' ¦««« 0 aventl. reiro Conrado de Suábia para tf* ü f*>vo rebelde Os aristocratas de Assis, aprov'ellanr"letào imperia 10 fl! servos da gleba com novas e duras exigêncús, '"!"' uio carro da vassalagem de que sc haviam apeado Ultimai I nasceu nesse tempo em que a vila estava sendo v^ni»d^iJonTaáo a partir da formidável fortaleza cia Rocca, p (|| ptadoiainenle no alto da cidade. Esse foi <> contorno cm ,|,f»,corrcu a infânc'a de Francisco. |(l |hk.i letta de contrastes e sumamenu movimentada. A» iWK enla<ía/m e desenlaçam co
m a imon-.i .i.¦.1.1 d<-|((Sitas na água; sobem e baixam as peque nau repú-grandes senho rios; hoje o Imperador pede prot«f§0 ui r|j,manhã o depõe ou o coloca diante de um . 11|. (|, iíerro e fogo pelos muros de Roma. ^cente da ambição levanta a cabeça nas torn |p .1 ^i»m HfJo subiu ao pontificado o papa Inocéncio III, perso-I nrte e de coração grande, as cidades italianas levan-. | tabeça exigindo independência, reclamando justiça e, r casos, levantando os punlios da vingança. A relicldin entt* como um vendaval cego por toda a Itália central. andado de Assis, a revolução chegou a alturas singulares. I, (a ,rjnavera de 1198. Q uando o povo soube que Conrado submetido em Narni às exigências do Papa, os as-, su biram à Rocca e, no pnmeiro assalto, derrubaram o I bastião, sem deixar pedra sobre pedra. 0 a maior rapidez levantaram uma sólida muralha ao ¦ a cidade, com o material di Rocca desmantelada. Erigiu^ a, Francisco estava com 16 mos a república de Assis, independente do Imperador e 11 ¦oprimiram os servos da gleba com novas e duras exiy.n , atrelando-os ao carro da vassalagem de que se haviam ijml anteriormente. Francisco nasceu nesse tempo cm que a vila estava «ri vigiada por Conrado, a parti r da formidável fortaleza da R«rj erguida ameaçadoramente no alto da cidade. Pssc (oi o icMiUm em que transcorreu a infância de Francisco. F uma época letla de contrastes e sumamcin. movimrnkdi As alianças se enlaçam e desenl açam com a lnCOMÍMÍMll J palavras escritas na água; sobem e baixam as |» .in. na-. , blica s e os grandes senhorios; hoje o Imperadoi pedi \k,\ ao Papa e amanhã o depõe ou o coloca diante de um .....|,|, ou entra a ferro e fogo pelos muros de Roma. A serpente da ambição levanta a cabeça nas ........ çadas dos castelos, nos palácios lateranenses e nas l "l imperiais; as chamas estav am sempre estalando ao vrnt( cruzadas parecem um turbilhão que arrasta numa mistur a composta, a fé e o aventureirismo, a devoção e a sede dt i i"¦ --.¦ a piedade para com Crucificado e a impiedade pari co os vencidos... * * * Quando subiu ao pontificado o papa Inocêncio III, \>-nalidade forte c de coração grand e, as cidades italianas fcv taram a cabeça exigindo independência, reclamando |iMiv, em alguns casos, levantando os punhos da vingança. A rrbrt estendeu-se como um ve ndaval cego por toda a Itália mu No condado de Assis, a revolução chegou a alturas sin giti F.ra a primavera de 1198. Quando o povo soube que Cori, tinha se submetido em Narni às exigências tio Papa os sisienses subiram à Rocca e, no primeiro assalto, d errubai^ soberbo bastião, sem deixar pedra sobre pedra. Com a maior rapidez levantaram uma sólida muralu redor'da cidade, com o material d a Rocca desmantelada. Eti -se assim a república de Assis, independente do Imperad; do Papa. Francisco estava com 16 anos. As chamas da vingança atiçaram-se por toda parte, acesas pela ira popular contra os opressores senhores feudais. Araram seus castelos no vale da Ümbria, derrubaram as torres arreadas, foram saqueadas as casas senhoriais e os nobres tiveram que re fugiar-se na vizinha Perúsia. Entre os fugitivos contava-se uma pré-adolescente de u ns doze anos, chamada Clara. Os nobres assisienses refugiados pediram auxílio de sua eterna rival, Perúsia, contr a o populacho assisiense que os bvia expulsado. Depois de vários anos de negociações, ofertas e anea-ças, travou-se o combate nos arredores de Ponte San Giovnni, lugar eqüidistante entre Perúsia e Assis. Foi no verão de 1203. Francisco, que tinha vinte a nos, tomou parte. É assim que surge na história o filho de Bernardone: pelejando em uma escaramuça comunal em favor dos humildes de Assis. Mas os combatentes de Assis foram completamente derrotados e os mais aquinhoados foram tomados como reféns e deportados para a cadeia de Perúsia. E aí temos Francisco feito prisioneiro de guerra, nas úmidas masmorras de Perúsia. OS CASTELOS AMEAÇAM RUÍNA
Francisco era demasiado jovem para absorver o golpe sem «stanejar. Aos vinte anos, a alma do jovem é uma ânfora rágü. Basta o golpe de uma pedrinha e a ânfora se desvanece orno um sonho interrompido. É o passar do tempo e do vento oie dá consistência à alma. Dá impressão de que os biógrafos contemporâneos passam voando por cima dos anos de conve rsão de Francisco. Como ot jornalistas, os cronistas só apresentaram casos. Mas, ao que pirece, não presenciaram ou ao menos não nos transmitiram 3 drama interior que o rigina e explica os episódios. Não nos izem nada de sua conversão até a noite de Espolet o. Entre-aito, nessa noite a fruta caiu porque estava madura. Para mim, nesses onze longos meses de prisão e inatividade laneçou o trânsito de Franc isco. Para construir um mundo. outro mundo tem que desmoronar-se anteriormente. I: na,, ij granadas que arranqu em pela raiz uma edificação; os <-
!tn deixar de ser dolorosa. E tudo começou, em minha opiniii<, ,ln árcere de Perúsia. * * * Toda transformação começa por um Cai a illlsj( e fica a desilusão, desvanec e-se o engano e sol na o desetigSÍC Sim, todo despertar é um desengano, desde as ver dades fír damentais do príncipe Sakkiamuni (Buda) até as conviCçjç do Eclesiastes. Mas o d esengano pode ser a piiincira pedra d um mundo novo. Se analisarmos os começos dos grandes santos, se obse varmos as transformações espirit uais que ocorrem ao n,redor, descobriremos em tudo, como um passo prévio, um despertar: o homem convence -se de que toda a realidade é efêmera ou impermanente, de que nada possui solidez, a não ser Deus. Em toda adesão a Deus, quando é plena, esconde-se uma busca inconsciente de transcen dência e de eternidade. Em toda saída decisiva para o Infinito, palpita um desejo de libertar-se da opressão de toda limitação e, assim, a conversão transforma--se na supre ma libertação da angústia. Ao despertar, o homem torna-se um sábio: sabe que é loucura absolutizar o relativo e relativizar o absoluto; sabe que somos buscadores inatos de horizontes eternos, e que as realidades humanas só oferecem marcos estreitos que oprimem nossas ânsias de transcendências, e assim nasce a angústia; sabe que a criatura termina "aí" e não tem escapatória, por isso, seus desejos últimos permanecem sempre frustrados; e sabe pr incipalmente que, afinal de contas, só Deus vale a pena, porque só Ele oferece meios para canalizar os impulsos ancestrais e profundos do coração humano. * * * Francisco despertou na cadeia de Perúsia. Foi lá que o edifício começou a ser planejado. Que edifício? Aquele sonhador tinha detectado, como um sensibilíssimo radar, os son hos de sua época, e sobre eles e com eles tinha projetado um mundo moldado com cas telos amuralhados, espadas fulgurantes abatendo inimigos: os cavaleiros iam para os campos de batalha sob as bandeiras da honra para alcançar essa sombra fugidia a que chamam glória. Com as pontas das lanças conquistavam os títulos nobiliárquicos, no s braços de gestas heróicas entravam no templo da fama e nas canções dos rapsodos, como os antigos avaleiros do rei Artur e os paladinos do grande imperador Carlos. Num a palavra, todos os caminhos da grandeza passavam pelos campos de batalha. Esse
era o mundo de Francisco t se chamava sede de glória. 14 ur '; el Perseguindo esses fogos-fátuos, nosso sonhador tinha chegado ier às proximidades da Ponte San Giovanni. A pi imeira ilusão degene-e-s« rou na prime ira desilusão, e de que calibrei Sonhar com glórias Enr tão altas e dar de cara com tão humilhante derrota, na primeira ibe tentativa, era demais! Era aí mesmo que Deus o esperava, msl Deus não pode entrar nos castelos levantados sobre dinheiro, poder e glória. Quando tudo dá certo na vidu. o homem e * tende insensivclm ente a concentrar-se cm si mesmo; grande satã desgraça porque se apodera dele o medo de penkl hkb, | vive as ansioso, sentindo-se infeliz. Para o homem, a d e m .t.iU , , neii justamente a salvação. tia; por isso> se Deus Pai quer salvar seu filho .....ilmdo . P°r adormecido no leito da glória e do dinheiro, não tem outm e saída senão dar-lhe uma boa sacudidela. Quando o mundo a naufraga, fica flutuando uma poeira es pessa que deixa I¦ 11, J'st' confuso. Mas, quando o pó assenta, o filho pode a bril na nlhoa, despertar, ver a realidade clara e sentir-se livre. Foi isso que aconteceu com o filho de dona 1'iin Nu planura de Ponte San Giovann i derrocaram-se seus castelos no ar. No primeiro momento, como acontece sempre, o rapaz, envolto cm pó, sentiu-se confuso. Mas, quando chegou a cadeia. a , na med ida em que o tempo foi passando e o pó assentando, o 'UC ' lilho ile dona Pica, co mo outro Sigismundo, começou a enxergar dato tudo e inconsistente como um sonho. is sc n m alha ia a avar entr. >s an allal Para um jovem sensível e impaciente, era demais permanecer inativo entre os muros de um cárcere, mastigando | erva amarga da derrota. Em um cativeiro há tempo demasia,In para pensar. Não há novidades que distraiam Uoia apen as, mino realidade única e oprimente, a derrota. Por outro lado, nosso rapaz não escapou da psicologia dos leza ^'v05" O cativo, co mo o preso político, vive entre a incerteza pral e o temor: não sabe quantos meses o u anos vai ficar fechado na cadeia, nem qual vai ser o curso dos acontecimentos políticos, nem o que vai ser de seu futuro. Só sabe que esse futuro ;ai depender de um podes tá arbitrário ou de uma camarilha hos-:il de senhores feudais. 15 Por outra parte, nosso jovem estava bem inforrr> que os cativeiros e derrotas são o alimento ordinário | das aventuras cavaleirescas. Mas era bem diferente exper. Io na própria carne e pela primeira vez principalmeni ele que não estava curtido pel os golpes da vida e en disso, de natureza tão sensível! * * * Começa a crise. Diante das edificações que hoje ; e amanhã baixam, diante dos imperadore s que hoje são e amanhã sombra, diante dos nobres senhores que são ciados para sempre pela ponta de uma lança, há outro S cavalgando acima das estepes da morte, outro Imp erador qu é atingido pelas emergências nem pelas sombras, outra j cação que tem estatura eterna. A Graça ronda o filho de Pica. E ele perde a segurança. Os velhos biógrafos dizem que, enquanto seus companh estavam tristes, Francisco não só estava alegre, mas até j rico. Por quê? Um homem sensível deprime-se com facilid A pa rtir de seu temperamento, teríamos motivos para p< que Francisco tinha que estar a batido na cadeia. Mas estava. As palavras de Celano, cronista contemporâneo, nos pé para confirmar-nos no que esta mos dizendo desde o corrii que tudo começou no cárcere de Perúsia, que Deus irrorri po r entre os escombros de seus castelos arruinados, que lá tomou gosto por Deus, que lá vislumbrou, embora entre tre. um outro rumo para sua vida. Efetivamente, conta o velho biógrafo que, diante da eufc de Francisco, seus compan heiros se molestaram e lhe dissers; Você está louco, Francisco? Como pode estar tão ra diante i meio destas correntes enferrujadas? Francisco respondeu textt.; mente: "Sabem por quê? Olhem, tenho um pressentimer, escondido aqui dentro que me diz que um dia todo muni vai me venerar como santo". 16 «s vislumbres de eternidade cruzaram o céu escuro de l-úrj no cárcere obscuro de Perúsia. 1 GKANDI PALAVRA 1)1 SUA VIDA
$Mto de 1203, perguntaram-se os homens da plebe ' "¦¦.Malas ile Assis: Rira que gast ai mcigias loinhaten-d" iit» aos outros? Vamos fazer um tratado cl«- paz e """ n vida de nossa pequena república. (.mim COflM |üên-I M «IJiança, Francisco e seus companheiros I muin hUnados in para Assis. t esse momento e a noite de Espoleto puniam ¦ '¦""cimente dois anos. Que fez nesse ín terim Q rilho d"' 'rlone? Os biógrafos não dizem quase nada. Ma», do l,lM"-edizem, pod emos deduzir muito. lizmente (talvez para toda a Igreja e paia ioda a bis '"" 'nina) Francisco foi ext remamente reservado duniiili i«kIu rida sobre tudo que se referia a sua vida protu ndu, ' ebções com Deus. Ninguém guardou um segredo pio '' 'tom tanta fidelidade como e le escondeu suas comuni Deus. Normalmente era comunicativo, e por isso .......rio a que deu origem tem caráter fraterno ou familiar. M'i«|u<: dizia respeito a suas experiências espirituais, em ei 1 um obstinado círcul o de silêncio, de que ninguém P"d'ancá-lo. f.el até as últimas conseqüências ao que se chamava ' ¦ impo de Sigillum regis, o segredo do ni "minhas "" -un o Senhor estão entre Ele e eu. É preciso lembrar l" ncia de sua morte causou alegria. Por quê? Não foi, .....me, porque Francisco tinha morrido, nus porque '"' 1 puderam contemplar e tocar suas chagas. tou zelosamente durante três anos aqueles sinais mis-''"'jue levava em seu corpo. Todo mundo sabia de sua ''M\ mas, enquanto ele viveu, ninguém teve oportunidade l' c , nem seus confidentes mais íntimos, nem a própria 17 Clara. O único que pôde vê-los foi o irmão Leão, que serv secretário e enfermeiro. Pode ser que, devido a esse sigillum, os cronistas cc: porâneos ficaram sem notícias de sua conversão e por i tão parca a informação referente a essa época. » « » Tanto os cronistas contemporâneos como o próprio Frat em seu testamento introduzem-n os de repente no cenári Deus, dando a entender que já existia alta familiaridade Fra ncisco e seu Senhor. Mas uma grande familiaridade Deus pressupõe uma longa história de relacionamento pe E é essa história que ainda precisa ser desvelada. Nos livros de hoje sobre São Francisco tende-se a j por alto sua vida interior, da ndo preferência a um -c noticiário de acordo com a mentalidade atual. Freqüenter apres entam-no um Francisco ao gosto de hoje, contesi hippye, patrono da ecologia, sem se preocupar, em geral, seu mistério pessoal. Acho que para apresentar São Francisco ao homet hoje, não nos deveríamos preocupar tan to se o que ele f( fez é do gosto de nossa época, indicando os pontos err está de acor do com nossas inquietações. Desse jeito desenfcx São Francisco e traímos o homem de hoje . O correto e nece é olhar para São Francisco de dentro dele mesmo, inclui em seu co ntorno vital e descobrindo assim o seu mister claro que esse mistério será resposta para hoje e para os si futuros. Que é o mistério de uma pessoa? Que outra p poderíamos usar em vez de mistério? Segredo? Enigma? \ cação? Carisma? Alguma coisa aglutinante e catalizadora? convencido de qu e todos os mistérios, um por um, baix sepultura e aí dormem seu sono eterno. O mistéri o de toe indivíduos está preso nas dobras dos códigos genéticos, irn vitais, idéias e idea is recebidos desde a infância. 18 -aso de Francisco, encontramos também uma persona-liuMdgular, feita de contrastes fortes, que tornam mais diffl igir o segredo. Mas nós temos uma ponta para decifra r I «'i de São Francisco: Deus. Essa é a grande palavra li *da. i passou por suas latitudes. Deus tocou esse homem. Dl UJOfct sobre esse homem. Deus visitou ase amigo. A i ¦" l«U ponta começamos a entender tudo Agora vemos 1I ontr astes podem estruturar uma personalidade coerente liiica. Compreendemos também com o n lioinnn mais i I mundo podia sentir-se o mais rico, c tanta» outras uiiai * * * te o princípio do prazer: todo ser humano, NfU&do 1 os do homem, age motivado, de alguma maneii.i, |k-Io i I rancisco de Assis, sem o Deus vivo c verdadeiro, l""l er classificado, em qualquer quadro clinico, como um |'»lt« Todos os seus sublimes d isparates, seu amor apaixo-""li Senhora Pobreza, sua reverência pelas pedras e pel os 1 "ua amizade com os lobos e com os leprosos, o fato
I esentar para pregar só com a roupa de baixo, ou de hu« vontade de Deus dando volta s como um pião... II nsar em uma pessoa desequilibrada. 0 sublime e o rldfquase sempre se tocam. A fronteira que separa um do .....nma-se Deus. Deus faz sublime o que parece ridículo. Deui é a loiiolucionária que arrebenta as norm alidades, desperta ' iwlidades humanas adormecidas, abrindo as para atitudes .....(ntes e até então desconhecidas. 'paz de tirar filhos de Abraão de uma pedra e pode ""iTipIares absolutamente origi nais de qualquer filho da MM povo. Com esta palavra Deus o enigma de 11II fica i nterpretado, e seu segredo é decifrado. 19 Como vivemos em um mundo secularizante, corre tentação e o perigo de pretender apres entar ao mundo c um Francisco sem Deus, ou um Deus com surdina ou ei menor. Ness e caso, São Francisco começa a ficar parecic uma belíssima marionete, que faz acrobaci as maravilhosa não passa de fantasia. Isso não aterriza nem explica o n de Francisco . Poderão apresentar-nos passagens de sua vida que co: os românticos, fatos que seduze m os hippyes, antecedent tóricos que permitam aos ecologistas considerá-lo um pre ma s o mistério profundo de Francisco fica no ar, sem expi Basta abrir os olhos e olh ar sem preconceitos: desde o pi instante nos convenceremos de que Deus é a força de i que arma a personalidade vertebrada e sem desajustes d< cisco de Assis. A MULHER DE SUA VIDA Na volta de Perúsia, mal pisou as ruas de Assis, brioso rapaz deixou de lado suas meditações sobre a fug; da vida, esqueceu os chamados do Senhor e, soltando asi de s uas ânsias juvenis reprimidas durante um ano, mer, no turbilhão das festas. Morta a sede de glória, nascú sede de alegria. Formaram-se grupos espontâneos de alegres camarad que tinham estado em camaradagem forçada, no presíi Perúsia, formavam os grupos mais barulhentos. Nomea filho de Berna rdone como chefe do grupo e lhe deram o: simbólico de comando, porque tinha os bol sos cheios e t ransbordante de alegria. Tresnoitavam até altas horas. í e desciam pe las ruelas estreitas por entre gritos, gargí e canções. Paravam embaixo das janelas da s moças bonití entoar serenatas de amor ao som de alaúdes, cítaras e 1 Era uma sede insa ciável de festa e de alegria. Os meses passavam e não se esgotavam os brios r. acabava a inspiração. Geralmente, Fra ncisco custeava o 20 '" 1 ;l"nL'lc a>Kum;, WJ misteriosa que eivava a iodos. I»!^ rait rodeado pela juve ntude mais dourada e dissipada d. . Firicipava nos concarsos de cantos e nos torneios <* »afa brilhanltmentc. Invejado por alguns e parados, o filho Je Ber nardone era indiscutivdmen-" íUjwntude assisiense * * * y,, vencido rm io, 10 ano anterior, a Graça unn» ^ ^ ^ l|e MM dtelória, agora havena de re0 nto ,,s cx|,rr.a.yi» P«-alfa) «E» cronista aplicai esse m oro ^ UVI pcicta: "Vou fechar teu cam.nho » <-|| ajp f^lo-ei com um muro ^ ^^.^ imi.c- naureza estranha e diticil a*** _ ^ ^ (. lU n um tudt, mantendo-o longos meses cn»^ j^.,., » mis fehres altas e obstinadas, pcsa j . ' iMii-imilenta, muit o lenta convalescencta. ¦ i i j pra geral, nesse pcriouo a prolongada recuperação e, c abrir <,orizontcs da
o < 21 A tradição supõe-na oriunda da Provença, berço da e do cantar. Mas as fontes guardam silênci o a respeito. Disj entretanto, de elementos suficientes para concluir, por de qu e dona Pica era efetivamente francesa. É uma constante humana o fato de que, nos moment que a emoção escapa de seu leito e se torna incontrolá ser humano tende a manifestar-se em sua língua materi idioma que " mamou". Diz-se que São Francisco Xavie sua agonia, expressava-se em "euskera" (vas co), seu i materno. O Pobre de Assis, sempre que estava possuído pc emoção intensa, pa ssava a manifestar-se cm francês (provi Não seria esse o seu idioma materno, a língua de sua mãe Suponhamos, por exemplo, que eu aprendesse ingU vinte anos e o dominasse com per feição. Em um momer explosiva emoção, se precisasse expressar-me livremente ( obstáculos m entais, passaria instintivamente ao idioma n\, ou nativo em que estão aglutinados a palavra e os sentim a fonética e as vivências longínquas. Se, como a maioria supõe, Francisco tivesse aprenc francês já na juventude, em suas vi agens comerciais, psicologicamente estranho e quase inexplicável que, no: mentos d e júbilo em que as palavras, ligadas às vivências primitivas, precisam sair conaturalm ente, o fizesse em fr Supõe-se que a pessoa que aprendeu já adulta um idioma sempre falta de flexibilidade ou facilidade para nele se exp] Por isso podemos supor que o idioma materno de Fra era o francês, isto é: que a língua de sua mãe era o f: (provençal). Justamente por isso falamos em idioma ma e não pater no, porque se aprende junto da mãe, junto do * * * Como dissemos, dispomos de um caminho dedutivo conhecer a alma daquela mulher e assim, indiretamente, mos conhecer melhor o mistério de Francisco. É um joj 22 la vertente inconsciente de Francisco extraímos os ""'ai uma fotografia de dona Pi ca, e no reflexo da mãe y,,,:tratada a personalidade do filho. o conta que, quando o velho mercador prendeu o jovem ""*c, em quem se havia mani festado inclinações místicas, * 'Vou cm um calabouço, sua mãe "sentiu seu coração "1,11 enter ecer". Há uma força primitiva nessa expressão. ^*'á pena que a mãe sentia pelo filho. Era muito mais. ' Hc filho circulava uma corrente profunda de simpatia ' '"ois não hav ia só consangüinidade, mas tainl"jfl li1111 ' "'' lois estavam nas mesmas harmônicas. o-nos aos escritos de São Francisco, itnpreiliOnârPO '"' i freqüência e emoção com que ele c vik.i ,i ligui.i " "'i mãe em geral e inconscientemente (talvez a* vezes '""'lente ) de sua própria mãe. Sempre que 11 nu <¦ ' '""rasar a coisa mais humana, a relação mais e motiva, * * Tiais oblativa, recorre à comparação materna Pie ' ''"umergir no fundo vital desse homem, fundo alimentado l"1'.ordações quase esquec idas de uma pessoa que * Urou cuidado, alma, carinho, fé e ideais. ftgra de 1221, assinalando as altas exigências que "'tesustentam a vida fraterna, Francisco diz a*' umaos ''"'lum cuide de seu irmão e o ame como uma mãe "'" ia de seu filho". Tornando aos mesmos veil«>s tao J*l imar e cuidar), Francisco volta à carga na segunda " lodo que "se uma mãe ama e cuida do filho de *'*nas, com quanto maior r azão devem amar-se e cuidar ""*itros os que nasceram do espírito". 'idade disso tudo não está no verbo amar, vocábulo """> e batido, mas no verbo cuidar, verbo exclusivamente "'"'Liidar se aparenta com o verbo consagrar ou dedicar '" kuidar significa reservar pessoa e tempo a outra pessoa, "'"n, principalmente, as mães. 23 Lá pelo ano de 1219, Francisco tentou dar uma orgai elementar aos irmãos que subiam às altas montanha: buscar o Rosto do Senhor, em silêncio e solidão, para recuperar a c oerência interior. Escreveu uma norma de vida ou pequeno estatuto chamou Regra para os eremitérios. S upõe que lá em ciij cabana, viva uma pequena fraternidade de quatro irmi querendo su blinhar as relações que devem existir entre Francisco utiliza expressões chocantes, ma s que transb infinita ternura fraterna, digo, materna, apelando mais vez e mais do que nunca, para a figura materna.
Dos quatro irmãos, "dois sejam mães e tenham dois fi Quanto à índole de vida, "os dois q ue são mães sigam ; de Marta, e os dois filhos sigam a vida de Maria". I ordena, ou melhor deseja, que ao acabar de rezar Tércia, p interromper o silêncio "e ir para ju nto de suas mães", tantas expressões há uma carregada de ternura especia quando tivere m vontade, os filhos possam pedir esmola i mães, como pobres pequeninos, por amor do Senhor Deus" Como se trata do período da vida eremítica, aconse também a não permitirem na cabana a p resença de pessoas nhas, e que as mães "protejam seus filhos para que ninguén turbe se u silêncio", e "os filhos não falem com pessoa a! a não ser com suas mães". E para que não se estabeleça nen dependência entre os irmãos, mas exista real ingualdade, jurídica com o psicológica, Francisco ainda diz que os ii devem alternar-se no ofício de mães e de filhos. No fundo vital do homem que se expressa dessa m; palpitam ecos longínquos, quase d esvanecidos, de uma mã< foi fonte inesgotável de ternura, daquela mulher que p noite s velando à cabeceira do jovem doente. O Pobre de Assis juntou em um mesmo laço duas das mais distantes e avessas que pod e haver neste mundo: a eremítica e a vida fraterna, a solidão e a família, o silên a cor dialidade. 24 >« semanas que o irmão Leão tinha UO espinho na 1 lhe estava perturbando a paz. Fie mesto não sabia ' "te do que se tratava. Dir-se-ia à primeira vista que ' ' nina du vida de consciência e queria nsultar Sao Mas quem sabe se também não Iwvl um pouco ¦'' 'i's do pai e amigo de sua alma, com .im-n .aminhando I f»\do durante tantos an os, tinha forjado uma amizade cisco, sabendo que no fundo de toda tratos eatá c» .....m pequeno vazio de afeto e que, de qu.i » ......" "¦' kwise que não se cure com um pouco de carinho, pegou * I lhe escreveu uma cartinha de ouro que......<\.......... '" vras: "Meu filho, eu te falo como uma mie «> seu i"'1 Por trás da carta ainda esta va "viva" dona Pica 'sando seus escritos, principalmente os escritos mistu, não sem certa surpresa, que Francisco quase nunca 'essão Pai para dirigir-se a Deus, o que é estranho em Ml>i tão afetivo. le Deus com quem Francisco tratava tão carinhosamente Jk», o Onipotente, o Admirável. . Quase nunca Pai --¦vra não só lhe dizia nada, mas até evocava incons 'e a figura de um homem egoísta c prc|>otoderia ter » '»« Deus com o nome de "Mãe". Estar ia cm consonância M«>m as fibras mais profundas de sua hiatória pessoal. 1 era, então, a mulher que emerge desses textos e |fi*s? Fundiram-se naquela mulher a força do ma r a um favo e a profundidade de uma noite estrelada. * ;ão cavaleiresca, que os tr ovadores provençais tinham para as repúblicas italianas, já tinha sido inoculada "es por aquela mãe extraordinária, na alma receptiva 25 de seu filho. Como definir aquele não sei quê de sua persona que envocava uma melodi a inefável, o esplendor de um amai ou a serenidade de uma tarde a cair? Antes de dar a Francisco sua vocação e seu destino, lhe deu essa mãe. A DENSIDADE DA FUMAÇA A tribulação estava às portas. A mão do Senhor caído pesadamente sobre o nosso jovem, pren dendo-o num t de aflições e causandodhe noites de insônias e dias de d A sede de glória estava reduzida a cinzas. E agora, em do leito de sua juventude, jazia abatida a sede do prazer, cisco não era nada. Uns centímetros a mais que avanças enfermidade, e estaria no abismo. O anjo do Senhor baixou mais uma vez junto de seu de enfermo e lhe comunicou lições de sabedoria. Disse-11 mais uma vez que a juventude passa como o vento ( de noss as portas, como as ondas do mar que se levantam montanhas para depois voltar a s er espuma. Qual a deris da fumaça? Pois os sonhos do homem pesam menos < fumaça. Qua l o peso da glória em uma balança? Não há acima ou abaixo, que tenha peso e firmeza a não ser o E * * * Estamos a poucos meses da noite de Espoleto, ert encontramos Francisco muito int
eriorizado no relacionai com o Senhor e disposto a tudo. Levando em conta a rr e volutiva da graça, temos que pressupor que, nesses mes convalescença, o anjo do Senh or desvelou muitas vezes 0 doente o Rosto do Senhor. Aquele jovem, que trazia desde o berço a sensibilidai vina, começou a provar nesses meses a doçura de Deus, e Francisco sentia uma paz profunda e começos de sabe Nesses momentos o caminho de Deus parecia mais lurrj 26 i conversão é, «iase sempre, uma corridi de persegui-. jue o homem .ai experimentan do ulternadameite a I 1 Deus c o encuitro das criaturas até que, progressiva.......Kl! se vão decantando e se afirma e confirma defi,. .n enorme portão o jovem pálido viu se envolto nos ....lã de uma natureza embriagadora numa manhã azul, ritos em que o sol vestia as colinas ao longe com mu oso cone branco azulado. a palpitava nas entranhas da mãe terra e se expandia iii.cm harmonias e core: por meio de insetos, aves, plan27 tas e árvores. Desde Perúsia até Espoleto estendia-se c da Ümbria, deslumbrante de belez a e de vitalidade. Fra teve uma vontade louca de mergulhar nesse mar, entr: comu nhão com as palpitações da vida, vibrar. .. * * * Mas seu sangue estava apagado. Para pegar fogo sã cisos dois pólos vivos, mas Franci sco sentia-se morto impossível acender a chama do entusiasmo. "Nem a bele? campos, diz o cronista, nem a amenidade das vinhas, nerr que se oferecia de formoso e d e atraente foi suficiente despertar seu entusiasmo adormecido." O cronista ainda continua contando que Francisco sei meio surpreendido e defraud ado por esse apagar-se quand em outras ocasiões, logo ao primeiro contacto entrava em vi comunhão com a beleza do mundo. E o narrador acre que aí mesmo o nosso jovem "ferido" começou a medii loucura de pôr o coração nas criaturas que brilham pela i e mor rem pela tarde, C voltou lentamente para casa com a povoada pela melancoia e pel a decepção. A explicação desu insensibilidade não tinha mistério transcendências. O que lhe faltava er a apenas vitaminas, f sua natureza tinha sido duramente agredida pela enfern e e stava precisando de uma super-alimentação. Também ser que tenha sido temerário em levant ar-se tão cedo, rj sempre foi tão impaciente e tão "imprudente"! Não outra explicação. Mas, acima dos fenômenos biológicos, e i por meio deles, Deus começava a conduzir esse predestinado, do-lhe caminhos, que. no momento, o jovem não compre Humanamente li ando, Francisco estava fora de co Em um par de ass»!ios o Senhor tinha derrubado s eu bastiões mais firmes a sede de glória e a ânsia de praze xando o rapaz verdadeirame nte depenado. Quando voltou ;ara casa naquele dia, continua o na: levou muito mais i sério as me ditações sobre a loucui meditações que o acompanhavam desde o cárcere de Mas, desta vez, os pensamentos foram muito mais || 1 -lamente porque lhe faltavam "armas" de defesa e ' wic, uma vez que estava cercado de debilidade por ii.l» .iidos.
SPERTAM OS SONHOS ADOKMII IDOS IV» ferido, mas não acabado. A conversão é assim. NW«».« converte de uma vez e para sempre eamo ferido, . velho nos acompanha até a sepultura I, ""' 1 111111 ir nirida, levan ta de vez em quando sua cabeça uiihih.uI..... I ^m-se os meses e Francisco recuperou complr»m< nu .....0 í°go da ilusão levantou de novo sua inl»\.« Mi ¦ma nas asas dos brios juvenis renascidos, nosvi tapa/ || l( ifl lançou-se na vorage m das festas t divertimento» N*1 a passar sem seus amigos. Dizem os MflfcÉ 'I11' .....abandonava apressadamente a mesa tamilui. CM «,i»d. spais sozinhos para ir reunir-se com seus amigos. 1198 a Itália inteira estava alerta diante dos acon-l*iIn entre o Pontificado e o Imperador. Desta vez o «>»vli discórdia era o Reino da Sicília. farsas complexas, a contenda se estendeu c loi lapida iinunando proporções universai s. O Papa Inoccncio III rente das forças papais o capitão normamlo Wulter I l' que bem depressa começou a volver as armas a seu fivii mandante normando transformou as batalhas em vi-n'uiV bandeiras papais avançavam d e triunfo em triunfo. II iC Waltcr encheu a alma da Itália. Suas façanhas .....* boca em boca levadas pelo s trovadores populares. *rra tomou um caráter de cruzada. Em todas as .id.lianas alistavam-se cavaleiros e soldados que acudiam 29 aos campos de guerra da Apúlia, sul da Itália, par: aos exércitos que militavam sob o estandarte do caudjl mando. O fogo sagrado acendeu-se também em Assis. Un -homem assisiense chamado Gentile to mou a iniciativa e j uma pequena expedição militar com a flor e nata da ju da cidade . A nobreza da causa e a possibilidade de ser armado a arrebataram Francisco, faze ndo despertar no meio da; apagadas seus sonhos cavaleirescos. Aos vinte e cinci alistou-se na expedição. Em poucas semanas, preparou alegremente seus ape bélicos e se preparou para o dia da partida. A NOITE DA LIBERDADE Francisco despediu-se de seus pais. Naquela manhã quena cidade, com seu ir e vir n ervoso, parecia uma « a ferver. Abraços, beijos, lágrimas, adeuses. No meio da «i geral e de um agitar de lenços, a pequena e brilhante exji militar empreendeu a marcha, saindo pelo portão oriení direção de Foligno, para tomar a Via Flamínia, que cs duziria, p assando por Roma, para o sul da Itália. Ao cair da tarde, a expedição chegou a Espoleto, : que fecha o incomparável vale espol etano. Mas estava : que em Espoleto acabava tudo e em Espoleto começava * * * Francisco deitou-se no meio dos arneses de cavaleit gibão, os calções de malha, o elmo , a espada e a alça, o es brazonado e uma ampla túnica. E todo esse resplendor t pof sua vez revestido pelo esplendor dourado de seus s: de grandeza. Todos os cronistas dizem que naquela noite Francisct cutou, em sonhos, uma voz q ue lhe perguntava: rancisco, onde vais? ara a Apúlia, lutar pelo Pap>a. 3ize, quem te pode recompensar melhor, o Senhor ou TJ Senhor, é claro. '.mao, poique segues o servej t- não o Senhor? Juc tenho que fazer? ?oltar para casa que tudo vsai ser esclireciilo -ancisco voltou para casa na manhã segninie * * * ¦ela noite teve o que a Bíblia chama de uma vUité Acho que naquela noite Francisco não e scutou vozr» m m « " ds ou visões, mas teve pela primeira vez uma lorir, muito 1-riência de Deus. Éo que se chama na vida cspumul ,1. *sa extraordinária, e tem característica s peculiares também deve ter tido aquelas impressães que .>. luo 1 ' s transmitiram em forma de sonhos, de um diálogo .....«jnhor e Francisco. É mais que provável que o piopno ''"Ml referindo mais tarde a algum confidente a experiência ''"' 'noite, a tenha apr
esentado como um sonho ou como '"" jria. é uma constante na história das almas: quando uma " uma vivência espiritual muito fort e, sente-se incapaz de """V o sentido em palavras e instintivamente usa alegoria s houve naquela noite? Por razões dedutivas, que vou '"'.deve ter acontecido o seg uinte: de uma maneira sur l,tw:e, desproporcionada, invasora e vivíssima (sio as ca-'*' ':as de uma experiência infusa) a Presença Plena apo-' "gratuitamente de Fran cisco. lomem sente-se como uma praia inundada por uma ..... inediável. Fica mudo, aniquilado, absolutamente emcom uma consciência claríssima de sua identidade, mesmo tempo, como se fosse filho d a imensidade, ""lendo e ao mesmo tempo possuindo todo o tempo e '"'espaço, e tudo isso em Deus, como se a pessoa expe31 rimentasse em grau infinitesimal em que consiste $ (participação de Deus?) alguma co isa parecida, em ton ao que vai ser a Vida Eterna. E tudo isso como uma g; absol uta da misericórdia do Senhor, sem sabermos se é i ou fora do corpo... Um amontoado de palavras juntas poderia dar, en de expressividade, uma aproximação d o que é uma gn infusa extraordinária: claridade, clarividência, júbilo, pa doçura, liberda de. . . Essa visitação de Deus parece uma revolução na que o recebe. Francisco teve uma vivência v ivíssima e cL (que nem sonhos nem palavras poderiam dar) de qn ("conhecido", exper imentado) é Todo Bem, Sumo Bem Bem, o Ünico que vale a pena. Em comparação com Ele nobil iárquicos e os senhores da terra não passam de fuma, Mas, por que acho que teve que suceder algumi dessas naquela noite? Porque não há ou tra maneira de < o que aconteceu. Para entendermos, temos que nos no contexto p essoal de Francisco. Ele ia para a Apúlia como um cruzado para defe Papa. Despedira-se ontem de seus pa is e do povo de Nessa expedição militar, Francisco estava comprometido juventude de Assis, com os rapazes nobres que iam co com o conde Gentile a quem obedecia, com seus pais que p nessa expedição seus sonhos de grandeza; estava compro com sua honr a, sua palavra de cavaleiro, seu nome.. Só um sonho não ia desamarrar todas essas ataduc Francisco decidiu voltar para casa na manhã seguinte, d zando todos os compromissos, quer dizer que aconteceu s coisa muito grave naquela noite. Em toda sua vida, Fre demonstrou ser homem de grande tenacidade quando enra dia alguma coisa importante. Um sonho não é suficiente nos e xplicar essa aventura noturna. Só uma fortíssima e Iibe ra experiência de Deus explica essa desinstalação formidável * * 32 * * * '»'noite '* íiliiiluras voaram Iodas I-'rancisco sentía-se 'riie importava com coisa alg uma. Só com o Senhor. < I' inrdiato sc lhe apresentava todo cheio de problemas a t rtriMçõcs. Que explicação dar ao conde (ientile? Que dlllf iii companheiros de armas, co mpanhiiim de festas «Iih cr que daí a pouco iam seguir para o SulFalariam tia iuie t alvez de loucura. Poderiam dizei n qm- quises IWWiüe importava com nada. ara amanhã mesmo para Assis. Que diria o povo, a |»IV»ri)ue diriam o violento Bernardo ne c mesmo dona Pd >iviáhos, e até os prelados? Como explicar'' Náo po BI "eiricações; nin guém entenderia nada. usinais U-nigiios ¦Ifltc tinha perdido a cabeça. Os mais malicio sos lalurium "i çi.i e em frivolidade. Para um cavaleiro, a paluvia "i\dera covard ia. Iam jogar-lhe na cara essa palavra, ¦ 11' lie sensível à honra. Ontem isso seria i ni|k>ssívcl de ims hoje não importa coisa alguma. Sentia-se com-i.l. k- livre. 'a deixando o caminho seguro e promissor. F.stava piia uma rota incerta, cheia d e enigmas e de insegu liiha que assumir tudo solitariamente. Mas estava ill»|« ludo para seguir seu Senhor que agora "conhecia" lia seguinte despediu-se não sei como de teus " »os de expedição e tomou o caminho da vo lta. Uma ex-|tfllrbsa, embora dure normalmente pomos minutos, dei-VI #« vibrando p or muito tempo, e às vezes pot ioda a vida. ico de Espoleto para Assis, Francisco devia ir mer-( "II; jnela Presença. Quando pós o pé em Assis, ninguém
.....'"dtar Depois começaram a estranhai t mais tarde M 9-1 am boato feito de ironia, caçoada c mesmo sarcasmo. Ma «fisco, que estava sob o efeito da visitação, não se im-m nada e se apresentou com toda a serenidade. erdade tinha amanhecido. 33 Clara. O único que pôde vê-los foi o irmão Leão, que s * « Tanto os cronistas contemporâneos como o próprio Fti em seu testamento introduzem-no s de repente no cenár Deus, dando a entender que já existia alta familiaridade Franc isco e seu Senhor. Mas uma grande familiaridad: Deus pressupõe uma longa história de relacionamento p E é essa história que ainda precisa ser desvelada. Nos livros de hoje sobre São Francisco tende-se a j por alto sua vida interior, da ndo preferência a um \ noticiário de acordo com a mentalidade atual. Freqüente-apresen tam-no um Francisco ao gosto de hoje, conte«t hippye, patrono da ecologia, sem se preocupar, em geral, seu mistério pessoal. Acho que para apresentar São Francisco ao home, hoje, não nos deveríamos preocupar tan to se o que ele b. fez é do gosto de nossa época, indicando os pontos en está de acord o com nossas inquietações. Desse jeito desenfoç São Francisco e traímos o homem de hoje. O correto e nece; é olhar para São Francisco de dentro dele mesmo, inclui] em seu con torno vital e descobrindo assim o seu mister, claro que esse mistério será resposta para hoje e para os se\ futuros. Que é o mistério de uma pessoa? Que outra pai poderíamos usar em vez de mistério? Segred o? Enigma? £ cação? Carisma? Alguma coisa aglutinante e catalizadora? E convencido de que todos os mistérios, um por um, baixíi sepultura e aí dormem seu sono eterno. O mis tério de todo indivíduos está preso nas dobras dos códigos genéticos, impj vitais, idéias e ideais recebidos desde a infância. 18 caso de Francisco, encontramos também uma persona-ingular, feita de contrastes for tes, que tornam mais ingir o segredo. Mas nós temos uma ponta para decifrar a de São Francisco: Deus. Essa é a pande palavra /ida. is passou por suas latitudes. Deus tocou esse homem. resentar para pregar só com a roupa de baixo, ou de i vontade de Deus dando voltas como um pião. . . ensar em uma pessoa desequilibrada. O sublime e o quase sempre se tocam. A fronteira que separa um do rama-se Deus. . Deus faz sublime o que parece ridículo. Deus é a volucionária que arrebenta as norma l idades, desperta cialidades humanas adormecidas, abrindo as para atitudes dent es e até então desconhecidas. :apaz de tirar filhos de Abraão de uma pedra e pode ;mpl ares absolutamente originais de qualquer filho da j povo. Com esta palavra Deus o enigma de > fica interpretado, e seu segredo é decifrado. 19 Como vivemos em um mundo secularizante, corremos a tentação e o perigo de pretender apresentar ao mundo de hoje um Francisco sem Deus, ou um Deus com surdina ou em tom menor. Nesse caso, São Francisco começa a ficar parecido com uma belíssima marione te, que faz acrobacias maravilhosas, mas não passa de fantasia. Isso não aterriza ne m explica o mistério de Francisco. Poderão apresentar-nos passagens de sua vida que comovem os românticos, fatos que se duzem os hippyes, antecedentes históricos que permitam aos ecologistas considerá-lo um precursor, mas o mistério profundo de Francisco fica no ar, sem explicação. Basta a brir os olhos e olhar sem preconceitos: desde o primeiro instante nos convencere
mos de que Deus é a força de coesão que arma a personalidade vertebrada e sem desajust es de Francisco de Assis. A MULHER DE SUA VIDA Na volta de Perúsia, mal pisou as ruas de Assis, nosso brioso rapaz deixou de lado suas meditações sobre a fugacidade da vida, esqueceu os chamados do Senhor e, solta ndo as rédeas de suas ânsias juvenis reprimidas durante um ano, mergulhou no turbilhão das festas. Morta a sede de glória, nascia-lhe a sede de alegria. Formaram-se grupos espontâneos de alegres camaradas. Os que tinham estado em camar adagem forçada, no presídio de Perúsia, formavam os grupos mais barulhentos. Nomearam o filho de Bernardone como chefe do grupo e lhe deram o bastão simbólico de comando, porque tinha os bolsos cheios e a alma transbordante de alegria. Tresnoitavam a té altas horas. Subiam e desciam pelas ruelas estreitas por entre gritos, gargalha das e canções. Paravam embaixo das janelas das moças bonitas para entoar serenatas de amor ao som de alaúdes, cítaras e harpas. Era uma sede insaciável de festa e de alegri a. Os meses passavam e não se esgotavam os brios nem se acabava a inspiração. Geralmente, Francisco custeava os ban20 quetes. Havia nele alguma coisa misteriosa que cativava a todos. Estava sempre r odeado pela juventude mais dourada e dissipada de Assis. Participava nos concurs os de cantos e nos torneios eqüestres, e se saía brilhantemente. Invejado por alguns e aplaudido por todos, o filho de Bernardone era indiscutivelmente o rei da juv entude assisiense. * * » Como, no ano anterior, a Graça tinha vencido em uni nmihl sua sede de glória, agora haveria de reduzir a pó mui *cdr dc alegria. O velho cronista aplica a esse moment o as lavras do profeta: "Vou fechar teu caminho com um ,'. espinhos; fechá-lo-ei c om um muro" (Os 2,6). Uma gravi cníci midade de natureza estranha e difícil diagnóstico abati 11.....r< sua juventude, mantendo-o longos meses entre a vida < .....mie suor frio, febres altas e obstinadas, pesadelos, Iraqiuv.i gcul c por fim uma le nta, muito lenta convalescência. Nessa prolongada recuperação e, em geral, nesse pciiodo de sua existência, aparece a p essoa que há de abrir horizontes de luz para sua vida, a mulher que imprimirá em sua alma marcas indeléveis de fé e de esperança: sua própria mãe. A silhueta de dona Pica, feita de doçura e de lorialeza, desvanece no fundo do silêncio. Passa fugazmente i......| um meteoro pelas páginas dos velhos cronistas. Aparece, resplandece e desaparece. É daq uele tipo de mulheres capazes d< .usirr o mundo em suas mãos, mas sabe fazê Io sem d ramas, nu simplicidade e no silêncio. Por um paradoxo da historia, embora as fontes nos transmitam apenas fugazes vestíg ios de sua figura, estamos em condição de apresentar, por via dedutiva, a radiografi a completa de dona Pica. O método vai ser indireto: entrar na alma de Francisco e colher em seu inconsciente, traço por traço, a efígie cativante da mulher a quem tanto deve o franciscanismo. 21 A tradição supõe-na oriunda da Provença, berço da poesia e do cantar. Mas as fontes guarda m silêncio a respeito. Dispomos, entretanto, de elementos suficientes para conclui r, por dedução, que dona Pica era efetivamente francesa. É uma constante humana o fato de que, nos momentos em que a emoção escapa de seu leito e se torna incontrolável, o ser humano tende a manifestar-se em sua língua materna, no idioma que "mamou". Diz-se que São Francisco Xavier, em sua agonia, expressava -se em "euskera" (vasco), seu idioma materno. O Pobre de Assis, sempre que estav a possuído por uma emoção intensa, passava a manifestar-se em francês (provençal). Não seria esse o seu idioma materno, a língua de sua mãe? Suponhamos, por exemplo, que eu aprendesse inglês aos vinte anos e o dominasse com perfeição. Em um momento de explosiva emoção, se precisasse expressar-me livremente e s em obstáculos mentais, passaria instintivamente ao idioma materno ou nativo em que estão aglutinados a palavra e os sentimentos, a fonética e as vivências longínquas. Se, como a maioria supõe, Francisco tivesse aprendido o francês já na juventude, em su
as viagens comerciais, seria psicologicamente estranho e quase inexplicável que, n os momentos de júbilo em que as palavras, ligadas às vivências mais primitivas, precis am sair conaturalmente, o fizesse em francês. Supõe-se que a pessoa que aprendeu já ad ulta um idioma tenha sempre falta de flexibilidade ou facilidade para nele se ex pressar. Por isso podemos supor que o idioma materno de Francisco era o francês, isto é: que a língua de sua mãe era o francês (provençal). Justamente por isso falamos em idioma mat erno, e não paterno, porque se aprende junto da mãe, junto do berço. * * * Como dissemos, dispomos de um caminho dedutivo para conhecer a alma daquela mulh er e assim, indiretamente, podemos conhecer melhor o mistério de Francisco. É um jog o al22 , . ; nre de Francisco extráncs os ternado: da vertente inconsciente c ,inna PlCâ, e no reflexo da nae traços para uma fotografia de uou« ^ ^ veremos retratada a personalidade 00 1 "' Celano conta que, quando o velho mercador prendeu o jovem dilapidador, em quem s e havia manifestado inclinações mm, i l sua mae sentiu seu coração e o encerrou em um calabouço, su . . . " » lj-í forca primitiva nessa cxpiessao. materno se enternecer . Ha uma roc r »T_ , - 0 fia pelo tilho. hni muito maisNao era só pena que a mae senti* v - _ r? r-ic í ^.o rorrente proliind.i de simpatia. Entre mae e filho circulava uma c . . - i c dade. Os dois estavam nas mesmas harmônicas. * * . * Atendo-nos aos escritos de São Francisco, i.nprrv........... nos com a freqüência e emoção com que ele evoca « Ir"' -naterna, da mãe em geral e inconscie ntemente (talvez à» v«cs conscientemente) de sua própria mãe. Sempre que fianus." quer exp ressar a coisa mais humana, a relação mais emol.v», i atitude mais oblativa, recorre à c omparação materna PW cisamos submergir no fundo vital desse homem fundo al.nunia.lo x>r mil recordações quase esquecidas de uma pessoa que « ele consagrou cuidado, alma, carinho, fe e ideais. Na Regra de 1221, assinalando as altas exigência» J* originam e sustentam a vida fra terna, Francisco diz aos irm*c« ¦lue "cada um cuide de seu irmão e o ame como ., , ,.-m__ -I i r-ii » Tnririndo aos mesmos velhos tuo ima e cuida de seu filho . 1 ornai'" j« . , -j > t: _,.:« (> volta a i.ue.i na si-gii ncla naternos (amar e cuidar), rrancist" ... j, .1-1 u ,,,, . ama e (-iikI.i do limo Oí il. u :j ,»riV) cuidar, verbo exclusivament nuito velho e batido, mas no veroo <-» > naterno. Cuidar se aparenta com o verbo consagrar ou rfe*« aa Bíblia. Cuidar significa reservar pessoa e tempo a outra pessoi iomo fazem, principalmente, as mãesLá pelo ano de 1219, Francisco tentou dar uma organização elementar aos irmãos que subia m às altas montanhas para buscar o Rosto do Senhor, em silêncio e solidão, para poder recuperar a coerência interior. Escreveu uma norma de vida ou pequeno estatuto a que chamou Regra para os eremitér
ios. Supõe que lá em cima, na cabana, viva uma pequena fraternidade de quatro irmãos. E querendo sublinhar as relações que devem existir entre eles, Francisco utiliza exp ressões chocantes, mas que transbordam infinita ternura fraterna, digo, materna, a pelando mais uma vez e mais do que nunca, para a figura materna. Dos quatro irmãos, "dois sejam mães e tenham dois filhos". Quanto à índole de vida, "os dois que são mães sigam a vida de Marta, e os dois filhos sigam a vida de Maria". De pois ordena, ou melhor deseja, que ao acabar de rezar Tércia, possam interromper o süêncio "e ir para junto de suas mães". Entre tantas expressões há uma carregada de ternu ra especial: "E quando tiverem vontade, os filhos possam pedir esmola a suas mães, como pobres pequeninos, por amor do Senhor Deus". Como se trata do período da vida eremítica, aconselha-os também a não permitirem na caba na a presença de pessoas estranhas, e que as mães "protejam seus filhos para que nin guém perturbe seu silêncio", e "os filhos não falem com pessoa alguma a não ser com suas mães". E para que não se estabeleça nenhuma dependência entre os irmãos, mas exista real ingualdade, tanto jurídica como psicológica, Francisco ainda diz que os irmãos devem a lternar-se no ofício de mães e de filhos. No fundo vital do homem que se expressa dessa maneira palpitam ecos longínquos, qu ase desvanecidos, de uma mãe que foi fonte inesgotável de ternura, daquela mulher qu e passou noites velando à cabeceira do jovem doente. O Pobre de Assis juntou em um mesmo laço duas das coisas mais distantes e avessas que pode haver neste mundo: a vida eremítica e a vida fraterna, a solidão e a família, o silêncio e a cordialidade. 24 * * * Fazia semanas que o irmão Leão tinha um espinho na alma que lhe estava perturbando a paz File mesmo não sabia exatamente do que se tratava. Dir-se-ia n primeira vist a que sofria de uma dúvida de consciência e queria consultar Sao Francisco. Mas quem sabe se também não havia um pouco de saudades do pai e amigo de sua alma, 0001 quem i ......nlwido pelo mundo durante tantos anos, linha forrado uma am/.ufe profunda. Francisco, sabendo que no fundo de toda ii.st. ¦ .n .' condido um pequeno vazio de afeto e que, de qualquci num,,, não há crise que não se cure com um pouco de carin ho, pegou a pena e lhe escreveu uma cartinha de ouro que começou...... estas palavras: "Jvleu filho, eu te falo como uma mae a »c.i menino". Por trás da car ta ainda estava "viva" dona Pi. .1 * * * Analisando seus escritos, principalmente os escritos ml percebemos, não sem certa surpresa, que Francisco quase nuu< .1 usa a expressão Pai para dirigir-se a Deus, o que é estranho em um homem tão afetivo. Aquele Deus com quem Francisco tratava tão carinhos.,,,,, m< era o Senhor, o Onipo tente, o Admirável. . . Quase nunca Pai Essa palavra não só lhe dizia nada, mas até evocava Ü.....U cientemente a figura de um homem egoísta e prepotente, e estava carregada com as l embranças mais desagradava d, Ml vida. Se não soasse chocante, Francisco bem que pod ei ia ter invocado a Deus com o nome de "Mãe" Estaria em consonância perfeita com as fibras mais profundas de sua história pessoal. Como era, então, a mulher que emerge desses textos e recordações? Fundiram-se naquela mulher a íorça do mar a doçura de um favo e a profundidade de uma noite estrelada. A i nspiração cavaleiresca, que os trovadores provençais tinham importado para as repúblicas italianas, já tinha sido inoculada muito antes por aquela mãe extraordinária, na alma receptiva 25 de seu filho. Como definir aquele não sei quê de sua personalidade que envocava uma melodia inefável, o esplendor de um amanhecer ou a serenidade de uma tarde a cair? Antes de dar a Francisco sua vocação e seu destino, Deus lhe deu essa mãe. A DENSIDADE DA FUMAÇA A tribulação estava às portas. A mão do Senhor tinha caído pesadamente sobre o nosso jovem , prendendo-o num círculo de aflições e causando-lhe noites de insônias e dias de delírio. A sede de glória estava reduzida a cinzas. E agora, em cima do leito de sua juvent
ude, jazia abatida a sede do prazer. Francisco não era nada. Uns centímetros a mais que avançasse na enfermidade, e estaria no abismo. O anjo do Senhor baixou mais uma vez junto de seu leito de enfermo e lhe comunic ou lições de sabedoria. Disse-lhe mais uma vez que a juventude passa como o vento di ante de nossas portas, como as ondas do mar que se levantam como montanhas para depois voltar a ser espuma. Qual a densidade da fumaça? Pois os sonhos do homem pe sam menos que a fumaça. Qual o peso da glória em uma balança? Não há nada, acima ou abaixo , que tenha peso e firmeza a não ser o Eterno. * * * Estamos a poucos meses da noite de Espoleto, em que encontramos Francisco muito interiorizado no relacionamento :om o Senhor e disposto a tudo. Levando em conta a marcha evolutiva da graça, temos que pressupor que, nesses meses de convalescença , o anjo do Senhor desvelou muitas vezes para a doente o Rosto do Senhor. Aquele jovem, que trazia desde o berço a sensibilidade divina, começou a provar ness es meses a doçura de Deus, e então ?rancisco sentia uma paz profunda e começos de sabe doria. Síesses momentos o caminho de Deus parecia mais luminoso. 26 Mas a conversão é, quase sempre, uma corrida de perseguição em que o homem vai expcrinum ando altemadamente a doçura de Deus e o encontro das i numas até que, progressivamen te, estas se vão decantando e se afirma e confirma definitivamente a Presença. Pressentimos cm nosso jovem adolescente esse jogo alternado, em que prevalecem p rimeiro os ímpetos mundanos e mais tarde os desejos divinos. Entre os bastidores dessa crise estava, como dissemos, duna Pica, colaborando co m a Graça para forjar aquele desuno pri vilegiado. Nas longas horas que passou vel ado poi sua nu. o jovem, apertado contra a parede da morte, recebeu docilll.....1 as meditações sobre a inconsistência das realidades In.......m inconsistência experimentada em sua própria carne. * * * O velho cronista conta que Francisco se levantou quando não tinha recuperado ainda toda a saúde e, apoiado num lw.st.io, como também, sem dúvida, nos ombros de sua mãe, d eu alpinas voltas pelo aposento para ver como iam suas forças. Sentia-se impaciente por sair de casa para mergulhai pri meiro no coração da naturez a e mais tarde nas ruas hnriillienias. Poucos dias depois, pálido e com as pernas ainda vacilantes, deixou as paredes da casa paterna disposto a fazer uma "lomnei pelos campos. Queria certificar-se de que não unha perdido o vigor juvenil. Bem perto de sua casa abria-se a Porta Moinno, ninadas pouca* saídas da cidade ámura lhada para os campos. Mal tinha passado o enorme portão, o jovem pálido viu-se envol to nos esplendores de uma natureza embriagadora numa manhã azul, nos momentos em q ue o sol vestia as colinas ao longe com um misterioso cone branco azulado. A vida palpitava nas entranhas da mãe terra e se expandia para fora em harmonias e cores por meio de insetos, aves, plan27 tus e árvores. Desde Perúsia até Espoleto estendia-se o vale da Ümbria, deslumbrante de beleza e de vitalidade. Francisco teve uma vontade louca de mergulhar nesse mar, entrar em comunhão com as palpitações da vida, vibrar. .. * * * Mas seu sangue estava apagado. Para pegar fogo são precisos dois pólos vivos, mas Fr ancisco sentia-se morto e era impossível acender a chama do entusiasmo. "Nem a bel eza dos campos, diz o cronista, nem a amenidade das vinhas, nem tudo que se ofer ecia de formoso e de atraente foi suficiente para despertar seu entusiasmo adorm ecido." O cronista ainda continua contando que Francisco sentiu-se meio surpreendido e d efraudado por esse apagar-se quando ele, em outras ocasiões, logo ao primeiro cont acto entrava em vibrante comunhão com a beleza do mundo. E o narrador acrescenta q ue aí mesmo o nosso jovem "ferido" começou a meditar na loucura de pôr o coração nas criat uras que brilham pela manhã e morrem pela tarde, e voltou lentamente para casa com a alma povoada pela melancolia e pela decepção. A explicação dessa insensibilidade não tinha mistérios nem transcendências. O que lhe falt ava era apenas vitaminas, porque sua natureza tinha sido duramente agredida pela
enfermidade e estava precisando de uma super-alimentação. Também pode ser que tenha s ido temerário em levantar-se tão cedo, porque sempre foi tão impaciente e tão "imprudent e"! Não havia outra explicação. Mas, acima dos fenômenos biológicos, e mesmo por meio dele s, Deus começava a conduzir esse predestinado, abrindo-lhe caminhos, que, no momen to, o jovem não compreendia. Humanamente falando, Francisco estava fora de combate. Em um par de assaltos o S enhor tinha derrubado seus dois bastiões mais firmes, a sede de glória e a ânsia de pr azer, deixando o rapaz verdadeiramente depenado. Quando voltou para casa naquele dia, continua o narrador, levou muito mais a sério as meditações sobre a loucura e a 2H sabedoria, meditações que o acompanhavam desde o cárcere d Perúsia. Mas, desta vez, os p ensamc-nios foram muito ma. fundo, justamente porque lhe faltavam "armas" de def esa contra-ataque, uma vez que estava cercado de debilidade pc todos os lados. DESPERTAM OS SONHOS ADORMECIDOS Estava ferido, mas não acabado. A conversão é assim Ninguém se converte de uma vez e par a sempre. Mesmo i'i ido o homem velho nos acompanha até a sepultura. I . con.....mi serpente ferida, levanta de vez em quando sua cabeça aiiiein.1'"1 i Passaram-se os meses e Francisco recuperou com pie ti........i a saúde. O fogo da ilusão levantou de novo sua caliru cm chamas e, nas asas dos brio s juvenis renascidos, n.r o Mpn tresloucado lançou-se na voragem das festas e divc rliiwntoi Não podia passar sem seus amigos. Dizem os croiiinlai qin muitas vezes a bandonava apressadamente a mesa l.muliai di i xando seus pais sozinhos para ir r eunir-se com seus amigo * * * Desde 1198 a Itália inteira estava alerta diante dos n»n tecimentos entre o Pontific ado e o Imperador. Desta w o epicentro da discórdia era o Reino da Sicília. Por causas complexas, a contenda se estendeu c foi Njoâ mente tomando proporções universais. O Papa I........cioIII colocou à frente das forças papais o capitão normando Vi ler de Brienne, que bem depre ssa começou u volver as armas íieu favor. O comandante normando transformou as batalhas emvi-tórias, e as bandeiras papais a vançavam de triunfo em triirio. O nome de Waltcr encheu a alma da Itália. Suas façatia s corriam de boca em boca levadas pelos trovadores popubs. A guerra tomou um caráter de cruzada. Em todaias cidades italianas alistavam-se ca valeiros e soldados que acuam !9 ,mnw aos campos de guerra da Apúlia, sul da Itália, para unir-se aos exércitos que milhavam sob o estandarte do caudilho normando. O fogo sagrado acendeu-se também em Assis. Um gentil--homem assisiense chamado Gen tile tomou a iniciativa e preparou uma pequena expedição militar com a flor e nata d a juventude da cidade. A nobreza da causa e a possibilidade de ser armado cavaleiro arrebataram Francis co, fazendo despertar no meio das cinzas apagadas seus sonhos cavaleirescos. Aos vinte e cinco anos, alistou-se na expedição. Em poucas semanas, preparou alegremente seus apetrechos bélicos e se preparou para o dia da partida. A NOITE DA LIBERDADE Francisco despediu-se de seus pais. Naquela manhã a pequena cidade, com seu ir e v ir nervoso, parecia uma colmeia a ferver. Abraços, beijos, lágrimas, adeuses. No mei o da comoção geral e de um agitar de lenços, a pequena e brilhante expedição militar empre endeu a marcha, saindo pelo portão oriental em direção de Foligno, para tomar a Via Fl amínia, que os conduziria, passando por Roma, para o sul da Itália. Ao cair da tarde, a expedição chegou a Espoleto, cidade que fecha o incomparável vale espoletano. Mas estava escrito que em Espoleto acabava tudo e em Espoleto começava tudo. Francisco deitou-se no meio dos arneses de cavaleiros: o gibão, os calções de malha, o elmo, a espada e a alça, o escudo brazonado e uma ampla túnica. E todo esse resplen
dor estava por sua vez revestido pelo esplendor dourado de seus sonhos de grande za. Todos os cronistas dizem que naquela noite Francisco escutou, em sonhos, uma voz que lhe perguntava: 30 Francisco, onde vais? Para a Apúlia, lutar pelo p . _y,mpensar melhor, o Senhor ou Dize, quem te pode recO'>'r~ o servo? O Senhor, é claro. _ P , .. _ _ ./-rvo e nao o Senhor? hntao, |x>rque segues o a** Que tenho que fazer? . i i . 1 j_ vai ser esclare cido Voltar para casa que tuav . ^ . na manha seguinte E Francisco voltou para cas<« M , Bíblia chama de uma. r/w/./ Naquela noite teve o que a . , A , a tvancisco nao escutou vozes mm de Deus. Acho que naquela noite r»* . , . _ \a primeira vez uma loite, uiiiiio teve sonhos ou visões, mas teve pela r f ¦ i t\ /> se chama na vida espuiio.il J< forte experiência de Deus. E o que 3 , . . / ,. , . _ características peculiares. gr<2f t>nr razões dedutivas, qur vou Que houve naquela noite? . , ,. , ., r<.ffUinte: de uma maii eiia .m explicar, deve ter acontecido o se»" r , , , -«..««ora e vivíssima (sao us capreendente, desproporcionada, wv*1' K , . , . ,lui'J) a Presença Plena aporactensticas de uma experiência derou-se gratuitamente de Francisco. praia inundada por uma () homem sente-se como um" ..... _ , . , ¦ ^niauilado, ahsolutamente emmaré irremediável. Fica mudo, a»'M . ., ., , , . , ... jaríssima de sua identidade, bnagado, com uma consciência <-'". , , 6 fosse filho da imensidade, mas, ao mesmo tempo, como se . . . K _ possuindo todo o tempo e transcendendo e ao mesmo temp° v ^ , , . rieus, como se a pessoa expetodo o espaço, e tudo isso em w
31 rimentasse em grau infinitesimal em que consiste ser Deus (participação de Deus?) al guma coisa parecida, em tom menor, ao que vai ser a Vida Eterna. E tudo isso com o uma gratuidade absoluta da misericórdia do Senhor, sem sabermos se é no corpo ou f ora do corpo... Um amontoado de palavras juntas poderia dar, em termos de expressividade, uma ap roximação do que é uma gratuidade infusa extraordinária: claridade, clarividência, júbilo, p az, força, doçura, liberdade... * * * Essa visitação de Deus parece uma revolução na pessoa que o recebe. Francisco teve uma v ivência vivíssima e claríssima (que nem sonhos nem palavras poderiam dar) de que Deus ("conhecido", experimentado) é Todo Bem, Sumo Bem, Pleno Bem, o Único que vale a pen a. Em comparação com Ele, títulos nobiliárquicos e os senhores da terra não passam de fumaça . Mas, por que acho que teve que suceder alguma coisa dessas naquela noite? Porque não há outra maneira de explicar o que aconteceu. Para entendermos, temos que nos c olocar no contexto pessoal de Francisco. Ele ia para a Apúlia como um cruzado para defender o Papa. Despedira-se ontem de s eus pais e do povo de Assis. Nessa expedição militar, Francisco estava comprometido com a juventude de Assis, com os rapazes nobres que iam com ele, com o conde Gen tile a quem obedecia, com seus pais que punham nessa expedição seus sonhos de grande za; estava comprometido com sua honra, sua palavra de cavaleiro, seu nome. . . Só um sonho não ia desamarrar todas essas ataduras. Se Francisco decidiu voltar para casa na manhã seguinte, desprezando todos os compromissos, quer dizer que acontec eu alguma coisa muito grave naquela noite. Em toda sua vida, Francisco demonstro u ser homem de grande tenacidade quando empreendia alguma coisa importante. Um s onho não é suficiente para nos explicar essa aventura noturna. Só uma fortíssima e liber tadora experiência de Deus explica essa desinstalação formidável. 32 Naquela noite as ataduras voaram todas. Francisco sentia-se livre. Já não se importa va com coisa alguma. Só com o Senhor-O futuro imediato se lhe apresentava todo che io de problemas e de interrogações. Que explicação dar ao conde Gcntilc? Que diriam seus companheiros de armas, companheiros de festas ainda ontem, que daí a pouco iam se guir para o Sul? Falaria* de deserção e talvez de loucura. Poderiam dizer .. que qii isf-sem. Já não se importava com nada. Voltaria amanhã mesmo p«ra Assis- Que diri" " l"'v'|' " juventude? Que diriam o viol ento Bernardone e ...esmo dom Pica, os vizinhos, e até os prelados? Como explu.u N -<" I'" deria dar explicações; ninguém entenderia nada. Os mais Unign-diriam que tinha perdido a cabeça. Os mais maliciosos laliriaff em deserção e em frivolidade. Para um cavaleiro, a paiiivi' mais temível era covardia. Iam jogar-lhe na cara ess., p.il. ivi.a. e ele era tão sensível à honra. Ontem isso seria impossível .¦' suportar, mas hoje não importa coisa alguma. Sentia-se 000 pletamente livre. Estava deixando o caminho seguro e promissor. Estav* passando para uma rota ince rta, cheia de enigmas e de inscgU ranças, e tinha que assumir tudo solitariamente. Mas estava disposto a tudo para seguir seu Senhor que agora \onlu-i u» pessoalmen te. não sei como de »eU» companheiros de expedição e tomou o cami No dia seguinte despediu-se ho da volta '<¦ J s periência infusa, embora dure normalmente pomos minutos. iU xa a pes soa vibrando por muito tempo, c às vezes por toda a viciaVoltando de Espoleto para Assis, Francisco devia ir mergulhado naquela Presença. Q uando pôs o pé em Assis, ninguen podia acreditar. Depois começa-im a estranhar c mais tara se espalhou um boato feito de ironia, caçoada e mesmo sarcasrno-Mas Francisco , que estava sob o efeito da visitação nao se im portou com nada c se apresentou com toda a serenidade. A liberdade tinha amanheci». 3. O irmão... CAPITIJLO SEGUNDO LEVANTA-SE 0 SOL r ..irisco tivesse voltado de °ma tra como se o jovem W" - . , ^tava i Tinha visto que o mundo e»td.
viagem longa, muito longa. 1 ir»"" ¦ .. . :írclia, , ¦ , ¦ . ft ,t.iiihiis destilavam miserico»7" ' cheio de piedade e que as mot»" ndo , . , M , . ;ro I ucl° «-'ra bonito. O ira"'" com a paz cobrindo o mund o ínf-" ^0 ,. ¦ , ¦ . ,-ni. Viver e um privilegionao podia ser mais lx:lo do que c" , jouma WK . . . , M i;. o tudo isso e mais aJgu" o da viagem, tinha aprendi" Jeter , , lrivez o.is montanhas nu "c coisa. Quem pode abater a ai"v >ixar l j i s a í nte da paz consiste cm deiA_ a marcha das estrelas? A tonte . sa0 u v eoisas pequenas As grandes as coisas serem. Respeitar as c°" respeitadas por si mesmas. . ;rí!rn a esse momento, 0 Nos três anos que se seg»» . . , |On0 ¦ i r . i nsivelmente uma nova Mt* de dona Pica roí assumindo ínse»* ___ . 1M1 . _ . oouco com a madiin/ <<< mia A Presença revestia-o pouco a ^ ^ q ^ , tngal dourado. A transformação to ^ ^ ^ _ ....... primavera. Certa manhã percebem^ __ .., , . f, K ,nres estão impacientes pa»1 doerras floresceram e que as arvo' . . .,,( » , et t, os alas e ninguém p<11 arrebentarem em flores. Passam .__ . . -mio* , ,.c XI abrimos a janela e j.i v<" nenhuma diterença. Num outro al" . t~Q jentQ tgQ sj|Ciici"s°' o mundo coberto de flores. Tudo ° tão surpreendente. . . _^ n0« _ . . Francisco. Durante tres *n '' Fo. isso que aconteceu com ^ fo. ^ , m sem que ninguém pudesse dizer co ^ ^ndidades ^ |,|,c. a veste da paz, nascida sem duvw" , iiiii» ... . o, , i, 1» as pessoas tamlx-m se sei»1' dade interior, bo de olhar para ele. " vestidas de paz. . i(, nt i i ra ou piedade para com , Nasceu nele algo como ternura 7; - de c . . .,. 6 .nino. Ia na o seria capa' que tosse insignificante ou pequt" , , i,.i. ^ i vi vela, de |>is,u uma pó» matar uma mosca, de apagar um» je , . , wiola. Hrotou nele um rio ou prender um passarinho na g1» ¦ c cerer . 2 , e os leprosos, t uma *CÍ compaixão para com os miserável» ^..«iva-,. ; . , , . rnas, n>l velando progresso nidade, típica das montanhas éter» > r . «morfose de uns tres anos. mente o seu rosto. Foi uma meta»11' 37 ALIMENTAR-TE-EI COM MEL Poucos dias depois de sua volta de Espoleto, a maledicên-:ia popular foi parando d evagarinho, como o pó que pousa sobre os móveis do quarto. Para Francisco nada estav a claro, mas ludo estava decidido. Não precisava preciptar-se. O próprio Senhor, em sua piedade infinita, haveria de abrir as portas e mostrar os caminhos. Retomou sua vida normal. Voltou a cuidar dos negócios cie seu pai. Respondeu aos c onvites dos rapazes, que o proclamaram rei das festas. As semanas foram passando . Tomava parte na vida dos jovens, dirigia os cantos, competia com todos. Mas não
podia deixar de sentir-se cada vez mais como um estranho no meio deles. Seu coração estava em outro lugar. É impossível. O coração que foi "visitado de noite" por Deus passa a achar tudo sem subs tância. Parece-lhe que tudo é tempo perdido e tem uma vontade louca de buscar tempo e lugar para estar a sós com Deus. Essa é a pedagogia do Senhor com os profetas. Primeiro Ele os arrasta irresistivelmente para a solidão. Aí, alimenta-os com seu me l, sacia-os com sua doçura, queima-os com seu fogo, bate-lhes com seu cajado e os amolda numa forja de aço. Depois que os profetas assumiram a figura de Deus e fica ram completamente imunizados a qualquer vírus, ele os devolve para o meio do povo sem fim. * * * Francisco já não se sentia bem no meio daquelas festas e resolveu acabar com tudo. P reparou um jantar de festa que, para ele, era um banquete de despedida. Por isso pôs a mesa com todo o luxo de comidas e bebidas. No fim, animados pelo vinho, os rapazes saíram pela cidade silenciosa, gritando e cantando, acompanhados por alaúdes e clavicórdios. Como sempre, Francisco levava o bastão de capitão da festa, mas, por dentro, sentia-se terrivelmente mal. Nesse contexto de festa e de orgia, seu Deu s desconcertante vinha-lhe com outra inesperada "vi38 sitação". No curto espaço de um mês, talvez menos, o Senhor visitou Francisco pela segun da vez com uma graça infusa extraordinária. Um coração que foi visitado vive muitos dias sob o efeito da visita. É mais do que pro vável que, no meio daquele frenesi-dionisíaco, o pensamento de Francisco estivesse, em grau maior ou menor, com seu Senhor. Devagarinho e sem chamar a atenção, Francisco foi ficando para trás para "estar" com s eu Senhor. Numa daquelas românticas vielas de sua cidade, a Presença caiu de novo so bie lian cisco com todo o peso infinito de sua doçura. E lá licou pluntiulo o capitão da festa, alheio a tudo. Funcionando em alta voltagem, todas as suas energlai dl vida e de atenção, além de estremecidas e potenciadas ao nu i..... concentraram-se e se paralizaram em seu Senhor. Em OUtftl palavras, a Presença tom ou posse instantânea e total ,|. ioda n esfera pessoal de Francisco, integrando e assumindo ioda suas partes em uma fusão. Não há no mundo nenhuma rxpi riéncia humana qu e chegue, nem de longe, à embriaguez e plenitude de uma dessas "visitações '. * * * Foi coisa de segundos, ou dois minutos, talvez. Logo os companheiros perceberam que seu chefe tinha ficado para trás. Voltaram e o encontraram paralizado. Natural mente mineiamin a divertir-se a sua custa e o sacudiram para m.i Io daqueli i ro > mal como nesse momento. Aquel ubo. É possível que Francisco nunca se tenha sentido ¦.¦ e despertar foi pior que um curto--circuito. Nesse momento ele gostaria de estar no cume des-calvado do monte Subásio. Os moços começaram a provocá-lo: Que é isso, Francisco? Pensando na namorada? Ele tinha que responder alguma coisa para disfarçar, e disse no mesmo tom: Naturalmente, e g aranto que se trata da noiva mais rica, mais nobre e mais bonita que vocês possam ter visto. 39 êmm Alguns cronistas dizem que se referia à Senhora Pobreza. É uma suposição gratuita. Nesse momento, Francisco não sabia nada da tal Dama Pobreza. Ele só quis sair-se bem de u ma situação incômoda respondendo qualquer coisa, na mesma linha e tom das perguntas. Mas poderia haver outra explicação. Desde esse tempo, Francisco começou a se expressar em alegorias e metáforas, e usava normalmente a figura do tesouro escondido. Se e le quis dizer alguma coisa de concreto com aquela resposta, foi isto: não existe n o mundo tesouro ou esposa que possa dar tanta felicidade como o Senhor, que eu " encontrei". Os alegres camaradas festejaram aquela saída e continuaram seu passeio noturno, ri ndo. Mas alguma coisa, flutuando no ar, mostrava que estava aberta uma distância i nvencível entre eles e seu nobre amigo, distância que bem depressa haveria de separá-l os definitivamente. AVE SOLITÁRIA
Desde esse momento Francisco manifesta uma inclinação impetuosa que há de acompanhá-lo a té a morte: a sede da solidão. Não poderíamos imaginá-lo. Ninguém poderia pensar que aquele jovem estouvado, amigo de festas e da ma, e tão extrovertido haveria de transforma r-se em um anacoreta. Entre os contrastes de sua personalidade e de sua história não menos contrastada, encontramos também este: foi alternadamente um anacoreta e um peregrino. As visitações extraordinárias que tinha recebido despertaram em Francisco um desejo ar dente de estar a sós com seu Senhor. Seus olhos eram poços de saudades e sua alma er a um abismo insaciável chamado sede de Deus. Quando a alma humana foi profundament e seduzida por Deus, adquire asas do tamanho do mundo e, para estar com seu Senh or, é capaz de transpor montanhas e mares, de percorrer cidades e rios. Não teme o r idículo: não há sombras que a assustem nem fronteiras que a detenham. AO * * * Contam os biógrafos que Francisco começou a freqüentar diariamente as solidões ao redor de Assis, para rezar. Transpunha silenciosamente os poucos metros que separavam sua casa da Porta Moiano. Subia pela encosta do Subásio por entre freixos, azinhei ras, carvalhos e matagals Quando encontrava um recanto seguro, 10 abrigo dos olhares humanos, sentava-se sobre uma pedra; às vc/.c. ae a|oe-lhava e derramava todo seu coração na Presença. A ¦ olhava para o Infinito por cima dos Aperunos centra.s, lã Oftdj N ' Visitad or ocupava os espaços. Outras vezes fechava os nll,.-. -sentia que seu Amigo lhe e nchia as artérias e as en.ianhas Voltava para casa. Travalhava no balcão. Saía pouco «.'"¦"¦ do dispunha de menos tempo, ca minhava pelos atalhados ri.l.r os olivais e os vinhedos, e chegava depressa ao b osque do vale central, perto de Santa Maria dos Anjos. Lá ficav......." encostado em um abeto secular, ou sentado ao pé d«- o»'" giesta, ou prostrado por terr a, conforme o caso. Em alguns dias desejaria que ? temP° P* se como um velho relógio cansado. Gostaria de bater o coração em uníssono com o mundo, quisera ter mil braços para adorar e acolhei o mistério infinito de seu Amigo Visitante. Como era principiante nos caminhos da oração, desmancha va-se em lágrimas com facilida de, segundo os b.ógrafoi, I M expressava com ardor. Voltava para casa banhado em profunda paz, subindo pelas ladeiras da cidade. Um bom observador poder.a distingui, c.n seus olhos um resplendor de eternidade- Ma s nem seus amigos nem seus familiares com exceção, dvez, de dona Pica eram capazes d e decifrar o que se pa«ava em scu inter,or- Na |* dadezinha pequena, todo mundo co mentava a reviravolta estranha que estava acontecendo na vida do rapaz. 41 UM CONFIDENTE ANÔNIMO De tanto vagar pelos bosques e pelas colinas do Subásio, Francisco acabou descobri ndo um lugar ideal para seus retiros diários. Tratava-se de uma cavidade, algo com o uma gruta escavada em um terreno rochoso que, assim se pensa, pode ter i ' s ido alguma sepultura etrusca. Nesse tempo aconteceu também um fenômeno curioso que constirui um dos numerosos cont rasres da personalidade de Francisco. Como era de natureza comunicativa, sentiu uma necessidade enorme de desafogar, comunicando a alguém as experiências inéditas e f ortes que sua alma estava vivendo. Escolheu um rapaz de sua idade, com quem devi a ter grande intimidade ou a quem, pe'° menos, apreciava muito. Mas foi extremamen te cauteloso mesmo com esse amigo: falava-lhe em enigmas e alegorias, dizendo qu e tinha encontrado um tesouro que num instante fada rico e poderoso quem o possuís se. Apesar de sentir tanta necessidade de comunicação, Francisco se manteve reservad o como de costume quanto à manifestação de experiências espirituais. O afortunado confidente perdeu-se no anonimato. É um personagem que sempre intrigo u os biógrafos posteriores e ninguém conseguiu saber nada sobre seu nome e história po sterior, ipesar de todas as investigações feitas para descobrir sua iden-idade e ape sar de todas as suposições que se levantaram. * * * Francisco e seu confidente iam lá para aquela gruta. Ele pedia amavelmente ao comp
anheiro que o esperasse durante dgumas horas ali por perto enquanto ele rezava. O amigc privilegiado concordava cortezmente (e- talvez também curiosamente). Franc isco penetrava na cova e derramava sua alma. Os biógrafos contam que se expressava com gemidos fortes, com suspiros e lágrimas lá dentro da gruta. É claro que essa info rmação só pôde passar aos biógrafos por meio do mistério42 so confidente. Seria alguém que entrou mais tarde na Fraternidade? Teria sido um d os compmiliein>s de São Francisco? Seja como for, o que chama a atenção é o drama que se desenrolou no interior de Franci sco nesse tempo. Por que a angústia e as lágrimas? Compunção pela lembrança de sua vida frív ola? Teria pavor só de pensar que poderia voltar à anterior dissipação? Seria a contradição de sentir desejos veementes de santidade e a impossibilidade de realizá-los? Depois de muitas horas, Francisco saía da gruta O amigo paciente estava lá esperand o. Algumas vezes, Francisco apare cia desfigurado e tenso, outras vezes transp arecendo p.t banhado num ar de alegria. O confidente esperava grandes revelações. Francisco nao ia adiante de suas já batidas metáforas de tesouros, reino meraldas... Apesar de serem tão amigos, o confidente de vi ter se cansado de tantos enigmas e mistérios, porque logo desapareceu do cenário . Algumas semanas depois "era tanta sua alegria", diz Celano, "que todos percebera m a mudança". Que explicações dar ao* amigos, até então companheiros de pândega? Não adiantav dai explicações objetivas. Ou não as entenderiam ou as achai um des p ropo rcionadas. Mas tinha que dizer-lhes alguma coisa e disse que tinha voltado para sua terra p orque preferia realizar ali suas In çanhas, e não na Apúlia. E voltava as suas fantasi as de tesouros escondidos e de esposas incompatíveis. Quanto à reação dos amigos, os cro nistas não dizem nada. ENTRANHAS DE MISERICÓRDIA De acordo com os narradores, começa então a operar-se uma transfiguração que reveste c f ilho de dona Pica de serenidade e de muita alegria. Ao mesmo tempo, as consolações d e Deus despertaram nele uma sensibilidade fora do comum para com todos os sofred ores. E até mais: nasceu-lhe uma ternura, ou simpatia, ou atração (tudo junto) por tud o que fosse pobre, insignificante ou inválido. 43 Numa palavra, com poucos meses de assíduo relacionamento3 pessoal, o Senhor arranc ou Francisco de si mesmo e o lançoi*1 até o fim de seus dias no mundo dos esquecidos . Primeiro tevr^ predileção pelos mendigos. Mais ou menos um semestre depois-sem aba ndonar os primeiros, voltaria suas preferências para oí leprosos. * * * Impressiona-me fortemente a freqüência e a tranqüilidade com que se afirma hoje que Fr ancisco chegou a Deus mediante o homem, através dos pobres. Essas afirmações estão na mo da, ¦nas não bá nada mais contrário ao processo histórico de sua vida e a suas próprias pala vras. Se analisarmos com cuidado os textos de todos os biógrafos contemporâneos, e os conf rontarmos, veremos com clareza que a sensibilidade extraordinária de Francisco par a com os pobres proveio do cultivo de um relacionamento pessoal com o Senhor, em bora em sua natureza houvesse anteriormente uma inclinação mata para as causas nobre s. Nos últimos dias de sua vida, quando agradecido recordou em seu Testamento os anos da conversão, haveria de dizer sinteticamente: "O Senhor me levou para o meio dos leprosos e com eles usei de misericórdia". Portanto, encontrou primeiro 0 Senhor, e foi o Senhor quem o levou pela mão aos leprosos, e não o contrário. O homem é conduzido em tudo pelo código do prazer, de uma natureza ou de outra. Ning uém vai por gosto para o meio dos mendigos e leprosos, nem por idéias, nem por ideai s, e muito menos o filho de dona Pica que, como veremos, sentia uma repugnância es pecial por eles. Para freqüentar e sentir coisas desagradáveis, o homem precisa não somente de motivações e levadas, mas também de estar enamorado por Alguém, o único que é capaz de mudar o desagr adável em agradável. Por inclinação ou por gosto, uma Pessoa ama só a si mesma e só procura o que dá prazer. Ist0 é ° normal. 44