.9 í
03
-
s
,
c/ a
,
c/ a
S P / it/ ippc pp c âÕejcÁa/n/M
Os Mistérios da Morte e da Reencarnação Philippe Deschamps Deschamps
COORDENAÇÃO E SUPERVISÃO Charles Vega Parucker, F. R. C. Grande Mestre
BIBLIOTECA ROSACRUZ ORDEM ROSACRUZ, AMORC GRANDE LO JA DA JURISDIÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Edição autorizada por:
\ VsfR eOD UC SIO N S1D CFRFL NNE 1E Cháteau d’Omonville 27110 Le Tremblay France
Os Mistérios da Morte e da Reencarnação Introdução........................................................................................................7 ....................................... 13 Culturas e religiões ante os mistérios da morte .....................................
Traduzida da versão francesa de setembro 1999
A alma é i m or ta l? ...................................... ........................................................ ...................................... ..................................87 ..............87 Reencarnação, Reencarnação, uma das mais velhas teorias do mu nd o .............. ....... 13 7
Ia Edição em Língua Portuguesa setembro 2003
........................................................ ............................... ........... 18 3 A mor te na hist ória oc id en ta l .................................... A exp eriên cia de mor te im in en te .................................... ........................................................ ........................19 ....19 5 O acompanhamento de
ISBN ISBN - 85-317 -0171-6
...................................... .....................................................2 ...............2 1 7
O lu to ...................................... .......................................................... ...................................... ...................................... ................................ ............ 23 9 O conta to com os m or to s.................................. s.................................................... ...................................... ......................2 ..2 67
Todos os direitos reservados pela ORDEM ROSACRUZ, AMORC GRANDE LOJA DA JURISDIÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Causas e antí dotos do medo da m ort e............. e................. ......... .......... .......... .......... .......... .......... .........27 ....27 7 Breve trata do da alm a............................................ a.............................................................. ....................................2 ..................2 87 A morte: com para ções com o so no e o na sc im en to ............................ ............................ 29 9
O suicidio.....................................................................................................325 ........................................................ ............................... ........... 33 1 Símbolos da alma e da morte ....................................
Composto, revisado e impresso na Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa Rua Nicarágua, 2620 —CEP 82515-260 Caixa Postal 4450 —CEP 82501-970 Curitiba / PR Tel. Tel.:: (0**41) 3 51-3000 - Fax: Fax: (0**41) 351-3065 ww w.a mo rc.o rg. br
O destino da alm a.......................................................................................339 Conclusão.....................................................................................................343 Bibliografia...................................................................................................351 Bibli oteca R os ac ru z................................................ z.................................................................. ................................... ................. 35 5
Há alguns anos, grande parte dos livros editados sobre o tema da morte ressaltava que esta havia se tornado assunto tabu por excelência nas sociedades modernas. Seus autores explicavam que nossa sociedade do materialismo triunfante exaltava a vida, a força e a saúde, que as pessoas enfraquecidas ou deficientes eram afastadas dela, de la, que os velhos velhos eram cada vez mais isolados em asilos e que morriase cada vez menos em casa e mais m ais no hospital. hospita l. Nos círculos círcul os médicos da época, o doente era cercado de mil meios técnicos cujo único objetivo consistia em perpetuar a vida. A morte não era mais aceita, tornarase sinônimo de fracasso; fracasso para a vida, fracasso para o corpo médico, e a ceifeira metia medo. Apesa Ap esarr de co ntin nt inua uarr válido vál ido em muito mu itoss casos ou circir cunstâncias, hoje esse fato precisa ser diferenciado. Unidades de tratamentos paliativos, para ajudar os doentes terminais, foram criadas. Graças à ação de médicos e psicólogos de países anglosaxões, depois de toda a Europa, a noção de acompanhamento do paciente terminal veio à luz do dia. As experiências de morte iminente, relatadas por milhões de testemunhos, obrigam nosso mundo a reconsiderar reconsider ar seu ponto ponto de vista sobre a morte ou, pelo menos, sobre suas fronteiras. Regularmente, Regularmen te, nos últimos vinte anos, o assunto assunto tem aparecido nos jornais, jornai s, por vias indiretas. indi retas. E só lembrarse dos debates sobre sobre a eutanásia, eutan ásia, das reflexões reflexões sobre sobre o aumento da taxa de suicídios, dos conflitos em torno do aborto, do surgimento dos tratamentos tratamentos paliativos... paliativ os...
Tudo isso poderia fazer crer que o homem e a mulhe mu lherr modernos finalmente estão reconciliados com sua morte e que ousam encarála. As aparências, porém, são enganosas. A transformação transformação veio de de uma pequena elite do mundo médico, mas o modo como a imprensa aborda o assunto é superficial. Nenhuma verdadeira pesquisa profunda jamais foi empreendida pelo grande público, e isto é lamentável. lamentáv el. A escatologia, a ciência da morte e dos dos fins fins últimos, é um daqueles daqu eles temas tem as que não deveriam ser delegados a uma um a outra pessoa, por mais sábia que fosse. Nenhuma sociedade deveria se poupar de uma reflexão profunda acerca do assunto, levado ao nível das individualidades. individua lidades. Se as seitas proliferam tanto tanto hoje em dia, é por causa da pobreza e mesmo ausência de respostas quanto ao sentido da vida. O ser humano tem necessidade de dar significado àquilo que ele vive. Se não se sente ajudado nessa busca, ele vai procurar as respostas não importa onde, mesmo à custa de grandes riscos. E evidente, até mesmo após uma análise superficial, que as respostas para os mistérios da morte condicionam o significado dado a cada vida. Se a morte não tem nenhum nenhu m sentido, então, a vida também não possui sentido nenhum, e viceversa. A evolução do espírito humano, no momento em que este ganha profundidade e a ltura, cedo ou ou tarde passa por essa meditação. Tratase de uma questão de amadurecimento. Este livro se propõe a ser uma baliza para aqueles que não sabem por onde começar sua busca do sentido da grande viagem. Sem ser exaustivo, ele procura agrupar agru par conhecimentos atuais, sintetizandoos e explicandoos à luz da filosofia Rosacruz.
Ao se abordar pela primeira vez o tema do falecimento, logo logo se percebe, percebe, com com surpresa, que ele se assemelha à roca daquela fiandeira mágica, de onde onde se puxa puxa um fio que nunca chega ao fim. Suas ramificações são bem numerosas e tocam praticamente todas as áreas da vida. A medicina, a economia, a filosofia, a física, a própria arte, são interpeladas, bem como muitas outras. Sob sua influência, influênci a, todo um trabalho pôde ser empreendido na música. Algumas das mais belas peças musicais foram, foram, com efeito, efeito, requiem e outros stabat mater. Mozart estava familiarizado (alguns diriam obcecado) com a idéia da passagem; ele legou ao mundo um dos mais belos belos requiem , que foi terminado por outro compositor, após sua morte. Mais que outras questões, questões, a morte morte insinuouse sutilmente sutilme nte no coração de todos os campos da atividade humana, enquanto o ser humano se recusava a reconhecêla. Estaria fora de questão apresentar tudo neste livro; para isso, seria preciso uma “Enciclopédia da morte”, que ainda está por ser feita. Não obstante, obstante, o método utilizado utiliz ado foi foi o de observar o maior número possível de campos em que a morte se sinalizava. Tratavase de compreendêla melhor, esclarecêla, esclarec êla, até mesmo acostumar se com ela. Ao leitor, cabe fazer a síntese intuitiva, intuitiva, s em a qual não há conhecimento verdadeiro. Para compreender a morte, devese, em primeiro lugar, partir para a descoberta de diferentes culturas e aperceberse de que, apesar das divergências, elas possuem inúmeros pontos comuns. Será que se pode efetivamente abordar o assunto sem se levantar uma reflexão sobre a noção da imortalidade, tão freqüentemente aceita como um postulado? A reencarnação é uma doutrina compartilhada por mais da metade da população do globo. Pode ela significar um fator importante de compreensão da vida e, por extensão, da felicidade?
Se as atitudes do ser humano face à morte evoluíram no curso dos séculos, os principios básicos de suas reações psicológicas são geralmente os mesmos. Conhecêlos nos ajuda a dominar melhor nossas próprias emoções diante do evento, quando ele fustiga nós mesmos ou outrem. E para esses pontos e muitos outros que este livro tentar propor algumas algu mas respostas. respostas. Não se trata trata aqui aqu i de assumir assum ir uma posição posição dogmática, mas simplesmente simplesme nte de dar o que pensar pen sar e expor expor questões motivadas por conhecimentos e fatos exatos. A morte não faz parte das nossas categorias habituais habitua is de conhecimentos. Logo, não pode ser abordada abordada da mesma maneira que qualq q ualq uer outro assunto assunto acadêmico. E preciso proceder diferentemente e também recorrer tanto às faculdades da imaginação humana como às suas dimensões racionais racionai s e intuitivas. intuiti vas. Por esses esses motivos, motivos, estão reunidos aqui os aspectos rituais ou simbólicos e elementos mais objetivos objetivos ou psicológicos. Para abordar o tema da morte, na forma como explicaram os ocultistas de antigamente, é preciso querer se lançar a ele; ousar fazêlo, pois a busca é repleta de armadilhas; saber, mas isto vem vem do buscar e do aceitar aceita r jogar fora antigos preconceitos; depois, calarse, pois os frutos das descobertas são incomunicáveis. A síntese só pode ser pessoal, como uma convicção adquirida à custa de uma busca tenaz. Esse processo, aliás, não deixa incólume seu autor. Forçosamente, haverá para ele um antes e um depois; assim como para a maioria dos que, algum dia, perderam um ente querido pela primeira vez. vez. Se a velha ceifeira fascina cada mais m ais vez nossa época época (como (como Ankpu , o Velho HomemMorte, da Bretanha), é porque nossas sociedades vivem uma transformação sem precedente. Essa
morte simbólica das coletividades acompanhada de dificuldades ainda maiores para os indivíduos. Cada pessoa, então, questionase frente frente ao desconhe desconhecido cido amanhã. Sutilmente, a humanidade volta a ganhar consciência de sua mortalidade (pela qual poderá, pela primeira vez, tornarse responsável), após os os delírios científicos do século 19. A tendência natural natur al é, portanto, questionar a morte. Longe de constituir um sintoma de fatalismo ou de medo do futuro, tratase de uma prova de maturidade, que só precisa ser generalizada. generaliza da. Confrontado Confrontado com a realidade daquela que não é mais oculta, o ser humano geralmente volta a situar suas ambições num quadro mais modesto que, em si mesmo, é portador de futuro. Assim, ele ganha consciência daquilo que um poema de Paul Fort descreve tão bem: “Na terra, d eve m os no s amar. amar. Enqu E nqu anto an to vivo v ivo s, d ev em o s nos no s amar. Não c o n fi es e m cem ce m itér it ério io s. Antes Ant es deles, deles , d ev em o s no s amar. Teu pó e m eu pó Serão sementes de ventos. ventos. ”
Em todos os tempos e lugares, os místicos sempre tiveram maior alcance nesse gênero de reflexão. A particularidade do presente trabalho consiste, entre outros, em demonstrar que os espiritualistas do mundo conheciam e codificaram, há muitíssimo muitís simo tempo, o que a ciência ciên cia parece estar redescobrindo após dois séculos de ocultação.
(
Ao se estudar estuda r as crenças dos dos povo povoss em relação à morte, fica se imediatamente espantado com a diversidade das atitudes. Não se morre na índia como no Ocidente, e os ritos e convicções que cercam um falecimento mostramse tão diferentes quanto a índole de cada uma das nações que lhes deram origem. Conhecer as práticas e as idéias de um povo sobre o assunto significa desvendar uma parte de sua alma. Mas poderíamos nos perguntar: Por que explorar expl orar um mosaico de culturas para compreender o incompreensível? É que, através da aparente multiplic idade, existe, existe, paradoxalmente, certo número de pontos comuns que se repetem como um leitmotif. "Onde "Onde háfum aça, h áfo go ”, ”, diz o provérbio popular. Podese, portanto, apostar no seguinte: se várias tradições diferentes concordam num determinado número de detalhes, então, certamente elas refletem uma u ma verdade sutil ou uma corrente de pensamento subterrâneo que as engloba todas. Poderíamos igualmente estabelecer um apriori que que nos levaria bem longe: mesmo as diferenças de crenças, como a reencarnação dos orientais ou o Julgamento Julgam ento Final Fin al das religiões monoteístas, longe de serem irreconciliáveis, poderiam até ser complementares. Uma passagem do Corão explica que cada povo recebeu, em sua história, um profeta enviado pela Divindade. Se isso se mostrasse exato, então as divergências entre as culturas corresponderiam não mais que a uma diferença de acento, colocado em tal ou qual aspecto de um
conhecimento muito mais amplo. Claro está que essa particularidade levaria em conta a mentalidade, a cultura e até a própria terra dos povos aos quais fosse direcionada. Assim As sim , atrav atr avés és dos pontos pont os comu co muns ns e das dive di verg rgên ênci cias as comparadas e depois sintetizadas, o observador poderia ter uma idéia intuitiva dos verdadeiros mistérios que o aguardam no além. Nenhuma cultura ou religião pode ter a pretensão de possuir, sozinha, o conhecimento total do assunto. Se um dia a história da torre de Babel foi narrada, talvez o tenha sido porque o futuro da humanidade passe forçosamente por uma aproximação aproxim ação voluntária, voluntári a, compreensiva e respeitosa respeitosa das diferentes crenças locais. É a esse exercício exercício que este capítulo o convida. O único conselho que se poderia dar pode ser expresso assim: o leitor poderia imbuirse de cada tradição, uma a uma, uma , e, em seguida, deixar seu subconsciente fazer o trabalho de síntese. Assim, dessa diversidade brotará a unidade de uma concepção que será totalmente pessoal. Essa síntese intuitiva, bem mais útil que um dogma recebido de fora, permitirlheá então, por uma melhor compreensão da morte, equilibrar sua vida para que ela el a tenha mais luz, otimismo oti mismo e alegria. Desde logo, logo, podemos classificar as culturas cult uras em três grupos. Essa classificação, atribuída a Isola Pisani, parece ser a mais simples e a mais rica de significados. Comecemos pelo sobrevivencialismo. E a concepção segundo a qual o ser humano, após sua morte, sobrevive num mundo paralelo. Os celtas, como também as tribos da África, da Indonésia e da Améric Am érica, a, aderem adere m ou aderiam ade riam a essa crença. crenç a. O culto dos ancestrais é geralmente formulado a partir de conceitos sobrevivencialistas.
Em seguida, vem o imortalismo. Segundo essa idéia, a alma seria imortal, num estado intraduzível e completamente diferente da vida na terra. E o credo credo das religiões monoteístas que pregam prega m o Julgamento Final, depois do qual a alma se une ao seu Deus. Finalmente, vêm as doutrinas reencarnacionistas, às quais qua is estão ligadas as religiões orientais, alguns algun s grupos animistas e grande maioria dos esoterismos dos cinco continentes. Essa separação das culturas em três grupos fechados foi aqui intencionalmente exagerada a fim de facilitar a orientação do buscador em meio à aparente selva das convicçõe convicções. s. Na realidad r ealidade, e, as três concepções muitas vezes coexistem dentro da mesma tradição. E assim que o islã descreve o paraíso em termos sobrevivencialistas (uma vida de felicidade em meio a todos os objetos amados); já a esperança de vida do ser humano, após o julgamento, é descrita em linguagem imortalista. Por fim, o esoterismo muçulmano recorre à doutrina da reencarnação. Podese Podese ainda acrescentar que, em certos aspectos aspectos,, algumas algu mas crenças religiosas assemelhamse mais ao materialismo do que à idéia de imortalidade. Os primeiros hebreus, por exemplo, ensinavam ensinav am que qu e o corpo corpo e a alma estão indissoluvel indi ssoluvelmente mente unidos e que o desaparecimento de um provoca o do outro. Isso não é a mesma coisa que a pos posição ição materialista segundo a qual a alma é o produto teórico das reações físicoquímicas do cérebro? De acordo com essa opinião, com a morte do cérebro, a alma desaparece concomitantemente. Dentro de uma mesma religião, religi ão, pôdese igualmente igualme nte observar a evolução das idéias no curso da da História. Históri a. Que há de comum, por exemplo, entre as crenças judaicas judaica s modernas e as do início do Antigo Testamento, a Torah hebraica? heb raica?
O judaísmo Para abordar a concepção concepção judaica judai ca da morte, é útil debruçar se sobre os textos da Torah (a lei judaica) e do Antigo Testamento Testa mento.. Não obstante obstant e os israe isr aelita lita s de hoje aderire ade rirem m claramente à noção noção da imortalidade da alma, nem sempre foi foi assim de maneira tão clara. Além disso, muitas vezes esquecemos que não existe apenas um judaísmo, mas judaismos, assim como também existem divisões dentro do cristianismo. Esse é um dos motivos pelos quais devemos ter prudência ao analisarmos concepções religiosas. Conforme as correntes ou os interlocutores, podemos nos defrontar com diferentes diferentes sutilezas de idéias. Ao longo long o de toda a histó his tória ria do povo j ud eu, eu , a quest qu estão ão da morte foi considerada secundária (conforme eles mesmos confessam). O importante, dentro da comunidade judaica, é a vida, que deve ser aproveitada ao máximo: segundo alguns judeus, o ser humano está na terra para cumprir a lei divina e render graças ao Criador. Sua missão cessa com a morte. Mesmo que hoje o pensamento judeu imagine que a personalidade, após a passagem, unase à Alma Al ma Un ive rsal, rs al, os textos aborda abo rdando ndo a quest qu estão ão do além alé m não sao tantos assim. Alguns estudiosos, aliás, explicam que qu e os os saduceus da da época época do Cristo (dos quais fazia parte o sacerdote Caifás) não acreditavam na imortalidade da alma. Para eles, o ser humano está na terra para cumprir os desígnios divinos e a morte põe fim à sua função. O historiador judeu Flavius Josefo assim se expressou, por volta de 50 d.C.: "Aopinião d os saduceus é de que as almas morrem com os corpos; corpos; que a única coisa que somo s obrigados a fa a fa z e r é obse ob serv rvar ar a lei, e q u e é um a aç ão v irtuo irt uosa sa ja m a is renunciar, renunciar, sabiamente, àqueles que nô-la ensinam ”. ”.
Mas a posição dos saduceus era a de uma elite pensante que se tornou a elite social da comunidade. Não se sabe ao certo se se eles fizeram fizer am muitos rivais no meio do povo, povo, que aspirava aspi rava a um outro futuro. Os saduceus reclamavam do sacerdote Sadoque, sacerdote do rei Davi, e cuja família manteve o sacerdócio no tempo de Salomão. Já mesmo no Eclesiastes, que se supõe ter sido escrito pelo próprio próprio Salomão Salomã o (mas, (ma s, mais provavelmente, obra de de um mestre de sabedoria), encontram encontr am se alusões a essa crença. " Vaidade das vaidades”, nos diz o Eclesiastes, "tudo é vaidade e perseguição de vento”. O ser humano estaria na terra para comer, beber e trabalhar; tudo o mais seria, segundo o autor, “perseguiçã o de v en to”, e e a morte viria encerrar encerr ar o baile. "Nunc "Nuncaa mais eles tomarão parte em tudo que éfe ito sob o sol”. Outros textos fazem da morte o desaparecimento completo do ser humano: "E neste mesm o dia seus anseios anseios pe re cem ” (Salmo 146,4); "Não "Não são os mo rtos que celebra m o Eterno, Eterno, nem nenh um (Salmo 115, 17). Tratase dos que descem ao lugar do silêncio” (Salmo de uma visão que exclui toda possibilidade de imortalidade para o ser humano. Somente mais tarde, foi que apareceu a tese da ressurreição no final dos tempos. E mais adiante, no Eclesiástico: "Dá, "Dá, receb e e ilud e tua alma, porque, no Hades, Hades, ela não há de encontrar delícias. Toda carne envelhece como uma vestimenta; pois assim assim é a le i eterna: certam ente morrerás. morrerás. Na Na fo lh a g e m d e u m a á rv or e fron fr on do sa , folh fo lh a s c a em e fo lh a s b rotam rot am , assim assim também as gera ções de carne e sangue: um a morre, outra nasce. Toda obra corruptível desaparece, e seu autor se voltará modo melhor de enaltecer enal tecer a vida e fazer contra ela ”. Que outro modo da morte morte uma inimiga? inimi ga? Naqueles tempos, a exemplo dos povos da Antiguidade, alguns hebreus acreditavam, vale dizer que de maneira um
tanto nebulosa, que os mortos vagavam num lugar de trevas situado embaixo da terra, chamado cheol. A geena, que se tornou sinônimo de fogo do inferno, era um vale situado a certa distancia de Jerusalém, o vale de Hinnom, onde eram jogados os cadáveres incinerados. E difícil saber se o cheol , que se sucedia à morte, era era considerado um lug ar ou simplesmente um sinónimo sinóni mo para o nada. Aqui não estamos estamos num terreno muito científico. Contudo, parece que essa idéia e a da geena foram algumas das origens do inferno cristão, a outra origem sendo provavelmente egípcia. O pensamento judaico, como todo pensamento religioso, esconde outras sutilezas, e pouco a pouco revelouse a espera de um messias (messias significa “ungido de Deus”, como o Christos grego) grego) que qu e iria ir ia julg j ulgar ar os vivos vivos e os os mortos. mortos. Concepção, aliás, muito mais sustentada por movimentos ortodoxos, do tipo Lubavich. Os fariseus, na época de Jesús, foram os portadores dessa esperança messiânica. Segundo o historiador judeu Flavius Josefo, eles representavam, com os saduceus e os essênios, uma das três correntes correntes judaicas, judai cas, na época de Jesús. Um conflito importante opôs saduceus e fariseus com relação à ressurreição. Um saduceu disse a Gehiha B. Pesica: “—Ai d e vós, vós, crim inosos ¡fariseus] ¡fariseus],, q ue dizeis que os m ortos retornarão] retornarão] po is, um a vez ve z qu q u e os v iv o s m o rrem rr em , revi re vi ve rã o o s m o rto rt o s? —Ai de vós, criminosos fsaduceus], respondeu ele, que declarais que os mo rtos não viv ei‘ão, ei‘ão, pois, uma vez que os que não existiam ganh am nascimento, nascimento, quanto mais ainda os que já viveram!" Ao contrário do que geralmente costumamos acreditar, a ressurreição não é sinônimo de imortalidade. Os antigos hebreus não aderiam aderia m a essa crença e o além não é questionado no Antigo Testamento. Muito mais tarde, sob influência dos
gregos e dos neoplatônicos, foi que a noção de imortalidade deitou raízes. Entre os filósofos judeus mais tardios, a tônica foi igualmente colocada mais na imortalidade que na ressurreição. Maimônidas, no século 12, fez da imortalidade da alma um parâmetro supremo. Mas Ma s desde o segundo século antes de nossa era, havia duas correntes de pensamento no judaísmo: a primeira, entre os judeus alexandrinos, impregnados de filosofia filosofia grega, defendia a imortalidade da alma; a segunda, entre os judeus judeus da Palestina, afirmava a ressurreição dos corpos. A prime p rimeira ira tradição, a exemplo de Platão, apoiavase apoiavas e na dualidade do ser humano: uma alma encarnada num corpo, do qual podia se separar, prosseguindo numa existência autônoma. A segunda baseavase numa interpretação fragmentária da frase bíblica: “Deu sfez o hom em do pó da terr terra, a, insuflou em suas narinas o sopro de vida e o homem tornou-se um servivente". A interpretação palestina dessa frase (retomada hoje no cristianismo) faz do ser humano, “ser vivente”, um todo indissociável. A morte do corpo corresponde, então, ao seu completo desaparecimento (inclusive a alma) e a ressurreição, a uma nova criação decretada por Deus. Se o homem desaparece em sua totalidade, ele só pode renascer nessa mesma totalidade não dualista, de onde a idéia de uma ressurreição de corpos. A menos que essa concepção concepção foss fossee uma perversão de idéias esotéricas mais profundas, ensinadas somente aos iniciados. Perversão acarretada por iniciados que não alcançaram a meta de suas iniciações. Para a “Enciclopédia Ju daica ”, ”, não há dúvida de que: “A cren ça na im ortalidad e da alma veio aos ju ju d eu s a pa rtir rt ir do contato com o pensam ento gre go e, mais especialmente, especialmente, através da filoso fia de Platão, Platão, seu principal representante
Sabemos também que a tradição da Cabala judaica (a lei oral e oculta do judaismo) faz referencia à possibilidade de reencarnação da alma humana. Urna das seções do Zohar, a biblia dos cabalistas, denominase “Livro da Tra nsmigra ção das Almas". Alma s". Explica ele que enquanto a alma humana não tiver desenvolvido toda sua perfeição, cujos germes ela contém, deverá recomeçar várias existências, até que sua condição permitalhe permita lhe retornar a Deus. Outras correntes correntes judaicas judaica s aderem ou aderiram a essa doutrina. Por exemplo, ohassidismo, nascido no século 18 e do qual alguns grupos sobrevivem ainda nos Estados Unidos. Há também uma crença popular de que crianças que morrem com pouca idade são reencarnações de almas mortas prematuramente (por acidente ou assassinato, por exemplo) e que não tiveram tempo de terminar seu período de existência terrena. Assim, elas precisam voltar por um curto período a este mundo, a fim de que seu mandato seja plenamente cumprido. Quanto ao contato com os mortos, é condenado pelo judaísmo, ainda que a possibilidade dessa comunicação seja admitida. Sobre essa questão, um dos raros textos do Antigo Testamento baseiase baseia se no contato realizado reali zado pelo rei Saúl Saú l e o profeta Samuel, por intermédio da feiticeira de EnDor, que praticava a necromancia ou invocação dos mortos. Não obstante, no curso desse episódio fantástico, mencionado em Samuel 28, 3, contase que Saul havia banido do país os necromantes e os adivinhos. No Deuteronômio 18, 9, encontramos a seguinte passagem: “Que não haja em vossa casa casa ninguém que exerça exerça a fun çã o de adivinho, astrólog astrólogo, o, mágico, bruxo, bruxo, encantador, invo cad or de fa de fa nt as m a s e espíritos espíri tos,, co ns ulta ul ta do r
de mortos. Pois quem quer que faç a isso isso é uma ab omin ação para Yahvé...". Para Isaías, consultar c onsultar os morto mortoss é uma absurdidade: absu rdidade: “Se vos disserem: disserem: consultai os que invo cam os mortos e os que pr ed iz em o fu tu ro , o s que pr o vo ca m ass obio ob ioss e suspiros susp iros,, resp r esp on dei: de i: Um po vo acaso não consultará seu Deus? D irigir-se-á irigir-se-á aos mortos em favo r dos vivos?". vivos?". Tratavase de uma posição lógica para um povo cujas concepções acerca da imortalidade estavam longe de serem claras.
O cristianismo
Para apresentar a posição do cristianismo, o melhor consiste em citar o catecismo oficial da Igreja Católica, que se exprime sem ambigüidade sobre a questão: “A m ort e é o fi m da per p er eg ri n a çã o terr te rren en a do se r hu m an o, do te m p o da gr a ça e da misericórdia qu e Deus lhe ofe rece para realizar sua vida terrena segundo o desígnio divino e para decid ir seu seu destino destino supremo. supremo. Qua Q uand ndoo ch c h eg a a o f i m o cur c urso so sup s up rem re m o d e nossa no ssa vida vi da terren ter rena, a, nã o voltamo s mais a outras vidas terr terrenas. enas. Os seres humanos morrem som ente um a única vez. Não existe existe reencarnação após a morte". morte". Segundo este ponto de vista “a morte é a conseqü ência do pecad o original". Antes desse famoso pecado, “embora o ser humano possu po ssu ísse íss e natureza natu reza m ortal, ort al, Deus De us o destin ara a nã o morrer. mor rer. A m ort e, po rtan rt an to, to , era c on trár tr ária ia aos ao s des ígni íg ni os d e Deu D euss criador cria dor,, e en trou tr ou no mundo com o conseqüência conseqüência do pecado". E a essa frase acrescenta se um comentário que toma uma dimensão toda especial em nossa época moderna: “A m orte corporal, da qu al o ser hum ano teria sido poupado se não tivesse pecado, é, assim, seu último inimigo a ser vencido". vencido". Assim, a original orig inalidad idadee da posição cristã reside nessa idéia que alega que a morte não existia no estado de Éden. Ela foi a
conseqüência da Queda do ser humano. Embora essa idéia seja de difícil concepção para nossa mentalidade mentali dade moderna, um aprofundamento pode nos trazer algumas luzes novas. A interpretação cristã da história his tória da Queda Qued a do ser humano human o e do aparecimento da morte é estritamente literal. Baseiase no texto da Gênese 2, 17: “Quando Quando com eres do fru to da árvore do conhecimento do bem e do mal, morrerás”. Devese crer, então, que antes da australopiteca L u d e existia existia na Terra um ser humano imortal? E bem mais fácil admitir que esse texto faia de uma tomada de consciência do fenômeno “morte”, num dado momento da evolução humana. ✓
E que o ser humano rompeu seus laços com o mundo natural e sua consciência se individualizou o suficiente para que a morte representasse a negação de sua personalidade personalidade . Não é isso, isso, ao mesmo tempo, tempo, uma um a queda qu eda e uma um a evolução sem precedente? Ao invés de explicarmos que a morte foi uma conseqüência da Queda, podemos entender que a consciência da morte e a consciência do bem e do mal representam as conseqüências da perda do estado estado de inocência do animal. Essa ruptura ocorreu provavelmente há várias dezenas de milhares de anos, e a consciência da morte tornouse um dos produtos dessa evolução. Toda moeda tem sempre duas faces. O ser humano, humano , portanto, merece o qualificativosapiens também também por saber que é mortal. Alguns antropólogos consideraram que os primordios da civilização coincidiram com a tomada de consciência da morte e com a utilização de ritos acompanhando infalivelmente essa conscientização. Esses mesmos pesquisadores sadores concluíram, então, que toda toda civilização que q ue negasse, escondesse escondesse ou se desinteressasse pelo assunto apresentaria, apres entaria, por isto, sinais de barbárie e de decad ência inevitável inevitável..
A posição da Igreja Católica Católi ca quanto quan to à escatologia esca tologia tomou forma definida e quase clara por volta do século 13, na época e sob a direção do Papa Benedito XII, chamado de o “cardeal branco” antes de sua eleição para esse posto. Isso não significa, claro, que antes desse período a Igreja não tivesse idéias sobre a questão. Foi nessa época, porém, que o dogma se estabeleceu de maneira duradoura. As idéias de inferno e paraíso que aguardavam as almas após seu julgamento, foi acrescentada a do purgatório. Para a Igreja de hoje: "a principal pena do inferno consiste na eterna separação de Deus, Deus, o ú nico no qua l o ser hum ano p o d e te r a vid a e a fe li ci d a d e para par a as qua is el e l e f o i cria cr ia d o e às à s qu ais ai s ele aspira", aspira", enquanto que a noção de céu supõe uma vida perfeita de comunhão e amor com a Santíssima Trindade. Podemos facilmente considerar que a noção de purgatório foi introduzida sob a pressão de pensadores e do povo, os quais decidiram que não compreendiam mais essa justiça divina. Uma justiça impunha impun ha aos errantes ou pecadores finitos finitos uma sanção eterna. Então, os prelados imaginaram um período de purificação que operaria em prol das almas impuras mas suscetíveis de redenção, a fim de que fossem preparadas para o julgamento julgamen to final redentor. redentor. Pelo menos, menos, isso é o que afirmam afirma m alguns historiadores modernos, como J. le Goff. Mas a verdade é que a idéia do purgatório “estava no ar” há muito mais tempo. Santo Agostinho já afirmava sua existência, ainda que seu pensamento pensame nto não fosse nem claro nem exato. Do mesmo modo, modo, Orígenes, no século 3, expôs a existência de uma purificação pelo fogo. A Igreja soube, a partir do século 12, limpar e clarear essa idéia, a fim de que a noção de justiça divina ficasse preservada no pensamento das massas. Na verdade, a doutrina cristã, em matéria de escatologia, esteve longe de ser estável e unificada ao longo dos séculos.
Delicadezas de linguagem ou de concepção foram surgindo através da História. Por exemplo, a respeito da ressurreição dos corpos. Seguindo as epístolas de Paulo, a Igreja ensina que, no fim dos tempos, tempos, as almas consideradas dignas dign as assistirão a uma ressurreição ressurreiç ão de seus seus corpos corpos carnais. Uma Um a das passagens do Símbolo dos Apóstolos (o principal artigo da fé cristã, adotado nos concilios de Nice e Constantinopla) alude a essa crença. Sem dúvida alguma, a Igreja, nessa época, ensinava o renascimento do corpo, em carne e osso, após sua putrefação no seio seio da terramãe. terramã e. Segundo S egundo teólogos modernos, essa essa noção da ressurreição do corpo carnal presumiria a crença na preservação da individualidade humana na presença divina. Eles a opõem à idéia budista do Nirvana, que corresponde a uma fusão na qual qua l o ser ser humano perde sua identidade própria. Mas isso pouca importância tem para o estudante imparcial. Ele observa que, que , tanto num n um caso como noutro, o estado descrito ultrapassa grandemente toda e qualquer tentativa de descrição humana. A natureza da suprema e derradeira experiência escatológica representa, de fato, o mistério dos mistérios. K curioso notar que, alguns milhares de anos antes da era cristã, uma outra civilização aderiu ade riu a essa idéia de renascimento material do ser humano. O Egito embalsamava os cadáveres de seus grandes governantes. Acreditavase então que a múmia múmi a poderia ser reanimada pelo sopro de vida, após 3000 anos passados na mansão da morte. Teria sido por causa dessa similitude simil itude nos conceito conceitoss que o cristianismo pôde se impor mais tarde no Egito, num terreno já preparado para a nova religião ? No entanto, desde o começo começo da Igreja, um de seus Pais e não um de seus ministros argüiu argüi u contra a idéia da ressurreição do corpo. Orígenes, no século 3, numa concepção mais
próxima à dos neoplatônicos com os quais estudou, ensinou, por sua vez, a sobrevivência de um corpo espiritual ou de um corpo glorioso. Nesse Ness e sentido, ele fez eco fortemente às palavras palavra s de São Paulo: ‘Assim A ssim dá'se a ressurreiçã o do s mortos. Som os semeados corrup tíveis tíveis , elevamo-nos incorruptíveis; somos semeados desprezíveis, elevamo-nos gloriosos; somos semeados fra fr a co s, e le v a m o -n o s fo r te s ; so m o s se m ea d o s co rp o s ps íq ui co s, elevam o-no s corpos espiri espirituai tuais. s. Se há um cor po psíquico, há um corpo espiritual. espiritual. O prim eiro hom em, tirado do solo, solo, é terreno; o segundo h om em vem do céu. Eu os declaro irmãos: A carne e o sangue não podem herdar, do reino de Deus, nem a corrupti bilidade da incorruptibilidade”. I Corintios 15, 4245. Aliás, será que devemos devemos acreditar na ressurreição dos corpos corpos carnais? O mundo científico nos prova hoje que o mundo material (e, portanto, a carne) são ilusões decorrentes das limitações inerentes aos nossos cinco sentidos físicos. Sabemos, por exemplo, que um átomo, longe de apresentar a opacidade que percebemos, é na verdade formado de imensos espaços vazios. Se a carne renasce, como descrevem as religiões monoteístas, isto significa que qu e as ilusões renascem também tamb ém com ela. E se as ilusões não renascerem, então é porque todo nosso mundo será transformado e o termo “carne” não terá mais razão de ser, ser, no sentido como como o entendemos h abitualmen abitua lmente. te. Mas a singularida singu laridade de de Orígenes não cessa cessa aí. Ele escreveu, escreveu, por exemplo, que a alma é preexistente à sua manifestação terrena (o que não é um conceito óbvio para os teólogos, teólogos, que não sabem determinar se a alma é ou não criada no nascimento da criança), crian ça), e que qu e depois da conflagração do nosso mundo, no fim dos tempos, tempos, outros mundos se sucederão. Explica ele “qu e iremo s todos para o pa raíso”\em outras palavras, que até mesmo os demônios serão salvos. Mas isso não é tudo. A exemplo de
outros Padres da Igreja primitiva, primitiv a, como São Justino, Clemente Clemen te de Alexandria ou Sinésio (em seu tratado sobre os sonhos), a História atribuilhe atrib uilhe uma crença na reencarnação. reencarnação. Eis a tradução de um trecho do "Tratado Tratado dos Prin cípio s” de de Orígenes: “Os corp co rpos os pos p os su em ap enas en as im i m p or tâ nc ia secu se cu nd ár ia e a pa rece re ce m d e tem t em p os a temp os em respost respostaa às cond ições variáveis das criaturas racionai racionais. s. As qu e ne cess ce ssita ita m d e co rp o s se re ve st em d eles el es e, ao co nt rá rio, ri o, quando as almas caídas caídas se elevam elevam e se tornam melhores, melhores, seus corpos são outra vez aniquilados. Assim, elas desaparecem e aparecem incessantemente”. Por tudo isso, Orígenes foi um dos primeiros homens realmente místicos a propor oficialmente uma interpretação alegórica dos grandes textos sagrados. Sua filosofia foi foi condenada pelo II Concilio de Constantinopla, Constantin opla, no ano 553. Ao menos é nisso que qu e se acredita a credita geralment geral mente, e, pois não há nenhuma prova prova indiscutível de que o Papa Vigílio, que qu e presidia a Igreja nessa época, tenha dado sua aprovação a essa condenação. Ele estava em conflito com o imperador bizantino Justinia Jus tiniano, no, que estava tentando fazer do cristianismo cristia nismo uma religião de estado. O Papa Vigílio havia protestado então contra a convocação do Concilio de Constantinopla. Em todo caso, foi depois depois dessa época que o mundo cristão passou a ignorar ign orar a reencarnação. Entretanto, depois dessa época, outros eclesiásticos cristãos se pronunciaram a favor da reencarnação. O Cardeal Mercier, por exemplo, escreveu em 1923 que “as idéias de reenca rnaç ão e metem psicose ou transmigração transmigração das almas almas pod em ter sentidos sentidos diferentes: ou bem significam uma série d e existências existências sucessiv sucessivas, as, através das quais a alma conserva a consciência de sua per p er so na lid li d ad e e à qu al est á d esti es tina na do um f i m d eter et er m in a d o; ou
então uma seqüência de vidas repetidas repetidas sem fim determinado, determinado, durante a qual a alma não guarda a consciência de sua per p er so n a lid li d a d e, ou seja, sej a, um a s u ce ss ã o in d ef in id a d e ex e x istê is tênc nc ia s que a alma atraves atravessa, sa, sem guardar a consc iência de sua indi vidualidade”. Por fim, fim, concluiu: conclui u: “No que co ncern e a primeira dessas dessas hipóteses não vem os que a razão deva necessariam ente tê-la tê-la co m o falsa ou imp ossível”. ossível”.
Na verdade, uma tradição oral porém tenaz, visto que perdura até nossos dias, explica que os primeiros cristãos aderiram sem dificuldade à idéia da reencarnação. Já vimos que essa crença era comum entre muitos judeus da época do Cristo. Seria mero acaso o fato de o Novo Testamento refletir isso complacentemente em um diálogo envolvendo o Cristo e seus discípu los? (Mt 16, 16, 1318). Por que, em vez de se contentar em dar razão a Pedro quando ele deu sua compreensão da verdadeira identidade de Jesus, este não aproveitou a oportunidade para fustigar as crenças de então referentes à suposta reencarnação de profetas? Mas voltemos à questão da ressurreição dos corpos. A Igreja atual colo coloca ca a tônica tônica numa posição mais espiritualista, espiritualis ta, visto que hoje ela ensina ens ina que o corpo corpo no qua l o ser humano huma no está destinado a ressuscitar no fim dos tempos será seu corpo transfigurado em um corpo de glória ou corpo espiritual. Em outras palavras, a antiga atitude relativa a uma imortalidade do homem dentro do mundo material está sendo progressivamente abandonada abandona da por uma posição mais espiritual. Contudo, resta uma ambigüidade mantida e não claramente resolvida em relação às duas concepções: ressurreição com um corpo espiritual ou com um corpo carnal.
Associado Assoc iado ao tema da ressurre ress urreição ição , é d ifíc il esq uecer uec er o do Julgamento Final, revelado no Apocalipse de São João (a palavra A p oc al ip se significa Revelação). Aqui, vemos surgir a figura central do Cristo que, acreditase, julga rá os mortos mortos quand o de seu advento ou parusia. Nessa ocasião, está escrito que a morte e o Hades serão julgados e destruídos como resultado da lógica inversa, in versa, que vê a morte aparecer no mundo em raz ão do pecado. pecado. Nesse Julgament o, vemos irromp irro mper er toda uma plêiad plê iad e de temas simbólico simb ólico s. Os mortos serão examinados segundo suas obras, gravadas no livro da vida. Os que forem considerados injustos serão lançados num lago de fogo, o que corresponde a uma segunda morte. Curio samente, o grande j uiz dos dos mortos, mortos, a segunda morte na aniquilação, o lago de fogo e o triunfo do ser humano sobre a morte são temas que se encontram... no Livro dos Mortos dos egípcios antigos! Do mesmo modo, o livro, na qualidade de memória das ações, é um símbolo encontrado sob diversas formas em muitas tradições, e que há de falar muito eloqüentemente aos verdadeiros buscadores. Podemos nos guardar de fazer sincretismo primário. Entretanto, aqui seria preciso complicar as tradições e se concentrar demais nos detalhes para não se perceber o elo evidente que as une em suas linhas principais. Um elo que certamente não deve nada ao acaso. O medo do sincretismo muitas vezes subentende a angústia, muito legítima, le gítima, em relação a um totalitarismo totalita rismo que, qu e, longe de desenvolver o conhecimento, tornarseia um pensamento único”. Mas a verdadeira síntese, síntese, que seria o reflexo reflexo de uma religiã o universal, univ ersal, deve preconizar a tolerancia e o direito de cada indivíduo de exprimir sua própria compreensão de determinadas determina das leis gerais. É então que
o sincretismo aproximaria os seres humanos numa compreensão superior, ao invés de negar ou de nivelar suas particularidades. O Cristo Salvador e Redentor da religião cristã intervém igualmente no âmago de algumas crenças antigas. Com efeito, os cristãos, até a Idade Idade Média, Média , acreditavam acreditava m que, antes da vinda do Salvador, até mesmo as almas dos santos teriam domicílio no inferno após a morte. Tratavase, todavia, de uma zona superior do inferno, denominada denomin ada “limbos” “limb os” ou “seio de Abraão Abraão . Nesse lugar lug ar obscuro, separado do resto dos dos infernos, as almas alm as dos justos gozavam do repouso, mas aguardavam a vinda da luz. Uma lenda cristã explica que durante os três dias de sua Paixão, o Cristo desceu até esse lugar para libertar os justos, que aguardavam sua vinda. Também aqui a mensagem fica clara: o ser humano não pode salvar a si mesmo completamente. Somente o Deus Salvador veio, há dois mil anos, tirar a raça humana de sua situação perdida. Mais tarde, por ocasião da grande conjunção, o próprio mal e a própria morte serão erradicados. Em geral, o cristão tem medo da morte. Conseqüência do pecado, ela representa para ele uma inimiga implacável que será vencida somente no fim dos tempos. O ser humano não e, em si mesmo, imortal, mas reviverá graças à intervenção divina. Um teólogo, o professor Olafsson, assim se expressou numa revista revista judaicocristã: “O ser humano não é um ser composto - corpo, alma e espirito —mas, mas, sim, sim, um ser form an do um todo, [... ] assim sendo, sendo, no mo men to da mo rte, a alma deixa deixa de existi existir r [...]. Na morte, é a pessoa pessoa inteira que m orre". Tratase, para ele, de uma primeira morte; mais adiante, porém, ele evoca o
grande julgamento que deverá preceder a ressurreição ou a aniquilação: % segunda m orte éperm anen te, é o fiim fiim definitivo da vida vida no tempo da suprema eliminação do ma l no universo" universo" Agora podemos entender entend er por que motivo o cristão teme a morte. Ela corresponde ao desaparecimento completo de sua existencia, seguido de um período de vazio cuja coroação será um julgamento. Esse verá os bons se elevarem a um paraíso e os maus serem ou lançados no inferno ou aniquilados. Raras são as pessoas que podem afirmar afirm ar sua santidade sant idade no momento momento da grande partida. Em contrapartida, os judeus não temem a morte. Os de hoje aceitam a idéia da imortalidade da alma e não fazem da morte uma inimiga, mas uma necessidade inerente aos ciclos naturais. Para eles, não haverá um tempo em que a morte será abolida. “Pessoalmente, não creio nisso; nisso; existe existe um c iclo bio lógic o que n os perm ite pensar que isso isso durará assim assim po r todos os tem pos ", confidencia o dirigente de uma sociedade cultural cultu ral israelita. israe lita. Por conseguinte, a morte morte é compreendida pelo mundo judeu ju deu como como uma lei natural. Paradoxalmente, as religiões monoteístas não aceitam oficialmente a idéia da reencarnação, mas fazem da conservação da individual indiv idualidade idade inteira o tema tema central de sua ressurreição. O budismo, por sua vez, ensina a ilusão do ego ego e seu desaparecimento, ao mesmo tempo em que afirma a idéia da reencarnação. Há ou não há contradições contradições flagrantes no âmago de cada corrente de pensamento? Não haveria haver ia uma posição capaz de realizar a síntese dessas concepções, na forma de um mistério que transcende a compreensão humana?
O Islã e a morte A concepção concepção clássica da morte, entre os muçulmanos, é de fato fato diametralmente diametralm ente oposta oposta à do mundo judeu. ju deu. Enquanto esse último glorifica a vida, fazendo de sua suspensão uma fatalidade decidida por Deus, o muçulmano, sem chegar a louvar o suicídio, vê na morte morte um propósit propósitoo desejável. desejável. Os textos textos do Corão incitam o combatente do Djihad , a Guerra Santa, a morrer por sua fé: “E não digais, dos qu e são assassinados na senda de Alá, Alá, qu e eles estão mortos. Ao Ao contrário, eles estão vivos, m as vós sois incon scientes disto’’. Corão 2,154. 2,15 4. A eles, o paraíso onde serão acolhidos: uNesse dia, dia, os compa nheiro s do jard im se deleitarão no trabalho, trabalho, co m suas esposas esposas purificad as (as huris de grandes olhos negros), à sombra, recostados em divãs. Lá, no deleite a que aspiram... terão por morada jardins o nde correm riacho riachos. s. E os farem os fica r sob uma copa sombrosa. E terão jun to a si belas de olhos grandes (as huris), huris), de olhar casto, casto, semelhante ao branco b em preservado do o vo. Faremos circular entre eles uma taça de água retirada retirada de uma fo n te alva, alva, saborosa saborosa de b ebe r... ”, ”, etc. A compreensão da morte, pelo mundo mu ndo muçulmano, muçul mano, pode ser comparada à de Platão (o que, aliás, aliás , provavelmente explica a facilidade com que os sufis se assenhoraram das doutrinas platônicas). O ser humano vive em exílio na terra, tendo perdido o contato contato com Deus. Deus. Sua S ua vida deve constituir um exemplo de submissão à Divindade (uma (u ma das interpretações da palavra islã é “submissão”). Somente depois da morte, graças a uma reconciliação, reconciliaçã o, ele terá novamente acesso à visão do Altíssimo, numa paz inefável. Assim, a morte seria uma espécie de libertação cheia de promessas para o muçulmano. A ela, sucedese um julgamento no “dia da retribu içã o”. Existe aqui uma visível distinção em relação ao cristianismo. A medida com que o mortal é julgado não pesa diretamente as virtudes que
ele praticou durante sua vida. Não se trata aqui de moral cristã. Na realidade, será considerado digno do paraíso aquele que aceitou a mensagem do Corão. A adesão à fé é tão importante que, segundo a palavra do profeta, “Deus con cede o paraíso paraíso a todo morto atrás atrás do qual se alinhem três fileiras pa ra a p r e c e ”. Não se faz referencia ao seu modo de vida. No entanto, tratase de uma diferença superficial, pois, ñas entrelinhas, o Corão contém efetivamente um código de vida moral. Em seguida ao julgamento final, assim como no cristianismo mas de maneira mais direta, fazse referencia a urna ressurreição do corpo ou a urna eterna estada no inferno. Deve se reconhecer que, embora o texto possa ser interpretado também de maneira simbólica (como a maioria dos textos sagrados), a força das imagens conseguiu nutrir por muito tempo a fé simples dos beduinos e dos árabes no renascimento de seu próprio corpo físico. físico. A surata 75 do do Corão assim assi m exprime a ressurreição: “3. Pensa Pensa o ser humano que nunca reunirem os seus seus ossos? ossos? 4. Ah, sim l Som os capaz es de colo ca r no luga r as extremidades de seus dedos. 24. 24. E, nesse dia, ha verá visões assombrosas, 25. 25. Que agua rdam catástrofes po r sofrer. sofrer. 40. Não é Ele (A (Alá) lá) capaz de faz er reviver os mo rtos? ”
Mas, ainda aqui, podese perguntar se o texto não deve ser visto como uma alegoria. Nesse caso, ele poderia descrever a ressurreição do ser humano espiritual, no sentido com que Orígenes, um dos Pais da Igreja Católica, o entendia.
Existem algumas crenças difundidas no mundo árabe muçulmano. muçulman o. Por exemplo, a que explica ex plica que qu e o morto, morto, enterrado conforme os preceitos do Corão, aguard ag uardaa que qu e Azráel (o anjo da morte) venha conduzilo, pela mão direita ou pelos cabelos, até o paraíso de Alá. Azrãel é tido também como aquele que separa a alma do corpo corpo daquele daque le que qu e acaba de morrer. Chegando ao seu destino, dois anjos visitam o recémchegado recémchega do e o interrogam interr ogam acerca de questões relativas aos principais artigos de fé do muçulmano. É por isso que os vivos recitam, depois do enterro, certos textos que lhe sugerem as respostas a serem dadas. A atitude do do moribundo moribundo pouco pouco antes de de sua partida é muito importante no islã. Várias frases frases atribuídas atrib uídas ao profeta profeta referem se à atitude necessária: "Que "Que qualquer qualquer um d e vós m ona somente tendo boa opinião d e Deus. Deus. Lembrai aos vossos vossos moribundos, em seus seus últimos mom entos / entos /a fórm ula da fé] . Alá Alá é o único Deus. Deus. Aqu A quele ele cu jas ja s últ im as pala pa lavr vras as fo fo r e m Alá é o ú n ic o D eus’ eu s’ irá para par a o paraíso”. Depois de morto, o corpo da pessoa é lavado, em seguida envolvido em três peças de tecido, de preferência branco. Depois, é enterrado sobre sobre seu lado direito (nos países árabes), com o rosto voltado para a qibla (a meta), representada pela Ka’aba ou Pedra Negra de Meca. Preces para o morto morto podem então ser feitas, mesmo na ausência ausênc ia do corpo corpo.. É claro que no islã, como em muitas muita s outras religiões, rel igiões, existem correntes correntes mais mai s esotéricas. Movimentos, Movimentos, como o sufismo, aceitam aceita m de bom grado a doutrina das reencarnações sucessivas. Um pensamento atribuído a Maomé possui informações ricas de implicações: “Recebi do mensageiro de Deus dois tipos de conh ecim ento. Ensinei Ensinei um deles, deles, m as se eu hou vesse lhes ensinado
respeito disso, disso, aliás, algumas alguma s o outro, ter-lhes-ia calado a voz”. A respeito suratas do Corão dão estranhamente o que pensar, aínda que não constituam provas irrefutáveis: “Com o pod eis r eneg ar Alá Alá,, urna urna vez que Ele vos deu a vida quando éreis mortos, depo is Ele vosfará morrer e depois Ele vosfará r eviver e, po rfim , retornareis retornareis a Ele” 2, 28. “Não vistes os que saíram de suas moradas (há milhares delas) po r m edo da m ort e? Depois Alá lhes disse: disse: Morrei. Morrei. Após Apó s o quê, qu ê, Ele El e os d ev o lv eu à vid a. Sim , Alá é d et en to r da misericórdia para para com as gentes; mas a maioria delas não é grata” 2, 243. Os sábios sufis apresentamse como detentores de fato do conhecimento esotérico evocado pelo profeta. Desse conhecimento, algumas luzes, como raios fulgurantes, perpassam, de tempos em tempos, o Corão. Um outro movimento semelhante ao islã também defende a idéia da reencarnação. Os drusos do Líbano ensinam que a alma, após sua transmigração, reencarnase imediatamente. Acreditam também que, entre eles, nascem somente almas de antigos drusos que morreram. Vale diz er que a visão da reencarn reen carnação ação do esoterismo esoteris mo muçulmano é totalmente diferente daquela do budismo. Enquanto Enquan to o budismo vê no no renascimento uma maldição que qu e o ser humano lança contra si mesmo, o islã esotérico vê vê nele uma um a nova chance para a alma chegar à perfeição. Entretanto, mais uma vez, para além das divergências de visão, a conclusão da história, tanto para o sufi como para o budista, é a mesma, ou seja, o fim das encarnações encarnações quando quand o a mestria é alcançada. al cançada. Aliás, é possível que a diferença de análise tenha uma relação direta com o caráter dos dois fundadores dessas religiões. Maomé era um guerreiro, gu erreiro, abocanhava ab ocanhava a vida com todos todos os dentes dentes (teve (teve
nove esposas). Ao passo que Sidarta Sakyamuni era, segundo a lenda, filho de um rei, muito protegido na infância, que conheceu tarde a morte, a velhice e a miséria dos homens. Essa experiência o marcou para sempre. Não podemos ser parcos na compreensão da personalidade dos grandes fundadores de religião. O ensinamento deles foi forçosamente tingido por sua educação, sua cultura e sua psicologia própria, bem como as de seu povo. povo. Seus discursos, relativamente relativ amente ao verdadeiro cerne de sua doutrina, doutrin a, são como a casca que envolve a polpa da noz; nada mais são que o invólucro. Alguns devotos só se interessam pela casca, ao passo que os mais clarividentes aspiram aspi ram a comer apenas a polpa viva. Existe ainda um assunto interessante a ser abordado. Tratase da viagem, quase miraculosa, que o profeta Maomé teria feito, certa certa noite, pela graça do Altíssimo, entre a mesquita mesqu ita Al Haram de Meca e a mesquita AlAqsa de Jerusalém. Esse milagre está narrado na Sira, a biografia oficial do profeta. A foi composta no século 8 por Ibn Ishaq, um letrado que Sira foi consagrou sua vida à pesquisa das tradições relativas ao profeta. A história relata que, por um meio miraculoso, m iraculoso, o profeta foi foi transportado a Jerusalém. Chegando ao local que se tornou a mesquita de Jerusalém, Maomé subiu ao céu por uma escada, conduzido pelo anjo Gabriel. Se os exegetas não concordam entre si sobre os detalhes dessa experiência, a um só tempo viagem fabulosa e ascensão celestial, os teólogos teólogos muçulmanos muçulmano s vêem nela nel a uma viagem da alma a lma rumo a Deus e um modelo escatológico. São as seguintes as etapas da ascensão: Maomé sobe uma escada, a mesma que se estende para o moribundo no instante de sua morte. morte. Chega diante de um portal, chamado “Grade dos sobreviventes”, que é guardado pelo anjo Ismael, enquanto Gabriel lhe serve de guia durante toda sua elevação. elevação.
Maomé chega, então, ao primeiro céu, onde todos os anjos lhe sorriem, exceto Malik, o guardião do inferno. Esse primeiro céu contém, na verdade, o inferno. O profeta assiste, então, aos sofrimentos terríveis que se desenrolam ante seus olhos. Ele encontra Adão, o primeiro homem, que q ue julga ju lga seus descendentes. descendentes. Depois, Maomé entra no segundo céu e encontra os “doispnmos” de Jesus e o apóstolo João. No terceiro céu, ele vê José, filho de Jacó, e, no quarto céu, Idris. No seguinte, seguinte, um homem barbudo, de cabelos brancos, brancos, abordao: tratase tratas e de Aarão, irmão de Moisés. O próprio Moisés, Moisés, ele el e encontra no sexto céu e, no sétimo, séti mo, Abraão pega sua mão e o conduz ao paraíso. Essa ascensão é, de fato, muito útil para ilustrar o tema de que nos ocupamos. Como em muitas tradições, nela encontramos um condutor, Gabriel; um guardião, Ismael; e um guardião dos infernos, Malik. Encontramos igualmente um juiz, que é encarnado aqui por Adão, o primeiro homem. Cada uma dessas personagens representa, na verdade, um dado personificado da experiência. Na surata 17 do do Corão, versículo 44, Al’Isra, a viagem noturna, alude a essa ascensão aos sete céus: “Os sete céu s e a terra e os que nela se en contram celebram Sua Sua glória ” . O versículo 21 também faz alusão a uma espécie de hierarquia das almas depois da morte: “Ved “Vedee com o fa v o r e ce m o s a lgum lg um a s m ais ai s q u e a o utras. utr as. E, no além al ém , há classe cla sses s mais elevadas e mais privilegiad as”. Isso Isso lembra aquela aque la frase do Cristo: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”, João 14,2. Todos esses dados parecem parec em ser um leitmotive, que, mais adiante, veremos veremos que aparece em grande número de culturas. Se os teólogo teólogoss muçulmanos muçu lmanos viram vira m na ascensão do profeta profeta uma prefiguração do destino das almas dos mortos, Ibn Arabi, um dos sufis mais célebres do século 8, interpretoua como o modelo da emancipação da alma, a qual precede sua união
mística com Deus. Para ele, tratase, portanto, de uma experiência espiritual. Veremos, aliás, que é sempre muito difícil desemaranhar desemara nhar as descrições descrições das experiências ligadas às diversas diversas escatologias e a codificação de experiências místicas. Umas e outras muitas muita s vezes são parecidas. Ibn Arabi, em “Revelações”, põe em cena um filósofo e um místico que fazem, juntos, a viagem para o céu. O primeiro pára no no sétimo sétimo céu, enquanto o místico é admitido aos mistérios divinos. Segundo essa história, haveria, portanto, outros níveis de experiências, experiências , superiores ao sétimo céu. Do m e s m o m o d o , p o d er er ía ía m o s concluir concluir d a í que que a ascensão da alma após a morte aconteceria através de um número superior superi or a sete níveis. níveis.
O Egito antigo Uma vez que as religiões monoteístas modernas foram abordadas, convém agora nos debruçarmos sobre as culturas mais antigas, começando pelo Egito antigo. O Egito fo i u m dos principais berços da civilização, embora não tenha sido o único. A Suméria e a índia podem igualmente reivindicar uma antiguidade e uma influência fundamental. Alguns estudiosos afirmaram que os próprios próprios gregos gregos teriam tirado sua inspiração mitológica nos grandes mitos do Egito antigo. Devese reconhecer, aliás, que alguns deuses gregos possuem protótipos egípcios. O deus grego Hermes, por exemplo, tem seu equivalente equiv alente em seu primo próximo, próximo, o egípcio Toth, Toth, tanto tanto que, quando quand o da helenizaç he lenização ão do Egito, a partir do século 4 antes de Jesus Cristo, os dois eram um só. O Egito enfrentava a morte não sem um certo medo, mas com a certeza da vitória. Isso Isso constitui, de fato, a originalidade originalid ade dessa cultura. Grande parte das atividades políticas, sociais e religiosas desse povo girava em torno do tema da morte. O
Egito fazia da conquista do além um verdadeiro empreendimento. Inicialmente, o privilégio de dom inara inar a morte era exclusivo dos faraós, considerados representantes de Deus na terra. Depois, a partir do fim do Antigo Império, essa prática se democratizou. O Egito apresentou uma das primeiras tentativas de balizar o percurso da alma depois da morte. Tratavase de delim itar a morte, de fazer triunfa tri unfarr a vida sobre a morte. Nas tumbas, junto aos corpos mumificados, os egiptólogos encontraram grande número de exemplares do famoso Livro dos M ortos. ortos. Segundo a crença, esse livro indica ao viajante do além as fórmulas que lhe permitem triunfar nas provas que o aguardam antes de atingir a imortalidade. A primeira prime ira noite depois da morte conduz o morto rumo à luz l uz da manhã, após uma jornada que, a exemplo do périplo noturno do deus Rá, tem a duração de doze horas. O livro é um conjunto ilustrado de fórmulas de poder e de cenas cujo objetivo é permitir ao interessado evitar aquilo que ele temia acima de tudo: a segunda morte. Nessa espécie de drama ritualístico, o morto se se vê confrontado confrontado por visões. visões. Um a um, ele se identifica identif ica aos deuses ou ao seu próprio medo de desaparecer, aludindo, assim, à dualidade dua lidade do ser humano. Primeiramente, a alma cruza o portal portal da morte morte que leva ao além. E, então, ofuscada pela “plen a luz do dia ”. Notem Notem aqui que o lugar da luz do dia é, paradoxalmente, o além. A propósito, o verdadeiro nome do Livro dos Mortos é “Saída pa ra a Luz Lu z do D ia”. ia ”. Do mesmo modo, o deus Osfris, soberano desse mundo, porta o título de “Sol dos Mortos”, como se a esfera realmente desejável para o homem fosse esse reino. A alma, alma , ao retomar sua consciência, sente uma atração irresistível por seu corpo, para o qual se volta. Entretanto, as entidades a afastam do túmulo. Ela vai, então, atravessar uma região de
trevas, que a leva, depois de múltiplas peripécias (dentre as quais um combate com a serpente do mal, Apófis), até diante de Osíris, o deus bom e perpetuamente regenerado, que triunfa eternamente sobre a morte. A morada do rei do mundo inferior éAmenti ou ou País do Ocidente. Nesse país, encontrase também o Duat. Um lago de fogo e os campos de fogo que correspondem ao inferno estão situados nele. Ali, o morto glorifica glor ifica Osíris, Osíris , do qual qu al emana ema na um poder extraordinário de redenção e salvação. Osíris é o deus / sacrificado e desmembrado, cuja esposa, Isis, reuniu suas partes espalhadas, dandolhe assim acesso à imortalidade. Tratas Tra tasee de uma espécie espé cie de prefig pre figura uração ção do Cristo. Cris to. Em seguida, o morto comparece ante o tribunal de Osíris, na presença de doze dos principais deuses do panteão egípcio. Na ordem de distribuição, distri buição, são eles: Anúbis, Anúbis , o deus com cabeça de chacal, guardião gua rdião do portal portal e guia dos dos mortos; mortos; Hórus, H órus, com cabeça de falcão, cujo olho é o único que pode contemplar a luz diretamente; Isis, esposa de Osíris, e Néftis, sua irmã; em seguida, Toth, o deus com cabeça de íbis, deus dos escribas e da sabedoria; Maat, deusa da verdadejustiça, com seu emblema, a pluma de avestruz... Quarenta e dois juizes assistem à então célebre pesagem do coração do morto. A estrela desse tribunal (como o leitor já deve ter adivinhado) é incontestavelmente Osíris, Osíris, diante do qual ergu ese a balança da justiça. No topo de seu eixo, zelando, vêse um símio, emblema de Toth. Agora, deixe sua imaginação imaginaç ão transportálo ao Egito antigo, a fim de interpretar os símbolos símbolos.. A pesagem do coração realizarealiz ase na presença de Maat, que representa a lei, a verdade universal e a norma divina. Em outras palavras, a consciência
do morto (uma vez que o coração era tido como a sede da consciência moral) vêse confrontada com as leis e a ordem universais. Um recipiente, no qual se encontra o coração ou Ab, é colocado num dos pratos da balança. No outro está a pluma de avestruz, símbolo de Maat. O coração deve ser mais leve que urna pluma. Não é o que se diz da pessoa que possui uma consciência tranqüila tran qüila,, que qu e ela tem o coração leve? leve? Toth faz as vezes de escrivão; escrivão; ele vai anotar os resultados do julgamento. julgamento . Se o morto morto é julgado julg ado digno, ele consuma cons uma a união uniã o mística com Osíris, identificandose assim com o deus. Deve também pronunciar a confissão negativa de Maat e seus 42 preceitos. A partir desse momento, uma nova vida, feita de liberdade absoluta, começa para ele. Ele percorre o céu, a terra e o mundo inferior, realiza uma viagem em companhia das estrelas, pode se transformar à vontade em diversos animais ou plantas, e se unir aos deuses. A viagem se efetua a bordo da barca do sol. No caso caso em que sua culpab ilidade fique estabelecida, ai dele!, pois é devorado por Babai , o devorador, um monstro com cabeça de crocodilo, corpo de leão e parte traseira de hipopótamo. Em seguida, é lançado no nada, sofrendo a segunda morte. Os egípcios antigos acreditavam que o Livro dos Mortos lhes fora ditado por Toth. Toth. Na verdade, ele contém numerosas e extraordinárias verdades esotéricas, esotéricas, intencionalmente intencional mente veladas aos profanos. O morto declama, por exemplo, a seguinte invocação, tida como capaz de atrair para si a assistência dos grandes deuses: “Eu sou o O ntem, Eu sou o Hoje, Eu sou o Amanhã. Através de m eus muitos nasciment nascimentos, os, Eu perma neço jov em e vigoroso. Eu sou a Alma D ivi na e m ister is terio iosa sa que, que , outro ou trora ra,, cr io u os d euse eu ses s
e cuja essência ocu lta n utre as divinda des do Duat, do Amenti e do Céu. Céu. Eu sou sou o go vern ante do Oriente Oriente,, Senhor das duas duas fac es divinas. Meu esplendor ilumina todo ser ressuscitado que, enquanto passa passa no reino dos mortos po r tran sfonnações sucessi sucessivas vas,, busca penos am ente seu cam inho através da da região das trev trevas. as. Em verd v erd ad e, eu sou so u Rál E, E, em e m cont co ntra rapa parti rtida da,, Rá é eu !"
Alguns Algun s autores acham que esse livro descreve iniciações. iniciaçõ es. Aq ui se acha ach a o elo sutil sut il que une, un e, desde a mais mai s remota remo ta Antiguida Anti guidade, de, a escatologia e a iniciação, iniciação , tanto que a morte foi foi denominad denom inadaa A Grande Iniciação. Por ocasião de sua descoberta descoberta pelos egiptólogos, o caráter quase irracional desse livro levou os a considerálo como um sinal da esquizofrenia de seus autores. E verdade que a abundância de suas imagens, simultaneamente mágicas e mitológicas, consegue chocar a mentalidade racionalista. De fato, fato, ele funciona quase qu ase como um sonho; a maior prova disso é que o morto assume, no drama, várias características característi cas diferentes e contraditórias. Ele descreve, descreve, portanto, um outro modo de se apreender “a verdade”, pela face oculta do real. Não se poderia ver, aliás, em todos os personagens e deuses do drama as diversas faces da mesma pessoa falecida? Cada deus ou neter representa representa um grande princípio ou uma grande força do universo material ou espiritual. Sugeriria o Livro que o morto, morto, depois da passagem, unese un ese a essas grandes forças, forças, num casamento cósmico? A morte, para os egípcios, consistia na separação de três três partes principais constituintes do ser humano: o B a ,
representado na forma de um pássaro e que pode ser comparado à nossa alma; o K a , considerado como o duplo do morto; e o Khat , que representa o corpo psíquico. De dia, Ba assume diversas aparências e, à noite, retorna ao túmulo. As superstições levaram o povo a crer que Ka , cuja tumba era chamada de “a casa de K a”, precisava ser alimentado. Mas a verdade é um pouco mais complicada que isso. Entre Ka e Ba, existe Khaibit, sombra e substrato dos desejos elementares, das paixões animais, dos vícios... (a “lixeira do inconsciente” dos psicanalistas). Em razão de seu estado negativo, Khaibit corre corre o risco de ser destruido, devorado no além. Ele se manifesta sob a forma de um fantasma, o involucro ou a concha vazia dos cabalistas. Acima de Ba, Ba , a alma, vem o espirito santificado {IafyJm ou ou y K h u ). E o atributo do iniciado inicia do que habita os campos da paz na companhia dos deuses, longe dos lugares de perdição. Mais acima ainda, ainda , está Sahu ou o corpo corpo glorioso. glorioso. Redenção da matéria e do corpo material do morto, ele representa o suprasumo da espiritualização do falecido. E assim seria a estrutura escalonada do ser humano. Os egípcios, egípcios, todavia, mencionavam ainda dois princípios muito importantes: o nome mágico ou Ren e o poder mágico ou Sekjiem. Esquecer Esquec er o nome significava meterse em apuros no além. Conhecer o nome de um espirito ou de um deus significava ter poder sobre ele. Iakhu, Sahu e Ren não não correm o risco da segunda morte, pois residem no amago ama go de Osíris. Vale observar que o espirito santificado constitui o produto produto da purificação ritu alística do falecido. Em outras palavras, de sua conduta moral e reta. Assim sendo, para o egípcio de então, determinadas determin adas partes de seu ser estavam sujeitas à segunda morte ou aniquilação,
enquanto outras estavam destinadas à imortalidade. Aqui, estamos bem longe dos dos conceitos atuais relativos à passagem, passage m, que implicam implic am o desaparecimento do ser humano total. Assim, comparemos essas concepções com as idéias relativas ao Julgamento Julgam ento Final F inal nas religiões religiõ es monoteístas. O Apocalipse de João fala de um julgam ju lgamento ento separando os bons bons dos maus, os justos dos ímpios, etc. Se, em lugar de dividir a humanidade em dois campos, considerássemos a possibilidade de o bem e o mal pertencer a uma mesma e única pessoa, então a escatologia tomaria uma forma totalmente diferente. A morte corresponderia então à purificação purifica ção de um mesmo ser, ser, à separação do joio e do do trigo nele mesmo. Para garant ga rantirir a eternidade eternid ade ao morto, os egípcios utilizavam conhecimentos quase mágicos ou técnicos. técnicos. Acreditavase, por exemplo, exemplo, que algumas algum as conjunções astrais contribuíam para rejuvenescer o faraó, faraó, dandolhe dandolh e acesso a uma relativa imortalidade. A prática do embalsamamento visava conservar conservar o corpo, corpo, em vista de sua possível possível ressurreição ressurreição.. Uma outra outra razão razão tinha origem na seguinte crença: para preservar o K a, deviase conservar ileso o cadáver. Antes de sepultar o cadáver, era preciso embalsamálo, pois acreditavase que somente um corpo preparado podia ter acesso às “morad moradas as et er n a s O corpo era primeiro lavado e uma pequena incisão feita no abdômen permitia retirar as vísceras. A massa cerebral era extraída com a ajuda de um gancho introduzido pelas narinas. A caixa craniana era, então, preenchida com com resina líquida. líqui da. Em seguida, o corpo ficava macerando em natrão durante sessenta dias, e depois os embalsamadores untavamno com preciosas substâncias odoríferas à base de ervas e resinas. Por último, envolviamno em bandagens de linho. Na hora de colocar o corpo no túmulo, realizavase o ritual chamado “abertura da
boca”, que permitia ao morto alimentarse no além, mas principalmente recuperar o alento e a fala que davamlhe a chance de alcançar a felicidade eterna. O papiro contendo o texto do Livro dos Mortos era, então, colocado entre suas mãos.
O historiador grego Heródoto explicou que a origem da crença na reencarnação, que pode ser atribuída a alguns gregos (pitagóricos, platonianos, órficos, órficos, etc.), estava no Egito. Alguns estudiosos acham que a fé na ressurreição dos corpos surgiu ✓ 3000 anos depois da crença na reencarnação. E preciso admitir, porém, que as pesquisas atuais dos egiptólogos não permitem confirmar essas afirmações. Com relação a esses aspectos, portanto, temos de nos contentar com a tradição oral e aguardar confirmações futuras.
A Grécia G récia antiga antig a As convicções convicções dos gregos acerca da morte desenvolveram desenvolveram se em duas, senão várias etapas, cujo ponto de junção está situado aproximadame aproxim adamente nte no século 5 a.C. Por volta de 1.450 1.450 a.C., a Grécia foi invadida por um povo ariano vindo dos planaltos asiáticos vizinhos ao mar Negro: os helenos. Desse tronco comum, vieram os aq aqueu ueus, s, os eolianos, depois os dóricos. Esses povos tinham em comum o culto dos ancestrais e do fogo fogo sagrado, que q ue também tam bém é encontrado entre seus primos, os arianos da índia védica. Suas primeiras crenças eram que a alma permanecia perto perto do corpo, corpo, após após a morte. Ela permanecia ligada à sepultura e nenhuma idéia de um vasto mundo subterrâneo havia ainda germinado na mente deles. Os ancestrais, chamados de demônios pelos pelos gregos, depois, lares , pen p en a te s ou ou manes pelos pelos romanos, tinham de ser nutridos por seus descendentes. Alimentados não de forma simbólica, mas
efetivamente, porque a família fam ília derramava leite e vinho no solo. solo. Às vezes, cavavase um buraco ao lado do túmulo túmul o para fazer com que o alimento chegasse até o falecido. Acreditavase, portanto, portanto, que a alma a lma ficava ficava contida na sepultura. sepu ltura. Se porventura porventura uma vítima era imolada, sua carne era queimada a fim de de que nenhum ser vivo vivo se banqueteasse banque teasse com ela. Uma das punições mais terríveis infligidas aos criminosos consistia na privação da sepultura. O povo acreditava que a alma, assim privada de um lugar fixo, perambulava a esmo, aspirando em vão ao repouso, sob a forma de uma larva ou de um fantasma. Não usufruía dos alimentos e das oferendas, e se tornava malfeitora. Os espíritos chamados lares eram considerados deuses. Aquele que tivesse vivido de maneira correta era considerado benfeitor, mas o espírito que fora malfeitor na terra continuava perturbador sob a terra. “Rendei aos deuses deuses manes o que lhes é d evido ;”, ;”, diz o romano Cícero, “eles são homens que deixaram a vida; tenham-nos como seres divinos Os antepassados não deviam ser negligenciados, porque podiam se vingar e atormentar ato rmentar os vivos. vivos. O culto dos dos ancestrais corresponde provavelmente à mais antiga religião do planeta, visto que o encontramos quase q uase que em todos todos os continentes, embora com algumas variantes. Quando o ser humano primitivo pensa na morte, ele a vê segundo aquilo que seus cinco sentidos lhe ditam. Ele associa a alma àquilo que ele vê: o corpo. Daí ele considerar sua segunda existência como estando ligada à do corpo. Muitas vezes ele a associa, mais exatamente, aos elementos imperecíveis do corpo: os ossos, como, por exemplo, no xamanismo. Logo, a alma é aqui considerada como semimaterial.
Do mesmo modo, ao tomar consciencia da morte e de urna possibilidade de imortalidade, a criança muitas vezes associa associa esta última ao local da sepultura. A prática atual de ir aos cemitérios e a necessidade de encontrarse com os mortos num lugar fisicamente circunscrito representam uma sobrevivência desse culto dos mortos. Na Grécia, somente mais tarde, com o desenvolvimento da consciência e a contribuição de iniciados como Orfeu, Orfeu, a noção de uma dimensão dim ensão invisível da existência tomou forma no pensamento humano. hum ano. O culto dos mortos entre os primeiros gregos, assim como entre os arianos da índia védica, estava ligado ao culto do fogo. Vesta, Vesta, Héstia e Agni tornaramse a personificação do altar do fogo sagrado. Tratavase de uma sobrevivência provável e idealizada do respeito quase religioso que o ser humano pré histórico devotava devotava ao fogo fogo vital, civili ci vilizador zador e, finalmente, final mente, moral. moral . O fogo da lareira simbolizava a presença dos ancestrais. Na “Eneida ”, ”, Heitor diz a Eneu que vai dar a ele os penates (ancestrais) troianos. Na realidade, ele entregalhe o fogo da lareira. Em outros momentos, ao invocar esses deuses, Eneu os chama indiscriminadamente de penates, lares ou Vesta. O gramático latino, Servius, Ser vius, explica que havia um costume muito antigo de guardar os mortos dentro das casas e que foi desse costume que os lares e os penates passaram a ser cultuados nas lareiras. As gerações mais antigas dos arianos, segundo Fustel de Coulanges, Coulanges , não tiraram seus deuses da natureza nat ureza física exterior exterior,, mas do próprio ser humano (ou seja, dos ancestrais). Foi somente bem mais tarde que Zeus, Brahma e Indra passaram a ser adorados como divindades externas ao ser humano. Na “Odisséia”, através da narrativa da invocação dos mortos, feita por Ulisses, encontramos um exemplo das crenças
intermediárias entre o primitivo culto dos mortos e a emergência da idéia de um reino subterrâneo. Ao partirem do reino de Circe, Circe, a feiticeira, Ulisses e seus marinheiros precisam viajar viaj ar até as portas do inferno, para ali invocar a sombra do divino Tirésias. Circe indicalhes o caminho a ser seguido, na forma de uma sucessão de passagens iniciáticas: para chegarem ao Hades, precisam atravessar vários rios e outras fronteiras míticas —Aqueronte, Piriílegeton, Stix, Cócito (em alguns textos, textos, tratase do Letes). Ali, têm de cavar um buraco e fazer três libações, de vinho, leite e água, enquanto invocam os mortos mortos.. São aconselhados a sacrificar uma um a vaca, um carneiro e uma ovelha negra. Então, da terra saem as sombras, atraídas pelo cheiro do do sangue. E lhes pedem funerais e uma sepultura sepul tura como a de Elpenor, velho companheiro de Ulisses. Aquiles chama esses habitantes de “povo extinto”. Numa outra passagem, Circe os chama de “cabeças sem forças”. Por sua vez, Tirésias chama o Hades de “lugar “lug ar sem doçura”. doç ura”. E todos todos os mortos mortos atormentam atormen tam Ulisses Ul isses no tocante ao destino dos vivos, como se o ignorassem. Adormecidos, parecem ter fome de informações informaç ões sobre os que vivem viv em sob o sol. Dentre Dentr e os mortos, o iniciado Hércules possui posição especial. Ulisses se dirige à sua sombra, enquanto o verdadeiro Hércules está feliz na morada dos imortais. Vemos aqui a distinção entre a alma e a sombra, à semelhança das crenças egípcias. Hércules, respondendo às perguntas de Ulisses, recorda lhe o último dos trabalhos trabalhos que Oristeu lhe impusera: a captura de Cérbero, o terrível guardião das portas do mundo subterrâneo. Cérbero é um cão de três cabeças. cabeças. Para dominá d ominá lo, Hércules primeiro teve de participar nos mistérios de Eleusis, a fim de se purificar. Em seguida, seguid a, escoltado ao Tártaro por Hermes e Atenas, ele se defrontou com Caronte, o
barqueiro, que o ajudou a cruzar o Stix. Depois de várias peripécias, encontrouse com Perséfone e Hades, os senhores do lugar. Sob a orientação de de Hades, Hércules H ércules conseguiu consegui u enfim capturar Cérbero, usando apenas as mãos nuas. Assim, conseguiu atravessar novamente o Stix, arrastando consigo os despojos despojos do guardião. guardi ão. O décimo décimo segundo trabalho de Hércules Hércul es corresponde a um mito que, que , como aquele aque le do Livro dos Mortos Mortos egípcio, transmite um mapa simbólico do reino subterrâneo e das “criaturas” que o povoam. Pode também descrever uma fase precisa da iniciação do protótipo protótipo do iniciado que Hércules Hé rcules representa. Foi provavelmente graças ao despertar da consciência humana, de sua maior compreensão da alma, que as idéias relativas a um reino invisível e mais vasto apareceram aparecera m na história. Um império sombrio sombrio e vago, situado sob a terra, cedeu lug ar a noções noç ões morais orientadas por uma justiça j ustiça cuja cu ja sanção tanto podia ser o paraíso ou campos elíseos, como o tártaro ou érebo. As mitologias gregas e romanas narram a viagem ao Hades, Hades , empreendida por vários heróis. Além de Ulisses e Hércules, Eneu, Psiquê, Dionisio e Orfeu também tentaram a terrível aventura, e, em cada narrativa, uma lição é passada ao leitor. No mito de Orfeu, por exemplo, o herói herói parte em busca de sua jovem esposa, Eurídice, morta pela mordida de uma serpente. Mas Hades (palavra cujo homônimo significa, de modo eloqüente, invisível) impõe, como condição para a restituição de Eurídice, que Orfeu, seguido de sua amada, em momento algum olhasse para trás a fim de vêla, enquanto não estivesse de volta ao mundo da luz. O infeliz, porém, não consegue resistir à tentação e ousa contemplar aquilo aq uilo que é proibido aos vivos; e perde Eurídic e para sempre.
Como não relacionar essa alegoria com a desventura da mulher mulh er de Lot, cuja história o Antigo Testamento hebreu nos conta ? Quando destruiu des truiu Sodoma e Gomorra, Deus salvou Lot e os seus. Uma única proibição: não olhar para trás durante a fuga, para ver a destruição das cidades. A esposa de Lot quebrou o tabu, ousou espiar o poder divino em plena ação e foi, então, irremediavelmente transformada em coluna de sal. Algun Al gun s escritor escr itores, es, dentre den tre os qu ais ai s o romano roma no Vigí Vi gílio lio , deixaramnos uma descrição exata das crenças dos gregos acerca do reino dos mortos. O império era governado por Hades ou Plutão (que significa “o rico”), cuja cabeça era coberta por um capacete capaz de tornar invisível quem qu em o usasse. Plutão roubou sua companheira, Perséfone, de sua mãe, Deméter, deusa das colheitas. Seus domínios compunhamse de várias regiões, dentre as quais o Tártaro e o Érebo. Desciase até ele por uma estreita passagem que qu e levava à confluência confluênci a do Cócito, Cócito, rio das lamentações, e do Aqueronte, rio das aflições. Um barqueiro, Caronte, levava as almas dos falecidos até a outra margem. Por esse esse serviço, cobrava cobrava um u m preço: dentro da boca, sob sob a língua, língu a, deviam trazer uma moeda, o óbolo óbolo,, e as almas em questão tinham de ter sido sepultadas. Caronte, o velho barqueiro imortal e avaro, as conduzia, então, até o portal do Tártaro, Tár taro, gua rdado rda do por Cérbero, o cão de três cabeças. cabeças . O molosso deixava entrar qualquer um, mas nunca deixava ninguém sair. E também interditava o acesso aos vivos. Em sua chegada no invisível, as almas se confrontavam com três juizes: Eaque, Radamante e Minos. Os três pronunciavam a sentença, condenando as almas aos tormentos ou dandolhes acesso aos Campos Elíseos. Os heróis que foram recebidos vivos vivos no invisível, antes de retornarem à luz do sol, tinham de se banhar banha r nas águas do rio Letes, o rio rio do esquecimento. esqueci mento. Aquele Aq uele
que bebia ou se banhava no líquido maravilhoso era invadido pelo torpor do esquecimento desse mundo espiritual. Mais tarde, Platão, dissertando sobre a reencarnação, usou essa passagem do mito para explicar o esquecimento das encarnações passadas.
entanto, reporta a intervenção do iniciado inicia do Orfeu, oito séculos antes. Foi ele quem preparou o terreno para essas idéias mais tardias, que qu e evoluíram evoluíra m à sombra sombra das antigas escolas de mistérios. Não obstante, cinco séculos antes de Jesus Cristo, começou a surgir a idéia da natureza imaterial ou espiritual.
O Tártaro e o Érebro eram povoados, além das almas dos mortos, mortos, por certo número de habitantes habitante s míticos. As Furias Furi as ou Eríneas, executoras da justiça, puniam os culpados. Tanatos, a morte, e seu irmão Hipnos, Hipno s, o sono, sono, habitavam habitav am o reino de onde os sonhos ascendiam até os homens. Os gregos já sabiam diferenciar entre os sonhos ditos iniciáticos e os outros. Para eles, os primeiros, verídicos, passavam pela porta de chifre, ao passo que os outros, mensageiros, usavam a de marfim. Cronos, o destronado pai de Zeus, governava os Campos Elíseos. Esses constituíam o local de todas as delicias, de onde os habitantes podiam escolher renascer na terra. Não longe dali, ficavam as Ilhas Venturosas. Venturosas. A elas só tinham tinha m acesso os que, nascidos três vezes, mereceram merece ram por três vezes os Campos Elíseos.
O poder dos filósofos aos poucos se impôs na cidade. Um dos que melhor desenvolveu o problema da morte foi, sem dúvida, Platão. O tema situase num ponto central de sua obra, na qual qua l ele aborda os problemas problemas do suicida, da pena de morte, morte, da recompensa po p o st -m o r te m , do julgamento das almas, da reencarnação... Platão, para se exprimir, lança mão do mito, como como o de de Er, soldado deixado para morrer durante doze dias (livro 10 da “República”) . Ele põe em cena os diálogos e faz uso do raciocínio filosófico, como em “Phedo’\ para abordar o problema da alma e de seu destino final. Para ele, a meditação sobre a morte, a própria morte e o prepararse para morrer constituem a missão missã o central do filósofo: filósofo: “Todos Todos aqueles que, no sentido correto do termo, v inculam -se àfilosofia [não têm] outras ocupações senão mo rrer e serem mortos” (“Phed (“Phed o”). o”). Não obstante, Platão, pelos lábios de Sócrates, declarase contra o suicídio e cita uma frase dos mistérios: “Nós, humanos, estamos numa espécie de creche e não temos o d ireito ireito de nos liberar liberar por nós mesmos, mesmos, nem de evadirmo-nos dela ”.
Neste ponto, pode ser útil fazer uma comparação entre os mitos gregos e os egípcios. Neles, encontramos sempre um condutorguardião do reino: Anúbis, com cabeça de chacal, e às vezes Toth, Toth, com cabeça de íbis, no Egito; a dupla d upla Caronte Caront e Cérbero, Cérbero, na Grécia. Algumas vezes, vezes, aparece a figura de Hermes como psicopompo psicopompo ou guia das almas. almas . Nos dois casos, casos, a alma alm a é julgada e enviada ou para o inferno ou para um lugar de delícias. Assistimos aqu i ao despertar da consciência moral nos seres humanos. Os especialistas concordam em aceitar ace itar que foi foi por volta do século 5 a.C. que q ue ocorreu, na Grécia, Gré cia, uma um a oscilação oscilaçã o entre o culto dos mortos, as noções de reino subterrâneo e as idéias mais sutis que acabamos de comentar. A Tradição, no
Mais adiante, adia nte, Platão oferece uma definição filosófica filosófica para a morte: ela nada mais é que a separação da alma e do corpo. Para ele, o corpo contribui para o obscurecimento do verdadeiro conhecimento. Desse raciocínio decorre que esse conhecimento fica inacessível ao homem, por causa da união do corpo corpo com com a alma alm a no curso da vida. E a ele só retorna depois da morte. E por isso que o verdadeiro filósofo filósofo platônico, que q ue faz tudo que é lhe possível para alcançar a sabedoria,
emancipando emanc ipandose se da escravidão escravi dão e da prisão do corpo, corpo, ri da morte. Na verdade, a morte pode realizar suas mais caras esperanças. Essa grande iniciadora darlheá acesso acesso ao pensamento pensamento puro, ao mundo do belo, do bom e do bem, sem cisão (" Phedo”). A morte corresponde, portanto, a uma purificação do pensamento, no sentido dado pela tradição órfica. Em sua demonstração da imortalidade da alma, Platão desenvolveu o tema da reencarnação: " Existe Existe um a velh ve lhaa tra diçã di çãoo a que já fizem os m ençã o: que, daqui, daqui, as almas são são levadas para para baixo (para (para o Hades) e qu e é de lá que, uma vez mais, elas vêm para pa ra cá, na scen sc endo do a p ar tir ti r do s que qu e morr mo rrer eram am ”. Justifica ele, assim, a imortalidade e o nascimento a partir dos contrários. Dos vivos vêm os mortos mortos e dos dos mortos os vivos vivos,, do mesmo modo que qu e o belo vem do feio e o grande do pequeno. Habilmente, ele compara o viver ao estar acordado, e o estar morto ao estar dormindo. Com isso, Platão opõe a morte, na qualidade de estado, à vida. Ele não a concebe como uma passagem, em cujo caso ele a teria oposto ao nascimento. Para ele, o inverso do nascimento reside no ato de morrer. E acrescenta: “Se os vivos produzem os mortos, mortos, logo, destes devem nascer outros homens, sob pena de que, no fim , tudo se congelasse na inércia”. Em seguida, aborda o destino da alma após o falecimento. Aquela que, em vida, sentiuse atraída pelo invisível e pelos valores elevados da vida encaminhase para aquilo que lhe corresponde, “para o que édi vin o, imp erectvel, sábio, para a meta onde, uma vez alcançada alcançada,, po de ela enfim ser feli z ”. Inversamente, a alma que foi corrompida na terra e cultivou somente o gosto pela matéria, o luxo e as posses, ao ponto de nada mais ter como verdadeiro, fica retida na terra e vaga junto aos túmulos. E puxada para trás, para o lugar visível, por medo da região invisível do Hades.
Neste ponto, é tentador abrir um parêntese: na aurora da humanidade, os seres humanos acreditavam que as almas moravam sob sob a terra, junto aos túmulos. túmu los. Ao ler Platão, poder seia perguntar se o nível baixo da consciência de então, que impedia de imaginar dimensões mais sutis, não obrigaria as almas a ficarem, fi carem, depois da passagem, em contato com com o único mundo que elas adoravam: a terra e o corpo que haviam usado. Semelhante atrai semelhante. E Platão prossegue: prossegue: quando as almas renascem, são atraídas para corpos corpos cujos hábitos têm formas correspondentes às suas afinidades —formas de asnos, lobos, falcões e, para outras, formas de abelhas, de formigas; para as melhores, formas humanas; e, finalmente, de deuses, para as mais puras. No Bardo Thõdol, o Livro dos dos Mortos tibetano, também há uma referência a seis possibilidades de reencarnação segundo a existência vivida: ser infernal, ser ávido ou passional, animal, demônio, humano e deus. É difícil determinar se Platão ensina positivamente a metempsicose (o retorno retorno da alma em um corpo animal) anima l) ou se ele se contenta em comparar as qualidades humanas às qualidades animais. Essa comparação comparação entre entre humano e animal a nimal era freqüente nas tribos qualificadas de primitivas, da África ou da América. Cada C ada tribo tinha seu anim a nimal al totem, símbolo da da alma daquela sociedade. Muitas vezes, o próprio indivíduo ocultava um ser interior que podia ser representado por um animal que aparecia para ele em sonhos. Platão, por exemplo, compara o indivíduo indivíd uo que pratica a temperança tempera nça e a justiça apenas por um hábito desprovido de qualquer reflexão filosófica, a uma abelha abel ha ou a uma formiga, em função de sua característica de inseto altamente socializado.
Quando Platão discorre sobre o devenir da alma após a morte, morte, segundo aquilo que lhe era caro caro durante sua estada na terra, será que devemos tomar ao pé da letra suas descrições? No final de “Phedo’\ após sua descrição dos dos mundos do além, além , considerados como terra superior e mundo subterrâneo, ele acrescenta uma valiosa, porém discreta, informação: "Sem Se m dúvida, nada conviria m elhor ao ser que re flete do que querer, querer, com toda sua sua força , q ue tudo isso seja mesmo com o lhe expus”. expus”. Assim, longe longe de ser levada a lugares específico específicoss depois depois da morte, morte, não seria a alma confrontada com suas próprias tendências? Livre do corpo e seus sentidos, nenhuma outra influência externa poderia distraíla de seus próprios impulsos. Disso decorre decorre que a alma inclinada incli nada ao materialismo ou à luxúria seria confrontada com a tortura que lhe acarretaria essa atração centrada no eu e nos desejos. Esses não poderiam mais ser satisfeitos por intermédio inte rmédio do corpo. corpo. Inversamente, a alma orientada para a sabedoria, a virtude e a espiritualidade, que, para serem satisfeitas, nada mais exigem que uma imaginação inspirada, poderia se elevar às esferas etéreas, sem que nenhum obstáculo se opusesse à sua ascensão. A um mundo sombrio e fechado sobre sobre si mesmo, oporseia oporseia o infinito do firmamento cheio de estrelas. Uma condição centrada no medo, na inveja, na possessividade, no ódio, no pessimismo, veria sua antítese ant ítese na alegri al egria, a, no otimismo, no amor, amor, na aspiração, no ilimitado. Veremos que o Bardo Thõdol ou Livro dos Mortos Mortos tibetano aproximas a proximasee dessas noções através de um subterfúgio mitológico. Nos mitos gregos, uma das regiões do Hades denominase érebo. Esse setor corresponde tradicionalmente ao cone de
sombra que a Terra gera atrás de si. Projeção de sua própria sombra em sua jornada ao redor do Sol, esse cone é tido como representando um lugar de férias para as almas presas à terra. Entretanto, devemos ver nele propriamente um lugar ou, antes, uma condição, um estado da alma? A definição do érebo traz em si mesma a resposta. O cone de sombra da Terra corresponde àquele lugar que se desloca junto com o planeta e que nunca vê a luz l uz do Sol; é o local do eclipse da Lua, L ua, da Besta de mil sortilégios. Descreve a condição espiritual dos que rejeitam a luz ou sofrem a sua privação. Assim, a alma, alm a, após sua passagem, passage m, sofreria as conseqüências conseqüê ncias das escolhas feitas na existência, existê ncia, até que o véu das ilusões e dos hábitos de ação e pensamento pens amento fossem retirados, quando então ela atingiria a percepção de sua verdadeira natureza n atureza.. Lá, explica Platão, Platã o, "cada qual [obtém] do Ser proporcionalm ente ao seu m érito”. Em "Phedo’\ ele intensifica sua exposição acerca da escatologia, pondo em cena Sócrates, que acabara de ser condenado a tomar cicuta. Por meio de seu costumeiro procedimento do diálogo entre o mestre mestre ilustre ilustr e e seus discípulos, ele expõe expõe suas idéias idéi as sobre sobre a alma, sua origem e seus fins últimos. Ao térm ino desse discur dis curso, so, narra nar ra a execuçã exec uçãoo e a morte digníssima digníssi ma e plena de mestria desse desse guia extraordinário. Platão parece dizer ali ao seu leitor: “O que te fo i exposto exposto acerca da morte f morte f o i a reflex re flex ão d e um h o m em qu e se sabia c on de na do . E le se apresentou sem medo ante o portal supremo. Mestre na vida, ensinou a imortalidade da alma epartiu c om serenidade, consoan te suas conv icções. Podes, Podes, portanto, co nflar em suas palavras”. Da mesma forma, procedendo por alusões, ele coroa sua obra principal, a "República ", ", com um mito escatológico. A "República” descreve as convicções do filósofo acerca da
constituição de uma sociedade ideal. id eal. Ao término de uma longa exposição, exposição, ele aborda mais u ma vez o tema da morte para talar da lei do julgamento po p o st-m st -m o rt em das almas. Subentende ele que a meta que as sociedades fixam para si mesmas e a orientação das vidas humanas dependem do sentido que os seres humanos dão à morte. Nenhuma coletividade pode desenvolver desenvolver um futuro durável se a alma não é julgada em vista de valores ou leis transcendentes. É o civismo civismo que fundamenta toda realização humana, humana , do ponto de vista laico, e são as virtudes morais que dão o sopro de vida ao civismo. Aquele que dita o direito não pode eternamente esquecer es quecer a moral, sob sob pena de se tornar arbitrário. arbitrário. Se o jurista se contenta contenta com uma leitura puramente jurídica jurídi ca da lei, a lei humana, não se satisfará com ela a longo termo. Aquilo Aqui lo que subentende toda moral tem sua fonte fonte na certeza de que os atos e os pensamentos humanos são pesados em vista de uma justiça jus tiça imánente. imá nente. Por esse motivo, motivo, Platão conclui sua "República ’ com com o mito de Er. Além disso, ele introduz a história por uma dissertação sobre as recompensas que as sociedades reservam aos justos e os castigos prometidos aos perversos. Depois acrescenta: “Eles não são nada, nada, n em p or seu número nem por sua grandeza, grandeza, em comparação com aquilo aquilo que, depois da morte, aguarda o justo e o injusto . Como se o direito cósmico legitimasse o princípio do direito humano. Entre outros filósofos gregos, também Pitágoras foi sensibilizado pelo tema. Longe de considerálo como impróprio ou como a obsessão de uma consciência mórbida, ele aconselhava aos seus discípulos o exame cotidiano da consciência. Ele os incitava a considerarem, antes de dormirem, que cada dia podia ser o último e como como era importante fazerem
um acordo consigo mesmos, para um exame da jornada que findava. Ele foi um dos dos primeiros a estabelecer uma distinção entre a alma e o corpo, e a descrever o périplo desta através da morte, passando por uma purificação que a leva a se reunir à sua família espiritual. espiritual. Mas para ele, a morte física representava o menor dos males. Outra coisa era a morte espiritual. Quando acontecia de um neófito de sua escola de Crotona deixar a comunidade, ou quando um deles traía um segredo do do ensinamento do mestre, mestre, os outros discípulos faziam um túmulo no interior do estabelecimento, como se a pessoa em questão tivesse morrido. O mestre dizia: “Ele está está mais mo rto qu e os mortos, posto qu e retom ou à vida funesta ; seu corpo caminh a entre os homens, mas sua alma está morta; chor em o-la ”. Mais tarde, por volta de 100 anos antes de Cristo, Cícero, o romano platônico, discípulo de Posidonius, um pitagórico, discorreu amplamente sobre o tema. Foi ele quem declarou que “filos ofa r éapre nd er a m orre r”. r”. Para ele, filosofar consistia em liberar libera r a alma dos prazeres, dos afazeres públicos públ icos e privados, e de tudo o que é sinônimo de atividade. Assegurava ele que separar a alma do corpo significava, em última instância, aprender a morrer. Numa obra onde retoma e adapta as idéias de Platão, ele narra a lenda de Cleobis e Bitão, filhos de uma sacerdotisa argiana. Todo ano, ela devia ir até um santuário para participar num sacrifício. Num certo ano, porque a parelha que a transportaria estava demorando a chegar, seus dois filhos fizeram as vezes dos cavalos, atrelandose, eles próprios, à carruagem. carruag em. A sacerdotisa chegou, sem problema, ao santuário, graças ao esforço deles. Rogou, então, à deusa uma recompensa para seus filhos, em razão da devoção de que haviam dado
prova. Pediu que lhes fosse concedida a maior felicidade que um ser humano pode receber de um deus. Depois de sua participação no festim, na companhia de sua mãe, Cleobis e Bitão foram se deitar. Pela manhã, foram encontrados mortos...
As Crença Cre nçass Celta C eltass Não obstante os celtas e seus druidas não terem colocado por escrito suas doutrinas sobre a morte, suas idéias eram conhecidas por todos. todos. A alma é imortal, a vida humana human a continua depois da morte, e a alma simplesmente muda de invólucro. Os mortos vivem uma outra vida no coração de um universo diferente, e tanto assim acreditavam nisto que, segundo os romanos, “os celtas levavam para os infernos ate regisUos de gau leses es eram com ércio e cobranças de dividas . Os celtas e os gaules famosos por seu desprezo pela morte, nenhum vazio se assomando no horizonte de sua passagem passa gem na terra. Para eles, a vida do outro lado do espelho era venturosa, sem inferno nem purgatório. O outro mundo correspondia a um universo paralelo, o Sid, termo que significa paz. pa z. Situavase simbolicamente no extremo ocidente, numa ilha oceanica, la onde o sol se põe. Mas imaginavase também que a ilha estava situada no norte do mundo, sendo a mítica Avalon, o País das Maçãs. O paraíso celta denominavase TirNa No g ou ou Terra da Eterna Juventude. O Sid, mundo perfeito, era geralmente geralm ente descrito em termos que lembram o paraíso dos muçulmanos. Tudo nele é eternamente belo, venturoso, encantador, isento de doenças e pecados. Nele, o leite, a cerveja e o hidromel correm livremente, e jovens mulheres acolhem os que chegam. A barca de pedra transporta os mortos, como o lendário lendá rio Rei Arthur. Elas os fazem atravessar o oceano, fronteira misteriosa entre os dois mundos.
Como a lendária Atlântida, que alguns algun s escritores escritores afirmam ter sido a origem do culto celta, Avalon Avalon é uma ilha il ha situada além do oceano. E o Monte Branco ou Gwenva, em bretão. A Gênese, na forma concebida pelos celtas, fazia aparecer quatro níveis do ser, ser, através através dos quais progrediam as almas em sua evolução. O mais elevado, Keugan ou ou Círculo da Divindade; círculo vazio, infinito, eterno e único, no qual nem os vivos nem os mortos podem evoluir, mas Deus somente. No mais baixo, ou seja, no começo de toda toda existência, achavase achava se Anw A nwn, n, o estado estado da descida no abismo, fonte das almas antes do início de sua ascensão. Depois, a evolução prosseguia em Abred, Ab red, do qual fazia parte nosso mundo. Por fim, fim, vinha o Mundo Branco ou Círculo de Gwended. Este último constituía a meta suprema da existência humana. Alguns Algun s escritores declaram, declaram , abusivamente abusiv amente,, que os celtas acreditavam na reencarnação. Parece, contudo, que a questão seja um pouco mais sutil que q ue isso. Os celtas pensavam, de fato, fato, que o ser humano, após a morte, ocupava um outro corpo ou o seu seu próprio corpo, corpo, mas num outro mundo mun do paralelo, parale lo, que qu e não tinha nada a ver com um reino de sombras. Sua visão era decididamente otimista. Júlio César, como escreveu em sua ”, achava que eles tiravam sua coragem Guerra dos Gauleses ”, dessa convicção. Essa doutrina bem pode ser chamada de termo que, na prática, é mais aplicável na n a língua líng ua metensomatose , termo moderna. O fato, porém, porém, é que a lingua lin guagem gem acerca da morte e seus conceitos está singularmente empobrecida em nosso século. Mais um sinal de visível repulsa. O escritor romano Lucano, dirigindose aos druidas, escreveulhes: “Convosco a prendemo s que o destino do espírito espírito
human o não é o túmu lo nem o reino das sombra sombras. s. O mesmo espírito, em um outro mundo, anima um corpo e, se vossos ensinamen tos são exat exatos os,, a m orte é o m eio para uma long a vida e não o fim" fim" .
Não há aqui aqu i nenhuma nen huma questão de reencarnação reencarnação num corpo físico presente na terra, mas, sim, uma espécie de transmigração da alma para algum outro lugar. No limite extremo, essa crença se aproxima do cristianismo e da noção de ressurreição num corpo glorioso, num reino transfigurado. Isso explicaria por que as convicções cristãs puderam coabitar tão facilmente na Irlanda ou na Bretanha com os antigos costumes celtas. Nos textos irlandeses antigos, praticamente não há nenhuma menção à reencarnação. reencarn ação. No entanto, é justo acrescentar, mais uma vez, que muitos autores acreditam que as crenças celtas sejam parecidas parec idas com as dos pitagóricos. pitagóricos. Na Bretanha de hoje sobrevive um antigo costume: o da macieira. A árvore, cujos galhos estão cheios de maçãs, representa simbolicamente, no Dia de Todos os Santos, a imortalidade. Ela lembra aos vivos os desaparecidos do ano. Evoca também a Ilha de Avalon (Ilha das Maçãs), e o fruto cortado perpendicularmente ao seu eixo faz aparecer um pentagrama, símbolo do conhecimento. Um dos símbolos da FrancoMaçonaria é o pentagrama com a letra G no centro, que significa gnose ou conhecimento. conhecimento. A macieira parece sugerir aqui aqu i que qu e o verdadeiro conhecimento só pode pode ser alcançado no além. Entre os celtas antigos, todo ano, por volta de 1Qde novembro, data do ano novo, as aléias cobertas, os túmulos e
os dolmens coloridos tornavamse os pontos de contatos privilegiados entre os dois mundos. Heranças de uma antiqüíssima antiqüíssim a civilização do neolítico neolítico (os Thuata Thuata de Danann ), esses monumentos estão sempre relacionados aos mistérios da morte e do nascimento. Usados como locais de sepultura sep ultura para os grandes chefes, provavelmente eram também locais de iniciação. Não obstante os arqueólogos terem encontrado tumbas de dirigentes celtas, tudo indica, indica , conforme testemunhos da época, que eles incineravam in cineravam os corpos. corpos. A festa festa do do Ia de de novembro ou Saman, entre os celtas, é outro exemplo do ecletismo ou da capacidade de absorção de tradições antigas de que o cristianismo nos dá prova. Com efeito, foi essa festa celta que deu de u origem orig em ao nosso Dia de Todos Todos os Santos e, em seguida, também ao Dia dos Mortos. Os anglo saxões, saxões, mais fiéis à idéia original, or iginal, criaram c riaram o Halloween , dia em que os vivos se fantasiam de esqueletos, bruxas e outros monstros do gênero. Na verdade, o que se percebe é que a maioria mai oria das culturas cultura s da Terra Terra instituiu um dia simbólic simbólicoo no qual os os tabus tabus relati relativos vos à morte morte podem cair por terra. Os vivos ficam tão lado a lado com os mortos que, mesmo em nossos dias, fazemse comemorações bem floridas que acontecem nos cemitérios, durante um dia e uma noite. Isso Isso é particularmente particular mente notável no México. Em alguns lares, servemse refeições aos mortos, mas o caminho que eles vão percor percorrer rer,, dentr dentroo das casas, casas, é previamente previamente delimitado delimitado através através de flores, flores, a fim de que as raias rai as do racional não sejam transpostas. A Festa Festa de Saman, entre entre os celtas, celtas, deu origem ao Todos Todosos osSan Santos tos cristão, no século 9. Até hoje, nessa data, a cerimônia do leilão das macieiras, em Plougastel Daoulas, simboliza o ponto de contato entre os dois mundos.
Havia uma lenda sobre Dagda , um dos principais deuses do panteão celta. Via de regra, as lendas transmitem uma sabedoria sabedoria e um conhecimento dificilmente transmissíveis de outro modo. modo. O Dagda tinha três filhos, um dos quais chamado cham ado Oengus. Um dia, ele decidiu repartir o mundo subterrâneo entre seus filhos e ele mesmo, mas esqueceuse de Oengus na hora da partilha. Este, Este, aflito com com a injustiça da situação mas ardiloso, o velhaco pediu um favor favor ao ao seu pai. Solicitou q ue ele lhe emprestasse sua própria parte do reino durante um dia e uma noite, justamente durante o período de Saman. Inconsciente do artifício que o faria perder o seu bem, o Dagda aceitou o acordo. Mas chegou o dia em que ele desejou recuperar suas posses e foi ter com o filho. Estupefato, recebeu uma negativa. Oengus lembroulhe que na noite de Saman, período em que os vivos ficam lado a lado com os mortos, no reino onde as sombras disputam com a luz, o tempo, a ampulheta ampulh eta de Saturno, pára. Um a noite e um dia tornamse, então, iguais à eternidade. O Dagda, por causa de sua ignorância e de sua ingenu idade, nunca n unca mais recuperou o seu seu bem. Essa lenda nos oferece um precioso tesouro que pertence, porém, a um outro mundo.
O Bardo Thõdol Thõd ol Seria possível escrever um livro sobre o tema da morte sem evocar, ainda que brevemente, o Bardo Thõdol, traduzido como Livro dos Mortos tibetano? Esse tesouro de texto foi descoberto descoberto no século 14. 14. É o reflexo reflexo de um ensinamento ensina mento mais antigo, atribuído aos mestres do budismo chinês presentes no Tibete por por volta do século 8. Tratase de um livro cuja finalidade é ser lido ao ouvido do morto, morto, a fim de guiálo guiá lo em seu périplo através da morte. O objetivo declarado dessa tentativa visa
libertaro liber taro ser da cadeia das existências sucessivas ou, pelo menos, orientar o espírito para a vida seguinte, da melhor maneira possível. O núcleo do texto dirigese principalmente aos monges que seguem o darma ou ou ensinamento do Buda. Mas os anexos servem para guiar igualmente os laicos. Entretanto, como explicam os próprios lamas, o título da obra não apresenta de modo algum a palavra “morto”. A tradução mais correta seria: a Liberação do estado intermediário através do ouvir; o termo bardo significando “estado intermediário de consciência”. O objetivo objetivo perseguido consiste, portanto, assim como o Livro dos Mortos egípcio, mas com um método diferente, diferente, em orientar o morto para uma libertação pelo reconhecimento da resplandecente luz da verdade. O Bardo Thõdol escolhe o momento privilegiado privilegia do da morte para propor a obtenção dessa libertação, mas não faz uma um a oposição entre a vida e a morte. Para a filosofia budista, nascimento e morte ocorrem para nós de maneira contínua. Existem diversos Bardos e o da morte é apenas um deles. Como explica o lama Govinda: " Ele Ele não nã o éu m g u ia d os mortos mo rtos,, mas, sim , de d e tod o aq ue le que quer vencer a m orte metamorfoseando seu processo processo num ato de libertação Mas a comparação com o Livro dos Mortos egípcio cessa aqui. Se, por um lado, os egípcios vêem na morte o momento de um encontro com os neter ou ou princípios divinos, concebidos concebidos literalmente como fatos, os tibetanos, por sua vez, crêemse confrontados com as ilusões e as potencialidades de seu próprio inconsciente. Assim expressase o texto: “Nob refilho, não tema s quando ela se apresentar apresentar;; porq ue és um corp o-men te, produ to de tuas tuas tendências inconscient inconscientes, es, não podes morrer realmente, mesmo que te matem ou te façam em pedaços". pedaços".
Na verdade, embora o budismo seja inegavelmente uma religião, uma vez que desenvolve formas externas comuns a todas as religiões (escrituras sagradas, um enviado especial, uma doutrina), ele recorre a concepções que se aproximam muito da psicologia. O Bardo Thõdol não foge à regra, visto que se interessa, em primeiro lugar, pelos conteúdos da consciência humana. Isso ele o faz nos termos do budismo mahayana (grande veículo). Em outras palavras, as tendências inconscientes são visualizad visua lizadas as aqui aq ui em formas macrocósmicas, macrocósmicas, simbolizadas por divindades bondosas ou coléricas. Mais simplesmente, a obra dividese em três partes ou estados intermediários que descrevem a experiência pos p os t-m t- m or te m . A palavra “trespassado” faz alusão a esses três passos que o morto deve cumprir. 1) Ele ajuda a reconhecer a essência luminosa do espírito. Quando cessa a respiração externa e o alento de vida aflui no canal central, aparece então a l uz do conhecimento conhecimento supremo, chamada de corpo de vacuidade ou darma \aya. \aya. Essa luz está vinculada vinc ulada a shunyata, o vazio ou naturez n aturezaa profunda profund a do ser. ser. E a mais elevada elev ada experiência experiên cia do Buda ou Ser Se r desperto. desperto. Se o morto morto reconhecer essa luz fundamental como sendo a natureza suprema de seu ser, a qual transcende as ilusões, obterá a liberação. Caso contrário, assistirá a uma experiência de um nível inferior. O texto texto recorre a formulações bem diferentes e eloqüentes eloqüente s para descrever a passagem. Elas traduzem uma concepção, em vários planos, do ser humano cuja consciência emerge aos poucos: “Agora, A gora, eis o sinal d e qu e o ele m ent o terra se transforma no elemento água; o elemento água, água, em elem ento fo ento fo g o ; o ele e lem m en to fo g o , em e m ele e lem m en to ar; e o ele nento ar, ar, em cojisa ência ”. A intervalos
regulares, o lama lembra ao indivíduo que ele está morto, partindo do princípio de que ele pode estar completamente perdido e desvairado, vendose confrontado com sua nova provação. provação. Face a uma consciência cons ciência fragmentad fra gmentadaa e desmembrada, ele lembralhe a necessidade de vigilância e atenção redobradas. redobradas. “Acontece A contece m uitas vezes de se estar angustiado n o mo me nto da morte, a despeito despeito de co m o possa possa ter sido a prática da m editaç ão”. Na realidade, reali dade, a luz perfeita se decompõe em três três princípios: masculino, feminino e mediano, que são a verdade em si, o conhecimento não obstruído e o corpo de vacuidade que corresponde à união dos dois primeiros. Detalhes relativos à fisiología da passagem são dados aqui e ali no Livro: depois da parada da respiração externa, resta ainda um alento sutil no corpo, que pode subsistir por três dias e meio, ao longo do primeiro estado intermediário. intermediá rio. Durante D urante esse período, a mente mergulha no esquecimento. Não obstante, aquele que lê o Livro persiste na tentativa de fazer o morto reconhecer a luz. O mais curioso é que os tibetanos afirmam que o morto ouve aquilo que é lido para ele e que, apesar de ele perder a consciência, as informações info rmações coletadas cedo ou tarde voltarão à sua memória, como acontece no caso dos sonhos. Hoje, a ciência moderna de fato admite que o último sentido que se retira, quando uma pessoa morre, é a audição. Do mesmo modo, aconselhase os familiares a conversarem com as vítimas em coma, uma vez que, embora aparentemente sem consciência, comatosos reanimados costumam relatar tudo o que ouviram. Diversas tradições que não são orientais explicam, como os Tibetanos, que q ue a separação separ ação entre a aJma e o corpo corpo pode levar
de meia hora (o tempo de consumo consumo de uma refeição, segundo o Bardo Thõdol) a três dias. Uma imagem simples permite explicar expli car como um alento alent o sutil pode continuar conti nuar presente no corpo corpo depois da morte morte clínica: basta imaginar imag inar urna jarra. Depois de de esvaziada, sempre ficam algumas algum as gotinhas do precioso precioso líquido, que vão se evaporando lentamente. Sabemos hoje que num corpo abandonado pela alma resta uma espécie espécie de energia vital que continua atuando e que faz unhas e cabelos crescerem. Os jivaros da América do Sul, famosos encolhedores de cabeças, sabem muito bem que nas cabeças encolhidas continuam crescendo cabelos por vários anos, como se uma energia vital, parecida com a das plantas, continuasse a atuar na cabeça reduzida. A observação lúcida e objetiva de um cadáver mostra bem que a vitalidade retirase gradualmente. Primeiro, a tonalidade rosada da pele desaparece, conforme o caso, em algumas horas. Em seguida, o tônus vai enfraquecendo e os traços vão ficando cada vez mais fundos. Esses Esses sinais externos manifestam a retração gradual da energia ener gia vital, cujas form formas as mais arcaicas arcaicas continuarão mantendo algumas funções em atividade. Podese observar que as modalidades da atividade do ser vivo, do do ponto de de vista da decomposição, vão sendo sendo atingidos em função de seu lugar no plano da evolução. As primeiras a desaparecerem são as fases superiores da consciência. Em seguida, vem o aspecto anim al, composto de músculos, órgãos e carnes. Só depois se decompõem os aspectos mais visíveis (unhas, cabelos, etc.), que são os vestígios do estágio de evolução da planta. Por fim, os últimos aspectos que conservam sua integridade são os elementos minerais, ou seja, os ossos e os dentes.
Ao longo dos dias em que o espírito se separa do corpo, muitas tradições explicam que o morto fica vagando junto ao cadáver, cadáver, ele vê e ouve ouve seus entes queridos se lamentando lam entando,, mas que estes não podem vêlo nem ouvilo. Entretanto, esse sofrimento dos familiares atrai o espírito para a terra. E por esse motivo que os tibetanos desaconselham os parentes a chorarem seus mortos. 2. Se, no curso do primeiro estado interm ediário do do momento da morte, a luz não é compreendida em sua verdadeira verdade ira naturez nat ureza, a, surge então o segundo estágio interinter mediário, chamado de “a verdade em si”. Nele, o morto se confronta com com a percepção de suas próprias própri as tendências latentes. N ob re fi lh o , v ê as a s vis v isõe ões s Em síntese, o Livro diz o seguinte: " Nob que se apresentam a ti; elas são a projeção de teus próprios pen p en sa m en tos, to s, p r ec o n c ei to s e fa nt as m as . Elas Ela s m a n ifes if esta ta m teu te u pró p ró pr io carm ca rm a, q u e co rr es p on d e ao co n ju n to do s pen pe n sam sa m en tos, to s, palav pa lav ras ra s e atos ato s q u e mani ma nifes festas tas te na terra. R ec on h ec e que qu e essas visõ vi sões es vêm de ti, e obterás a liberação”. E essas visões, tesouros do budismo mahayana, manifestamse primeiro sob a forma de sete divindades benignas ou pacíficas, seguidas de sete divindades violentas. Sua descrição é carregada de terror, sangue, violência ou, ao contrário, de beleza, compaixão, doçura. O interessado vê luzes e ouve sons, ou percebe raios luminosos que podem lhe parecer aterradores. Os três princípios de verdade, conhecimento e corpo de vacuidade, supracitados, não deixam de lembrar certos aspectos aspectos da cabala hebraica. Aspectos puramen pura mente te psicológicos psicoló gicos do indivíd indi víduo, uo, as sete divindades opostas representam a projeção de estados de consciência positivos e negativos. negativos. Mas a sabedoria aqui aqu i implícita implí cita
revela algo muito mais vasto, ligando o homem ao infinito por intermédio de deuses que estão dentro e fora fora dele. O professor professor C. G. Jung, em seu comentário sobre esse livro, captou perfeitamente seu conteúdo psicológico: “O Bardo Thõdol contém uma filosofia que se dirige aos seres seres humanos e não aos deuses nem a seres seres primitivos. Sua filoso fia é a quintessência da psi p si co lo gi a cr ític ít ic a budi bu dista sta e, n este es te se ntid nt id o, p o d e- se di ze r qu e ela el a é uma reflexão extrema". extrema". Em suma, que é que se passa depois da morte? morte? A intuição nos indica que q ue ela se refere apenas o corpo corpo e que algun a lgunss aspectos da consciência subsistem. Contudo, na ausência do suporte material, com o quê essa consciência sutil poderia ser confrontada senão consigo mesma? O Bardo Thõdol descreve, descreve, portanto, certos aspectos da consciência, desconhecidos dos materialistas. Tão T ão vasta quanto o universo, universo, sua fonte éshunyata , palavra traduzida como “vazio”. Tratase de um vazio rico de imensas potencialidades, simbolizadas pelas divindades benignas e violentas. Tal é o pano de fundo com que o ser humano huma no se confronta em sua morte, e o Bardo Thõdol explica: “Todas essas formas formas são ilusões; procura ver além dela s, busca o absoluto, reali realiza za a união entre o observado e o observador , senão serás atraído por um mundo semelhante às tuas próprias aspirações, para uma nova encarnação de sofrimento”. 3. Caso a compreensão não seja alcançada, alcan çada, vem o terceiro estado estado intermediário, denominado “devenir". Nele, o espírito vai em busca de um corpo; mas ele é dotado de poderes paranormais que permitem que ele se transporte para onde seus desejos estão. Assim como acontece nas tradições grega, egípcia, monoteístas, ele passa por um julgamento no tribunal de Yama , a morte. O gênio bom do morto conta os seixos
brancos, brancos, que representam seus atos positivos, positivos, enquanto enquan to seu gênio mau conta os pretos. Quando tudo está qualificado, Yama é desencadeado, mas também ele é ilusão. O morto, então, é atraído, como nos mitos platônicos, para os reinos correspondentes correspondentes à natureza n atureza de suas ações. Há seis possibilidades de reencarnação reencarn ação segundo o budismo tibetano, a cada uma das quais corresponde uma luminosidade: a terna luminosidade branca dos deuses, a vermelha vermelh a dos titãs, a azul dos humanos, humano s, a verde dos dos animais, anim ais, a amarela dos espíritos ávidos e a cinzenta do mundo dos infernos. O Livro dá explicações de como evitar a encarnação encarnaç ão humana human a ou, pelo menos, como como evitar a encarnação num reino inferior. Mas, neste ponto, uma legítima interrogação parece merecer surgir. O texto texto aparentemente aparentem ente muda mu da de estilo. Seriam as passagens referentes a encarnações nos reinos inferiores acréscimos posteriores ou a deturpação de uma mensagem mais elevada? Que chance de obter a liberação teria um espírito humano encarnado, por exemplo, num cachorro? Um outro animal de sua espécie iria ler para ele o Bardo Thõdol Thõdo l no momento momen to de sua morte, a fim de a judál jud álo? o? Não seria apenas um modo de o clero dominar as consciências, suscitando nelas o medo e fazendo total abstração do princípio de evolução, evolução, patente em toda a Cria ção? O Bardo Thõdol Thõd ol é um livro que se lê ao ouvido do cadáver, enquanto for possível. Mas essa leitura deve ser feita durante quarenta e nove dias. Um lama, então, sentase no lugar onde a pessoa costumava se sentar ou dormir, e invoca seu espírito por meio de uma fórmula sagrada. A constituição do livro
seria o resultado de testemunhos dados por lamas passando pela morte, que teriam transmitido sua experiencia a outros monges, por telepatia. A filos fil os ofía of ía tibe ti be tana ta na ad m ite it e seis se is bard ba rdos os ou est ados ad os intermediários, sendo que somente os tres últimos são vivenciados vivenciado s por ocasião do falecimento. falecim ento. São eles: o estado intermediário interm ediário do reino da existencia, o do do sonho, o da fronteira da meditação profunda, o estado intermediário da morte, o da verdade em si e o do devenir. Assim são descritas todas as fronteiras com que se defronta o ser humano no curso de seu interlúdio consciente. Vemos aqui por que o sono é irmão da morte, por que a prática da meditação prepara para a boa morte, como o nascimento e a morte representam dois portais opostos do mesmo mundo. Observar um deles significa, sem dúvida alguma, obter informações sobre o outro. A morte morte representa um tema familiar para o monge tibetano, tibetano, uma vez que, segundo o Dalai Lama, ele pratica diariamente uma meditação sobre ela. Mircea Elíade reporta igualmente que “a meditação sobre a imagem de seu próprio esqueleto ou diversos exercidos na presença d e cadáveres, cadáveres, esqueletos e crânios d e se se m p e n h a m u m p a p e l i m p o r t a n t e ". ". Tratase de tomar consciência da impermanência e da fragilidade de toda encarnação. Romper com o ciclo das existências dirigidas pelo carma e retirar o véu de Maya, a ilusão da vida cósmica, são os eternos objetivos do budismo tântrico que se pratica (ou se praticava) no Tibete. Os tibetanos possuem conhecimentos muito exatos no que concerne aos sinais externos da passagem: à aproximação da morte, a pessoa percebe o peso de seu corpo mais fortemente
do que o habitual, sente ressecamento na boca e nos lábios, o calor abandona seu corpo e o espírito se ensombrece progressivamente. Quando a vitalidade vai embora, o espírito entra numa luz branca parecida com o nascer do sol. Em seguida, a obscuridade envolve a consciência que se desvanece. desvanece. A respiração externa cessa. Assim como determ d eterminadas inadas fases fases alquímicas, a consciência passa aqui do negro ao branco e depois ao ao vermelho, antes de merg ulhar num n um sono relativo que precede os três passos entrevistos anteriormente. Mas a própria atitude do cadáver ensina os observadores. Os calores que deixam o corpo começando pelas pernas e retirandose para a região do coração, são o sinal de uma u ma morte serena. Se o moribundo fica crispado, crispado, empedernido, empedernid o, os calores do corpo corpo deixam primeiro a cabeça e a parte superior superio r do corpo, corpo, antes de ir para o coração, e isto é indubitavelmente, segundo os tibetanos, o sinal de um falecimento infeliz. Esses sinais permitem, inclusive, prever se a encarnação seguinte será favorável ou não. Alexandra Alexandr a David Neel, em suas anotações anotações de viagem, relata que os tibetanos (ao menos os os do início do século 20) prestam muito pouca atenção atenç ão ao cadáver. cadáver. Os ricos, que podem pagar pag ar o preço da madeira, madei ra, são queimados queima dos sentados sobre sobre ela. Algumas partes do corpo corpo podem ser guardada guar dadas, s, como os crânios. Servirão Se rvirão depois como copos, que os monges usarão para beber nas cerimônias cerim ônias ou mesmo como utensílios utensíl ios de baixelas para os iogues das seitas tântricas. Os pobres, que não dispõem de meios, são jogados aos lobos ou às aves de rapina. Danças em honra de Shiva podem ser realizadas usandose esqueletos. Tudo isso descreve a impermanência de todas as coisas sob o sol. A roda das existências prossegue na insensatez dos seres humanos que
investem na busca de de mil quimeras. quim eras. Esse almeja a fortuna, aquele aquel e a conquista, aquele aq uele outro outro o amor de um outro ser humano. Que importa esta existência, aos olhos de uma outra realidade? O budismo explica que qu e tudo isso é a caça de ilusões do do indivíduo que se compraz na sensação. Aquele Aque le que qu e deixou de ser tolo situase, como um observador, acima das sensações. Todas Todas essas imagens imag ens da morte mostram ao leitor ocidental que os tibetanos têm um ponto de vista diferente do nosso. Sua vida e sua psicologia não se desenvolvem desenvolvem a partir das mesmas condições. E a própria Alexandra David Neel relativiza esses costumes, cujo verdadeiro verdadeiro significado alguns tibetanos conhecem apenas bem pouco: pouco: “Uma “Uma noite, para satisfazer satisfazer e com prazer a um amigo tibeta tibetano, no, d egustei dois dedos dedos de cerveja de m ilho servida servida num crânio, à guisa de comunhão tântrica e de brinde ao grande Padmasambhava, Padmasambhava, mas não tran sformei isto num hábito. Tudo isso isso é tão pueril em seu ingênuo esforço para para parecer terrível!”
A índ í nd ia Assim como na Grécia, as concepções indianas indi anas acerca da morte evoluíram ao longo da História. Os Vedas, textos dos primeiros arianos, faziam pouquíssima referência ao tema. Entretanto, sabemos que suas idéias eram bastante parecidas às do culto dos ancestrais. Mesmo Mes mo hoje, as práticas relativas ao uso do fogo fogo sagrado continuam tradicionalmente tradicionalm ente em atividade. Por ocasião do falecimento do Mahatma Mahatm a Gandhi, G andhi, por exemplo, exemplo, a chama que acendeu sua pira funerária foi acesa no fogo do seu próprio fogão. Mas as concepções mais elevadas da índia podem ser descobertas nos Upanishads, textos compostos entre o sexto e o quarto século antes de Cristo. Mais próximo ainda do pensamento pensamento indiano atual, o Bhagavad-Gita contém contém algumas
informações valiosas. Começaremos, porém, citando algumas passagens do Mah epopéia particularmente p opular M ahab abha harat rata a , epopéia na índia. Depois da morte de seus cem filhos durante o combate contra os heróis Pandavas , o rei Dhritarashtra é é consolado por um sábio, nos seguintes termos: "O que é criado acaba sendo destruído, o qu e se eleva eleva v olta a cair. A un ião iã o traz t raz a separ sep araç ação ão,, a vida vi da traz a m orte. or te. Heróis e covardes, tod os estão destinados à morte. Qu ando an do a hor h oraa vem v em , nã o se esca es capa pa a ela. No co m eç o , as a s cria tura tu ra s são não -ex istent ist entes, es, Em se guid gu ida, a, passa pa ssa m a existir, Depois do quê, retoma m à não-existên não-existência. cia. E isso m otiv ot ivoo para te afligire afli gires? s? Acaso a afliçã afli çãoo levar-te-á levar- te-á aos morto mo rtos? s? A m o rt e não nã o odeia od eia , não n ão ama, a ma, não nã o p ou pa ne m m esm es m o os o s deuses. deu ses. A vida vi da é um a car c arav avan an a c u jo de stin st in o é a m orte. or te. Não fi q u e s a fli to p ela el a m or te do s herói he róis,s, As esc rit uras ur as d est inar in ar am -nos -n os a o paraí pa raí so. O temp o não poupa ningu ém. O temp o cria, cria, O temp o destrói, destrói, nada perdura ex ceto o próprio tempo. O corpo é co m o um a casa, casa, diz o sábio: ele se deteriora. deteriora. Uma Uma só coisa coisa é eterna. eterna. Da Da mesma form a com o o hom em Tira Tira uma roupa velha ou nova e veste uma outra, O atman se desfaz desfaz de um co rpo e tom a um outro. E o ca rm a qu e traz tra z a ale a legr gria ia ou a tristez tri steza. a. Qu er de se jem je m o s ou não, não , Vivemos Vivemos segu nd o nosso carma. Algun Al gunss m o rrem rr em ao nascer, nasce r, outro out ros,s, no p ri m ei ro dia, Algun Al gunss ao c ab o d e qu inze in ze d ia s... s. ..
Algu A lguns ns jo ve n s, ou tros tr os ad ult os, ou tr os velh ve lhos os.. Seu carma determina tudo. Assi Assim m o mundo éf eit o. De que adianta afligir-se?”
Aqui, Aqu i, vemos apontar as doutrinas fundam entais da índ í ndia: ia: a doutrina de atman , a alma individual mas inseparável de Brahman, a Alma Cósmica; a idéia da reencarnação, da qual o budismo se apoderou mais tarde, com algum as modificações; modificações; e, finalmente, a doutrina do carma, a justiça universal que sanciona os atos bons ou maus do ser humano durante sua vida.
reinam odores nauseantes, cadáveres em decomposição, espíritos sugando sangue. Um verdadeiro inferno, simplesmente. Então, Yudhishthira , invadido pela compaixão (certa vez ele se recusou a livrarse de um cachorro), anun cia q ue prefere ficar nesse lugar para reconfortar seus irmãos. Como que por milagre, o véu da ilusão se dissipa; sua extrema compaixão, o esquecimento de si mesmo, abre lhe a porta do paraíso. Então, os deuses e mesmo seus irmãos e parentes surgem diante dele, resplandecentes de luz. Explicamlhe que seus atos bons propiciaramlhe o acesso à imortalidade. ✓
Segundo a filosofia indiana, “dois pássaros (a (a alma suprema e a alma individual), sempre un idos e de nomes iguais, iguais, moram (o corpo); um (a alma individual) desfruta os na mesma árvore (o doces frutos da figueira; o outro (a alma universal) contempla com o uma testemun testemun ha” (wetaswatara (wetaswatara Upani Upanisha shad) d) Há também o ego transitório em perpétua transformação, o ji ji v a , que é uma emanação da alma individual. Na morte, a alma vai para um paraíso ou para um lugar sombrio. sombrio. "Sem sol, assim são os mun dos env oltos em cega s trevas, trevas, para onde, partidos daqui, vão todos os ) que assassinam sua alma”. (Isha Upanishad No que concerne o paraíso, o Mah põe em cena a M ahab abha hara rata ta põe chegada chegad a de um dos cinco heróis Pandavas, Yudhishthira , a esse lugar de imortalidade. Mas antes de sua admissão, sãolhe apresentadas as ilusões. ilusões. Primeiro, seu principal e único inimigo lhe é mostrado, o qua l, para gran de escândalo de Yudhishthira , havia sido, ao que parece, admitido nesse reino de delícias. Mas nosso herói não se deixa impres sionar; insiste em ver seus seus próprios irmãos. E, então, levado a um lugar sombrio onde
Os sábios da índia sempre se debruçaram sobre a questão da morte. A Katha Upanishad explica explica que a reflexão sobre a morte constitui um summum bonum. A Nachif^ê Nac hif^êtas tas , que o interroga sobre a questão dos fins derradeiros do ser humano , Yama , o deus da morte, primeiro se recusa a responder, advertindo que a natureza da resposta é sutil. Depois, diante da insistência do buscador, buscador, explica que há uma diferença entre o que é bom e o que é agradá vel. O ser humano terreno busca tãosomente o agradável, per perseguindo seguindo a satisfação dos sentidos. sentidos. Ele, Nach N ach ikêta ik êtas s , escolhera o que é bom, uma vez que estava ávido de ciência. Ensinoulhe, então, que a alma dotada de ciência não morre nem nasce; não é morta nem mesmo quando o ccorpo orpo é morto. morto. No momento da passagem, passa gem, as almas alm as supremas suprem as e inferiores recebem a recompensa de suas obras e entram na caverna, a morada da alma suprema. E o lugar das trevas ou da luz do sol. a
Mas especificase que “aquele qu e com preend eu a natureza natureza de Brahman, que é desprovido de sentido, sentido, de fo fo rm a , e d e ta to; to ; qu q u e não diminui, q ue é eterno, qu e é d esprovido de sabor e de odor, odor,
que não tem tem n em com eço nem fim ... escapa escapa à boca da morte". Inversamente, aquele que é desprovido de de sabedoria não chega à meta, mas desce novamente ao mundo.
. O triunfo da morte, segundo segund o os Upanhishad, reside no medo que ela inspira. Mas a vitória sobre ela e a obtenção da imortalidade dependem do conhecimento conhecimento da natureza n atureza real da essass duas alma. "Con hecimen to e ignorância, aquele que con hec e essa coisas ao mesmo tempo, pela ignorância transpõe a morte, pelo conhecimento desfruta da imortalidade". A morte é o produto Para o hindu, o da distinção que o espírito faz entre as coisas. " Para que está aqui está está também lá, lá, e o que está lá está está também aqui. Vai da morte à morte aquele que vê a diferença". A morte é considerada como como o resultado resultado da Criação, em sua dualidade. dualid ade. Numa espécie de gênese, explicase: ‘‘Ele for m ou um desejo: fa ç a -s e um ou tr o eu -m es m o í Atra A través vés d e se u esp írito ír ito,, e le cr io u a pa la vr a; e le cr io u a un ião, iã o, isto ist o é, o devo de vora ra do r, a m o rt e" . Da semente da morte brota o tempo. tempo. No Brhihda Aranyaka Upanishad , um combate opõe os deuses aos demônios. Os primeiros pedem ajuda à palavra, à respiração, ao olho, ao ouvido e ao espírito. A cada vez, os demônios os pervertem, fazendo aparecer o pecado na ação dos deuses, ou seja, a paiavra má, os odores e as cores desagradáveis, as idéias falsas... Então os deuses pedem socorro à vida. Ela triunfa sobre os demônios e dissipa o pecado dos deuses. Esse pecado é a morte, e a vida, que triunfou sobre a morte, salva a palavra e a transforma em fogo; depois, salva o olfato e o transmuta em vento. Prossegue com o olho, que se torna sol. O ouvido transformase em regiões (o espaço?) e o espírito, a lua. Como no cristianismo, morte e pecado estão aqui interrelaciona interrelacionados. dos.
Em outros textos, explicase que, quando o pai está morrendo, ele instrui seu filho a propósito da natureza de Brahman. Depois, quando o pai sai do mundo, ele entra na vida de seu filho. A vida do filho dá continuid con tinuidade ade à do pai e, por isto, o pai não deve ser visto como morto. Assim, para os textos sagrados da índia, triunfar sobre a morte é unir seu espírito ao ilimitado, sobrepujar o egoísmo e compreender que a essência da vida é universal e sem fim. O Bhagavad-Gita , um dos mais comentados textos da índia, também fornece informações valiosas sobre a compreensão desse povo. povo. Ele põe em cena o diálogo entre o guerreiro Arjuna, um dos Mah abharata, rata, e o condutor de heróis do Mahabha de sua carruagem ca rruagem,, o divino Krishna, encarnação do deus Vishnu. Num dado momento do Arjuna pede diálogo, Arjuna pede ao seu instrutor para llhe he mostrar sua forma divina, aquela sob a qual nenhum ser humano jamais o contemplara. Krishna , então, mostralhe uma forma feita de doçura, amor, amor, compaixão e luz. luz . Essa é sua forma de criador e de reconciliador, a qual terrífica e fascm fas cmaA aA tjun a. Depois, mostralhe sua face sombria: a do destruidor. Essa é a face do espírito do tempo, tempo, o destruidor dos mundos, a morte. morte. Mas aqui aqu i a sabedoria da índia rapidamente pressentiu que esse aparente horror representava a forma de corroborar um desígnio mais vasto. Ele é o destruidor que destrói destrói os destruidores: o mal, a ignorância ign orância,, que incessantemente estendem seus véus de trevas. A esse respeito, Sri Aurobindo, o grande místico indiano, assim comentou o Bhagavad-Gita : “O nom e e a presença do Divino têm qualquer coisa coisa que verte no coração do mundo o contentamento e a alegri alegria. a. E o sentido profu ndo que tem os disso disso que nosfaz ver, ver, na fa ce sombria d e Kali, Kali, a fa ce da Mãe, Mãe, e perceber, perceber, n o âm ago da destruição, destruição, os braços pro tetores teto res do am igo das criaturas; no âma go do mal, apura pur a e inalteráv inalt erável el bondade; no âm ago da morte, o m estre da da imortalidade". imortalidade".
O Bhagavad-Gita divide a humanidade em três grandes grupos, cujos membros são governados por determinadas tendências chamadas sativa, rajas e e tamas. Sattva corresponde corresponde à busca do conhecimento conhecimento e da iluminação; iluminaç ão; rajas , à inclinação aos desejos que levam a perderse na ação; tamas tem tem a ver com a ignorancia, a negligência n egligência e a ilusão. Depois Depois da morte, morte, cada uma dessas tendências corresponde a um determinado apego que levará o ser humano a se reencarnar. Se, na hora da dissolução, o ser humano tem sattva dominando domin ando sua consciencia, ele volta ao mundo sem mácula dos que contemplam os princípios supremos. Se rajas predomina, ele se reencarna entre seres obcecados obcecados pela pela ação, pela agitação, pela ganância. ganân cia. Quando Qua ndo tamas é o pólo de interesse, ele retorna num ambiente cercado de obscuridade. Mas se a alma alm a elevase acima aci ma desses três três modos de existência, ela se liberta de toda sujeição ao nascimento e à morte. Não passa mais pelas vicissitudes do tempo, da velhice e da doença, e atinge a imortalidade. Ao lado dos dos conhecimentos filosóficos desse desse povo, povo, existem costumes que mostram o pouco apego que eles sentem pelo corpo abandonado pela alma. A prática da incineração e “moeda corrente” nas margens do Ganges e em outros pontos do país. Mas a cidade de Benares, cortada por esse rio tido como particularmente sagrado, é o lugar preferido para terminar uma vida. Multidões de idosos e doentes de ambos os sexos vão para lá a fim de esperar a morte, por dias a fio... ou mesmo anos, com o objetivo objetivo de de morrer ali, naque n aquele le ambiente ambi ente santo. Enquanto o comum dos mortais é queimado nas plataformas crematórias, os seres considerados santos ou os recémnascidos têm o corpo jogado, intacto, no próprio rio. Não é raro ver ali cachorros cachorros agindo como chacais e se lançando sobre os cadáveres que chegam perto das margens.
Ali, a morte não é escondida, ela faz parte do do cotidiano. Os Os cortejos atravessam as cidades, acompanhados pelo ritmo de tamborins. As plataformas crematórias crematór ias servem a todo mundo, a tumba é provisória, mas guirlandas de flores são colocadas ao redor de bastões de madeira; flores, claro, como símbolos de imortalidade. imorta lidade. Antes de ser incinerado, incinera do, o corpo corpo é lavado e depois depois envolvido com seu.ozn ou com seu dhotti. Em seguida, se guida, é coberto coberto por um véu azul, azu l, para os homens, e vermelho, para par a as mulheres. Após Após a cremação, as cinzas são jogadas no rio. A imersão na corrente do rio traz uma promessa de imortalidade. É o melhor meio de entregar o corpo corpo à natureza. De vez em quando, quando , pouco antes da incineração, o crânio do defunto é quebrado a fim de permitir que, segundo a crença, a alma escape. escape. No Ocidente há uma fascinação pelo corpo. corpo. O ser humano está integrado ao seu corpo. Eis o porquê de, nos ritos funerários, cuidarse tanto desse invólucro. No Egito, embalsamavase o corpo, futuro suporte de uma esperada eternidade. Nos Estados Unidos, hoje, assistese a um ressurgimento dessa prática, mas chegandose ao ponto de expor o corpo, embalsamado e maquilado, sentado numa poltrona, fumando um cigarro! E preciso conservar, da pessoa, tudo o que se possa, pelo maior tempo possível. Na Europa, a profissão de tanatopraticante é relativamente recente. Quando a questão é tornar apresentável aos familiares um corpo corpo desfigurado por um acidente, não há o que criticar; tratase de compaixão. O corpo sem vida e acidentado tornase muitas vezes sinônim o de deformidade insuportável. Mas, aos poucos, a profissão tende a se desviar para a prática comercial do embalsamamento sistemático. Contudo, embora seja difícil colocarse acima de sua cultura, convem observar, observar, com com lucidez, lucid ez, que q ue nossas reações de rejeição
face a um corpo morto representam os frutos da semelhança que estabelecemos entre esse corpo e o individuo. individu o. Para nós, o corpo é a pessoa. No extremo extremo oposto, oposto, a índia índ ia negligenc negl igencia ia esse mesmo corpo, corpo, já que ele não passa de uma concha vazia que pode ser jogada como pasto para animais. A alma, ou seja, a realidade do ser humano, alçou vôo. Embora o Egito embalsamasse seus reis mortos, não há nenhuma certeza de que os iniciados antigos aceitassem esse procedimento. A posição dualista de Platão, que foi iniciado no Egito, provavelmente proibia todo exces excesso so de culto ao corpo morto. Demonstrar veneração pelo corpo, pela tumba e por todas as formas materiais que pertenceram ao defunto defunto eqüivaleria eqüiv aleria não a negar sua morte, morte, mas a considerar o desaparecimento das formas materiais como um fim total e definitivo. A esse desaparecimento, a experiência mostra que as sociedades procuram se opor, opor, mantendo as formas em bom estado, pelo máximo de tempo possível. Há, no entanto, um caso em que o objeto objeto material materia l pode ser útil; é quando ele permite manter viva a memória da pessoa. pessoa. As com emo raçõ es an u ais, ai s, as fotog fot ograf rafias ias,, os obje objetos tos de recordação, preenchem assim uma função de imortalidade na memória memór ia dos vivos. Tudo depende depend e da compreensão das pessoas envolvidas e de sua atitude mental. E possível ligarse a um objeto tanto como se ele fosse o próprio morto ou simplesm sim plesmente ente como representando uma imagem dele. Em cada um dos casos, a atitude assume um caráter diferente, gerando conseqüências diferentes. Ainda na índia, uma outra cultura reserva reserva um final diferente diferente para o corpo. Os parsis pa rsis,, sobreviventes da antiga religião de
Zoroastro, constróem as “ torres do silêncio”. Nesses monumentos a céu aberto, os corpos ficam expostos à avidez dos pássaros de rapina e à agressão dos elementos. Quando um doente falece, um de seus amigos vai buscar um cachorro. Quanto mais perto do corpo corpo o animal chega, considerase q ue mais o morto se aproxima da felicidade; felici dade; ao passo que se ele se mantém afastado, isto é visto como um presságio desfavorável. Como no Egito antigo ou na Grécia antiga, o cão continua sendo um símbolo associado à morte. Nessa religião do fogo, o inferno não é considerado como uma fornalha, mas, sim, como um lugar úmido e sombrio.
Crenças e ritos africanos /^
A Africa é hoje hoje uma terra terra onde todas todas as as concep concepções ções da morte morte coabitam. As idéias de sobrevivência, imortalidade e reencarnação expressamse ali das mais diversas maneiras. Mas no que diz respeito a esse continente, é útil ser prudente ao se apresentar seus costumes. Tanto pior para o espírito de exotismo, exotismo, mas os próprios africanos explicam que as práticas, hoje, perderam muito de sua força. A sociedade consumista ocidental está causando ali devastações que provocam uma espécie de aculturação selvagem. Tudo o que se segue corresponde corresponde a casos ideais de culturas. O culto dos ancestrais é o ponto comum das maioria das etnias animistas. Aliás, algumas práticas africanas muito interessantes podem nos dar algumas informações sobre as dos Pais da Europa, os gregos e os romanos, na época em que estes compartilhavam o culto dos manes. Sabemos, por exemplo, que o ancestral grego tinha de ser alimentado e mimado, sob pena de vir perturbar pertur bar os vivos vivos e lhes trazer a morte ou a doença.
Do mesmo modo, entre os bantos africanos, africanos, o chefe da familia é enterrado na casa e um tubo liga a superficie do solo à sua boca. A familia pode, assim, fazer chegar até ele bebidas, comidas e até pitadas de tabaco... Atualmente, o ato de nutrir tornouse uma prática simbólica na Asia, onde a familia famil ia coloca um pratinho guarnecido sobre o altar dos ancestrais, mas originalmente essa ação era real, como se constata na Africa. No culto dos ancestrais, o morto é considerado como fazendo parte de um mundo paralelo ao nosso. Para os fa n g s do Gabão, os que cometeram o mal vão "errando na noite, sofrendo e chorand o, pois serão encerrados no Otolane, Otolane, a morada os bons, ficam nas cidades malévol malévolaa onde só só se se vêem m isé ria s Já os e voltam para junto daqueles que conheceram e amaram, inspirandolhes sonhos agradáveis e aconselhandoos. Ensinam Ensina m como viver por mais tempo, como se tornar rico, ter esposas fiéis e muitos filhos. Os vivos precisam conquistar as boas graças dos mortos, para não sofrerem a desagradável irrupção desse universo em suas próprias vidas. O duplo do morto é temido; por isto, costumase cortar seus membros ou decepar sua cabeça, para impedilo de vir assombrar os vivos. Em certos casos, ele é enterrado longe da cidade e rituais mágicos são realizados para p ara mantêlo à distância. Não apenas a África procura se proteger da sombra dos mortos; os chineses, que são muito supersticiosos, explodem bombas, por ocasião de um falecimento, fal ecimento, para afastar os maus espíritos. Apesar de desconfiar da sombra, o africano recorre recorre de bom grado ao ancestral em caso de de problema. Uma U ma vez que qu e Deus é considerado como estando muito distante do mundo e dos
interesses humanos, é preciso, então, dirigirse a intermediários. Os ancestrais estão lá para cumprir essa função mais próxima do humano. Essa necessidade de medição é encontrada por todo o planeta. As elevadas concepções de Deus ou as filosofias filosofias em geral não satisfazem as populações, que reclamam elementos mais compreensíveis, que tenham relação com seu cotidiano e suas necessidades afetivas. O culto dos santos no islã chiita ou no catolicismo traz Deus para mais perto do ser humano. Muitas pessoas preferem orar à Virgem Maria, que lhes parece mais h uman a do que o Cristo, envolto envolto em sua suprah umanidade. uman idade. A necessidade de relacionamento com o ancestral pode ser considerada desse modo, modo, o que não exclui uma possível comunhão verdadeira. Na África, o luto é feito em branco e alguns chegam até a cobrir o corpo com uma argila branca, para simbolizar o mundo luminoso a que pertencem os ancestrais. Entre os bantos, interrompese toda atividade sexual durante esse período. Gritos, danças e cerimônias sucedemse por vários dias, afirmando o contraataque contraataqu e das forças da vida à morte. Ela é sinônimo de corrupção, de pecado. Um ritual de purificação permitirá, então, que os casais se unam novamente, algumas semanas depois do falecimento. Nessa ocasião, a muiher pega a semente do homem em suas mãos e a usa para limp ar o pecado. pecado. A morte como como que suspendeu o direito à vida. Por esse rito, o poder soberano da reprodução é restabelecido, a vida pode continua cont inuarr por tudo e contra tudo. Constatase aqui a evidente ligação entre Eros e Tanatos, pressentida no campo da astrologia, como também na psicanálise. Há uma u ma relação dialética dialé tica sutil suti l entre as força forçass da geração e as da destruição, representadas simbolicamente por esses ritos.
A origem ori gem da morte, mo rte, segun seg undo do as etn ias, ias , viria vir ia de um a desobediencia às ordens do Deus supremo. Entre os dogões, a morte tornouse fato quando o homem adquiriu a palavra articulada. Assim, com o início da civilização e o acesso progressivo à autoconsciência e à linguagem articulada que lhe é concomitante, a consciência da morte tornouse fato para o ser humano. Mas os dogões explicam também que o ser humano é o reflexo do universo, e viceversa. Podemos, então, estabelecer uma relação entre a palavra humana e a Palavra macrocósmica, o Verbo de São João. A morte é o produto da palavra, ou seja, é o produto do ato criador. Não pode haver criação sem a dimen são do tempo, que permite seu desenrolar. desenrolar. No mito grego, Cronos, o tempo, é o pai dos deuses. Ele apresenta o incômodo hábito de devorar seus filhos, à semelhança do tempo, que é o responsável pela morte das criaturas. Um de seus filhos, Zeus, vai depois destronar seu pai e lançalo lanç alo nas regiões inferiores. Acontece Acontece que, no mito, os os deuses —ou —ou o reino espir es piritua ituall —são preservados preservado s da morte, mor te, que pode causar estragos somente na terra. A imortalidade é possível, pois o tempo não mais atua sobre a Palavra primo rdial. Esse mundo de forças invisíveis irrompe na vida dos africanos, na ocasião de um falecimento, por intermédio das sociedades mascaradas. Dan ças e rituais são então conduzidos por homens pertencentes às sociedades secretas africanas. Esses indivíduos ocultam sua identidade, que deve permanecer desconhecida, sob máscaras. Essas simbolizam o morto, os ancestrais e as força forçass espirituais da n atu rez a... seus jogos jogos têm têm por objetivo ajudar o morto a ser vitorioso em sua passagem. De enorme importância em todo o continente africano, esse emprego da máscara está presente também em todo o continente americano, amer icano, entre os índios. A própria própria Europa antiga usava a máscara para estabelecer essa relação entre os dois
mundos, dos quais a morte e o nascimento representam os pontos de passagem. A comm edia deli 'arte italiana, de certo 'arte italiana, modo foi a distante herdeira dessas práticas. Por razões financeiras ou ritualísticas (se alguns objetos do ritual desaparecem, é necessário obtelos ou fabricálos de novo), os funerais podem ter lugar vários anos após o falecimento do indivíduo. Um boneco boneco representando sua figura é então exposto aos olhos de todos. Durante oito dias, é proibido pronunciar o nome da pessoa. O nome está associado à individualidade. No Egito antigo, esquecer o Ren Re n ou nome mágico era sinônimo de estar correndo correndo perigo; analogamente, an alogamente, a perda do nome, para o africano, provoca a perda do fluxo vital. Essa importân imp ortância cia ligada liga da ao nome n ome parece sugerir sug erir que a morte morte corresponde corresponde a uma transformação da in dividualidade. dividualida de. Muitas outras culturas poderiam ser apresentadas. Mas os pontos principais foram abordados, alguns, aliás, por intermédio de uma única cultura, uma vez que são comuns a várias. A tabela que se segue apresenta apres enta algun al gun s dos pontos pontos mais evidentes, evidentes, sem, todavia, pretender esgotar os assunto.
3O _ o w "O 'u
■v 2 «u «u 3Ê c-s >
n C v u
s e t n e r r o c s a s r e v i d s a d
V
-a ««u4, u •a > c
&
o o
.2 *C c >
.2 *u
c
’> V _c _c o CO
Dá
V
Xc c/>
.r«5 ■ Xi o g5 v v 6o "y3 3^^ 3^ ^ _ tt ° > > 'W T L Z § d cs o O üc 2C p OE 53 so ■Sá < 6 «r?í 1c o^ w O o c. « ■« o o o *2 Suo ê « « P 2n & «5 c u Cb j o cs 'ct:s 1 e T 3 ^3 cs v & SP SP ic ^
-
«
n!2
Cl , c/3
t;
c
C
.2
"O
§ .2
bc a c u
?S
bX)
2E Es cs < ao 3 C
u £5
3
&u *•—3^> 3 -2 E3 D .£
a v i O t C a ■3í O r a «3 y o .yao p O m o c a l e b a .2 T ‘3 O V
-acs
*ü oM c v 3 .>E«5 r23 'cs -a3 •^£ 3ccsr .E £ < £ O UJ
o
«
O
.j¿
C ■£ 8«
xi’3C fcPre £O
"Por qu e a natureza natureza étã o bela? Porque a essência essência oculta, que é sua fon te, é jubilosa, e a beleza representa representa a expressã expressãoo v isível desse desse jú bil o secreto
Quando a questão da imortalidade do ser humano é abordada em público, a reação que observamos observamos na maior parte do tempo consiste ou em ceticismo total ou numa crença na imortalidade, aliada a um materialismo indubitável. Cada um se aferra à sobrevivência sobrevi vência de seu ser de acordo com a concepção que dele tem no plano material. O público em geral muitas vezes im agina agin a que sua consciência terrena será conservada. Na realidade, essa necessidade ou essa certeza não se baseia num conhecimento real sobre sobre o ser humano. Ante a pergunta: pergun ta: “Que é você realmente?”, realmen te?”, a maioria maior ia não sabe o que responder. responder. O sábios sábios antigos sabiam tão bem o valor desse conhecimento, que formularam esta frase: " Conhece a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses
Ou
ro e •— E«
CJ 3cs
J3
ü o £ V5
o
6>
CJ
cs a, 2O"3 ° 3O"c3s <5C üo
"O ss
o OW ) ‘S d e w
'S
o
'3 •a c
s
o
£ c/s '-d3 CQ
4J u
Quando uma pessoa aborda a questão da imortalidade, geralmente deseja ter certeza dela, sem se interrogar sobre o quê é realmente imortal, ou então prefere negála. Os sábios budistas, por sua vez, explicam que o ego é uma ilusão; disto decorre grande parte de sua compreensão do fenômeno da morte. A compreensão da morte ou da imortalidad imort alidadee depende da idéia que fazemos daquilo que permanece imortal, isto é, do eu humano. O homem se aferra ao seu eu humano, sem se dar conta de que ele é, antes de mais nada, evanescente. Um exemplo pode ilustrar a fugacidade f ugacidade desse ego.
Uma pessoa pode ter uma visão negativa a respeito de uma outra porque esta outra, acredita ela, fezlhe algum mal. Todas Todas as suas decisões e declarações sobre esse oponente serão, então, marcadas por esse esse ponto de vista desfavorável. Mas no dia em que a relação com seu oponente evoluir, porque então, de novo segundo o que ela acredita, ele lhe fez algo de bom, os discursos e as atitudes mudarão diametralmente. Onde está o eu verdadeiro verdad eiro nesse caso? Nossos pensamentos pensam entos são con constanstantemente influenciados influ enciados por nossas nossas emoções. emoções. Se, por um motivo ou outro, a emoção muda, o pensamento pode mudar muda r também. Que acontece, então, com a suposta rocha que somos? Acreditamos, Acreditamo s, na maioria mai oria dos casos, que somos unificados, unificad os, quando, na verdade, freqüentemente não passamos de marionetes nas mãos de emoções contraditórias e mutáveis. Assim sendo, podemos nos perguntar: pergu ntar: afinal, afin al, que significa signif ica a imortalidade? “Longe dos olhos, longe do coração”, diz o ditado popular. Se conhecemos uma pessoa, o conceito que temos a seu respeito é quase sempre em função do fato de ela nos valorizar ou preencher nossas necessidades afetivas, ou, ao contrário, nos frustrar. Mas se passamos um longo tempo longe dela, guardamos guardam os na memória memó ria outros aspectos aspectos de de sua personalidade, personalidade , pelos quais não nos interessávamos então. Nosso ponto de vista pode assim mudar. Qual é o eu que muda constantemente sem que nos demos conta? Qual é a personalidade que é, na verdade, o joguete dos afetos afetos do do momento e dos eventos que a afetam? O eu comportase muitas vezes como um camaleão. Na realidade, o ego, como elemento imutável, não existe. Ele apenas representa uma sucessão de instantes de consciência em perpétua transformação. Isso significa, em outras palavras, que ele possui uma natureza essencialmente mortal. mortal.
É certo que quando alguma coisa se transforma, no novo acaba um dia não restando mais nada n ada do antigo. O adulto que você você é hoje formouse a partir do bebê de antigame anti gamente, nte, mas não existe mais nada desse bebê bebê em você você agora. Essa infân cia morreu talvez dezenas d ezenas de vezes em você, você, antes de se transformar nisso que você você é hoje. hoje. O elemento fundamental fundamen tal que dá a ilusão de uma continuidade de consciência é a memória. Recordo me de como como eu era aos dez anos, logo, eu existia nessa n essa época. No entanto, cabe perguntar: “Que é que existia?”. Quando uma pessoa se lembra lembra de sua infância, na maioria maio ria das vezes ela faz isto a partir daqu ilo em que se tornou, não a partir daquilo que ela era naquela naq uela época. A prova disso disso é que raramente rara mente vemos homens de sessenta anos se pondo a brincar, como os os meninos, menino s, de soldadinhos. O estado de espírito mudou, a consciência não é mais a mesma. Falta o lado emocional. Mesmo que uma mulher consiga se lembrar do tempo em que brincava com bonecas, ela não consegue voltar a sentir de maneira tão intensa as emoções da menina que ela foi. Se consegue, por que não brinca mais m ais com bonecas? A verdade é que o coração coração não está mais ali; aquela menina está morta nela e ninguém pode ressuscitála. O que chamamos de saudade dos tempos antigos corresponde a uma cerimôni cer imôniaa de recordação de todas as pessoas pessoas que já morreram em nós. A memória nos dá a ilusão de que somos somos hoje aquilo aqui lo que q ue fomos fomos ontem, e que seremos amanhã aman hã o mesmo que somos hoje; numa palavra, a mesma pessoa. Mas basta que aconteça um acidente seguido de perda de de memória para que a vítima tenha a impressão de estar morta. Quando lhe são mostradas fotos fotos dela mesma, datando de alguns algun s meses antes, ela as trata como se tratassem de fotos de um estranho. Perder acesso à memória de nosso passado é o mesmo que morrer é isto o que nos ensina esse tipo de acidentados. Mas para pessoas sadias, que nunca sofreram nenhum acidente, a
memoria dá a ilusão de que, desde o nascimento até o suposto suposto fim, elas nunca experimen e xperimentaram taram a morte. Isso Isso é falso falso e macula macul a nossa nossa compreensão das coisas. C Certamente, ertamente, podemos presumir presumi r que um indivíduo seja o mesmo ao longo dos anos, porque sua ação manifesta certa continuidade. Entretanto, conseguimos realmente recordar tudo o que sentimos, do ponto de vista físico, físico, intelectual, emocional e q ualquer ualq uer outro, outro, por exemplo, exemplo, há dez anos? De modo algum. Conseguimos conservar as linhas principais, nosso inconsciente ficou impregnado por aqueles instantes, mas sempre faltará às nossas nossas lembranças algo que nos permita dizer: “eu sou”. E que, na verdade, cada instante dos miríades de anosluz anoslu z que qu e nos precederam precederam é único. A permanencia permanenc ia não é deste mundo. Se compreendermos que, no curso de nossa vida, de fato vivenciamos várias mortes progressivas, então, não teremos mais nenhum motivo para temer a cessação das funções do corpo físico e a decorrente transição da alma. A esse respeito, Leslie D. Weatherhead, Wea therhead, pastor e escritor britânico, “morto” em 1976, 1976, assim se expressou: “Vocêé William Tompkjn Tompkjns, s, por ex emplo. M uito bem. Você Você é o Willianzinho- Tompkjns-deTompkjns-de-nariznariz-esc escorre orrendo, ndo, que fo i pu nido porq ue chegou atrasad atrasadoo na escola. Quer contin uar m antendo sua identidade com ele? Vocêé o Will Will Tompk Tompkjns jns que escr eveu aqueles versos temos e os deslizou para as mãos daquela mo cinha de dezesseis dezesseis anos, anos, de tranças louras. Quer se identific ar com ele ? Você ocê é o William William Tompkins que fo i despedido despedido porqu e não fo i capaz capaz de explicar explicar a origem do dinheiro que v ocê recebeu em nom e da sociedade. sociedade. Voc Você vaifica r fr u stra st ra do se el e su s u m ir do seu sen se n tim ti m en to d e i de n tida ti da de ? Você é o W. Tompkjns Tompkjns que sofre de r eum atismo articular, articular, qu e tem a audição fr a ca , a vista vis ta tur t ur va e u m co r po q u e se to t o m o u um fa r d o . Faça essa es sa experiência: Repita, em voz alta, alta, um a centen a de vezes, vezes, "William "William
Tompkjns ... William Tompkins... Tompkins... ". ". Ima gine ce m m il anjos ao seu seu . .. William redor fazen do a mesm a coisa. coisa. E mesm o im portante que toda a pe rson rs on al id ad e d e Tompkins Tom pkins se p er p et u e p o r ce m , m il, dez de z mi l, cem m il ano s? Uma vez e sem pre W. T.l11 Nossa Nossa verda deira identidade nunca será perdida, o ouro pu ro do eg o subsist subsistirá irá,, pu p u ri fica fi ca d o e fo r ti fi ca d o " .
Mas por que essa acentuação posta na separatividade?!! Intencionalmente, não uso nem mesmo as palavras “morte física” para descrever o fenômeno, porque por que nosso próprio corpo perde a maioria de suas células a cada sete anos, graças ao processo do metabolismo. Isso significa que, fisicamente, morremos morremos regularmente regu larmente de sete em em sete anos. As As raras células célula s que sobrevivem durante dur ante toda nossa vida são as do cérebro. cérebro. Esse fenômeno talvez seja o que nos dá a ilusão de uma imortalidade imortal idade relativa, durante dura nte nossos sessenta sessenta ou mais anos de existência. Para sintetizar sintet izar o que acabamos de expo expor,r, vale salientar salient ar que, no curso de uma vida, morremos psicológica e fisicamente várias vezes, de forma forma progress progressiva. iva. A cessação cessação das funções funções vitais representam, de fato, apenas uma transformação a mais e, de modo algum, “A Morte” única, da qu al tanto se fala. O grande erro do mundo ocidental materialista consiste em contrapor esse fim ao resto da existência. No entanto, tudo o que expusemos até agora demonstra largamente que esse evento não representa mais que uma metamorfose complementar e que a diferença di ferença está somente na sustentação, su stentação, pelo cérebro, de uma memória superficial ao longo da vida. Outro elemento: uma teoria sedutora e profunda explica que nossa compreensão da imortalidade depende da forma como nos nos situamos no âmago da Criação. Cri ação. Ou nos apegamos à
idéia de que somos, em primeiro lugar e sobretudo, um ser independente do resto da Criação, ou aceitamos a evidencia que nos torna um produto do universo. Você pode se imbuir do pensamento segundo o qual a vida se exprime através do ser humano e que se serve dele para expressar suas potencialidades. Sua verdadeira função consiste, nesse caso, em servir de canal para essa vida universal que o transcende e que constitui a essência de seu ser. O ego, nesse esquema, representa tãosomente um meio para assegurar a expressão dessa vida no tempo tempo e garantirlh garan tirlhee um modo especial para que ela tome consciência de si mesma. Visto como um fim em si mesmo, ele se torna uma ilus ilusão. ão. Já demonstramos que q ue ele é de fato mortal nesta presente existência. E com mais forte razão ainda, é mortal quando da cessação das funções vitais. Não obstante, se uma pessoa se identifica com aquilo que ela é verdadeiramente, isto é, uma forma de expressão da Grande Vida ou Alma Universal, então ela se torna imortal. Na verdade, desde sempre ela foi imortal, sem o saber realmente. E imortal no exato momento presente, a cada instante. A única coisa que aconteceu foi uma mudança de ponto de vista a respeito de si mesma e da vida em geral. Ao fazer isso, simplesmente mudou seu estado de ser e sua compreensão, e isto é tudo. A partir daí, ela pode usufruir uma espécie de paz, com a certeza de que não precisa esperar a morte para se tornar imortal, mas que já é. E tão admirável que tantas técnicas orientais acentuem a necessidade de se dar toda atenção ao momento presente, o eterno presente? Muitas pessoas vêem nas idéias sobre reencarnação apenas um meio de manter de pé o seu eu. Querem saber se vão reencarnar junto aos seres que já amaram numa vida anterior.
Do mesmo modo, esse público interpreta os contatos com os mortos mortos como se existisse um possível diálogo diál ogo com eles, idênticos i dênticos aos que podemos manter aqui a qui na terra. As descrições descrições do do além também costumam recorrer a cenas terrenas, como é o caso do Corão. Tudo isso demonstra efetivamente que os homens se apegam desesperadamente ao seu modo de conceber a vida centrada no ego. Não queremos ou não podemos ampliar nossos pontos de vista, abandonar nossas idéias preconcebidas. Ainda não conseguimos conseguimos sentir em nós nós a presença de uma Alma Universal, que, sozinha, confere a condição de imortal. As pessoas pessoas preferem se se apegar à sua fam ília, seu ambiente, amb iente, seu estado de consciência limitado. E elas morrerão, porque se apegam ao que é impermanente. E, no entanto, uma parte de seu ser é tão imortal quanto o de qualquer qualq uer místico ou sábio. sábio. O despertar da consciência, de acordo com os escritos de grandes místicos, visa ancorar a consciência no imutável, na eternidade e na abertura da personalidade ao infinito. Logo, é bem possível que a questão da imortalidade dependa da concepção que se tenha da alma. Uma opinião acertada sobre isso pode dar acesso ao infinito. Um sentimento de participação na eternidade resultará em indizível paz e alegria. Ao passo que uma idéia falsa pode levar à caça de de quimeras, ao longo de um caminho ca minho tortuoso tortuoso e cheio de espinhos. Tomemos um exemplo simples, cujo modelo já fora usado pelo filósofo filósofo romano Cícero. Imaginemos, I maginemos, como Descartes, Descartes, uma pessoa que começa a procurar a sede da alma. A exemplo de Platão, ela pode primeiro conceber a alma como uma idéia arquetípica, arquetí pica, evoluindo no reino da abstração. Ou então, então, tentar demonstrar que um órgão do corpo constitui sua sede. Essa
poderia ser o coração ou o plexo solar ou, ainda, ain da, na opinião opiniã o de Descartes, a glándula pineal. Parece que a humanidade tem sido muito imaginati imag inativa va nessa esfera. Os Os iafares da da Nova Guiñé acham que a alma está situada no sangue, enquanto o Avesta Aves ta dos zoroastrianos revela uma ligação entre a alma e os ossos. Os Upanishads hindus hindus explicam o seguinte: “A alma, q u eé m a is sutil que aquilo que é sutil, sutil, m aior que aquilo qu e é grande, está instalada na cavidade do ser vivo (cavidade esta que é tradicionalmente considerada como sendo o coração). Aq uele ue le que é isento de desejos e angustias angustias contempla, pela tranqüilidade tranqüilidade dos seus sentidos, a ma jestade da alm a”. Mas, então, que q ue é feito dessa dessa alma q uando, uand o, com a morte, o corpo desaparece? Sem dúvida, ela estaria destinada a desaparecer com seu co mpanheiro. De fato, toda toda concepção que faz da alma o resultado de um processo físicoquímico condenaa a ser mortal. O mesmo ocorre quando se considera que ela está vinculada a uma parte do corpo ou a qualquer corpo que seja. A mesma coisa, ainda, ao se imaginála como passível de evoluir. Tudo que evolui transformase, mas transformação também significa morte. Por conseguinte, tudo que evolui morre à proporção que se desenvolve. Se a alma é qualificada de imortal, não pode ser outra coisa senão per p er fe it a . Há grande diferença entre o fato de considerar que determinadas determin adas partes do corpo corpo possam possam servir de intermediárias intermedi árias entre o mundo da alma e o da matéria, e a crença que situa a sede da alma no corpo. Veremos o porquê disso nos próximos ✓ capítulos. E possível sermos imortais aqui e agora, e que tudo dependa da nossa conscientização e da nossa identidade com tal ou qual princípio.
Para os neoplatônicos, assim como para os indianos, indian os, existe apenas uma única ún ica alma alm a no todo todo da Criação, à qual qu al poderíamos dar o nome de alma do mundo. Nesse princípio único participariam todos os seres vivos, qualquer que fosse sua posição na escala de evolução. Os neoplatônicos consideravam que a alma do mundo ocuparia a posição intermediária entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Segundo Platão, ela representaria o princípio único automotor, isto é, capaz de se mover por si mesmo. Como indica o discurso de Hermes a Asclépio, é justamente justam ente ela que faz mover todas as criaturas, criaturas , A que dela recebem vida e consciência. E por isso que não se pode situar a alma em nenhuma parte do corpo. Mais que qualquer qualq uer onda eletromagnética, ela penetra e interpenetra interpenetra tudo. Nenhuma barreira de chumbo pode oporlhe obstáculo, pois ela pertence a uma outra dimensão. Os Antigos acreditavam que ela seria transportada pelas asas do ar. Outros Outros insinuavam insinuav am que ela seria como um fogo penetrando todas as coisas. Na verdade, sabemos sabemos que a vida vida vem, entre entre outras coisas, coisas, do do calor e da respiração. Tudo que vive respira. Sabemos também que seres vivos extremamente surpreendentes se desenvolvem a milhares de metros de profundidade, nas regiões abissais oceânicas, perto de inesperadas fontes fontes de calor. calor. Havia, Ha via, porém, um sutilíssimo tesouro oculto no pensamento dos Antigos... O ar, como também o calor, é um bem comum a todas as criaturas. Assim, do mesmo modo, modo, a alma al ma deve ser um tesouro comum à totalidade da Criação. De sua unicidade e de sua perfeição depende sua imortalidade. A definição d eAtman, segundo os Upanishads (livros sagrados dos hindus), é exatamente “aquilo que escapa a toda limitação de tempo, espaço e causalid caus alidade”. ade”. Poderíamos, então, especular especu lar sobre sobre sua possível natureza vibratória, ígnea ou qualquer outra; mas,
neste caso, parece que traçaríamos uma rota falsa. O verdadeiro espiritualista não procura dar forma e textura (por mais sutis que sejam) a um princípio invisível, intangível e mesmo inacessível à compreensão estritamente intelectual. intelect ual. Em outras palavras, podese menos definir a natureza da alma do que seus efeitos. Enunciemos agora um postulado que tentaremos demonstrar da seguinte forma: devido à sua unicidade, a alma é perfeita, imortal e constitui a essência de todas as coisas. coisas. Dessa idéia decorre que tudo que vive nas águas, caminha na terra ou voa nos ares recebe sua parte de imortalidade. Os animais não têm têm nenhuma nenh uma consciência da morte, porque permanecem indissociáveis de sua essência imortal. A centelha de vida que os interpenetra e os faz moveremse segue seu caminho caminh o depois do desaparecimento dos veículos que a transportaram e que manifestaram alguns algun s de seus atributos. atributos. Mas para o ser humano, essa energia tornouse fato secundário. Ele preferiu substituí la por seu próprio eu individualizado. Assim, ele se tornou mortal, pois esse eu, aparentemente autônomo, sofre perpétuas mutações. O budismo teravada , aquele que o Buda ensinava, chamado também de budismo do pequeno veículo ve ículo ou hinayana , explica o seguinte: o ego, o eu humano, é uma ilusão. Representa, sobretudo, uma sucessão de instantes de consciência. Por analogia, ele é como um rio. O rio, em si mesmo ou tomado em seu todo, é uma miragem. Na realidade, ele é somente a sucessão de uma multidão de partículas de água. Assim também, segundo os budistas, o eu não passa de um agregado de vários princípios em perpétuo movimento. O que parece real no rio é a corrente que vai sempre na mesma mesm a direção visível,
até que um obstáculo desvie seu curso. Essa Essa opinião referente ao eu eu explica a causa da crença geral de que o budismo ensina ensin a a inexistência da alma (a doutrina d eanatmam), ao contrário das crenças da índia. Repetidas vezes os discípulos do Buda questionara questi onaram m seu mestre, tentando saber se o carma do homem é pessoal ou impessoal. Todas as vezes, Gautama elucidou a questão explicando que conhecer a resposta não contribuiria para libertar o homem da ilusão do ser. Para ele, mais vale meditar sobre o nascimento, a morte, a vida, a velhice, velh ice, e sobre as causas e os efeitos dos acontecimentos felizes ou não. Dito de outro modo, mais vale tentar libertarse do desejo e de todas as coisas que prendem o ser. Isso é melhor do que tentar solucionar uma questão que, q ue, ao longo da História, opôs e continua opondo as religiões entre si, e mesmo os diversos sistemas de humanismo. A fórmula “tudo se transforma” expressa o lema budista, que vê o mundo como um caleidoscópio doscópio incessantemente mutável. Pode aquele que se identifica com algo que varia constantemente ser imortal? Não seria a imortalidade, ao contrário, o ancoramento da consciência no cerne de um princípio imutável? O pensamento budista teve, na Grécia, um equivalente contemporâneo: Heráclito de Efeso dissolvia toda existência nas ondas do devenir. Inversamente, para Parmênides, o ser eterno e imutável existia só. Foi preciso esperar a chegada do mestre Platão para conciliar essas duas concepções. Mas, segundo o pensamento budista, a pessoa que só vive no nível de seu ego transitório já está morta, ainda aind a que qu e as aparências pareçam provar o contrário. Por que o mestre Jesus chamou os mestres da sinagoga sin agoga de “sepulcros “sepulcros caiados”? Teria sido porque, como um delinqüente deli nqüente
qualquer, ele quis simplesmente simplesmente insultálos? Seguramente, não! O que ele fez foi revelar uma elevada e sutil verdade espiri tual. Aquel Aq uelas as pessoas ligadas liga das a poderes, posses, baju lações, laçõ es, já estavam mortas e não sabiam. Assim como eles, todos possuímos, dentro de nós, uma parte de nosso ser que está morta, porque nossos nossos valores são os os de um mundo em mutação. Porque damos mais im portância portân cia ao nosso nosso eu do que à missão que ele deveria cumprir. Um mestre do passado explicou, certa vez, que o reino humano, cujo hábito é de se apresentar como o ápice do universo, representa um relativo ponto de morte morte no âmago de um universo de vida. De fato, o universo inteiro vive ao nosso redor, com suas miríades de expressões diferentes, mas não nos apercebemos disso. Levei dez anos para compreender o que esse autor quis dizer com isso e ainda não estou certo de já ter abarcado todo seu significado. Cada um de nós poderia fazer a seguinte pergunta: seria esse eu, que acredito ser e ao qual me apego, o alfa e o ômega de todos todos os os valores? Se respondo afirmativamente, afirmativ amente, tornome efetivamente mortal. Mas se considero esse ser transitório transitório uma parcela útil, mas secundária, secund ária, de um todo todo bem mais vasto, este, este, sim, imortal, imortal , posso então, neste exato momento, participar dessa imortalidade. Eis uma das concepções mais esotéricas que existem da imortalidade. Há outras que apelam totalmente a uma ampliação do campo da consciência, até mesmo a uma renúncia ao eu. O escritor judeu Elie Wiesel falou do dever da memória , referindo se ao sustento da necessária recordação dos mártires do holocausto cometido na última guerra mundial. E fácil ✓
^
compreender que uma das condições da imortalidade pode estar na lembrança que os descendentes mantenham de seus falecidos falecidos ancestrais. ancestrais. Enquanto Enqua nto houver alguém para se lembrar do passado, ele conservará um pouco de sua imortalidade. imorta lidade. O culto dos ancestrais, entre os gregos antigos e os povos animistas, têm uma parcela de sua origem nesse pensamento. Enquanto nossos filhos se lembrarem de nós, seremos imortais na consciência deles. Cada Cad a um de nós sabe sabe isso vagamente. E por isso que, segundo os psicólogos, um dos pesares mais difíceis de assumir é aquele que advém da perda de um filho. A progenitura representa, tácitamente, uma promessa de imortalidade. Os Anciões Anciões de Israel sabiam sabi am isso perfeitamente, eles que davam tanta atenção à linhagem. Sou o filho de meu pai, e ele, o filho de fulano, e assim por diante, diziam os hebreus. O mais importante para o povo do Exodo não era tanto a sobrevivência do indivíduo quanto a da coletividade. No Antigo Testamento, os filhos de Israel até mesmo pagam paga m pelas faltas cometidas por seus pais. O patriarca dessa nação, Jacó, Jacó, toma, ele próprio, o nome da pátria in teira. Entre os os muçulmanos, muçulman os, o termo/4¿«, muitas vezes acoplado ao nome nome de de família, significa “pai de ... ”. O qualificativo Ibn, também muito usado, como no caso do famoso sufi Ibn Arabi, traduzse como “filho de...”. Isso sugere que a imortalidade reside reside mais na continuidade co ntinuidade e na obra da humanidade humanid ade coletiva, que sucede a si mesma através de sua descendência. Parece, no entanto, que as idéias defendidas nessa questão diferem segundo as culturas. Para os muçulmanos ou os católicos modernos, a morte morte individual individ ual é vista vista muitas muit as vezes como como uma catástrofe. Entre os vietnamitas, mais íntimos da natureza, a onipotência universal da vida é primordial. “Se temos filhos,
algo de nós permanece para sempre”, diz um provérbio compartilhado por eles, pois possuem, mais que nós, o sentimento de serem parte de um todo vivo, com todas as transformações das quais ele é a sede. sede. \bltaremos a essa questão quando tratarmos do acompanhamento dos agonizantes. Os psicólogos e os clínicos gerais, com efeito, perceberam os agonizantes conseguem pa rtirem paz mais facilmente se estão estão conscientes de que deixaram seus negócios em ordem e transmitiram aos filhos que os sucederão tudo o que estes precisam saber.
O filho representa, é verdade, a primeira obra, a primeira criação de um ser humano, mas suas outras produções também lhe conferem uma parcela de imortalidade. Não se costuma dizer que os criadores se imortalizam em suas artes? Frank Sinatra, Sina tra, por exemplo, não renasce um pouco toda toda vez que um ouvinte se entusiasma com uma de suas canções? VictorHugo não passou à posteridade graças à sua obra monumental? O próprio termo “imortais”, pelo qual os membros de uma Academia de Letras são qualificados, não é mais mais eloqüente que qualqu qua lquer er discurso? Cícero comentou, em sua época, o epitáfio do poeta romano Enius, conhecido de cor por todos os habitantes da antiga capital: “Con templai, cidadãos, essa bela imagem do velho Eniu Enius, s, fo i ele qu em celebrou os grandes feitos de vossos pais: Não Não choreis po r m im ... afinal, estou vivo, porq ue vôo de boca em b oca ... O inglês Francis Bacon, que, segundo algumas hipóteses, pode ter sido sido o suposto suposto autor das peças de Shakespea Sh akespeare, re, via no conhecimento um meio de alcançar uma fo rm a de imor‘ im or tali ta lida da de é ta m bém bé m busca bu scada da na n a fo r m a çã o de d e um a talidade: A fa m il ia , q u e n ão ce ss a re m os d e en ob re ce r, na co n st ru çã o d e
edificações e mon umentos famosos, e ela é, de fato, o ápice de todos os desejos desejos humanos. humanos. Mas vemo s também quão m ais duráveis são são os monum entos do gênio e do conhecim ento, do que os construídos construídos pela m ãos do homem. O refl reflexo exo do conh ecimen to de um homem permanece intacto em seus livros, ao abrigo das vicissitudes do tempo, e pode experimentar uma perpétua renovação. M esmo aqueles, aqueles, entre os filósofos, que fora m os mais pro p ro fu n d a m en te liga li ga do s aos ao s sen se n tid os e n egav eg av am a im orta or talid lid ade, ad e, admitiram, todavia, que as ações do espírito humano, não requerendo o ex ercício dos órgãos do corpo, podiam continu ar a subsist subsistir ir depois da da morte, quais sejam, sejam, as do en tendim ento e não as das das afeições; afeições; e que o conh ecimen to lhes parecia uma coisa coisa incorruptível e im ortal”. ortal”.
Notemos, de passagem, que muitos grandes homens e mulheres, após sua “morte”, adquirem, na consciência das existiaa qua nd o estavam vivos. massas, uma dimensão que não existi Em casos extremos, eles se transformam em totem de uma nação ou de um povo. Sua personalidade tornase um guia quase fantasmagórico para uma coletividade. Tornada imortal, essa personalidade emblemática é enriquecida pelas aspirações e anseios das milhares de pessoas pessoas que porventura porvent ura se identifiquem identifiqu em com ela ou projetem nela suas próprias frustrações. Por sua vez, a civilização civiliza ção do Egito antigo, em sua tentativa de colonização do além, imortaíizouse através de suas obras monumentais e por intermédio do conhecimento que legou ao mundo. Quantos sábios, quantos filósofos gregos, com efeito, não foram estudar à sombra sombra de suas pirâmides? pirâm ides? O próprio próprio rei MausoJe, simples auxiliar do império persa, no século 4 a.C., consciente de que não passaria à posteridade graças às suas obras políticas, mandou erigir o mais magnífico monumento
funerário que o mundo jamais teve. Assim, o Mausoléu, ma das conhecido c o m o u ma das sete maravilhas maravilh as do mundo, tornou t ornou o seu autor célebre para os tempos futuros. O cínico Diógenes, aliás, escarnecía dessa dessa vã pretensão à imortalidade. Quanto à questão das obras legadas à posteridade, pessoas que vêm observando agonizantes salientam como partem mais facilmente em paz os que têm o sentimento de terem feito de sua vida uma boa obra. Aqui, as clássicas crenças acerca da imortalidade t o r n a m - s e quase secundárias. O melhor passaporte para o outro lado é o sentimento sentiment o de ter cumprido cumprid o a obra ou a missão de sua vida. Então, o ser humano pode repousar por uns tempos junto de seus pais, antes de passar para uma missão mais elevada. ór ia,, Son S on h os e O professo professorr Carl Gu stavju ng, n o livro " M em ória Reflexões ”, ”, explica que o inconsciente do homem representa haja uma con tinuaçã o também o reino rei no dos mortos. “Supondo qu e haja “no além ”,”, não poderíam os con cebe r outro mo do d e existênci existência a qu e não a psíquica, psíquica, uma vez que a vida da psique não precisa precisa nem de espaço nem de tempo. A existê existência ncia psíquica psíquica e sobretudo as imagens interiores de que nos ocupam os agora fo agora fo r n ec em a matér ma tér ia de todas as especulações míticas sobre uma vida no além, e esta, esta, represento-a com o um a marcha progressiva progressiva através do m undo das imagens. Assim, a psique poderia ser a existência na qual está situado “o a lém ” ou “país dos mo rtos ”. O inc on scien te e o “país “país dos mortos” seriam, nessa perspectiva, sinônimos”.
Que sabemos sobre sobre a consciência huma h umana? na? Bem pouca coisa, na verdade. Povos inteiros pretenderam conversar com seus mortos por intermédio dos sonhos. Isso significa dizer que a consciência humana não se limita ao aspecto objetivo da
existência. A psicanálise, no século 20, revelou às massas o mundo do inconsciente humano (ou tornouo admissível ao nosso pensamento estritamente positivista?). No entanto, há séculos, algumas algu mas pessoas conhecem e fazem uso dessa dessa dimensão oculta da psique. Para esses sábios, como os Rosacruzes do passado, a consciência objetiva é tãosomente tãosomen te o lado visível de uma árvore cujas raízes ou galhos se enterram enterr am ou se estendem dentro de um campo infinito de consciência. Jung, afastando se da rota rota traçada por Freud, Freud, pressentiu vagamente v agamente a existência desse campo de consciência transcendente. Chamouo “inconsciente coletivo”. co letivo”. Para Para ele, os mortos mortos não desaparecem, pois sua consciência tem sua base nesse inconsciente coletivo. Por conseguinte, uma parte de nossos ancestrais viveria em nós de um modo invisível. Seriamos, portanto, num certo sentido, “os fru tos dos que d orm em ”. Se os dados de uma determinada psicologia pleiteiam em imortalidade,, co m o acabou de ser demonstrado, a favor da imortalidade medicina e, mais particularm ente, a genética também dão sua contribuição nesse campo. S abemos hoje que as informações informações genéticas transmitidas pela dupla hélice do DNA (o código características as físicas físicas e m entais) genético que con tém nossas característic são passadas de pai para filho. De certo modo, a frase bíblica, “Os erros do s pais serão tra nsmitidos aos seus filho s, até a sétima ger g er a çã o ”, está sendo verificada pela ciência. Conhecemos a g e n ét ic a d e algumas doenças hereditárias. Elas nos origem ge ensinam que q ue algumas de nossas nossas características características são transmitidas de uma geração à outra. Teriam elas feito algum pacto de imortalidade? . A imortalidad imorta lidadee m aterial ateria l representa um u m dos velhos sonhos da humanidade. Na China, há alguns séculos, um imperador
enviou homens para explorar o mundo à procura dos imortais. Os alquimistas ocidentais sonhavam c o m a pedra filosofal que poderia lhes conferir a imortalidade, na forma do chamado elixir da longa vida. Hoje, porém, graças à contribuição dos conhecimentos biológicos, esse sonho meio maluco está a um passo de se realizar. A partir de uma célula tirada de um ser vivo, o “doutor Jeck Je ckyll yll”” pode reprodu rep rodu zir infinitas infin itas vezes o mesmo ser vivo vivo.. C hamase a isso clonagem. Erguese, então, infalivelmente, a pergunta: com qual imortalidade você sonha, a do corpo ou a da da alma? Da resposta a essa pergunta provém todo o valor dado ao ser humano, à vida e à verdadeira liberdade. É por isso que esse tema suscita tantas reflexões reflexões em nossas comissões de ética. Mas isso ainda não é tudo. Físicos, como o francês Jean Charon, estão considerando a possibilidade de uma memória dentro do elétron, memória esta que poderia conservar “a experiên cia” pela pela qu al passou passou esse elétron ao longo de suas diversas formas de manifestação dentro da matéria viva ou inerte. Assim, outra possibilidade de imortalidade material poderia muito bem ser evidenciada pela ciência moderna. Um esforço de síntese permite compreender que, de fato, há múltiplas maneiras de se considerar considerar a imortalidade. Queira o leitor notar qu e o ponto comum de todas as concepções concepções que virão a seguir reside na memória às quais elas recorrem, recorrem, embora embora sob formas diferentes. A imortalidade, portanto, pode ser considerada de um ponto ponto de vista vista individual, in dividual, contanto contanto que se admita ou que se ponha em evidência a existência de uma memória imaterial que conservaria as características da personalidade morta. Ela pode ser imaginada, num sentido
mais coletivo, por meio do inconsciente coletivo de Jung. A memória das células, dos átomos ou do DNA também pode dar o que pensar em matéria de imortalidade. As obras obras gravadas no papel ou na pedra representam, por sua vez, a memória do pensamento de seu autor, e contribuem para sua eternidade. Dáse o mesmo com a progenitura, que, por seu “dever de memória”, mantém viva a lembrança dos antigos. Por último, as cerimônias, as tumbas, os sinais externos da vida dos mortos, contribuem igualmente para a imortalidade. Evidentemente, aqui a qui estamos bem bem longe das idéias egoístas de uma vida eterna centrada centrada na individualidade. individualid ade. Há H á ainda uma última e sutil idéia que pode orientar nossas concepções nessa esfera. Muitos sistemas de moral e ética baseiamse na noção de que a virtude representa um fator de de imortalidade. imortalid ade. A virtude, nesse sentido, constitui um meio de harmonizar o indivíduo com as as idéias eternas do bem, do belo e da verdade. Aqui estão reunidos os grandes temas platônicos. Aquele que pratica a virtude pressentida no interior de sua consciência consciência unese àquilo que é mais vasto que ele. Ele ancora seu ser no âmago de valores eternos e verdadeirament verdadeira mentee portadores de futuro; ao passo passo que a ausência de virtude leva apenas ao caos. Sua consciência experimenta, então, um sentimento de imortalidade e plenitude. Esse ser servirá também de exemplo e de guia para outros, em sua própria esfera de vida. Estenderá, assim, suas faculdades, por contágio, tanto no tempo como no espaço. lg u m a s c o n c e p ç õ e s da imortalidade foram Agora qu e a lg abordadas, convém voltarmos à nossa primeira pergunta: A alma é imortal? Pergunta aparentemente única, m as que, que, na verdade, esconde duas. Por um lado, será que q ue existe, sim ou não, um princípio mais ou menos visível a que se poderia
chamar alma; por outro, seria esse principio dotado da faculdade da imortalidade? imor talidade? O mundo científico em em geral evita responder essas duas perguntas. Prefere recolherse a uma reserva prudente, ao mesmo tempo em que não as responde negativamente. Para a ciencia, esse principio chamado alma, que não se enquadra nas categorias que ela analisa habitualmente tualm ente (isto é,é, o campo do mensurável), mensuráve l), deve ser sabiamente sabiament e deixado de lado. Se existe de todo um conluio tácito entre ciência e religião para manter ma nter a ignorância sobre algum a coisa, esta coisa é o campo da alma. A primeira ignora o assunto, enquanto enquan to a segunda seg unda o isola no campo da fé. fé. Para o sacerdócio, a alma é assunto de crença religiosa indemonstrável. Segundo ele, a alma existe porque Deus, através das das escrituras sagradas, disse que sim, e ponto final. Querer demonstrar a existência da alma graças à observação seria, para uns e outros, uma demência. Contudo, não haveria realmente nenhum argumento demonstrável demonstrável e sustentável, capaz de provar a qualque qual querr mente racional a existência dessa grande força eterna? A ja f é n ão está enraiz enr aizada ada sabedoria sabedoria tibetana ensina que qu e “a pessoa cu ja f na razão razão é com o um curso de água que pode ser conduzido para para qualquer lugar”. De fato, toda fé não ancorada na razão razã o é como um raminho de palha açoitado pelos ventos de uma ciência cética. Ela não consegue resistir à dúvida gerada por uma mente presa às suas categorias habituais de percepção. A alma não pode ser medida, mas prova sua existência por meio de seus efeitos, inumeráveis para olhos realmente abertos. Ela representa o próprio fundamento de toda existência, sem o qual nem mesmo aquele aque le que a nega teria qualq uer alento de vida. Sem S em a alma, a lma, as galáxias, galáx ias, as estrelas e os planetas ja mais teriam vindo à luz. As incessantes rondas que fazem girar universo após universo não teriam tido nenhuma razão de se
manifestar. Vejamos agora em que medida podemos afirmar que a alma e sua imortalidade representam “A” causa importante, atrás da qu al todas as outras se enfileiram. E, para isto, laçamos uma pequena viagem ao lado dos filósofos da Grécia antiga. Um desses filósofos, Pitágoras, ensinou que “No pr in cípi cí pio, o, D eu sg eo m et ri z o u ”. Com essa fórmula, ele quis dizer que o mundo dos fenômenos é regido por um conjunto de leis e princípios acessíveis à razão, que os gregos denominavam Logos. O filósofo moderno Michel Serres viu nessa idéia do Logos (palavra (palavra que significa “discurso” ou “lei”) a origem da marcha racionalizante da ciência. O apóstolo João, no começo de seu Evangelho, faz eco a essa idéia, com a frase: “No com eço era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus”. O Verbo Verbo de São João é o mesmo Logos dos gregos; por isto, podemos nos perguntar, hoje em dia, quem tem o direito de reivindicar, se gregos ou judeus, a paternidade do conceito. Tudo isso significa, na verdade, que esse mundo de princípios ou leis universais (que Pitágoras afirmou ser regido pelo número) presume, para sua origem, uma grande inteligência organizadora. Essa grande inteligência pode ser comparada a pu ru sh a , o ser ou a alma dos hindus, em oposição a pra p ra ty iti, it i, o devenir. devenir. Assim, a ordem patente do universo universo e da multiplici multi plicidade dade de fenômenos não seria obra do acaso, mas dessa vasta inteligência ou de uma alma que se poderia qualificar de universal e que é imutável e perfeita em sua essência. Sem dúvida, o ponto em questão não é demonstrar através de instrumentos científicos a existência dessa alma de natureza sutil demais para ser mensurada. A razão, porém, nos incita a tomar essa hipótese por quase certa, por ser a única que pode explicar a inteligibilidade do universo. Dessa alma, portanto, emanou o mundo, graças a um conjunto de leis ou princípios, chamados por nomes diversos diversos em função das culturas. cult uras.
Queiramos ou não, estejamos conscientes ou não, o fato é que o edifício da ciência, cuja meta é pôr em evidência os axiomas e leis da fonte da Criação, fundamentase nessa concepção. Sua origem achase na Grécia, e os primeiros estudiosos muçulmanos muçulmano s foram seus herdeiros tardios, antes de transmitiremna ao Ocidente cristão. A esse respeito, o ✓ físico Albert Einstein assim se expressou em 1922: “E fa to que a con vicç ão —aparentada —aparentada do sentim sentim ento r eligioso — de que o mu ndo é r acional ou, ao menos, in teligível está na base base de todo trabalho científico com alguma elaboração. Essa convicção, pro p ro fu n d a m en te se ntid nt ida, a, d e um u m a raz r azão ão su pe ri or q u e se m an ifes if esta ta no m undo da experiênci experiência, a, constitui minha con cepção de Deus”. “Um contemp orâneo afirmou, afirmou, Em 1930, declarou num artigo: “Um com razão, razão, que os pesquisadores pesquisadores sinceros são, são, em nossa nossa época, de modo geral materialista, os únicos homens profundamente religiosos”. De fato, o cientista moderno, no plano de fundo de seus próprios trabalhos, é o único depositário dessa concepção do mundo. Ele pesquisa, com efeito, a origem dos fenômenos, buscando representálos sob formas de equações matemáticas, de representações gráficas ou geométricas. Alguns pesquisadores vão até mais longe e acalentam o sonho de descobrir a grande equação, a força ou energia única que poderia explicar a origem do universo inteiro. Chamam a isso agrande unificação. unificação. A grande unificação u nificação é o sonho sonho atual dos dos físicos, que buscam a unidade das quatro grandes forças subjacentes a todos os fenômenos naturais, as quais são: a força de atração, de Newton, que rege o movimento dos corpos celestes; as forças de interação fortes e fracas, que regem as relações entre as partículas fundamentais dos átomos; e a força eletromagnética.
Seguramente, Seguramen te, o materialismo nega a preexistência de um mundo de princípios ou de de uma alma inteligente. Ele afirma que as leis da natureza representam necessidades inerentes à matéria. Se extrapolássemos esse ponto de vista, isto seria o mesmo que considerar que a lei da gravitação universal fosse uma conseqüên con seqüência cia do fato fato de uma maçã ter, um dia, caído na cabeça cabeça de Newton, e não a causa dessa queda. qued a. Isso Isso significaria que as leis são as conseqüências da simples existência da matéria e dos fenômenos, e não suas causas. Todas as leis existentes existentes na Criação C riação seriam, portanto, portanto, intrínsecas ao primeiro aglomerado dessa “alguma coisa” que precedeu o hipotético hipotético BigBang. Imaginar as leis sem a matéria seria, por conseguinte, uma absurdidade. Nessa ótica, parece, parece, porém, bem difícil explicar como a imutabilidade das leis pode dar nascimento à multiplicidade dos fenômenos. Parece também difícil compreender como como uma inteligên cia h umana pode, a partir de um conhecimento totalmente abstrato das leis naturais, comandar ou mesmo recriar um mundo, afirmando, com isto, a superioridade da mente sobre a matéria. Inversamente, a simples constatação de fenômenos, sem tirar daí as leis subjacentes, não permite absolutamente nada. Se seguirmos o ponto de vista materialista, chegaremos à conclusão absurda de que a vontade é um produto da ação, e não o inverso. A liberdade humana estaria singularmente amputada. amputa da. Do mesmo mesmo modo, fazendo falar o símbolo da roda, acabaremos concluindo que o que faz girar a roda com regularidade é apenas a sua periferia, e não o seu centro ou núcleo. Por conseguinte, podemos podemos enunciar enun ciar essa nossa hipótese, que, mesmo repousando unicamente na fé, não é menos razoável. Essa conjetura adquire, por isso mesmo, o caráter de uma
gnose: a pirâmide simbólica do universo presume, em seu topo, uma vontade motriz ou urna alma eterna como origem dos fenómenos transitorios. Os poucos elementos precedentes visaram mostrar a existencia soberana soberana de urna urna inteligencia inteligen cia universal denominada den ominada alma. Entretanto, eles ainda são insuficientes para permitir considerar sua imortalidade. E necessário, portanto, para vermos com clareza, clareza , que nos voltemos para as intuições da ciencia, ciencia , das quais o químico Lavoisier Lavois ier foi foi o portavoz, no século 18. Lavoisier fez com que se tornasse conhecida do mundo, °Nada se perde, nada se desde aquela época, a seguinte idéia: °Nada cria, tudo se transforma". O aspecto fundamental dessa idéia faz com que ela seja ensinada ensi nada hoje em todas as nossas nossas escolas. No entanto, raramente é explicado que essa foi uma noção descoberta intuitivamente já desde os séculos 4 e 3 a.C., pelo filósofo filósofo Epicuro, que, por sua vez, foi discípulo de Demócrito. Demócrito. Epicuro parte do principio de que nada nasce do nada e que o universo formado de átomos átomos não tem origem nem fim. “Nada se perde ... ” significa, em termos mais filosóficos, que tudo é eterno em essência, ao passo que as substâncias estão em perpétua transformação. “A vel hi ce e a mo rte só poup am os deuses; tudo o mais está está sujeito sujeito aos golpes vitoriosos vitoriosos do tem po ”, diz Sófocles em “Édipo”. Sem dúvida, Lavoisier, que se fez eco de Epicuro, queria deixar claro apenas uma um a coisa: a matéria ma téria e seus componentes, componentes, embora possam mudar muda r de forma, permanecem eternos em seu aspecto mais íntimo. Mais tarde, a física moderna pôs em evidência, graças a Einstein, a possibilidade da conversão da matéria em energia e o sacrossanto princípio da conservação da energia.
Tudo esta e staria ria dito e nós estarí es taríam amos os isolados isol ados no reino rein o da matéria se, segundo uma arraigada tradição que remonta a uns milhares de anos, os maiores pensadores do Egito antigo não houvessem vislumbrado a seguinte lei: “O qu e está em cima é como o que está em baixo”. Essa fórmula pode ser lida na Tábua de Esmeralda, um texto filosófico hermético cuja origem os historiadores fazem remontar ao século 3 d.C. Uma história mais tradicional atribui esse texto ao sábio Hermes Trismegistus. A frase corresponde à importante lei da analogia, que tem guiado muitos pensadores metafísicos ao longo dos séculos. “O que está em cima é com o o que está está em baixo” significa que aquilo que é válido no que tange a eternidade da dupla matéria energia vale v ale também, com mais forte razão, para a essência invisível da Alma ou da Inteligência U niversal. Em outras palavras, o que se aplica à essência da matéria , segundo a doutrina de Lavoisier, aplicase igualmente à alma ou aos princípios cuja existência alguns filósofos gregos nos fizeram perceber. Vemonos confrontados aqui com uma decisão fundamental para o ser humano. O pensamento materialista parte do postulado (que é um ato de fé) segundo o qual o universo percebido pelos sentidos físicos ou pelos instrumentos científicos, atuais ou por virem (instrumentos estes que, aliás, correspondem simplesmente aos prolongamentos de nossos sentidos físicos) é o único qu e existe. O pensamento espiritu alista, por sua sua vez, sem negar neg ar as realid rea lidade adess do mundo mu ndo objetivo, objetivo , considera con sidera que nenhum argumento racional ou científico pode demonstrar a inexistên cia do mundo dos princípios. Esse pensamento chega mesmo a afirmar que é impossível explicar nosso mundo e os mistérios da vida e da morte fazendose abstração desse desse mundo in visível.
Vejamos Vejamos de novo novo a fórmula “Nada se perde, nada se cria, tu do se transforma transforma ” Analisemos Analisemos mais mais particularmente particularmente a parte que diz “nada se cr ia ”, aprofundando nosso raciocínio. Isso significa, na verdade, que a essência de todas as as coisas nunca teve começ começo, o, que é incriada. Isso pressupõe, então, que todas as coisas e os fenômenos visíveis ou invisíveis são eternamente preexistentes na Grande Inteligência do Universo. São potencialmente preexistentes, antes de serem manifestados no mundo tangível. Por analogia, analogi a, poderíamos usar a imagem de um CD, que contém simultaneamente simulta neamente todas as informações informações musicais em seu pequeno volume, antes de permitir sua manifestação manifestação sonora sonora tangível para deleite de um ouvinte. Pode Podemos mos também demonstrar que aquilo que nunca teve começo começo também não pode ter fim. Com efeito, o que não é criado também não pode ser destruído. Naquilo Naquil o que tem existência eterna, o tempo não põe suas garras. Uma outra fórmula famosa é atribuída a Heráclito de Éfeso, que viveu vi veu entre o sexto sexto e o quinto quin to século antes de nossa era. Em Nadaa é, tu do se to ma ". Isso descreve o essência, diz o seguinte: “Nad que se passa realmente no nível do mundo manifesto. Tudo está em perpétua transformação. No exato momento em que pensamos que uma um a coisa é isso ou ou aquilo, aqui lo, ela já se transformou transformou em outra coisa qualquer. qualq uer. Os átomos átomos estão em em perpétua vibração; não há dois instantes idênticos nem duas situações espaciais estritamente idênticas. Isso significa que nada pode pretender se r no mundo da forma. Os fenômenos incesao estado de ser santemente mutáveis não pertencem ao ser. Assim, o ser, que é essencialmente imutável, não pode ser considerado como pertencendo à matéria. A matéria não é, tende a vir a ser. O que ê realmente é a alma, e aqui podemos nos fazer a seguinte pergunta: que existe de comum entre o ser e o objeto, entre o mundo e a alma?
Até o momento momen to desenvolvemos desenvolv emos argumen argu men tos, sobretudo filosóficos, pleiteando em favor da eternidade da alma. No entanto, a observação da natureza, de um determinado ângulo, pode completar essa demonstração. Vamos fixar nossa atenção atenção exclusivamente exclusivam ente no mundo vivo, uma vez que nessa esfera a influência da alma se faz sentir de maneira nitidamente mais patente. O mundo vivo dá provas de animação e inteligência, além de direcionamento de sua própria energia. Uma vontade invisível parece desabrochar ali, conduzindo co nduzindo,, cientemen te ou às cegas, as formas formas de de vida no caminho da evolução. Os seres vivos, quaisquer que sejam, manifestam igualmente determinado número de tendências latentes. Uma ilustração dessas tendências é, por exemplo, a vontade irreprimív el de conservar a vida. Outra tendência, também irresistível, visa a evolução e a complexidade dos organismos vivos. Corolário dessa complexidade, certa inclin ação para a associação é evidente entre os animais monocelulares, na gênese da evolução. Assim, desde sua origem no oceano primitivo prim itivo,, a vida, vida , inicialmente manifestada pelos primeiros aminoácidos, não parou de querer ser mais e melhor. Desejando experimentar uma qualidad qu alidadee de ser mais e mais sutil, os primeiros animais celulares, impelidos por esse desejo, associaramse para formar organismos mais complexos, origem dos órgãos dos animais superiores. Em termos mais poéticos, vemos que o amor —ou a necessidade de união das células —já estava presente desde as origens da vida. Designase pelo nome de “instintos” o conjunto dessas tendências. Instintos de conservação, de evolução, de associação... Aqui, naturalmente, nada mais faço que apresentar dicas para reflexão, reflexão, e espero que outros com mais informações que eu explorem
esse campo infinito de conhecimentos, mesmo que essa tese pareça deixar de lado as indispensáveis contribuições de Darwin ou Lamarck. A questão que stão que nos preocupa preocu pa aqui aq ui é: qual qu al é a verdadeira verdade ira origem dos instintos? A resposta do darwinismo foi: os instintos representam o resultado de uma educação dos reinos reinos vivos, seguindose seguin dose ou em reação à pressão do do meio em que se desenvolvem. Mas, para começar, podemos nos fazer a seguinte pergunta: por que o ser vivo se desenvolve e manifesta, a priori, as características de crescimento, assimilação assimi lação e reprodução? Como pode a pressão do do ambiente estar na origem do instinto de sobrevivência, desse instinto que provavelmente impeliu a primeira célula viva, nascida no oceano primitivo, a lutar para conservar sua vida, justamente contra esse ambiente que tendia a destruila? Onde se encontra, na matéria m atéria minera m ineral,l, a fonte de tal impulso? Acreditar Acred itar que o ambiente ambi ente possa ter engen drado uma reação, sem admitir uma tendência inata, i nata, não seria tomar o meio meio pela causa? Imaginar que a matéria possa se organizar espontaneamente, para produzir uma inteligên cia semelhante a de um computador, é esquecer que por trás trás de um computador há sempre um ser humano. Na verdade, não é difícil pressentir que os instintos básicos representem um produto inato da Alma Universal. A menos que eles não constituam de fato o resultado do diálogo estabelecido entre essa Alma e as formas vivas. Por intermédio dos instintos e da vida ou energia vital, essa alma estruturaria a matéria em formas sempre mais evoluídas, capazes de demonstrar faculdades cada vez mais voluntárias. Graças a esse processo, as faculdades mais nobres da alma exteriorizamse pouco a pouco em nosso mundo.
Existe um debate que há muitíssimo tempo vem opondo filósofos e cientistas. Tratase de saber se uma essência como a vida poderia ter outra origem origem que não a material. Para a crença materialista, a vida é apenas a conseqüência de uma organização organi zação físicoquímica especial da matéria. Essa teria se tornado orgânica e, portanto, capaz de mover a si mesma. A faculdade da consciência decorreria igualmente dessa organização, impulsionada impulsi onada aos altos altos píncaros da evolução. Não há efetivamente nenhuma prova objetiva de que seja assim ou o contrário. Poderíamos, aliás, nos perguntar: por qual milagre uma matéria concebida como inerte poderia produzir a consciência intencional? O debate não é nem um pouco insignificante. Da resposta obtida ou escolhida dependerá um determinado deter minado conceito da morte. O século 19 assistiu a essa discussão de um ângulo ligeiramente diferente. A idéia da geração espontânea de pequenos organismos a partir de uma energia vital foi destruída pelo biologista Louis Pasteur, que tornou evidente o papel dos micróbios na gênese das doenças. Desapareceu, assim, o sonho dos adeptos da geração espontânea da vida. No outro extremo, o século 20 dedicouse a produzir vida em laboratório a partir apenas da utilizaç util ização ão de blocos blocos de matéria. Nos Estados Estados Unidos, em 1952, certa experiência foi realizada. Um pesquisador tentou gerar vida a partir par tir do que ele pensava ser as condições condições ideais existentes na terra, há uns u ns bilhões de anos. Usou, então, água e uma mistura de gases contendo, entre outros, o metano. Nesse ambiente confinado, em primeiro lugar ele simulou relâmpagos, através da produção de arcos elétricos. Para surpresa sua, viu aparecerem aminoácidos, constituintes primários da vida. Contudo, conforme os próprios cientistas
confessaram, não houve surgimento da vida, pois, para isto, isto, é necessário um código genético, constituído pelo material portador de informações hiperorganizadas, que é o DNA. Em outras palavras, para q ue haja vida, é preciso um tipo de inteligência, veiculada pelo DNA. A esse respeito, o professor Dan iel Cohén, Coh én, que qu e dirige diri ge o programa francês de pesquisa sobre o genoma humano, explicou que, q ue, no início de seus estudos sobre sobre o assunto, ele professava o ateísmo, mas quanto mais descobria a complexidade inacreditável da organização desenvolvida dentro das células humanas, mais a hipótese de uma Inteligência Divina tornavase plausível para ele. Invocar o acaso ou a seleção natural, a priori cega, parecialhe desmedido para explicar a extraordinária organização do genoma humano. Mas voltemos às tentativas de criação cria ção da vida. Desde 1952, 1952, outras tentativas foram feitas, com resultados infrutíferos. Mesmo que um dia se anunciasse que um laboratório conseguiu fazer a síntese da vida, isto não provaria absolutamente qu e essa energia tenha sido sido criada, mas, quando muito, que as condições materiais, físicas, químicas, eletromagnéticas, etc., foram reunidas de tal modo que a vida pôde se manifestar dentro de receptáculos. Além disso, a dificuldade da maioria dos modernos estudos da vida vem do fato fato de de que, cada vez que o ser humano qu er observála a partir de seu interior, ele se vê obrigado a destruila. No que concerne o debate sobre a presença ou não da vida, na quali qu alida dade de de fenômeno que existe junto à matéria mat éria,, convém observar que o pensamento científico atual utiliza atalhos abusivos de raciocínio. Tomemos o exemplo da
memória. A experiência da neurologia leva nosso mundo a concluir que a sede da memória está situada totalmente no cérebro. Lesões acidentais ou provocadas (em animais) produziram produzira m em suas vítimas perdas de memória passageiras ou irremediáveis. Tudo se passaria, então, como se o dano causado às células ou aos centros nervosos afetasse simultaneamente a capacidade de recordação das lembranças. Concluiuse daí que a memória de determinado assunto se situaria situar ia num nu m local específico do cérebro, cérebro, ligado a esse assunto, como numa gigantesca biblioteca. Hoje, com o progresso das pesquisas, admitese, porém, que todo o conjunto, e não mais apenas uma parte dos neurônios do cérebro ou até mesmo do corpo, está implicado no processo de memorização. Contudo, a conclusão tácita dessas experiências é que o conjunto da memória precisa ter um suporte físico, como no caso de uma memória eletrônica (estocada em circuitos integrados ou CDs). E bem esse o caso de determinadas áreas daquilo que se denomina denomin a memórias memóri as de curto, médio ou longo termo. Mas essas experiências não permitem demonstrar q ue o desenvolvimen desenvolvimento to de uma vida, naquilo que ela possui de mais emotivo e mais sutil, deva forçosamente inserirse num substrato material. Admitir Admit ir que uma estrutura estru tura material mater ial seja necessária para a manifestação manifestação de um fenômeno fenômeno não significa, automaticamente, que essa matéria visível represente o alfa e o ômega de tudo o que existe. Princípios como a alma ou a memória (veremos depois que estão ligadas) podem ser, com toda liberdade e independência, ao mesmo tempo em que precisam de um mediador físico para se manifestarem. Precisamos aprender a diferenciar diferen ciar entre o ser e sua manifestação, sem que um exclua forçosamente o outro.
Quando se lesa uma parte par te do cerebro, o que qu e se faz é somente atacar o mediador que liga a sede da memoria à sua expressão inteligível ou à sua tomada de consciência. Por analogia, destruir algum dos componentes eletrônicos de um televisor diminuirá parte da qualidade da imagem recebida. Todavia, as ondas enviadas pela emissora ou pelo satélite continuarão inalteradas. Mas fiquem todos tranqüilos, promover a certeza da existência da alma, como modo de explicação de alguns fenômenos, não significa inserir um termo obscurantista nas pesquisas científicas. A ciência deve estudar a organização natural, natu ral, e só pode fazer isto tendo toda liberdade. O estudo da matéria, aliás, talvez até acabe ajudando a compreender melhor a alma. Mas a ética, a responsabilidade e a objetividade científicas não permitem hoje (e provavelmente jamais permitirão) negar os fenômenos invisíveis. Os maiores biologistas da atualidade atualidad e não hesitam mais em reconhecer que a descoberta do código genético contido no DNA não é suficiente para explicar o conjunto dos fenômenos chamados u • i yy • a.a. • » vida yy e u consciência . De fato, o único “instrumento científico” capaz de sondar o mundo das essências é o próprio ser humano e suas experiências interiores; de fato, o ser humano é um produto (até onde chega nosso conhecimento atual mais avançado) Semelhante com preende sem e desse mundo das essências. “Semelhante lhante ”, ”, como diz uma velha fórmula alquímica. O desenvolvimento extraordinário da informática leva muitas pessoas a acreditarem que a inteligência artificial está a um passo de igualar, quem sabe, até superar a do homem. Em
conseqüência, segundo a lei do menor esforço, não precisaríamos mais invocar a inteligência da vida para explicar a inteligência humana, uma vez que uma inteligência estritamente material pode fazer isto igualmente bem. A derrota retumbante do jogador de xadrez Gary Kasparov para um computador foi largamente comentada co mentada e veio apoiar essa idéia. Isso é esquecer um pouco rápido demais que por trás do computador estão os seres humanos. Kasparov, aliás, revoltou se contra essa derrota, argumentando que os engenheiros corrigiam todo o tempo os os cálculos da máqu ina, à medida que qu e o grande mestre do xadrez a colocava em dificuldades. Em outras palavras, Kasparov não jogou contra um simples computador inerte, mas contra engenheiros que somavam sua inteligência ao poder de de cálculo da máqu ina. Na realidade, nenhuma inteligência mineral até agora jamais superou a inteligência inteli gência e a criatividade biológicas desenvolvidas desenvolvidas pelo ser humano. O computador não tem alma, poderseia dizer, ou, se a tem, é indireta mente a de seus criadores. Todas Todas essas essas digressões digressões pela memória e pela informática informát ica parecem estar nos afastando do nosso assunto. No entanto, elas nos autorizam autori zam a pensar livremente que, em nosso mundo científico tecnológico, tecnológico, existe existe uma inteligência int eligência contida numa n uma vida e numa memória que são independentes da matéria e que, portanto, sua imortalidade continua sendo imaginável. Todo Todo o problema da reflexão atual atua l sobre sobre a vida vem do fato fato de nosso nosso mundo colocála colocál a em oposição à matéria, como se uma pudesse se manifestar sem a outra. Recusamonos a considerar que uma um a relação dialética dialéti ca possa possa unilas, unila s, uma um a se sobressaind sobressaindoo à outra. Paradoxalmente, Pasteur, que combateu a idéia da geração espontânea, escreveu o seguinte, numa de suas
anotações: “Quem nos garan te que o progresso incessante da ciência não obrigará os cientistas cientistas de daqui a um século, m il anos ou dez m il anos, anos, a afirmarem que a vida semp re exist existiu iu e não a ma téria? Passamos Passamos da matéria à vida porq ue nossa inteligê ncia atual, tão acanhada em relação ao q ue será a inteligência d os naturalis naturalistas tas do futuro, nos diz diz que não se pod e com preender as coisas coisas de outro modo. Quem m e garan te que daqui a mil anos não se acreditará ser impo ssível não passar passar da vida à ma téria?”. Quanto a nós, pensamos pensamos que um a inteligência inteligên cia realmente prudente e isenta de preconceito preconceitoss materialistas materialis tas não pode racionalmente descartar descartar a hipótese dessa vida preexistente. A lição liç ão que qu e poderí po deríam amos os tirar tir ar da que stão stã o da geraçã ger açãoo espontânea é de todo original: a vida não pode nascer espontaneamente, numa forma conhecida, dentro de uma massa de matéria não preparada. Foram precisos milhões de anos para que essa vida estruturasse estr uturasse pouco a pouco a matéria, a fim de que esta se tornasse um suporte válido para a expressão daquela. daque la. As formas formas mais evoluídas da vida só são são transmitidas, portanto, pela presença de células já existentes e muito bem estruturadas geneticamente. Entretanto, Entretanto, no que concerne uma visão espiritual da existência, milhões de anos não representam representam nada. Mas recriar artificialme artificialmente nte uma organização material que apresente certa vitalidade não é suficiente para provar que essa energia seja o resultado exclusivo dessa organização da matéria. Para compreender o surgimento da vida, é necessário ter em mente a relação dualista que ela mantém continuamente com a matéria, e a isto somar a intervenção das leis de evolução, do tempo e, por que não, de alguns “acidentes” certamente não devidos ao acaso. A observação observa ção do mundo mund o natur na tural, al, aliás, ali ás, provavelme prova velmente nte poderia nos fornecer muitas outras informações acerca da
existência a priori da da vida. Como responder à pergunta: por que a natureza apresenta uma capacidade criadora tão extraordinária? Os naturalistas sabem perfeitamente, por exemplo, que essa vida aparentemente aparentem ente tão frágil dá provas de uma capacidade surpreendente de renascer em seguida à queda de uma mínima chuva nos desertos mais áridos. A luz dos nossos conhecimentos atuais, o ser humano representaria a forma forma de vida mais organizada organiz ada que existe. Constituiria, Constituiri a, acreditase, o ápice da evolução. A análise do ser humano, de suas particularidad particul aridades es e faculdades também pode pôr em evidência a existência da alma. A primeira e certamente a mais evidente das características características humanas está em sua autoconsciência. Em outras palavras, o ser humano desenvolve uma personalidade ou um eu . Isso significa, em outros termos, que no estágio humano a evolução pode assumir caráter consciente e voluntário, independentemente da pressão do meio ambiente. O ser humano human o busca e quer evoluir por si e para si, do ponto de vista psicológico. Através dele, a consciência, que é um conceito totalmente abstrato, buscaria se aperfeiçoar. Dissemos antes que, segundo as teorias materialistas, as leis naturais seriam o resultado de uma necessidade inerente à matéria. matér ia. Isso parece parece significar que a matéria seria, ao mesmo tempo, a causa e a conseqüência de suas leis, independentemente da intervenção de uma inteligência externa ou transcendente. Acontece, porém, que o ser humano, ápice da evolução, pode, não só hoje como há muito tempo, constituir essa inteligência inteligên cia exterior. exterior. O ser humano é causativo, isto é, pode pode livremente decidir acionar acio nar forças forças e leis naturais que, até certo ponto, submetem a matéria à sua vontade. Como explicar que a necessidade ou a matéria inerte tenha podido criar tal inteligência livre, capaz de se tornar
mestre dela? Através do ser humano, a consciência, supostamente produzida por arranjos complexos da matéria, buscaria buscar ia se desenvolver por si mesma. De novo, novo, onde é que se encontra no mundo mineral a origem desse impulso? Nossa compreensão científica atual não pode responder a essa interrogação, a não ser (e isto colocaria em questão muitas coisas, fazendo desaparecer uma certa concepção da natureza, herdada da ciência ciên cia do século 19) 19) que se considerasse considerasse a matéria como um ser vivo e consciente, capaz de apresentar uma inteligência. O inerte não pode produzir consciência, mas a inteligência, ao organizar o inerte, pode gerar consciência objetiva. É fato pragmático que um ser humano colocado num ambiente desconhecido tentará estruturar aquilo que ele percebe, para darlhe um sentido. Para isso, ele partirá do conhecido: sua experiência atual. Tentará, então, comparar aquilo que ele percebe como novo com aquilo que ele já conhece. Assim, ele fará nascer nele a centelha cent elha de compreensão dessas novas experiências. Essa tendência é irresistível no ser humano. O que chamamos inteligência pode, aliás, ser definida, entre outras coisas, por essa faculdade de adaptação que transporta transporta o desconhecido desconhecido ao conhecido. conhecido. Em última últ ima análise e de modo extremo, podese remontar essa tendência ao seu instinto de conservação. O ser humano sente necessidade de compreender seu ambiente, a fim de dominálo e assegurar sua sobrevivência. sobrevivência. Os antropólogos preferem muitas vezes situar os primordios da civilização há mais ou menos cem mil anos. De fato, constataram que foi por volta dessa época que o ser humano começou a enterrar seus mortos. Nesse mesmo período, ele
considerou pela primeira vez a noção de uma alma imortal. Nossa Nossa civilização materialista explica qu e a vontade humana de considerar a sobrevivência da alma é um produto do medo da morte ou, então, que tratase da consideração e da interpretação, pela consciência, do instinto de sobrevivência. Que a consciência leve em consideração o instinto de sobrevivência, isto parece, por si mesmo, evidente. Contudo, recordemos a pergunta feita anteriormente: qual é a origem do instinto de sobrevivência? Não a matéria inerte, com certeza, mas, sim, a Alma Universal. Por Por conseguinte, se o ser humano possui a intuição irreprimível da sobrevivência de sua alma, esta vemlhe justamente da existência dessa alma imortal. Que dizer, então, do impulso sentido pelo mestre Leonardo Da Vinci, de pintar pin tar a Gioconda? Alguns Al guns filósofos filósofosgregos, dentre eles Platão, seguidos dos neoplatônicos, explicavam que o ser humano possuía, em seu foro íntimo, de maneira mais ou menos difusa, uma idéia do belo, de bem, do justo e do verdadeiro. verdadeiro. Platão acrescentou acrescentou que seria seria perfeitamente possíve possívell imagina ima ginarr que as noções noções de perfeição, provenientes do mundo arquetípico das idéias eternas, foramlhe transmitidas por intermédio da Grande Alma do Universo. Ele a considerava, portanto, como um intermediário entre o mundo material da transformação e aquele outro imutável, dos arquétipos. Sócrates, mestre de Platão, por sua vez, ensinou a existência de um conhecimento inato no ser humano, do qual qu al ele poderia se lembrar sob determinadas condições. Ele foi o divulgador da maiêutica ou arte de fazer a alma parir através de um questionamento corretamente conduzido. A palavra palavra maiêutica é formada de maia, termo grego antigo que significava “pequena mãe” ou “pequeno pai”. Um dos nomes freqüentemente utilizados para de signar a Alma Universal é a “Mãe
Universal”. Segundo aqueles grandes filósofos, um ideal de perfeição de conhecimento ddormita ormita no homem. A busca desse desse ideal, seja ele material, intelectual, emocional ou espiritual, compõe o fermento da evolução humana. E poderíamos acrescentar que todas as tendencias que impelem o ser humano para os elevados valores da vida (amor, arte, fraternidade, frater nidade, etc.) vêm de sua alma. É inegável que o ser humano, face face à existência mater ial, é capaz de demonstrar certo livrearbítrio. Essa capacidade só pode pode lhe ser insuflada pelo mundo espiritual. esp iritual. A liberdade da alma se contrapõe à necessidade de leis do mundo material. Fonte dessas leis, ela só pode ser maior que elas. Toda a vida humana constitui uma luta contra a necessidade. O advento advento da tecnologia nos permite compreender que essa luta deveria passar por um estágio de dominio, em vez de destruição da natureza material. De fato, muitas tradições e filosofias concordam em explicar que, por suas faculdades e poderes, o ser humano representa uma imagem da Grande Inteligência Universal que está na origem do mundo. mundo. Um dos símbolos mais antigos antig os usados para par a descrever o elo elo e a relação existentes no ser humano entre sua alma e seu corpo, corpo, ou entre os mundos espiritual e material, é a cruz. O braço horizontal da cruz descreve, por sua relação com a linha do horizonte terrestre, o mundo da matéria. m atéria. O braço vertical, pelo fato de sugerir a idéia de descida, representa a alma que se infunde na matéria, matéria , para nela estabelecer uma relação dialética. A barra horizontal horizo ntal ou material mate rial é regida pelos princípios p rincípios de evolução, transformação e multiplicidade de formas e estados. A morte, morte, que, em última análise, represen representa ta uma transfo transformação rmação,, pertencelhe portanto. Notese, lançando mão de um outro
símbolo, que a serpente do texto bíblico da Gênese é um animal que rasteja horizont h orizontalment almente, e, o corpo corpo em contato com com o chão. “O mais ardiloso de todos os animais dos campos” está qualificado qualif icado no mito? O ser humano, humano , por sua vez, desenvolve desenvolve o estágio vertical. Sua relação para com ambos ilustra o simbolismo da cruz. O réptil representa a necessidade de leis no mundo material, enquanto o ser humano encarna seu velho inimigo, a liberdade. Eis porquê, no mito bíblico, a serpente sentenciou a queda qu eda de Adão. Eles representam represent am duas ordens distintas. Um é o sujeito, o outro, o objeto. Boa parte da história das sociedades foi baseada nessa dualidade, nessa luta ou numa busca perpétua de equilíbrio entre esses dois princípios, o da necessidade ou totalitarismo totalitarismo sufocante e o da liberdade que dirige o ser humano para o progresso. progresso. O braço vertical da alma alm a fornece as idéias de perfeição e infinito. A essa altur al tura, a, podemos dar uma nova definição ao termo “milagre”. Ele representa a irrupção da liberdade no mundo da necessidade. Nesse sentido, todo processo vivo tornase um milagre. Não precisamos evocar evocar Lourdes, Mejugorje ou, ainda, ain da, manifestações extraordinárias e inexplicáveis. O milagre se encarna todo dia diante de nossos olhos, na medida em que vivemos vivemos num mundo mesclado de liberdade liberda de e necessidade. Compreender isso é resolver, de um só golpe, o problema da morte. A visão materialista materia lista da vida transforma o ser ser humano num produto bioquímico do acaso e do nada. Nesse terreno, nenhum humanitarismo coerente, portador de futuro, pode realmente se desenvolver. desenvolver. Ela torna o ser ser humano uma simples
máquina que pode ser explorada e destruída. Pior ainda, faz da poesia um produto de reações estritamente físicas. Mais espaço, por favor, para uma concepção mais sutil ou sensível do ser humano e da Criação! Passe a emoção pelas Forças Caudinas da análise intelectual e materialista, e voc vocêê a aniquila aniqui la existe alma im orta l ", irremediavelmente. irremediavelmente. Dizer “não existe ", é o mesmo que declarar d eclarar que não há liberdade possível; possível; é encerrar a vida no absurdo e na ausência de sentido, e, por fim, afirmar que não existe mais o próprio próprio ente humano!. human o!. Susten S ustentar tar a existência da alma significa propor um acordo entre a liberdade e a necessidade. Um sentido para nossa existência tornase, então, possível. E é por isso que a evidência da imortalidade da alma é a única portadora de um futuro sempre a construir. No simbolismo da cruz, o ponto de cruzamento dos dois braços descreve um princípio que é evolutivo como o mundo material mate rial e, ao mesmo tempo, perfeito e imutável imutáve l como o mundo espiritual. De fato, a relação entre a alma e a matéria, a alma e o corpo, gera um principio que é afetado simultaneamente pelos mundos espiritual e material. Parece que todo processo vivo situase no ponto central de urna cruz desse tipo. Na tradição islâmica, o ofício de tecelão, com suas tramas, simboliza a / estrutura e o movimento do universo. E através dos seres vivos, todavia, que a ação da alma dentro da matéria tornase tornase mais evidente. Essa idéia sugere a presença de um mundo invisível, o duplo ou a matr iz do mundo visível. Por conseguinte, a morte do corpo, representado pelo pote de cerâmica do oleiro, não significa, ipsofacto , o desaparecimento do molde que o formou. Existe um verdadeiro enigma em torno à identidade verdadei verd adeira ra do ser humano, hum ano, o qual qu al pode influen infl uen ciar nossa compreensão da morte. Esse mistério pode ser assim expresso: expresso:
existe um eu humano? Vimos que o budismo oficial responde negativamente a essa questão fundamental, fundamen tal, apoiandose, como Héraclito, Héracl ito, no fato de que nada é, tudo se torna. Algumas pessoas pessoas sentemse atraídas pelo budismo, por acreditarem (um tanto apressadamente) que ele desenvolve uma visão muito próxima da filosofia filosofia do materialismo, mater ialismo, uma vez que nega a existência do Ser Absoluto Absoluto que é Deus. O filósof filósofoo André Comte C omteSponvil Sponville, le, por exemplo, diz que a filosofia indiana sâmkliya , considerada como a fonte do budismo, expõe o mesmo princípio de inexistência inexistên cia do ser. ser. Platão, por sua vez, numa síntese superior, realizou a unidade unida de entre a idéia idéi a de um ser supremo e imutável imutáv el e a de um mundo em transformação. Para ele, portanto, há lugar para que o ser humano participe no Ser. Na filosofia filosofia do islã esotérico, encontramos idéias parecidas. Para o sufi, sufi, o ser humano não é nada e absolutamente absolu tamente não existe. No entanto, admitese o mistério da existência humana, huma na, o qual se está está inteiramente inteiram ente nestes nestes versos versos de DjalâlodDtn Rümi: “És nada e teu nada é m elh or qu e a existência. existência. Estás atrela atr ela do na perd pe rd a e tua per p er da é u m gan g an ho . Se fo re s aniquilado, ser-te-á d ado a existência. existência. Se te diminuíres, diminuíres, tom ar-te-ás maior que o mundo. Serás depois m ostrado a ti mesm o, sem ti. ti. ”
Maravilhosas fórmulas para reconciliar o ser e o devenir, numa síntese que qu e ultrapassa o entendimento. Isso, aliás, talvez explique a prudência pru dência extraordinária do Buda, qu e sempre se recusou a indicar a solução do problema relativo à impessoalidade ou não do carma.
Mas voltemos à nossa alma imortal. Até aqui, foram desenvolvidos elementos em favor da existência eterna de um princípio único, que foi qualificado de Alma Universal, do qual emana uma grande g rande força de vida. No entanto, o leitor certamente há de convir que o que realmente interessa aos habitantes deste planeta é a possibilidade de uma sobrevivência de seu eu, de sua individualidade. Seja poderoso ou miserável, o indivíduo quer saber se as tribulações que ele viveu neste mundo possuem um sentido em relação a um destino mais vasto. Vamos, então, examinar examina r agora a questão da sobrevivência sobrevivência do eu. Salientamos, em primeiro lugar, que o ser humano é consciente de si mesmo. E justamente justamen te devido a essa consciência de si mesmo, que é diferente daquela que os outros possam ter dele, que ele desenvolve uma verdadeira personalidade. A emergência da autoconsciência na corrente da evolução das espécies constitui, de fato, fato, uma ruptura ruptur a em relação ao passado, passado, mesmo que se possa dizer, de alguns animais superiores, que eles tenham desenvolvido uma autoconsciência embrionária. A esse respeito, notese q ue 99% dos dos genomas são comuns a humanos e macacos. O 1% restante representa, entre outras coisas, a consciência de si, de Deus, da verdade e da morte. Consciente Consciente de si mesm o, isto, para o ser humano, significa que nele a evolução adquiriu caráter radicalmente diferente. O ser humano pode aceitar ou rejeitar a ação de fazer evoluir sua própria personalidade, multiplicando ou não os instrumentos favoráveis favoráveis ao fenômeno evolutivo. Quanto Q uanto a isso, ele é dotado de livrearbítrio. A evolução representa nele um fator consciente, ao passo passo que nos outros outros reinos essa consciência de evoluir, tanto individual como coletivamente, não existe ou existe em baixo grau. Nos reinos qualificados de inferiores, a evolução parece mesmo ser sofrida. sofrida.
Não há evolução sem memória. O que hoje é aprendido é armazenado e serve de base para compreender ou adaptarse a experiências futuras. No mundo materia m ateriall vivo, vivo, conhecemos essa memória que conserva a experiência evolutiva adquirida. A genética genétic a chama cham a essa memória de hereditariedad heredit ariedadee e explica que a hereditariedade de características físicas ou mentais é transmitida transmit ida pelo código do DNA. DNA. Essa codificação está inseri inserida da no núcleo de todas as células vivas. Vimos antes que nada nos impedia de de considerar a existência existência autônoma de uma memória capaz de conservar a experiência adquirida durante toda uma vida. Em outras palavras, é possível imaginar a sobrevivência de um indivíduo depois da morte? Por que pensar, por exemplo, que o conhecimento e a maestria adquiridos voluntariamente volunt ariamente por determinada pessoa, ao longo de sua vida, sejam perdidos, sendo que a natureza tomou o cuidado de conservar a experiência do campo material através de uma memória genética? Por que a experiência acumulada por meios meios mais sutis, mais espirituais, seria perdida? Se a regra do menor esforço esforço mostrase mostrase verdadeira na natureza, natu reza, por que esta teria tido o cuidado de produzir prod uzir uma u ma consciência tão evoluída quanto a do ser humano, se fosse para fazela desaparecer ao cabo de uns oitenta anos? Se não admitimos a sobrevivência sobrevivência da personalidade humana, hum ana, fica difícil justificar esse desperdício de uma natureza que produz uma criatura criatu ra cuja principal princ ipal característica é desenvolver desenvolver uma personalidade imperfeita, passível de evolução e aperfeiçoamento. Parece evidente, ao observarmos honestamente a nós mesmos mesmos e aos nosso nossoss concidadãos, que, q ue, numa única existência, a personalidade fica bem longe de ter manifestado o desenvolvimento máximo de todas as suas
qualidades latentes. Se a pessoa desaparece com a morte, fica difícil compreender por que o universo dotouse desse meio de autoconhecimento que é o ser humano. Afinal de contas, o universo se reflete na consciência humana. Quanto mais o indivíduo cresce em conhecimento, sabedoria e maestria, mais o reflexo se aproxima de seu molde, ainda que, ao longo do progresso, cresça também nosso sentimento de ignorância. Se a experiência de uma personalidade e esta mesma personalidade desaparecerem sem estarem terminadas, será que podemos podemos realmente ter a esperança esperança de que o ser ser humano se torne, um dia, d ia, como no caso dos dos místicos mais evoluídos, o instrumento através do qual o universo será consciente de si mesmo? O espírito da poesia nos deixa pressentir: o universo mirase no pensamento dos entes despertos. O sonho tácitamente o d e acender f o g o prometeico prometeico da human idade é tácitamente acender o fo do conhecimento. Todos os talentos da humana natureza de hoje não preenchem esse vasto e brilhante destino. Arte, ciência, religião, mística, m ística, poesia, meditação, não esgotam esgotam a totalidade do conteúdo do real e do imaginário que se tornará o real de amanhã. No que diz respeito respeito à existência de uma memória capaz de conservar a experiência plena de uma pessoa, as tradições orientais, bem como o esoterismo ocidental, aludem à existência de arquivos que correspondem a uma espécie de Memória Universal. Essa memória reteria, por toda eternidade, a experiência adquirida pelos indivíduos. Ela constituiria um quinto elemento, chamado akasha , em sánscrito, sendo os quatro outros a terra, a água, o ar e o fogo. Notese, de passagem, que a maioria das religiões ou tradições aludem, de maneira simbólica ou velada, a essa memória. A pesagem do
coração no Egito, por exemplo, acontece na presença do deus Toth, o deus da escrita. Thot era o Senhor da Voz, Voz, o Mestre Mestre da Palavra e, sobretudo, o inventor da escrita. Sobre esse último Ela r epres ep res enta en ta a m ais ai s n o tá ve l d e atributo, diz ele num mito: " Ela minhas idéias. Ela permitirá, aos egípcios, adquirir e conservar uma ciên cia incomparável. Graças Graças a ela, ela, eles poderão guar dar a lembra nça d e todas as coisas. coisas. A escrita elimi nar á a ignorâ ncia e compensará a falta de m emória". Desse modo, podese estabelecer o elo entre o livro, livro, a escrita e a memória. memór ia. Fazer F azer com que Toth intervenha interven ha na pesagem pesage m do coração coração é, portanto, uma forma forma de explicar, pelo símbolo, símbolo, que q ue a evolução da alma ocorre ocorre perante a Memória Universal. Tomar o exemplo isolado do Egito não significaria signifi caria grande g rande coisa coisa se uma religião re ligião mais atual não utilizasse, ela própria, uma imagem image m similar. simil ar. No Apocalipse de João também se fala de livros e, especificamente, do “livro da vida" (João 19, 11). E cada desses livros ", os quais, alma “é julga da segu ndo o con teúdo desses naturalmente, ela mesma escreveu. “E aquele que não está inserido inserido no livro da vida é lançado num lago de fogo" . Que representam esses misteriosos livros senão a memória das experiências e dos atos atos de cada um? Na verdade, a maioria mai oria das tradições alude a um deus escriba, que anotaria a história de cada pessoa. pessoa. Na índia, ín dia, o deus Ganesha, com cabeça de elefante, Ma habhar harata, ata, ditada pelo escreve escreve o texto da grande grand e epopéia ou Mahab vidente Vyasa. Seria graças a essa memória imaterial que as personalidades seriam conservadas, antes de renascerem para um novo ciclo de evolução. Essa interpretação seria muito cômoda, pois provaria que o ser humano evolui através de sucessivas vidas de experiências e provas. Esse pensamento coincidiria também com a idéia que geralmente se tem da justiça. justiça. Explicaria, ainda, porqu e as crianças que nascem hoje
estão cada vez mais rápidas em sua adaptação às condições sempre cambiantes do mundo moderno. Elas dão mesmo a impressão de possuírem um conhecimento adquirido anteriormente. Nessa questão de memória e conhecimento passado, um professor da universidade de Charlottesville, Virgínia/EUA, estudou as lembranças de vidas anteriores relatadas por crianças bem pequenas. Esse psiquiatra, Ian Stevenson, estudou, de 1961 até o presente, mais de 14.000 casos de reminiscências surpreendentes, surpreen dentes, em todo o mundo. Para ele, se as recordações de existências anteriores não provam cem por cento a doutrina da reencarnação, reencarn ação, essa idéia, velha como o mundo, constitui consti tui ao menos a melhor explicação do fenômeno. Disse ele: "Todos os casos casos que pude estudar exaustivamente exaustivamente sugerem o fenô m en o da reencarnação. reencarnação. E trago, trago, no m ínimo, ap rova d e que entre algumas crianças crianças há elemen tos de sua estrutura estrutura psicológica que certamente não fo não fo r a m ad qu irido iri do s em sua s ua vid v idaa at ua l e qu e tam ta m bé m nã o p od em ser imputados a nenhum fato r hereditário”. Se essa idéia de reencarnação é um fato, isto significa que a evolução, evolução, que conduziu condu ziu a primeira primeir a célula viva até o ser ser humano, não pára neste estágio, mas pode tomar outras vias para se realizar. O ser humano pode escolher evoluir de modo independente de seu ambiente físico, mesmo que ele tenha oitenta anos de idade. Nada se perde, nada se cria, e todo trabalho de uma vida, mesmo feito numa idade bem avançada, produzirá frutos mais tarde. Que perspectivas imensas se abrem assimí Inversamente, se, a exemplo de alguns budistas, não acreditamos na existência da alma, mas somente na de um
carma ou de uma sucessão de causas e efeitos, mesmo assim podemos notar que, nessa sucessão de ações, a existência de efeitos já está contida potencialmente na causa primeira. Isso, portanto, significa signific a que qu e o conjunto das possibilidades possibilid ades —passadas, presentes e futuras —está —está latente e eterno na lei que qu e rege essa seqüência de causas e efeitos. Em outras palavras, tudo está em tudo, eternamente, sem que tenhamos necessidade de invocar uma “memória”, “memó ria”, no sentido clássico do termo. Apresentar uma apologia da imortalidad imort alidadee da alma não é coisa fácil. A argumentação poderá parecer insuficiente ao leitor preocupado em obter provas tangíveis e absolutas. Na verdade, é muito difícil provar de maneira filosófica filosófica a existência da alma e sua imortalidade. imortal idade. Se fosse fosse fácil, o debate já estaria encerrado encer rado há milhares de anos. A razão dessa incerteza vem do fato de que, para obter informações sobre essa esfera, seria preciso que o pesquisador se comportasse como um peixe que põe a cabeça para fora da água a fim de admirar o que se passa no outro mundo, na terra. O pesquisador precisaria mudar de lógica e de ponto de vista; precisaria aceitar sair daquilo que lhe é costumeiro. Os pioneiros, na maioria dos campos, muitas vezes são considerados como marginais, porque incomodam as ideologias ideologias comumente aceitas, aceitas, sem verdadeira análise. Ousar imitar os egípcios antigos e ir conquistar o além, como quem parte para a conquista de Marte... eis um desafio que faz tremer nossos contemporâneos. No entanto, não existe nenhuma outra solução, se queremos aprender a domar a morte. Em relação a esse assunto, existem os mesmos tabus que existiam na era vitoriana em relação à sexualidade. A propósito, note que os astrólogos associam o signo de escorpião ao sexo sexo e à morte, assim como Freud acreditou acred itou poder associar Eros a Tanatos. No entanto, para atingirmos a idade adulta, é
necessário questionarmos nossos tabus relativos à morte. A única atitude válida face ao assunto é a do caminho do meio. Nem fascinação nem repulsa, mas adaptação inteligente, só isto. Um ponto de vista como esse deixa bem para trás o estado de resignação e se opõe opõe categoricamente categorica mente à promoção do suicídio. Repetindo, provar a imortalidade por meio de argumentos filosóficos filosóficos é difícil. E preciso salient salientar, ar, no entanto, qu e provar o contrário é impossível. A questão da geração espontânea e as diversas pesquisas de criação da vida mostram: é impossível demonstrar que a energia vital corresponde corresponde a um mero produto produto da matéria. Na verdade, grande parte do comportamento coletivo da humanidade human idade é reflexo de uma crença implícita na imortalidade imortali dade da alma: de onde vêm nossas idéias de justiça, fraternidade e altruísmo? altruís mo? Por que defender o interesse coletivo coletivo antes ou ou junto ao seu próprio, caso se acredite que o ser humano vem do acaso e retorna ao nada? Por que construir civilizações ou produzir obras de arte, se apenas a necessidade cega dirige o mundo? Será que qu e devemos, então, fazendo eco eco ao Eclesiástico, Eclesiástico, “Vaida dade de das vaidades, tudo é v aida de e entoar o canto niilista: “Vai per p er se gu iç ã o d e v e n to ”} A orientação moral das sociedades, para além mesmo dos dogmas, repousa na idéia de que há um propósito sublime para o ser humano. A humanidade, coletiva e às vezes inconscientemente, está sempre em busca de sentido e liberdade. Para progredir, ela tem necessidade necessidad e de se sentir livre e de conceber um universo inteligente, criativo e —por que não? —imprevisível. imprevisí vel. Precisa Pre cisa sentir sent ir “o ser” à sua volta e imaginar imagi nar que o universo é concebido segundo o que ela crê ser a sua imagem. O acaso traz consigo a liberdade, mas apresenta
somente o nãosentido. A necessidade, por sua vez, pode ser concebida como inteligente, intelige nte, mas destrói a liberdade e o amor. amor. A esperança de que existe um um futuro para o ser humano baseia se nessas idéias. Negar Ne gar a alma co nduz ao niilismo niilism o e ao caos. E por isso, entre outras coisas, que, em nossas sociedades de consumo e materialismo, mais e mais pessoas se sentem desnorteadas e infelizes. Não tendo mais um objetivo transcendente a ser alcançado, elas perderam sua orientação ou não sabem mais a q ual santo se se devotar. devotar. Não sabendo mais de onde vêm nem para onde vão, não sabem mais nem mesmo quem são. Salvo se sua lucidez as fizer responder a charada materialist mate rialista: a: “você “você veio veio do nada por acaso e vai voltar ao nada por necessidade, necessidade, adivinhe que m é você?” Foi certamente por causa dessa compreensão e consciente do risco risco corrido corrido pela humanidade, humanidad e, que q ue Montesquieu, no século século 18, apresentou a imortalidade da alma mais como uma necessidade que uma certeza. Para ele, essa necessidade fazia se tão tão imperativa que não era nem um pouco permitido duvidar dela. Depois acrescentou: “Quando a imortalidad e da alma fo r um equivoco, fica rei muito desolado de não acreditar nela" nela".. E concluiu com as seguintes palavras: “Busco a im ortalidade e ela está está em m im mesmo. M inha alma, expande-te! Precipita-te na imensidão, penetra no Grande Ser!". Vale lembrar, neste contexto, a frase lúcida de André Malraux: “O século 21 será espiritual, ou não será "... " ... Para encerrar este capítulo, esclarecemos que a compreensão f e n ô m e n o da alma e sua imortalidade é sempre um a questão do fe questão de convicção interior. Todavia, isso pode resultar resulta r do despertar de certas faculdades superiores do ser humano. Para utilizar uma imagem, podese dizer que essas faculdades correspondem a alguma coisa parecida com o despertar do senso artístico, ou
seja, àquilo que o indivíduo é capaz de produzir produz ir de melhor no nível emocional. Acima do senso artístico, há uma faculdade ainda mais sutil, mais espiritual. e spiritual. E esse esse meio de conhecimento conhecimento que pode nos informar de tudo quanto se refira ao reino da alma. Aqui não é mais uma questão de fé, mas da cultura deliberada de um instrumento de investigação investigação suplementar para o ser humano. Todo o objeto da busca do bem empreendida pelos místicos, em especial os místicos Rosacruzes, consiste em permitir permit ir que esse sentido sentido se expresse expresse neles. Num campo mais próximo próximo do paranormal, Mircea Elíade estudou os xamãs, sacerdotes feiticeiros feiticeiros da Sibéria, Sibéri a, Ásia central e outras regiões do mundo. Observa ele que o aprendiz de xamã, para se tornar mestre e receber a iluminação que o experiência da tornará curandeiro e vidente, “de ve v iven ciar a experiência morte, durante 3 dias e três noites, e da ressurreição mística”. Então, nada mais lhe é oculto e ele pode ver o que se passa a grande distância. Supõese mesmo que ele el e seja capaz de ver as tenham sido levadas para o alto ou para baixo, baixo, no almas, "quer tenham pa ís do s mort mo rtos" os" . Na vasta categoria dos xamãs da Antiguidade, Antigui dade, Sócrates está numa boa posição graças à referência ao seu Daimon, mas quem mais nos interessa aqui é o sábio sábio Apológio Apológio de Tilanta. Ele teria respondido a um jovem jovem imprudente imprud ente que, depois de sua morte, invocou sua alm a para obter informações informações sobre sobre a imortalidade. imortal idade. Falócrates, em sua biografia de Apológio, relatanos a seguinte resposta, supostamente do alémtúmulo: “A alma é imorta l, n ão é vossa, mas da Pro vidência . Quando o corpo é consum ido, tal com o um cavalo v eloz que salta salta a barreir barreira, a, a alma se lança e se precipita nos espaços etéreos, cheia d e desdém pel p elaa tris tr istete e ru d e es cra cr a vidã vi dã o q u e so freu fr eu . Mas Ma s qu e te im po rtam rt am essas essas coisas? Tu Tu as conhecerás quando não m ais fores. Enquanto estás entre os vivos, por qu e tentar desv endar esses mistérios?" mistérios?"
Na mente do público ocidental, a palavra “reencarnação” muitas vezes remonta ao Oriente e seus misteriosos aromas. No entanto, se é correto correto constatar que mais de dois bilhões de habitantes da terra são acalentados pelas doutrinas budistas ou hindus, que ensinam a multiplicidade multiplicidad e de existências, existências, nem por isto é m e n o s verdade verdade que o resto do planeta conhece ou conheceu esse conceito desde a noite dos tempos. No próprio continente europeu, muitos grupos o transmitiram secretamente. Originalmente , a idéia de reencarnação decorreu prova velmen vel men te da observaç obse rvação ão 'dos fenô fenômeno menoss natu na turai rai s, pelos Antigos. No Livro dos Mortos dos egípcios, egípc ios, por exemplo, exemp lo, o morto (que podia ser o faraó) geralmente se identifica com o deussol Rá. Na índia, no Egito ou em qualquer outra parte, que coisa melhor que o retorno diário do Sol no levante para dar ao ser humano a idéia de um mesmo destino à sua alma? A reaparição regular da vestimenta floral da terra não representa a mais bela evocação do ciclo das encarnações? Mesmo a data do do solstício de inverno, inverno, que qu e no Hemisfério Norte coincide com o Natal, marca o tão esperado triunfo an ual do sol, sol, em pleno coração da frieza e das trevas trevas invernáis. inver náis.
Os egípcios antigos antigos formularam a idéia segundo a qu al "o que está está em cim a é com o o que está está em baixo” baixo”,, e viceversa. A Táb T áb ua de Es m erald er ald a, texto cu ja prim pr im eir a apr esenta ese ntação ção conhecida data do século 3 d.C., apresenta o testemunho escrito desse princípio. Segund S egundoo essa concepção, a fim de obter informações sobre o mundo invisível, o ser humano deve proceder primeiro a uma observação do mundo visível. A doutrina da reencarnação corresponde, portanto, à transposição, posição, para o reino da alma, da lei universal u niversal dos ciclos ciclos naturais e cósmicos, cósmicos, cuja existência q ualq uer um pode verificar. verificar. Os egiptólogos modernos ainda não conseguiram fornecer a prova de que essa crença existia entre os antigos egípcios. E apenas uma tradição tenaz que afirma que eles eram partidários dela. Alguns estudiosos explicam que eles acreditavam na ressurreição do corpo, corpo, a qual qu al devia acontecer ao termo de 3000 anos. Não seria preciso ir mais longe para encontrar a origem da prática do embalsamamento. embalsam amento. Foi daí que veio a idéia de que eles eram partidários da idéia da reencarnação. Na realidade, seu conhecimento apresentava u ma dupla face. face. A oficial, do sacerdócio de Amon, era exibida às claras. Mas havia também um conhecimento esotérico, esotérico, uma sabedoria secreta secreta reservada a uns poucos iniciados. Nela Ne la é que se abria o verdadeiro conceito de vidas sucessivas. Mais tarde, tar de, filósofos filósofos gregos, como Platão e Pitágoras, P itágoras, foram estudar à sombra das pirâmides. Heródoto, o grande historiador grego, afirmou que foi dos egípcios que eles colheram suas idéias sobre a reencarnação e a transmigração. "Foram m os egíp cios os primeiros a dizer que a alma Disse ele: "Fora humana é im ortal e que, que, no exato exato mom ento em que o corpo morre, morre, ela vai se alojar num o utro ser vivo que nasça naqu ele instante; instante;
que, após ter habitado, sucessivamente, em todas as espécies terrestres, [...] ela penetra de novo num corpo humano, no mo men to de seu nascimento, depois de uma m igração de três três mil anos. anos. Osgregos, tanto os antigos como os modernos, tom aram sua essa essa teoria, apresentando-a co m o de sua própr ia autor ia”.
Platão, por exemplo, conta sob forma mítica, no livro dez de sua “República”, a história de Er de Panfília. Er é um jovem soldado que, após uma batalha, fica morto por dez dias e depois retorna à consciência. Ao despertar, narra a experiência que ele viveu no além da morte. Descreve Descreve o julgamento das almas e seu retorno em corpos animais, para uns, e humanos, para outros. Mas são as almas que qu e fazem essa escolha; porém, antes de tomarem um corpo, devem se banhar nas águas do rio Letes, o rio do esquecimento. Na mitologia grega, esse rio separa o além da vida terrena. E dessa maneira que Platão, precursor de muitos escritores, explica a súbita amnésia das nossas existências passadas. No mito, ele evoca também a possibilidade de reencarnação das almas animais. Num outro texto, texto, “Phedo”, Platão nos entrega suas reflexões acerca do destino da alma após a morte, e novamente fala da reencarnação: “Se elas v oltam em sua mesma form a hum ana”, ana”, explica ele, “dão nascim ento a pesso pes soas as de d e boa bo a co c o n d u ta ”. Para explicar a lei da reencarnação, ele recorre ao princípio da dualidade. dualid ade. Tratase de um modo mais filosófico de abordar o tema, ao passo que outros povos preferem considerálo a partir da observação da natureza. Para Platão, a natureza de uma coisa só pode lhe ser conferida através da relação com o seu contrário. Por exemplo, a luz não existe sem as trevas, o pequeno só faz sentido sentido diante do grande, etc. Um produz o outro, e viceversa. Se essa concepção é válida válid a na categoria categ oria do
sentido, também o é na das coisas sutis. Assim, para Platão, a vida não existe sem a morte, a vida vem da da morte e a morte, da vida. No reino re ino da matéria, matér ia, constatamos esse fato. O húmus, húm us, produto da decomposição das folhas, constitui constit ui o terreno ideal das florestas. Do mesmo modo, Platão explica que as almas dos vivos vivos são são almas mortas que qu e tomaram tom aram um u m novo corpo, corpo, assim como os mortos provêm dos vivos. Outro grande grand e filósofo grego, Pitágoras, Pitágora s, professava, por sua vez, a doutri d outrina na da metempsicose, isto é, a crença segundo segund o a qual a alma humana pode voltar à vida num corpo animal. Os pitagóricos muitas mu itas vezes são acusados dessa opinião grosseira. Muitos estudiosos afirmam que sua prática do vegetarianismo provinha dessa crença. Entretanto, Hiéroclos, um neoplatônico do século 5 d.C., insurgiuse contra essa interpretação imatura do pensamento do grande sábio. Comentando os "Versos de Ouro” dos dos pitagóricos, disse: “Sempreperman ecendo com o alma de um ser humano, a alma (humana) va i se toma r um deus ou um animal, segun do tenha adquirido a virtude ou o vício. Por natureza natureza,, ela não é nem um nem outro, e éso m en te seu seu estado estado de ser que a toma semelhante ao prim eiro ou ao segun do”. Antes de mais nada, ele explicava que o ser humano está situado no meio entre os mundos superior e inferior. Por causa do uso de seu livrearbítrio, ele pode assumir interiormente as as características de um ou de outro mundo. Chamanos a atenção, aqui, a semelhança com as idéias tibetanas do Livro dos Mortos ou Bardo Thõdol. Nessa obra, explicase que o ser pode se reencarnar como homem, demônio, animal ou deus. Não há em nossa língua um termo específ específico ico que m arque definitivamente a diferença entre reencarnação num corpo animal anim al ou num corpo humano. Reencarnação e metempsicose
são utilizados indiferentemente, no sentido de renascimento num corpo qualquer. Com muita freqüência, a metempsicos metempsicosee animal é usada no intuito de rid icularizar iculariz ar a idéia do retorn retornoo num corpo humano. E preciso, portanto, imaginar novas definições que façam da reencarnação a migração da alma de um corpo para um outro do mesmo reino. Para se chegar à compreensão das obras de Platão ou Pitágoras, Pitág oras, convém lembrar que, a exemplo dos mestres daqueles tempos, eles exprimiram seus pensamentos sob forma de alegorias. No fim das contas, nada evidencia que qu e eles não nutrissem nutri ssem noções noções muito mais sutis do que as que qu e decidiram deci diram dar d ar ao mundo. A respeito do próprio Pitágoras, conta a lenda que ele teve a experiência da recordação de suas vidas anteriores, quando de uma visita a Heraum de Argolis. Nessa ocasião, ele identificou o escudo de Euforbe como tendo sido seu, antes ant es mesmo de ter t er visto a inscrição que ele continha. Isso faz supor que Pitágoras fora Euforbe, guerreiro morto diante dos muros de Tróia. Tróia. Em Elêusis, nas celebrações dos mistérios, o mito de Deméter era representado nas iniciações secretas. Platão, segundo consta, era um iniciado inic iado dessa escola, onde a revelação ilícita dos arcanos condenava à morte os culpados. A deusa Deméter, personificaçã personificaçãoo da natureza natur eza e das colheitas, tinha uma filha, Core, bela como o sol. Um dia, Hades, Hade s, deus dos infernos e irmão de Zeus, apaixonouse perdidamente pela jovem. Enquanto ela estava estava colhendo flores, flores, ele decidiu raptála e levá la para viver entre as sombras que povoavam seu reino subterrâneo. De repente, a terra se abriu sob os pés da adolescente, adolescente, dando passagem à terrível carruage m de Hades, puxada por seus cavalos cavalos infernais. Num piscar de olhos e num barulho ensurdecedor, ele arrastou consigo a apavorada Core.
Algum tempo depois, Deméter Deméte r se deu conta do desaparecimento de sua filha. Em prantos, ela peregrinou pela terra durante durant e nove dias e nove nove noites, numa num a procura que qu e se mostrou infrutífera. Interrogou todos os seres fantásticos e até mesmo os outros deuses do do Olimpo, que ficaram em silêncio, temendo sofrer as represálias de Hades. Então, Deméter, senhora da fecundidade da natureza, tornou a terra estéril, declarando que só lhe devolveria seu poder de produz ir frutos se sua filha lhe fosse fosse devolvida. Diante da im inên inência cia de um caos na ordem ordem da Criação, Zeus e os os outros outros deuses intervieram intervier am junto ju nto a Hades, com a seguinte mensagem: “Ou devol ves Core, ou estam os todos pe rd id os !”. E ele respondeu a Deméter: “Só recup erarás tua fi tua fi lh a se ela atnda atnda não tiver provado do a limento d os mortos”. E como achasse que assim era, ele se dispôs a devolver a jovem à sua mãe. Nesse momento, porém, Ascalafos, um jardineiro do Hades, afirmou ter visto Core comer sete grãos de uma romã do pomar infernal. Entretanto, era preciso encontrar um modo de fazer um acordo entre o apaixonado repelido repel ido e a mãe, coisa que aconteceu depois de longas discussões. Core passaria três meses do ano no Tártaro, Tárt aro, com o nome de Perséfone, Perséfone, a rainha rainh a dos infernos, esposa de Hades. Os nove meses restantes, viveria com sua mãe, na superfície.
encarnações, bem como o período vivido alternadamente na terra e no invisível. Descreve também os laços laços que unem o ser ser humano e a natureza, nature za, o ser humano e os deuses. Aqui, Core representa a alma humana, filha da Alma Universal encarnada por Deméter. Perséfone passa um quarto do tempo num reino inferior, destituído de luz, ao passo que vive os outros out ros três quarto qua rtoss em estreita estr eita harmo har monia nia com sua mãe. Se compararmos os doze meses do ano a um ciclo completo de encarnação e se os multiplicarmos por doze, obteremos cento e quarenta e quatro. Os nove meses restantes podem, então, ser comparados, segundo esse mesmo princípio, ao número cento e oito. Esse valor representa relativam ente bem uma duração de vida vida na terra, que, embora acima da média, não é assim tão raro. Em relação a cento e quarenta quaren ta e quatro, quatr o, restam trint a e seis anos anos a serem passados no invisível. 108, 144, 36: esses valores simbólicos, cujos dois primeiros são muito utilizados nas tradições orientais e no esoterismo ocidental, têm em comum o fato de poderem ser reduzidos a nove, que marca excelentemente a noção de ciclo. A história de Deméter e sua filha representa, portanto, de maneira alegórica, a lei das reencarnações comparada à dos grandes ciclos.
Esse mito foi interpretado, na maioria das vezes, como a representação do ritmo das estações. Perséfone simbolizaria a germinação germ inação na primavera e Deméter, a colheita no fim fim do mês mês de agosto, no signo astrológico da Virgem. O frio e as trevas do Tártaro, por sua vez, representariam o período invernal. Mas os mistérios de Elêusis, cuja chave teria sido dada aos homens pela própria Deméter, encerram uma outra interpretação esotérica para a história do rapto. Todo Todo o drama tem por função descrever o périplo da alma através das
Um outro povo povo da Antiguida Antig uidade de conhecia conh ecia muito mui to bem a noção de reencarnação. Os judeus da Palestina admitem duas fontes em suas doutrinas: a Torah escrita escrita (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento) e a Torah oral oral (a lei oral). Essa última, remontando a Moisés, foi transmitida de boca em boca por intermédio dos rabinos cabalistas. O rabi Isaac Loria, no século 16, ensinava a metempsicose ou migração das almas, mas igualmente igualmen te a impregnação de duas almas num mesmo corp corpo, o, em circunstâncias excepcionais. Os cabalistas geralmente
aceitam a doutrina das encarnações sucessivas, e a Bíblia relata que o próprio Moisés tinha sido iniciado aos mais altos conhecimentos do Egito. Devese ver aqui uma relação entre esses dois fatos?
Filh Filhoo do h omem também de sofrer por causa causa deles”} Então, os discípulos compreenderam compreenderam que essas palavras eram para João Batista. Como explicar, sem distorcer o texto, que Jesus não estivesse falando da reencarnação de Elias em João Batista?
Por volta do ano 50 d.C., o historiador judeu Flávio Josefo explicou, em seu livro “História Antiga dos Ju de us ’’, que essa ’’, que crença era muito difundida na Palestina, na época de Jesus. Afirma ele qu e na n a seita sei ta dos Fariseus, Fa riseus, “também é aceito qu e as almas são im ortais; que as dos justo s passam, passam, d epois desta vida, para pa ra out o ut ros ro s corpos, corp os, e que q ue as dos do s ma us sofr so frem em torm to rm en tos to s que qu e dur am Um a passagem pas sagem do Evangelho de Mateus Ma teus faz eco eternamente” '. Uma a esse fenômeno. A pergunta, "Que dizem feita por dizem de m im ?”, feita Jesus a seus discípulos, estes não hesitam hesit am em responder: “Para uns, és João Batista, para outros, Elias; para outros, ainda, Je re m ia s ou um do s pro p rofefeta tas" s" . Representaria Jesus, para uma parte do povo hebreu, a reencarnação de um dos sábios antigos? E por que, em vez de corrigir o possível erro, ele se contenta em responder: “Mas, Mas, para vocês, q uem sou eu?" .
Ao leitor leito r atento, não parecerá surpreendente surpreen dente que alguns algun s dos primeiros cristãos cristãos possam ter sido adeptos da reencarnação, se lembrar que estes eram, antes de mais nada, judeus convertidos ao cristianismo. Foi somente a partir do século 6 de nossa era, no segundo concilio de Constantinopla, qu e essa idéia foi condenada oficialmente oficialm ente pela Igreja. Esse concilio, eixo eixo de articulação na história da cristandade, viu a condenação de um dos principais Pais da Igreja: Orígenes. Orígenes ensinava a idéia da preexistência da alma e da multiplicidade dos mundos; idéia cara aos neoplatônicos, para os quais ele pendia. Uma tradução de um texto de Orígenes, feita por São Jerónimo, faz transparecer sua convicção: convicção: “Os que têm necessidade do co rpo revestem~se revestem~se de um e, ao contrário, qu ando a lmas caídas se elevam es e toma m melhores, seu corpo é d e nov o aniquilado. aniquilado. Ass Assim im,, elas desaparecem e reaparecem incessantemente".
Até hoje, os judeus jud eus con continu tinuam am aceitando aceita ndo essa idéia. idéia . O movimento do hassidismo, que existe desde o século 18, afirma sua crença na reencarnação. S egundo uma crença persistente persistente entre muitos judeus, crianças que morrem com baixa idade são a reencarnação de pessoas que deixaram este mundo prematuramente. A tradição esotérica esotérica ocidental afirma que os primeiros cristãos também estavam familiarizados com essa doutrina. Como compreender, no contexto da época, relatado por Flávio Josefo, esta frase de Jesus e seu comentário em Mateus 17,913: 17,913: “Sim, Sim, Elias Elias deverá v ir e coloca r tudo em ordem; em verdade, eu vos digo, Elias Elias já veio e eles não o reconhecera m, mas o tratar trataram am com o bem en tenderam. Do mesmo modo, terá o
O origenismo (que já mencionamos num capítulo precedente) foi condenado pelo imperador Justiniano, que convocou o con cilio con tra a vontad e do Papa Virgilio Virgilio.. Todo o ceticismo de nossa civilização ocidental, em relação ao tema das vidas sucessivas, remonta à época em que esse cutelo caiu. Teria a idéia incomodado o imperador da época, que, contra a opinião do Papa, Papa, queria que ria fazer do cristianismo cristianismo uma um a religião de Estado? Foi esse mesmo imperador, aliás, aliás , que fechou, em 529, a escola de Atenas, último reduto do neoplatonismo no Ocidente. De lá, os mestres neoplatônicos fugiram para a Pérsia e transmitiram suas doutrinas ao esoterismo esoterismo muçulmano.
Nossa investigação deve, então, prosseguir na esfera do islã. Uma das três grandes correntes islâmicas foi influenciada pela filosofia neoplatônica. Respeitadíssimos no mundo árabe, os sufis são em geral considerados como mediadores entre os sunitas da Meca e os xiitas iranianos. Um de seus maiores representantes, DjalalodDin Rümi, expressouse claramente, estágio no século 13, sobre a reencarnação: "Como o segundo estágio sempre fo i m elhor que o primeiro, primeiro, morre, morre, pois, pois, alegremen te e rejubila-te à idéia de tomar uma fo uma fo r m a n ov a e mel m elhh or [.. [ .. .] . C om o o sol, sol, som ente quando fizer es teu ocaso, nascerás nova men te em todo esplendor, no oriente". Os sufis consideramse detentores do conhecimento esotérico do islã, mas os druzas do do Líbano também professam a mesma fé. Para eles, um druza corresponde corresponde geralmente à reencarnação de um outro druza que que morrera. Afirmam que todas todas as almas foram criadas pela Inteligência Universal, que o número de seres humanos é sempre o mesmo, e que as almas passam por diferentes corpos. Abaixo, apresentamos o texto de uma profissão de fé druza , expresso numa seqüência de perguntas e respostas. P: Qu ejulgamento Hamza Hamza (o enviado divino divino para os druzas, que apareceu na terra no ano 400 da da hégira ou era maometana) exercerá sobre os indivídu os de diferentes seitas seitas e religiões? R: Cairá Cairá sobre eles com o gládio e com rigor, rigor, e far á todos per p er ec er em . P: Que acon tecerá depois que todos pere cerem ? R: Eles Eles voltarão ao tnundo, ren ascend o uma segun da vez, pela reencarnação; em seguida, ele os ju os ju lg a rá c o m o bem be m lh e aprou apr ouver ver .
Mais adiante, encontramos uma afirmação bastante surpreendente: P: Quantas vezes Hamza apareceu e quais fo quais fo r a m seu s no m es? es ? R: Ele apareceu em todas as as revoluções, desde Adão Adão até o profeta Maomé, Ma omé, sete s ete vezes ve zes ao todo. No tem po de d e Adão, cha m ou -se -s e Schatnil Schat nil; ; no de Noé, Pitágoras; Pitágoras; n o de Abraão Abraão,, seu n om e f o i Davi D avi;; ch am ou - se Schoaib no temp o de Moisés; Moisés; no tem po d e Jesus, Jesus, ele fo i o verdadeiro messias messias e seu seu n om e fo i E leazar... leazar...
Mais adiante ainda: P: Com o se realiza a reencarna ção ou tran smigraçã o da alma num corpo? R: Sempre que m orre um indivíduo, um outro nasce; é assi assim m que o m un do existe existe..
Essa idéia, porém, não é defendida apenas por algumas correntes das tradições monoteístas. Na África, está bem implantada nos povos animistas. Entre os iorubas da da Africa ocidental, por exemplo, algumas crianças, tidas como pais que voltaram à terra, recebem o sobrenome Babatundê , para os meninos, e Ietundê, para p ara as meninas. menin as. Esses termos podem ser ser traduzidos como “Pai (ou Mãe) que voltou”. Em Gana, o ad io significa “Ele voltou”. Os bambaras sobrenome Ab adio Dya cN i, dois componentes da alma, podem consideram consideram que Dya reencarnar no corpo de um recémnascido. Uma superstição talvez tenha criado a seguinte prática, que os iniciados das autênticas sociedades secretas africanas rejeitam: fazer um corte ou estigma qualquer no corpo do morto, para depois tentar constatar se o mesmo pode ser reconhecido no corpo de um recémnascido.
A África não é o único continente contin ente cujo culto cu lto da natureza natur eza recorre à reencarnação. Certos ameríndios, e mesmo os esquimós, acreditam poder recordar suas vidas vidas passadas. Na Europa, desde a Idade Média, parece ser mais difícil encontrar escritores que professem abertamente o princípio das vidas sucessivas. Os cátaros , herdeiros de correntes gnósticas, como também os bogomiles , acreditavam nele. Entretanto, face à inquisição reinante, era perigoso divulgar suas crenças. Contudo, não dizer nada sobre alguma coisa não significa que não se seja partidário dela. Como compreender que o conde conde de SaintGerm ain tenha, em pleno século 18, deixado correr, tão indulgentemente, o boato de que ele tinha 500 anos de vida? Essa história inacreditável não estaria escondendo escondendo alguma outra coisa? Como explicar também essa declaração de Cagliostro, feita no decorrer decorrer do seu processo: “Não sou de nenhum a época nem d e nenhum lugar; fora do tem po e do espaço, meu ser espiritual espiritual vive sua eterna eterna existência, e, se estendo meu espírito a um modo de existência afastado desse que percebeis, tomo-me aquilo que desejo [.../. Eis aí a í minh mi nh a infâ in fânc ncia ia,, m inha in ha juv ju v e n tu d e , ta l co m o voss vo ssoo esp e spírírito ito inquieto e ansioso de palavras a reclamam; mas que ela tenha durado mais anos ou m enos anos, anos, qu e tenha se passado passado no país de vossos pais ou em outras regiões, regiões, q ue vos importa isto?". isto?". Ain da no século séc ulo 18, 18, impos im pos sível síve l resisti res istirr à tentaç ten tação ão de reproduzir o famoso famoso epitáfio de Benjamín Franklin: Aqu A “ quija ijaz z Benjamín Fran Frankli klin, n, tipógrafo, com o a capa de um livro velho, as pág p ág in as arran arr ancad cad as, ab an do na do aos ao s ve rm es ; co m o títu tí tu lo e os dourados esmaecidos. A obra não se perderá, pois, como ele acreditava, reaparecerá mais uma vez, vez, num a edição nova e mais requintada, requintada, revisada e corrigida p elo autor".
Um pouco mais perto de nós, o doutor C. G. Jung, psicanalista tão famoso quanto Freud, manifestouse a esse respeito. Apesar de nenhuma experiência comprovadora têlo levado a concluir a seu favor, sua primeira atitude cética foi modificada graças a uma série de sonhos. Neles, como mostra no livro “Memória, Sonhos e Reflexões”, ele ele observou o processo de reencarnação de uma pessoa morta, que ele havia conhecido. Explica que, estudando certos aspectos daqueles sonhos, seria possível demonstrar de modo empírico a realidade da reencarnação, e isto com uma probabilidade nada negli genciável. Desde o início do século 19, várias pessoas se manifestaram no Ocidente a favor dessa convicção. Pessoas como, por exemplo, Walt Whitma Wh itman, n, o filósofo filósofo Emerson, Kant, Hegel, Vict Victor or Hu go. .. Corolário da idéia de renascimento, as noções de carma e também tiveram um equivalente no Ocidente. Ocidente. Carma darma também ou krm, palavra sánscrita que significa “ação”, representa a noção de justiça ou lei de causa e efeito. Já a palavra darma , antes de representar o ensinamento do Buda, pode ser traduzida como “lei universal”. Essas duas noções estão indissociavelmente ligadas à reencarnação. De fato, todo seu sentido como instrumento de evolução está em que ela atue no âmbito da lei universal que, no caso, ma nifesta-se através através da lei de compensação ou de justiça. O Egito Egito antigo conhecia muito m uito bem esses dois princípios, visto que q ue a pesagem pe sagem do coração, coração , representa repre sentada da no Livro dos Mortos, põe põe em cena a balança da justiça, na qual qua l é colocada a pluma de M aat aa t , deusa da verdade e da lei universal. O próprio Platão, em toda sua obra, fala de uma justiça universal que visa o aperfeiçoamento e a evolução da alma humana.
Ao justo, o ato justo e a justa compensação. co mpensação. A cada um , suas ações e suas compensações. Não é exatamente exatament e assim o princípio do carma? Existem diferentes difere ntes pontos de vista no que se refere à duração dos ciclos de encarnação. Para os egípcios, 3.000 anos separariam duas vidas. Platão, em “Phedo", fala de 10.000 anos, já na "República", cita uma jornada jornad a de 1.000 anos. anos. Os tibetanos, no Bardo Thõdol, estimam que a espera no outro outro mundo varie de 0 a 49 dias. A primeira constatação que salta aos olhos em relação a esses números reside em sua natureza simbólica. H. Spencer Lewis, Imperator da Ordem Rosacruz, AMORC, no começo do século 20, alude al ude a um ritmo de 144 144 anos, valor médio entre dois nascimentos. Se por acaso esse valor causa surpresa, convém ressaltar re ssaltar que a medicina medici na afirma hoje que o homem estaria geneticamente programado programado para viver entre 130 e 140 anos. 144 corresponde de fato a um número importante na tradição ocidental. oc idental. O Apocalipse de João refere se a ele, e até as tradições chinesas o têm como um número nefasto, símbolo de morte. LouisClaude de SaintMartin, filósofo do século 18, afirma que esse número baseiase nas dimensões ternárias, quaternárias e setenárias da essência sagrada do ser humano, sobre as quais deve se elevar a Jerusalém Jeru salém celeste da paz. Enfim, de qualquer ângulo que a abordemos, o que percebemos é que a doutrina da reencarnação se impôs em todo o planeta. De norte a sul, do oriente ao ocidente, e la guia gui a e ilumina muitos povos. Na Europa, hoje, indivíduos e movimentos filosóficos, como a AMORC, mantêm acesa a chama. Parece, portanto, que, longe de ser apanágio dos pov povos os orientais apenas, ela representa um valor universal.
Abordemo Abordemoss o tema, porém, porém, na forma forma como como é defendido defendido pelo peloss orientais. O budismo e o hinduísmo têm concepções concepções divergentes acerca da reencarnação. Por fortes razões, a idéia popular da reencarnação, no Ocidente, está a anosluz da abordagem feita pelas grandes tradições autênticas. Em que consiste o problema? O problema está nas diferenças de conceitos oponentes sobre a natureza do eu, ou seja, sobre sobre a natureza d aquilo que q ue reencarna r eencarna.. Vimos que a índia índ ia admite a presença, no ser ser humano, de uma alma universal ou atinan. Já o budismo, acentua a doutrina do anatnam, que afirma não existir nenhum eu, nenhuma nenh uma alma alm a no ser humano. Alguns budistas chegam mesmo a negar a existência de uma Alma Universal, ao passo que, no Ocidente, o valor absoluto é o do indivíduo. Mais exatamente, o budismo thcravada do do sudeste asiático (Ceilão, Camboja, Tailândia, etc.) corresponde ao pequeno veículo veícu lo ou hinayana. Esse é o que mais se aproxima dos conceitos conceitos originais do Buda. Poderia ser denominado budismo ortodoxo, em oposição ao que se desenvolveu na China, no Tibete e no Japão. Essa expressão religiosa religio sa compara comp ara o eu do indivíduo a um rio: o rio, em si, não existe; corresponde apenas a um conjunto de gotinhas de água que se sucedem numa corrente, até que alguma coisa desvie seu curso. Assim também, o eu, como unidade, não passaria de uma ilusão. Corresponderia simplesmente a uma seqüência de instantes de consciência, mantidos de maneira coerente pela memória. Essa imagem, que é defendida igualmente pelos tibetanos, baseiase no ensinamento do Buda, que explicou que o eu constitui o produto de cinco coisas agregadas: a forma, a sensação, a percepçãoconcepção, o instinto e a consciência. Certo dia, o mestre interrogou seus monges:
Qu e pensai pen sais,s, ó m on ges, ge s, a fo r m a é eter et erna na ou p er ec ív el ? — Qu Perecível, ó S enhor! — Perecível, Qu e é p er ec ív el , o so fr im en to ou a al eg ria? ri a? — Qu — O sofr so fritn itn en to, to , ó Sen S enho ho rl Então , o q ue é p er ec ív el, el , ch ei o de so fr im en to e su jei to à — Então, transformação, transformação, deduz-se que seja seja eu, m eu próprio ser? — Não, Senh Se nh orl or l
E, dessa forma, o guia espiritual prosseguiu explorando, um a um, todos os cinco agregados, mostrando a impermanencia e a ausência de realidade estável de cada um deles. A conclusão conduz à doutrina do utrina de anatmam nenhum eu, nenhuma alma individual. O eu representa, portanto, uma ilusão e, pela doutrina do budismo, ninguém reencarna. Somente as tendências, ten dências, os hábitos, como como um carro sem freio e à toda velocidade, reencarnam. Em outras palavras, o que nasce nasce de novo é o carma, uma série de potencialidades herdadas do passado, que vão processar sua energia (que quase se poderia chamar de cinética) no presente e no futuro. Buda nunca quis se pronunciar sobre a natureza pessoal ou impessoal do carma. Tanto quanto não quis se pronunciar sobre a natureza última do eu. Hoje, o budismo retoma a posição do filósof filósofoo da Antigui Ant iguidade dade grega, grega , Heráclit H eráclitoo —essa não é, portanto, portanto, uma questão desconhecida. Para essa religião, tudo t udo está em perpétua transformação. O universo é análogo a um rio: nada é, tudo se torna. Por conseguinte, não existe nem o grande nem o pequeno eu estático; apenas um processo, uma sucessão de causas e efeitos existentes. E a doutrina da impermanência. impermanênc ia. A meta do budista consiste consiste em se libertar dessa
roda cega de causas e efeitos, da roda das encarnações, para atingir um estado de nãoação, no nirvana. O próprio próprio Dalai Lama tem plena consciência da dificuldade de sustentar uma tese como essa, visto ter declarado que ensinála ensiná la a pessoas pessoas despreparadas poderia leválas ao niilismo. De fato, fato, como compreender o sofrimento de uma um a pessoa aqui aqu i e agora, se seu futuro consiste num aniquilamento? A mente moderna perguntaria: para que serve tudo isso, então? A questão, aliás, não é tão simples assim. A um jornalista jornalis ta que o questionou a respeito de sua futura encarnação, o Dalai Lama respondeu, para espanto da platéia presente, que sua futura encarnação era uma criança já viva e que estava sendo preparada para sua função. Estaria ele se referindo ao fato de que, como líder espiritual, es piritual, ele é sempre considerado, no Tibete, como a manifestação do bodhisattva da da compaixão, Cherenzi\ ou teria querido ressaltar re ssaltar para o Ocidente a impessoalidade da noção de reencarnação dos cinco agregados? Na q ualidad uali dadee de Cherenzi , nada impede imp ede que qu e outra pessoa possa receber o influxo espiritual, depois da morte do veículo anterior. Mas, pela concepção de anatman, nada impede imp ede também que duas pessoas pessoas muito íntimas, do ponto de vista de suas tendências inconscientes e de de seu carma, sejam consideradas uma u ma única únic a e mesma entidade. Para complicar ainda mais as coisas, há uma crença budista segundo a qual os agregados que constituem uma dada personalidade podem reencarnar separadamente, em corpos diferentes. Assim, uma pessoa pode herdar as tendências físicas do morto morto;; outra, suas inclinações intelectuais; intelectu ais; uma um a outra ainda, ser a depositária de sua compreensão espiritual.
A posição do Buda situase sit uase no lado opo oposto sto em relação à dos dos brâmanes hindus, q ue sustentam o princípio da reencarnação ào atinan, a alma individual. Não é impossível impossível que sua doutrina, considerada pelos indianos como uma traição, tenha contribuído para fazer evoluir evo luir a dos brâmanes. Nos Upanishads , contemporâneos de Gau tama, tama , vemos de fato fato aparecer a noção de que a natureza essencial de atman , longe de ser individual, é um componente do Universal, de Brahman, a Alma do A quele qu e m edita repetid am ente sob re as três letras letras Universo. “Aquele do n om e sagrado, sagrado, sob re a Alma Universal, Universal, é transportado para a luz, para o sol. Ass Assim im com o a serpen te desveste-se d e sua pele, ele se desveste do peca do. E elevad o, pe los m antras do Sama-V Sama-Ved eda, a, ao mu ndo d e Brahma. Brahma. Lá, Lá, ele é a alma q ue é m aior que a soma soma total das almas individuais e qu e infu nde todos os corpos. Isso Isso é o que ensinam os dois versos que d evem estar semp re na mem oria ".". Assim, o Buda, Bud a, q ue se recusou re cusou a falar sobre a natu reza da alma humana, talvez visasse direcionar os seres humanos para noções noçõ es mais impessoais ou universais. u niversais. Sua ação, assim como a do Cristo, visava regenerar a religião que a tinha precedido diretamente e da qual era filha. No Ocidente, o indivíduo é tido como o valor supremo da existencia. A morte é considerada nada menos que um drama. A reencarnação, reencarn ação, revisada, corrigida, corrig ida, emendada eme ndada,, absorvida e digerida pelo Ocidente, tornase o meio ideal para o eu egocéntrico imaginar imagi nar sua apaziguado apaz iguadora ra sobrevivência. sobrevivência. A morte morte do ego é vivida como urna segunda morte, após a do corpo. Diante disso, a verdade é que o desenrolar do budismo no Ocidente nada mais é que um modismo superficial, na medida que suas verdadeiras doutrinas não são levada em conta. A chave reside numa diferença de atitude interior, psicológica ou mental. O eu individu ind ividual al é considerado pelo Ocidente como como
um tesouro, enquanto a luz do Oriente coloca a vida, como corrente impessoal, acima de tudo. A síntese corresponde à doutrina de Plotino e a dos iniciados de todas as épocas. As almas individuais são segmentos inseparáveis do Ser eterno e universal. Não existem almas, mas, sim, uma única Alma, desempenhando bilhões e bilhões de papéis diferentes, encarnando bilhões de dramas ditos individuais, manifestando seus atributos através dos mundos e das criaturas, em formas cada vez mais superiores. Com a morte, o indivíduo fundese à sua Mãe Universal, da mesma forma como as cores se fundem na luz solar. Acaso as cores perdem sua identidade na luz branca? Se a alma individual indivi dual conserva sua identidade, ide ntidade, esta só pode ser concebida como um componente inseparável da Alma Universal. Os verdadeiros iniciados buscaram sempre se colocar acima das divergências das culturas, realizando uma síntese sutil. Toda luz vem do Oriente e adquire adq uire sentido no Ocidente. A Tradição dos Rosacruzes designa a morte pelo termo “transição"'. Essa palavra indica ind ica a passagem de um estado para outro. Nesse termo estão contidos “transitório” e “trânsito”. Isso desdobra um sentido de intermédio, de mudança, de transformação. Sua origem latina significa “ação de passar, passagem gradual de / um estado para outro”. E a palavra ocidental que mais se aproxima da palavra tibetana bardo\ estado intermediário. Podemos, então, explicar que o eu, a consciência, muda de estado, e compreender por que os cultos são tão divergentes em relação a uma transformação tr ansformação tão tão impalpável. A crença dos budistas é que a existência aparente acaba se fundindo na vacuidade, ao passo que, para as tradições ocidentais, a personalidade transfigurada transfigu rada conserva sempre sua
identidade. Na realidade, raros são os seres que sabem verdadeiramen verdadei ramente te o que aguarda ag uarda a personalidade persona lidade humana hum ana após sua jornada de milhões de anos. Quer seja uma fusão com perda de identidade identidade ou de de uma alquim ia sutil em que a alma h umana é, a um tempo, unida a Deus e distinta dele, estas são palavras incapazes de descrever a natureza da experiência suprema. Somente um sentimento interior, advindo de uma longa busca que transcende as faculdades do cérebro, pode dar acesso a algumas informações. Teria a alma a possibilidade de se fundir com seu Criador, para além do bem e do mal, para pa ra além de toda forma, num vazio etéreo? Talvez ela possa manter a capacidade de voltar a descer, para reencontrar sua identidade sua identidade numa relação dual, frente a frente com o Indizível. Graças a isso, isso, ela teria a possibilidade de cantar louvores à à sua fonte no Ser eterno. Entretanto, a única certeza que temos e que ultrapassa as divergências de linguagem é que, quaisquer que sejam os mestres espirituais, seus ensinamentos encerram uma promessa de libertação das limitações e do mal. Todos eles falam de uma felicidade suprema. E essa promessa que constitui a chave e o guia da evolução, bem como a solução da verdadeira doutrina da reencarnação. Corolário dessa doutrina, o princípio do carma dálhe sentido. Um não pode ficar sem o outro, e a reencarnaçã o seria seria esvaziada de sua substância e de sua razão de ser se uma lei específica específica não canalizasse canaliza sse seu processo processo.. Muitos dos escritores que se expressaram sobre o assunto não estavam enganados em seu raciocínio. Eles fu n d a m en ta ra m sua a r g u m en ta çã o na idéia de uma um a justiça universal. A maioria das religiões religiões e filosofias filosofias baseiam seu sistema nessa mesma concepção de justiça. Observando as crianças, é fácil constatar que essa noção de inata no ser humano. justiça exprimese de maneira inata humano. Basta notar
a reação escandalizada de uma delas diante de algo que considera uma injustiça. A justiça possui um valor universal universal sobre o qual estão fundadas nossas próprias sociedades. Em função da máxima, "O que está em cima é com o o que está em em seres humanos sempre pensaram que a Divindade baixo", os seres reina sobre o mundo gr a ça s à sua espiritual imánente. su a ju j u st iça iç a espiritual O carma é uma expressão particular dessa justiça. Como justo, que acredi acreditar tar,, conceb end o-se Deus com o o arquétipo do justo, uma única vida de atos bons ou de erros possa receber como sanção uma eternidade de sofrimento ou, ao contrário, de felicidade? Como acreditar no paraíso ou no inferno eternos, das religiões monoteístas, ao mesm o tempo ensinam ento oficial oficial das em que essas mesmas religiões nos dizem qu e Deus é amor? Orígenes foi mais coerente ao afirm ar que vamos todos para o paraíso. Mas, nesse caso, onde ficam os princípios morais? A reencarnação e o carma correspondem a leis cujos efeitos efeitos residem no fato de que cada ação traz em si sua conseqüência exatamente proporcional. O resultado poderá se fazer sentir na vida presente ou numa vida futura, tendo em vista a educação da personalidade. Tomemos Tomemos uma imagem: imagem : quando qu ando uma criança se queima, aprende uma lição sobre a natureza do fogo e da reação de suas células quando expostas a este elemento. Da mesma forma, as conseqüências dos pensamentos, palavras e atos humanos nos ensinam sobre sua natureza lícita ou ilícita, positiva ou negativa, em relação às leis universais. E tido como como lícito tudo aquilo que favorece a evolução da pessoa e do seu ambiente. O ilícito é tudo aquilo aqui lo que bloqueia o desenvolvim desenvolvimento. ento. Assim, a reencarnaç reencarnação, ão, concebida concebida dessa dessa maneira, represe representa nta uma oportunidade de evolução para o ser humano, que se vê confrontado com com as leis do carma. São essas leis que balizam bali zam e iluminam seu caminho.
Em matéria de educação infantil, o bom bom senso diz que, qu e, para evoluir em perfeito equilíbrio, ela tem necessidade de ser confrontada com um quadro claramente definido, justo e estável. Explorando o permitido e o proibido proibido em relação r elação a esse quadro que, q ue, inicialm in icialmente, ente, pôde ser negociável, ela constrói constrói aos aos poucos os valores que edificarão sua personalidade. O que muitas vezes se esquece é que o adulto se confronta com as leis universais da mesma maneira que a criança diante das leis paternais. O carma representa uma lei imutável, estável, impessoal e nãoarbitrária. E nesse sentido que ela ilumina a vida e se se torna a prova prova evidente da Misericórd ia Divina. O ser humano, portanto, é responsável por seu futuro, cuja vinda ele pode preparar através de suas escolhas presentes, e que ele deseja que seja o melhor possível, para se libertar de toda dependência. Como já dissemos, a idéia do carma foi conhecida também em outros lugares, além do Extremo Oriente. A psicostasia egípcia, a famosa pesagem do coração, simboliza o carma de maneira bastante exata. Não é o cérebro nem o corpo do morto que é pesado, mas seu coração ou ab. Em outras palavras, o que Thot , o sábio, avaliava não era tanto os atos mas as intenções. Ma at, a verdade e a Essas eram comparadas com a pluma de Maat, lei universais. Essa lei, leve como uma pluma, é feita de harmonia, harmo nia, por isto se diz que q ue bastam poucas coisas para romper seu sutil equilíbrio. Platão, no mito de Er, descreve ainda mais claramente o princípio do carma. Ele apresenta o futuro das almas que são levadas a renascer. Explica, então, que esse futuro depende das escolhas feitas pelas almas, pouco antes de seu retorno à terra. Mas especifica que "o espetácu lo das almas escolhendo sua
condição, segund o Er Er, valia a pena ser visto, visto, pois era digno de pena pe na , ri d ícu íc u lo e e stran str anho ho.. Na ve rdad rd ad e, elas el as fa z ia m sua s es colha col has,s, na maior parte do tempo, de acordo com os hábitos da vida anterior”.
E as escolhas quase sempre dependiam de suas atrações e aversões. aversões. Platão explica, ex plica, além alé m disso, que o filósof filósofoo tinha mais chances que os outros de escolher certo, devido ao discernimento adquirido. A escolha não se faz de maneira livre e voluntária, volun tária, pois o passado, passado, para muitos, mui tos, interfere nela, nela , como acontece na doutrina do carma. Uma vez feita a escolha, as almas tinham de passar pelo turbilhão do fuso da necessidade, representado pela configuração do astros, a fim de cumprirem o destino das existências escolhidas. Na verdade, Platão apresenta a retribuição, a compensação ou a justiça, de duas maneiras. A primeira, na ocasião do do julgamento da alma, que decide quanto a sua permanência no céu ou no Tártaro, por mil anos. A segunda, em seqüência à escolha não fortuita da vida futura. E acrescenta: “A responsa bilidade é daq uele qu e esco lhe; Deus não é o responsá vel”. vel”. Um argumento importante, relativo à reencarnação, e geralmente geralme nte evocado é: se já vivemos vivemos várias existências, por que não nos lembramos delas? A ausência de recordação leva a crer que a reencarnação constitui constitui uma quimera. Entretanto, Entretanto, longe de advogar contra ela, o esquecimento representa um trunfo para a evolução da personalidade humana. A primeira explicação para a amnésia já foi evocada: é mitológica. Cada alma que volta do outro mundo, segundo o gregos antigos, banhase nas águas do Letes, o rio do esquecimento. Mas o
outro mundo também pode ser o do sonhos. sonhos. É assim tão fácil, depois que acordamos, recordarmos nossa vida noturna, com suas milhares de imagens oníricas e imprecisas? Poderíamos igualmente nos perguntar sobre o quê realmente se reencarna. Em muitas culturas, ac reditase que, depois da morte, a alma passa por uma espécie de purificação. O trigo é separado do joio. Purificação isto significa supressão de uma parte da antiga antig a experiência de vida. Em outras outras palavras, a reencarnação não seria completa. Do mesmo modo, quando uma pessoa morre, as lembranças de sua vida passada voltam à sua consciência. Não tudo, tudo, com certeza! Somente aquelas que marcaram profundamente a personalidade, porque os acontecimentos que foram sua fonte geraram um poderoso impacto emocional. Analogamente, só transmigram as informações que marcaram fortemente a personalidade e contribuíram para sua moldagem. Os agregados dos tibetanos, que constituem o eu, só formam um todo homogêneo no momento da encarnação. Nada prova que as leis universais conservem todo o conjunto idêntico às encarnações precedentes. Se o fio condutor se conserva, é preciso preciso ainda que ele sirva a algum desígnio cósmico, senão há uma chance de que partes consideradas estéreis sofram a segunda morte. Esquecemos, é verdade; e, para muitos, isto leva a supor que não existimos antes desta vida. Então, enquanto lê este livro, participe deste pequeno jogo: — Tente lembrar lembra r um acontecimento qu e você você viveu quando quand o era crian ça.. . depois, faça faça uma pausa. — Feito? Você Você era um menino men ino ou uma u ma menin me nina, a, alegre aleg re ou triste, e a experiência foi agradável ou desagradável ou, ainda, neutra.
— Agora, faça um esforço. esforço. Concentrese Concentre se e ... .. . tente te nte lembrar o que você fez na véspera desse acontecimento. E difícil, não é? Talvez mesmo impossível. E por causa disso, devemos concluir, então, que você não existia? Da mesma forma, por razões bem precisas, precisas, cinqüenta cinqüe nta por cento das pessoas são incapazes de recordar acontecimentos vividos antes da idade idad e de três anos. No entanto, entan to, sua mãe provavelmente lembrase m uito bem de você com essa idade. Alguns elementos mostram nossa capacidade capacid ade para esquecer. esquecer. Nosso cérebro, por intermédio dos cinco sentidos físicos, é constantemente bombardeado por milhare s de informações. informações. Se todos esses esses estímulos não fossem selecionados e apenas uns un s poucos memorizados, correríamos o risco de ficar loucos, esmagados por essa imensa quan tidade de dados. Todavia, os os estudos do inconsciente, graças à hipnose ou aos sonhos, mostram que muitas informações são armazenada armaz enadass em nossa consciência, num nível subliminal. Mas existe uma barreira. Tratase Trata se de uma segurança segu rança,, para garant gar antir ir que q ue a ativida at ividade de de vigília vig ília seja eficaz. efica z. Sabemos Sab emos que q ue esses dados ficam fi cam disponíveis dispo níveis nas camadas profundas da consciência, mas não facilmente acessíveis. A mesma coisa vale para níveis aind a mais m ais ocultos, no que concerne as personalidades de encarnações passadas. Alguns Algu ns elementos eleme ntos de bom senso ajudam ajud am a compree com preender nder a lógica do esquecimento. Em toda vida humana normalmente constituída e suficientemente lúcida para não ignorar a si mesma, surgem períodos períodos nada interessantes que preferiríamos esquecer. Uma pequena covardia aqui, uma maldadezinha ali, uma tendência inconfessáv inconfessável el aco lá... coisas coisas muito humanas e
que constituem o que a psicologia profunda, seguindo os passos dos grandes mitos, denomina "sombra”. Diz certo provérbio que o sábio sabe esquecer seu passado, porque ninguém é perfeito. Ele pratica a "memoriapura” no no que lhe diz respeito. Ai está você, calmam cal mamente ente instalado instala do em sua honesta vida de pessoa tranqüila . Imagine Im agine agora que, de repente, repente, recordações recordações de um passado infernal venham à sua lembrança. Suponha que, em alguma vida anterior, você foi um criminoso, e que todo o remorso dessa condição, revivido com clareza e intensidade, afluí à sua consciência... Você não acha que é mesmo muito sábio manter um compartimento estanque entre vidas diferentes? Na verdade, o esquecimento assim feito constitui outra prova da Misericórdia Divina. Ela sabe passar uma esponja sobre o passado consciente, a fim de salvaguardar as condições da evolução espiritual da humanidade. huma nidade. Esse Esse relativo esquecimento esquecimento corresponde a uma espécie de catarse. Embora as tendências mais profundas continuem sempre ativas, ativas, sua ação não mais intervém diretamente no nível da consciência objetiva. Não é raro encontrar pessoas que, ao envelhecer, perdem toda capacidade de se autoanalisarem, de se questionarem. Estão travadas em seus hábitos ou mesmo preconceitos. preconceitos. Sua vis ão do m un do , m ais cedo ced o ou m ais ai s tard ta rd e, acab ac abaa se esclerosando, fossilizandose num estado imutável. Que aconteceria então se, de encarnação em encarnação, o ser humano tivesse de reproduzir sempre os mesmos esquemas conscientes e estáticos? A imortalidade material, segundo nosso nosso atual modo de pensar, constitu iria a verdadeira morte, a morte de fato. Mas a morte que provoca medo, essa de que o ser humano padece no corpo no final de sua jornada na
terra, longe de ser negativa, representa a condição sine qua de uma catarse no nível das atitudes que deixaram de ser non no n de portadoras de futuro. /
E preciso morrer para contin uar crescendo. Aí está a chave que, a duras penas, ousamos reconhecer. Nesse sentido, o banho nas águas do esquecimento possibilita possibilita certa continuidade entre as encarnações, sem que estas se tornem sinônimo de impasse e esterilidade. Por extensão, podese considerar que, se uma pessoa se dispõe a ter outras vivências, a modificar seus pontos de vista sobre a vida, a se abrir a outras culturas, ela tem maior maio r chance de viver mais longamente, longamen te, porque o projeto da vida que se expressa expressa através dela fica favorecido. Ela evolui, permite que as capacidades latentes de seu ser exteriorizem cada vez melhor seu talento. Para isso, o ser necessita de um veículo preparado, disponível e maleável. Inversamente, a pessoa que se fecha em seus hábitos já está cavando sua futura cova. A vida e o ser provavelmente a abandonarão abandona rão mais rápido; não por punição, punição , mas por seguirem um destino engendrado aqui pela preguiça humana. Uma pessoa pode ser velha aos trinta anos, enquanto nos olhos de alguns velhos brilha a chama da eterna juventude. O ponto supremo que explica o esquecimento está no simples fato de que, se nos lembrássemos perfeitamente de nossas vidas passadas, provavelmente passaríamos o tempo simplesmente contemplando o ontem, negligenciando n egligenciando a vida presente. Esquecemos nossas vidas anteriores; esta é uma evidência que ninguém ousa negar. No entanto, as lembranças estão sempre lá, presentes em algu algum m recôndito recôndito de nossa consciência. As vezes, uma impressão de “já sei isto ” pode nos assaltar
durante uma viagem ou numa situação nova com que nos defrontamos. Esse fenômeno pode ser explicado pela repentina reminiscência de uma encarnação antiga, mas também pela capacidade que o inconsciente tem de perceber um acontecimento de modo mais rápido do que a consciência objetiva. Uma mesma manifestação poderia ser percebida primeiro por uma fase mais profunda da consciência e só depois pela sto”. consciência objetiva, o que provocaria a impressão de “já se i iisto”. Sonhos perturbadores sobre lugares distantes ou sobre um passado misterioso podem igualmente nos assaltar. Alguns grandes avatares, como o Buda ou Pitágoras, falaram de suas antigas encarnações, dando inúmeros detalhes. Como explicar certos certos talentos afluindo repentinamente na vida de um indivíd ind ivíduo uo pratica pra ticame mente nte desprep des preparad arado? o? Eis a história real de M. Esse homem, inicialmente, é um sujeito totalmente comum, empregado de uma grande empresa. Um dia, ele encontra um conselheiro que, através de um procedimento especial, revela que ele possui um dom muito desenvolvido para a escultura, herdado de uma vida muito antiga. Essa pessoa, pessoa, que exercia forte influência sobre sobre sua vida, aconselhao a se lançar num estudo de entalhe de pedras; o que ele faz com toda confiança. Ele nunca havia esculpido escu lpido em toda sua vida. No fim do estágio de estudos para adultos, de quatro meses, seu instrutor fica cheio de inveja do talento de seu aluno, que se revelou revelou numa velocidade alucinante. Mas a aventura não acaba aqui, e M. decide bater às portas da associação dos artesãos da França, a elite. Fato raríssimo, ao mostrar suas habilidades, os associados pedemlhe que crie uma obraprima em sua arte, por meio meio da qual qua l poderá ser aceito como Mestre talhador de pedra. Depois de apenas quatro
meses de estudos (fato incrível), sem passar pela escola da associação, M. consegue cumprir o desafio e se torna Mestre talhador de pedra, aos quarenta anos. Conhecendo o rigor da associação dos artesãos da França e sabendo que a única informação que M. possuía no começo era que ele trazia traz ia oculto um dom herdado de uma vida passada, isto dá o que pe nsar. ns ar..... Como explicar o caso de Mozart, que, aos quatros anos, apresentou seu primeiro concerto em público? Conhecemos igualmente o caso de certas crianças autistas, que, incapazes de se comunicarem normalmente, desenvolveram capacidades extraordinárias. Uma delas pintava, desde a infância, tão bem quanto mestres que treinaram toda sua vida; uma outra interpretava com mãos de virtuose trechos trechos de música dos mais árduos, sendo que nunca havia aprendido música. Foi o caso do jovem negro americano, amer icano, Tom Blind. Blin d. No século 19, 19, aos quatro anos de idade, idade , ele foi notado pelo homem de quem seu pai era escravo, numa fazenda na Geórgia, EUA. Esse senhor, verdadeiro melomaníaco, constatando seu dom de pianista espontâneo, fez com que ele tomasse aulas. Não demorou muito para que o professor desistisse: Tom tocava melhor que ele, quando nem mesmo sabia ler uma partitura. Aos sete sete anos, já havia se apresentado na maioria maior ia das grandes cidades dos Estados Unidos. Aos quinze, era capaz de tocar de memória milhares m ilhares de obras obras dos grandes mestres da música clássica. Era capaz de reproduzir um concerto inteiro, após têlo escutado uma única únic a vez. E, no no entanto enta nto ... Tom era cego e deficiente mental de nascença. Provavelmente ele seria qualificado hoje como autista. A ciência atual ainda é incapaz de explicar proezas assim, que se exprimem por intermédio de um ser considerado débil. Para nós, existe uma explicação evidente que possui uma palavra: reencarnação.
Um dos indícios que permitem considerar essa solução é que o jovem em questão era totalmente tota lmente fechado em si mesmo. Em outras palavras, vivia em estreitíssimo contato com seu mundo interior, situação que ocorria em detrimento da comunicação comunica ção externa. Em casos assim, a criança está, portanto, permanentemente permanent emente numa nu ma relação com seu subconsciente, subconsciente, que representa a memória das vidas anteriores. Não importa que o autista não saiba isso, o resultado se expressa por si mesmo através do dom inexplicável. A explicação simples, a de um cérebro cérebro desequilibrado, não é suficiente, já que aquela criança tocava piano com a sensibilidade e a criatividade de um verdadeiro mestre da música, músi ca, coisa que nenh nenhuma uma máqui má quina, na, desarranjada ou não, é capaz de fazer. fazer. Mas existem outros testemunhos, ainda mais claros em lembranças. O professor professor Stevenson Stevenson estudou quatorze qu atorze mil casos espalhados pelo mundo. Como bom cientista, teve o cuidado cuidado de descartar descarta r todo excesso excesso ou fraude. fra ude. Eis o caso do jovem turco Emrullah Turkan, nascido em 1949. Aos dois anos, disse aos seus pais que tinha lembranças de uma antiga vida e que, na verdade, cham avase avas e Cheikh Cheik h M aruf ar uf Cinco anos mais mai s tarde, o pai de Emrullah, que era fazendeiro, emprega um casal de agricultores que dizem ter conhecido Cheikh Maruf, morto em 1948. A pedido do pai, o casai tenta desmascarar a criança fazendolhe diversas perguntas. Como se chamava a esposa de Cheikh Maruf? M aruf? Quantos filhos ele tinha? Todas Todas as respostas respostas dadas pela criança foram corretas e cheias de detalhes. Ele forneceu o nome dos quinze filhos e disse que sua mulher tinha uma um a pinta na face direita. direita. Mais tarde, quando estava no serviço militar, Emrullah explicou a um oficial, estupefato, que ele já havia servido sob suas ordens, há muito tempo, quando se chamava Cheikh Maruf. Descreveulhe então suas
campanhas, os perigos enfrentados... O Doutor Doksat, professor da clínica psiquiátrica de Istambul, foi posto a par do caso e confrontou o jovem Emrullah Emr ullah com um dos filhos de Cheikh MarufJ que era deputado no pa p a rl a m en to . M es m o ignorando a quem iria encontrar, Emrullah, tão logo avistou o deputado, reconheceuo como sendo um de seus filhos, chamouo pelo nome e evocou lembranças íntimas de família, * que ninguém tinha como saber. E interessante notar que o jovem Emrullah conservou memórias exatas, dos sete até os vinte anos, sendo que, que , segundo o Doutor Stevenson, Stevenso n, que reportou essa história, a duração média das recordações não ultrapassa os sete anos de idade. Via de regra, as crianças esquecem suas encarnações anteriores por volta dos dez anos. Um outro caso estudado pelo professor Stevenson foi o de William Wi lliam Georges Junior. William Willi am Georges era era um jovem índio habitam o sudeste do Alaska e acreditam tlingite. Os tlingites habitam na reencarnação (m ais uma prova prova da extensão extensão mundial m undial dessa dessa convicção), que constitui uma característica fundamental de seus costumes religiosos e sociais. William Georges Junior, nascido em 5 de maio de 1950, seria, por certos detalhes conhecidos, conhecidos, a reencarnação de seu avô Willia m Georges Georges Sénior. Este último, pouco antes de sua morte no mar, em agosto de 1949 1949,, tinha tinh a anunciad a nunciadoo ao seu filho que, que , se a reencarnação reencarnaç ão fosse fosse um fenômeno real, ele renasceria no corpo de um de seus futuros filhos; ou seja, renasceria no corpo de um neto seu. Willia Wi lliam m G eorges Sénior acrescentou ainda ainda que esse neto neto apresentaria os mesmos sinais de nascença que ele tinha. Pouco tempo depois de seu desaparecimento, num barco, sua nora, Sra. Reginald Georges, ficou grávida e certo dia sonhou que dava à luz... ao seu sogro. A criança, nascida mais tarde, apresentava, como anunciado, marcas no ombro esquerdo e
na parte interna inter na do antebraço esquerdo. A criança cria nça só começou a falar fala r bem tarde, aos três três ou quatro anos. Seu Se u comportamento era estranham est ranhamente ente parecido pareci do com o do seu avô. avô. Manifestava os mesmos gostos gostos e aversões. Depois de um u m acidente esportivo, esportivo, passou a mancar, com o pé direito voltado para dentro, o que lhe emprestava o caminhar típico do avô. Chamava seus familiares famil iares segundo os laços laços de parentesco existentes existentes entre eles e William Georges Sénior. Por exemplo, chamava sua tiaavó de “irmã” e considerava seus tios e tias como filhos dele. Reconhecia pessoas e lugares. O fenômeno mais marcante aconteceu entre quatro e cinco anos, quando reconheceu como como sendo seu um relógio que pertencera ao seu ancestral. Antes dessa época, ninguém havia lhe mostrado ou sequer falado do objeto. obje to. Sua mãe estava apenas lhe mostrando, mostrando, certo dia, as jóias da família, que ficavam guardadas em seu quarto. A criança reconheceu o relógio espontaneamente espontane amente,, em meio aos objetos, objetos, e o reclamou para si obstinadamente, até a idade adulta. ad ulta. Várias testemunhas puderam atestar essa essa história intrigante. Tratase Tratase de um valios valiosoo testemunho testemunho sugerindo sugerindo a reencarna reencarnação. ção. Nele, encontramos um caso de identificação através de sinais corporais, uma anunciação por meio de um sonho, o reconhecimento de lugares e laços de parentesco. Finalmente, como é o caso de alguns lamas tibetanos, o reconhecimento de objetos. A prática no Tibete, quando se procura um tulfyu (mestre (mestre espiritual reencarnado) consiste, de fato, em apresentar a algumas crianças os objetos que pertenceram ao mesmo. As crianças podem ser escolhidas graças a sonhos, sonhos, visõe visões, s, estudos estudos astrológicos,. .. Se uma delas reconhece três objetos do falecido como sendo seus, é considerada como sua reencarnação. reencarnaç ão. Foi assim com o atual atua l décimo quarto Dalai Dal ai Lama, que reconheceu reconheceu o rosário, rosário, o tambor tambor e a bengala de sua anterior décima terceira vida.
No caso de William Georges e das coisas que permitiram identificálo, Stevenson considerou a hipótese de transmissão de características hereditárias. Isso, porém, não exclui totalmente a noção de reencarnação, na medida em que William foi o único dos dez filhos da família a apresentar os sinais preditos pelo avô. Entretanto, o Doutor Stevenson, Stevenson, com toda toda prudência prudê ncia científica, c ientífica, escreveu um livro intitulado "20 "20 Casos Casos Sugerin do a Reencarn Reen carnação ação ". Ele não escreveu "provando", mas somente "sugerindo", já que, na realidade, nenhum desses testemunhos prova a reencarnação num sentido estritamente científico. Se a autenticidade dos testemunhos não pode ser posta em dúvida, devese, contudo, admitir que sua interpretação pode ser discutível. Do ponto de vista científico, a reencarnação não é a única coisa que pode ser evocada quando uma pessoa relata um passado supostamente vivido. Podese Podese verificar que q ue os lugares lugare s descritos são bem reais e que a pessoa nunca pisou ali antes, que os nomes de pessoas e laços familiares famil iares evocados evocados refletem efetivamente uma época distante, etc. Mas, para explicar o fenômeno da harmonização com o passado, da telepatia, um contato com o inconsciente coletivo ou com almas desencarnadas, da reencarnação, etc. podem ser indistintamente considerados, sem que seja possível escolher apenas uma dentre todas as explicações possíveis. Em suma, lembremos que, mesmo que a ciência possa esclarecer alguns al guns de seus aspectos, aspectos, a reencarnação reencarnaçã o não é tanto uma questão de provas científicas quanto de compreensão filosófica e convicção interior. Quem efetivamente consegue se lembrar sabe a verdade, e isto lhe basta; mesmo que não possa possa apresentar apresenta r provas provas definitivas da sua memória.
A única coisa que a honestidade hone stidade intelectu intel ectual al proíbe é negar a veracidade dos testemunhos colhidos, colhidos, quando qu ando estes realmente são comprovados em relação a lugares, épocas e pessoas envolvidas. No caso Bridey Murphy, por exemplo, a pessoa, Ruth Simón, uma jovem americana do século 20, 20, de trinta anos, hipnotizada por um psicólogo, psicólogo, relata uma experiência muito singular. Numa N uma vida anterior, anterior, relatou, ela se chamava Bridey Murphy e vivia na Irlanda, em 1806. Ele deu o nome de seus pais, descreveu sua casa, deu a data de seu falecimento e traçou o mapa da Irlanda daquela época. Mais tarde, uma averiguação independente foi realizada, para verificar suas afirmações, por juristas, bibliotecários e pessoas que não conheciam o psicólogo psicólogo nem o assunto. Embora nem tudo tenha tenh a podido ser verificado, verificado, nomes, lugares e costumes revelaramse exatos. Mas aqui aqu i poderíamos nos perguntar por que os testemunhos relativos a vidas passadas são obviamente mais numerosos no Oriente do que no Ocidente. A razão é simples e tem suas raízes na cultura dessas regiões. No Oriente, a reencarnação sempre foi foi mais facilmente ad mitida e tem grande influên cia na psicologia humana. No Ocidente, se uma criancinha se expressasse nos seguintes termos: " Qu Qu ando an do eu era gr an de , eu era indiano" ou “Eu trabalhava embaixo da terra,junt and o pedras ning uém lhe daria ouvidos. ouvidos. Se persistisse, pr et as m u ito it o su jas", ja s", ninguém os que a cercam considerariam sua imaginação como sendo transbordante. Se continuasse persistindo, seus pais se inquietariam quanto ao seu equilíbrio mental e a mandariam calar cala r a boca. boca. Ainda que as lembranças lembra nças de antigas an tigas encarnações, encarnaçõ es, segundo segun do o professor Stevenson, possam ser vividas entre as idades de dois e dez anos apenas, a criança, confrontada com a hostilidade
de seu ambiente, acaba sempre se convencendo de que as lembranças vagas que ela percebe são miragens de sua imaginação; depois, pouco a pouco, ela as esquece. Pode ser perigoso perigoso forçar as portas portas do inconsciente. ConfiarConfia rse a mãos inexperientes já gerou mais desordens mentais do que curas, em muitos casos. Se a natureza previu uma barreira entre passado e presente, certamente há uma boa razão. A emergência emergên cia brusca do ontem no hoje é como como misturar mistura r água no vinho, talvez t alvez pior. Som ente métodos suaves, que respeitem a personalidade e a integridade de cada indivíduo, são válidos. Para isso, não é preciso que o estudante estudan te se coloque à disposição de um outro operador que não ele mesmo. O passado só se revela se possuir alguma utilidade no sentido de favorecer a evolução da pessoa. A curiosidade, o modismo ou o fenômeno exótico não tem vez no que concerne as leis espirituais. Agora, seria justo questionarmos as razões razões da reencarnação. Como já foi explicado, a idéia primordial da reencarnação é a de que existe uma justiça imánente que foi, aliás, pressentida pela maioria das religiões e das filosofias da terra. Se admitirmos que a alma alm a se manifesta somente uma vez, irá ela eternamente, como explicam as religiões monoteístas, para o interno ou o paraíso? Seria possível que uma única vida destrutiva ou construtiva, aos olhos olhos das leis naturais, levasse levasse a uma um a eternidade de sofrimentos ou, ao contrário, a uma perpetuação de felicidade? Nosso senso inato de justiça nos inclina a pensar que o destino humano não é assim tão simples. A idéia primordial da reencarnação é a de que a personalidadealma é perfectível e que conserva, após a morte, uma enorme potencialidade de evolução. Voltando à terra, ela pode compensar seus erros passados e usufruir as alegrias geradas
por suas antigas consecuções. Do mesmo modo, confrontada com o principio do carma, ela vai tecer a trama de suas vidas futuras. Essa doutrina, portanto, torna o ser humano o único responsável por aquilo que ele vive, aos olhos dos principios do universo. Na verdade, ela ressalta seu sentimento de dignidade e conferelhe um lugar importante na marcha da Criação. Criação . Aqui não n ão há um Deus vaidoso ou vingador a se invocar, invocar, nem um diabo chifrudo e terrível controlando os seres seres humanos como marionetes. E também não há um universo cego, sem propósito nem sentido. Somente o homem é responsável por seu futuro, graças ao seu conhecimento das leis justas da Criação.
nos e observando nossos concidadãos, logo nos damos conta de que, em uma única vida, estamos longe de atin gir o nível nível de evolução de pessoas como Mahatma Gandhi, Albert Einstein e outros. No entanto, possuímos o mesmo veículo físico. Em outras palavras, nós estaríamos em nosso corpo como aprendizes ao volante de de uma Ferrari, ao passo que eles seriam pilotos experientes.
Ao longo da Histó ria, outras o utras explicações foram dadas para a necessidade da reencarnação. re encarnação. Evocouse Evocouse o fato fato de de que a alma a lma não poderia ficar eternamente na presença da luz perfeita, devido a suas imperfeições. Foi dito que, cedo ou tarde, ela sentiria a necessidade de experiências tangíveis. Sentiria saudade da terra, de um mundo feito de carne e sangue. Outros, ainda, explicaram que não era a saudade da terra que motivaria o retorno retorno da alma, mas a lei da necessidade; n uma palavra, carma.
Como compreender, então, que a Criação tenha preparado esse veículo físico, perfeitamente adaptado para permitir o desenvolvime desenvolvimento, nto, a um altíssimo nível, da alma que ele encerra? Se a ferramenta não é progressivamente explorada pelas personalidades, por que, podemos perguntar, a natu reza a teria criado? Que absurdo isso seria! A experiência prova que uma única vida não basta para explorarmos todas todas as potencialidades colocadas à nossa disposição pelo corpo e o mundo físico. O tempo destruidor exerce sua ação desde o nascimento e impede que o trabalho do ser seja feito feito até o fim. E aí que a reencarnação reencarna ção adquire todo seu sentido. Tratase de uma sutil alquimia espiritual. Ela considera a alma como uma matéria bruta que deve evoluir até o ouro mais puro e perfeito. O ouro já está oculto no grosseiro, basta revelálo aos poucos.
Sabemos hoje que, embora as células do cérebro morram a partir dos vinte anos, elas têm a capacidade de compensar o envelhecimento criando mais e mais conexões umas com as outras. O cérebro, portanto, possui uma geometria flexível e evolutiva que lhe permite disfarçar os estragos do tempo. E o único órgão do corpo corpo que consegue apresentar apr esentar essa capacidade. Constatando essa capacidade de adaptação do cérebro, vemos que o veículo veículo físico do ser humano human o está perfeitamente adaptado hoje para abrigar abriga r almas de níveis muito elevados. Observando
Outras razões explicam a necessidade de reencarnações. Uma delas diz que a alma, para aperfeiçoar sua própria natureza, para exteriorizar sua vontade e suas diversas faculdades, precisa da experiência do mundo. Se admitimos que a natureza humana possui uma potencialidade quase infinita de expressão e criatividade (que sentimos confusamente), percebemos paralelamente que uma vida circunscrita a um determinado século e um determinado meio ou cultura não representa uma suficiente oportunidade de
desenvolvimento da alma. Na medida em que ela faz várias estadas na terra, isto explica as diferenças fundamentais que existem entre os seres humanos, alguns dos quais estão provavelmente mais avançados que outros em conhecimento inato e em sabedoria. E, aliás, apoiandose nessa bagagem de nascença que todos os seres humanos possuem, em maior ou menor grau, que q ue Platão baseou baseou sua argumentação argum entação a respeito da reencarnação. A capacidade capacidade hum ana de relembrar, de que falou o filósofo, filósofo, presume a presença presen ça em nós desse desse patrimônio patrimôn io anterior. Poderíamos supor que a alma continue a evoluir no outro mundo, sem a necessidade de voltar à terra, mas isto seria negligenciar negligen ciar o fato fato de que a evolução requer uma um a dimensão feita de dualidade para se afirmar. O sujeito tem de se confrontar com os objetos, o eu com o nãoeu, a vontade com a resistência, antes de finalmente chegar a tomar consciência da unidade unida de de todas as coisas. Só o mundo material mater ial apresenta essas condições. Poderíamos Poderíamos igualmente im aginar que qu e a evolução evolução da alma contentese com o progresso coletivo e histórico da humanidade, sem, contudo, exigir uma reencarnação de indivíduos. Em outros termos, poderíamos considerar que o crescimento dos conhecimentos humanos, que fecundarão as inteligências de amanhã, amanhã , seria suficiente para cumprir cumpr ir os desígnios da Alma Universal. Isso, porém, seria negligenciar o fato de que, se a evolução individual acompanha ou mesmo se nutre dos progressos coletivos, não pode estar subordinada a eles. A coletividade humana, no sentido material do termo, não é a pri p ri or i um um ser consciente de sisi mesmo ou do universo. Somente os indivíduos, por seu processo voluntário, podem se elevar
até um nível de compreensão infinita. inf inita. É por por isso que a evolução deve se produzir no nível do indivíduo consciente, até a perfeição. Somente o múltiplo pode concretizar a unidade. Vale ressaltar que o termo evolução não é, aliás, o melhor, já que não se trata tanto de fazer crescer alguma coisa, mas, sim, manifestar cada vez mais uma perfeição latente. Quando as pessoas, superando os preconceitos habituais, aceitam abordar de maneira imparcial imparc ial a idéia da reencarnação, ocorrelhes uma pergunta perfeitamente justa. Essa pergunta, que vem a seguir, denota, porém, uma espécie de inquietude. Mas, então, se a alma realmente reencarna, tem de fazelo eternamente, sem um objetivo objetivo final, como um círculo sem fim, reproduzindo reproduzi ndo sempre os mesmos mesmos dramas? dram as? Para essas pessoas, pessoas, tratase de perguntar qual é o propósito das encarnações, e o fazem de maneira muito lúcida. Bem conscientes do que está em jogo, os budistas consideram a reencarnação não como uma vantagem, mas como uma maldição que a alma conjura contra ela mesma. O Buda ensinou a realidade do sofrimento. Para ele, tudo é sofrimento. Mesmo o ato de respirar é sofrimento, ainda que não tenhamos consciência disto. Disso decorre que o budismo ensina a possibilidade do fim do sofrimento pela cessação da roda de samsara ou ou círculo das encarnações. Pela prática do caminho do meio dos oito preceitos, o ser se libera progressivamente de todo apego apego e das conseqüências negativas de seu carma. Ele alcança então o nirvana, que é a cessação do sofrimento. Não estando mais apegado, ele tem a experiência experiên cia de shunyata , o vazio ou a ausência de existência inerente às coisas e aos seres. Shunyata corresponde corresponde à realidade última últim a que se oculta atrás dos fenômenos aparentes. Por isso, o ser não precisa mais reencarnar.
Se o budismo eleva ao mais alto grau o ideal do anacoreta, urna casta da India, por outro outro lado, admira entusiasticamente o do guerreiro. Assim, a meta e o meio de alcançálo são formulados porcada um deles de forma ligeiramente diferente. O Bhagavad-Gita , o livro mais estimados pelos hindus, afirma que retirarse do mundo não é o melhor meio de se chegar ao fim das encarnações. A via da ação é superior à outra: “Realiza a ação tal com o te prescrevi, prescrevi, pois a ação ésup erior à inação; mesmo tua vida física não saberia saberia se m anter sem ação". Entretanto, o discípulo discípu lo é convidado a realizar realiz ar a ação sem apego. Ou seja, ele se situaria como observador não identificado aos próprios atos. E dessa forma que, liberto da ação, ele se emancipa do carma. Não sendo mais, como indivíduo, uma causa eficiente, ele não tem mais necessidade de reencarnar. reencarnar. Ele atinge mokfisa , o estado daquele que se libertou da ilusão. “Assim, Assim, sem se m a pego, pe go, realiza real iza sempre a obra que de ve ser fe fe it a . Pois, fa z en d o a obra ob ra sem s em a pego pe go,, Como um eco, respondem o ser humano atinge o Su premo”. Como lhe essas frases de Lao Tsé, o sábio chinês: “Sem cruzar a porta, porta, c onh ecer o universo; sem olhar pela janela, entre ver a vida do céu. Assim o sá bio bi o c o n h ec e se m te r de d e se move mo ver,r, comp reende sem ter de ver, ver, realiza sem t er de agir. agir. O universo se conquista pelo não-agir. não-agir. Agir Ag ir sem agir, ir ao a o e n co n tr o sem s em se unir, saborear sem degustar. Assim o sá bio bi o q u e bus b usca ca o gr a n d e consegue se tom ar grande. grande. ”
O Ocidente, por sua vez, aborda a questão a partir de uma diferença sutil. Mas que ninguém se engane, não se trata de
uma divergência, mas de uma forma complementar de resolver resolver a questão. Para o ocidental, a reencarnação não é concebida inicialmente como uma maldição, mas como uma oportunidade para a alma de se aperfeiçoar e de cantar as glórias de seu Criador. O sufi Ibn Arabi aponta, como termo da obra hum ana, a união do amor, do amante com o ser amado. Outro grande mestre do sufismo, sufismo, DjalâlodDín Rümi, também afirma o amor ao Divino como valioso meio: “Pelo am or a Deus, Deus, não pod p od es se r d erro er rota tado do . Co m o p od es nã o te r alm a, se te tom to m ar ás a Alma. Pr imei im eiro ro,, vi es te d o cé u para pa ra a ter ra; ra ; no fim f im , pa rtirá rt irá s da d a terra para o c éu ”. Em sua magistral obra “Masnavi”, ele descreve a evolução progressiva da alma: “Miner Mineral al,, morrietom ei-mepla nta;plan ta, morri e nasci animal; animal, animal, m orri e me fiz h omem . Por que haveria haveria eu d e ter med o? Alguma Alguma vez fu i diminuído pela m orte? Não obsta ob sta nte , um a ve z mais, mai s, m or re re i co m o h om em pa ra m e elevar aos anjos bem-aventurados; mas, mesmo esse estado angelical, precisare i deixar ..." O estado que marca o fim das encarnações foi descrito por todos os os grandes místicos em termos simbólicos. Uns falam de união; outros, outros, de casamento; outros ainda, de esquecimento do eu. E assim que mil imagens se sucedem: “Pela união do S ol e da Lua, Lua, o casam ento será consum ado. A gra gr a n d e co n ju n çã o m ar ca rá o sina si na l d o fif i m dos do s tem pos, po s, a submissão perfeita do co rdeiro ao pasto pastor. r. A luz brilh br ilh ará ar á se m em p ec ilh il h o, expu ex pulsa lsa ndo nd o as a s trevas tre vas.. O ouro e o diam ante ocultos se revelarão em seu esplendor, esplendor, e a fi lh a re co nh ec er á sua mãe. mã e. O véu q ue encob ria o abismo se rasgará, rasgará, deixando a desco berto a verdad e suprema.
A cn a n ça -r ei , arm ar m ad a c o m se u pod p od er os o cetr ce tro, o, p re cip ci p ita it a rá no lago de fo go os últimos últimos servidores servidores do mal. Haverá danças e rang er de dentes, dentes, contudo, som ente a alegria inefá vel e incondicionada reinará nos corações. corações. Qua Q uand ndoo os h om en s apr a pr en de re m a líng lí ng u a d os pássaros, pássa ros, qu an do a sensível gazela se d eitar em paz en tre as patas do leão, quando Mai Maia, a, a ilusão, ilusão, nã o tive r mais fio s para tec er sua trama, o amor fe amor fe cu n d a rá os co ra çõ es. es . Então, Entã o, o m oi n h o da ne cess ce ss id ad e sus s us pe nd erá er á sua s ua rota ro taçã ção, o, e a go g o e la esca es canc ncar arad ad a da d a m or te s e fe fe ch a r á pa ra sem s em pre. pr e. ”
Qualquer Qualq uer doutrina filosóf filosófica ica prova prova seu valor quando é capaz de tornar seus adeptos mais felizes. Muitas vezes, consideramos a reflexão filosófica como um passatempo intelectual, o que significa negar seu valor pragmático. No entanto, no que concerne a reencarnação, muitos pensadores se debruçaram sobre qual seria seu papel no cotidiano, e você verá que ele merece ser levado em consideração. Em primeiro lugar, um dos principais atrativos da reencarnação vem do fato de que ela fornece ao ser humano uma compreensão da vida baseada numa verdadeira justiça e aponta sua responsabilidade perante seu futuro. O futuro é considerado como sendo vasto e tendente à perfeição. Ele é tecido a partir de pensamentos, intenções, intenç ões, discursos e atividades do passado e do presente; não como produto da decisão arbitrária de um Deus, mas como resultado de uma confrontação clara com leis estáveis, senão imutáveis. Assim, relacionandose com a idéia de sua reencarnação, a personalidade pode ser edificada na luz e na responsabilidade. Ninguém duvida que a dignidade, a retidão e o equilíbrio psicológico do indivíduo saiam fortalecidos.
O adepto da reencarnação só muito raramente se deixaria arrastar ao estado de dúvida tão formidavelmente formidavelm ente descrito no livro de Jó, do Antigo Testamento. Jó o justo escandalizouse escandaliz ouse do fato de que, tendo servido a seu Deus durante toda sua vida, parecia que qu e Ele o havia abandonado naq uele momento. Desiludido, ele constata que neste mundo os criminosos muitas vezes ficam sem punição, enquant en quantoo muitos inocentes sofrem sofrem provações cujo motivo não compreendem. Jó 21, 7: " Porque os maus continuam continuam vivos, vivos, envelhecem e aumentam seu poder? Sua Sua posteridade se fo fo rt if ic a d iant ia nt e dele de less e sua des d es cend ce nd ên cia ci a subsi su bsiste ste ante seus olhos. A paz de sua casa não tem o que temer, os rigores de Deus os pou pa m ... ”. ”. Jó põe em dúvida e maldiz seu seu Senhor, Senhor, como como muitas pesso pessoas as afirmam hoje que, se existe mesmo um Deus, então não devia haver guerras e a felicidade devia reinar indistintamente. indistint amente. Quem adere à idéia da reencarnação reencarn ação fica definitivamente “vacinado” contra essa tentativa de imputar a um longínquo Deus a responsabilidade da injustiça e da violência humana. h umana. O adepto adepto da reencarnação sabe que há leis naturais e espirituais e que Para ele, ele , o universo é portador ele “colherá conform e semea r”. Para de um sentido que, cedo ou tarde, conduz à felicidade e ao amor desabrochados. Mas eis que no livro de Jó intervém Elias, o sábio que vem tirar do erro o desesperado. Jó 34, 10: “Quese afaste de Deus o mal; de Shaddaí, a injustiça! Pois Ele dá ao homem segundo suas obras, trata cada qual segundo sua c o n d u t a . Jó deixa vive r o mau, ma sfaz justiça Jó 36,6: 36,6 : “Ele não deixa aos pobres; Ele não abandona o justo de visão. visão. Com os reis em seus tronos, Ele os instala para reinarem para sempre, e eles são exalta exaltados dos.. Mas se Ele os ata com correntes, eles fica m presos nos laços da aflição. Ele lhes revela seus atos atos,, os pecado s de o rgulho que come teram ... ”. Mas Mas antes desse discurso, Elias acentua a
misericordia e a idéia de reencarnação: “Pequei ep erverti o certo: Ele El e não nã o m e pa g ou na m esm es m a m oeda oe da . E le is en tou to u m inha in ha alm al m a d e pass pa ssar ar p el o fo s so (a segu se gu nd a m or te ) e fa z m inha in ha vida vi da us uf ru ir da luz. Tudo isso Deus faz, duas vezes, três vezes p elo hom em, a fim de extirpar do fosso sua alma e faz er brilhar sobre ele a luz dos 33, 26. Assim, a com pens ação dos erros e dos acertos vivos" Jó 33, acertos pode acontecer numa vida posterior. O segundo aspecto prático da reencarnação expressase no fato de incitar o ser humano a aprender durante toda sua vida, até a idade avançada e mesmo até seu último suspiro. Nela, N ela, ele não é concebido simplesmente como um produtorconsumidor, mas se✓ torna uma matéria em evolução através dos ciclos de vida. E tão espantoso que no Ocidente (que em sua su a maioria maior ia aposta numa ún ica existência) as pessoas acima dos dos quarenta anos sejam consideradas como “acabadas”? Quarenta anos, a idade da maturidade, quando o indivíduo deveria consumar os frutos de tudo o que aprendeu antes. A partir dessa idade, nossas sociedades sociedades geralmente acham que a pessoa pode pode apenas regredir. Podemos, porém, nos perguntar se isso não passaria de uma poderosa autosugestão que as massas fariam nelas mesmas, com todos os efeitos devastadores que conhecemos. Inversamente, entre as pessoas que apostam na reencarnação corretamente compreendida, não é raro encontrar aquelas que iniciam inicia m estudos aos aos cinqüenta anos ou mais. Elas Elas estão convictas de que todo trabalho iniciado hoje dará frutos amanhã, de um modo ou outro. Existe um argumento muitas vezes evocado e oposto à reencarnação, o qual se costuma usar após uma observação superficial da índia. Esse argumento diz que aderir a essa idéia
seria inútil, porque acreditaríamos poder deixar para amanhã o que poderia ser feito feito hoje mesmo. Tratase aqui de uma falsa interpretação do princípio, que é também de uma cegueira total no que concerne as condições de vida no universo estritamente material. A reencarna reenc arnação ção assentase assen tase no princípio princ ípio da evolução da Criação. Todas as observações científicas, históricas e psicológicas pleiteiam em favor dessa evolução. Assim, elas deixam claro que as leis do universo operam para favorecer esse desenvolvimento. O provérbio provérbio popular popul ar explica que “tudo “tudo que estagna, esta gna, regride” r egride” e “o “o que não avança, recua”, r ecua”, pois a lei do universo se exprime pela mudança rumo ao summum bonum. A respeito do possível impacto psicológico da educação reencarnacionista, reencarnacionista, uma antropóloga, Margaret Mead, estudou o caso de dois povos: os balinais e e os manus. O primeiro acredita na reencarnação da alma numa mesma família, enquanto o segundo considera que, depois da morte, o ser humano sobrevive, sob a aparência de um fantasma, por um período muito breve, breve, depois do quê se ele degenera em formas de nível mais ou menos baixo, até chegar à de um verme ou de uma alga. Margaret Mead observou, então, a evolução desses dois povos a partir da maturidade. Notou, como particularmente surpreendente, surpreendent e, o fato de de que entre os balinais o o indivíduo pode continuar aprendendo até a idade avançada. As pessoas permanecem jovens, belas e risonhas por muito mais tempo do que em nossas regiões. Inversamente, entre os manus , o intelecto e o corpo enfraquecem a partir dos quarenta anos. Então, Margaret Mead colocou colocou a seguinte pergunta: "Poderia a relação que existe existe entre aprendizagem e teoria do nascimen to e da imortalidade constituir constituir um fato fato r-cha ve? ”.
Cranston e Head, que reportam esse estudo no livro intitulado “Livro da Reencarn ação ", também fa ze m e c o ao estudo de um psiquiatra da Marinha nacional americana, o qual se desenrolou durante a Segunda Guerra Mundial. Essa informação foi foi publicada publica da pela revista “Times”. Esse Esse psiquiatra descobriu que o equilíbrio mental da maioria dos habitantes da ilha de Okinawa (situada no norte do do arquipélago nipônico) nipônico) é superior ao da média das outras populações. Esse povo acredita acredit a que o espírito volta à terra depois de sete gerações e se se encarna num indivíduo que se parece fortemente com sua antiga encarnação. Em seguida a um terrível bombardeio, o psiquiatra notou que, de cada cinco habitantes da ilha, apenas um ficava mentalmente desequilibrado, ao passo que, submetidos a condições semelhantes, soldados americanos e japoneses foram levados ao suicídio ou ao asilo psiquiátrico. Ele explica que a estrutura mental da criança de Okinawa é tão segura e forte, desde os cinco anos de idade, que pode enfrentar as piores catástrofes. De ve-se ver aí a influência da educação reencarnacionista?
“A mo rte é a verd adeira meta fin a l de nossa vida; d epois de a lguns anos, estou tão fam iliariz ado co m essa essa verdad e, essa essa marav ilhosa amiga do ser humano, que sua sua ima gem não apenas nada tem de assustadora, mas, ao contrário, é mesmo muito calmante e confortadora ." ." W A. Mozart
Há várias dezenas de milhares de anos, o ser humano, tomando consciência de si mesmo, simultaneamente tomou consciência de sua morte. Desse fenômeno fenômeno fundamental fundame ntal para a evolução humana, decorreram algumas crenças relativas à sua sobrevivência. As primeiras convicções assumiram a forma do sobrevivencialismo, freqüentemente ligado a uma fé animista. animist a. Em outras palavras, o primitivo achava que q ue o morto morto continuaria continuar ia a viver sob sob uma forma forma invisível, quer qu er num mundo paralelo, quer que r sob sob a terra ou, ainda, em nosso nosso próprio próprio mundo. Foi apenas bem mais tarde que a noção de um reino espiritual se imprimiu no pensamento humano. Paralelamente às primeiras crenças, enterravase, enterravase, queimavase, queima vase, imergiase im ergiase ou jogavase aos animais o cadáver. Alimentos, armas, bens materiais ou humanos (escravos, família, jóias...) acompanhavamnos em sua viagem. Eram enterrados ou queimados junto com ele. AJternadamente, na História, as as tumbas e outras outras sepulturas situaramse em locais afastados dos vivos ou, ao contrário,
próximos aos mesmos, conforme o medo que estes sentiam ou não em relação aos mortos. Viuse aparecer apar ecer a preocupação em relação à sobrevivência do eu e do outro. Depois, os nomes fizeram seu florescimento nos túmulos. A familiar idade com a morte evoluiu igualmente no curso da História. Festas foram organizadas em cemitérios que, em outras épocas, ficavam abandonados. Mas por que desenvolver desenvo lver uma tal t al reflexão sobre as as diferentes atitudes dos seres seres humanos ante a morte? Muito Mu ito simplesmente porque, na maioria dos casos, qualquer que seja nossa cultura, se não são frutos de uma reflexão profunda e pessoal, nossos ritos e crenças crenças transformamse quase sempre em preconceitos. A morte representa um tema cercado de um respeito quase supersticioso, que a torna intocável. Muito freqüentemente, querer pôr em causa um costume implica o risco de se passar por sacrílego. Essa atitude conservacionista aniquila regularme regul armente nte toda reflexão em torno torno do assunto ou quanto ao sentido a ser dado aos nossos ritos. Uma meditação sobre as posições assumidas pelo ser humano no curso da História permite tomar consciência de sua relatividade. relativ idade. Após Após uma viagem vi agem ao espaço das das crenças, uma outra, no tempo, ajuda a compreender compre ender as ligações que existem entre a evolução das sociedades e a de seus costumes, quer sejam laicas ou religiosas. Aqui, nada é neutro e poderseia poderseia crenças e m termos facilmente afirmar: “Diz-me quais são tuas crenças de ontologia e te d irei para onde vais vais.. Inversamente, Inversamente, fala -m e de tua sociedade, sociedade, de teus hábitos de consum o, etc., e adivinha rei teus teus costumes e cerimôn ias”. Não se trata de destruir as convicções do presente, mas de se conscientizar do fato de que outros puderam defender
pontos pon tos de vista diferentes e igualmente igualmen te válidos. Assim, quando quand o se sabe sabe contemplar cont emplar seus próprios costumes com objetividade, podese extrair deles o sentido mais profundo, num primeiro momento, e depois superálos, para se chegar a verdades mais amplas que transcendem o tempo e o espaço de todos todos os ritos. ritos. E a esse jogo que este capítulo o convida. Começaremos apresentando a préhistória préhist ória do tema, depois examinaremos as diversas atitudes vividas apenas no Ocidente. Essa amostragem deve ser ser suficiente para alim entar enta r uma boa reflexão. reflexão. Os primeiros ritos mortuários de que temos prova remontam ao paleolítico superior, desde a época do homem de CroMagnon. Os antropólogos descobriram tumbas e ossaturas, acompanhadas de jóias e objetos diversos. Ainda que antes desse tempo provavelmente tenha existido um culto dos crânios, alguns dos quais sofreram trepanação, os sinais de uma veneração organizada são menos menos evidentes. A primeira religião da terra foi, sem dúvida, o culto dos mortos. A atitude dos vivos vivos diante dos agonizante ag onizantess sempre foi foi composta de certa ambigüidade. O respeito ladeia o medo dos fantasmas, a esperança muitas vezes acompanha a angústia do pósvida. No período ariano da Grécia, por volta de 1300 a.C., os corpos podiam ser até mesmo enterrados em casa. Com o avanço da civilização, passouse a enterrálos fora das cidades. Os cemitérios ainda não existiam e as tumbas, como no caso da Via Apia em Roma, eram arranjadas arranja das por alinhamentos. alinhamento s. Na verdade, enterravase onde onde dava, dava, desde que isso foss fossee feito feito fora fora da cidade, cidade , pois os mortos mortos suscitavam medo. Além disso, apenas as pessoas pessoas importantes importantes usufruíam usufr uíam de uma tumba. Nessa época, os epitáfios floresceram nos túmulos, com o nome das pessoas gravados neles. A preocupação com a identidade individual após a morte era bem real.
Somente a partir dos séculos 2 e 3 d.C., começaram a surgir os embriões dos cemitérios organizados, sempre fora das cidades. Uma arquitetura de sarcófagos, pedras e fossas com cobertura fez sua aparição, e as pessoas comuns começaram a usufruir deles com o início da era cristã. Por volta do século sé culo 5, a p rática ráti ca da inuma inu ma ção tomou o luga lu garr da mais usual, a da incineração. Aliás, datando desse período de transição, foram encontrados esqueletos encerrados em ánforas, em lugar das cinzas habituais. No cemitério rural, os túmulos eram orientados. Um dos meios usados hoje pelos arqueólogos para datar um cemitério consiste em observar a orientação dos túmulos. Nortesul, no período período galoroma no; lesteoeste lesteoeste no período período merovíngio. Os primeiros cristãos adotaram a orientação para Jerusalém, enquanto o s muçulmanos muçulmanos até hoje voltam o rosto para a Meca ou Kibla. Mais que um destino a ser atingido, essa posição posição parece sugerir que mesmo na morte o ser humano não perde sua orientação e que esta possui um sentido ou meta. Por volta do século 5, desfezse a preocupação da conservação da iden tidade da pessoa, na morte. O retrato e o nome do morto colocados no túmulo foram desaparecendo gradualmente (embora alguns casos tenham se conservado), para reaparecerem cinco séculos mais tarde. Mártires e santos estão enterrados em alguns desses primeiros cemitérios. Perto deles, igrejas foram construídas para lhes render culto. Essas igrejas aos poucos tornaramse, elas próprias, locais de sepultamento, porque os fiéis queriam ser enterrados a d sanctos , isto é, na companhia dos santos. Um novo tipo de cemitério, então, organizouse ao redor da igreja.
Em torno do século 11, a morada final fixouse ao redor de igrejas, os velhos tabus envolvendo a morte caíram por terra, as tumbas fizeram sua aparição dentro das cidades e o cemitério perdurou nessa forma até o século 18. Esse cemitério medieval não tem nada a ver com o que conhecemos hoje; Tratavase de um local público, onde se praticava o comércio, as pessoas marcavam encontros, às vezes até moravam lá. Até hoje ainda existe no Cairo, Egito, um cemitério que pode dar uma boa idéia do velho recinto medieval. Na Tunísia, até alguns atrás, as pessoas iam aos cemitérios para fazer piqueniques. Os vivos viviam, por assim dizer, numa verdadeira promiscuidade com os mortos. Nesses locais, podiase dar festas, banquetes, fazer encontros amorosos, praticar o com ércio ... Ainda Aind a hoje, no México, em certos períodos do ano, festas multicoloridas são dadas ali. O Ocidente, entre os séculos 11 e 18, domesticou a morte, apesar de temêla. Para o homem da Idade Média, ela fazia parte de suas preocupações costumeiras. Nessa época, a antiga ant iga ordenação do espaço desapareceu, os corpos corpos confiados confiados à.igreja eram enterrados em qu alqu er local, desordenadamente. O local importava menos que a proteção dos religiosos. No entanto, no que concerne as pessoas importantes, a preocupação da identidade retida pela autoconsciência voltou à tona. Aos poucos, os túmulos viram reflorescer reflorescer os epitáfios. epitáfios. A representação física da pessoa ganhou força na forma jacente. Os nomes voltaram a ser gravados nos túmulos. No século 12, curiosamente, a palavra “morte” personificouse: a Morte tornouse a “Dama da Foice”, representada nas danças macabras. Preocupavase então muito mais com a questão da conservação da identidade após a morte. A segunda segu nda face dessa preocupação preo cupação traduziu trad uziuse se no medo dos
mortosvivos. Uma iluminura do período medieval, “O enc ont ro de três mo rtos e três vivos", mostra três cavaleiros próximos a um cemitério, apavorados pela visão de três cadáveres saindo dos túmulos. Como nas velhas crenças de nossos antepassados, os indivíduos mortos tornaramse novamente suscetíveis de perturbar pertur bar os vivos. vivos. As As representações de danças macabras m acabras e da Dama da Foice sucederamse numerosamente. Nessas imagens, as personagens aparecem, duas a duas, numa ronda infernal. Um homem (ou uma mulher) m ulher) estupidificado é arrastado arrastado por um mortovivo, do qual pedaços de carne podem ser vistos. Tratase aqu i de representa re presentarr a igualdad igu aldadee dos homens diante d iante da morte (nela, ( nela, prelados e nobres ficam lado a lado com artesãos e gente simples do povo) e a decrepitude do corpo, como também a sobrevivência do indivíduo. Essa foi também a época do surgimento dos testamentos, pelos quais o indivíduo transmitia uma parte de si mesmo à posteridade, estando o eu estendido, sem dúvida, às posses. posses. A Ave M aria ar ia", ", preocupação com a boa morte surgiu então. A “Ave cujo último últim o verso verso diz “Oraipo r nós pecadores, agora e na hora de nossa morte", surgiu igualmente nessa época. Sobre o testamento, a História antiga conhecia essa prática de transmissão de um patrimônio. Entretanto, a ele somavase a transmissão de um influxo espiritual. Na Grécia, o culto da lareira e dos ancestrais era transmitido de pai para filho. Esse último tornavase, então, o sacerdote do culto doméstico. No Antigo Testamento, Jacó Jacó transfere ao seu irmão Esaú a bênção que seu pai Isaac teria dirig ido ao seu filho primogênito, pouco pouco antes de morrer. Essa bênção fazia dele o favorito do Divino, em suas terras e entre sua gente.
O historiador Philippe Ariès adotou diversos parâmetros de análise da evolução dos comportamentos humanos ante a morte. O primeiro implica a tomada de consciência do eu. Em função do valor atribuído ao ego, no curso da História (dado basicamente variável), variáve l), as concepções concepções da morte variam. O segundo segundo parâmetro diz respeito à atitude da humanida hu manidade de ante a natureza e os fenômenos. A morte e a sexualidade representam fenômenos naturais aceitos de maneiras diversas. diversas. Uma a uma, as culturas foram tentando domálos ou torná los diabólicos, ou simplesmente ignorálos, em consonância com a atitude geral que o ser humano foi assumindo perante a totalidade do meio natural. Por exemplo, a era industrial freqüentemente colocouse em oposição à natureza, que precisava ser domada. Assim sendo, a morte, último últim o fenômeno indomável, foi então afastada das preocupações do homem moderno. Outros acontecimentos externos a ele —epidem —epidemias, ias, fomes, guerras e catástrofes naturais —também transformaram suas atitudes atitude s e sua compreensão do fenômeno. Ao menos, menos, é o que explica o historiador Michel Vovelle, que cita testemunhos bem do começo começo do século 17, numa época em que a expectativa de Mortal, pensa que, sob a cob ertura vida era relativamente curta: “Mortal, de uma câmara mortuári mortuária, a, há um corpo com ido por vermes, sem sem carne, sem nervos, cujos ossos à mostra despojam-se, desconjunt am- se, se, perdem suas articulações. articulações. Ali Ali uma das mãos cai podre, acolá os olhos revirados destilam hum or vítreo, e os diversos mús culos servem , aos verm es vorazes, vorazes, de ordinário repasto. ..".A imagem é certamente repugnante, mas fazia parte do cotidiano daqueles homens e mulheres que se confrontavam diariamente com a morte, nas epidemias e na miséria.
O terceiro parâmetro de análise implica as crenças ou convicções sobre a imortalidade da alma. O modelo cristão da Idade Média era que as almas dormiam, à espera do Ju lgam lg am en to Fina Fi nal.l. A propósi pro pósito, to, a ve rdad rd adei eira ra defin de finiçã içãoo etimológica da palavra cemitério traduzse por “dormitório”. “dormitório”. Consideravase, porém, q ue esse sono sono podia ser ser intranqüilo intranq üilo por causa dos erros passados, e que os maus podiam voltar para implicar imp licar com os vivos. vivos. Convinha, então, can alizar aliza r esse esse retorno retorno e exorcizálo e xorcizálo por ocasião ocasião de determinados det erminados festejos, festejos, como o carnaval. O último método de compreensão diz respeito à noção de bem e mal relativa à morte. O cristianismo consideraa como um resultado do pecado original. Pecado, mal e morte, no sentido de infelicidade, são sinônimos, sinônimos, mas não para os judeus, por exemplo. Para os epicurianos e os estoicos, a morte, pelo contrário, correspondia a uma submissão, de natureza boa. A esses quatro qua tro parâmet parâ metros ros superpõe supe rpõese se uma um a evolução evoluç ão histórica das mentalidades. Até o século 11, a morte era concebida em seus aspectos coletivos; coletivos; o ser humano era então considerado como como um elemento elem ento de uma corrente vital. A partir do século século 11, surgiu a noção de individualida individ ualidade, de, que q ue perdurou até o final do século 18. 18. Com o advento do Iluminism Ilum inismoo e, depois, da sociedade burguesa do século 19, a morte alheia adquiriu dimensão mais importante. A família e a noção de espaço privado tomaram a dianteira sobre a antiga comunidade e o individualismo da Idade Média. O romantismo tendia a fazer da morte algo muito muit o belo. No livro '"Atala", de 1801, 1801, Chateaubria Chate aubriand nd assim se expressa: expressa: "No inicio da noite, transportamos seus precioso s restos até uma
abertura da gruta, q ue dava para o norte. O eremita os havia havia enrolado numa peça de Imho da Europa, Europa, tecido po r sua sua mãe: era o ún ico bem que lh e restara restara de sua pátria e, após tanto tempo, estava destinado ao seu próprio túm ulo. Atala Atala fo i deitada sobre um canteiro de m imosas das montanhas; montanhas; seus pés, sua cabeça, seus ombros e p arte de seus seios estavam descobertos. Em seus cabelos, cabelos, via-se uma flo r de m agnolia descolorida descolorida [... ] a m esma que eu havia depositado no leito da virgem, virgem, para tom á-la fecun da . Seus lábios, lábios, com o um botão de rosa colhido há duas manhãs, manhãs, pareciam mu rchar e sorrir. sorrir. Em suas face s, de esplend orosa brancura, brancura, distinguiam-se um as veias azui azuis. s. [ ...] Ela Ela parecia encantada pelo anjo da da m elancolia e pelo duplo sono da inocência e do túmulo. Nunca Nu nca eu e u ha via visto vis to nada na da mai m aiss celes tia l. Quem Qu em q u er qu e ignora ign ora sse que essa essa jov em donzela houvesse usufruído da luz poderia toma- la pela estátua da virginda de adorm ecida ”.
É a primeira tentativa de ocultação do assunto, assunto, num quadro primordialmente fantasmagórico. A morte alheia gerava também o desejo de estabelecer contato com ele, no transcendente transcende nte desconhecido. O século 19 viu viu nascer, assim, o espiritismo. No século 20, a noção do mal perdeu todo sentido, a relação com a natureza selvagem não representava representava mais um problema, porque, graças à tecnologia e a medicina, ela foi banida ou domada (ao menos, é o que se crê). As As noções noções de imortalidade imort alidade foram sendo progressivamente negadas, como restos de uma infantilidade passada que se recusava a aceitar morte em sua realidade. Os comportamentos diante dela foram então invertidos: ela foi banida da sociedade e entrincheirada nos hospitais que, a duras penas, a aceitavam aceit avam (hoje, ( hoje, 70% das pessoas pessoas morrem em hospitais).
Antigamente Antiga mente,, a morte se fazia anunciar. anunci ar. Não raro (e isto sabemos graças às ações familiares da época), sentindose perto de partir, a pessoa convocava convocava sua família e lhe comunicava comunic ava sua última vontade. Tinhase então a necessidade de morrer com a consciência limpa. Partir sem estar pronto dava medo. A partida de uma pessoa envolvia também toda a coletividade. Hoje, a maioria das pessoas prefere partir rapidamente, quase brutalmente. A morte anunciada é considerada uma calamidade. calamid ade. Ela se tornou tornou também um assunto absolutamente privado. Do mesmo modo, os tempos não são mais chegados aos grandes cortejos fúnebres ou às representações da morte. Adornos, danças dan ças macabras, jacentes, carpideiras, carpid eiras, epitáfios e outros apelos à meditação tornaramse t ornaramse extremamente ex tremamente raros. A morte não dá mais sinais. No século 17, a arte de se preparar para morrer era freqüentemente lembrada e praticada, como aconselhavam os antigos pitagóricos: "Por uma sábia antevisão, pr epar ai-vos para a morte, de m edo q ue ela vos surpreenda: surpreenda: m orrei antes de vossa vossa morte, mo rrei para o mundo, mo rrei para todas as criaturas, criaturas, entrai num estado em que possais dizer como São Paulo: “quotidie morior" (morro todos os dias). dias). A arte de santamente é tão importan te que, que, para conseg ui-la um a vez, é preciso a preender toda a vida, vida, porque asfaltas que cometem os nesse momen to são irremediáveis". Jacques Nouet: “Recolhe-te, a fim de te preparares preparares pa ra a m o rt e ”, ”, 1684. O século século 18 e suas luzes assistiram a uma um a primeira primeir a tentativa de eliminar elimin ar a morte. Voltaire Voltaire ridiculariz ridic ularizou ou as antigas práticas e de usà Vida" Vida".. Fazendo piadas sobre as velhas pompas, em seu ‘A deusà a morte, os próprios padres negavam a imortalidade da alma. O Marquês de Sade apresentoua c o m o sendo um nada. A
matéria é que era então considerada eterna. Em meio a essa concerto, Montesquieu apresentou a imortalidade da alma antes como uma necessidade que uma verdade: "Quando a imortalidade imortalidade da alma fo r um erro, erro, fica rei muito desolado de não acreditar nela". Os Os que chamamos de filósofo filósofoss do iluminismo, iluminism o, como LouisClaude de SaintMartin ou Joseph de Maistre, reagiram contra esse esse baixo baixo materialismo. Desde o final do século 18, assistimos a um refluxo dos cemitérios, fora ou na periferia das cidades. Por exemplo, o cemitério de Père Lachaise, em Paris, situouse por algum tempo fora dos muros, até que a metrópole o abarcou. O cientificismo do século 20 progressivamente rejeitou a morte, um dos últimos desafios incontornáveis a se erguer perante a onipotente ciência. Quando uma pessoa falece num hospital, torna sinônim o de fr a ca ss o para todo o corpo médico. isto se torna A saída do corpo é feita da maneira man eira mais discreta discret a possível, às vezes até secretamente. Certa Cer ta enfermeira de repente percebeu que, em dez anos de serviço, ela nunca tinha ficado ciente de por onde os corpos passavam para deixarem o hospital. Os mortos mortos deixam de ter direito de cidadani cida daniaa e, segundo os sociólogos, deixam de ter função social. Os sinais que lembram a morte mausoléus, mausoléu s, jacentes, adornos, fanal dos mortos, mortos, etc. etc. estão cada vez mais discretos, porque sua produção está parada. Nas mídias, as imagens só mostram as mortes de estrangeiros. As dos nossos, dos que fazem parte da família nacional, dos que nos tocam de perto, são cuidadosamente veladas. O historiador P Ariès chama a isso isso "a grand e inversão “Um pesado silêncio ”, escreveu ele, “estende-se, assim, sobre a morte. Q uando ele se rompe, com o algum as vezes na na América do Norte, Nort e, hoje h oje,, é p a ra re d uz ira ir a m or te à in sign si gn ific if icââ nc ia d e um u m e ve n to
qualqu qualquer, er, do qual se fin ge fa ge fa la r co m ind in d ifer if eren en ça . Nos N os dois doi s casos, casos , o resultado resultado é o mesmo: nem o indivíduo nem a comunidad e tem suficiente consistência consistência para para recon hecer a mo rte”.
Felizmente, há umas três décadas, um vento de lucidez começou a soprar na civilização, através do meio médico. As longas agonias do câncer e o surgimento da AIDS vêm favorecendo esse processo. Entretanto, a mudança de mentalidade ainda não tocou todas as camadas da sociedade. Quando a tomada de consciência se generalizar gener alizar,, podese apostar que nossas sociedades sairão daí transformadas e mais maduras... Armado do poder que a ciência ciên cia lhe confere, o ser humano enfim se reconciliará com a natureza, pela aceitação de sua própria mortalidade. A morte, fenômeno reconhecido socialmente e não mais rejeitado, convidará o indivíduo e as sociedades a se questionarem sobre seu futuro, porém, sobre bases totalmente novas. novas.
“Há umas duas décadas décadas,, fiq ue i gravem ente d oente depois d e ter tomado uns remédios, remédios, e tenho certeza certeza deque, naquele momento, eu quase m oni. (Quem fala é a Sra. O.) vertigens,, d eite-m e O.) Sentindo vertigens na cama, cama, em meu quarto quarto,, e perd i a consciência. consciência. Nofim de alguns instante instantes, s, (não posso dizer com precisã o quanto tem po fo i) , vo lt ei à consciência, mas, mas, para meu profu ndo horror, horror, vi meu cor po deitado na cama, com o se eu estivesse estivesse flu fl u tu a n d o a cim a e sepa s epa rad a dele d ele.. Ah, Ah, d ev o ex plica pl ica r qu e m e sen s en ti pe rf ei ta m en te be m ne sse no vo estado indefinível. Eu sabia sabia que estava m orrendo e, no entanto, não sentia medo. Estava Estava comp leta m ente serena. Depois, Depois, senti uma espécie de oscilação oscilação etn minha consciência e me vi indo para para um tún el muito escuro, ou melhor, era o túnel que vinha na minha direção. direção. Bem no com eço desse túnel túnel,, co m ecei a perceber um ponto de luz vermelha que com eçou a crescer cada cada vez mais e se tomar
mais brilhant brilhante, e, a té invadir totalmente meu ca?npo ca?npo de consciência. De repente, repente, tom ei a perder a consciênc consciência, ia, caindo num outro buraco escuro. Algum temp o depois, depois, acordei peno sam ente em m eu corpo fí si co , c om m eu m ar ido id o ao m eu lado, lad o, t en ta nd o des d eses espe pe ra da m en te m e reanimar. ”
Quando a Sra. O. me relatou sua história, vinte anos já haviam se passado e ela se lembrava dela como um acontecimento marcante que tivesse acontecido ontem. Zeloso da honestidade intelectual e da verdade, pergunteilhe então se aquela experiência não podia ter sido um sonho. Para ela, a hipótese do sonho devia ser excluída. Ele não tem a mesma “textura” que esse tipo de fenômeno. Durante um sonho, ninguém nunca vê seu corpo físico (ou muito raramente, já que a experiência prova que toda regra tem sua exceção), não se tem consciência desse desdobramento. Para a Sra. O., a separação entre o ser físico e o ser espiritual era uma coisa tão óbvia e real quanto qualquer acontecimento cotidiano, percebido no estado de vigília. vigíli a. Acrescentamos que essa pessoa nunca tinha t inha estudado nada de esoterismo, esoterismo, cuja existência ela quase que ignorava, que sua aventura se desenrolou numa época em que ainda não se falava, na Europa, sobre histórias de estados vizinhos à morte, e que ela não estava predisposta a passar por isso. O que provocara a situação foi a iminência da morte, causada pela ingestão de medicamentos. Os americanos chamaram esse estado de consciência singular de “Near Death Experience (NDE)”, ou Experiência de Morte Iminente (EMI). Várias investigações realizadas em todo o mundo revelaram que milhões de pessoas já vivenciaram esse fenômeno surpreendente. surpreendente . Só nos Estados Estados Unidos, o instituto de pesquisa pesquis a Gallup contou oito milhões.
Como a Sra. O., que o marido achou que estava louca quando contou a ele sua história, a maioria das pessoas que passam por essa experiência, no Ocidente, guardou para si mesma a perturbadora narrativa dessa viagem a uma outra dimensão da consciência. Preferiram se calar, para evitar serem tratadas como loucas ou mentirosas, até que... médicos, enfermeiros, psiquiatras, começaram a levar a sério esses testemunhos que voltavam várias e várias vezes sob formas muito parecidas, nos lábios dos que haviam tocado a morte. Mas vejamos mais claramente claramen te do que se trata. De uns trinta anos para cá, o progresso progresso da medicina medic ina não n ão parou de se acelerar. Graças à utilização da química medicamentosa, da cirurgia de ponta, da eletrôni eletr ônica.. ca.... os médicos estão estão sendo capazes de fazer pesquisas com as pessoas que chegaram perto das fronteiras do além. Muitas vezes, quando o coração e o cérebro não dão mais sinais s inais de atividade nos aparelhos registradores, registradores, quando os médicos que cuidam delas as declaram mortas, essas pessoas, contra toda expectativa, voltam à vida. Em alguns casos, tudo que receberam foi simplesmente, por exemplo, uma descarga de desfibrilador cardíaco, que acionou novamente toda a mecânica vital. Para espanto dos que lhes prestam assistência, cerca de quarenta por cento desses viajantes de um outro mundo se põem a contar uma história extraordinária, que se desenrola em cinco etapas. 1. Enquanto se encontram numa mesa de operação ou caídos por terra depois de um acidente ou, ainda, em qualquer outra situação gravemente traumatizante para a vida, essas pessoas sentem que estão deixando nosso mundo e indo para um reino totalmente diferente. A situação, para elas, é sempre muito agradável agradá vel e elas não sofrem sofrem nada, mesmo que seu corpo
físico esteja numa condição dolorosa, doente ou acidentado. De forma surpreendente, ao regressarem, não têm mais medo da morte, sentemse totalmente confiantes e tranqüilas. 2. De repente, para seu espanto, na segunda fase da experiência, elas percebem nitidamente seu corpo físico estirado sob elas ou ao seu lado. Vivenciam, assim, assim , a experiência íntima ín tima da dualidade de sua natureza, a mente fica separada do corpo. Essas pessoas provam a veracidade da situação recordando fato fa tos s concretos que perceberam enquanto estavam nesse estado singular. Descrevem aos médicos que cuidaram delas, por exemplo, cada um dos gestos e atos que eles fizeram para reanimálas. De acordo com esses testemunhos, parece que nesse estado a mente pode se deslocar instantaneamente para outros lugares. Uma pessoa acidentada, que estava pela primeira vez naquele hospital onde estava estava sendo tratada, pôs se a descrever, às suas espantadas enfermeiras, os quartos e outros locais do estabelecimento, onde ela nunca tinha pisado. Entretanto, ela visitara aqueles locais desconhecid desconhecidos os durante sua experiência. Após prudentes averiguações, suas declarações se revelaram exatas. 3. Depois da viagem da mente, separada do corpo, pelo mundo material, há uma mudança da consciência para uma outra dimensão. Um túnel sombrio se apresenta diante das pessoas e elas entram nele a uma velocidade vertiginosa. Tudo se passa como como se elas atingissem ating issem então uma u ma outra dimensão d imensão do universo. A saída do túnel, os narradores explicam que foram recebidos recebidos por algo que eles entenderam ser criaturas que vieram acolhêlos. acolhêlos. Mas aqu i os testemunhos adquirem uma natureza excessivamente simbólica, formulada incorretamente nos conceitos limitados do nosso mundo.
É o caso da aventura do Dr. Philip Simpson, Simpso n, relatado relata do por P van Eersel no livro “A Fon te Es cura ”'. “Sere “Sere s apro xim ara m-se m- se de m im ... Eles Ele s nã o e ram ra m cú b icos ic os co m o eu, ma s es féri fé rico cos.s. Queri Qu eriatn atn que eu m e tomasse como eles eles,, e uma onda de terror me engolfou. Gritei: “Vão “Vão emb oraI" O mais espa ntoso te m a t/er t/ercom a natureza do qu e os toma va tem íveis. A coisa é quase inexprim ível. A única pa la vr a q u e p o d e tra du zir zi r va ga m en te o q u e elas el as m e in spira sp ira vam va m é ironia. Aquelas esferas emanavam para mim alguma coisa zombeteira. zombeteira. Finalmente Finalmente,, sem desaparecerem, desaparecerem, ficara m a uma certa distância . Constatei, Constatei, então, que eu estava nu ma paisag em árida e fech fe ch a da , c o m o as terras terr as no fu n d o d e um cany ca nyon on , e m ple p le n o dese d eserto rto.. Por último, m eu “cu bo ” implodiu e fu i parar em m eu leito no hospital. hospital. Com m uito custo despertei, despertei, e uma esp écie de luz difusa difusa encheu minha cabeça. R evi toda a cena. De repente, repente, perceb i que me enganara totalmente: em nenhum momento aquelas “entid ad es” estranhas quiseram quiseram m e faz er m al. Ao contrário, revend o-os em minha mem ória, m e dei conta de que elas tinham sido, sido, na verdade, ex tremamen te bem intencionadas. intencionadas. Apenas Apenas um po uq ui nh o “di ve rtid rt id as ” co m o m eu m ed o. Foi esse “d iver iv ertitim m en to" to " que eu não consegui suportar. Apesar de estar consciente das aparências totalmente fantasiosas do m eu relato, relato, ten ho a dizer aqui que essa essa breve e fulg ura nte experiência experiência alterou minha concepção do mund o”. 4. Na quarta qua rta etapa, as pessoas pessoas contam contam que perceberam uma luz imensa ou um palácio de cristal bruto. Explicam que daquela onda luminosa irradiava um amor incomensurávei. 16% dos que relatam uma EMI atingem essa quarta fase. Apenas 10% 10% vão vão além. 5. E esse esse além é a entrada na luz, luz , uma fusão f usão que, segundo elas, imprime um êxtase indizível. indizível. Luz Lu z sobre sobre luz, amor, alegria,
sentimento de infinito e eternidade, experiência mística ou noética, conhecimento absoluto. Todos esses termos representam esforços infrutíferos para revestir de palavras algo que se vive primordialmente no nível da emoção. A m aio ria que alcan alc ança ça esse pata pa tama ma r sai dele perm pe rm anentemente transformada. Toda dificuldade qu e resta a essas pessoas é traduzir esse novo conhecimento em atos ligados ao concreto concreto cotidiano. Ao voltarem voltarem dessa viagem, algumas delas até recriminam os médicos por teremnas trazido de volta. Tendo gozado de um instante de eternidade, retomam reto mam contato com um corpo limitado, pesado e com todas as contingências materiais. Elas prefeririam continuar naquele novo lugar. Outras têm a convicção de que, “lá de cima”, receberam a ordem de voltar a este mundo. Neste ponto, vale notar que, longe de constituírem um novo mito, como pretendem algun algunss escritores, as EMI sempre foram vividas pelos seres humanos. human os. A extraor ex traordinária dinária vitalidade vitalid ade das religiões e místicas diversas vêm, aliás, desse fato. Na verdade, as pessoas saem dessa experiência não com uma simples fé, mas com um conhecimento ou gnose inabalável, que elas buscam compartilhar. O mito de Er, descrito por Platão, se não representa uma EMI (até prova em contrário, nenhuma EMI pode durar doze horas, nem mesmo mais que alguns minutos, sem se transformar em morte de fato), com certeza tira sua força das narrativas reais vividas vividas naquela n aquela época. Há também outras experiências que se assemelham às EMI, EMI, sem serem de fato. fato. Assim, Assim, certa mulher mulh er que narrou sua aventura nos mesmos termos de uma EMI (sentimento de amor incondicional, eternidade, expansão da consciência...) explicou
depois depois que a alteração de consciência consciência aconteceu enquanto ela passeava num jardim, extasiandose com a beleza das flores que via. Pessoas que sofrem um coma também tam bém podem dar esse tipo de testemunho. Assim, uma jovem que, depois de um acidente de carro, ficou seis meses em coma profundo relatou, relato u, ao sair dele: "De "De todo esse tempo, tempo, que não pu de med ir porque, quando acordei, parecia que o acid ente tinha acontecid o na véspera, véspera, não m e lemb ro de absolutam ente nada. nada. Ah Ah, sim !... só tenho certeza de uma coisa. Antes Antes de recuperar a consciência, “alguém ” m e deu uma escolha: partir definitivam ente ou voltar ”. Há dois elementos fundamentais no que diz respeito às EMI que fizeram a comunidade científica pender a seu favor. 0 primeiro primeir o reside nos nos relatos de percepções extrasensoriais. Por algum tempo, pôdese acreditar que durante a inconsciência aparente, o subconsciente das pessoas pode, por intermédio dos sentidos físicos, perceber eventos que se desenrolam nas imediações. Lembremos que a audição é o último sentido que permanece ativo na morte, na perda de consciência ou no sono. Essas explicações, porém, são muito fracas para justificar percepções verificáveis e verificadas de acontecimentos acontecimentos que ocorrem ocorrem em lugares distantes. A História relata um caso vivido pelo sábio Apolônio de Tiana, Tian a, no século 1d.C., no momento do assassinato do imperador Domiciano, a centenas de quilômetros dali. Filóstrato conta que, entregue a um discurso, Apolônio “estancou, estancou, como quem perd e o fio de seu discurso, discurso, lan çou ao solo um olhar apavorado, apavorado, deu três passos passos à fr e n t e eg e g r it o u : ‘Ataqu At aquee o Urano, at a qu ei” ei ”. Dize m qu q u e el e viu v iu não nã o a imagem do fato com o num espelh espelho, o, mas o próprio próprio fat o em toda toda sua realidade. realidade. Os efesianos efesianos fora m tomados de espanto. espanto. Apolônio Apolônio se deteve, assim como alguém que tenta ver a conclusão de um acontecim ento duvidoso. duvidoso. Por fim , gritou : “Tende Tende coragem, coragem,
efesianos /O Tira Tirano no fo i m orto hoje. O que estou dizen do... h oje?l Por Minerva!, ele a caba de ser mo rto neste exato instante instante,, enqu anto me interrompi”. Podia Apolonio estar em dois lugares ao mesmo tempo? Segundo seus proprios testemunhos, verificados por membros do corpo médico, as pessoas que passam por uma EMI, a exemplo de Apolônio, também parecem perceber eventos à distância.
O segundo —e mais importante —fenômeno que se levou em conta, se, por um lado, é aparentemente apa rentemente menos espetacular, por outro, apresenta caráter mais profundo e prático. Seu sentido é também infinitamente mais eloqüente para o místico sincero, que se recusa a deixarse levar pelo meramente espetacular. Quanto mais longe as vítimas vão vão na experiência (até a quinta fase), mais regeneradas elas retornam, tanto do ponto ponto de vista vista físico quanto men tal, emocional e espiritu al. Pessoas totalmente egoístas, que toda a vida sempre foram centradas na satisfação de seus interesses pessoais, passam espontaneamente a se interessar e a amar o próximo. Outras, cuja vida não tinha tin ha outro sentido senão o consumismo e a busca de prazeres, de repente passam a ter aspirações mais elevadas. Outras, ainda, descobrem nelas mesmas dons de cura ou uma vontade de reorien r eorientar tar sua vida para a manutenç man utenção ão da saúde física ou mental. Tudo isso constitui, constitui, inegavelm ente, sinais de uma expansão da consciência. Essas pessoas parecem ter experimentado uma u ma verdadeira conversão. conversão. Conversão essa essa que se traduz por um crescente amor à vida e às pessoas, bem como por um maior serviço prestado ao próximo e, por mais paradoxal que pareça, pela abolição de todo o medo da morte. Vale acrescenta acre scentarr que, para elas, a idéia do suicídio “só para ver” tornase um completo absurdo. Daí D aí a frase enigmáti enig mática ca de
üm ocidental que passou pela EMI após uma tentativa de suicídio — “Quando Quando se está está lá lá em cima, a gen te com preende o que realmente o suicídio significa; aí, então, acreditem-me, a gente realmente não tem a menor vontade de fa fa z e r isso d e n o v o ”. Pessoalmente, posso atestar sem quebrar nenhum segredo, que indivíduos que viveram uma EMI encetaram estudos espirituais que, em alguns casos, conduziramnos aos portais portais da Rosacruz. Por vontade própria, desejavam compreender, através da sabedoria sabedoria Rosacruz, a natureza daquilo que viveram de maneira tão emocionante. O ponto comum de todas essas vidas transformadas transform adas exprimese ex primese por uma um a grande gr ande alegria, aleg ria, um crescente crescente otimismo frente à vida e uma abertura mais ampla amp la em relação às outras pessoas. Mas há ainda aind a outra coisa no que tange sua regeneração física. física. Algumas Alguma s delas parecem rejuvenescer rejuvenescer.. Lesões Lesões graves saram mais rapidamente. Vítimas de câncer em fase terminal, que a medicina tinha t inha condenado co ndenado a um brevíssimo desfecho, desfecho, vêm suas metástases regredirem relativamente e o desfecho fatal adiado em seis meses ou mesmo um ano. Se ainda não chegamos a declarações como: “paralíticos andam, andam, cegos vêem e surdos não estamos muito longe disto, tanto do ponto ponto passa pa ssam m a ou o u v ir ”, não de vista físico como psicológico ou espiritual. O meio médico está se questionando sobre a transformação psicológica psicológica radical efetuada em tão pouco tempo. tempo. Nenh uma lei psicológica conhecida pode, em tais condições, explicar essa transformação. Logo, alguma coisa acontece, a um tempo profunda, prática e real, que a ciência não consegue explicar por suas análises habituais. Os médicos que querem se manter objetivos ficam tão contra a parede, que um deles, um psiquiatra
alemão que estudou o assunto profundamente, declarou: “Se as experiências de m orte im inen te não demonstram d e maneira absoluta absoluta o principio da sobreviv ência da alma depois da morte, os que ho je ainda se recusam a adm itir ess essaa sobre vivên cia não tiraram as melhor es cartas". cartas". Vale ressaltar, aliás, que as EMI não são mortes provisórias, provisórias, mas unicam un icamente ente estados próximos da morte. Tirar Tira r conclusões sobre sobre a experiência da morte a partir de uma EMI seria um pouco abusivo. Embora seja válido apreender apree nder o desconhecido a partir do conhecido, essa extrapolação, para chegar à condição de conhecimento verdadeiro, necessitaria de uma verificação objetiva. Se tivesse ocorrido morte nesses casos, casos, as últimas ligações que unem o ser ser humano à vida teriam se rompido. Ninguém teria podido fazer uma reanimação. As únicas informações que se pode tirar daí dizem respeito aos estados da consciência na proximidade da morte. Para compreender o evento, o fato é que cada um tenta adaptar as EMI aos seus próprios parâmetros analíticos. Um vê nela um modelo psicana psi canalítico lítico,, outro a interpreta interpr eta como reações psicoquímicas do cérebro... em todos os casos, as EMI não deixam ninguém nin guém indiferente; indiferen te; tanto que o governo governo francês francês in itiv a teve de chamar atenção para os termos da lei: “A m or te def initiv de um a pessoa pessoa pod e ser declarada somente após medidas tomadas tomadas po p o r elet el etro ro en ce fa lo gr a m a , efet ef etuu ad as du as vezes, ve zes, co m m eia ei a hor h or a de d e intervalo".
químico seria produzir uma última sensação sensação agradável, antes antes de se mergulhar... no nada. Se, por um lado, não há razão para negar essa explicação, por outro, vale observar que ela sozinha não basta para justificar as transformações transformações psicológicas psicológicas das pessoas e muito menos suas percepções à distância. Acrescentemos, porém, que isso absolutamente não entra em contradição com a noção de descorporificação real. Os místicos que seguem a via da alquimia espiritual aceitam a idéia de associar um fenômeno físico a um evento de natureza natur eza espiritual esp iritual.. A máxima hermética, hermé tica, “O que está em cim a é c om o o q ue está em baixo baixo,, e o que está em baixo éc om o o q ue está está em cim a", implica que um fenômeno físico pode ser o reflexo reflexo ou o indício de um fato espiritual, assim como a ponta do iceberg indica a presença de um volume imerso duas vezes maior. O fato de que o amor, por exemplo, possa ser medido ou refletido por secreções secreções das nossas glândulas endocrinas (tanto é que já se pôde falar em “molécula do amor”) não impede que ele constitua uma um a emoção real e muito prática, prá tica, sem a qual qu al a vida com nossos nossos congêneres se transformaria num inferno. Entretanto, o papel dos neurotransmissores na gênese de uma EMI ou quaisquer outras experiências semelhantes nunca foi comprovado pela ciência; ciência ; até hoje, isso não passa de uma hipótese. hipótese. Para encerrar, vale acrescentar que nunca se viu um restabelecimento ou regeneração tão espetacular, tanto do ponto de vista físico quanto psíquico, pelo uso de medicamentos clássicos.
O modelo psicoquímico explica que as sensações de descorporificação, a visão da luz, a passagem no túnel, tún el, os sons sons ouvidos, etc., são resultados de uma experiência alucinatória. Segundo essa versão, o cérebro, na iminência da morte, sofreria uma gigantesca descarga de drogas, secretando alucinógenos em forma de neurotransmissores. A função desse orgasmo
Na mesma ordem de coisas, existe uma teoria chamada “três cérebros”. Segundo essa idéia, na medida de sua evolução, a natureza teria dotado os seres vivos de estruturas cognitivas cada vez mais complexas. Assim sendo, o ser humano de hoje possuiria um cérebro composto de três cérebros superpostos. O cérebro superior ou neocórtex; o cérebro médio,
correspondente ao rinencéfalo ou sistema límbico; e e o cerebro inferior ou reptiliano, formado pelo hipotálamo, que, por sua vez, está ligado à glând ula pituitári pitu itária. a. Cientistas puseram em evidência reações semelhantes aos aos estados de consciência mística, que se enquadram igualmente na linguagem das EMI, pela estimulação artificial de de cada uma dessas partes do cérebro. Durante a excitação do rinencéfalo por meio de eletrodos, os pacientes experimentaram sentimentos de amor universal. Durante a estimulação do hipotálamo, descrição de luz e sensação de fusão no grande Todo Todo foram relatadas. Não demorou demorou para que uma interessante interessante teoria da transição viesse à tona. Assim, ao morrer, a pessoa assistiria a uma desativação progressiva de cada um de seus cérebros, começando pelo neocórtex. No nível da consciência, ela faria, far ia, então, o caminho inverso da evolução, até chegar aos níveis de consciência mais primitivos. Tratarseia, portanto, de um retorno às origens da evolução. Isso explicaria as experiências da descorporificação, do túnel, da luz, do amor universal e da fusão na luz. R Dewavrin, por sua vez, desenvolveu um explicação psicodinâmica. Frente à irrupção do medo da morte, “o inconscien te dissocia dissocia o corpo e a autoconsciência, o qu e”, segundo segundo ele, “ger a a impressão de desliga me nto corporal. Da mesma fo mesma form rm a , ele dilata o temp o e isola o ambiente, qu e então parece distante. distante. E uma verdadeir verdadeiraa fug a espaço-temporal o que se produz; produz; por esse esse pr oc esso es so , a real re al id ad e da m o rt e é lanç la nçad ad a fo r a da co n sc iê n ci a ”. Segundo ele, a percepção do ser de luz representa um arquétipo da vid a... Essa interpretação interpretação pura pura e simplesmente nega o fenômeno, para leválo ao nível do fantasma reconfortante, sem se apoiar em nenhum nenh um fato. fato.
Existem ainda outras teorias para explicar as EMI. Uma delas é a de Régis Dutheil, o pesquisador francês, autor do livro “O H omem Supra-lum inoso”. Ele é autor de uma teoria matemática muito respeitada, segundo a qual existiriam partículas muito especiais, os táquions, capazes de ultrapassar a velocidade da luz (barreira supostamente intransponível até então). O Instituto de Física de Colônia observou alguns que ultrapassam de três a quatro vezes a velocidade da luz, e resultados similares foram obtidos depois na França e nos Estados Unidos. Segundo Régis Dutheil, cujos trabalhos são até agora hipóteses hipóteses revolucionárias ainda a inda a serem confirmadas, existiriam, portanto, dois mundos. Um subluminoso e o outro, um “alhures” “alhu res” supraluminoso. supraluminoso . O termo “alhure s” foi foi dado por por Einstein, que havia previsto sua existência. Assim, a teoria da relativida relat ividade, de, estendida estend ida a essas novas concepçõe conc epções, s, consideraria consi deraria o universo segundo três seções. seções. Uma seção subluminosa, reino do mundo da dualidade, da causalidade e do tempo tempo;; um mundo supraluminoso ou campo taquiônico, reino da da inseparabilidade inseparabilid ade e da simultaneidade, para além do tempo. Por último, a barreira da luz, participante dos dois mundos simultaneamente. Como deixar de ver aqui uma ligação (como um piscar de olhos) com o primeiro capítulo da Gênese: “No com eço , a terra olhos) era era in form e e vazia e o espirito espirito de Deus pairava sobre as águas... Depois, Depois, D eus disse: disse: “Fiat Fiat lux! (Faça-se a luz!) ”... e esse fo i o pr im ei ro dia. Em seg uida ui da , Ele cr io u o un ive rso, rs o, as estrelas estr elas,, os vegetais, vegetais, os animais e,e, por último, o h om em ”. No No começo, teria havido, havido, portanto, portanto, um mundo supraluminoso supra luminoso de onde emanou a luz e, depois, o mundo que conhecemos.
E Régis Dutheil procurou comparar os testemunhos de pessoas que passaram por uma EMI ao seu "campo taqu iônico”. iônico”. De fato, todas falam do cruzamento de uma barreira de luz e de uma aceleração súbita e vertiginosa da experiência; depois, de de uma sensação de chegar ao coração de um mundo sem espaço nem tempo, gerando nelas a impressão de terem se tornado onipresentes. Essa viagem não n ão seria, portanto, do corpo, mas da consciência, uma experiência noética (relativa à consciência) de algum tipo. Assim, o mundo supraluminoso supral uminoso seria o habitáculo de todas as consciências e, de acordo com o próprio Régis Dutheil, o campo da Consciência pura de onde proviriam e para onde voltariam as consciências individuais, após a morte do corpo. Nesse campo, a ordem e a informação aumentariam sem parar, merecendo, em suma, o qualificativo de inteligência. Mas, vamos com com calm cal m a... a.. . O próprio pesquisador acrescentou: acrescentou: “Sou o primeiro a dizer dizer que meu modelo é provavelmente falso e, de qualquer modo, será superado um dia. Ele é tão-somente um esquema pro visório, d estinado a nos ajudar a faz er avan çar nossas nossas idéias sobre a consciência ". Mas, à parte o lado interessante das muitas histórias sobre o assunto que, aliás, pode ser abordado por outros livros, as EMI possuem um caráter de fato interessante para os místicos e, em especial, para os Rosacruzes. Seu interesse reside principalmente no fato fato de que elas vêm confirmar aquilo aquil o que qu e o estudante aprende gradualmente gradualm ente sob sobre re as fases fases iniciáticas iniciátic as atravessadas pelo adepto adepto na senda da evolução espiritual. As etapas de uma EMI ou NDE “Near Deal Experience” Experience” de fato correspondem muito fielmente às diferentes fases da iniciação. A necessária separação do iniciando em relação aos preconceitos preconceitos do mundo, a fim de ati atingir ngir uma um a nova consciência, consciência, pode ser comparada à separação entre o ser físico e o ser espiritual espiritu al
numa NDE. O acesso ao reino da consciência só pode pode ser obtido obtido através da separação dos elementos mais pesados da existência, ou seja, o corpo físico. A admissão, pela meditação, aos estudos de certos certos mistérios equivale equiva le à passagem passag em no túnel, fronteira entre dois mundos. Nas NDE, outras personagens também assistem o “iniciando” em sua viagem a uma outra dimensão. Da mesma forma, o iniciando nunca está só em sua busca de mais luz. A passagem no túnel pode ser ser comparada também à noite negra da alma, à qual muitos místicos cristãos se referiram. Escuro, o túnel o é forçosamente e, para alguns, até mesmo assustador. Tal como como a gruta do eremita, ele ele é o local onde a alma se se prepara e se despoja despoja gradualmente de suas antigas escórias e impurezas. Nosso mundo parece estar descobrindo as NDE. Os místicos, os iniciados e os sábios de todos os tempos conheceramnas no símbolo e,e, algumas algum as vezes, na experiência direta da consciência; em todos os os casos, em sua carne carn e e em sua alma. a lma. A revelaçã revelaçãoo preside preside,, no iniciando, o acesso acesso a um conhec conheciment imentoo superior. superior. Aqui, os maiores mistérios lhe são revelados. Mas, acaso há mistério maior que o do amor? E esse conhecimento que os experimentadores de NDE percebem no mais profundo de seu coração, tanto que chegam a rejeitar rej eitar os esforços esforços desesperados desesperados dos médicos que tentam trazelos trazel os de volta à vida. “Por qu em e trouxera trouxeram m de volta? ’\ lamentam alguns, “Eu estava estava bem lá em cima, era tão belo ... não preciso de voc ês... deixem-me em paz!" paz!".. Mas há um outro mistério que qu e essa gente percebe, como uma revelação, rev elação, e este é o da da unidade, na qual qua l aqueles que vão mais longe esquecemse esquecemse de si mesmos mesmos por algum tempo, como como numa aura au ra de luz inefável, até chegarem à regeneração e à conversão. conversão. Todos Todos esses termos empregados ao se falar das EMI são conceitos que podem ser assinalados também numa via de
alquimia espiritual. Assim conta uma mulher que deu à luz um de seus filhos através de cesariana: “Foi uma em ergência, numa sala de operação não aquecida; fazia m uito frio, e lem bro- me de ter esperado o sono anestésico com impaciência, pois eu estava sofrendo. De repente, abri os olhos; um sentimento de fe li c id a d e in ex pr im ível ív el m e inva in vadi diu, u, ig u a l ao d e um pássar pás sar o a quem dev olver am a liberdade. Pensei: Pensei: “Esto “Estouu entrando em mimV imV* Eu es ta v a n u m t ú n e l im en so , v a p or o so , c o m u m a a gu d a consciência de m im m esma; estava estava me deslocando à velocidade da luz! (1) e m e dirigia a uma mara vilhosa claridade, da qual m e aproximei aproximei numa felicida de total, total, banhada no am or divino qu e é “conh ecim ento perfeito, alegria pura e amo r pu ro ”. Eu Eu estava estava no mu ndo do espírito, espírito, sem corpo, mas mais viva do nunca. De repente, repente, senti que havia um a discussão a meu respeito, m eu trabalho ainda não estava estava terminado; eu precisava me reintegrar ao meu cor po hum ano. S upliquei em vão q ue m e deixas deixassem sem seguir em frente , mas, mas, com mu ito amor, amor, fu i mandada de volta. Entrei de nov o no meu corp o físico, pelo m eio do meu crânio; aquele corpo me pa re cia ci a m in ú scul sc ul o, eu tin ha d e m e ac os tu m ar a e le ou tra vez, na dor. Depois, sobressaltei-me, ouvi um bebê que chorava. Era o meu filh o; eu tinha de viver por am or a el e”. Essa pessoa acrescentou que depois desse acontecimento ela adquiriu uma aguda intuição e que “algum as coisas se modificaram modificaram do ponto de vist vistaa b iológico”. De fato, várias décadas mais tarde, aos sessenta anos de idade, ela ainda menstruava, o que era incompreensível para p ara os médicos. médicos. Ela atribuía atribu ía isso à sua experiência de um dia numa outra dimensão, como uma pedra misteriosa assinalada em seu caminho.
Finalmente, ao final de uma EMI, há sempre o retorno a um corpo que, apesar de relativamente regenerado, muitas vezes continua doloroso doloroso ou enfermo. enfermo. Em todo caso, de acordo acordo com os próprios experimentadores, a sensação não tem caráter agradável. A reintegração se realiza, na verdade, numa dimensão grosseira, em vista da experiência vivida. Pouco Pouco antes do retorno, retorno, algumas algum as pessoas explicam que qu e viram toda sua vida passar ante sua consciência, como que numa tela de cinema. Ao que parece, com a aproximação da morte, todos nós nos encontraríamos ante essa constante, relatada pelos agonizantes. Uma necessidade da mente de fato impele a pessoa a fazer um último balanço. Isso pode acontecer num piscar de olhos, mas sempre com extraordinária acuidade. Lembranças esquecidas voltam à superfície; a consciência demonstra, então, uma um a aguda agu da percepção. Tudo se passa passa como como se a memória da pessoa, antes de passar a uma outra dimensão, fosse rebobinada, como uma fita cassete, a fim de conservar melhor suas preciosas informações. Sabemos que a alma, depois da morte, faz um balanço de sua vida. Podemos deduzir isso, racionalmente, a partir dos testemunhos das pessoas que vivenciaram uma EMI e dos agonizantes. Na momento de partir, tudo se passa, como pensavam sabiamente os pitagóricos, como no momento do sono. Em sua sabedoria, eles consideravam que não há sono bom se a alma não está em paz. Para eles, essa paz só poderia ser obtida através de um balanço do dia que passou: “Não per p erm m itas it as q u e o d o c e so n o se s e i ns inue in ue s ob teu s olh o lhos, os, an tes d e te res re s examinado cada uma d e tuas ações do dia. Que faltas co m eti? Que Qu e f iz eu ? Qu e deix de ix ei de d e fa z er e q u e d ev er ia te r f e i t o ? C om eça eç a pe la p ri m eira ei ra e p er co r r e toda to da s as tuas tu as aç õe s. Em segu se gu id a, se
descobnres que cometestes alguma falta, falta, repreenda-te; repreenda-te; mas se agistes bem, alegra-te". Na iminência da morte, uma lei psicológica psicológica implica que o indivíduo achase exatamente nessa mesma disposição de espírito.
Mas voltemos à questão do retorno. Toda Toda a dificuldade, dificuld ade, para as pessoas envolvidas, reside na necessidade de traduzir em ações concretas a revelação que receberam em outro plano. Para o observador, um dos meios de saber se uma EMI foi fantasia, realmente vivida, ou se tudo não seria apenas uma fantasia, consiste justamente em observar as transformações do comportamento da pessoa em questão. E inegável que a experiência da dualidade corpoalma ou a da luz e do amor inefáveis não deixa ninguém incólume. Cedo ou tarde, uma alegria de viver contagiosa acaba transparecendo, bem como a vo ntad nt adee de ir ao enco en co ntro nt ro das ou tras tr as p e ss o as ... .. . Um conhecimento obtido pelas vias espirituais, se válido, vai se traduzir trad uzir infalive i nfalivelment lmentee em fatos objetivos, muitas vezes voltados voltados ao serviço voluntário. E a lei do retorno, vivida também pelo iniciado armado do privilégio de uma iniciação simbólica. Vale acresce acre scenta ntarr aq ui um ponto que qu e os esp irit ualist ua list as conhecem bem. Existem EMI de diversas naturezas. Uma vez chegados ao outro plano, alguns algu ns passam o tempo considerando a idéia da morte. A experiência pode adquirir caráter essencialmente simbólico, como no caso do Dr. Simpson, já citado. Há registros, porém, de uma minoria m inoria de EMI de caráter negativo e desagradável. Por se tratar de uma experiência experiê ncia noética (termo emprestado emprestado de Teilhard de Char din), presumese que ela dependa, em primeiro lugar, do estado estado de consciência da pessoa. pessoa. Nessa esfera, percebemos somente aquilo que estamos prontos a perceber. Uma parte da experiência, assim como
ocorre ocorre em muitas m uitas meditações, corresponde a uma projeção dos dos conteúdos da consciência. A exemplo do espírito de um texto do Bardo Thõdol, o Livro dos Mortos tibetano, poderíamos apresentam dizer ao experimentador: “Contempla as visões qu e se apresentam a ti: são são a projeçã o d e teus próprios pensamentos, pensamentos, preco nceito s e fant fa ntas asm m as. as . R ec o n h ec e qu e essas visõ vi sões es vê m d e ti e te lib ertar ert arás ás delas". A natureza natur eza da d a EMI, portanto, será sempre for mulada com termos ligados à cultura e às imagens familiares fam iliares à pessoa. Pode Pode se até apostar que a descorporificação não seja forçosamente uma separação entre o ser espiritual e o ser físico, que o túnel não seja um túnel, que q ue a luz seja algo intraduzível. A intimidade da experiência tornaa incomunicável em sua natureza profunda, ainda q ue os milhares de testemunhos recolhidos recolhidos concordem concordem de maneira surpreendente. Então, como explicar as experiências de NDE e a conscientização de fenômenos extracorporais? 1. Podemos, num primeiro tempo, partir do princípio de que, em seguida a uma comoção, alguma coisa sai do corpo e vai perceber um fenômeno situado em e m outro lugar. Em várias tradições, essa “coisa” é conhecida: denominase corpo psíquico, corpo astral, perispírito, etc. Tratarseia de uma oculta dimensão do ser ser humano, um a emanação da vida que nele circula e que estaria ligada ao seu corpo físico. A essa, somamos as experiências de bilocação, aquelas dos xamãs da América e da Ásia Ásia do Norte No rte ... 2. A exemplo dos cientistas céticos, poderíamos imaginar que, no momento da morte, o cérebro se saturaria de neurotransmissores, um sistema de segurança que, ante a
iminência da morte, morte, permitiria à consciência viver viver um último momento agradável... mas ilusório. Isso é muito interessante, mas não basta para explicar o fato de que pessoas em estado de inconsciência aparente tenham podido perceber cenas que se situavam bem fora dos dos limites limit es de seu corpo e mesmo do local em que se encontravam. encontravam. Sem nunca terem visitado fisicamente os lugares que, após voltarem à consciência, descreveram detalhadamente, essas pessoas relataram eventos que ocorreram à distância. 3. Enfim, a terceira hipótese, que não é forçosamente a mais simples, mas a mais sutil, constitui um ponto intermediário entre as duas precedentes. Admitamos que, no todo da Criação, exista exista uma Grande Consciência Universal que é onipresente, onipresente, onisciente, etc. Não precisaríamos mais invocar nenhuma experiência experiên cia de “saída do corpo”. O verdadeiro fenômeno que qu e interviria, então, seria o de de uma harmonização momentânea entre essa Grande Consciência Universal e a consciência individual da pessoa em situação crítica. Pessoalmente, conheci o caso de de um amigo que, q ue, de repente, vivia essa experiência experiên cia subitamente, subitam ente, enquanto enqua nto estava sentado ou dormindo calmamente. Davalhe a sensação de que tudo o que estava afastado parecia ser percebido como próximo, e o que estava próximo se tornava afastado. Os médicos disseram simplesmente que ele estava com o cérebro cansado, quando provavelmente tratavase de uma experiência psíquica. Se essa hipótese se mostrasse válida em experiências como as de NDE, dois tipos de consciências interagiriam: a Grande Consciência Consc iência Universal Univ ersal e a do cérebro. cérebro. As informações de uma verteriam para as da outra por intermédio in termédio de determinados dete rminados
centros, cuja existência os Rosacruzes conhecem há séculos. Da mesma forma, note que, durante dur ante esses fenômenos, a alma, no sentido de princípio animador e fonte de vida, não sai efetivamente do corpo. Se assim fosse, a morte ocorreria irremediavelmente. Poderíamos, porém, nos perguntar se, no instante da morte, um outro princípio, diferente da consciência da alma, pudesse talvez desenvolver desenvolver uma existência autônoma. Em função de determinadas leis, que a Tradição Rosacruz conhece, aquilo a que chamamos autoconsciência ou personalidade, na qualidade de expressão manifesta e ativa no mundo, é a resultante da relação estabelecida entre a alma — princípio universal —e o corpo. A morte corresponde à separação de ambos. Temos, então, o direito de nos perguntar sobre sobre o devenir da autoconsciência autoconsciênci a quando quan do seu sinônimo, sinônim o, isto é, o relacionamento relacionamen to entre a alm a e o corpo corpo desaparece. Tudo o que qu e sabemos sabem os é que a con scient sci entiza ização ção de um fenômeno extracorporal produzse por ocasião de uma experiência de morte iminente. Mas essa mesma experiência experiên cia já foi vivida igualmente em outras situações. O Padre Pio, por exemplo, já foi visto em dois lugares ao mesmo tempo. A História relata também que os antigos mestres Rosacruzes conseguiam essas mesmas proezas. Durante as guerras, institutos de pesquisas psíquicas de todo o mundo conseguiram colher testemunhos de mães que afirmavam afi rmavam ter visto e ouvido seus filhos lhes falarem, enquanto estes se achavam feridos a centenas e até milhares de quilômetros de distância./ Os xamãs, mas também muitos místicos, como como os iogues da índia, índ ia, dizem d izem poder exercer essa faculdade, sem precisarem sofrer um acidente, um coma ou uma doença. Um dos termos utilizados utiliza dos para designar desig nar o fenômeno é “bilocação”. “bilocação”. Nele, o indivíduo não se contenta apenas em perceber o que se passa a quilômetros
dele; uma parte de seu ser se cristaliza nesse lugar distante e pode até ser observado. Assim, as explicações dadas acima para justificar essas manifestações são apenas hipóteses práticas. A explicação verdadeira talvez seja muito mais complexa, ou requeira uma combinação de todas essas interpretações.
(9aco/zipa/i/uv/u/i/o
Resta uma pergunta: por que as NDE existem hoje? Lembrese, as NDE ou EMI não datam de ontem. É justamente a evolução sem precedente das técnicas médicas que têm produzido todos esses retornos antecipados. O que foi anunciado antigamente está se desenrolando ante nossos olhos. Hoje, é a ciência que preside a evolução evolução da humanidade humanid ade e constitui o novo âmbito de seu desenvolvimento. As manipulações genéticas e a clonagem impõem ao ser humano uma reflexão sobre a ética e sobre sua própria natureza. A informática o obriga a reformular seu lugar no universo produtivo. E a medicina abre para ele as portas da morte; ou, pelo menos, obrigao a se questionar a respeito dela. Seja como como for, pessoas testemunharam e seus testemunhos constituíram a fonte de numerosas pesquisas, que põem em xeque muitas idéias estabelecidas.
Aco A com m panh pa nh ar , eis um termo cujo sentido recente traduz a melhor compaixão que nosso mundo é capaz de demonstrar ante alguém que está morrendo. Tratase do último ato de amor de alguém que, segurando por um tempo a mão de um ser às portas da passagem, só vai soltála quando o outro tiver partido. Gesto gratuito por excelência, porque sem lucro no plano terreno, ele inicia tanto os que partem quanto os que ficam. Acompanhar Acomp anhar é a palavra mais m ais exata, pois o ser de partida está sempre um passo à frente de seu companheiro ou companheira dos dos últimos dias. Gesto Gesto de humildade, ação silenciosa, ele apela à qualidade qualida de de uma presença que, por sua sua natureza, ajuda o agonizante a levar a termo sua transmutação. Nada de discursos; não se trata de convencer do contrário a quem tem medo ou, ao incrédulo, de que existe alguma coisa depois. A importância ou a urgência do momento faz com que as certezas do acompanhante pesem bem pouco ante o inelutável com que se defronta o ser que parte. Assim, o acompanhante precisa se r mais aprender a se calar, para ser mais intensamente no amor e no respeito ao outro.
c/e agorriza/iíej
Mas mudemos de tom e falemos falemos tecnicamente, porque um pouco disto é necessário se queremos que o coração se expresse sem as suas ilusões. Há três ou quatro tipos de acompanhamento. O primeiro, e mais conhecido, é o praticado nas unidades de tratamentos paliativos. É um produto da ciencia, na medida
em que esta está sabendo, cada vez melhor, analisar as condições condições de uma um a enfermidade enfer midade e fixar os os sinais da aproximação do inevitável. O câncer em fase terminal, a aids e outras doenças confrontam a medicina com a sua impotência natural, e é possível dizer se uma pessoa tem ou não chances de sobreviver. Nos casos casos em que a resposta resposta é negativa, convém, então, aux iliá los. los. Enquanto na Idade Média podiase tranqüilam ente falar da morte, depois do século 18 e da era industrial ela foi relegada ao nível dos assuntos que é preferível evitar. Foi apenas há umas quatro quatr o décadas, graças graça s a pessoas como como Elisabeth KüblerRoss, que se passou a ousar encarála. Resta, porém, um longo caminho a ser percorrido. Por ora, e isto já é fato, as unidades de tratamentos paliativos têm por missão oficial acompanhar os seres até o grande portal. A segunda forma de acompanham ento, menos conhecida, foi praticada pratica da no curso de nossa nossa História passada. p assada. Consiste não em esperar a chegada do fim para se pensar no assunto, mas num convite a que se faça um exame regula r egularr do sentido do do fim derradeiro do ser humano. Assim, quando o dia da transição se apresenta, a pessoa já está preparada. O terceiro método de acompanhamento diz respeito a todos todos os ritos, meditações, preces, etc., que ajudam na libertação dessa borboleta que é a alma da pessoa. Se o primeiro método pode p r e- m o rt em , este atuapost-mortem. ser qualificado de pr Há, enfim, um quarto acompanhamento, que está longe de ser inútil: o que é feito pela família fam ília ou por amigos daquele daqu ele que qu e vai morrer ou qu e já está morrendo. Voltemo Voltemoss agora à primeira forma. Elisabeth Elisabeth KüblerRoss KüblerRoss foi foi quem conseguiu, pela primeira vez, formular em termos de
psicologia as fases de consciência q ue a pessoa desenvolve, via de regra, quando fica sabendo ou pressente que está condenada. Que é que normalmente acontece ao descobrirmos descobrirmos que uma pessoa, atingida por uma doença grave, vai nos deixar? Todo mundo se revolta. A família, os amigos e, obviamente e com mais forte razão, o próprio interessado. Mas antes dessa revolta mais ou menos óbvia, há uma reação geral de estupefação e Ele (ou e l a ) . . . mor rer, rer , co c o m o é po ss ív el? el ? Era tão embotamento. " Ele sorridente e tão for te!" “Se ele (ou ela) morrer, morrer, então a morte vai fa z er uma u ma irru ir rupç pção ão em m inha in ha vida, v ida, o qu e é impe im penn sáve sá ve l e sinôn sin ôn im o de desmoronam desmoronam ento de todo um mun do". Essa fase importante chamase de?iegação. A pessoa não admite a possibilidade da morte. A morte parecelhe enorme demais, totalmente em contradição com tudo aquilo que a pessoa foi até então. O inconsciente nega a morte; ele está programado para a vida. Sua inteligência dedutiva recebeu a missão de assegurar, custe o que custar, a sobrevivência do indivíduo. O Dr. Freud pôs em evidência, desde o começo do século 20, a incompatibilidade entre a morte e o inconsciente. Deduziu, Dedu ziu, então, muito precipitadamente, que os sonhos sonhos nos nos quais uma pessoa aflita vê seu próprio cadáver não passam de uma brincadeira do inconsciente, significando, assim, sua negação e sua incompreensão incompre ensão do fenômeno “morte . De fato, fato, todos todos nós acreditamos acreditam os que qu e somos imortais, imort ais, e vivemos como se isso fosse fato evidente. A denegação den egação pode assumi as sumirr formas totalmente to talmente diferentes. Uma pessoa atacada de uma doença incurável repete Mas o que éq ue está está acontecendo comigo, logo incessantemente: “Mas
eu, eu, que Jiunca Jiunca fiqu ei d oente? ”. Uma outra se recusa a ouvir a verdade sob sobre re seu estado. Embora não caiba ca iba a todo mundo tornarse psicólogo encarregado de desenredar situações como como essas, o fato é que ter uma compreensão do que está em vias de acontecer pode ajudar a pessoa a viver esses acontecimentos. A morte morte é para todos, todos, agonizante agoni zante e familiare fami liares, s, uma espécie de iniciação. Cada um sai dela mais ou menos duradouramente transformado. Compreender ou conhecer as diferentes fases dessa iniciação contribui para atenuar suas etapas de crise, e até mesmo triunfar sobre elas. Seria prejudicial deixar totalmente a cargo dos especialistas a questão da morte e do acompanhamento. O conjunto da sociedade deve se sentir implicado ou envolvido, sob pena de estagnar num estágio infantil de desenvolvimento espiritual.
O segundo estágio que sucede a denegação manifestase numa reação de cólera. E o período em que se questiona questio na Deus. "Por que eu e não os outros? Por que justo agora ?... ” A A revolta aumenta e cada um acaba levando sua parte. " Esses Esses m éd ic os que são são incapazes incapazes de m e cura r... ", a família que decididamente não consegue entender nada da gravidade da situação, os padres e todas as crenças inúteis que de nada servem quando se tem de dar o primeiro passo rumo ao desconhecido, esses filhos que tomam uma atitude compassiva e escondem a verda ver dade, de, qu ando an do,, na ma ioria io ria das vezes, vez es, o doente doe nte sabe perfeitamente perfeitamente onde é que ele es tá... tá ... E a recusa. “Não Não,, eu não quero morrer, nem m e fa le m di sso”. ss o”. O próprio Deus pode ser incriminad incri minadoo e uma certa agressividade agress ividade em relação à sociedade dos saudáveis vem na seqüência. Na verdade, cada indivíduo reage nessa hora com com sua psicologia e sua história particular. Alguns não se revoltam, enquanto outros
permanecem definitivamente nesse estágio de recusa crispada que torna os mortos hediondos. Entretanto, a maioria dos seres possui em si os recursos para superar supera r esse estágio. Segundo Segu ndo as próprias próprias palavras de alguns agonizantes, a morte não precisaria ser assim tão terrível. É a recusa que gera a dor para todos (acompanhantes e doente). Enfermeiras conseguiram recolher as ultimas palavras de pessoas que partiram e que se exprimiram no instante do último suspiro. Dizem elas: “É bem como contam: a luz, a música, o amor e tudo o mais. mais. E mara vilhoso! . B. perdeu sua mãe no hospital. Alguns Algu ns anos antes, seu irmão mais velho morrera num acidente. acid ente. Quando Qua ndo a mãe de B. deu o seu último suspiro, uma um a enfermeira estava presente e relatou o que viu acontecer com essa senhora. Nos últimos instantes, a velha senhora estava sentada, sentada , os olhos voltados numa direção específica do quarto quar to onde se achava, como se estivesse vendo vendo alguém. Depois, pronunciou as seguintes palavras: “E você, Luc... (Luc era o nome nome de seu seu primeiro filho, coisa que a enfermeira não sabia) Você veio me buscar, que bom”. Em seguida, o corpo da velha senhora tombou, para não mais se levantar. O Dr. Dr. Osis, psicólogo, intrigado intriga do com essas cenas repetidas repetida s de pessoas que, no momento da passagem, comportamse como se alguém tivesse ido buscálas, tentou saber se tratava se de alucinações, de projeções de desejos mais ou menos conscientes, de alteração da consciência consci ência ou outros sinais devidos a um cérebro deficiente. Sem rodeios, armado de seus testes, seus interrogatórios e sua técnica de psicologo, concluiu que não se trata de nada disso. Por alguns detalhes, ele pôde
descartar a explicação alucinatória. Pelo exemplo, pelo fato de uma alucinação ser sempre o reflexo de um conflito ou um desejo latente, que ela vem então preencher. As visões de personagens, à aproximação apro ximação da morte, não têm nada a ver com com esse tipo de desejo, porque parecem animadas de certa autonomia autonom ia independente inde pendente do visionário. Para ele, tudo se passa passa como se essas pessoas conversassem realmente com uma personalidade person alidade invisível in visível aos olhos dos demais. As As investigações foram realizadas entre pessoas de culturas diferentes. Se é difícil concluir de modo definitivo, de um ponto de vista científico, pela veracidade do fenômeno, o fato é que essa mesma ciência continua incapaz de explicálo. Para nós, parece, parece, contudo, que algumas portas da percepção se abrem no momento da morte. A História Histó ria relata o falecimento de Jacob Boehme, filósofo filósofo do século 17. No meio da noite, Boehme chamou seu filho Tobias e pergunto perg untouu se ele estava ouvindo ouvin do aque aq uela la música músi ca magnífica que enchia a casa. A despeito de seu filho ter respondido respondido negativamente, ele pediulhe pediulh e para abrir todas todas as portas, a fim de poder ouvir melhor os cantos harmoniosos. Terminou dando dand o seu adeus à sua família, fam ília, pronunc p ronunciando iando estas palavras: “E agor agora, a, vou ao p a r a ís o Depois, fechou os olhos para sempre. O terceiro estágio que todo acompanhante (ou simplesmente todo ser de compaixão) deve conhecer corresponde corresponde a uma espécie de negociação. O indivíduo exauriu exa uriu sua cólera e começa a admitir o inevitável. Então, um tipo de jogo inconsciente começa a ser jogado. A pessoa pode, por exemplo, tentar fazer um trato com seu médico. Certa mulher disse que seu filho iria se casar dentro dentro de alguns meses. meses. Então, perguntou
ao seu médico se ele não poderia ajudála a agüentar até lá, graças às suas drogas e remédios. Constatando o desejo e os olhos brilhantes da senhora, o médico aceitou. A ciência fornecialhe os meios e a vontade da paciente parecia forjada em aço. Ela ganharia alguns meses... ao preço do sofrimento. Mas no dia do casamento, lá estava ela, de pé, para abraçar sua nora. Alguns dias depois, foi foi procurar seu médico e agradeceu a ele, mas o jogo recomeçou. Seu segundo filho estava a um passo de se se casar também. Mas a velha senhora, no fim de suas forças, já não tinha tempo de esperar até lá... A conclusão desse acontecimento real é que o ser humano, confrontado com a morte, pode ganhar algum tempo, se quiser. Ele pode jogar por algum tempo uma espécie de pôquer, mas a aposta será paga em termos de sofrimento. De De maneira man eira diferente, dife rente, ele mesmo pode organizar sua partida, depois de pôr tudo em ordem. Uma mulher esquimó sentiu a proximidade de sua morte. morte. Assim, convocou, para determin de terminada ada data, um amigo seu, um padre que ela adorava. No dia fixado, pediu ao seu amigo para que fosse buscar um de seus filhos, de modo a que ele estivesse presente na hora de sua partida. Seus desejos cumpridos, ela morreu em seis horas, depois de ter assistido a uma cerimonia religiosa. Essa mulher queria decididamente rever seu filho antes de partir, o qual ela não via há muitos anos. Um homem doente estava convicto de que, aos olhos de sua esposa, ele era um fracassado e que sua própria morte representaria, para ela, seu último disparate. Nos dois casos, foi preciso que os acompanhantes encontrassem, no primeiro caso, o filho para convidálo a ir ver sua mãe, e, no segundo, segundo , a esposa para exortála a explicar ao seu marido o quanto ela o
amava. Enquanto o desejo do agonizante, muitas vezes inconsciente, não for atendido, atendido, não haverá separação ou, então, depois de uma forte negociação implícita, essa separação poderá ser dolorosa. O papel de qualquer pessoa que queira ajudar consiste em compreender e resolver a situação, o que requer muito tato e não é tão fácil.
papéis (e não o menor) do testamento que a pessoa redigia consistia em ajudar a pôr seus assuntos em ordem e permitir que ela sentisse que seu papel na terra estava cumprido. Podia, então, partir em paz. Pedir a um condenado à morte que expresse expresse seu último desejo, oferecendolhe um último últim o cigarro, é uma cena caricatural que esconde princípios mais profundos. profundos.
A negociação pode pode assumir formas muito sutis. Um doente toma seus remédios escrupulosamente, nos horários determinados, com gestos quase maníacos, como se fosse fosse uma questão de conjurar a sorte através desse ritual. Um outro sente que lhe falta fazer algum a coisa em sua vida ou qu e precisa resolver um conflito familiar. Para partir parti r em paz, o ideal não está nessa ou naquela crença religiosa. O problema é sempre muito mais profundo que uma simples cultura superficial. Já se pôde ver padres, que falaram do Reino de Deus a vida toda, ficarem paralisados de angústia e completamente desarmados no momento de passar para o outro lado do espelho. A experiência cotidiana dos acompanhantes mostra que os que têm o sentimento de terem vivido vivido bem sua vida aqui na terra passam pelo evento mais facilmente e em paz. Tudo se desenrola como se cada pessoa houvesse recebido uma um a missão de vida e como se o sentimento de missão cumprida cumpr ida fosse fosse o melhor passaporte para o além. Ante o umbral ou com uma um a idade avançada, as pessoas em geral tendem a analisar seu passado. Antes da hora, fazem uma espécie de balanço inconsciente. Portanto, é bom, ante o limiar, ajudar aj udar uma um a pessoa convidandoa convidandoa a falar de sua vida e dos atos praticados, praticados, e valorizar valoriz ar suas atividades.
Um velho lenhador não queria morrer. De fato, ele levou seis meses meses para compreender comp reender que o inevitável estava chegando para ele. Na véspera de sua morte, aconteceu uma coisa que mostrou mostrou à sua família que q ue ele a havia finalmente finalm ente admitido. Essa aceitação, com certeza, ajudouo a fazer sua transmutação. O indício foi muito simples: o velho lenhador indicou indico u um nome, o da da pessoa a quem ele el e legara suas madeiras madei ras e os terrenos terrenos que ele explorava, e que ele tanto adorava.
O outro aspecto aspecto do período de negociação consiste em que a pessoa, pessoa, antes de admitir a idéia da passagem, sintase em paz consigo mesma, os outros e o mundo. No século 17, um dos
Outra forma de negociação implica os familiares. Ante o umbral, a pessoa muitas vezes tende a ficar inquieta inquie ta quanto qua nto ao futuro de seus descendentes. Alguns filhos, alias, não hesitam em dizer: “Não quero que v oc ê morra; sem você, não vou saber Sem uma aceitação de fachada por parte da família, o v i v e r ’ . Sem trabalho não é facilitado. Um homem, que perdera sua filha de quinze anos por causa de uma doença incurável, contou que, até o fim, os parentes haviam mantido a menina na ignorância do desenlace fatal de sua doença. Esse pai contou que, até o último momento, sua filha parecia feliz. Nem por um instante, ele considerou que sua filha podia perfeitamente conhecer seu real estado e que ela pudesse ter fingido fingido felicidade para evitar que sua família sofresse. Aqui, não se sabe mais quem negocia com com quem. A mais dramatica situação, difícil de resolver, é aquela em que um filho deficiente vai ser deixado. A paz fica fica difícil de ser ser obtida, obtida, na medida em que o agonizante agoniz ante angustiase com o destino do filho.
Você Você descobre que a negociação negoc iação pode levar a retardar retar dar a data de uma partida. A situação inversa existe igualmente. De fato, num casal, não é raro assistir à partida de um, depois de o outro já ter feito o mesmo alguns meses antes. O livre arbítrio existe igualmente nesse sentido. Como bem disse Jacques Jacque s Brel em sua música mú sica “Os Velhos ”, ”, quando quan do um dos dois dois se vai, o mundo pode se tornar o inferno para o outro, com o sentimento de que não resta mais nada que valha a pena ser feito nesta terra. Outra forma de comportamento que se poderia associar à negociação é aquela em que as forças de vida tentam ficar por cima mais uma vez. Uma mulher m ulher vai, então, então, quererse querers e perfumar, perfumar, se maquiar, se fazer bela e atraente; um homem vai aplicar, uma últim ú ltimaa vez, seus talentos de sedução sobre as as enfermeiras. Aqui Aqu i se pode realmente real mente falar do elo que qu e une un e Eros e Tanatos. As pessoas ao redor às vezes vezes percebem e compreendem o jogo, às vezes não; reminiscência do velho medo de ser devorado pela morte. Foi esse o caso de um jovem pastor, relatado por Louis Vincent Thomas. Diante de uma jovem mulher totalmente cheia de metástases, esse homem de Deus falava lhe, à sangue frio, de imortalidade. Então, ela o interrompeu, para dizerlhe que o amava. Assustado, o pastor fugiu. O quarto estágio corresponde a uma depressão. Passadas a revolta revolta e a negociação, o agonizante agoniz ante sente uma imensa i mensa solidão. E então que todo calor dos que o cercam deve intervir e, em todos todos os casos, é aí que a arte de quem cuida cu ida requer re quer o máximo de delicadeza. A pessoa, sobretudo nos casos de câncer, está em conflito com seu seu próprio corpo. corpo. A imagem que ela el a conserva de si mesma está desvalorizada. Um simples carinho pode contribuir para reconciliála com seu corpo geralmente
emaciado, o qual, com o passar do tempo, tornouse pesado de suportar. Algumas palavras de valorização para quem não se aceita mais podem restituirlhe a confiança. Durante esse período, percebese o quanto o silêncio é valioso. Às vezes, algum as pessoas dizem di zem que gostariam gostar iam de ajudar, mas, segundo elas, não se sentem capazes porque não saberiam encontrar en contrar as palavras certas para expressar o consolo. consolo. Mas quem disse que é preciso preciso falar? Vivemos num a civilização de ação, de ruídos, de agitação. Temos de ser barulhentos barulh entos para nos sentirmos vivos. Não dizer nada representa muito freqüentemente um incômodo. Assim, temos medo do olhar do outro outro não expresso expresso em palavras. No entanto, entanto , em harmonia harm onia consigo mesmo, basta simplesmente que qu e a pessoa se cale, para mais intensamente in tensamente e tornar tudo mais simples. se r mais As relações com aqueles aqu eles que estão chegando cheg ando às portas da morte são são geralmente geralmen te mais despojadas. despo jadas. Muitas Mu itas vezes é só uma questão de dizer: “Estou Estou aqui com vo cê . M M esm o que q ue eu e u não n ão d iga ig a nada, viveremos ju viveremos ju n to s esses mom mo m ento en tos.s. P od em os convers con versar, ar, se v o c ê quise quiser, r, senão, senão, va mos usufruir em s ilêncio a presença um do outro, outro, Aqui, naturalmente, po is é um u m gr a n d e pr az er estar est ar co m v o c ê . .. ” Aqui, é preciso vencer suas próprias angústias e pensar primeiro e sobretudo no outro. O quinto estágio por que passa o agonizante, quan do sua psicologia e seu ambiente ambien te o permitem, corresponde corresponde à aceitação do inevitável. Para alguns deles, a aceitação pode até mesmo tomar a forma da paz interior de quem compreendeu o que está em jogo. Nesse estágio, muitas m uitas vezes acontece de assistir se a uma relativa melhora melho ra no nível da energia da pessoa. pessoa. Trata ✓ se da última comoção de vida. E como se a natureza, em sua
imensa sabedoria, houvesse previsto essa comoção, pois, segundo os próprios médicos, é preciso energia para poder morrer. Algumas vezes, os médicos chegam mesmo a administrar um tonico fortificante para que a pessoa possa partir nas melhores condições. Nem todo mundo consegue perfazer esses cinco estágios. Alguns Algun s permanecem perm anecem centrados no primeiro, primeiro , o da denegação; denegação ; outros chegam até o da negociação. Às vezes, a ordem dos estágios pode ser mudada muda da ou o ciclo pode se repetir. Uma paz p az relativa se instala, mas depois, de repente, ocorre um brusco retorno da raiva. Nada é absolutamente previsível nesse campo, principalmente porque as pessoas à volta interferem fortemente através de sua relação com o agonizante. A própria família enfrenta as cinco passagens, especialmente quando se vê confrontada com seus próprios problemas, no caso de uma longa agonia. As situações conflituosas que opõem o doente aos membros de sua família também têm um papel a desempenha desemp enharem rem sua possível aceitação ou recusa. recusa. Um parente pode se recusar a aceitar a idéia da partida do outro e, assim, complicar compli car as modalidades. modal idades. O agonizante agonizan te sofre ao ver ver os os outros outros sofrendo. O acompanhante, ou simplesmente o amigo, tem uma função a cumprir aq ui, tentando obter obter pelo menos menos uma aceitação de fachada por parte da família. Os problemas de herança não ajudam as coisas e podem contribuir para uma negociação plenamente legítima... Na verdade, há uma multidão de casos casos diferentes, diferentes, cabendo cabendo ao olhar observador perceber e compreender com a sensibilidade do coração. Não pode haver dogmas em matéria de acompanhamento, como, aliás, em nenhuma outra relação humana realmente autêntica.
A essa altura alt ura,, poderíamos poderí amos tentar tent ar responder respond er a pergunta perg unta tantas vezes feita: devese di zer a verdade ao doente? De fato, quem não conhece ou não qu er conhecer o desfecho desfecho lógico de seu estado ficará preso ao estágio da denegação ou ao da raiva. Será que se deve, então, imporlhe a realidade de sua morte próxima ou, ao contrário, como como se fazia antiga mente, ment e, pôrse pôrse no lugar dele e mantelo na ignorancia? ignora ncia? Afinal, como se costuma acreditar, guardar silêncio evitaria ao doente o sofrimento proporcionado pela consciência lúcida do desfecho fatal. Os partidários da verdade sem disfarces se insurgem contra essa atitude que retira toda dignidade ao doente e que sobretudo vetalhe a oportunidade de ter em seus últimos momentos a chance de um desenvolvimento importante em sua personalidade. A lucidez versus um procedimento que se diz misericordioso... qual se deve escolher? A esse dilem di lem a apare ap are nte, nt e, os conci co ncidad dad ãos francese fran cesess já responderam, em forte maioria, que preferem ouvir a verdade, verdade, custe o que custar. Quando interrogados, respondem que preferem saber, a fim de poderem viver esses esses dias claramen cla ramente, te, desenganados. Para eles, tratase de de uma questão de dignidade. dignid ade. Sentirse humano e informado, e não apenas paciente, eis o que exige a maioria das pessoas hoje. Podemos acrescentar Podemos acrescentar que, uma u ma vez atingido determinado grau de certeza quanto ao desfecho de uma doença, manter a pessoa na ignorância pode ser prejudicial pára ela. Afirmar, contra toda expectativa, que: “Você vai sair dessa, os médicos o mesmo mesmo que alimentar alimen tar ainda têm a lguma s cartas cartas na man ga \ é o na pessoa pessoa uma negociação inconsciente in consciente que poderia perdurar. Na verdade, a maioria das pessoas sente por si mesma o que
está acontecendo, as crianças igualmente ou até mais que os adultos. O sentimento de que se vai morrer pode ser intuitivo ou ser revelado através de sonhos. O fato de não se ousar dizer a verdade, de agir “como “como se”, enquanto enqu anto o interessado sabe muito bem o que está havendo, cultiva um erro coletivo. O doente pode, da mesma forma, sofrer com o silêncio reinante, perturbado apenas por olhares que dizem muito. A sua própria própria necessidade de transmutação, eis que ele tem de somar o sentimento de perder toda dignidade, porque os outros sabem aquilo que tentam esconder dele próprio. próprio. Então, todo todo mundo se põe a disfarçar, a começar pelo próprio doente: “Olhem, hoje estou estou bem m elhor ... estou estou muito feli z ”. Ele não quer que ninguém sofra à sua volta. Bando de tolos, quando a urgência da hora exigiria que se ousasse encarála de frente. Frente à frente com a morte, a vida adquire toda sua relevância, toda sua intensidade. Mas será que é preciso, como afirmam os partidários mais firmes, dizer absolutamente a verdade, mesmo que o outro se recuse a ouvila e diga isto em alto e bom tom? Mareei, engenheiro engenh eiro de telecomunicações, foi acometido de um câncer. Ele se arrastou durante meses, violentamente agredido por seu mal. Um dia, seu médico o auscultou e, de repente, disselhe a verdade nua e crua: ele atingira agora a fase terminal da afecção; a ciência não podia fazer mais nada por ele. Dentro de alguns meses, estaria morto. Dois dias depois desse anúncio, a enfermeira de plantão encontrou Mareei em seu leito, morto. morto. A polícia concluiu q ue fora suicídio. Mareei não queria ouvir a verdade. Sua estrutura psicológica provavelmente provavelmente não lhe permitia assumila; assumi la; ele preferiu encurtar sua estada no mundo.
O caso desse engenheiro é raro. Entretanto, sem chegar a cometer o ato irreparável, algum al gumas as pessoas caem em depressão profunda, o que é preferível evitar. Não é bom dizer toda a verdade de uma só vez, em geral basta simplesmente proceder por meio de de sugestões e questionamentos sutis. “E então, c om o fi ca r am seu s pr ob lem le m as de d e saúde, saúde , os o s mé d icos ic os lh l h e explic exp licara ara m tu t u do ? Já p ed iu para pa ra el es lh e d arem ar em o pro p ro gn ó stic st ic o? A lgum lgu m a vez ve z v o c ê já pe ns ou na m o r te ? ... .. . ” Questionar um doente sobre sua atitude face a morte proporcionará, a partir de suas respostas, informações acerca do diálogo que se deve ter com ele sobre seu real estado. Em 80% dos casos, a verdade será amplam ente preferida; em 20%, 20%, será melhor ser prudente e deixar que se desenvolva e amadureça o que tiver de ser. Nesta, como em muitas outras áreas, as posições extremas são sempre perigosas. Está claro, segundo o que afirma a maioria dos interessados, que a preferência pende para o lado da verdade ou, pelo menos, da informação com a máxima transparência possível. Acompanha Acom panharr também não é ir contra as convicções das pessoas, nem mesmo pensar em convencêlas. Consiste simplesmente (e já é muito) em trilhar u ma parte do caminho com eles, dandolhes, se possível, uma qualidade de contato, de calor, até mesmo de cumplicidade. As flores desabrocham graças ao calor do sol, as as almas evoluem graças ao calor de seus semelhantes. A primeira virtude a se desenvolver aqui é a capacidade de ouvi r... sem fazer fazer comentários. comentários. Vale ressaltar re ssaltar aqui aq ui que, que , no quadro quadr o dos trabalhos tr abalhos desen volvidos na Universidade Universid ade Rosacruz Inte rnacional, rnacio nal, associada a esse movimento de espiritualidade profunda que é a Ordem
Rosacruz, AMORC, as cinco fases precedentes correspondem a uma espécie de iniciação. Mvalimu Mval imu Imara Ima ra escreveu: escreveu: " O ato d e morrer é a última última etapa do crescimen to” . Tratase, assim, de lembrar que, diante da morte, morte, defrontamonos também com uma escolha. Podemos, como na Idade Média, considerála uma oportunidade opo rtunidade de coroar uma vida inteira e, desta maneira, darlhe um sentido por meio de um ato consciente do instante vivido. Podemos, ao contrário, sofrer a situação ou até mesmo fugir. Confrontadas com a AIDS e o prazo derradeiro que despontava despontava no horizonte, a lgumas pessoas pessoas conseguiram, em alguns meses, meses, realizar rea lizar um processo processo de de desenvolvimento desenvolvimento interior infinitamente infinitamen te superior a tudo que haviam vivido ao ao longo de todos todos os anos anteriores. a nteriores. Mais precisamente ainda, os cinco estágios, que são compostos de denegação, raiva, negociação, depressão e aceitação, correspondem a um processo de despojamento progressivo da pessoa. A denegação e a raiva, por exemplo, refletem a reação de um ego terreno que não quer deixar de ser. Como meio humano de desenvolvimento e distinção, ele também tem seus reflexos de sobrevivência. Assim como o corpo desenvolve reações de salvaguarda salvag uarda,, o eu, diante dian te da perspectiva de seu desaparecimento ou de sua transmutação provisória, pinoteia. Primeiro, ele age como se fosse eterno, depois se revolta, revolta, negocia e, por fim, se deprecia. O que é válido no plano físico das células tem sua contraparte no campo psicológico. A aceitaç ace itaç ão fin al tradu tra duzz a profun pro funda da compre com preensã ensãoo do indivíduo do fato de que ele não representa somente um ego provisório. O ser humano é um algo mais que muitos agonizantes devem perceber confusamente, mesmo que isto seja incompreensível para o intelecto. É por essa razão que a morte pode representar um tipo de iniciação.
A velha arte da a lquim lqu imia ia mostra bem, em sua linguage ling uagem m singular, esse processo de despojamento e de crescimento contínuo. A obra em negro ou nigredo está associada à morte ou noite saturnina. Nela, a matériaprima matériap rima sofre uma putrefação putrefação e uma calcinação, em preludio a sua transformação em um estado superior. Claro que, neste caso, a matériaprima é a própria alma que, confrontada com seu futuro, vai sofrer uma transmutação transmuta ção sem precedente. Seguramente, Seguram ente, não foi à toa toa que C. G. Jung viu nos símbolos alquímicos uma representação daquilo a que ele chamou process processoo de individuação. O título deste capítulo capít ulo é "Oacompanham ento de agonizantes ’.’. No entanto, poderíamos nos perguntar se intervir nos últimos meses de vida é suficiente. A essa pergunta, a maioria das organizações tradicionais e espirituais já responderam, explicando que q ue a preparação preparaçã o para o bem morrer deve deve começar quando o indivíduo é jovem e saudável. saudável. Nossa civilização positivista excluiu do campo da ação diária toda reflexão sobre a morte. Qualquer um que se dedicasse a uma meditação diá,ria sobre sobre o assunto seria suspeito de ter mente mórbida e malsã. Agimos como se a vida e a morte fossem irreconciliáveis, ao passo que a mínima análise superficial demonstra que uma se nutre da outra, até mesmo que uma tem sua fonte viva na outra. E possível pensar, por exemplo, no desenvolvimento do corpo, fazendose abstração do metabolismo que assiste a contínua troca das células gastas por novas? A menos que se comporte comporte como como uma inteligê int eligência ncia artificia a rtificial,l, estritamente dedutiva e que nunca se pergunta sobre os motivos de seus atos, o ser humano sente necessidade de uma analise
indutiva que o leve às causas e razões primeiras de sua existencia. As perguntas: “Qual é minha o rigem ?” e e “Qualserá meu fim? fim? " fazem fazem parte das interrogações fundamentais sem as quais o ser humano se perde no ativismo e na agitação estéreis. Ao se familiarizar com a idéia de sua morte, ele acha seu lugar dentro do universo imenso. Ele pesa o valor de suas realizações e de seus problemas, dos quais qua is grande gra nde parte resulta de seus estados de consciência. O nascimento e o desen volvimento, associados à morte, podem servir de semente se mente ou de referência, permitindo relativiza re lativizarr tanto as dificuldades como as glórias em meio às quais evoluímos. Mas há mais. mai s. Acostumar se a considerar que cada dia pode ser o último familiariza o eu com a idéia de sua futura viagem. Isso contribui para manter, sem dramatizações, uma reflexão sobre a ontologia, a ciência do ser e seu devenir. Não apenas não se trata mais de um processo mórbido, mas, como explica o professor Louis Vincent Thomas: “E absolutamente correto dizer que se amam os a vida vida mas não amam os a morte, éporq ue não amam os realmente a vida ”. O interesse de uma concentração na morte encerra, na verdade, um paradoxo raramente raramen te reconhecido: isto traz alívio, sabor e alegria verdadeira à vida. Meditando regularmente sobre sobre sua própria morte, o indivíduo se despoja progressivamente dos aspectos mais agressivos do ego. Ele enceta, bem cedo, um process processoo de desapego. desapego. Mircea Mir cea Elíade Elí ade relata que, no xamanismo esquimó, existe um tipo de iniciação pela qual o aprendiz, instruído instruíd o pelo mestre, passa horas e horas em solidão. Depois, deve passar pela experiência da morte e da ressurreição místicas. Ele cai “morto” e permanece inanimado por três dias e três noites, durante os quais é devorado por um enorme urso branco. “Então”, dizlhe o mestre, “o urso devorará toda sua
cam e e o transformar transformaráá num esqueleto, esqueleto, e v oc ê morrerá. morrerá. Mas reaverá reaverá sua carne, despertará despertará e suas vestes vestes voarão a té vo cê ”. O aprendiz xamã penetra assim nos mistérios de sua própria morte e essa tomada de consciência fará dele o intermediário privilegiado entre os homens e as forças forças invisíveis da Criação. Cr iação.
Também em nossos nossos países ocidentais, certa familiari fami liaridad dadee com a morte era aconselhada antigamente. antigam ente. O pregador jesuíta Bourdaloue escreveu, no século 17: “Alguma A lguma vez fizeste s so bre ela, cristãos, não digo toda a reflexão necessária, mas alguma reflexão? reflexão? Agora Agora mesmo, em que vos fa lo da morte, pensais na na m orte ou pensais bem dela? Pensais Pensais nela atentam ente? Pensais Pensais cristãm ente? Pensais Pensais eficazm ente? Mas se não pensais nela, em que pensais? E se não pensais nela presentemen te, quando pensareis ou qu em h averá de pensar po r vós? Feliz Feliz daquele que n ão espera espera para pa ra pe ns ar n ela qu an do não nã o h o u ve r mai m aiss tem p o d e fa z e -l o ; fe li z daqu ele que nela pensa em vida! É assim assim que a morte, ca stigo do peca pe ca do , será para n ós o rem éd io. io . Ela entro ent rouu no n o mun m un do pel p el o pec a do ; mas se a considerarmos co m o os sant santos, os, ela nos far á entrar, entrar, com o eles, eles, pela graça, na eternidade venturosa que desejo para vós ... ” Até agora, abordamos o tema do acompanhamento acompan hamento antes da morte. morte. Esse assunto é habitualmente tratado pela psicologia e pela medicina modernas, eventualmente pela filosofia. Em seguida à morte de uma pessoa, existe igualmente uma possibilidade de acompanhamento ou de ajuda espiritual, es piritual, feito feito pelas civilizações tradicionais e, sob forma intemporal, pelas ordens esotéricas. O objetivo objetivo de determinadas determina das cerimônias cer imônias,, como entre os os dogões da África, é convidar a alm a do morto a se elevar e deixar este mundo. Os cantos, as danças e os ritos criam condições
favoráveis a essa elevação. O ambiente dessas práticas se exprime no efeito que produzem tanto no falecido como nos vivos. vivos. Nesse sentido, elas favorecem o processo processo de luto da fa m ília íli a através através do estabelecimento, estabelecim ento, por algum tempo, de uma relação simbólica (e, em alguns casos, real) entre os dois mundos. No Tibete, para acomp a companhar anhar o processo, processo, o lama lê ao ouvido ouvido do morto o texto do Bardo Thõdol. Quando não é possível fazer a leitura leitu ra na presença do corpo, ele toma o lugar luga r do corpo corpo da pessoa e continua seu trabalho espiritual. No islã, os fiéis lembram ao morto os os principais principa is artigos de sua fé, que ele tem p os t-m t- m or te m . Uma de conhecer para responder a um exame pos Negu N egu s história relata que , na morte do da da Etiópia, seu amigo, o profeta profeta Maomé, fez uma prece pela paz de sua alma. Por causa da distância que separava a Arábia da Etiópia, essa prece foi Ne gus.. Essa repetida durante du rante vários dias após o falecimento do Negus prática de preces e invocações invocações pela paz dos que partem possui caráter quase universal. Antigament Antig amente, e, os cristãos mandavam man davam rezar missas durante duran te quarenta dias e, depois, uma um ano após o falecimento. De fato, na medida em que a alma da pessoa fica presente de três a sete dias nos locais onde viveu, os vivos podem favorecer sua partida graças à sua atitude mental. E óbvio, porém, que uma pessoa totalmente deprimida no momento da morte de um ente próximo fica impossibilitada de ajudálo, mesmo que desejasse fazelo. O sofrimento extremo pode vir da incapacidade de suportar a ausência ou do ceticismo em relação à imortalidade. A pessoa que, no mais íntimo de seu ser, não tem absoluta convicção da imortalidade da alma não pode pretender auxiliar ninguém, num plano em cuja existência existência ela
não acredita. De maneira ligeiramente diferente, a pessoa que sofre sofre pela ausência ausên cia do morto tende a retêlo, em vez de ajudá ajud á lo. Os Os ritos e as atitudes externas exte rnas não fazem nada. nad a. Só a intenção secreta conta. Embora o luto seja uma realidade re alidade inevitável, a melhor atitude poderia ser expressa expressa em poucas palavras, assim: “Vá “Vá para o nd e d eve ir, pe ne tre na luz e na paz, você, que ro mp eu os vínculos com este mun do". Até hoje em algumas regiõ regiões, es, como como era costume costume antigamente, fazse o velório do morto, cujo objetivo, às vezes mal compreendido, consiste em criar em torno da pessoa um ambiente harmonioso e enviarlhe pensamentos de amor e encorajamento. Em todo caso, longe de ser uma prática mórbida, o velório deve servir a esse propósito. Segundo as culturas, cultur as, ele pode ser acompanhado de cantos e salmos, cujos cujos efeitos calmantes sobre as consciências consciências são bem conhecidos. Via de regra, uma vela é mantida acesa por um ou dois dois dias (o tempo que durar du rar o velório). velório). Durante esse esse período, entre alguns camponeses, o costume antigo requer que todos os pêndulos dos relógios da casa sejam parados e os espelhos, cobertos; que um ramo de alecrim seja colocado na sala do velório e uma jarra de água, junto ao leito. Cada um desses sinais altamente significativos foi interpretado de diversas maneiras. As superstições explicam que os espelhos são cobertos para que a alma do morto não fique angustiada por não ver ver sua imagem refletida. O recipiente com água permitiria que a alma s e lave antes de partir. A suspensão do tempo é simbolizada pela parada dos relógios. Um tempo que não tem mais nenhuma razão de ser no além, reino do eterno presente. O espelho coberto representa a transição da autoconsciência para um outro estado. A água
manifesta a idéia da purificação da alma na ocasião da morte, e a vela, sua imortalidade. As flores que também são colocadas na sala mostram o futuro florescimento da alma, sua imortalidade e sua regeneração, ou seu retorno cíclico a este mundo. Seu perfume se espalha no ambiente como a alma em sua onipresença. Seu murchar lembra a impermanencia de todas as coisas neste mundo. Resta, enfim, apresentar uma última forma de acompanhamento, mais místico, místico, que transcende toda toda manifestação externa. Consiste em u tiliz ar o poder criador do do pensamento, de acordo com técnicas de meditação. É também possível emitir forças reconfortantes ao morto. Mas aqui poderíamos fazer a seguinte pergunta: é sempre possível ajudálo desta forma? Se representamos o mundo como uma hierarquia que tem sua fonte no centro do Divino e que forma diversos planos até chegar ao plano terreno, é simples compreender intuitivamente que os antepassados antepassados fiquem simbolicamente em alguma parte parte entre o ser humano e Deus. Se, para eles, o período “crítico” situase nos primeiros dias após a morte, em seguida eles devem passar a uma condição que ultrapassa as limitações terrenas. Ao longo desse primeiro primeir o período, feito de claroescuro, claroesc uro, a família terrena pode contribuir para a elevação elevação dessa alma em devenir, devenir, porque ela está então participando simultaneam ente dos dois mundos. Uma vez passada essa fronteira, podemos considerar que o inferior não pode mais ajudar o superior, ao passo que o contrário poderia acontecer. Disso decorre, naturalmente, que o acompanhamento após a morte só tem razão de ser durante os três ou sete dias que se seguem ao último suspiro.
(9âito âito “Ele (ou ela) partiu para sempre, nã o posso mais me co m un icar . .. Ele (ou e la ) nã o pod nem rir com ele {ou com ela) como antes ... po d e mais me consolar ou preench er em mim uma insati insatisf sfação ação.. Sua pr es en ça d eix ou d e ser, ser, é co m o se to do um m u nd o des d es m or on a sse. ss e..... Procuro minha respiração, respiração, ele (ou ela) deixou deixou com o que um gran de vazio em mim, o vazio do am or insaciado. insaciado. Ele (ou ela) podia ser o am igo (ou a am iga), o pai (ou a mãe), o esposo (ou a esposa), esposa), o fi lh o (ou a filh fi lh a ). O uem ue m q ue r ele e le (ou ela ) foss fo ss e, a cu m pl icid ic id ad e, o laço a fetivo, conscien te ou não, parece rompido p or essa essa partida. partida. Terei Terei de m e habituar à nova situação, situação, reconstruir um mu ndo sem sua presença patente, apesar de que el e (ou ela) form asse boa parte de m eu próprio m und o interior interior.. ”
A esse período de desordem interior, de habituação habitu ação e de readaptação à vida, que tem de continuar apesar de tudo, chamamos luto, do latim luctu, que significa dor ou aflição pela morte de alguém alg uém.. Os povos povos da terra o expressam express am de formas aparentemente muito diferentes, diferentes, até radicalmente radical mente diferentes. Mas, antes de mais nada, num livro decididamente vinculado à espiritualidade, espiritualidade , convém convém explicar uma coisa fundamental. Se consideramos o ser humano segundo sua dupla natureza, exterior e interior, percebemos que o luto é coisa unicamente da primeira. Quem sente uma carência relativa à separação? Quem não pode mais se comunicar? Quem, enfim, está, por sua vez, sujeito suj eito à morte e à transformação? O ser exterior, físico, material, é claro! Limitado às percepções dos cinco sentidos, ele não consegue conceber conceber outras formas de existência. Privado
da direção da dimensão espiritual, a morte representa para ele um desastre irremediável, uma catástrofe cósmica. O desaparecimento desaparecimen to do outro não manifesta apenas o fim de urna relação afetiva, mas apontalhe sua própria partida da terra. E de espantar, então,y que algumas manifestações de sofrimento ,t sejam histéricas? E a não aceitação que gera o sofrimento, a oposição oposição rígida de um eu exterior exclusivamente entregue en tregue a si mesmo. O ser interior, por sua vez, não teme a morte. Evoluindo perpetuamente no coração da luz eterna, ele está sempre em contato com a Realidade Suprema. Nada de ausencia de comunicação para quem está a todo instante em comunhão com todas as criaturas visíveis e invisíveis. Nada de carencia afetiva numa esfera em que o Amor Divino abarca e transcende todo amor das criaturas. Em suma, o problema do luto definitivamente não se aplica aos dominios do eu interior. Disso decorre que o iniciado saberá elevarse sobre o sofrimento do luto, mesmo estando ainda ligado e relativamente sujeito ao processo psicológico do ser físico. Numa formulação totalmente diferente, mas cujas conclusões convergem, o professor professor Sigmund Sigmu nd Freud mostrou que o inconsciente incon sciente desconhece a morte. Nos sonhos, sonhos, ele faz o morto morto aparecer, para pa ra a pessoa em luto, rejuvenesc re juvenescido ido e com “Veja só, e le está b em vivo, roupa de festa, como quem diz: “Ve jo v e m e co c o n te n te . Para m im , o i n co n sc ien ie n te , a m o rt e n ão existe, exis te, os mortos mortos guardam guardam sua eterni eternidade dade em m im ”. Um Um homem disse o seguinte sobre o período posterior à morte de seu pai: “Nos anos seguintes à sua sua m orte, tive m uitos sonhos com meu pai. Ele El e saía d e seu tú m ul o, usan us an do sua s uass rou pa s costu cos tu m eira ei ra s, ch eg a va em casa e eu fica va m uito fe liz de r evê-lo. Ele dizia: dizia: “Ah, com o
tive m ed o!”, o!”, e eu espanava a terra terra qu e havia fica d o sobre seus o m b r o s " . Se comparamos essas informações com as declarações de C. G. Jung, outro grande psicólogo que explicou que o inconsciente é o reino dos mortos, então podemos ter certeza de que o ser interior concebe tão somente a eternidade.
O luto do ser físico fa lar r do Se não se pode realmente fala do luto no que concerne a dimensão espiritual do ser humano, este capítulo não tem, então, nenhuma razão de ser. Isso, se não fosse o fato de ser necessário (até vital, em alguns algun s casos) compreender compreen der o process processoo de luto pelo qual qu al deve passar o homem físico. físico.
Possuímos hoje certa soma de conhecimentos em matéria de psicologia, os quais levam a crer que o luto seja um processo necessário ao equilíbrio da pessoa que sofreu uma perda. A sabedoria popular não usa a expressão “estar de luto (por alguma coisa)”, quando o desejo ou a expectativa de realizar alguma algum a coisa (uma viagem, uma festa, um projeto, projeto, etc.) etc.) morre? Isso bem pode sugerir que o luto consiste em admitir separarse do objeto de seus desejos. Quando uma pessoa pessoa sofre sofre um acidente cujas conseqüências acabam na amputação de um membro (um braço ou uma perna), a prática prova que essa pessoa passa por um período de depressão, nos dias ou meses que se seguem a essa perda. Os médicos médicos falam do necessário trabalho que o luto pela parte amputada demanda. A vítima terá de aprender a viver sem aquela parte de seu corpo e reconstruir uma vida adaptada a essa ausência.
Não se diz que o pai, a irmã, o filho, etc., são os membros de uma família? Se a observação de um periodo de luto é necessário e útil quando da perda de um braço ou de urna perna, então, por analogia, a perda de um parente próximo implica uma um a atitude bastante parecida. parecida. Eis aqui um outro exemplo: os psicólogos psicólogos há muito tempo vêm observando observando o estado estado mental de de mães mães que acabam de de trazer trazer um filho ao mundo. Eles notaram que, ñas semanas ou mesmo nos meses seguintes ao parto, algumas mulheres passam por um periodo depressivo. Aqui também, podemos levantar a hipótese de um trabalho de luto. O feto, feto, que foi valentemente carregado duran te nove meses, representa uma parte do corpo corpo da mãe. Foi ela que o nutriu. Ele extraía sua vida do sangue e da respiração de sua mãe. O nascimento da criança corresponde, para ela, à perda de uma parte física de si mesma, a qual, qua l, no sentido próprio próprio do termo, termo, deixa um vazio. vazi o. Via de regra, o período depressivo não dura muito, mas há alguns casos excepcionais nos quais a mulher, extremamente fragilizada, chega a suicidarse. Na verdade, nesta questão como em muitas outras, o ambiente é fundamental na orientação da natureza da experiência. Temos Temos aqui exemplos de separações físicas comparáveis ao luto que parecem sugerir a necessidade de levarmos em consideração esse processo. Conseqüências negativas, que se seguem à sua não consumação após a morte de alguém próximo, orientam no sentido das mesmas conclusões. Eis um exemplo real: uma mulher mulh er há anos consultava um médico após após outro, outro, porque as glândulas lacrimais não umedeciam mais seus olhos suficientemente. Quando a medicina alopática se provou impotente, ela foi consultar um psicólogo. Graças à análise, o
psicólogo acabou desconfiando da existência de um luto mal resolvido. Um dia, a mulher perdeu seu animal de estimação. Sofreu então, com uma intensidade desproporcional, a perda daquele daque le pequeno companheiro e se pôs pôs a chorar como como uma fonte inesgotável. Surpresa, S urpresa, reencontrou o dom das lágrimas, perdido há tantos anos. O psicólogo conseguiu fazela lembrar que, na ocasião da morte de seu pai, ela tinha reprimido as lágrimas e refreado toda manifestação de luto. O terapeuta estabeleceu, então, um relação de causa e efeito entre a doença e esse luto mal resolvido. Ele viu na reação extrema diante da perda do animal um substituto da perda do pai. pai. Co ncluiu, ncluiu , assim, que a cura da paciente só podia ser alcançada pela resolução do luto pelo pai, transferido para o do animal de estimação. Tratase Tratase aqui aqu i de um exemplo entre milhares que parecem sugerir que o luto representa uma energia psíquica p síquica que é perigoso perigoso negar ou reprimir. Na verdade, numa grande parte da Terra, os povos imaginara imag inaram m ritos cujo objetivo objetivo consistia em facilitar a elevação do morto. Além disso, esses ritos podiam acompanhar o processo de luto dos que ficavam. Segundo Alexandra David Neel, os tibetanos desaconselham desaco nselham os vivos a chorarem os que partiram para o outro plano. Eles explicam que o morto, constatando o sofrimento que sua partida causou nos membros de sua famíl ia, tendem ten dem a ficar em contato com eles, em vez de se libertarem dos vínculos da terra. Nessa mesma cultura, os cadáveres das pessoas do povo eram antigamente abandonados na n a montanha, mon tanha, a fim de que os lobos lobos e os rapaces rapaces os devorassem. Longe de mim a idéia de julgar tais comportamentos. Tratase apenas de salientar que cada cultura definiu seus próprios próprios ritos, ritos, às vezes vezes diametralmente diametra lmente opostos aos de outros povos.
Nos países norteafricanos, por exemplo, é de bom tom que mulheres carpideiras acompanhem o morto até sua última morada terrena. Tratase de mostrar o quanto era importante para a familia e o grupo social aquela aqu ela pessoa que partiu. A cultura cultur a ocidental o cidental pratica o luto há milenios. mil enios. Seria fonte de desequilibrio para a pessoa no outro plano, quer se goste ou não desse costume, agir ag ir como se ela não existisse mais. Nós não somos tibetanos. No entanto, é necessário insistir veementemente veementem ente no fato de que qu e luto e lágrimas lágri mas não são, ipso fa f a c to , sinônimos de sofrimento. O indivíduo indiví duo esclarecido convive com os processos inerentes ao seu ser físico, mas não é prisioneiro deles. Ele não rejeita o processo de transição ✓da alma, que implica o desaparecimento do corpo físico. E a negação que gera a dor. Para usar uma imagem: o ser interior observa de cima as reações do ser exterior, mas não participa nelas forçosamente. forçosamente.
Algun Alg unss ritos de luto lu to e seus significados signif icados No Ocidente, onde a morte representa normalmente o oposto da vida, a pessoa em luto vestese de negro, o que já não acontece na China, por exemplo, onde os habitantes se vestem de de branco. branco. Entre os os judeus ortodoxo ortodoxoss de hoje, a prática consiste em rasgar um a ponta da camisa, ca misa, símbolo do corte corte do vínculo familia fam iliarr que unia uni a o morto morto e os que estão de luto por ele. Essa ação, aliás, tem origem na prática dos hebreus do Antigo Testamento, que rasgavam suas vestes. vestes. Entre os judeus, muitas práticas bem diferentes são utilizadas, como aquela de acender uma vela à cabeceira do leito do morto, durante sete dias. Quando alguém morre, três períodos de luto são
respeitados. O primeiro dura sete dias; o segundo, trinta e um; um ; o terceiro termina após um ano do falecimento. Durante o primeiro período, o praticante judeu não come carne, não bebe vinho, não trabalha e não se diverte. diverte. Ele reconhece reconhece que o Eterno Eterno deu e retomou, e o crente aceita a separação. A comunidade compartilha dessa dor indo à casa da família enlutada, para recitar salmos e consolála. Ao contrário dos ritos cristãos, o caixão nunca entra na sinagoga e os ofícios regulares não são alterados. No momento do enterro, o viúvo ou a viúva recita a prece Kaddish. Na verdade, ela é recitada durante todo o tempo do luto. No dia do aniversário do falecimento, um ofício religioso é realizado no cemitério. Há um determinado número de costumes que, tendo o morto como destinatário, tem por missão ajudar os vivos a realizar sua própria transmutação. Na maioria das culturas, efetuase uma toalete, embora inicialmente fosse apenas uma prática necessária à manutenção da higiene do corpo. Em alguns algun s casos, a toalete é feita feita por pessoas pessoas especializadas especiali zadas nessa função. No islã, é obrigatório banhar o corpo três vezes. O primeiro banho b anho deve ser feito com uma mistura mi stura de água á gua e folhas de bagas; o segundo, com uma mistura de água e cânfora; o terceiro, com água pura. pura . O viúvo ou a viúva pode executar os banhos. Assim, Ali, genro do Profeta Maomé, banhou, ele próprio, sua esposa. Em outras culturas, costumase vestir o cadáver com suas melhores roupas, maquiálo e até mesmo, como na índia, cobri lo de flores. O propósito de todas essas ações consiste em apresentar o morto numa atitude jovial e bela que evoque a imortalidade. Como vimos antes, hoje em dia, nos Estados Unidos, não raras vezes o corpo corpo é embalsamado e igualm ig ualmente ente
maquiado, maqu iado, visando ocultar oc ultar a morte. Mais que isso, não se trata mais de sugerir a imortalida imo rtalidade, de, mas de negar nega r a morte. morte. Em outras partes, os os cantos, cantos, as salmodias e as músicas, quando quan do utilizados, u tilizados, servem tanto tant o para convidar conv idar o morto a se elevar às esferas etéreas quanto para am enizar a tristeza dos dos que ficam. Os psicólogos psicólogos conseguiram consegu iram pôr em evidência o fato fato de que não ver o corpo do morto pode representar, para a família, uma dificuldade dificuldad e em reconhecer a morte. Assim, Assim, crianças que perderam os pais num acidente de avião sofreram as seqüelas psicológicas muitos anos mais tarde. Os corpos dos pais nunca puderam ser encontrados. Para essas crianças, a ausência dos pais era algo irreal e sem vínculo com seu desaparecimento. A morte ficou no campo do fenômeno fenômeno teórico, capaz de ddeixar eixar a porta aberta a todos os fantasmas possíveis. Em alguns casos de catástrofes aéreas ocorridas em países estrangeiros, as autoridades locais chegaram a finan ciar a viagem dos dos parentes para que eles vissem com seus próprios olhos os escombros do avião. Todo Todo esse “ritual” “ritu al” visava ajudar ajud ar o processo processo de luto. Em alguns países, como a índia, o morto é transportado em caixão aberto o u sobre esteira, à vista de todos. Na Idade Média, procediase da mesma m aneira na Europa. Europa. Não raro, cruzavase com uma procissão indo para o cemitério. Ela acompanhava o corpo de uma pessoa, à vista de todos. Em outras palavras, a morte não era ocultada. Todo mundo podia, portanto, entregarse a uma meditação sobre a impermanência imperm anência das coisas, ao cruzar com um daqueles cortejos. Por que é que hoje não se permite que uma criança veja, por exemplo, o corpo de seu avô, quando ela manifesta esse desejo? Muitos testemunhos de adultos falam das frustrações
que sentiram, quando crianças, por terem terem sido impedidas de ver o cadáver. Inversamente, In versamente, outros reclamam re clamam de terem sido obrigados a ver uma coisa que lhes dava medo. Alguns dirão que a experiência pode ser cruel. A esses, respondo que numerosas experiências provam que ocultar a morte não facilita o luto nem a compreensão da criança. Ela pode, inclusive, conservar as seqüelas disso por muitos e muitos anos. Na verdade, na maioria ma ioria dos casos, casos, a criança crianç a sofre sofre silenciosamente silenciosament e quando lhe ocultam a realidade. O silêncio dos adultos a emparedam dentro de seu próprio luto. Para ela, a morte representa uma noção muito mais vaga do que para o adulto. Em conseqüência, é muito difícil para ela separarse do ser amado quando lhe impedem todo contato com o morto. Ao passo passo que, bem preparada p reparada (isto é,é, deixada de fora fora das angústias dos adultos), a visão do morto pode ajudála em seu amadurecimento. Com a condição, claro, de que a deixem escolher ver ou não. Mais uma vez, da atitude do ambiente dependerá, via de regra, a reação da pessoa em questão. A prática mostra, com efeito, que, diante da morte, o ser humano se apoia geralmente na presença da coletividade, que a ajuda a suportar a provação. A outra face dessa moeda é que essa mesma coletividade tem um peso suplementar que pode influenciaros influenciaro s comportamentos comportamentos individuais. Voltemos à questão que stão da visão do corpo. Hoje, Ho je, em que ocultamos a morte nos países ditos ditos “civiliz “civilizados”, ados”, imaginar imag inar um cortejo fúnebre acompanhando um caixão aberto, com o corpo do defunto à vista de todos, seria considerado indecente. Preferimos viver o fenômeno por procuração, nas telas da televisão. Jornalistas, à guisa de sensações fortes, não hesitam em filmar pessoas morrendo, no próprio local dos acidentes. A televisão se deleita com imagens de chacinas. Mas isso isso é uma
apresentação da morte, a um tempo, disfarçada e apelando ao voyeurismo do telespectador. Essa, sim, é uma um a morte muito mu ito “católica”, que pode ser mostrada sem que ninguém levante as verdadeiras questões. Cruzar com um caixão aberto, na esquina de uma rua, eis o que levaria o ser humano às suas autênticas interrogações. Por que a vida, se devo acabar entre quatro pranchas de m adeira? Mas poucas pesso pessoas as querem se questionar ques tionar sobre tais assuntos, numa época em que qu e o ativismo predomina. Preferimos nos deixar entorpecer pela ação desenfreada. desenfreada. A verdadeira preguiça do Ocidente Ocidente manifestas m anifestasee da seguinte m aneira: agir incessantemente do lado de fora, fora, a fim de evitar uma interiorização meditativa sobre o sentido último da vida. Vivemos um período de tabu da morte. A visão crua de um cadáver é considerada obscena (salvo na televisão). No que se refere a esse assunto, preferimos nos comportar como as avestruzes. Até quando, o cortejo banalizado? Assim também, as manifestações manifestações de luto estão estão ficando cada vez mais mai s disc retas reta s e se tornan tor nando do sinônim sinô nim o de tradiçõe trad içõess ultrapassadas. No entanto, antigamente na Europa (e ainda hoje, algumas vezes), mandavase celebrar ce lebrar uma missa no oitavo oitavo dia, no quadragésimo dia e no primeiro aniversário de falecimento da pessoa. Observavase também um período de quarenta dias de luto, durante o qual a família vestiase de preto. O numero quarenta representa um ciclo completo de afastamento, purificação e preparação, antes de se reintegrar à luz. A mulher m ulher muçulmana muçu lmana tem a obrigação obrigação de observar o luto por seu marido até quatro meses e dez dias. Na África negra, durante durant e o período dos dos quarent quar entaa dias, o viúvo ou a viúva era até mesmo proibido de falar. falar. Há um profundo espírito presidindo a essas práticas: observar um período de adaptação à nova situação e mandar um sinal à sociedade circundante a fim de
que ela deixe a pessoa em paz ou então que compartilhe do seu processo. Freqüentemente, porém, o espírito vivificante foi substituído pela letra morta e essas práticas tornaramse ✓ obrigações cujo sentido se perdeu. perdeu . E tão espantoso que nosso nosso século rejeite as manifestações de luto? Em alguns países, como também na França do século 19, 19, as regras a serem respeitadas eram tão estritas que quem encurtasse seu luto tornavase suspeito de falta de respeito. Já quem o prolongasse demais era tido como margina mar ginal,l, mórbido ou mesmo agressivo para com a coletividade. Por sua vez, as mulheres que voltavam a se casar rapidamente eram tachadas de “viúvas alegres”, de pouca virtude. Um exemplo da rigidez de algumas práticas. Um africano, africano, que não ia ao seu país há muitos anos, foi até lá por ocasião do falecimento de seu pai. Para seu grande desespero, não pôde falar com sua mãe nessa época, pois ela tinha de observar a lei do silêncio por um longo tempo. Ele teve de fazer novamente a longa viagem EuropaÁfrica alguns meses mais tarde, para finalmente poder conversar com sua mãe. Segundo sua declaração, a situação fora verdadeira e horrivelmente frustrante. Aí está uma aplicação estúpida estúpid a e dogmática de uma prática cuja nobreza de espírito espírito é inquestionável. Mas será que devemos rejeitar as tradições? Certamente que não, pois elas têm algo a nos ensinar. O luto representa um período em que aquele que fica vai poder interiorizar a presença do morto, a fim de fazelo passar do mundo mun do externo material ao seu mundo interno subconsciente. “Os mortos viv em e têm uma parcela de eternidade em nós". nós". Mas, Mas, para que esse processo possa se realizar, o vivo deve admitir o desaparecimento físico e a sobrevivência, pelo menos, na memória.
Tratase de uma espécie espécie de alquimia alquim ia sutil. A pessoa pessoa que perdeu um pai precisa se tornar seu próprio próprio pai. Em outras palavras, a dimensão paterna deve se exprimir nela mesma. Há um filme excelente que ilustra il ustra esse fenômeno, fenômeno, “A H istón ist ónaa Sem Se m F im ”, que é a história de um menino que perdeu sua mãe e cujo mundo interior psicológico desmorona, devorado pelo nada. Fantasia (o nome desse mundo) só consegue se salvar quando o menino dá o nome de sua mãe à imperatriz, que representa a personagem principal pr incipal.. O filme, baseado num romance, é bem mais rico que isso, i sso, mas, em síntese, o que ele el e descreve, de modo modo bem simbólico, é um u m processo de luto. A criança só consegue conservar seu equilíbrio quando assimila sua própria mãe a uma personagem que representa representa uma dimensão fundamental da psique. Talvez seja muito interessante comparar essa alquimia a determinados ritos mortuários antropofágicos. Entre alguns povos da Nova Guiné, por exemplo, comese o cérebro do morto, com a idéia de assimilar suas características. Na América do Sul, Su l, o povo povo dos arvaques reduz reduz a pó os ossos de seus chefes. Em seguida a essa operação, as mulheres e os guerreiros da tribo fazem uma infusão com o pó e tomam a beberagem, beberagem, guardando assim em suas entranhas aqueles que foram, em vida, o objeto objeto de sua afeição. Para o místico, a idéia de que “os mortos vivem e têm um a p a rc e la d e et er n id a d e em n ó s ” representa uma realidade. Realmente, Realmente , quem pode dizer que nosso campo de consciência se limite às percepções recebidas por nossos cinco sentidos e aos pensamentos elaborados dentro de nosso cérebro, qualificado de superior? A consciência objetiva, objetiva, a psicanálise já demonstrou que representa somente uma pequena parte da nossa consciência real. E teve teve de lutar muito, muit o, no início do século 20, para fazer com que essa idéia revolucionária fosse fosse admitida.
No entanto, há milênios, os místicos foram mais longe ainda. Afirmaram, e continuam afirmando, afirmando, que a consciência consciência humana não passa de uma ínfima parcela de uma consciência infinitamente mais vasta, que interpenetra todos os seres vivos. A consciência objetiva é, na verdade, apenas uma das muitas muita s formas de expressão expressão dessa Consciência. Consci ência. E sua ponta visível e, de algum modo, consciente de si mesma. Ora, esse imenso campo de consciência universal constitui, a um tempo, o local de elaboração do futuro e a memória do passado, fundidos num eterno presente. Em outras palavras, determinados níveis da consciência humana teriam acesso tanto ao passado como ao futuro. A consciência do morto se incorpora a esse campo de consciência mais vasto. Ou seja, os vivos estão a todo instante em contato com os mortos, sem o saberem. Nós acreditamos que somos nós mesmos a todo instante, afetados unicamente pelos eventos do mundo objetivo. Em parte, isso é falso. Um pouco de humildade nos ajuda a perceber que podemos ser afetados por outros níveis de manifestação, cuja existência nem sempre percebemos percebemos claramente. claramente . A consciência do indivíduo está a todo instante se relacionando com a de toda a coletividade viva, mas também com a dos dos que q ue “estão dormindo”. Isso não significa que sejamos marionetes dessas forças, mas simplesmente que elas el as fazem parte dos dos elementos que se apresentam à nossa consciência, assim como toda e qualquer informação objetiva, que podemos ou não levar em consideração. O processo de luto, nesse quadro que acabamos de apresentar, é duplo. Primeiramente, consiste em uma habituação ao desaparecimento do ser físico do morto e dos contatos contatos afetivos afetivos que o uniam unia m ao enlutado. enlutad o. Em segundo lugar, lug ar, a questão é admitir a passagem do morto para um plano de consciência diferente, no qual participam mortos e vivos, ainda
"os mortos têm uma que num plano subliminal. Por conseguinte, "os pa p a rc el a d e et er n id a d e em n ós ”. Os psicólogos, via de regra, ocupamse apenas da primeira parte do luto, em casos de situações patológicas. A segunda parte, até o presente, recebe o acompanhamento e o apoio dos rituais religiosos ou espiritualistas. Devemos admitir que, nos nos dias atuais, mais e mais pessoas negligenciam ou mesmo negam essa segunda fase. Poderia isso explicar o tabu que hoje envolve a morte? Sem o reconhecer, nossa sociedade está sofrendo sofrendo de um luto insatisfeito o luto por por milhões de homens e mulheres mortos nas nas guerras ou de velhice e doenças. Um luto não é resolvido completamente p os t-m t- m or tem te m . Um dos se rejeitamos a idéia de uma existência pos sinais de luto patológico consiste em negar a morte. Não é justamente isso que sonha em fazer nossa sociedade, a ponto de os mais extremistas pensarem em congelar seus corpos na esperança de que a ciência vá ressuscitálos um dia?
Costumase dizer que perder um parente torna o indivíduo adulto. Isso quer dizer que a criança que há dentro de todo homem ou mulhe m ulherr deve procurar em si mesma a força força de viver por seus próprios meios. Ela deve se tornar o pai, a mãe e “toda a santa fam ília”. Nesse Nesse sentido, o primeiro luto por um parente constitui uma espécie de iniciação, na medida em que faz a morte entrar bruscamente bruscam ente no campo da consciência. O evento evento coloca cruelmente o ser humano frente a frente com a realidade que dificilmente ele conseguiria continuar co ntinuar negando. Daí em diante, passa a existir, para o enlutado, um antes e um depois da separação que geralmente não o deixa incólume, mesmo nos casos em que a harmonia tenha prevalecido. Da parte de alguns povos animistas, encontramos práticas complementares em numerosas regiões da terra. Elas conservam uma função de auxiliar no luto. Quando uma pessoa
acaba de morrer, costumase observar uma série de cerimônias bastante codificadas e de preces. Sacrifícios de animais são realizados em honra do morto, em função de seu nível social. Os membros da tribo podem também levarlhe alimentos. Tratase de entrar e ntrar em acordo com ele, através dessas ações, e cair em suas boas graças. No caso de o protocolo protocolo sofrer algum impedimento, esses povos temem que o morto se transforme em demônio, venha assombrar os vivos vivos e lhes traga doenças e até a morte. Tudo isso diz respeito ao primeiro degrau das crenças sobre a sobrevivência da alma e a possível interrelação entre os dois mundos. Contudo, podemos tirar daí um ensinamento mais sutil referente ao processo do luto. Se fica uma controvérsia controvérsia afetiva entre a família e aquele aq uele que parte, essa pendência pode perseguir o vivo por um longo período, gerando remorsos, tristeza e frustrações. Quando alguém tem de partir (e os acompanhantes bem o sabem), existe um interesse recíproco em acertar velhas contas, no sentido positivo. Caso contrário, o morto pode se transformar num demônio psicológico para quem fica. Certa mulher declarou: "Minha Minha descoberta descoberta do principio de reencam ação m e ajudou m uito quando meu filho morreu. Mas Mas eu eu conservo um arrependimento [que a fazia sofrer visivelmente]: que ele tenha partido num momento em que estávamos em conflito”. No momento da partida, é preciso que a família famíl ia honre a memória mem ória do falecido e cumpra as cerimônias honoríficas, a fim de que não subsista nenhum sentimento de ter esquecido alguma coisa. “Só se morre uma vez”, diz o provérbio popular. Razão de sobra para que tudo seja consumado e que se parta em harmonia. Uma única chance é dada para que as coisas sejam feitas corretamente. Senão, a separação acontece como dois velhos amigos que se separam sem dizer o quanto se amam.
Uma outra função dos sinais que qu e cercam o luto consiste em restabelecer a harmonia onde a morte rompe a ordem das coisas. A morte, para o ser físico, marca a ruptura de todos os vínculos e a intrusão intrus ão do relativo caos caos na consciência dos dos vivos. O luto, por seus ritos próprios, tende a reinstalar reins talar pouco a pouco a ordem. Depois do enterro, em geral a família se reúne para uma refeição ritual. O falecimento de uma pessoa tende a cortar o apetite e imobiliza os vivos na própria atitude dos mortos. Pelo alimento, demonstrase que a vida deve continuar e reaver seus direitos. Alimentarse é uma das funções primordiais, que conserva a pessoa em vida e chamaa para a realidade física e cotidiana. cotidian a. Quando Quan do a refeição é feita em conjunto, o indivíduo indiví duo é posto ante seus deveres sociais, reforçando os laços que unem a coletividade confrontada com a morte de um dos seus. No momento da divulgação de um falecimento, a pessoa que recebe a notícia pode passar por diversas fases de conscientização, análogas àquelas pelas quais passa a pessoa pessoa ao saber que está condenada. Primeiramente, todo seu ser se orienta para uma denegação do acontecido: "O quê? Não é pos p os sí v el fu la n o te r m o r r id o !”. Receber a notícia da morte de uma outra pessoa pessoa significa considerar a sua própria. Mas como, como, se todo mundo acha que seu ser físico é imortal! E de espantar, então, que a primeira reação seja tingida de incredulidade? Mas, em seguida, segu ida, podem vir a rejeição e a cólera. Então, Deus e todos os santos da terra serão amaldiçoados, e às vezes até o próprio morto que tão covardemente nos abandonou. E então então que a morte caótica pode assumir toda sua dimensão, caso a rejeição e o sofrimento que a acompanham adquiram uma intensidade insuportável. Em casos extremos, extremos, algumas pessoas pessoas chegaram até mesmo a cair em coma profundo por várias semanas, a fim de esquecer sua dor “cortando os circuitos”.
Não obstante, o papel dos ritos de luto consiste em reconciliar familiares familia res e amigos com a vida, e a experiência experiência demonstra que o falecimento de uma pessoa pode até ajudar os que ficam a obterem certa paz. O estágio seguinte vê a emergência de um tipo de depressão. Os prantos ajudam ajud am então en tão a exprimir exprim ir a emoção e o vazio interior. Mas, como na maioria das depressões, o estado emocional se torna instável e versátil, com mergulhos mergulh os no sofrimento seguidos de relativas calmarías ou mesmo euforias efêmeras. Perda de apetite ou mesmo anorexia pode acompanhar acompanh ar o fenômeno, e o sono se torna de má qualidade. A obsessão pelo morto pode fazer emergirem sonhos; é o inconsciente indicando ao sonhador sua compreensão pessoal da morte. Em alguns casos, a pessoa pode desenvolver um sentimento de culpa: "Porque eu não estava lá na hora em isso aconteceu? Com certeza, eu po d er ia te r a ju d a d o !”. Assim confessou uma mulher, anos "Eu m e culp o po r tê-la deixado depois da morte de sua mãe: "Eu pa rtir rt ir num n um hospi ho spital tal,, tão t ão so z in h a! ”. Na pior hipótese, a seguinte "Por que fo i ele (ou ela) quem idéia pode assaltar o enlutado: "Por par tiu, tiu , po r q u e não nã o eu ? ”. A culpabilidade culpabilidad e pode resultar também de relações ambíguas, baseadas em amor e ódio simultâneos pelo agonizante. O tempo e a verbalização do sofrimento permitem o desapego necessário ao retorno à normalidade norm alidade e à evacuação das energias psíquicas negativas acumuladas. O emprego de pensamentos positivos, apoiados no reconhecimento de suas próprias imperfeições (no caso de se ter tido pensamentos de raiva em relação ao morto), é um recurso que não deve ser ser negligenciado. negligenc iado. Um dos lutos mais difíceis de assumir é, sem dúvida, o da criança falecida. Insuportável, porque a criança representa uma dupla promessa. Primeiro, a de vêla crescer, conversar com
seus pais e realizar a obra que constituirá sua vida. Depois, uma promessa de imortalidade para seus pais. O filho representa em geral uma dádiva que os pais dão ao mundo. Não é incomum, aliás, vêlo seguir as pegadas de seus genitores, genitores, contribuindo assim para uma forma de imortalidade. Quando a progenitura, carne de nossa nossa carne, desaparece... desaparec e... nada mais resta. A frustração é total; o sentimento de injustiça absoluta; o esvaecimento da vida, flagrante. Ao longo de diversas conferências, tive a chance de encontrar várias mulheres que perderam um filho. Nenhuma Ne nhuma me pareceu ter ficado ficado incólume. Ninguém está verdadeiramente preparado para esse tipo de provação, pois num país em paz (No Oriente Médio, em contrapartida, famílias inteiras foram foram dizimadas dizimada s pela guerra) via de regra são os avós que partem primeiro. O falecimento de um descendente representa uma inversão da ordem “normal” das coisas. Quando um ancião abandona o navio para ir nadar nas águas celestes, é sempre possível invocar a fatalidade e a sucessão natural dos eventos da vida. Aqui, nenhuma fatalidade desponta no horizonte e as pessoas podem, então, revoltarse à vontade. Já que tocamos na questão dos dos anciões, talvez seja útil notar que, em muitos m uitos lugares do globo, as as pessoas pessoas ainda mantêm, na / intimidade do lar, um altar dos ancestrais. E o caso, em especial, do Japão e da China. Os japoneses usam o pequeno altar budista, que abriga os retratos dos últimos falecidos e o livrinho onde está escrito os nomes de todos os ancestrais falecidos. Parentes e amigos vão ali saudar essas almas, para as quais contamse os últimos acontecimentos que envolveram a família. Em alguns restaurantes vietnamitas, pequenos altares com oferendas são dedicados aos ancestrais. Ali se acham também as fotos dos avós.
Essa prática remonta, na verdade, aos antigos arianos, que praticavam o culto dos manes (os manes eram as almas dos ancestrais), ancestra is), cujo sacerdote do do lar era o primogênito da famíli f amília. a. Naquela época, os mortos despertavam medo. Era preciso, então, cativálos. Essa “religião dos ancestrais”, ancestra is”, porém, visava também vincular vinc ular os vivos vivos a uma longa linhagem. linh agem. Assim, graças aos sacerdotes sacerdotes dos dos manes, a família podia se sentir um produto dos dos que haviam partido. Uma gran de cadeia de solidariedade unia então os vivos e os mortos. Não representaria a forma atual de pesquisa genealógica uma necessidade inconsciente de vinculação do indivíduo aos seus ancestrais e, por meio deles, a Deus? Ho je, alguns algu ns velhos álbuns de fotos da família preenchem uma relativa função de “altar dos ancestrais”. Pode ser útil conservar em casa um local consagrado à memória dos ascendentes: isto ajuda no processo do luto. Aqui vão, então, algum as dicas para se construir constr uir esse altar: — Arrume Arrum e uma mesinha mesin ha redonda ou quadra qu adrada, da, com mais ou menos quarenta centímetros de lado (conforme você preferir o símbolo ou a forma do círculo ou do quadrado). — Coloque Colo que sobre ela suas fotos fotos preferidas de seus parentes falecidos. — Coloque Colo que também um castiçal com uma vela, que você acenderá em uma ou mais ocasiões específicas do ano (no Dia dos Mortos, se você é cristão). — Você Você pode aind ai ndaa acresc acr escen entar tar objetos objeto s esp ecia is que pertenceram a eles, flores e símbolos religiosos de sua escolha.
— Você Você poderá se dirigir d irigir a esse local, que foi foi consagrado por sua atitude de respeito, toda vez que sentir necessidade. E você você que dará a esse esse local todo todo seu valor. valor. Nunca deixe ninguém profanálo. Essa prática pode ajudar muito na ocasião de um luto. Não raras vezes, as pessoas vão aos aos cemitérios para par a conversar com a pessoa pessoa ausente (mas fazem isso mesmo?). mesmo? ). Sem o saber saber,, estão aplicando a uma velha prática pr ática milenar, datando datan do da época em que se acreditava que as almas evoluíam embaixo da terra. Mas o cemitério muitas vezes fica numa cidade distante, principalmente no caso caso em que a família tenha se mudado para outro país. O altar dos ancestrais, por sua vez, tem a vantagem de ficar no lar, ao alcance da mão. Sua presença ou sua confecção pode ajudar no trabalho do luto, mas algumas técnicas de visualização criativa podem igualmente contribuir para min imizar imiza r o drama de um falecimento difícil. difícil. Uma pessoa confessou que, depois da morte de seu pai, não parava de pensar nele, até chegar à obsessão. obsessão. Foilhe então aconselhada a imaginar, im aginar, durante dur ante várias noites seguidas, seu pai pai se elevando numa grande luz, e a se despedir dele. Aos poucos, poucos, os pensamentos obsessivos desapareceram, dando lugar às atividades cotidianas. Com toda certeza, o luto de uma pessoa que não crê na sobrevivênci sobrevivênciaa da alma, de qualquer qual quer forma forma que seja, será sempre sempre mais duro de viver. Para ela, a morte significa a ruptura definitiva de uma comunicação e de uma presença. “Nunca mais” tornase, então, sinônimo de vazio insondável e de angústia. angústia . Assim, tudo o que p uder colocála em contato com o cotidiano será vital para ela, tanto que alguns estudiosos
consideraram a instauração de rituais laicos, cujas formas poderiam se basear nas grandes leis da psicologia. Mas, na verdade, para essa pessoa pessoa,, o retorno retorno às contingências da vida é que vai anestesiar o sofrimento. sofrimento. Quanto mais identificamos as pessoas com seu corpo físico e as reações fisicoquímicas de seu cérebro, cérebro, mais completo tornase para nós o seu desaparecimento. Parece que as mulheres atravessam melhor que os homens os processos de luto, porque elas falam mais espontaneamente. O homem também engole mais suas lágrimas, porque em geral, desde a mais tenra infância, ele aprende que homem que é homem não chora. No entanto, hoje sabemos que o riso, a verbalização, verbaliza ção, a raiva e as lágrimas lágrim as são alguns alg uns dos meios de expurgar uma energia psíquica que, que , sem isto, isto, tomaria caráter destrutivo. Então, chore o quanto quiser, escondido ou às claras. A Dra. Elisabeth KüblerRoss, KüblerRoss, para ajudar aju dar a solucionar soluc ionar situações de luto não resolvido, dava uma almofada a cada participante de seus seminários, para que ele descarregasse sua violência no pob pobre re objeto, objeto, socandoo socandoo.. Isso Isso,, no no fim, fim, desembocav desembocavaa nos gritos e nas lágrimas. lágr imas. Uma psicóloga, que cuidava de uma unidade de tratamentos tratamentos paliativos, disse que às vezes tinha a impressão de que qu e se poderia afogar nas lágrimas dos que ficavam. A cascata de lágrimas podia dar a sensação de ser inesgotável, mas, na verdade, segundo ela, havia sempre um fim para as lágrimas aliviadoras. Os que sofrem sem possibilidade momentân m omentânea ea de consolo são os que se recusam a chorar, mesmo sentindo necessidade. O choro representa uma função psicológica de descarga. Seria tão tolo tolo querer quer er passar sem ele quanto q uanto privarse de rir. Isso Isso faz lembrar o famoso debate: “Jesu s ria? ”. Debate Debate que, no caso do pranto, não teria razão de ser, visto que a passagem do Novo
Testamento Testa mento sobre a ressurre ress urreição ição de Lázar Lá zaroo mostra Jesus chorando a sina de seu amigo, que ele vai “ressuscitar” alguns instantes depois. Contrariamente a uma idéia muito difundida, é proibido, no islã, anunciar um falecimento bradando pelas ruas e às portas das mesquitas, e se derramar em lamentações. A propósito, não se deve confundir a cultura árabe com a muçulmana. O próprio Maomé assim se expressou: “A mo r t e sofre gritos gritos e lam entações que o vivo solía solía por causa déla déla [...] A mo rte chorada chorada em voz alta alta recebe um castigo equiva lente”. Numa outra ocasião, acrescentou: “Separo-me d e toda m ulher que solta gr itos it os , ar ranc ra nc a os ca b el o s ou rasga ras ga as ve st es ”. Um pouco de dignidade, que diabo! E preciso que se diga que, na época do profeta, o povo tinha urna forma um tanto escandalosa de manifestar sua dor. Algumas pessoas urravam, rasgavam as roupas, rolavam pela terra e cobriam o rosto com terra ou cinzas. Outras chegavam até a ficar sem comer por um longo tempo, proferindo proferindo queixas dirig idas a Deus.
tronco comum e geral (se bem que não exaustivo) dos costumes imaginados imagina dos pelo ser humano, no curso dos dos milênios. Podemos Podemos facilmente deduzir daí que, se encontramos essas constantes tão amplamente difundidas, d ifundidas, é porque provavelmente provavelmente possuem um sentido. Poderia significar também que elas são úteis a todo homem e a toda mulher no processo de amadurecimento de seu ser, ao se confrontarem com o falecimento de um ente querido. 1. A primeira atitud a titudee de luto consiste consiste em observar um tempo tempo de habituação à ausência do outro outro e ao cultivo de de sua memória. Esse período varia, segundo seg undo os povos, povos, de vinte e quatro quatr o horas a três anos. Alguns casos extremos podem durar toda a vida. 2. Esse tempo algumas algu mas vezes é acompanhado acompanha do da ação que consiste em raspar os cabelos e a barba ou, ao contrário, deixá los crescer, bem como às unhas. 3. Uma roupa especial, preta ou branca, indica à comunidade que a pessoa está de luto; em alguns casos, usamse roupas velhas. Em alguns países orientais, proibiase antigamente antigamen te o uso da seda. Em culturas mais tribais, é costume pintar uma parte do rosto ou do corpo.
No entanto, o muçulmano não é efetivamente proibido de chorar. Quando seu filho morreu, Maomé declarou: “Os “Os olh os vertem lágrimas, lágrimas, o cora ção está pesado, mas nada dizemos que ofenda Deus. Deus. Estamos Estamos muito a flitos com tua perda, Ibrah iml”. E por ocasião da perda de sua neta, respondeu assim aos companheiros que o repreenderam por chorar: “Estas são as lágrimas da compaixão que Deus colocou no coração de seus servidore servidores. s. Deus se comp adece dos que têm compaixão”.
4. Um período de jejum pode ser observado; assim, o vivo vivo se associa, por algum algu m tempo, ao morto, pela suspensão de uma importante atividade vital. Contudo, enormes banquetes podem se seguir a esse jejum ou, na ausência deste, encerrar as solenidades funerárias. funerária s. '
Agora é possível apresentar apres entar uma espécie de síntese dos diferentes ritos de luto qu e podem ser encontrados por todo todo o planeta, com infinitas variantes. O que se segue representa o
5. Cerimônias são realizadas mais ou menos repetidamente, repetidamente, em períodos determinados (após três dias, sete dias, quarenta dias, um ano, etc.).
6. Via de regra, a comunidade participa dos rituais, principalmente principa lmente no caso caso de falecimento de pessoas pessoas importantes, quando toda a coletividade fica de luto. Os enterros católicos antigos contavam com a participação de uma importante personagem eclesiástica. ecl esiástica. Nos países ortodoxo ortodoxoss e árabes, usava se o serviço das carpideiras. 7. Em datas regulares, festas são são dedicadas à comemoração comemoração da memoria dos mortos. mortos. Tratase Tratase aí, de maneira mais ampla, ampla , do culto dos mortos. O nosso “Dia de Todos os Santos”, seguido do “Dia dos Mortos”, representa essa prática. Se, por um lado, a morte se tornou assunto tabu nas sociedades modernas, por outro, outro, nenhuma nenhu ma coletividade consegue esconder totalmente o fenômeno. Sempre haverá um período especial do ano durante o qual o contato entre os dois mundos será tolerado (ainda qu e considerado irracional). Nessa época, aliás, aliás , os anglosaxÕes anglosaxÕes festejam fes tejam o Halloween. Uma bela oportunidade de ver pesso pessoas as fantasiadas de esqueletos perambulando pelas ruas. ruas . Na realidade reali dade,, o “Dia de Todos Todos os os Santos” Santo s” e o Halloween têm origem na festa celta de Samain, de que já falamos. O ano novo dos celtas caía no dia Ia de novembro, e a noite representava um período durante o qual o mundo dos vivos e o dos dos mortos podiam se comunicar. Se a religiosidade rel igiosidade parece estar em baixa na era moderna (82% (82% dos franceses disseramse católicos, em 1989, mas apenas 12% deles disseram ser praticantes), parece que o culto dos mortos conserva um valor inabalável. in abalável. Para se convencer, convencer, basta lembrar os escândalos que se seguiram às diversas profanações de túmulos, em Carpentras e outros lugares. O espírito religioso, que qu e começou provavelmente provave lmente com o culto dos dos mortos, conserva, portanto, portanto, este culto como como um último úl timo baluarte balu arte na era moderna.
8. Outro ponto comum, no que tange o luto, consiste em erigir um monumento concreto em memória do morto. Esse tanto pode ser o túmulo túmu lo como a foto foto colocada no altar alta r budista. 9. E, é claro, há as diversas manifestações do sofrimento, sofrimento, mais ou menos reprimidas segundo as culturas. Os judeus, por exemplo, recusamse a ocultar essas emoções fundamentais, enquanto os tibetanos são mais inclinados a abafálas. Em nove pontos, ficamos diante da grande maioria das práticas relativas ao luto. Sem sombra de dúvida, as variantes são inumeráveis. inumerávei s. Mas com um pouco de perspicácia, é possível possível inserilas quase sistematicamente num desses nove pontos. Também é verdade que qu e algumas algu mas sociedades soci edades suprimem suprime m algum alg um desses aspectos (entre nós, o luto não causa nenhuma reação na pele...), enquanto outras os incrementam. Até a metade do século 20, 20, quando um homem morria na índ ia, sua viúva tinha de se jogar sobre a pira onde o cadáver estava se queimando. A essa essa altura, altu ra, poderíamos poderí amos nos fazer a seguinte segu inte pergunta: pergu nta: se a alma possui o dom da imortalidade, poderia aquele que passou para o outro lado do espelho ajudar os vivos em seu período de luto? H. Spencer Lewis aborda o assunto no livro “As Ma nsões nsõe s da A lma ”. Explica ele que o morto, por alguns dias, permanece perm anece junto ju nto a seu corpo e assiste às cenas do luto da da família. A única coisa que ele pode fazer então é enviar ondas de conforto aos seus entes queridos. Os vivos recebem impressões sob forma de intuições ou de pensamentos, que eles acham que são seus, mas que são inspirados pelo morto. Essas Essas afirmações de um grande iniciado poderiam, talvez, suscitar riso nos livres pensadores. Não é, porém, incomum
encontrar pessoas muito racionais contando que, na ocasião em que perderam um amigo, ao entrarem na sala onde o corpo corpo estava, sentiram ali uma um a poderosa poderosa presença, presença, que eles atribuíram atr ibuíram ao amigo falecido. Viúvos e viúvas também costumam contar que sentiram, por alguns dias, a presença de seu cônjuge junto a eles. C. G. Jung, em sua autobiog rafia, relata sua própria experiência: "Naque "Naquela la noite, não consegu ia dorm ir epensava na mo rte súbit súbitaa d e um am igo que tinha tinha sido enterrado enterrado na véspera ... ... De repente, repente, tiv e o sentimento de que ele estava em m eu quarto. Tive Tive a impressã impressãoo de que ele estava estava ao pé da m inha cama e m e ped p ed ia para pa ra a co m p an há -lo . S eg ui -o e m im ag in aç ão . Ele E le me m e levo le vo u, então, para for a da casa ... a té chegarm os à casa casa dele. Ele me fez entrar em seu escritór escritório. io. Indico u-m e o segundo volu m e de uma série de cinco, encadernad os em vermelho, que se achavam no alto de uma estante em sua biblioteca. Depois disso, a visão se esvaneceu. ” “Esse Esse even to par ece u-m e tão estranho, estranho, que, na manhã seguinte, f u i a té a casa c asa da vi ú va d e m eu a m ig o e pe d i- lh e q u e m e deix d eixasse asse entrar na na biblioteca d ele, para um a averiguação. Realmente, lá estavam, estavam, no alto da estant estante, e, os cinco volum es encadernados em vermelho. Subi no tamborete para ler os títulos. O título do segu nd o v olu m e de Zo la era: "O Voto oto de um a Mo rta”. rta”. O título era mu ito significa tivo em relação ao que se passar passara. a. ”
Claro que qu e para ser totalmente, totalmente, senão imparcial, ao menos menos objetivo, é bom explicar que a ortodoxia, em matéria de psicologia, rejeita toda possibilidade de contato com os mortos. (Esse, aliás, foi o pomo da discórdia entre Jun g e Freud). Para eles, sonho ou sensação de presença de um morto são produtos
da obsessão de uma consciência que exterioriza seus desejos, até a alucinação. A realidade está longe de ser simples nessa área, como em tantas outras. Uma prova? A história relata que qu e uma das canções de Dante Allighieri (autor de “A Di vi n a Comédia”) foi encontrada por seu filho, graças a um sonho. Nele, ele viu seu pai pai indicandolhe indi candolhe um quadro atrás do qual ele próprio havia hav ia escondido es condido o texto, texto, antes de morrer. Arquivos de criminologia também reportam histórias em que o assassino foi apontado por sua vítima durante um sonho ou de uma visão intencional, recebido por um parente.
Luto e simbolismo astrológico O tema da morte expressase na astrologia através de três signos: peixes, câncer e escorpião (todos signos de água). O tema do luto, por sua vez, tem uma relação com os signos de câncer e peixes. peixes. Câncer Cân cer está relacionado ao passado, à história, à ancestralidade. Encerra, portanto, o culto dos ancestrais e a memória. Ocupando a posição mais baixa do Zodíaco, câncer simboliza simboliz a a tumba, tumb a, tão associada ao diálogo diálo go com os os mortos mortos e à interiorização no recolhimento. recolhimento. Domicílio da Lua (seu local de predileção), ele representa a ilusão do luto. Os reflexos da Lua, grandes ilusionistas, iluminam a noite com seus raios enganadores. Da mesma maneira, o luto representa a ilusão de uma consciência objetiva (a Lua) que crê na separação. Ela fica entregue à sua própria ignorância sobre o que a morte realmente significa. A memória memória que acompanha a lembrança também é simbolizada por este signo. Já o signo de peixes, associado à décima dé cima segunda segund a casa do Zodíaco, representa a dor e a provação da separação, quando o luto tarda a se desfazer. Pode também representar o estado
psíquico da pessoa enlutada, instável e emocionalmente fragilizado fragiliza do pelo acontecido. acontecido. As As lágrimas, lágrima s, líquido líqu ido salgado sal gado como como o oceano onde nadam os peixes, fazem parte do simbolismo deste signo.
contato com (9 contato
o j
/t w z I o j
O contato com os mortos é um grande problema que muitas vezes opôs opôs ocultistas e espíritas. espíritas . Os primeiros, seguros de sua ciência, alegam que os segundos, contentandose com fatos desordenados, correm o risco de enganar a si mesmos. Todo mundo conhece, hoje, o aparato espirita: das mesas que giram, giram , intervenção de um médium, psicografia, manifestações de ectoplasmas, aos aparelhos eletrônicos (gravadores, televisores) que fizeram sua aparição mais recentemente, recentemente, em substituição aos médiuns —a —a modernidade obriga obr iga... ...
O fenômeno espírita surgiu no século 19, nos Estados Unidos, em pleno período do vôo vôo do romantismo. Quando Qua ndo o ser humano toma consciência da morte alheia, sente necessidade de estabelecer estabel ecer um contato com ele ou ela, e la, após sua su a partida part ida —daí —daí o espiritismo. De lá, o movimento propagouse por toda Europa, e muitos estudiosos da Sociedade Real da Inglaterra, como também da França e dos Estados Unidos, debruçaramse sobre a questão. Citamos, Cita mos, de memória, Sir Oliver Lodge, o coronel coronel de Rochas, Camille Flammarion, o professor Newbold, William James, um dos dos pais do pragma pra gmatism tismo... o... Se as tentativas de contato com os mortos sempre existiram, o século 19 assistiu ao seu desenvolvimento em grande escala. Hoje, curiosamente, há duas correntes espíritas que, por lógica, deveriam se excluir mutuamente. Uma é adepta da doutrina das reencarnações sucessivas; a outra, não. Poderíamos questionar qual a razão dessa divergência de opiniões, se a informação, afinal, vem realmente dos próprios
mortos. É que, na verdade, a questão não se deixa abordar assim tão facilmente, e presume que se tenha respondido a mais que uma simples pergunta: Podem os mortos realmente falar com os vivos? Qual é o estado estado da alma alm a depois da morte? De qual natureza naturez a a consciência se reveste reveste depois da passagem? Sabemos hoje que 90% das manifestações de espíritos são coisas de charlatães que querem somente abusar do público, por dinheiro. Alguns médiuns médiun s famosos, famosos, como Edouard Kelley e seu parceiro, John Dee, no final do século 16, depois de terem produzido uns tantos fenômenos surpreendentes, foram pegos depois em plena trapaça. E para se ver o quanto o terreno é minado. Entretanto, restam r estam 10% 10% de fenômenos autênticos até hoje inexplicados. Temos, então, o direito de perguntar: em que consistem realmente esses fenômenos? A ques qu estão tão do espi es pirit rit ism o é d elic el icad ad a. A expe ex pe riê nc ia demonstra que, a partir do momento em que se toca nas possibilidades de contato com nossos nossos entes queridos falecidos, as reações adquirem postura passional. passion al. Aí então, a vontade vontade da pessoa vai se contentar mais em fazer perguntas do que em questionar opiniões que, aliás, pertencem mais ao campo do emocional que do racional. Comecemos lembrandonos da aventura de Ulisses, Ulisses, narrada por Homero na "litada’. Na Na passagem da invocação dos dos mortos, mortos, "cabeçass sem fo rça s”. s”. As sombras também parecem ele fala de "cabeça ignorar a peregrinação per egrinação dos vivos vivos.. Assim, a mãe de Ulisses, uma das sombras invocadas, fica feliz ao saber que seu filho ainda vive, vive, como como se se esta informação informação não tivesse tivesse chegado chegado até ela antes. Do mesmo modo, testemunhos colhidos de pessoas que afirmam ter feito contatos deixam transparecer que as almas
parecem singular mente ment e voltadas para o passado. passado. Aqui está um relato relato surpreendente, de uma m ulher que afirmava ter tido vários contatos com os mortos: “Jú lia era um a velha amiga de minha mãe, uma amizade de longa data. Não sei dizer como se estabeleceu o contato en tre nós. nós. Não Não creio que tenha sido sido eu, porque nunca pensei nela e não tinha nenhuma curiosidade curiosidade nem interess interesse; e; fo i ela q ue se impôs a m im. Ela Ela estava estava preocupad preocupad a e chorosa; chorosa; pediu-m e para para qu e eu entrasse entrasse em co nta to com sua nora nora (viva) e que fos se recuperar, em seu ja r d im , p e r t o d e u m a ca b a n a , um p a c o t e q u e e la tin ti n h a enterrado, embrulhado em alguma coisa branca. Caixa, dinheiro, dinheiro, jóias, cabana e local, tudo m e fo i bem indicado; eu deveria recupera r essas essas coisas coisas.. Co?no Co?no recup erar essas coisas? Como resolver esse esse prob lem a? “Vá “Vá ao encon tro dos vivos e diga- lhes que sua morta lhes transmite uma m ensagem ; eles vão nr na sua cara e vão tachá-la de louca. Mas é também possível que o atrativo do ganh o os faça irem irem p rocurar nesse local”. Mas Ma s só q u e o p ro b le m a nã o f o i ess e. A m e u ver, ver , m es m o se inventá ssem os aparelhos para conta tar os mortos, isto não daria em nada. nada. Os conhecim entos que os mortos possuem são os que eles tinham ao partir, e param aí, não avançam mais. Para eles, há alguma coisa de estagnação, pois Júlia ignorava que seu terreno tinha sido sido vendido, que pertencia agora a um a outra pes p esso so a e q u e er a im p os sí ve l ir a té lá s em im en sa s co m p lica li ca çõ es . ” Assim, segundo esse testemunho testem unho e muitos outros, tudo indica que os mortos mortos existem em estado estático, no estado de sua última últi ma obsessão. obsessão. Parecem saber apenas do passado, como como se existissem em forma de memória. Para eles, o tempo parece ter parado e os assuntos dos vivos lhes são desconhecidos. Mas tratarseiam realmente de pessoas mortas ou de uma simples vibração planando na atmosfera ambiente?
Veja este outro testemunho, testemu nho, de uma um a pessoa contatada por uma senhora falecida havia alguns anos: “Vi a casa dela, tal com o era antes de sua morte. Eu via via tudo aqu ilo e ela me fa me fa la va ; estava estava preocupada com uns papéis que ela tinha escondido sob o telhad o de um a coche ira, atrás da casa. casa. O curios o nesta história é que a cocheira não existi existiaa mais, um trator tinha tinha sido passado lá lá e tinha nivelado tudo. Isso fo i fei to depois de sua sua m orte; logo, ela ignora va a coisa toda. ” O espírita invoca, na maioria dos casos, a intervenção dos mortos para explicar certas manifestações paranormais. Não é uma conclusão um tanto precipitada, em vista do que outras ciências conseguiram verificar? Aqui vão alguma s pistas para reflexão, reflexão, que podemos podemos indicar indica r ao leitor imparcial e em busca da verdade. Que dizer das casas ditas assombradas, por exemplo? A experiência provou que o pensamento dos seres vivos pode impregnar tanto um lugar, que uma pessoa sensível pode, depois de anos, captar as cenas que se desenrolaram ali. Sabemos também que a emoção humana, em momentos de violências violênc ias intensas inten sas ou de traumatism traum atismos, os, é capaz de “carr “carrega egar” r” uma casa de vibrações desagradáveis, desagradáve is, até mesmo, e sobretudo, inconscientemente. A origem das manifestações de espíritos causadores de ruídos ou “po lterge ist” situase situase quase sempre nas emoções desgovernadas de deficientes mentais. ment ais. Anos depois da morte de uma pessoa, nada impede que as últimas últim as obsessõe obsessõess que ela tinha pouco antes de seu falecimento impregnem por muito tempo o lugar de suas perambulações. Tratase de um fenômeno psíquico que qu e nada tem a ver com com a suposta suposta presença de um morto. O testemunho que se segue pode ser interpretado dessa dessa maneira. man eira.
“Viv “Vivii num a casa dura nte três anos. anos. Muito antes an tes da minha min ha chega da, havia no m eu quarto uma presença. Barulhos nas paredes, armán os habitados, habitados, todo mu ndo fe ndo fe ch a v a as porta po rta s instin inst intiv tivam am ente. en te. Passos d e uma pessoa subindo escadas de m adeira, quando, na verdade, elas eram de cimen to coberto com tecido de tapete. tapete. Deslocamentos de objetos... Cada Cada manifestação manifestação importante importante precedia um acontecimen to ma rcante d e nossa nossa vida. Manifestação mu ito fo rt e antes da nossa nossa mudança, quando estáv am osprocura ndo outra casa. casa. Na Na ocasião ocasião da assinatu assinatura ra do contra to da qu e tínhamos escolhido, tudo cessou. Mais nenhuma presença fo i sentida, sentida, desde a assina assinatur turaa até a mudan ça .
E que dizer da aparição apariçã o de fantasmas (fenômeno bem mais raro do que nossos espectros poderiam nos levar a crer, e percebidos somente por pessoas muito sensíveis psiquicamente)? A alma, por definição, corresponde a um princípio totalmente totalm ente abstrato, que não tem nada nad a a ver com com a matéria. Dessa lei decorre que os ocultistas de várias civilizações civilizações consideraram que deveria deveria existir um mediador sutil entre a alma alm a e o corpo. corpo. Ele permitiria à alma agir e, assim, anim ar seu invólucro materia l, no curso curso de uma vida. Com a morte, esse intermediário, útil unicamente durante a vida material, não teria mais, portanto, nenhuma razão de ser. Sendo um princípio composto, assim como o corpo físico, ele vai pouco a pouco se desagregando, para retornar à matriz de onde saiu. O fantasma, quando percebido (não com os olhos, mas através de um sentido sutil), su til), corresponde, então, simplesmente a uma concha vazia, a cuja existência os cabalistas fazem referência, e que está em vias de decomposição composição (provavelmente mais l enta, aliás, al iás, que a do corpo corpo físico). Isso não tem nada a ver com a alma de um morto. Em todos os casos de intervenção com manifestações materiais (pancadas, aparições), eventualmente poderíamos
pensar tratarse de mortos mortos recentes que ainda conservassem alguns meios de ação na terra. Mas, depois de certo tempo, a alma não volta volta mais à terra; ela rompeu as amarras. O astrônomo Camille Flammarion, que estudou essas manifestações, extraiu delas esta conclusão, entre outras: “A sap ariçõ ese ma nifesta ções são relativamente freqüen tes nas horas horas que se seguem imedia tamen te ao falecim en to. Seu número dim inui à medida que se vai afastando afastando daqu ele mom ento, e atenua-se a cada dia que passa”. passa”. As lend le ndas as popu po pular lares es mu ita s vezes vez es im ag inar in aram am esses fantasmas em fo rm a de de grandes lençóis brancos, arrastando correntes. Tomo de outra pessoa a interpretação tão poética dessas correntes. Elas seriam o símbolo do apego desses fantasmas às vibrações mais baixas da energia psíquica, tão baixas que dizemos que eles estão “presos à terra”. Podemos também questionar o perigo de uma invocação dos mortos. mortos. Afinal, o que é chamado chama do ou contatado? Ao lermos lermos os escritos escritos espíritas, temos de admitir admiti r que, quando qu ando personagens famosos são invocados, seus discursos parecemse mais com uma conversa no balcão do bar da esquina do que com a idéia que fazemos do discurso de tal sumidade. O segundo elemento que conseguimos perceber é que pessoas sob efeito de álcool ou de drogas parecem ter a curiosa capacidade de interagir com a experiência. Relatórios de pesquisas psíquicas fazem pouco caso dos conhecimentos transmitidos através de um médium. Ora, acontece acontece que, na sala, há sempre apenas uma pessoa pessoa que está ao par dos dos fatos fatos relatados, enquanto enq uanto o assim chamado chamad o médium méd ium os ignora. Disso se deduz geralmente a intervenção de um morto, alguém próximo à pessoa em questão. Contudo, no caso de contato através da consciência de um médium, antes
de inferirmos a presença de um morto, poderíamos n o s perguntar se aí não se trataria de um fenômeno fenômeno de telepatia. Enfim, o último tema que dá o que pensar, e que é menos conhecido do grande público, está nas informações transmitidas por pessoas mortas, admitindose que esse contato realmente exista. Nós admitimos o fato de ser possível a uma pessoa viva elevarse até a alma de uma pessoa morta para obter informações informações dela (isto não é a mesma coisa que a teoria espírita, segundo a qual os próprios mortos é que descem até nosso plano terreno). A experiência apresentada por institutos de pesquisas psíquicas prova que os mortos referemse, via de regra, apenas a acontecimentos de seu passado terreno. Curiosamente, eles nada dizem sobre sua experiência no além e nem sobre uma projeção no futuro. Eles parecem mesmo totalmente ignorantes do que se passa na terra, no presente. Veja Veja esse esse um testemunho relatado por Maeterlinck, Maeter linck, no livro "AMorte". O Dr. Hodgson fora um cientista, membro da Sociedade Americana de Estudos Psíquicos. Após sua morte, seus colegas tentaram, tenta ram, é claro, estabelecer estab elecer contato com ele. Ao longo de várias sessões, “ele” respondeu a várias perguntas mais ou menos íntimas, e suas respostas pareciam perfeitamente corretas. De repente, William James, eminente pesquisador, perguntoulhe: — "Hodgso "Hodgson, n, o q ue v oc ê tem a n os dizer sobre a O “contato”, “contato”, então, mostrouse vacilante vacila nte em suas outra vida?" O respostas: — “Não é uma vaga fantasia, m as uma realidad e ” — esposa de Wil William liam James, “você v ive como "Hodgson", insistiu a esposa nós, nós, com o as pessoas?" - “Que fo i qu e ela disse?", disse?", respondeu o espírito, espírito, parecendo não ter compreendido compreendido a pergunta. “Você repetiu William James. “Voc vive com o nós?", nós?", repetiu “Vocês ês a í usam roupas, moram em casas?", casas?", acrescentou sua esposa. — “Sim, casas, sim; mas não roupas. roupas. Não Não,, que ab surdo! Esperem Esperem um p ouco, tenho d e
— “Ele fo i tomar ir ago ra.” —“ —“Mas vo cê vai v olta r? ” —“Sim .” — chamad o Rector, Rector, que interveio fô f ô l e g o ”, disse um outro espírito, chamado de repente. Em suma, nada de muito convincente. Por que tanta ignorância acerca do além? Outras pessoas já conseguiram fazer os mortos falarem sobre o assunto. Mas as respostas parecemse mais com descrições de coisas terrenas que qualquer pessoa viva pode fazer. Disso poderíamos inferir que a experiência no outro plano é mais semelhante semel hante a um son sonoo que a um estado de consciência ativo. Os que estão lá em cima desconhecem o que estão fazendo os daqui de baixo. Enfim, poderíamos considerar que as personalidades desencarnadas deixam de passar por experiências novas e que existem apenas como memória. Maeterlinck, que estudou bem o fenômen fenômenoo espírita, fazia se as seguintes perguntas em relação à natureza surpreendente dos contatos. Por que eles escolhem essa maneira (essa forma de relacionamento) ? Por que se limitam a isso? Por que ficam tão obstinadamente acantonados na estreita faixa de terreno que a memória ocupa, nos confins de dois mundos, e de onde não nos podem chegar senão testemunhos indecisos e suspeitos? Não têm, então, outras saídas nem outros horizontes? Por que ficam tanto tempo vegetando ao nosso redor, redor, em seu pequeno passado, quando, desembaraçados desembaraçados da carne, poderiam vagar livremente nas extensões virgens do espaço e do tempo? Será qu e ainda aind a não sabem que não é entre nós, mas neles mesmos, do outro lado do túmulo, que irão encontrar o sinal qu e nos mostrará que eles sobreviveram? Por que voltam de mãos e palavras vazias? E só isso que se encontra encontra ao se banhar no próprio infinito? Tudo é nulo, sem forma e sem luz do outro lado da nossa última hora? De que serve
morrer se todas todas as mesquinharias mesquinha rias da vida con tinu am... am ... ? Será que realmente vale a pena passar pelos assustadores desfiladeiros que desembocam nos campos eternos, para lembrarmos que nosso tio chamavase Fulano e que Beltrano, nosso primo, sofria de varizes e de um problema estomacal? Poderíamos, então, pensar que os chamados espíritos contatados sejam, na verdade, resíduos da passada experiência desses desses seres, gravados naquilo naqu ilo que q ue os ocultistas de antigamente denominavam “luz astr al ”? ”? A alma, por sua vez, bem poderia poderi a estar muito além e incomunicável por esses meios. Lembrese da lenda que q ue narra o contato contato entre entre Ulisses e Hércules. Hércu les. Ulisses só consegue se encontrar com a sombra sombra de Hércules, enquanto enquan to o verdadeiro Hércules está lá no Olimpo, fora de alcance. Se esse ponto ponto de vista tem algum alg um conteúdo conteúd o de veracidade (e cabe cabe a cada um determinálo), os chamados contatos com os mortos, portanto, parecem ser apenas quimeras. Que pensar, então, daquelas pessoas que usam o sofrimento de lutos mal resolvidos para fazer brilhar, num familiar famil iar pesaroso, pesaroso, a esperança de um contato contato tão fugaz quanto ilusório? Grande parte da incompreensão que existe acerca do contato com os mortos reside na imprecisão do uso dos termos comunicação e comunhão. Esses termos não têm o mesmo sentido. Há entre eles a mesma diferença que existe entre os conceitos de unidade e dualidade. Querer a todo custo ver em certos certos fenômenos a prova da comunicação comu nicação com o outro outro plano eqüivaleria eqüiv aleria a considerar este este último como sendo sendo igual ao plano terreno. Tratase de uma persistência muito sutil das crenças sobrevivencialistas, sobrevivencialistas, segundo as quais a vida no além é igual à vida na terra. terr a. Na N a mesma ordem de coisas, a conscientização conscien tização da própria morte implica, para muitos, que esse eu, que nos é tão caro, tenha de continuar sua existência de modo idêntico
no outro plano. O que está em cima não é igual ao que está em baixo, mas unicamente “como” o que está em baixo. Como poderia ser de outro modo? O termo “comunicação” pertence, na verdade, à terra, ao mundo da dualidade, das relações do eu e do tu. A palavra “comunhão”, por sua vez, implica uma fusão, uma unidade indescritível com o outro outro (ainda (ai nda que, q ue, no retorno, retorno, a experiência possa ser qualificada de “comunicação”). A noção de comunhão casase magnificamente bem com a noção de transição ou de mudança do estado da consciência. Nesses domínios, o tempo e o espaço deixam de existir, como também as noções de separação e de dualidade. A comunhão implica uma elevação, da parte de quem deseja realizála, além do plano das contingências materiais. Tratase de um exercício espiritual. Impossível resistir a citar aqui Ralph M. Lewis, antigo Rosacruzes afirmam que a dirigente supremo da AMORC: "Os Rosacruzes fo r m a d e con c on sc iên iê n cia, ci a, se esta ca tego te go ri a d e fe f e n ô m e n o existe ex iste apó a pó s a morte, morte, é totalm ente diferente de tudo o qu e o ser humano jamais experimentou aqui, enquanto mortal. Eles a declaram inexplicável. inexplicável. E impossível descrever, descrever, co m palavras, um estado de existência existência ao q ual nada po de se com para r na terra. terra. O ser, ser, declaram eles, cont inu a a exist existir ir,, m as sua qualidade, sua natureza, d ifere de toda imagem visível pela c onsciên cia mortal. Isso Isso não quer dizer que o ser perca sua identidade, isto é, que ele se dilua com pletamen te no Unive Univers rsal al,, também denominado o Cósmico. E, E, antes, ante s, um a s en sa ção çã o n ov a d e u ni da de co m toda to da a rea lid ade, ad e, que é, quando muito, uma experiência fug az para o ser human o, e que só a experimenta experimenta aqui em baix baixoo um pequ eno núm ero de mortais*.
(f/i/ i/ú ú /o/oi ( u u iíc u e (f/
do /ne /nedo da /n /nozte Dizer Diz er que a Velha Velha Dama da Foice amedronta constitui quase uma obviedade. Quando sua evocação evocação se torna realista, muitas pessoas, confrontadas diretamente com sua própria morte, sentem necessidade de respirar mais profusamente, profusam ente, como que para provarem a si mesmas que a vida as está animando anima ndo e que tudo nelas está funcionando bem. Como se a própria idéia da morte incitasse incitasse as células a inspirar mais profundamente essa essa vida que circula circu la através delas. Parte do sofrimento sentido na perda de um ente querido tem sua fonte no fato fato de que essa partida part ida nos incita incit a diretamente diretamen te a considerar, mais ou menos conscientemente, a nossa própria m o r t e . N o entanto, a morte, segundo nossos próprios contemporâneos, não provocaria tanto medo assim. O que mais inquieta o ser humano de hoje seria, sobretudo, todo o sofrimento. Graças à mudança de mentalidade e à evolução dos tratamentos analgésicos, logo poderemos erradicar a maior parte do espectro do sofrimento físico, tornado inútil. De fato, por que continuar conti nuar a aceitar aceit ar suportar tormentos atrozes, desde que a dor já tenha sido levada em consideração, como advertência? Entretanto, sofrimento físico ou não, para muitas mui tas pessoas vai continuar existindo o medo de morrer e ir ao encontro ou do nada ou de um outro mundo. Vejamos, então, quais poderiam ser as as causas dessa angústia angústi a e quais qu ais seriam seus antídotos. antídotos.
análise, Bom número de nossos temores poderia, poderia, em última análise, ser imputado imputado em parte àquela inquietude fundamental. Medo de perder o emprego, de fracassar, de falhar, sentimento de solidão, inquietude frente a mudanças, medo do escuro, falta de autoconfiança, etc. Na maioria desses casos, o medo da morte está está à espreita em alguma algu ma parte obscura da consciência. Assim, poderíamos poderí amos tomar o caminho cami nho oposto a essa idéia, idéi a, adiantando que o verdadeiro medo que move muitos dos nossos contemporâneos é, acima de tudo, o de viver. Vida e morte estão indissociavelmente ligadas, inclusive na esfera da inquietude inqu ietude.. Suprim Su primaa essa angústia e você volta a ter ter confiança na vida. O melhor meio de superála consiste, primeiramente, primeir amente, em tomar consciência consciên cia de sua natureza natu reza e de sua fonte. Em outras palavras, em lançar luz sobre ela.
os cristãos ou nas religiões monoteístas que o inferno assume tal importância. O Oriente, tanto taoísta como budista, imaginou imag inou centenas de formas para o inferno, do gelo ao fogo. fogo. Outros povos desenvolveram em sua cultura idéias terríveis sobre o além. Em geral, em todas as concepções, há sempre mil vezes mais motivos para se acabar no fogo eterno do que no jardim das delícias, e a culpa vai de arrasto. Nessas condições, a pessoa essencialmente honesta não consegue considerar que seu futuro seja no paraíso. Conhecendo a si mesma e conhecendo as imperfeições latentes de todos os seres humanos, ela seguramente visualiza uma pequena estada estada no ✓ coração das fornalhas do Hades. E tão espantoso, então, que ela tenha medo da morte?
Um dos primeiros motivos que torna a passagem tão assustadora tem origem no medo do desconhecido. Uma mentalidade geralmente inquieta desenvolve a tendência de projetar toda sorte de fantasmas mais ou menos deliberados no desconhecido. Imaginado como um lugar sombrio, ele se povoa, então, de criaturas informes e, de preferência, ameaçadoras. Teias de aranh a e outros obstáculos impedem o acesso a ele. Se tivesse tido essa atitude medrosa, Cristóvão Colombo com certeza nunca teria tentado fazer sua viagem à índia. índ ia. O vasto oceano representava representava então o desconhecido mais hermético. Pensar no misterioso com angústia acaba sendo o mesmo mesmo que fazer uma aposta audaciosa em sua natureza. A origem de muitas superstições superstições situase quase qu ase sempre nesse tipo de atitude. Veremos, porém, que o desconhecido pode ser encarado de outra maneira.
Elisabeth KüblerRoss relata a história de uma menina sofrendo de câncer e que não “podia” morrer. Procurando solucionar a situação, ela perguntou: “L., há algum a coisa qu e não deix deixaa v ocê partir? Parece Parece que v ocê não consegu e m orrer e eu não consigo im aginar o porquê. Quer me con tar? ”. Com visível alívio, ela m e respondeu: “Sim. Eu não posso m orrer porq ue não poss po ssoo ir par a o c é u ”. Afr a se m e cau c au so u um ch oq ue , e pe r gu n te i- lhe se ela já tinha ouvido alguém dizer alguma coisa coisa parecida . Ela m e resp re sp on de u q u e os pad p ad re s e ou tr os re ligi li gi os os q u e vi eram er am vê-la muitas vezes disseram-lhe que a pessoa pessoa não v ai para o céu quando não ama a Deus sobre todas as coisas. Reunindo suas últimas fo fo rç a s, ela el a se ergu er gu eu , pas sou os brac br ac in h os m ag ro s em vo lta lt a do m eu pesc oço e sussurr sussurrou, ou, co m o q ue para para ser perdoada: “Sab Sabe, e, o que eu am o mais que tudo épapa i e ma mã e”. e”. Depoi Depoiss de uma sólida explicação para restabelecer a verdade, com a ajuda de par ábola áb olas,s, L. m or re u em pa z po u c o tem te m po dep ois" oi s"..
As idéias de inferno ou paraíso levaram muitas pessoas, ao longo dos tempos, a temer o desfecho final. E somente entre
O sentimento de que resta algo a ser feito neste mundo, o sentimento do inacabado, também não facilita em nada a
passagem. Enquanto tudo não está consumado numa vida, em consonância com a própria consciência interior, o sentimento de paz é dificilmente imaginável. A disponibilidade mental é necessária para tornar menos terrível a morte. Pode se, aliás, somar a tudo isso a angústia da separação ligada à perda do contato afetivo com os entes entes queridos. querido s. Um outro tipo de perda tem origem ainda mais profunda, ligada ao sentimento humaníssimo da identidade. O ser humano, produto de uma evolução milenar, tanto do ponto de vista do corpo como da alma, desenvolveu uma auto consciência. Observando o corpo de um morto, os indícios desse “eu sou” parecem ter desaparecido. Bem poucos seres humanos aceitam imaginar o desaparecimento desse eu a que eles tanto se apegam. Raros são os os que poderiam po deriam se contentar, para o futuro, com a imagem de uma fusão num todo coletivo ou universal. O tormento tormento que pode sentir alguém que imagine im agine a morte como um acesso ao nada pode, conseqüentemente, ser considerado concomitante ao medo de perder a identidade. Há, na n a verdade, dois instintos de sobrevivência que recorrem a um medo natural em caso de perigo, a fim de permitir uma fuga ou uma um a ação salvadora. salvador a. O primeiro está associado ao corpo corpo e ao impulso irreprimível, de cada uma de nossas células, para conservar e expandir sua existência. O instinto de sobrevivência física é compartilhado por todos os reinos da natureza, e se exprime diferentemente segundo sua natureza e suas características. Há, ainda, um outro instinto de sobrevivência, ligado à psicologia e relativo à autoconsciência. Assim como a vida das nossas células célu las procura se expandir, expandir , o eu procura constantemente progredir e anexar cada vez mais capacidades a si mesmo. Seu sentimento de existir aumenta, então,
proporcionalmente às consecuções que resultam de seus esforços. esforços. Logo, esse eu vai se recusar a morrer mo rrer e verá o desfecho desfecho final com inquietação. Ele vai se debater até o fim e isto acabará provocando angústia. Depois dessas rápidas pinceladas sobre a angústia diante da morte, nada mais construtivo que considerar os possíveis meios de se precaver contra ela. O primeiro método consiste em encarar de frente a morte e sua angústia. Tomar consciência de um fenômeno é, de certo certo modo, exorcizálo e tirar dele um pouco de sua força desarmonizadora. Tratase de defender a atitude inversa à do mundo moderno que, apesar de algumas mudanças terem ocorrido em algumas alguma s camadas da população, continua a ocultar a morte. Ao mesmo tempo em que se desenvolve o acompanhamento no fim da vida, o Dr. X apresenta uma pílula p ílula antienvelhecimento, antienvelh ecimento, à base de secreçõe secreçõess suprarenais. O velho sonho da ciência em busca a imortalidade está relançado. Sejamos lúcidos e adultos. O ser humano nunca vai vencer a morte por por meios materiais. No máximo, máxi mo, conseguirá consegui rá retardar retarda r seu desfecho. Além do mais, seria isso desejável? Imagine, por um instante, que você fosse presenteado com a imortalidade neste mundo. Todas as manhãs, eternamente, eterna mente, você teria de se levantar e ir trabalhar. Sua possível aposentadoria aposentadoria teria igualmente igual mente uma um a natureza infinita. infinita . Você Você poderia explorar o universo material, mas sendo este limitado, a exploração e o sentimento de novidade chegaria forçosamente ao fim. Reproduzir eternamente os pequenos atos banais do cotidia cot idiano. no..... Seria mesmo tão divertido? Cedo ou tarde, o tédio não acabaria se instalando, instala ndo, transformando em inferno essa vida pela qual o agonizante tantas vezes tem os os mais ardentes desejos? Se, no limitado período de setenta e cinco anos, a maioria das pessoas se acomoda acomoda numa num a mesmice,
como se se comportariam elas se tivessem um infinito de tempo à sua frente? A ciência ciênc ia afirma afirm a que urna única úni ca bactéria, bactéria , sob condições favoráveis, poderia, em oito dias, sintetizar uma massa de matéria viva igual à da terra. A realidade, porém, é que ela sempre se depara com limites. Se o processo não tivesse fim, não haveria mais nenhuma nenhu ma matéria matéri a para produzir células vivas. A vida, portanto, deve deve se se nutrir nutri r da morte. Para Para que a existência se tornasse eterna, seria preciso também que todas as causas de doenças ou de acidentes fossem erradicadas. Estamos longe disso. Por conseguinte, ao invés de considerar a morte como uma horrível fatalidade, a humanidade poderia concebêla como uma lei natural portadora de sentido e propósito, na manutenção do equilíbrio universal. Assim, Assim, ela se reconciliaria com uma parte da natureza. O segundo antídoto do medo age sobre as idéias religiosas ou supersticiosas que circulam a respeito da vida depois da morte. morte. Não há nenhum ne nhum inferno e nenhum paraíso depois da morte. morte. O único lugar luga r onde o ser humano pode experimentar essas condições é na terra. Para imaginar um sofrimento no além, mesmo que de ordem espiritual, teríamos de admitir que a consciência lá é a mesma daqui. Ora, as condições em que nossa consciência evolui, definitivamente, não são semelhantes. Não há mais nem corpo físico nem sistema nervoso cérebro espinal ou autônomo. Como, então, conceber a consciência futura de outro modo que não o desconhecido? Temer o desconhecido é entregarse entregarse prematuramen te a uma idéia negativa, neg ativa, em vez de uma outra. A pr ior i, o desconhecido possui natureza neutra. Ele não é nem positivo nem negativo, justamente por ser desconhecido. Disso decorre que nada nos
impede de abordálo com confiança e serenidade. Por que ter medo do urso escondido em sua toca, sem ter sido atacado por ele? Não é apostar um tanto precipitadamente num a suposta natureza agressiva, quando as próprias crianças fizeram dele seu melhor companheiro? Na verdade, tratase tratase aqui aqu i de operar operar uma verdadeira alquimia alqu imia mental. H á milhares de anos, os seres seres humanos têm oscilado entre a aceitação de superstições que correm a respeito do reino invisível e a rejeição pura e simples, considerandoo como um nada. Quaisqu Q uaisqu er que sejam as opiniões opiniões que os seres seres humanos tenham a seu respeito, elas em nada mudam sua verdadeira natureza. O que pode pode mudar é a atitude mental que temos temos em relação a ele. Nem terror nem fascínio, fascínio, mas nada impede que uma atitude de serenidade tornese um fato no horno duplamente sapiens. E depois, façamos por um instante instan te o papel de advogado de uma visão pessimista: do que é que temos medo, afinal? O nada que se afigura no horizonte do materialismo não seria mais vantajoso do que vidas e vidas de sofrimentos inumeráveis, de nascimentos no sangue, de mortes em espasmos, de preocupações incessantes, de pesares e de fracassos? O medo da morte é um luxo dos que vivem no conforto, conforto, suficientement sufici entementee cegos ou sem compaixão para não verem o sofrimento deste mundo. Buda ensinou que tudo é sofrimento. (Este é, aliás, um dos principais artigos de fé do budismo: a realidade do sofrimento e a possibilidade de seu fim, no nirvana). Só a familiaridade familiarid ade pode nos fazer esquecer esse fato. fato. Mas o budismo, budismo, que ensina a doutrina da vacuidade, não se juntaria ao materialismo? Que diferença há entre determinada concepção da vacuidade e o nada? O materialista não deveria temer a morte, morte, já que ela conduz ao nada.
Mas outros outros métodos métodos contribuem igualmente para diminuir dim inuir o medo da Velha Dama. Poderíamos considerar, como no século 17, que cada dia pode ser o último, cultivando o sentimento de que fazemos o melhor que podemos, em consonancia com nossa consciencia. Elisabeth KüblerRoss, que dedicou sua vida ao acompanhamento de agonizantes, explicou que o tema da morte devia ser abordado desde a infancia, ñas escolas. As crianças são geralmente geralm ente mais maduras do que pensamos. pensamos. A atitude do ser humano frente à própria morte não se decreta do dia para a noite; ela resulta de uma cultura e de uma longa maturação que q ue tem origem na infância. Não é tanto tanto uma prova de morbidez quanto de familiaridade com ela. Ao contrário, tratase de se impregnar da evidência de nossa mortalidade e disto disto tirar resultados em termos de qualid ade de vida. Via de regra, as pessoas pessoas que chegam perto da morte transformam suas concepções da vida. Quem sabe se parte da intolerância não provenha do esquecimento do inelutável desfecho para todos? Por outro lado, quem procura viver de maneira construtiva, com o sentimento constante do dever cumprido, está sempre pronto, sem o saber. Quando sua vida desfila ante sua consciência, ele confia nela e, depois de se despedir de sua família, pode partir em paz. Do mesmo modo, modo, quem orienta sua vida para o próximo dá menos importância à perda de seu ser pessoal. Para terminar, se você você quiser quise r métodos ainda mais m ais radicais, lembrese dos tibetanos. Todos os dias, seus lamas fazem uma meditação sobre a morte e alguns se visualizam na forma de um esqueleto. Um tratado samurai, o “Hagafyirê”, expressase de modo bem marcial:
“Todo Todo dia aguarda a morte, afim de que, quand o a hora chegar, pos sas m or re r em paz. pa z. A desdit des dita, a, qu ando an do vem ve m , n ão é tão tã o m edon ed on ha quan to se cr ê ... Traba Trabalh lha, a, toda manhã, no sentido de acalm ar tua mente, e imagina o mom ento em que talvez talvez p o s s a s s e r dilacerado ou mutilado por flechas, afogado por en ormes ondas ondas,, lançado às chamas, fustigado por um raio, soterrado por um terremoto, caindo num precipício, ou e m qu e estejas estejas mo rrendo doente. Morre em pensam ento, toda manhã, e n unca m ais terás terás med o de morrer. morrer. ”
¿Szev ¿Szeve e ói óictf ctfeu eu/o /o da da a/ma a/ma Seria possível falar da morte sem procurar compreender a natureza da alma? Foi respondendo negativamente a essa pergunta que a idéia deste capítulo se impôs. Difícilmente se conseguiria apreender ap reender o fenômeno fenômeno da separação entre a alma e o corpo, sem se ter definido o que o termo “alma” encerra, de onde vem ela, de quais ingredientes é composta, etc. Quando se começa a pensar no assunto, logo se percebe que a alma não se deixa desvendar facilmente. Os diversos pensadores que já se expressaram expressaram sobre o tema deixaram, deixara m, cada qual, uma doutrina diferente. Os povos e as culturas parecem igualmente ir no sentido de urna patente divisão. De simples, o assunto vai se tornando cada vez mais complexo, à medida dos estudos. A origem de sua diafaneidade artística está no fato fato de o tema da alm a constituir consti tuir uma abstração por excelência. excelência. A alm a não se deixa deix a captura cap turar.r. Sobre ela , comento com entouu um cirurgião: “Nunca encontrei a alma sob a lámina do meu bistu rí’. No entanto, o termo é usado habitualmente por todos, materialistas materia listas e espiritualista espir itualistas, s, com diferentes acepções. acepções. Para os primeiros, ela corresponde a um construto mental que não possui substancia própria, ou, então, eles a isolam no campo da psicologia (que vem âepsyché, um dos termos gregos para “alma”). A psicologia hum ana é o resultado da evolução das faculdades de seu cérebro material, num dado ambiente cultural, social e familiar. Num pequeno tratado sobre a alma, naturalmente só se pode abordar a questão psicológica de forma resumida. No alvorecer
da consciencia humana, o tema certamente não era tão complexo. Os primeiros seres humanos da préhistória descobriram uma dimensão d imensão invisível em seu ser, ser, provavelmente por intermédio de seus sonhos ou observando seu sono. Tomando consciência consciê ncia da morte de seus companheiros, compan heiros, eles imaginaram a sobrevivência de um princípio invisível a que deram o nome de “alma”, “alm a”, pois pois era desse princípio que q ue o corpo, corpo, assim acreditavam eles, extraía sua energia, seu calor e sua consciência. Mas nessa remotíssima época, o ser humano era concebido apenas como uma dualidade, isto é, uma alma invisível que impregnava um corpo físico. Encontramos em Platão essa mesma concepção dualista da natureza humana. Nessa época, a alma era concebida, entre os gregos, como como um alento o u pn eu m a . Depois, esse princípio se tornou gradualme nte mais complexo. complexo. A palavra “alma ” vem do latim anima , que significa “alento’ ou “ar” e que remonta à palavra sánscrita aditi ou ou “ele “ele respira”. O latim distinguía dist inguía um princípio superior masculino, denominado animus , e um princípio feminino, anima ou ou “a alma” alm a” propriamente dita. A palavra animus foi foi mais tarde rivalizada riv alizada por spiritus. Assim, Ass im, de uma um a conc concepçã epçãoo du alist ali staa do ser huma hu mano no,, a civilização passou a uma idéia de trindade: espírito, spiritus; alma, anima; e corpo físico. Os gregos desenvolveram uma compreensão paralela. Pneuma significa significa “alento espiritual” e p sy ch é abrange a noção de espírito. A divina e toda feminina psy abrange a anima , na qual C. G. Jung viu o arquétipo da mãe. Os filósofos gregos desenvolveram, então, noções do ser humano com dois, três e até quatro níveis, como o fez Platão em sua “República” . Com os progressos da análise intelectual, outras concepções nasceram, nascer am, como as de Tomás de Aquino Aquin o ou
as dos escolásticos da Idade Média. Para eles, três divisões compunham o mundo anímico: a alma vegetativa , que comanda as funções de nutrição e reprodução; a alma senciente , que governa os cinco sentidos físicos; e a alma racional , vinculada ao intelecto e às emoções superiores. Os Pais da Igreja, como Orígenes ou Clemente de Alexandria, retomaram, por sua vez, os princípios de Plotino, que dividia d ividia os seres humanos huma nos em três grupos: sensíveis, racionais e inteligíveis. A posição oficial o ficial da Igreja Católic Cat ólicaa de hoje faz da alma alm a o princípio espiritual por excelência, graças ao qual o ser humano tornase imagem de Deus. Acrescenta, Acrescenta, ainda, que ela veicula a vida e a personalidade humana hu mana.. Aqui, o homem é realmente concebido como um todo, e essa unidade é tão profunda que a alma é considerada como tendo a forma do corpo. A originalidade desse dogma está em que essa alma não morre com o corpo, mas voltará a se unir a ele no dia do Julgame Julg amento nto Final Fin al do Cristo C risto ou da ressurreiç ressur reição ão dos corpos. Nessa concepção, reconhecese uma espécie de dualidade entre a matéria e a alma. Não obstante, o ser humano só pode ser concebido concebido como uma unidad u nidad e reencontrada. reenc ontrada. Eis por que a vida da alma depois da morte não pode pode ser imaginada imagina da senão como um sono. Essa Essa é toda a ambigüid ade da posição cristã, que oscila entre uma visão visão saducéia da alma e um a concepção concepção platônica. Na África, dizse que há no ser humano um ou vários princípios espirituais. Na morte de uma pessoa, sua alma ou nia ni a (o duplo) não morre. Ela guarda sua personalidade eternamente, leva uma vida independente independ ente e pode pode transmigrar para qualquer corpo. Consultase o ancestral, através de seu nia, para pedir conselhos.
dy a ou Entre os bambaras , a n i ou ou alma é distinta distint a do dya ou duplo, que é como a sombra da pessoa. A n i viaja viaja durante o sono. Mas há também dois outros princípios: o terê ou caráter — eventualmente maligno —e o wanzo ou mácula, produto de uma espécie de pecado original. Esses princípios circulam no corpo por meio do sangue ou até da saliva. No momento da dy a volta morte, dya volta à água com Deus, enquanto m\ pelo sacerdócio dy a e do chefe da família, família , integrase integras e ao altar da família. Juntos, dya e podem reencarnar num recémnascido. n i podem
Os dogões diferenciam a sombra estúpida da sombra inteligente (o anjo mau e o anjo bom, respectivamente). Alguns povos africanos estimam que todos os seres vivos possuem quatro almas: a clara, a opaca, a invisível e o espírito. Já os iorubas contam apenas três. Na República Democrática do Congo, a parte da alma que permanece em contato com o mundo é a sombra. sombra. Uma Um a outra parte pode perambular: é a luz do olho. Uma terceira parte pode se situar na orelha. Para os quicuius , uma das duas almas retorna aos aos ancestrais, enquanto a outra, símbolo símbolo do espírito espírito da família, reencarna numa criança da comunidade. Na África do Sul, o alento e a carne são distintos. Na índia, existem concepções em sete níveis, e é na tradição cabalística que o Oriente Oriente foi mais longe em termos t ermos de de análise anális e e complexidade. complexidade. Mas tudo isso pode passar uma imagem falsa de uma evolução linear das concepções, no curso da História. Na verdade, verdade, o corpo corpo completo completo das idéias mais elevad elevadas as foi foi elaborado elaborado nas antigas escolas de mistérios da índia e do Egito, há milhares de anos. O restante foi composto pelos comentários de mestres mais ou menos talentosos e mais ou menos ligados à antiga tradição. Os escolásticos da Idade Média inspiraramse em
Aristóteles, que q ue foi foi discípulo de Platão. P latão. Aristóteles postulou que a alma era dotada de três qualidades: a vegetativa, a senciente e a racional. Os Pais da Igreja parafrasearam os neoplatônicos. Os próprios muçulmanos inspiraramse nos filósofos gregos, nos judeus e nos cristãos que os precederam. Os dogões , por sua vez, afirmam que sua origem encontrase no Egito antigo. Platão, no Livro IV da “República ”, ”, apresenta uma grade de leitura da alma em três partes ou domínios. Esses domínios, segundo ele, devem ser relacionados às divisões da sociedade ideal: religião ou filosofia, justiça e economia. Assim, ele distingue na alma o elemento racional, o sensual e o irascível. Ao primeiro, ele associa os aspectos superiores da alma, alma , que levam à pratica da virtude e à busca da beleza e da harmonia em todas as coisas. O domínio da sensualidade é o dos instintos e dos desejos fundamentais, que podem ficar entregues a si mesmos. mesmos. Finalmente Final mente,, o elemento irascível, que corresponde corresponde à justiça e à cólera, auxilia a razão em sua missão de manter os desejos desejos no caminho certo. certo. Se o elemento racional aconselha, é o irascível que leva a rejeitar as tentações dos desejos ilegítimos, no indivíduo e na sociedade. Através dessa aparente mixórdia de doutrinas, d outrinas, é possível, no entanto, encontrar uma constante no tema, mesmo abordado por diferentes povos povos.. Em primeiro pri meiro lugar, a alma pode ser concebida como masculina ou feminina, ativa ou passiva. Os chineses têm uma concepção dupla: s e n , o gênio, e chue, que formam os desejos mais molestos. Esses dois princípios Yin positivo remontam ao Yin positivo e ao Yang negativo. negativo. A alma pode ser ser também intelectual ou instintiva, ativa ou vegetativa. Pode aparecer na forma do pássaro Ab, no Egito, e da sombra. O
princípio superior é o único que se eleva ao céu, enquanto a sombra continua contin ua em contato com a terra. Por extensão, ela pode ser considerada ou perfeita ou em devenir. Os grandes princípios que ela contém são a inteligência, sob forma consciente ou vegetativa, e a vitalidade. Disso podese inferir que a mesma alma pode ser dividida no sentido horizontal (positivonegativo, (positivonegativo, masculinofeminino, direitaesquerda) direitae squerda) e no no sentido vertical (superior, perfeito, sombra e devenir). A sede da alma alm a vegetativa supõese geralmente geral mente estar no fígado ou no sangue (o fígado é o principal princip al local de elaboração do sangue). sangue ). É assim ass im na África do Norte e na Sibéria. Sibé ria. Os povo povoss dessas regiões consideram co nsideram os ossos ossos como o local de circulação circ ulação da alma sutil, cuja sede seria o coração. Algumas vezes, acontece uma inversão de símbolos, mas, via de regra, encontramos a constante consta nte osso, osso, sangue, sang ue, alento a lento e coração como suportes das diversas partes da alma. Entre os maias quichés e e os índios naspaki do do Canadá, a alma sai do corpo pela boca. Igualmente, um ritual importante no Egito antigo era “a abertura da boca”, depois depois da morte. Aristóteles, que se apoiava na experiência, situava a sede da alma no coração, ao passo que seu mestre, Platão, a colocava no cérebro. Ao longo da história, figuras ilustres como Leonardo da Vinci e o filósofo Descartes entregaramse entregaram se à tarefa de determ inar o local da sede da alma. Suas pesquisas sobre o cérebro permitiram aos trabalhos mais modernos modernos estabelecerem suas conclusões. Hoje, tudo indica indic a que qu e o local privilegia priv ilegiado do de contato entre o corpo corpo e a consciência da alma pode ser o cérebro médio ou ou diencéfalo. As glându glâ ndulas las hipófise e epífise, o hipotálamo hipotálam o e o tálamo fazem parte do diencéfalo. Juntos, eles possuem um controle importante sobre o sistema neurovegetativo. Seu papel no controle do estresse, por exemplo, já foi evidenciado. O mesmo
já foi feito no tocante à influência da exposição à luz e seu efeito sobre a pineal (epífise), que atua sobre os ritmos vitais do corpo. A função do tálamo é igualmente importante na consciência e nas reações emocionais do indivíduo. Voltemos à alm a propriam prop riam ente dita. dita . Geralm Ger almente ente ela é associada à sombra, à imagem imag em e ao nome, como, por exemplo, entre os africanos ou os índios da América do Sul, e até entre os delawares. A sombra corresponde à parte da alma passível de evolução. Na China, a lenda dos Imortais explica que estes não têm mais a sombra. Isso indica que, tendo atingido a perfeição, a luz circula livremente através deles, sem ser ocultada. A sombra é, portanto, uma projeção imperfeita do plano divino na terra. Ela corresponde àquilo que deve ser purificado no ser humano. human o. Para C. G. Jung, são esses esses os traços de caráter inferiores reprimidos e que podem se manifestar através dos sonhos. Entre os zelandeses, a alma ou alento denominase waidoua. No momento da morte, a parte mais pura de waidoua elevase elevase às regiões de glória, enquanto enqua nto a parte impura precipitase nas trevas. Simbolicamente, a alma pode ser representada por uma borboleta, um pássaro, uma fita, uma corda ou um espectro. Mas há também uma alma do mundo que se supõe vivificar o universo. E ela que regeria o movimento dos astros. Os Antigos transformaramna no éter. Digase, de passagem, que nossa ciência não conhece a natureza da força de atração que rege o movimento movimento dos dos planetas, apesar de conseguir mensu rála. Prossigamos, agora, apresentando as concepções cabalísticas. Essas idéias baseiamse na frase bíblica: “Deus fe z o homem do húmus da terra, insuflou nele o alento de vida e o
homem ttornou-se ornou-se alma ví vente” . Os hebreus cabalistas representam a alma segundo três princípios, que são: ser humano, m a c h , neschamah, a parte divina ou espiritual do ser que corresponde corresponde ao alento de vida ou dimensão vital, e nephesh , que é a alma viva ou parte parte terrena da humani dade.
Assim, Assi m, “Deus Deus fez o hom em em” ” corresponde a neschamah , “insuflou insuflou nele o alen to” é traduzido por ruach , e o homem tornouse nephesh , a alma vivente. Esses três princípios correspondem, portanto, ao espírito, à alma e ao corpo dos romanos e gregos. Papus (o Dr. Gerard Encausse), no início do século 20, acrescentou que cada um desses componentes, por sua vez, dividese em três partes, todas elas formando um único indivíduo. Assim, a parte corporal do ser humano possui uma um a consciência, uma vitalidade e um corpo {nephesh) possui que é a matéria. A parte vital (ruach) possui possui uma consciência que dirige o funcionamento vegetativo dos órgãos. E ela que os vivifica com sua energia energ ia e, segundo os cabalistas, possui um corpo. corpo. Do mesmo modo, a parte divina divi na (neschamah) é composta de Alma Universal, consciência divina e corpo espiritual. Se o domínio da inteligência do coração, ruach é o neschamah é o dos instintos que o ser humano deve subjugar. A árvore cabalística das sephiroth fornece fornece uma imagem ima gem dessa concepção da alma. Por sua vez, a via tradicional da Rosacruz aborda, de forma forma muito mais exata e detal hada, essa constituição constituição oculta do ser humano, em nove princípios. Passemos agora à concepção desenvolvida por Sri Aurobindo, famoso f amoso mestre hindu hin du do início do século 20. Esse Esse filósofo incontestável exprimiase através de idéias bem próximas às da cabala, apesar ape sar de sua terminologia ser um pouco diferente. Para ele, a alma se divide em três partes: a mental, a
vital e a física. física . Cada Ca da uma dessas divisões, divisõe s, por sua vez, é composta de três três subprodutos. Há o mental menta l no mental, ment al, o vital no mental e o físico no mental. Depois, o mental no vital, o vital no vital, e assim por diante. Assim como como na cabala, não há uma separação nítida entre cada um desses reinos, mas, sim, uma interpenetração progressiva. O domínio do mental puro está vinculado aos aspectos mais elevados do ser humano. Sua S ua parte vital corresponde à mentalização dos desejos, quando estes atrapalham a reflexão objetiva ou quando são sonhados mentalmente, ao passo passo que a parte mental do vital corresponde corresponde a uma temporização do desejo pela razão. O domínio do vital puro é o dos instintos e desejos gerados pela própria natureza da força força vital. Se S e tudo isso parece parece muito complicado complicad o à primeira vista, o olhar o lhar experiente pode ver aí correspondências com experiências bem concretas. Na índia, as almas humanas são consideradas como imanentes da Alma Universal e Suprema, como inumeráveis centelhas brotando de um fogo fogo imenso. Mas, nunca nu nca nasceram n asceram e, portanto, não podem morrer. Elas vêm de Brahman e retornam a ele. Sua essência é a da Divindade que, por conseguinte, dotaas de inteligência, razão, sensibilidade e imortalidade. Segundo S egundo os hindus, a alm a pode experimentar experimentar cinco estados em seu contato com o corpo. 1. O estado estado de vigília, vigíli a, no qual qua l está ativa sob a direção da Divindade. 2. O estado de sonho, sonho, ilusão intermedi inter mediária ária entre a vigília vigí lia e o sono, no qual pode ter premonições. 3. O estado de sono sono profundo, no qual qu al ela el a está como que mergulhada na Essência Divina, até voltar a imprimir sua ação no corpo.
4. O estado de desfalecimento desfalecimen to ou de insensibilidade, insensibilid ade, ponto medio entre o sono e a morte, no qual a alma fica temporariamente separada do corpo. 5. Finalmente, o estado de morte, no qual a alma deixa definitivamente seu involucro material. O filósofo filósofo Plotino, nascido no Egito por volta do ano 203, apresentou uma concepção da alma que exerceu importante influencia em todo o Ocidente, tanto cristão como como muçulmano. muçulmano . Ele foi o fundador da filosofía filosofía neoplatonica. Em sua “Enéade”, ele aborda o assunto de maneira bastante completa. Segundo ele, a alma corresponde a urna substancia imortal e invisível, intermediaria entre o mundo sensível e o das idéias arquetípicas. Ele a considera como a última das divindades. Saída do Deus Supremo, ela produz o mundo engendrando o tempo, em relação com a Justiça Universal. Portanto, Portanto, ela é a causa primeira de todas as coisas. A alma alm a não fica completam co mpletamente ente encerrada encerr ada no corpo, mas, ao contrario, contém todos os seres ao mesmo tempo, permanecendo sempre idêntica a si mesma. E ela que fornece o corpo, ordenando a matéria na qual se infunde. Ela, então, individualizase, mas essa particularização resulta do sub emprego de sua forma primeira. Algumas faculdades da alm a atuam, portanto, em algumas pessoas pessoas unicamente em função função das diferenças diferença s de corpo e órgãos. A alma age sem reflexão, em função de sua natureza própria e imperativa. O vício e a maldade das almas têm seu lugar na perfeição do universo e contribuem para seu equilíbrio. equilíb rio. Mas a alma al ma imóvel é um ser absolutamente simples, que não é responsável pelas
faltas cometidas pelo ser humano. O culpado é, na verdade, o objeto mais ou menos iluminado ilumin ado por ela; um ser composto composto de alma e corpo, corpo, que vive tãosomente por ela e com ela. E, assim, a alma recebe seu quinhão quin hão segundo as escolhas que faz, sem o menor acaso. A alma dos sábios subjuga o corpo, elevandose elevand ose sobre sobre as contingências materiais. Sua purificação, pelo sábio, consiste em isolála do corpo. Sem a alma superior e perfeita, acompanhada da razão que ela confere, confere, o ser ser humano ficaria, portanto, sujeito ao destino cego. Ela entra no corpo no momento oportuno, por meio de uma atração irresistível ou, melhor, apenas sua natureza mais audaciosa, imprudente e maldosa contém o corpo, corpo, enquanto a parte superior permanece em contato com o domínio domín io dos arquétipos. Portanto, também em Plotino encontramos essa divisão da alma, em superior e inferior, inferior, em única e múltipla. Segundo Plotino, a alma é semelhante a raios luminosos emitidos por um ser. ser. Sua natureza é propriamente luminosa e ela faz nascer uma obscuridade nos limites de sua luminosidade. Ela dá, então, uma forma a essa obscuridade, que corresponde ao corpo. corpo. Ela se sente feliz fe liz somente em sua relação com o bem com o qual vibra em afinidade, consumindose de desejo por ele. Toda sua função visa guiar o ser humano, ensinálo e iluminar seu pensamento, dirigindoo no caminho do bem, do justo, do belo e do verdadeiro. Em suma, para Plotino, a perfeição da alma consiste em se tornar semelhante semelha nte aos deuses pela prática das virtudes superiores. Enfim, e isto encerrará este tratado da alma, diversas culturas imaginaram imagina ram o momento em que a alma alm a se encarna e toma posse posse
de seu corpo. Aliás, parte das proibições relativas ao aborto provêm desse debate. Para os cristãos, cristãos, embora não saibam saib am ainda aind a claramente clarament e se a alma é criada ou preexistente ao corpo, corpo, admite se de modo geral que ela está presente desde o primeiro desenvolvimento das células célul as fetais. O budismo tibetano, pelos lábios do do Bardo Thõdol, afirma, afirm a, no Bardo do devenir, que a alma penetra no corpo no momento nessas condiçõe s qu e tu pen etras na matriz e, da concepção: “E nessas no exato exato instante em que o óvu lo e a sem ente se encontram, sentes a alegria inata e,e, nesta felicida de, desfa leces”. Mas as tradições esotéricas têm uma posição muito mais lógica, que resulta do próprio conceito da alma. Elas partem do princípio de que a alma, como princípio vivificante, vivificante, é aquilo que realmente dá autonomia autonomi a ao corpo. corpo. Em outras outras palavras, ela s ó pode se introduzir no corpo no instante da primeira respiração. Antes desse momento, o corpo da criança é vivificado e nutrido pelo corpo, corpo, pelo sangue, pela respiração re spiração e pela alma de sua mãe. Ele não possui nenhuma nenhum a autonomia. autono mia. O conceito de pessoa é um absurdo ao se referir ao feto, pois esse corpo corpo ainda por nascer não possui possui nenhuma nen huma das características autônomas. Como analogia, analo gia, poderíamos usar a imagem de um carro. Que é ele de fato? Um amontoado de ferragens, dotado de rodas, motor e volante? Na realidade, um carro só é realmente digno deste nome quando a energia que lhe permite deslocarse e o seu condutor estão presentes. Antes disso, ele não passa de um conjunto de lâminas de ferro e plástico mais ou menos bem modeladas.
0 7
O sono e a morte “Bem -aventura dos os humildes, porque verão a Deus”. O Sermão da Montanha, Evangelho de Mateus
Quem não ouviu, alguma vez na infância, alguém algué m lhe dizer, "Morrer er éco m o dorm ir”}Essa comparação para tranqüilizálo: "Morr entre a morte e o sono sono é muito difundida no planeta. Hipnos , o or feu, u, era irmão de Tanatos , a sono, cujo filho chamavase M orfe morte. Alguns muçulmanos chamam o sono de "a peq uen a morte”. Entre Entre os cristãos, a morte era considerada um sono da alma. Quando você ouviu essa comparação pela primeira vez, provavelmente achou a imagem bonita, mas sem realidade e sem importância. Pois, sim! Os tibetanos consideram que há seis bardos ou estados intermediários, dos quais dois pertencem à morte, sendo os outros três o da meditação, o do sono e sonhos, e o do nascimento. Poderíamos acrescentar também os estados intermediários que adornam a vida nas diversas transformações. Dessa constatação bastante geral, veio a idéia de comparar todos esses estados intermediários ao da morte. Por que e como o sono pode ser seu irmão? Se a morte representa uma porta para o espírito, então, o nascimento conduz para o mundo. Em quê possuem eles um ar de parentesco?
Estabelecer essas comparações poderá parecer sem significação para alguns, enquanto, para outros, assumirá um caráter bem eloqüente. Seja como for, devemos fazelas. Muitas culturas cultur as comparam comp aram o sono e a morte, mas raros são os os exploradores que ousam “ir lá ver”, de maneira mais direta e sistemática. O que se segue provavelmente não tem um suficiente valor científico para a inteligência zelosa de exatidão; todavia, as comparações aí estão, muito significadvas. Basta se deixar levar. Agora, se você quiser qu iser saber mais, siga o guia gui a e comece a entranharse no reino do sono. Imagine que você se transportou para 35.000 a.C. Você está numa choupana de sapé. E noite. O fogo acaba de se apagar. Entretanto, ainda restam algumas brasas rubras na fogueira. Perto dela, há dois homens deitados, que apresentam traços parecidos com os do homem moderno. Eles estão vestidos com peles de animais. Um deles dorme. Seu tórax sobe sobe e desce regularm ente, no ritmo de sua calma respiração. Seu vizinho vigia, olhando os arredores. De repente, a pessoa adormecida se agita e começa a dizer palavras desordenadas, quase inaudíveis. O outro observa, meio intrigado, mas fica em silêncio. A noite passa assim, tranqüilam ente, sem mais mais incidentes. Na manhã seguinte, já acordados, os dois homens conversam. O que dormiu conta ao seu seu companheiro que, durante dur ante a noite, seu espírito viajou. E caçou um caribu nas grandes estepes desertas. O outro escuta, pensando profundamente. De repente, como um relâmpago ou uma revelação, ocorrelhe uma idéia: e se, quando a gente morre, alguma coisa nossa sobrevive e sai viajando viaja ndo,, como nosso espírito durante dura nte a noite?
Deixemos agora essa cena, para voltar ao nosso tempo atual. Esses dois seres do paleolítico acabaram de emitir a hipótese da existência de uma alma imortal. A experiência do sono e do sonho foi talvez, naqueles tempos distantes, o meio pelo qual a humanidade humanidad e considerou, pela primeira vez, a existência de uma parte invisível no ser humano. Essa parte invisível também pode ser definida como a face noturna do indivíduo. Na mente dos primeiros povos, tratavase bem mais do que o inconsciente redescoberto em nossa época. Essa fase noturna, uma parte do mundo cristão nunca nunc a cessou, desde seu surgimento, de combatê la, perseguindo per seguindo os então chamados pagãos. Até hoje, ela incomoda a mente racionalista do mundo moderno, onde só se acredita naquilo que se vê. As pessoas esquecem, porém, que nossos próprios sentidos físicos estão sujeitos à ilusão e à manipulação. Essa dimensão lunar foi a fonte das maiores criações artísticas. No início do século 20, ela rebentou na forma do surrealismo. E ainda hoje ela causa confusão, pois sobre ela nenhum ser humano consegue ter poder, ao passo que a inteligência diurna pode ser facilmente condicionada. O espírito sopra onde e quando bem entende. O ser humano não é somente um cérebro montado sobre duas patas; é também uma alma unida ao seu subconsciente. De modo surpreendente, essa dimensão do ser humano, que nos parece noturna e pouco compreensível, corresponde, na verdade, à sua verdadeira parte luminosa. Os egípcios antigos não se enganaram; eles a chamaram de o Divino Rosirê, o Sol dos mortos. Como se a verdadeira luz pertencesse a esse mundo situado atrás do espelho. Rosirê reina no mundo do além, como o grande juiz das almas, mestre da psicostasia. De qualq qu alque uerr modo, modo, todos todos os os que viveram uma experiência experiên cia de morte iminente normalmente citam essa essa luz que perceberam. perceberam.
Mas voltemos ao ser humano e ao seu aspecto secreto. Cinqüenta por cento de seu ser lhe é um total desconhecido, mesmo com todo o progresso da psicologia. E foi provavelmente isso o que descobriram os seres humanos a quem chamamos primitivos, há uns 35000 anos, observando seu sono e seus sonhos. Isso foi o início da civilização e de uma evolução da consciência, sem precedente. Passemos, então, à exploração do sono e sua comparação com a morte. Analisemos, primeiramente, aquilo que poderíamos qualificar de mecanismo do sono. Quando o indivíduo deseja dormir, sente necessidade de deitar seu corpo. Para que o mergulho no sono se se faça nas melhores condições, é bom também que a pessoa se livre do estresse, das preocupações cotidianas e do fluxo dos pensamentos que invadem seu cérebro incessantemente. Em outras palavras, um relaxamento prévio, tanto interna como externamente, ou tanto mental como fisicamente, constitui uma boa preparação para o sono. No momento da morte, existe igualmente uma fase preparatória, que consiste numa espécie de liberação do passado. O ser humano tem necessidade de sentir que sua tarefa neste mundo foi cumprida, que está encerrada, e que seus negócios estão em ordem. Para partir em paz, a pessoa tem de poder se soltar, soltar, sem ser retida por nenhuma nenhu ma obrigação ou inquietação. O andamento é idêntico, para o sono. E por isso que, na Idade Média e mesmo mais tarde, ao se preparar para o sono, a pessoa era aconselhada a fazer um exame de consciência, tendo em mente me nte que o dia que passou podia ser o último. E por isso também que q ue os muçulmanos muçulm anos chamam ch amam o sono sono morte". de “apeq uena morte".
Mas, vejamos a seqüência. A pessoa acaba relaxando. Pedaços de frases interrompidas, pensamentos desconexos assaltam a consciência. Imagens truncadas se sucedem rapidamente, invadem a mente entre a vigília e o sono. As palavras ou as cenas que se apresentam podem corresponder àquelas estocadas na memória préconsciente ou semiconsciente do cérebro. Para a maioria, maioria , essas palavras ou cenas têm relação com o que foi ouvido ou visto visto durante o dia, mas às quais não se deu atenção. Parece, então, que nesse momento o cérebro libera parte de seu conteúdo subconsciente. No momento da morte, defrontamonos com um processo similar. A alma a lma revê sua vida passada, é igualme ig ualmente nte posta posta diante de seus conteúdos subconscientes. Isso explica o porquê de muitas muit as tradições afirmarem que as últimas experiências da vida são cruciais nesse instante. Assim como o estado mental de uma pessoa condiciona seu modo de dormir, seu estado psicológico nos anos que precedem a morte influenciará a natureza da experiência experiênc ia “vivida” no momento da passagem. Prossigamos nossa viagem gradual pelo sono. Com o relaxamento, a pessoa se harmoniza com os grandes ritmos vitais de seu corpo. corpo. Via de regra, salvo problemas problem as de saúde graves, a respiração se torna ampla, calma, relaxada, e proporciona uma sensação de liberdade. Isso se chama “respiração do bebê”. Para Para observála, observ ála, basta olhar olha r para um bebê e constatar o relaxamento de seu corpo e a confiança absoluta que ele demonstra. No estado de vigília, a respiração é muitas vezes truncada ou sem ritmo. A pressão da mente e das preocupações respondem por grande parte disso. disso. O indivíduo raramente está em harmonia com os ritmos naturais de seu corpo. O tempo
todo há tensões que impedem a energia vital de circular livremente. No pior dos casos, essa condição pode se tornar fonte de enfermidades. No momento da morte, a alma também entra em harmonia com os grandes ritmos do universo. Ela intensifica seu contato com sua Mãe, a Grande Alma Universal.
através do sonho não é aquilo de que a pessoa se lembra ao acordar. A consciência de vigília vig ília já terá t erá feito uma seleção a partir de seus preconceitos e de seus próprios códigos e hábitos de pensamento. Portanto, já terá traduzido a experiência nos termos lhe convém.
Mas avancemos mais aind a sono adentro. Nesse Nesse momento, o estado de consciência do indivíduo sofre sofre uma alteração. alteração . Sua consciência se expande progressivamente, a própria noção de limite desaparece. Seu Se u eu de vigília se dissolve dissolve cada vez mais, e ele mergulha realmente no sono, perdendo totalmente consciência de si mesmo. A morte corresponde corresponde também a uma alteração da consciência. O eu exterior desaparece progressivamente e uma espécie de sono da alma se segue. Após o primeiro sono, o ser vai se expressar com sua linguagem própria. A recordação dos sonhos dá uma idéia dessa linguagem.
Esses elementos deveriam nos tornar prudentes na interpretação de experiências de morte morte iminente. Na N a realidade, os relatos são dificilmente compreensíveis no que concerne o aspecto oculto oculto da experiência. Da mesma maneira ma neira,, tudo o que diz respeito à morte deveria ser tomado num sentido simbólico. As melhores linguagens que podem descrever descrever uma experiência da alma, após a morte, são o símbolo e o mito. O símbolo mais conhecido é, sem dúvida, o da balança onde é feita psicostasia (pesagem da alma e julgamento). No que tange as idéias de justiça, balanço da vida e purificação, temos de recorrer, inegavelmente, inegavelme nte, aos símbolos. símbolos. Esse é um princípio mais m ais fácil de ser compreendido quando qua ndo o abordamos fazendo comparações com os sonhos.
No curso de uma noite, sonhamos de acordo com várias fases, fases, chamadas cham adas de sono paradoxal. Cinco desses períodos, de duração variável, adornam nossas nossas noites, segundo os cientistas. cientistas. O mais importante deles, o quarto, ocorre entre quatro e seis horas da manhã, que é um dos períodos durante o qual as mortes são mais freqüentes. Segundo alguns pesquisadores, no curso de uma noite, viveríamos apenas um único sonho, com uma simbólica diferente a cada vez. É difícil interpretar um sonho por ser ele o modo de expressão preferido da alma, por intermédio de nosso subconsciente. O Dr. Freud, à sua maneira, descobriu e demonstrou isto: que o inconsciente possui uma linguagem constituída de símbolos. O que o ser interior tenta comunicar
Há um outro ponto muito interessante, comum à morte e ao sonho. Tratase do fenômeno do eu. O eu, no estado de vigília, vigí lia, está normalmen norm almente te vinculado ao corpo físico. físico. Ora, nem no momento da morte nem no sonho, a consciência está vinculada vinculad a ao corpo físico. físico. Na morte, a alma se separa do do corpo corpo,, enquanto, no sonho, o sistema nervoso está relativamente adormecido, tanto que o corpo fica como que paralisado durante algumas fases do sono paradoxal. Que acontece, então, quando quand o observamos o sonho? Primeiro, Primei ro, o sonhador nunca vê seu corpo físico. Segundo, sua consciência do eu consegue saltar de uma personagem para outra. Ela possui a faculdade de se metamorfosear em qualquer coisa. Uma sonhadora
contou que uma vez sonhou que ela era uma chaleira. Isso significa que, num sonho, a pessoa se confronta com o self ,’ isto é, um eu difuso que se estende a todas as coisas. No momento da morte, segundo os dados tradicionais, o mesmo fenômeno se produz. A consciência do eu vinculada ao corpo desaparece pouco a pouco, para dar lugar a um tipo de consciência nova, mais próxima da universalidade. Outro elemento intrigante e rico de significado: a noção de tempo, no sono e no sonho, desaparece ou se torna totalmente totalmen te relativo. O mesmo ocorre com a noção de espaço. Se acordamos acordamo s alguém que está sonhando e lhe pedimos para contar seu sonho sonho e estimar o tempo que ele durou, durou , ele fica surpreso ao constatar que sua aventura ave ntura onírica, oníric a, que parece ter se se estendido por horas horas a fio, na verdade, não durou mais que uns poucos minutos ou mesmo segundos. A pessoa que sai de um coma profundo geralmente não consegue determinar a duração do período em que ela viveu inconsciente. Depois de uma boa noite de sono, é fácil avaliar as horas passadas nos braços de Morfeu, sem olhar o relógio? E bem conhecido também o fato de que o sonhador pode viajar instantaneamen te de um ponto a outro outro do planeta, como num filme de cinema. A lógica que o sonho segue não tem nada a ver com a do nosso mundo diurno. Como ficam os elementos de tempo e espaço espaço no fenômeno da morte? Muita vezes, as pessoas fazem a seguinte pergunta: admitindose a doutrina da ree ncarnação, quanto tempo o se humano passa do outro lado? Invariavelmente, podese responder: do ponto de vista da terra, vários anos, conforme o caso; mas, do ponto de vista do céu, essa pergunta não faz o menor sentido. Um piscar de olhos ou uma eternidade são a mesma coisa, pois, nesses domínios, o tempo e o espaço são
abolidos, como como também as noções noções de dualidade duali dade e de separação. Os celtas, lembrese, haviam descrito esse esse fenômeno contando que, na noite de Samain , o Dagda tinha perdido seu território para seu filho. Na noite n oite de Samain (Todos (Todos os Santos), o tempo e o espaço cessam de existir, não é? Mas, então, se não há tempo nem espaço, que são as descrições fantasiosas e infantis que algumas pessoas fazem do além? Devemos buscar a realidade de outro modo? Nos domínios da alma, portanto, estamos lidando com uma dimensão nova que, para ser apreendia, exige uma nova lógica e novos novos conceitos. conceitos. Mais uma vez, recorrendo ao Bardo Thõdol, podemos acrescentar que as experiências encontradas pelo morto assemelhamse a um sonho. sonho. Todos Todos os ingredientes estão lá e, em especial, as projeções dos conteúdos da consciência. Do ponto de vista da alma, a morte acontece sem sofrimento. Nas EMI, os testemunhos testemunh os reportam que, após a separação entre o ser físico e o ser espiritual, a pessoa pára de sofrer e que a sensação é muito agradável. Em geral, a mesma coisa acontece no sono e nas formas mais profundas p rofundas de coma. Em alguns casos, o corpo físico pode até estar doente ou ferido, e a pessoa gemer porque o instinto de sobrevivência está inscrito inscrito na memória de todas as as suas células. Entretanto, a consciência não se solidariza com a experiência vivida no nível do corpo. corpo. Logo, não há conscientização con scientização do sofrimento, sofrimento, visto que uma parte do sistema sis tema nervoso está relativam relat ivam ente ent e dormente. Pessoas que estiveram em coma dizem não se lembrar mais de nada, ao passo que observadores externos jurariam juraria m que qu e elas estavam sofrendo. sofrendo. Assim também, na morte, onde ficaria o sofrimento físico se não há mais nenhum sistema nervoso para sentilo?
Agora que o aspecto puramente puram ente mecânico do sono e do sonho, comparativamente à morte, foi abordado, há uma pergunta que os cientistas se fazem e que também poderíamos fazer: para que servem o sono e o sonho? Ao responder essa pergunta, é possível que descubramos, sempre por analogia, valiosas informações acerca da utilid ade da morte. E, para respondêla, é útil abordála segundo três pontos de vista: físico, mental e espiritual. Pelo relaxamento relaxamen to que qu e proporciona, proporc iona, o sono sono traz o repouso e a regeneração física. Favorece a produção de diversos hormônios, dentre os quais o do crescimento. Setenta e cinco por cento desses hormônios são produzidos durante o sono profundo, tanto que a insônia pode provocar retardo de crescimento nas crianças. Esse hormônio favorece também a reparação de fraturas e a cicatrização. Vale lembrar que a produção de hormônios é dirigida pelo sistema nervoso autônomo. No bebê, já se comprovou o papel do sonho no amadurecimento do cérebro. Regeneração e desenvolvimento físico, estas parecem ser as palavraschaves que definem o sono. O mesmo vale para a morte, ainda que essa imagem possa troca o corpo usado de um parecer engraçada. O ser humano troca velho, o qual qu al não lhe perm ite mais realiz re alizar ar todas as suas funções, por outro, regenerado, de um recémnascido, cheio de potencialidades. Sem essa restauração, restauração, a alma não poderia mais evoluir nem manifestar as infinitas riquezas que ela encerra. Os cientistas concordam em pensar que, se o sono tivesse apenas o papel de reparação física, o ser humano não teria necessidade de tantas horas de repouso e, sobretudo, não precisaria sonhar, mas simplesmente relaxar. E preciso, então,
perseguir e abordar o papel do sono no plano mental. Nesse quesito, as descobertas mostram que o sono sono e o sonho ajudam a pôr em ordem as impressões recebidas e memorizadas pelo cérebro. cérebro. Contribuem Contr ibuem também para a execução de de uma triagem na enorme massa das informações conscientes ou subliminares recebidas diariamente pelo cérebro. Têm, portanto, um efeito benéfico na assimilação das informações adquiridas no estado de vigília. O sono paradoxal tem imensa importância na memorização memor ização e na maturação maturaç ão do sistema nervoso. Ele protege as lembranças de todas as interferências que possam p ossam perturbá las e propicia um verdadeiro tratamento das informações. Uma pesquisa realizada com crianças em idade escolar mostrou que quanto mais a criança dorme, aproximandose das doze horas, horas, mais sua taxa de rendimento escolar aumenta estáticamente. Quanto mais a criança dorme, mais facilidade ela apresenta apre senta para aprender ap render e reter. Além disso, como explicam os psicanalistas, o sonho possui uma função de liberação das frustrações frustrações acumuladas acumulad as no estado de vigília. Ele teria, assim, uma relativa função de purificação. E quanto à morte? Purificação, balanço (que vem da palavra italiana balando : balança), pesagem da alma, julgamento... Todos Todos esses termos não se parecem p arecem com um tratamento tratamen to da informação? A alma, nesse caso, seria considerada como um conjunto de informações a serem ordenadas, estocadas, selecionadas selecio nadas... ... Aliás, talvez seja a esse preço, preço, pago pago ciclicamente, que a personalidade h umana pode continuar sua evolução. evolução. As explicações explicaçõe s que acabamos de dar sobre as funções do sonho nos planos fí s ic o e mental não satisfazem plenamente os cientistas que trabalham no campo da pesquisa. Isso não é
de espantar, já que muitos deles se recusam a levar em conta a dimensão espiritual do ser humano. Essa, aliás, é urna das características do processo científico atual, que propositadamente deixa de lado, quando não nega, a faceta espiritual do ser humano. Somente uns poucos pioneiros, como C. G. Jung, tentaram tentar am fazer um processo processo unificador, associando o científico e o espiritual. Esse processo, aliás, era bem mais sistemático no Egito antigo, que tinha certo avanço no desenvolvimento científico de seu tempo. O fascínio que essa civilização exerce no mundo moderno vem, entre outras coisas, coisas, desse desenvolvimento. Hoje, apenas movimentos como a Ordem Rosacruz, AMORC, parecem ousar, contra ventos e correntezas, restabelecer essa unidade entre a análise científica dos fenômenos e a espiritualidade. Analisem os, então, o papel espiritual espir itual do sono e do sonho, comparandoo sempre à função cumprida pela passagem para o outro lado do espelho. O sono possui uma função regeneradora no plano espiritual, da mesma forma que no plano físico. Os efeitos produzidos por um simples sono de um minuto são bastante espetaculares, quando prestamos atenção neles. A pessoa assiste assiste a uma sensação de aquecimento aqueciment o do sangue, a circulação sangüínea melhora visivelmente e os sentidos físicos passam por uma espécie de limpeza. A pessoa vê melhor, as cores se se reavivam, ela ouve melhor, seus reflexos e sua vitalidade retornam. E quase impossível obter resultados como esses, em tão pouco tempo, através de outro procedimento que não o sono. Que outra explicação, que não seja estritamente física, poderíamos dar ao fenômeno, partindo do princípio de que o físico é apenas a ponta emergente de um iceberg infinitamente
maior? Provavelmente, que a alma do ser ser humano necessita se recolher ao seu mundo próprio, alguns momentos todo dia, para se revigorar. E é exatamente isso que ela faz no fim de sua vida terrena. t errena. A diferença diferenç a reside em que, durante durant e o sono, não há separação definitiva entre a alma e o corpo. Seria mais uma espécie de reharmonização do ser psíquico. Isso se traduziria numa energia vital renovada, através de uma reativação do sistema nervoso autônomo, o que explicaria as inúmeras conseqüências endocrinas. endocrinas. Vale lembrar lembr ar que a energia ener gia vital é um atributo da alma, alma , representando a consciência uma outra característica. Quando dormimos, a mente analític a fica entorpecida. Ora, essa essa mente, em muitos casos, constitui uma das fontes do bloqueio da circulação da energia no corpo e do mau funcionamento dos órgãos. Devese ver aqui a origem do estresse destruidor. Durante o entorpecimento da mente analítica, o corpo se põe a vibrar, naturalmente e sem entraves, em uníssono com os grandes ritmos universais. Isso se se traduz numa n uma respiração mais plena, numa diminuição do ritmo ritmo cardíaco, cardíaco, num relaxamento do sistema nervoso, etc. Pesquisadores demonstraram que cinco dias sem sono dão lugar a alucinações; mais uns dias e a loucura se instala, na forma de uma paranóia. Parece, todavia, que viver sem sono não mata diretamente. O mesmo vale para os sonhos. Uma pessoa que fosse sistematicamente impedida de sonhar caminharia para a loucura. O sonho desempenha um papel importante na n a manutenção manut enção dos instintos de de sobrevivência e da integridade psíquica da personalidade. Tudo se passa como se o eu, paradoxalmente, para sobreviver, necessitasse se refugiar no mundo do seIf ou numa numa zona de nãoeu. A paranóia de
quem não dorme é uma perversão do ego, que se sente constantemente agredido. Para manter seu equilíbrio, ele precisa se soltar de tempo em tempo. Só o sono torna possível esse abandono que permite à alma evoluir em seu mundo próprio. Pierre Fluchaire, autor de "ARevo luçã o do So no ”, explica, numa audaciosa conclusão, que uma pessoa que vivesse em harmonia com as leis universais não precisaria dormir, pois sua alma não sentiria necessidade desse recolhimento. Em outras palavras, a pessoa a que os místicos se referem como tendo alcançado a iluminação poderia passar sem o sono. Em seu caso, a energia vital circularia sem entraves, não tendo, portanto, necessidade de ser normalizada. O fato é que houve realmente, ao longo da História, pessoas reconhecidas como santas e que não dormiam ou o faziam muito pouco. Por exemplo, Marthe Robin, na França, ficou cinqüenta anos sem dormir. Francisco de Assis, também viveu, durante boa parte de sua vida, dormindo muito pouco. Se estabelecemos um paralelo com a idéia de reencarnação, apercebemonos de que os períodos que separam a morte de uma nova encarnação são muito variáveis. Os tibetanos, quando falam da reencarnação de seus mestres espirituais, situamna entre zero e quarenta e nove dias após a morte. Haveria pessoas que não precisariam ficar um período longo no outro plano, para se revigorarem? Tendo percebido e compreendido a unidade entre os planos planos terreno e espiritual, sua consciência não teria nenhuma nenhu ma necessidade de ser purificada. Comparando a morte ao sono, percebese que a primeira, assim como a segunda, representam necessidades para o ser
humano. Sem essa oscilação oscilação de sua sua verdadeira naturez a para outros mundos ou outras dimensões, o ser humano, e mesmo o animal, não consegue continuar vivendo eficazmente. Graças a essa compreensão, o medo da morte se desfaz, para dar d ar lugar à aceitação. Algumas vezes, como no caso dos mestres espirituais, ele se transmuta em compreensiva aquiescência. Muitos animais fogem de seus predadores enquanto têm uma chance de escapar esc apar deles. Mas, ao serem pegos, eles parecem se entregar à sua fatalidade, mas não trágica, apenas destinada. O ser humano, em ruptura com a natureza, possui o triste privilégio de se debater até o último suspiro. Um dos melhores serviços que se pode prestar aos nossos contemporâneos, consiste em lhes restituir a concepção de uma morte útil e portadora de sentido. Isso pode pode lhes ajuda a judarr frente à sua própria morte ou em situações de luto, não obstante continuar necessário que se faça, no dia D, um acompanhamento com amor e encorajamento. O sono é irmão da morte. Seria por essa razão que, o momento mais comum do dia, no qual os agonizantes soltam seu último suspiro, situase incontestavelmente entre quatro e seis horas da manhã? manhã ? Curiosament Curios amente, e, essas horas são são as da fase fase mais importante do sono paradoxal. Seria o sono também a antecámara da morte? Freqüentemente, os mortos intercambiam com seus entes queridos por intermédio dos sonhos. “Do reino de Hades, os sonhos sobem, passando pela porta de chifre ou pela porta de marfim ”, assim dizem os mitos mitos gregos. gregos. Uma pesquisa, realizada no País de Gales, em 1971, 1971, mostrou que, que , de 295 viúvos e viúvas, 47% afirmaram ter vivenciado uma manifestação do cônjuge falecido, quer por sua presença, seu contato ou sua voz. O astrônomo Camille Flammarion realizara, em 1899, uma
pesquisa semelhante com 4.280 pessoas, obtendo resultados idênticos. Vários desses contatos foram obtidos também através de sonhos. A psicanálise explica que tratase de um proce processo sso psicológico psicológico inerente a um trabalho de luto. Toda Toda e qualq uer possibilidade de contato com uma pessoa morta estaria, sem dúvida, excluída para essa disciplina. Sua mais avançada explicação é que o inconsciente desconhece a morte e que demonstra isto através dos sonhos. Com toda certeza, em alguns casos, a posição da psicanálise é válida, mas não em todos. Nas tradições antigas, consideravase que o sonho sonho constitui um meio de comunicação com outros mundos. Isso ainda é praticado em muitas tribos da África e da América do Sul. Entre os bondos da da África do Sul, por exemplo, Deus é considerado muito distante para ajudar os seres humanos no cotidiano. Eles, então, recorrem aos ancestrais, que qu e têm o dever dever de amparálos. Para isso, existe na tribo uma pessoa considerada pela comunidade como predestinada a receber a orientação dos ancestrais, através de sonhos. Acreditase que esse personagem faça parte do povo da luz. Ele recebe, recebe, dos dos ancestrais, conselhos para curar ou guiar seu povo. O xamã, na Sibéria e no Canadá, cumpre uma função similar. Durante o contato com outras esferas de existência, o xamã tem acesso ao passado, ao presente e ao futuro. Para os do Congo, a alma sai do corpo no momento do sono. bantus do Dessas viagens, ela traz os sonhos que lhe foram transmitidos pelos ancestrais com quem conversou. No Ocidente, é bastante comum encontrar pessoas que contam que sonharam com um parente falecido. Aqui está o testemunho de uma senhora que perdera sua nora: “O con tat o f o i fe f e it o d ur an te o son s ono, o, s em q u e eu o tiv t ives esse se b usca us ca do ou de seja se jado do ou, de outro modo, intencion ado con scientem ente. Na verdade, a
tdéia tdéia de entrar em con tato com ela nunca tinha m e passado pela cabeça. Como era o lugar onde isso aconteceu? Bem, nada de pa p a isa is a ge m boni bo nita ta,, ne m luz, n em m es m o um lu g a r es p ec ific if ico. o. Sim plesmente fo i; nem tempo, nem espaço, nem luga r a ser definido concretamente. Mas Mas o contato gerou uma reação física, física, poi p oiss q ua nd o m inha in ha nora no ra sen se n tiu q u e tinha tin ha sid o reco re co nh ecid ec id a, ela manifestou manifestou toda sua alegria alegria apertando-m e fortem ent e em seus braços. braços. E nãofo i um a simples sensação, sensação, fo i tão forte , tão concret o e tão real quanto pod e ser um contato com qualquer pessoa pessoa viva, viva, aqui na terra. Eu a achei então idêntica, psíquica e psico logicamen te, ao que ela era em vida ... Minha nora nora queira queira m e dar uma mensagem para transmiti transmitirr à sua sua fam ília... ”
Testemunhos como como esse existem aos aos milhares e é impossível impossível relatar todos eles. Em todo caso, eis aqui um último, breve mas comovente: " Uma noite, po uco temp o depois da da mo rte de meu fi meu filh lh o, sonh so nh ei com c om ele . Ele El e não era er a o be b ê que qu e eu tin ha perdi per dido do , mas um jov em muito bonito, de uns vinte anos. anos. Quando ele fa ele fa lo u , ouvi sua voz me dizendo: “Como v oc ê po de ver, ver, mamãe, eu estou bem, não chore ma is”. is”. Existem também sonhos nos quais se vê uma pessoa morrendo ou que são compostos de imagens ligadas à morte. Freqüentemente esses sonhos informam de uma transformação que ocorrerá no relacionamento com aquela pessoa. Podem também anunciar anunc iar uma pos possíve sívell mudança mud ança de vida para ela ou uma transformação transformação em sua personalidade.
O nascimento e a morte Há algum tempo, o escritor Arnaud Desjardins contou, num de seus livros, que dedicouse um dia a uma espécie de sondagem. A públicos orientais e ocidentais, ele dirigiu essa
única e mesma pergunta: qual é, para você, o contrário da palavra “morte”? A A maioria dos ocidentais respondeu responde u “vida”, ao passo passo que os orientais responderam “nascimento”. Essas respostas sintetizam bem as diferentes sensibilidades dos povos em relação ao assunto. A morte é um fim ou somente uma passagem? Nossa Nossa aposta aqui é de que existe apenas uma única vida eterna, eter na, composta de uma sucessão de dias e noites, como como no caso do movimento diário do sol. A manhã de cada dia corresponde ao nascimento e a noite, à morte. Ambos representam passagens entre o dia e a noite. O que está em cima comunicase, assim, com o que em baixo, para realizar o milagre de uma só coisa. Nascimento e morte corresponderiam, então, às duas faces de um mesmo rosto, como um Jano. No instante do falecimento, o ser humano se desintegra em seus diversos componentes, sendo cada um deles eterno em essência. O corpo corpo físico retorna ao pó da terra e prossegue seu périplo na forma de átomos e de moléculas diferentes. Os componentes mais sutis ou psíquicos do ser também se dispersam no âmago de sua essência primitiva. Os egípcios admitiam a dispersão dos componentes da alma, como o B a c o Ka, que qu e até então estavam unidos no corpo corpo vivo. vivo. Na verdade, cada elemento integrado no ser humano vivo volta a se unir à Essência Universal que lhe deu origem. A integridade do ser humano alma ou ser vivente” é perdida perdida momentaneamente. Com o nascimento, o processo adquire caráter rigorosamente inverso. Há a reconstituição de um ser de síntese física, psíquica, anímica e cármica, encarnado na terra. Se quiséssemos designar esses fenômenos em termos de alquimia, designaríamos a morte pelo termo “dissolução”, ao passo que o nascimento seria qualificado de “coagulação”.
“Solve et coagula”, diz o alquimista, expressão que significa: “purifica e integra”. A purificação corresponde à morte, enquanto a integração representa o nascimento.
A ontologia Rosacruz e a ciência ciênc ia do ser explicam explic am que a encarnação da alma, no nascimento, ocorre no momento do primeiro alento; estando alma e alento vinculados. Inversamente, a morte ocorre no último alento. “Ele deu seu último suspiro”, isto é, “seu último alento”, “ele entregou a alma”, são expressões que escutamos muitas e muitas vezes. Mas há outros pontos pontos de comparação comparaçã o menos conhecidos. Muitas descrições da passagem fazem referência a uma segunda morte, na passagem de uma fronteira, como a do túnel nas experiências de EMI. Sabese que, do mesmo modo, a criança vive um segundo nascimento, ligado à sua evolução. Em seguida ao nascimento, sua tomada de consciência do mundo ocorre ocorre de maneira gr adual, da mesma forma que, na morte, a separação é gradual. grad ual. No nascimento, nascime nto, a criança, criança , se não é totalmente cega, também não possui, antes de um mês, uma boa acuidade visual, e seu sistema nervoso não é totalmente eficiente. No entanto, está cientificamente provado que todos os órgãos do corpo estão presentes e operacionais desde o nascimento. Mas, então, como explicar essa aparente contradição? Explicando que a alma ainda aind a não tomou plena posse de seu veículo físico? Devemos crer que, no nascimento, a alma tome posse do corpo da mesma forma que um objeto entra num outro objeto objeto ou devemos considerar que ela intensifique seu contato com ele, assim como qualqu qua lquer er coisa abstrata influencia o concreto? Observe uma criança em pleno desenvolvimento: e uma
maravilha vêla despertar pouco a pouco para o mundo. Mas, afinal, onde está aquele segundo nascimento prometido? Os psicólogos afirmam que entre um ano e meio e três anos a criança toma consciência de si mesma. Ela diz “eu”. Eles chamam cham am isso de o estágio do espelho. A criança reconhece sua imagem no espelho, ao passo que a maioria dos animais adultos não se reconhecem espontaneamente quando colocados na frente de um. Este é o segundo nascimento: a tomada de consciência do eu, a partir da qual a relação com o mundo nunca mais será a mesma. Nesse exato momento, a consciência se cristaliza cristaliz a em torno do ser físico, físico, ao passo que, antes disso, a distinção entre o eu e os objetos (ou a mãe) é muito mais ✓ nebulosa. E, aliás, em torno dessa idade que a criança perde a memória do meio espiritual esp iritual de onde veio. Todos Todos esses motivos motivos conjugados explicam por que é geralmente tão difícil recordar o passado anterior aos primeiros três anos de vida. Assim também, na segunda morte, o ser esquece pouco a pouco o meio terreno de onde saiu. Mas ainda outros pontos de comparação merecem ser ressaltados. Nunca é demais repetir que nascimento e morte correspondem a dois portais, separando dois mundos. Parece (sem querer ver nisso um discurso sexista, infinitamente distante das intenções do autor) que os seres que guardam esses portais são, com mais freqüência, as mulheres. O símbolo aqui é admirável. São a mãe e a parteira que assistem (o e ao) nascimento do recémnascido. Hoje em dia, na maioria dos casos, são as enfermeiras e as auxiliares de enfermagem que prestam ao defunto os últimos serviços ou que acolhem seu último suspiro. Na grande maioria dos seminários de reflexão sobre a morte e dos seminários sobre acompanhamento, a participação das mulheres é quase sempre numericamente
superior à dos homens. O fato de um homem se interessar pela morte mostra que ele tomou consciência e deixou que se expressasse nele a dimensão feminina, feita de receptividade. Face à morte, evento do qual se padece, só nos resta sermos receptivos, o que explica o porquê de as mulheres sentirem menos repulsa pelo assunto. No instante da morte, o corpo retorna à sua mãe Terra, enquanto a personalidade reúnese à sua Mãe, a Alma Universal. Em outras palavras, o humano retorna à sua existência essencial. Inversamente, no nascimento, a personalidade deixa sua Mãe Universal, para reassumir sua natureza individual, no mesmo instante em que o corpo do bebê sai de sua mãe humana. Nascimento e morte invocam o simbolismo simbolismo da gruta. Gruta uterina da mãe, túmulo da terra. O túnel de acesso, nas experiências de morte iminente, também nos leva a pensar na entrada entrad a de uma gruta. gru ta. Essa é a razão pela qual alguns psicólogos se enganam grandemente ao compararem as EMI e determinadas experiências sob efeito de psicotrópico psicotrópicoss às reminiscências reminiscênc ias do nascimento. Não é nem um pouco espantoso que essas experiências sejam similares na forma. Contudo, o sentido do nascimento e o da morte são estritamente inversos. No tratado da alma, falamos de uma representação simbólica da alma, na forma de uma corda. Na imaginação popular, a alma muitas vezes é representada como uma espécie de cordão que se une ao corpo. A morte seria, então, a ruptura desse cordão. Mas, e quanto ao bebê, não está ele ligado à sua mãe pelo cordão umbilical, que é cortado no nascimento? Um cordão substituiu o outro, e o ser está sempre atado a alguma coisa. No nascimento, essa ligação sutil intensifica gradualmente seu contato com a dimensão psíquica da pessoa. pessoa. Alguns
pesquisadores explicaram que, antes dos vinte e oito anos, o ser humano ainda não tomou consciência de todas as potencialidades incluídas incl uídas em sua alma. alm a. O ser humano, afinal, pode ser comparado a um sol. Seu percurso noturno corresponde à vida p o s t - m o r t e m , seu percurso diurno representa a existência terrena. Nem o nascimento nem a morte são repentinos. O ser humano se dirige lentamente para seu zênite e sua maturidade, despertando pouco a pouco para o mundo manifesto. Depois do zênite, a fase espiritual do ser começa a despontar e o ser humano se dirige progressivamente para sua morte. O momento exato da morte não foi definido com exatidão pelo mundo médico. Se S e a morte biológica é definida como a parada definitiva das funções vitais, principalmente no nível do triângulo cérebro, cérebro, coração coração e pulmões, ainda é difícil situar no tempo a passagem da vida para a morte. Segundo L. V Thomas, "se não fosse a urgência em determinar com exati exatidão dão o m om ento pro p ro p ício íc io para a extraçã extr açãoo de órgã ór gã os e o da inu m ação aç ão o u da cre m ação aç ão , pro p ro v a v el m en te n ão hav h av eria er ia u m a d efin ef in içã iç ã o le ga l do qu q u e é m or re r" . Q ua n to m ais ai s a ci ê n ci a p r o g r id e no assunto, menos se sabe quando e como a morte ocorre. Ela não é um estado, mas um processo; permanece, portanto, inapreensível. No nível do corpo, ela é onipresente nas manifestações de destruição das células; célu las; fenômeno que se acelera em caso de doença. Basta, na verdade, uma um a perda de vitalidad vitali dade, e, e as forças forças da morte entram em ação. Assim, a morte é, antes antes de mais nada e principalmente, principal mente, ausência de vida. Ela não corresponde a uma manifestação positiva. Após a morte biológica, bioló gica, o corpo, corpo, porém, não se torna inerte, mas continua a se transformar. A essa altura, altu ra, podemos considerar consi derar não mais uma comparação entre nascimento e morte, mas a onipresença desta
última na própria vida. Com efeito, a compreensão da função da destruição destruiçã o é muito importante para nos ajudar ajud ar a viver melhor. melhor. Se assim não fosse, a utilidade de uma reflexão sobre o tema ficaria seriamente reduzida. A principal lei do mundo manifesto é a da perpétua transformação. "Nada "Nada se perd e, nada se ena, tudo se transforma”. A morte representa essa transformação sempre presente na existência e nas atividades terrenas. Como você acabou de ver, o metabolismo do corpo humano representa um reflexo dessa lei. Continuamente, há criação de células novas para substituir as foram destruídas. Na verdade, boa parte do corpo humano terá sido inteiramente substituída no fim de alguns anos. Isso ilustra o aspecto físico da questão. Na vida social de um indivíduo, essa lei também afirma sua presença. presença. Os grandes eventos eventos familiares nascimento, casamento, mudança de casa, mudança d e emprego, emprego, etc. etc. constituem constituem algumas dessas transformações. Em outras palavras, a situação anterior morre no advento da nova. As próprias sociedades humanas huma nas sofrem essas mutações e os períodos períodos de crise implicam implica m uma resistência às mudanças ou uma dificuldade dificul dade de dar à luz ao futuro. Em todos os proces processos sos de morte, perdese alguma alg uma coisa, para se ganhar outra num nível superior. Mas é preciso aceitar perder antes de ganhar; a evolução jamais implica um ganho perpétuo ou linear. O ser humano abandona um corpo físico e uma consciência física, para ganhar ganh ar vida e consciência espirituais. As almas ditas ditas “pres “presas as à terra” terra” não querem perder perder nem esse esse corp corpoo físico nem as percepções de seus cinco sentidos. Elas se privam, assim, de prazeres superiores. Na vida cotidiana das sociedades, cotidiana e na das se o indivíduo não quiser abandonar nada, sejam seus preconceitos, seu modo de pensar ou seus processos processos esclerosados, esclerosados, não poderá poderá continuar contin uar progredindo ou, então, isto se se dará apenas no sentido do sofrimento. O velho homem teima em não morrer.
Este termo, “velho homem”, permite passarmos agora diretamente à questão da iniciação. Os Rosacruzes chamam ra n d e i n i c i a ç ã o Tratase a morte de "a g ra Trata se exatam ex atamente ente de uma iniciação, iniciação , posto posto que, quando qua ndo ela e la sobrevem, a alma passa p assa por diferentes diferentes etapas que a levam gradualmen te a deixar a zona tenebrosa do mundo material, para alcançar a luz celeste. O termo iniciação, do latim initiare, que significa “começar”, descreve bem esse processo que implica ritos de passagem, de transformação, de conhecimento, de habituação progressiva e, por fim, de iluminação da consciência. Tratase de uma mudança de estado, de condição e de dimensão. Podemos reduzir uma iniciação, de maneira mais ou menos arbitrária, a quatro partes ou fases de desenvolvimento. Essas quatro fases já foram nomeadas: separação, admissão, revelação e retorno. Elas valem também tamb ém para uma inic iniciaçã iaçãoo terren te rrena, a, qu e, na n a verdade, verda de, supõe uma morte simbólica. Antiga An tigame mente nte,, no Egito, E gito, uma tradição trad ição relata rela ta a exist e xistênc ência ia de uma cerimônia que era praticada e que depois desapareceu, pelo menos no Ocidente. O postulante aos graus superiores do conhecimento era colocado num sarcófago. Antes disso, oficiantes ofician tes o tinham tinha m feito beber um elixi e lixirr ou uma droga. O iniciando assistia então, num estado secundário induzido pelo produto, à separação momentânea entre seu ser espiritual e seu ser físico. Ele fazia de fato a experiência da alma e da imortalidade. E, aliás, justamente essa experiência que vivem as pessoas pessoas que, sem o quererem, querer em, sofrem uma EMI, depois de um acidente, um a doença ou um coma. Hoje não há mais iniciações inic iações desse tipo, pois acontecia às vezes de a pessoa pessoa morrer mesmo, devido a uma excessiva fraqueza ou a uma excessiva excessiva impressionabilidad e.
É preciso acrescentar que práticas como essa seriam perigosas hoje, pela simples razão de que, antigamente, as iniciações eram feitas dentro de sociedades tradicionais extremamente fortes. Desde que nasciam, os postulantes estavam acostumados acost umados a práticas de cultos bem estritos, e o uso de drogas e outros “cogumelos mágicos” era comum nessas práticas. Hoje, nas sociedades materialistas, as pessoas que fazem uso de psicotrópicos psicotrópicos fazem isto unicamente unicam ente pelo prazer, o que as leva aos piores excessos autodestrutivos. Mesmo que alguns estejam em busca, mais ou menos conscientemente, de estados de consciência diferentes, eles o fazem num âmbito definitivamente definitivamente inadequado. inade quado. Nos anos sessenta, na Tchecoslováquia, um psicoterapeuta e pesquisador tentou utilizar a droga para explorar as zonas de consciência superiores ou paralelas do ser humano. Stanislas Stan islas Grof utilizou o LSD, que ele próprio absorvia ou fazia ser absorvido por voluntários. A observação das reações que se seguiam e as operações sucessivas obedeciam a um protocolo científico muito estrito. Não demorou muito para que essas experiências fossem proibidas. Não obstante, a corrente de psicologia que leva o nome de “transpessoal” saiu dessas primeiras explorações. Curiosamente, essa nova escola confirma os elementos transmitidos pelas mais antigas tradições acerca do ser humano. Fenômenos como a telepatia, a projeção da consciência à distância e as reminiscências de prováveis vidas anteriores foram observados. Qualquer uma das matrizes perinatais de Grof envolvem, aliás, o conflito e a experiência de mortenascimento. De fato, os iogues da índia, os sábios chineses e algumas raras escolas ocidentais, dentre elas a Ordem Rosacruz,
AMOR AM ORC, C, há sécu los vêm ensina ens ina ndo nd o técnic téc nicas as seg ura s e inofensivas, cujo objetivo é realizar essas investigações, sem fazer uso de drogas e sem que q ue a pessoa precise sofrer um coma ou um acidente. Contudo, a verdade é que anos de prática são necessários para que o estudante alcance um resultado desse tipo. Longe de nós sermos mercadores de promessas inalcançáveis.
(9 M lícíc ícíctítíoo As cifras falam: hoje há cada vez mais suicídios entre jovens e aposentados. Esse aumento da autodestruição interroga nossa sociedade, como o fez em todas as épocas. Platão já se pronunciara pronun ciara sobre sobre a questão, há dois mil e quinhentos quinhen tos anos. E disse formalmente: o suicídio é proibido. A originalidade de sua posição, ou de sua ambigüidade, está no fato de que ele considerava o derradeiro fim do ser humano totalmente desejável. Segundo S egundo ele, a morte marca o fim fim de todas todas as ilusões e todos todos os os apegos às paixões terrenas. Ainda assim, a ssim, insistia in sistia em que o ser humano não tem o direito de adiantar esse evento, pelo suicídio. De fato fato,, nenhuma espiritualidade esp iritualidade realmente válida jamais encorajou a autodestruição ou suicídio. O budismo, que leva ao mais alto grau o respeito para com toda forma de vida, ensina: "não m a t a r á s Essa Essa frase aplicase, em primeiro lugar, à pessoa a quem ela se dirige. Essa recusa à autodestruição corresponde, corresponde, na verdade, a uma atitu de ecológica. Isso implica implic a que a natureza, por intermédio de sua criatura humana, cumpre uma função de inteligência e de consciência ímpares. Eliminarse significa frustrar a natureza da oportunidade de realizar reali zar uma um a experiência por intermédio do fator fator humano. O suicídio seria, portanto, antiecológico. antiecológico. Vale ressaltar res saltar aqui, aq ui, todavia, que, em pleno século 21, os velhos tabus e as atitudes atitude s de rejeição re jeição para com os suicidas suici das e suas famílias não podem mais estar em circulação. Antigamente, a comunidade excluía as famílias dos que cometiam o ato considerado abominável e negava o enterro religioso aos
culpados. Assim, o grupo economizava fazer uma reflexão sobre seus próprios comportamentos e normas, os quais poderiam ter levado a pessoa a fazer o irreparável. Tratarse ia, talvez, de um meio de autoproteção frente a um ato percebido como uma agressão à sociedade, feita por um de seus membros? Hoje, sem desenvolver um sentimento de culpa, que corresponderia ao pólo inverso inverso da questão, podemos conduzir conduz ir uma reflexão inédita sobre o sentido desse gesto. Há uma infinidade de razões que levam uma pessoa a cometer o irreparável. O desespero, a solidão, um pedido mudo de socorro socorro,, o medo do futuro, uma nec necessidade essidade de iniciação, iniciaç ão, uma um a atitude filosófica, o sentimento de inutilidade, a sensação de estar esmagado pelo peso das provações, um malestar geral resultante da perda do sentido de viver, etc. Não obstante ser impossível pretender cobrir todo o conjunto das motivações que levam algumas pessoas ao suicídio, visto que cada criatura criatur a é uma história e um caso úúnicos, nicos, podemos, todavia, explorar algumas delas. Os dois períodos da vida onde uma grande recrudescência do fenômeno pode ser observada são, segundo pesquisas econômicas feitas na França, a adolescência e a aposentadoria. Com a aposentadoria, sabemos que um certo sentimento de solidão geralmente se instala. A pessoa se sente também aposentada da sociedade. Na era moderna, o velho, que não produz mais, geralmente é considerado simplesmente “o aposentado”. Em outras palavras, ele não tem mais nenhuma função reconhecida, está fora do circuito ativo. Eis o que significa, in fin e , a palavra “aposentado”. Pior, esse termo
muitas vezes se compara à “derrota milita mi litar”, r”, e muitas pessoas pessoas ficam angustiadas angust iadas quando qu ando começam come çam a ver despontar o dia em terão de se aposentar. Um mapeamento da França (mas que também poderia ser aplicado ao mundo) dos locais onde as taxas de de suicídio são as as mais altas faz ver que as regiões mais atingidas são aquelas onde a comunicação entre os indivíduos é mais fraca. Sentimento de inutilidade, falta de comunicação, afastamento das famílias, são alguns dos ingredientes que favorecem o desespero. Há também, se bem bem que infinitamente infinita mente mais raros, raros, suicídios por razões filosóficas filosóficas ou culturais. cult urais. Todo Todo mundo se lembra dos kamikazes japoneses, japoneses, capazes de se lançarem com seus aviões sobre os portaaviões americanos, em 1945. Seppufyu, o suicídio ritual do Japão, era, até o início do século 20, o meio de acabar com a própria vida quando quand o a honra do samurai era era maculada. Do mesmo modo, filósof filósofos os materialistas, materia listas, ante um universo que lhes parecia desprovido desprovido de sentido, sentido, concluíram que a única saída possível, face ao absurdo, absurdo, residia resid ia no suicídio. Tratavase, na verdade, da resposta filosófica fornecida por seres centrados em si mesmos, para os quais a corrente da vida universal pouco importava. Não está evidente que a atual perda do sentido da vida, que, qu e, inclusive, repercute na educação educa ção das crianças, c rianças, seja uma das razões do crescimento do fenômeno. Conclusão filosófica filosófica para uns, porta de saída saíd a das provações provações para outros, essa forma forma de suicídio negligencia negligenc ia o seguinte fato: fato: de acordo com a idéia de encarnações sucessivas, não há escapatória possível. Segundo o princípio do renascimento, teremos de voltar à terra para enfrentar nossas questões e dificuldades.
O suicídio de adolescentes, por sua vez, possui possui uma multidão de explicações. Angústia frente ao desconhecido que o mundo dos adultos representa, crise de crescimento, falta de referenciais, medo de futuras futuras dificuldade econômicas. econô micas..... Todas Todas essas essas razões razões já foram diversa e fartamente evocadas por psicólogos e sociólogos. Mas há uma que praticamente nunca foi objeto de reflexão, e é a seguinte: a passagem da adolescência adolescên cia corresponde a uma fase iniciática. A psicóloga Françoise Dolto evocou, para descrever esse período, aquilo que ela chamou de “complexo de lavagante”. Como esse crustáceo do grupo das lagostas, o adolescente sofre uma muda que q ue o torna excessivamente frágil e sensível. sensível. Alguma coisa nele precisa morrer (sua infância), infânc ia), antes que ele pos possa sa chegar ao estado estado adulto. Mal acompanhada pelo ambiente (família, escola, sociedade), essa iniciação pode se transformar em algo crítico. Antigamente, as sociedades tradicionais, como na Africa, instauraram ritos ritos (a circuncisão, por exemplo) cuja finalidade era ajudar a criança a se tornar adulto. Nossas sociedades ocidentais ocident ais abandonaram abandona ram todos todos os ritos ritos e o jovem ficou entregue a si mesmo. Num período de prova e de surda competição escolar, no qual boa parte de seu futuro está em jogo, o jovem se sente muitas vezes desarmado. Podemos, então, considerar a seguinte idéia: alguns adolescentes tentariam, mais ou menos conscientemente, provocar uma espécie de experiência iniciática, que antigamente era simbólica, inclinandose à tentativa de suicídio. Viveriam, assim, no plano do corpo, a morte produzida nos domínios da personalidade e da fisiologia, durante a passagem da infância à maturidade. Alguns (felizmente mais numerosos) saem dela fisicamente incólumes. Outros Outros recomeçam, porque a tentativa física de suicídio não resolve o problema psicológico. Mas uns tantos acabam cometendo mesmo o irreparável.
A solução consistiria, entre outras, em instaurar instau rar um rito moderno de passagem, adaptado à me ntalidade ntalid ade dos jovens de hoje, mas ainda estamos longe disso. Um dia chegará, talvez, em que o pensamento moderno se reconciliará com a mentalidade iniciática, com base não no misterioso nem no demoníaco, mas num conhecimento profundo da psicologia humana.
óí/ti6o/oj c/a a//na e c/a //totfe Algumas Algum as vezes, o emprego empr ego de símbolos é mais eloqüente eloqüen te do que longos discursos. Eles permitem que as faculdades inteligentes mais m ais profundas do do ser humano sejam mobilizadas m obilizadas para uma compreensão do tema em questão, no mais íntimo de seu coração. O símbolo desperta também a intuição, mostrando a outra face das coisas, aquela diante da qual a razão pura emudece. O ser humano imaginou uma multidão de representações representações da morte. Apresentaremos Apresentaremos aqui apenas algumas delas.
O taro dos iconógrafos da idade média 1 - 0 Arcano Arcano Sete, Sete, A Carruagem: Carruagem: um Símbo Símbolo lo da da Alma
Essa carta do famoso jogo de tarô apresenta um rei coroado, coroado, sob sob um dossel, dossel, conduzindo uma carr uagem cujas rédeas estão ausentes. O rei, jovem, porta o cetro do poder e da autoridade. A carruagem é puxada por dois cavalos, um de cor azul e o outro de cor vermelha, que parecem ir em direções opostas, mas que fitam o mesmo objetivo. Na realidade, a carruagem avançaria segundo uma direção mediana med iana em relação r elação à visada pelos dois dois cavalos. cavalos. Duas letras, S e M, estão inscritas na frente da carruagem. A tradição que acompanha esse jogo de cartas explica que a carruagem do triunfo é de de fato um símbolo da alma. Mas qual q ual é a origem dessa representação?
Vejamos, então, o que diz Platão sobre a alma, alma , em “Fedra “Eu dina, da alma, que ela se assemelha a uma força , com posta de um a parelha e um c och eiro alados. Nos Nos deuses, deuses, cavalos e coche iro são igualm ente bons e de boa raça; nos outros seres, seres, têm valores desiguais; em nós, o coche iro d irige a parelha, mas um dos cavalos éex celente e de excelente raça, raça, enquanto o outro éjusto o contrário, contrário, p o r si m es m o e p o r sua su a or ig em . Disso Diss o d ecor ec or re , fata fa ta lm en te , qu e é tarefa peno sa e árdua t er as rédeas de ?ioss ?iossaa alma". Para Platão, o cavalo cavalo vicioso faz faz a alma pender para a térra, se tiver sido mal adestrado pelo cocheiro, e, assim, a alma tem de lutar para se conservar na direção do bem. Por Por conseguinte, ele distingue distin gue na alma al ma três partes, sendo uma delas o cocheiro cocheiro e as outras duas são representadas pelos cavalos. “O prim eiro, à direita, é correto e bem talhado, tem pescoço alongado, ventas aquilinas, aquilinas, pêlo s brancos e olhos negros; é am ante da honradez, da tempera nça e do pudor, pudor, arraigado à opinião verda deira; a palavra e a razão, razão, sem os golpes, são o q ue basta para cond uzi-lo. O outro é torto, torto, grossei grosseiro, ro, m al talhado, talhado, tem corp o pequetio eg ord o, pe scoço curto, venta s achatadas achatadas,, pêlo s negros, e o lhos azuis e injetados de sangue; é am igo da violência e da fanfarronice, é peludo em volta volta das orelhas , surdo, surdo, e só obed ece , com muito custo custo , a chicotadas e aguilhões". Em seguida, o filósofo tece as relações que os dois cavalos mantêm com o cocheiro; um facilmente submisso, o outro rebelde ao comando. Poderíamos, então, crer que o tarô reproduz simplesmente esse símbolo platônico, visto que em algumas cartas os dois cavalos são branco branco e preto, e não azul e vermelho. Entretanto, um texto hindu, o Katha Upanishad , assim se expressa: "Vede a alma (que vivifica vivifica o corpo) com o aquela que está está montada na carruagem, e o corpo como a carruagem; vede o entendimento
com o o condutor, e o espirito com o as rédeas. rédeas. Os sentidos são os cava los e os objeto s que se lhes apresentam, as rotas. rotas. A alma dotada do corpo, dos sentidos sentidos e do espírito desfruta desfruta daqu ilo que lhe cerca; assim dizem os sábios. Apessoa des provida de sabed oria e qu e não fa z uso u so das da s réde as tem te m sen s en tid os indo in dom m áv eis , co c o m o os cava ca va los lo s ariscos arisc os que puxam puxam a carruagem ... Aquela Aquela cuja carruagem é dirigida dirigida p o r um sábi sá bioo co n d u to r e cu jas ja s réd ea s (do ( do esp e sp írito ír ito ) são h a b ilm il m en te utilizadas alcança a meta colocada na extremidade da rota, a mora da su perio r de Vish Vishnu nu". ".
No Bhagavad-Gita , uma famosa carruagem é também descrita. A que conduz o divino Krishna Krishna pelas mãos de Arjuna, o arqueiro. O primeiro representa a consciência e o segundo, a vontade. Juntos, eles guiam a carruagem da alma e sua ação neste mundo. Mas a vontade deve ser submissa e educada pela consciência superior. 2 0 Arca Arcano no Sem Sem Nome Nome A décima terceira carta do do tarô tarô é a única que não tem nome. Por esse esse motivo, foi batizada batiz ada "Arcano Sem Nome". Aquilo que tem nome pode ser designado na qualidade de fenômeno palpável, portador de vida. A morte não faz parte dessa categoria; ela é inapreensível em sua qualidad e de passagem evanescente. Na compreensão popular, ela se tornou sinônimo de supressão do ser. Quando a morte sobrevem, entre alguns grupos africanos, ninguém n inguém pode pronunciar pronunc iar o nome do morto morto por algum tempo. Na carta do tarô, a personagem esquelética, com a foice, corta mãos, pés e cabeças coroadas, em meio a ramos de ervas. Ela manifesta, assim, a igualdade iguald ade de todos diante da morte. O chão é de cor preta, que lembra a fase negra da alquimia. A
cabeça representa a consciência, e as ervas, a vida vegetativa. A morte, portanto, corta consciência e vida, livrandose de riquezas. A foice, da cor do sangue, despreza o inútil para conservar apenas o que é verdadeiramente produtivo. produtivo. Apenas Apenas as extremidades dos membros são cortadas. A morte tem, portanto, uma função purificadora. Associada ao ao número treze, ela marca (ao menos na França) França) esse número com uma idéia de infortúnio. Podese ver aí uma ligação com o número do Cristo e seus apóstolos, em torno da mesa da Ceia, e dentre os quais um deles era um traidor. Não há quartos de número treze nos hotéis, ter treze convidados à mesa traz desgraça e a sextafeira 13 é um dia nefasto. Na China, Chin a, o número número quatro, redução teosófi teosófica ca de 13 13 (1 + 3 ), constitui um presságio de morte. morte. A superstição que acompanha acompanh a essa cifra é a mesma da que envolve a morte. Tratase, na verdade, da exacerbação de um a resistência resistên cia à mudança. mud ança.
renascimento do ser humano human o muito além a lém da morte, no fim dos dos tempos. A palavra “julgamento” referese aqui ao primeiro Julgamento Julgam ento dos Justos, Justos, do Apocalipse de São João. Mas houve, na História, H istória, outros túmulos famosos famosos que foram abertos, entre os quais o do Cristo e o de Christian Rosenkreutz.
3 - 0 Arcano Arcano Vinte, Vinte, O Julga Julgament mentoo - Túmulos Túmulos Céleb Célebre ress
O túmulo da personagem mítica C. R. C. foi aberto por buscadores, segundo a lenda, cento e vinte anos após sua morte. Nele, eles encontraram o corpo, conservado intacto, do presumido fundador da Fraternidade dos Rosacruzes. Na realidade, o túmulo, ele próprio um livro de conhecimento, encerra tesouros, tesouros, manuscritos, obras obras de sabedor sabe doria... ia... A abertura desse túmulo marcava o ressurgimento da Ordem num determinado país, depois de um necessário período de sono, de mais de um século. s éculo. O “Fama Frater nitatis ”, ”, texto que narra nar ra a história de sua descoberta, sugere que aquele ou aqueles que conhecem a natureza dessa cripta e dos tesouros que ela encerra tornamse capazes de restaurar de novo a Ordem ou a Fraternidade. E isso, mesmo que, após centenas de anos, ela tenha sido reduzida a nada. Essa lenda simbólica sugere, na verdade, que a Ordem Rosacruz, Rosacruz , AMORC, AM ORC, identificada identif icada por C.R.C., é uma um a Organização que sabe ficar ficar sempre jovem jovem e atual. Não obstante permaneça tradicional, ela sabe também morrer a fim de melhor se regenerar, como uma fênix que renasce perpetuamente de suas próprias cinzas.
O túmulo representa o local de um processo de renascimento, após a morte. Nesse arcano, uma personagem, desenhada de costas, é despertada pela trombeta do anjo do Julgame Julg amento nto.. Dois indivíd ind ivíduos, uos, um homem e uma mulher, mulhe r, assistem religiosamente à ressurreição. Esse símbolo marca o
O túmulo do Cristo, por sua vez, foi encontrado vazio pelos discípulos do mestre. “Cristo ressuscitou !”, !”, exclamaram. O túmulo túmul o estava vazio, seu ocupante o cupante só podia mesmo estar vivo. A morte foi foi para ele o local de maturação matur ação de uma obra que qu e
O verdadeiro sentido do arcano indica o despojamento extremo (os ossos representados são brancos) que acompanha uma transformação. Ela marca o fim de um ciclo, para uma nova primavera. Esse arcano (por ser um princípio princí pio invisível mas ativo) sugere que o processo mortetransição é onipresente em toda existência. Assim, o ser humano e as sociedades sofrem sofrem contínuas transformações transformações que constituem outras tantas “mortes”. “mortes”.
cobriu dois milênios. Ela sinalizou uma mudança mu dança por meio da qual o homem Jesus foi transformado em um deus por seus discípulos. Muitas vezes, e é o caso da Alsácia, calvários são colocados sobre um crânio ou sobre o caixão de alguém, cujo esqueleto esquele to pode ser visto. Isso faz faz alusão alusã o ao Gólgota ou “local do crânio”, em Jerusalém, onde a cruz do sacrifício cristão se realizou. Tratase também do velho Adão, cujo caixão se encontra sob a cruz. A cabeça freqüentemente é associada à morte (cf. o Arcano Sem Nome, cortador de cabeças). As ornamentações da Renascença usam bastante essa representação. Em alguns ritos maçônicos, cabeças da morte estão presentes e uma é colocada na câmara da reflexão. Tudo isso sugere, na simbologia cristã, que o ser humano que morreu em Adão é regenerado no Cristo, graças à obra da cruz e a do tümulo tornado vazio. A própria cruz pode ser representada pelo número treze, como na Rosacruz Hermética. Em cada ponto cardeal, três elementos estão representados, mostrando doze princípios. O décimo terceiro encontrase no centro da cruz, no qual se realiza o ato sacrificial. 4 - A Gruta Gruta
Outro símbolo, a gruta, também é freqüentemente associado à idéia de morterenascimento. Platão utilizou o mito da caverna, em cuja entrada en trada o habitante percebe a luz que qu e vem de fora. As representações cristãs fazem da gruta o local do nascimento e da morte de Jesus. O presépio do nascimento é uma gruta, o túmulo do Cristo é outra. Foi numa gruta que a Virgem Maria Mar ia apareceu aparec eu para Bernadete, em Lourdes, e lhe confiou sua revelação. Lugar de trevas, é nela que o ser atinge a maturidade. Pode também se tornar um local de iniciação, iniciaç ão, como entre oscátaros
de Languedoc, na Idade Média. Uma nova vida, então, ganha raízes na caverna. Ela pode conduzir condu zir à terra, como no caso caso de um recémnascido, ou dar acesso à vida eterna, rumo ao céu. Corresponde, portanto, ao local de passagem por excelência. “Vis “Visititaa o inter ior da terra e, retifica ndo -o, encon trarás a Pedra ”, diz, em suma, a Tábua de Esmeralda. Em cima dessa bíblia dos dos alquim istas, estava gravada a p alavra "vitriol”. Não é no topo topo de uma montanha, mas numa gruta, grut a, lugar luga r subterrâneo, subterrâneo, que se realiza a primeira transmutação, a “obra em negro” ou a nigredo do alquimista, associada à morte e à putrefação. As civ ilizaç iliz açõe õess que qu e preced pre ceder eram am os celta ce ltass na Euro pa reconstituíram a gruta através dos dólmens. Esses prova velmente deviam servir como local de iniciação. Representação da matriz materna, serviam igualmente como campos de sepultura. sepultura . Podese entrar num dólmen d ólmen como na morte ou dele sair rumo ao sol do oeste, para um novo nascimento. Vemos aqui o quanto a idéia da morte é inseparável da idéia do nascimento. Existem outros instrumentos utilizados nas cerimônias, tanto cristãs como de outras religiões, cujo valor simbólico é inegável. A água, benta ou em outras formas, formas, representa a idéia de purificação da alma. Antigamente, entre os camponeses, costumavase colocar um jarro com água no quarto do morto. morto. Acreditavase en tão que a alma alm a devia se banhar antes de alçar alça r vôo. vôo. O fogo fogo também estava presente na forma das chamas das velas, que eram acesas ao lado do caixão. Ele simboliza simbo liza a imortalidade do princípio invisível do ser humano. O incenso que perfuma os templos e as igrejas, e cujas volutas envolvem os corpos, representa, neste mundo, a essência etérea da alma do morto. Ele se insinua progressivamente em todos os cantos,
a exemplo do elemento ar ao qual está associado. Enfim, quem não se lembra do punhado de terra que tradicionalmente era jogado sobre o caixão, no cemitério, antes da inumação definitiva? As flores, flores, que lembram le mbram a juventude juventud e eterna, a beleza e o renascimento cíclico, também fazem parte dos principios freqüentemente utilizados. Ao con contato tato da morte, mo rte, tudo se torna tor na símbol sím bolo. o. Tr ad icionalmente, há quatro maneiras de devolver o corpo à natureza, assim como quatro são os princípios que regem nosso universo: pela terra, na forma da inumação mais ou menos direta; pelo fogo, fogo, através da cremação; pela água, água , como fazem os marinheiros e também no Oriente, onde os corpos desmembrados são lançados num rio; e, finalmente, pelo ar, quando é exposto, sem sepultura, ao ataque dos animais de rapina. Pouco importa o método utilizado, contanto que um rito sagrado seja realizado.
(9
c/atí/w c/a a////a
Somos inclinados a nos apegarmos ao ego e à sua sobrevivência. Não obstante, outras concepções, que podem ser muito valiosas, foram foram apresentadas aqui aq ui à guisa gu isa de reflexão. O universo pode ser imaginado como um grande ser em devenir, cada componente do qual executa uma função antes de morrer definitivamente. Enquanto as partes desaparecem, o Ser supremo, o propósito, prossegue seu desenvolvimento — esta é a posição saducéia. Tomemos o caso de um fo r m ig u ei r o : cada formiga executa uma tarefa específica, quase mecanicamente. Quer sofra ou não, ao final de sua existência, a formiga se retira e desaparece definitivamente como entidade constituída. Uma vez esgotada a energia que lhe permitiu desempenhar seu papel, ela morre. Nada de reencarnação, nada de sobrevivência, simplesmente uma um a obra a ser feita enquanto a criatura está viva, em perfeita harmonia com o plano criador do formigueiro. Nada impede que seja exatamente assim para o ser humano, e ponto final. O ego é ilusão, o sofrimento pouco importa, a alegria pouco importa, somente a obra viva e criativa possui algum valor. valor. Isso bem poderia representar a verdade final do nosso futuro e da nossa razão de ser (por que não?). No entanto, o ego do ser humano não se satisfaz com isso. Ele não aceita ser tão somente a engrenagem utilizada por um imenso ser vivo, uma engrenagem da qual o todo se livra depois que ela cumpriu sua função. A visão acima, acim a, para um ser consciente e dotado de livre arbítrio, exige uma capacidade de abnegação sobrehumana
para ser aceita. A concepção budista de anatman (sem (sem alma) aproximase dessa visão, e o próprio Dalai Lama, embora a defenda, explica que ela pode levar pessoas não preparadas ao niilismo. O que, provavelmente, levou alguns filósofos a considerarem outras soluções, baseadas bas eadas nos dois fatos fatos abaixo. 1. O ser humano hum ano é um ser consciente de si mesmo; ele tem consciência de sua alegria e de sua dor, e busca sua felicidade. 2. Sua consciência altamente desenvolvida desenvolvida proporcionalhe proporcionalhe um poder de discriminação e discernimento, e o livrearbítrio. Disso decorre que o fenômeno humano, em sua grande maioria, dificilmente aceita que um demiurgo ponha no mundo mundo criaturas para fazelas desaparecer para sempre, sendo que muitas muita s são chamadas a sofrer. sofrer. Esse arquiteto arquit eto seria, então, uma u ma espécie de Moloque ou de monstro arbitrário que se serviria de suas criaturas, criatu ras, antes de se livrar delas, como a lenço de papel usado. O ser humano não consegue apreender apreend er os os fundamentos de uma ação como essa, que o criou na luz, fazendoo sofrer, para no fim fazelo desaparecer desaparece r através de de uma morte absurda. Mesmo que possamos admitir que a coletividade, por sua evolução científica, tenha se libertado progressivamente da fatalidade do sofrimento, nem por isso essa dor deixa de ser inteira para o indivíduo, num dado instante de sua história. A ciência, a despeito de seu desenvolvimento, nunca triunfará sobre a morte. Então, veio a idéia de um desígnio mais vasto reservado ao ser humano. Ele não está mais na Terra unicamente para
cumprir uma função quase mecânica, mas tornouse a testemunha do Deus criador. Assim, foi concebido como um ser em devenir. Um ser livre, cujos atos podem ser sancionados e cuja morte não mais constitui o fim. Sua vida, portanto, enquad rase num esquema esquem a mais vasto, em em consonância com com as faculdades por ele demonstradas. Das particularidades de seu ser inteligente, veio veio a idéia de que a liberdade por ele manifesta presume a possibilidade de agir segundo o aspecto destruidor da lei universal. Alguns atos foram concebidos como justos e outros como falsos ou inarmônicos em vista de uma progressão da Criação, entregue às tendências construtivas de sua natureza. A fim de que o ser humano não ficasse mais sujeito ao seu próprio arbítrio, à sua própria desordem, veiolhe a revelação de que qu e seus atos podem ser julgados por uma Justiça Universal que mantém o equilíbrio na Criação; uma harmonia rompida pela ação desordenada, cega e egoísta do ser humano. Se, a despeito de tudo, ele é um produto da natureza, pode igualmente edificar a si mesmo em acordo ou desacordo com a corrente construtiva geral que preside ao alçamento al çamento de sua consciência consci ência e de todo seu ser. ser. Foi Foi em função das idéias de livrearbítrio, de justiça retribuidora e de consciência organizada e abstrata, que germinou a convicção de que esse ser excepcional não pode desaparecer tão simplesmente como uma formiga. O conceito deatman, a alma individual indivi dual dos hindus, emergiu. Com os conhecimentos adquiridos hoje em matéria de psicologia profunda, essa alma pode ser qualificada de personalidadealma ou eu individual. Porque o ser humano pode declarar “eu sou”, à imagem do “eu sou Aquele que é ” do Deus bíblico, presumiuse que um núcleo de seu ser pode,
após purificação, participar na imortalidade divina. Melhor ainda, aind a, esse “eu sou” so u” humano só pode pode ser um produto do “Eu Sou” divino e, por conseguinte, sua verdadeira identidade foi concebida como como divina. Então, uma centelha, centel ha, um fogo fogo sagrado sagrado depositado no coração do ser humano pode continuar continu ar aceso, a despeito do desaparecimento do corpo que a continha.
(Soncáuão “Há um v ivo ponto de interrogação ante a vida em geral, mas igualm ente em fa ce de todo ensinamento. N unca aceite, a priori, priori, um conhecim ento; ponha -o em prática, prática, experimente, experimente, trabalhe com ele e tire as conclusões necessárias necessárias ao seu prog resso ... "
Essa reflexão Rosacruz pode se tornar uma fonte de meditação para cada um. O tema da morte geralmente geralm ente é objeto de exclusão exclus ão nas mentes racionais, que consideram que nunca poderemos saber o que ela representa realmente. “Ninguém nunca voltou para nos contar o que viu lá em cima (ou lá em baixo)”, dizem, com ar de sabedoria douta. No entanto, a experiência prova que uma verd ve rdad adei eira ra pesq pe squi uisa sa pode fornec for necer er algu al gu ns indí in dício cio s. As experiências de morte iminente ensinam sobre os estados vizinhos à morte, o acompanhame acom panhamento nto ajuda ajud a a compreender compreen der aquilo por que passam os agonizantes. A possibilidade de contato ou de influência entre os vivos e os mortos é sempre evocada. Contudo, nada disso nos ensina coisa alguma algu ma sobre a ✓ realidade da experiência derradeira. E como se nós opuséssemos nossa possibilidade de conhecer as coisas e as leis do nosso nos so mundo ao desconhecido que qu e é a morte. Estamos nós tão seguros de poder conhecer tudo neste mundo? Nós nos interrogamos sobre a natureza da consciência depois da morte, mas que sabemos sobre o estado de consciência de um simples anim al, sem falar da consciência do nosso próximo? Nós conseguimos determinar o tamanho de
um cão, suas necessidades, seus humores, seus modos de reprodução reprodução e comu nicação... nicaç ão... mas isto isto não nos nos informa nada sobre a intimidade de seus modos de conscientização. Tudo isso, portanto, não passa de conhecimentos externos. No entanto, saciamos nossa nossa ignorância ig norância contentandonos com esses esses indícios externos. A maior parte dos nossos conhecimentos neste mundo é exatamente assim. Moldamos matematicamente as leis naturais (pelo menos aquilo que acreditamos ter compreendido), desenvolvemos tecnologias, mas as coisas em si continuam desconhecidas. Ignoramos, por exemplo, qual é a natureza intrínseca do átomo, exceto que ele corresponde a um conjunto de partículas cada vez menores, como num jogo de bonecas russas. Usamos e calculamos os campos magnéticos, mesmo ignorando sua verdadeira natureza. Acaso sabemos ao menos o que é uma vibração em sua natureza profunda? Um fóton é considerado ora uma onda ora um corpúsculo. Uma onda é uma vibração. Que é que vibra, então? Que é que dá a polaridade positiva ou negativa ao elétron ou ao ímã? Nossa ciência ainda não sabe. Mesmo assim, ela explora suas propriedades em nossos eletrodomésticos. Se somos tão pouco informados acerca de nosso mundo, por que ficarmos chocados com a ignorância sobre a morte? No fim das contas, também em relação relaçã o a ela, temos os indícios já citados. Tentar empreender pesquisas sobre ela possui também interesse prático. Poderia ela, talvez, nos dar as respostas para todas as outras perguntas? A longo termo, para nossa surpresa, percebemos que, com a prática da meditação, o estado da consciência se transforma progressivamente. Finalmente, ao fim de alguns meses ou anos, a necessidade de obter um conhecimento objetivo sobre ela adquire cada vez menos importância, para dar lugar a um estado de paz. A
verdade é que a reflexão reflexão sob sobre re o tema desloca desloca progressivamente progressivamente os pólos de interesse principais, do ter para o ser. Tudo se passa como se, paradoxalmente, ela tornasse a vida mais bela, a exemplo daquilo que vivenciam os que passam por uma EMI. A diferença está em que, para eles, a transformação se produz em alguns minutos. minutos. Se um conhecimento produz tantos resultados práticos, é porque possui um interesse real, num sentido pragmático. Foi exatamente isso, isso, aliás, que C. G. Jung pressentiu: “O ser huma no deve pod er ter a prova de qu efez todo o possível para form ar uma conce pçã o ou uma imag em da vida após a morte, ainda ainda que isto isto seja uma declaração d e sua sua impotência. Quem já não sofreu uma pe rd a ? Pois Poi s a instân inst ân cia in terr te rrog og at iva iv a q u ef a la n el e é um u m a he ra nça nç a muito longínqua da humanidade, um arquétipo rico de vida secreta, q ue qu er se unir à nossa nossa para a perfeiçoá -la. A razão nos impõ e limites excessivamente estrei estreitos tos e nos convida a viver apenas o conhecido (ainda que com muitas restrições) e numa esfera conhecida, co m o se conhecêssem os a verdadeira verdadeira amp litude da vida ”. Se apenas com muita dificuldade conseguimos compreender a morte intelectualmente, podemos podemos tentar nos familiarizar familia rizar com ela, para descortinarmos intuitivamente sua função. Mas, para isso é preciso ousar cercála em todas as suas manifestações mais ou menos discretas. A imortalidade da alma representa um fenômeno e as condições que o enquadram já foram definidas. O obstáculo à sua compreensão talvez venha de nosso modo de abordálo; sua natureza é incompreensível, se não for for acompanhado da ativação da in teligência telig ência do coração e de certa dose de poesia. Não creio que o além possa ser descrito em termos do nosso mundo. Tudo o que dizem as lendas, as tradições, as religiões
e os filósofos são apenas símbolos da experiência da alma. Permitem unicamente pressentir a verdade, mas esta está sempre alhures. Podemos sonhar com a preservação do ego, da autoconsciência e de quaisquer outras coisas que possam razão, sigam nessa ser conservadas; nossos desejos desejos e, talvez a razão, direção. A realidade, porém, provavelmente é mais sutil. Quando um homem ou mulher mulhe r morre, a experiência de sua vida é conservada em algum algu m recôndito da memória memó ria universal un iversal (um dia chegará em que a própria ciência provará a existência desta memória). A imagem do disquete que permite conservar o trabalho feito no computador simboliza bem essa idéia da conservação dos feitos humanos. Entretanto, a identidade é conservada de modo impessoal, até ser ser utilizada utiliza da na terra numa futura encarnação. O ser humano, desde sempre, num recôndito de sua consciência, está em contato com o infinito. O passado, o presente e até o futuro não têm segredos para ele. E bem nesse nível da consciência que cada um encontra seus ancestrais; eles vivem em nós. O período de luto permite a cada um compreender compree nder e realizar reali zar esse fato. fato. Para muitos, passar passa r pelo luto é o mesmo que esquecer, quando, na verdade, tratase de integrar simbolicamente em si a alma do antepassado. Então, o vivo pode ser inspirado por aqueles com quem está em harmonia. Isso, aliás, não significa forçosamente um contato entre duas pessoas, pessoas, mas uma harmonização momentânea (e talvez involuntária) entre duas vibrações simpáticas. Os grandes ancestrais correspondem aos mestres das tradições esotéricas; e o Mestre, como se costuma dizer, só se expressa quando o discípulo se eleva até ele.
A morte mo rte corre co rre spo nde nd e a um a fusão fusã o n aq u ilo que qu e os Rosacruzes denominam O Cósmico. Quantos sábios já explicaram que, nessa fusão, o ser humano perde momentaneamente a consciência de sua identidade, como as cores perdem a sua na luz branca do sol. A identidade continua lá, adormecida, até que uma nova vida levea a se manifestar. Com a morte, o ser humano fundese na luz, unindose ao amor incondicional, perfeito, infinito, e... nele se perde. Da mesma forma como ele se perde no sono. sono. Mas isso não dura, dura , pois nesse plano o tempo é abolido. Parte do medo da morte pode, portanto, ser comparado ao medo daquele tipo de pessoa que se angustia perante o sono, sono, porque não quer perder per der o controle nem abandonar abando nar sua consciência de vigília. Para aceitar o sono, sono, a pessoa precisa primeiro ter confiança no fato de que, na manhã seguinte, ela vai acordar, e, em seguida, seguid a, deixarse levar. É a mesma coisa em relação à morte. Confiança é a palavra chave. Assim, Ass im, entre en tre uma um a morte mor te e um nasci na scime me nto, nt o, há uma um a continuidade de consciência. consciência. No intervalo, a alm a passa pela purificação que se segue ao seu julgamento ou pesagem simbólica. Com toda certeza, é isso que acontece, senão, para que serviria morrer, no plano da alma? No curso dos tempos, outras versões mais materialistas foram inventadas. inventadas. Em sua angústia, o ser ser humano não queria que ria considerar outro modo de existência, bem diferente do que ele conhecia. O espiritismo representa uma tentativa moderna, muito elaborada, nesse sentido. Para muitas pessoas, é difícil ficar numa abstração que não as satisfaz. Os grandes fundadores de religião souberam levar em conta esse fator, sugerindo o conhecimento e, ao mesmo tempo, respondendo
às aspirações dos povos. Mas a humanidade até hoje não compreendeu que a realidade é muito mais bela que as ficções inventadas pelos seres humanos. Os experimentadores de EMI falam da luz e da unidade que encontraram nela. Basta ouvir ouvir os testemunhos que eles dão ao retornarem. Uma história sufi usa o símbolo da borboleta da noite, que gosta tanto da luz da vela que tenta se aproximar dela, até que acaba queiman que imando do as asas e,e, por fim, morrendo. A alma é como essa borboleta, com uma diferença: sua própria natureza é a luz. Assim, longe de se aniquila aniq uilarr em seu contato, ela se encontra consigo mesma, em sua natureza suprema e verdadeira. Longe de morrer para sempre, ela se põe a viver sua vida própria. Longe de se deslumbrar na pequenez pequene z de um ego ilusório, ela abre suas asas imensas e voa rumo à eternidade. No continente norteamericano, existe uma raça de borboletas, as as monarcas, que q ue voam, a cada dois anos, do Canadá Canad á até o México. A migração, uma das mais extraordinárias de todas na Terra, abrange várias gerações desses insetos. Aos milhões, elas levantam vôo para uma viagem de vários milhares de quilômetros, cujo circuito é conhecido dos observadores. Em sua chegada che gada ao México, elas são objeto objeto de grandes festejos, festejos, pois os mexicanos acreditam ac reditam que essas borboletas são são as almas de seus ancestrais voltando ao país. Observando as manifestações de sofrimento, destruição e morte neste mundo, comparáveis às nossas atividades e à incessante competição, ficamos tentados a acreditar que vivemos vivemos no no planeta planeta da agitação, agitação, ao ao largo dos dos verdadeiros valores valores da vida. Podemos viver e agir dentro do mundo, mas a meta de todas as atividades é e será sempre nos fazer tomar consciência
do incrível esplendor das dimensões espirituais. São desejáveis essas esferas esferas onde não reina nem sofrimento nem morte, onde todas as coisas correm de sua fonte numa harmonia intraduzível. Estamos na Terra para melhor aspirar ao céu. Tratase de uma escolha voluntária vo luntária.. A escolha da pessoa que compreende que este mundo é apenas "vaidade e perse guição de ven to”. to”. A busca do do Único Único e o esforç esforçoo para para guiar outras pessoas pessoas rumo rumo a Ele são louváveis louváveis e provavelm provavelmente ente louvadas. louv adas..... em algum outro outro lugar. Neste mundo aqui, nada é estável. Tão logo a pessoa acha que se apossou de uma situação, esta lhe escapa. Perde se um amigo, sofrese uma provação terrível. Num dado momento, as pessoas se questionam sobre o sentido de suas dificuldades e depois esquecem, até que a aspereza do mundo as apanhe de novo. De tempos em tempos, uma guerra é disparada, elevando o nível do sofrimento humano. Não obstante, muitos vivem às cegas nesta terra. Os mais lúcidos, porém, sabem que não há muito o que esperar. Somente uma atitude plena de espiritualidade e de gratidão para com o Criador santifica a passagem neste mundo. A vida só pode ser verdad ve rdadeirame eiramente nte feliz e bela se o ser humano situála situál a no coração coração de um desígnio mais vasto vasto que ele mesmo. Senão, ela corresponde tãosomente a uma busca de vãs quimeras. A felicidade felicidade não não pode pode ser puramente um produto produto da matéria. Ela pode vir somente da contemplação do espiritual, inclusive do do espiritual contido por que não? na matéria. A ação sem a contemplação não é nada.
£ S ¿6 ¿ 6 / w < / iaia / íaía h om me devant la mort, SEUIL, ARIES (Phil ( Philippc ippc):): Images de l ’hom 1983. la mort, SEUIL, 1977. ARIÈS (P hilippe): hilipp e): Lhom me devant la sens cach é des rites rites mortuaires: m ourir est-il BAYARD (J. P): Le sens mourir ?, ?, DANGLES, 1993. d e B ride ri de y M urph ur ph y, J' ai BERNSTEIN (Morey): À la r ec he rc h e de Lu, 1956. .): Dictionna iredes CHAVALIER (J.) ET GHEERBRANT (A.): symboles , Robert Laffont, 1999. DAVIDNEEL (Alexandra): Jo u rn a l de v o y a ge , Presse Pocket, 1988. sans peu r, La Table DESJARDINS (Arnaud): Pour une m ort sans Ronde, 1991. COLLECTIF: Le spou voirs incon nu s de Vhomme —Les corps à p r o d ig e , article de Mircéa Eliade: Le chamanisme et la déco uv erte p rim itive de Vexta extase se.. civilisation japona ise , ELISSEEF (Vandime et DanieJle): La civilisation Arthaud, Artha ud, 1988. 1988. eaugeois, s, Imprimerie FRAYSSE (B. C.): Le folk lor e du B eaugeoi Beaugeoise, R. Dangin, 1906. FUSTEL DE COULANGE (Denis): La citéantique , Éditions d 'Aujourd 'hui, 1978. GOVINDA (Anagarika) (apresentado por): Bardo Thodol , Alb inM ichel, ich el, 1991. 1991. l*islam, A. A. HAMIDULLAH (Muhammad) (Dr): Init iatio n à l*islam, E. I. F. (Association des Etudiants Islamiques en France). HAMILTON (Édith): La mythologie, Marabout, 1988. L.): Le livre de la réincarnation: réincarnation: HEAD (J.) ET CRANSTON (S. L.): lephénix et le m ystère desa renaiss renaissanc ance, e, L. G. F., 1998.
HENNEZEL DE (Marie): La mort intim e , Pocket, 1997. HIEROCLES (comentado por): Pythagore — — Les Vers ers d ’or et comm entaires de H iérocl iérocles, es, Sand, 1995. HOMÈRE: Odysée , Le Livre de Poche, 1997. JACQ (C hristia hris tian): n): La Vallée de s Rois, Perrin, 1993. JUNG (C. G.): Ma vi e: souv so uv en irs , rê ve s et e t pe nsées ns ées , G alliin al liin ard ar d , 1991. DALAÍ DALAÍ LAMA: Le Dala'i Dala'i Lama pa rle d e Jésus , (Presentation de Robert Kiely), J 'ai Lu, 1998. KOLPAKTCHY (Grégoire): Livre des morts des anciens Egy E gypt ptieiens ns , Stock, 1993. KÜBLERROSS (E.): La mort est un nouveau soleil , éd. Rocher, 1994. LEWIS (Harvey Spencer): Lesdemeuresdel’áme, (As Mansões da Alma) Diffusion Rosicrucienne. PAPUS: La cabbale: tradition secréte de VOccident , Dangles, 1990. PHILOSTRATE DE LEMNOS: A pollo po lloni nius us d e T yane: sa vie, vie , ses voyages, voyages, sesprod iges , Sand, 1995. PIETRI (Jéróme): Réincarnation et surv ie des ames: mystéres et traditions de l ’au-delá, Dangles, 1990. PISANI (Isola): Preuves de survie: croire ou savoir, Laffont, 1990. PLATON: Phédon , Flammarion, 1991. PLATON: Phédre , Flammarion, 1989. PLATON: République , Flammarion, 1966. PLUTARQUE: Traité d ’Isis Isis et d ’Osiri ’Osiris,s, Sand, 1995. QUESTIN (Marc): La tradition F. Lanore, Lanor e, tradition ma giqued es Celtes , F. 1994. RENARD (Hélène): Laprés-vie, Pocket, 1997. RÜMÍ (DjalâlalDín): Rubái’yát, Albin Michel, Mich el, 1993 1993.. SCHURÉ (Édouard): Lesgrands initiés initiés , Pocket, 1983. a
SHRI AUROBINDO (comentados por): Trois Upanishads: Isha, Kena, Munda\a,&§o\n. Michel, 1972. STEVENSON (Ian): 20 cas cas suggérant le phénom éne d e réincamation, Sand, 1985. THO MAS (Louis Vince V incent): nt): La m ort , P U. F., 1991. VAN EERSEL EERS EL (Patrice): (Patrice ): La sour ce noire , L. G. F., 1987. VOVELLE (Michel (Mi chel):): M ou rira ri ra ut re fois fo is,, Gallimard, 1990. La Bhagavad-Gitá , (Commentaires de Shri Aurobindo), Albin Michel, 1977. La Bible de Jérusalem , Desclée de Brower, 1986. La Bible d ’Osty, Osty, Seuil, 1973. Catéchisme de l ’Eglise Eglise catholiqu e , Mame, 1998. Le Coran , Seuil, 1998. judéo chrétienne, enne, Arricies divers. divers. LOlivier. Revue de reflexión judéochréti Revu e Rose-Croix Rose-Croix : Coopérative de l’A.M.O.R.C. Le Tao-Te-King, AJbin Michel, 1991. Les Upanishads Upanishads majeure s, Sand, 1995. La voie du musulm án , Maison d’Ennour, 1987.
A Bibli oteca Rosacru z é for ma da po r livros interessantes, relacionados nas páginas seguintes e podem ser adq uirid os na Se ção de Sup rim ento s da
Ordem Rosacruz, AMORC Grande Loja da Jurisdição de de Língua Portuguesa Rua Nicarágua, 2 620 —Bacacheri —82515 —82515 -260 Curitiba —Pr —Pr - Brasil Caixa Posta Postall 4450 - 82501-970 Fone: (0xx41) 351-3000 Fax: Fax: (0 xx41) 351 -3065 e 351 -3020 Site: www.am Site: www.amorc.org. orc.org.br br
R elação elação de L ivros A lessandro volumes -A na Rím olide Faria Faria Doria Doria lessandro C agliost agliostro ro - em 2 volumes A lgumas lgumas R eklexóes eklexóes M ísticas - G. R. S. Mead A lquimia mental lquimia mental - Ralp h M . L ewis , RR .C. A nsiedade nsiedade - U m O bstáculo Entre o H omf.m f. a F Felicidade - C ed i A. Polle, Polle, F.R.C. A ntigos ntigos M anifest anifestos os R osacruzes - Joel Disher, F.R. C. A rte A rte rte R osacruz osacruz se C ura ura à à D istância e C have P ara ara a a A rte da C oncentração e da Memorização — H. Spenc er Lew is, F.R.C., Ph. D. e Sarald en A ssim ssim S eja eja -Christian Bemard, F.R.C. A utodomínio e o D estino comos com os C iclos da V ida ida - H. Spenc er Lew is, F.R.C., Ph.D . C abala abala Desvendada , A - Frater Temporator, Escriba C onhece-tf. a ti Walter J. Albersheim a ti Mesmo - em 4 volumes — Walter C onsciência C Cósmica -Ric - Ric hard Maurice Maurice Bucke, Bucke, M.D. C riação M ental — Curso, C urso, 3 módulos — Za ne li Ram os, F.R.C. Filosofia Grega, A -S tell a Telles Telles Vital Brazil, F.R.C. F.R.C. Documentos R osacruzes Dos Erros e da V erdade erdade - Lo uis- Cla ude d e Sain t-M artin D outrinas S ecretas df. Jesús, As - //. Spenc er Lew is, F.R.C., Ph.D . D rama da Spencer, F.R.C. rama da Iniciação, O - Gertrude Spencer, Energías C ósmica e - Pedro R aú l Morales, F .R.C. ósmica e T elúrica Envenenamento M ental -H . Spencer Lewis, F.R.C., F.R.C., Ph.D. Era de de A quarius quarius, A - Ary Mé dic i Ardu íno e Rosân gela A. G. Alv es Ard uíno Espírito do E spaço, O -Z an eli Ramos, Ramos, F.R. F.R.C. C. Espiritualidade Oriente - O cidente — Phi lipp e Laure nt F eminino A tivo — Valérie Valérie Dupon t tivo, Feminino Solar — Fragmentos da Sabedoria Orientai. - em 3 volumes - Upanishads G rande Pirâmide, S abedo abedoria ria R egistrada em egistrada em Pedra , A - Salv ato re Tasca G randes Iniciadas, A s - Hél éne B em ard H ermes T rismegisto — Ensin amen tos Her métic os História da Portuguesa , A istória da A morc morc na Jurisdição de Língua P H omem - A lfa D a C Criação, O - Em 4 volume volumess - Rel ató nos do D epa rtam ento de lfa e Ômega D D
i v i n a
Pesquisas da U niver sidad e Ro se-C roix —San José, Ca lifór nia. U.S A.
Homem-D f.us, O -Jean'Baptiste Willermoz Ideal Ético dos R osacruzes osacruzes , O - Serge Toussaint, F.R.C . Iniciação ÀA stronomía - em 2 volumes volumes - Eucl ides Bor digno n stronomía Introdução À P arapsic arapsicolo ología gía - Curso Curso — Pedro R aú l Morales, F .R.C. Introdução ÀS imbologia J acob acob Boehme- O Príncipe dos F ilósofos D ivinos L egado do S aber aber , O - Ma x G uilm ot, F.R.C.
L emúria , o Continente Perdido do P acífico acífico -I V S. Cervé Linguagem Mística , A.—Edu A.—Edu ardo Teixeira Luz Q ue V f.m do Leste - em 4 volumes - Mensagen s Especiais Ro sacruze s Luz— V ida ida —A mor mor — — Mensagen s de H . Sp encer L ewis , F.R.C., Ph.D . M agia dos agia dos S onhos, A -Ad ilson Rodrigues Rodrigues,, F.R.C. M ansões - H. Spenc er Lew is, F.R.C., Ph.D . ansões da A lma lma M il A nos nos P assados -//. Spenc er Lew is, F.R.C., Ph.D . Ministériodo inistério do Homem- espírito, O - Lou is-C lau de de Sai nt-M artin M inutos de Meditação e P a 7. - Paulo de La cerda , P h. D. M isticismo - Eve lyn Und erhill Momentos de R eflexão Charles Vega Parucfyer, F.R.C. eflexão — Lo uis- Cla ude de S aint -Ma rtin Novo H omf.m, O — Ontologia dos ntologia dos R osacruzes osacruzes, A - Serge Toussaint, F.R.C. O rdem R osacruz osacruz, A morc morc em Perguntas f. R espostas espostas, A P ara V ida ara um uma a V ida M elhor —Curso, —Curso, 3 volumes — Ordem Rosacruz da Criança Princípios R osacruzes osacruzes P ara o L ar e os N egócios -//. Spen cer Lew is, F.R.C. P h.D. Processo Iniciático no Ecrro A Ecrro A ntigo ntigo, O - Max G uilm ot Q uadro N atural Lo uis- Cla ude de Sa int-M artin atural — R etorno da A lma lma , O R itmos itmos B ásicos ásicos - Pedro R aú l Morales, F.R.C. R omance omance da R ainha ainha Mística , O - Ra úl Brau n S onhos Mensageiros da A lma Blais T e m p l o DO Lo uis- Cla ude d e Sain t-M artin DO C o r a ç ã o , O — T rilogia do rilogia doss R osacruzes, A Um H abitan abitante te de D ois Pianetas - Phylo s o Tibeta no U ma A ventu ventura ra Entre os R osacruzes osacruzes - Franz Hartmann, F.R.C. Universo dos Números, O V ida Base ado nos escritos de John Fiske ida Eterna , A — V ida M ística de J esus, A - H . Spencer Lewis, F.R.C., F.R.C., Ph.D. ida M V ida - Ma rie Co relli ida S empiterna V ocê ocê M udou? — Charles Vega Parud^er, F.R.C. Vó s C onfio, A — Revi sada p or S ri Ram athe rio Z anon anonii - Ed wa rd B ulw erL ytt on
R eiação e iação de C D s
Propósito da Ordem Rosacruz
A scensão scensão C elestial - Locuçã o: T ônio Luna Á ureo Textos:: Antonio Ro berto Soares—Experimento, Soares—Experimento, H armon ização C ósmica: ureo A lvorecer lvorecer — Textos Za ne li Ra mo s —Locu ção: Tôn io Lu na
C onsciência C C ósmica - Ral ph M . L ew is—Locuçã o: Tôn io L una Em P az Profunda — Textos T extos:: João P olovanic\ —Momentos de Harmonização,
Exercício Exercícios: s:
Za nel i Ra m os —Locuçã o: O livei ra Ne tto
Enlevo E spíritu a Maestro : P aulo S. spíritu ai. —V olume olume 1 e 2 —
G. T. Pereira — Coordenação Geral:
A Or de m Ros acr uz, AM O RC é u ma org an iza ção in ter na cional, de caráter cultural, fraternal, não-sectário e nãodogmático, de homens e mulheres dedicados ao estudo e aplicação prática das leis leis naturais qu e regem o un iverso e a vida .
An ton io T ho ma zin i
Eterna C C anção anção da V ida ida - Reg ente
em “Av Av e Ma ris Ste lla": Bru no Spad oni. —Rege nte nas
demais canções: canções: Padre José Pena Iva. Iva.
Eu T e C ompreendo — Textos: Antonio Roberto Soares—Locução: Tônio Luna História do Texto e Música: Música: Suprema Grande Loja, AMO RC - Locução istória do S ecreto Eterno - Texto Tônio Luna
Illuminati - Prod ução e execução : Pl ínio de O livei ra Jerusalém -Plí nio Oliveir Oliveira a L egado do S aber Textos: Max Gu ilmo t —Adap tção: aber , — Textos:
O
Euclide s Bordignon —Locução e
montagem: Oliveira Netto
Momentos de R eflexão eflexão - Textos: Charles Vega Parucker-Locução: Tônio Luna M undo C riança - Produ ção e execuçã o: Plí nio d e Oliv eira Preciso df. ti - Texto: Euclides Bordignon —Locução: Paulo Roberto de Oliveira
e Nélson
Mart ins
Profeta , O —Volume 1 e 2 —Aut or:
Gibr an K ha lil G ibra n —Tradução: Ma nsou r Cha llita —
Seu objetivo é promover a evolução da humanidad e através do desenvolvimento das potencialidades potencialidades de cada ind ivíduo e propiciar uma vida harmoniosa com saúde, felicidade e paz . A O rde m R osac ruz oferece u m sis tema ef icaz e co mp rova do de instrução e orientação para o autoconhecimento e compreensão dos processos que determinam a mais alta realização humana. Essa profunda e prática sabedoria, cuidadosamente preservada e desenvolvida pelas Escolas de Mistérios esotéricos, está à disposição de toda pessoa sincera, de mente aberta e motivação positiva e construtiva.
Locu ção: Tô nio L una e Mari a Ang ela M olte ni
R eflexões e R elaxamento elaxamento - Volume 1 e2 —Texto: Tônio Luna - Locu ção: Tô nio Lun a S enhor - Textos Textos:: Jamil Snege - Locução: Tônio L una e Maria Angela Molteni S infonia M Mística R R osacruz P ara execução: Plínio de Oliveira ara o Tercfjro Milênio —Produção e execução: S ons ons V ocálicos ocálicos - Gravados no interior da Câmara do rei, da Pirâm ide de Quéops Vô os da A lma lma - Prod ução e exe cução: P líni o de Oliv eira
Para mais informações, os interessados podem solicitar c informativo gratuito “O Domínio da Vida”, escrevendo para: Ordem Rosacruz, AMORC Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa Portuguesa Rua Nicarágua, 2620 - Bacacheri —825 15-2 60 Curitiba - Pr —Brasil Caixa Caixa Post Postal al 4450 -825 01-9 70 Fone: (0xx41) 351-3000 Fax: (0xx41) 351-3065 e 351-3020 Site: www.a Site: www.amorc.org morc.org.br .br
A Ordem Rosacruz, AM OR C é uma Organização Internacional de caráter místico-f místico-filosó ilosófico fico,, que tem por MI S SAO despertar o potencial interior do ser humano, auxiliando-o em seu desenvolvimento, em espírito de fraternidade, respeitand respeitando o a liberdade liberdade individual, dentro da Tradição e da Cultura Rosacruz.
morte constitui, tanto no plano individual como no social, um dos principais eventos da vida. Em todas as crenças, épocas e lugares, ela é um portal cuja passagem suscita perguntas fundamentais: que há depois da morte? Que acontece com a alma alm a e a persona lidade? Seria a morte apenas uma espécie de sono? Que existe no “intervalo'' entre duas vi v i d a s ? E p o s sí vel ve l p r e p a r a r - s e par pa r a m o r r e r o u a j u d a r alguém a faze-lo? Como combater o medo da morte? E poss po ssív ível el co n t a t a r os m o r t o s ? S e a re en car ca r n a çã o exist exi ste, e, qual parte de nós reencarna? Este livro, singularmente completo, é fruto de p e s q u i s a s e f e t u a d a s n a U n i v e r s i d a d e R o s a c r u z Internacional. É uma síntese não apenas cultural e sociológica, mas também filosófica e espiritual, de reflexões sobre a morte e seus mistérios. Ele nos incita, pela pe la r i q u e z a das anál an ális ises es apr ap r esen es entt a das, da s, à co m p r e en sã o da alma e do destino humano.
\ s è DIFFUSION VRO VR O SICR SI CRUC UCIE IENN NNE E