PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação. São Paulo: Ática, 1999, p.179 a 257. Interação Social: Processos Básicos Podemos analisar nesta parte que o ser humano só existe enquanto membro participante de um grupo social. Até os animais vivem em sociedade como o caso dos passarinhos, formigas, abelhas etc. Mas o comportamento destas é predeterminado geneticamente, ou seja, tem sempre o mesmo comportamento durante as gerações. Já o ser humano modifica suas ações e até certo ponto escolhe os grupos sociais que quer participar. 1. O isolamento social e suas manifestações Este tema nos mostra claramente que nenhum ser humano ou animal consegue viver isolado. Relata-nos a respeito de duas experiências interessantes. A primeira foi realizada pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico Frederico II de manter crianças sob os cuidados de mães adotivas, mas que não falassem palavra alguma, pois queriam saber que línguas essas crianças falariam. No entanto a experiência fracassou e todas as crianças morreram. No caso poderiam até sobreviver, mas certamente enfrentaria enormes problemas de adaptação quando voltasse ao convívio social. A segunda experiência foi realizada pelo psicólogo Harry F. Harlow. Pegaram filhotes de macacos, separaram de suas mães e do convívio com outros macacos e viveram presos em companhia de uma estrutura de arame coberta de tecido que funcionou como “mãe” substituta. Quando os macacos cresceram e voltaram ao convívio
social com outros macacos alguns se tornaram apáticos e retraídos e outros hostis e agressivos. Portanto ninguém consegue viver isolado da sociedade e quando vivem desenvolvem distúrbios psicológicos. Isolamento físico O isolamento físico se refere a pessoas que são consideradas indesejáveis na sociedade como é o caso de criminosos e alienados mentais que são
colocados em prisões e manicômios e quando a situação piora é mantida em solitárias e celas individuais que impedem qualquer comunicação com o mundo exterior.
Isolamento cultural Este tema se refere tanto a grupos que vivem isolados sem comunicação, quanto a indivíduos que deixam seus grupos e migram para outros com costumes e hábitos diferentes. Quando acontece isso há um período de isolamento e adaptação que apresenta inúmeras dificuldades como problemas de comunicação, em casos de línguas diferentes, problemas de convivência humana, de trabalho. Isolamento psíquico São indivíduos que fazem parte de um meio social, pode está físico e mesmo culturalmente integrado ao grupo, mas sente-se só, não confia em ninguém para conversar ou desabafar, se isola, e para essas pessoas a única saída pode ser o suicídio. Portanto a interação social deve ser global compreendendo tanto os aspectos físicos, quanto os culturais e os psíquicos. 2. Processos de interação social Processos Sociais são os mecanismos através dos quais se dá a interação entre indivíduos e grupos, na vida social. Os processos sociais são numerosos, mas irei citar três formas de interação social: a) Entre um individuo e outro: numa conversa a dois, num carinho entre mãe e filho. b) Entre um individuo e um grupo: sala de aula em que o professor fala a todos os alunos, numa brincadeira de esconde-esconde em que um colega procura o outro.
c) Entre dois grupos: num jogo de futebol, numa disputa eleitoral. Podemos observar que alguns processos sociais ajudam a manter os grupos unidos e enquanto outros contribuem para a separação deles. Existem cinco principais tipos de processos sociais: cooperação, competição, conflito, acomodação e assimilação. Cooperação Cooperação quer dizer trabalho em conjunto. A cooperação pode ser ou não deliberada, ou seja, refletida ou discutida. No caso dos grupos indígenas caçam e pescam em conjunto e não se deliberam, mas é porque sempre viveram assim e seus costumes são sempre assim em união. Já no caso da Organização das Nações Unidas (ONU) procura-se deliberadamente promover a cooperação. Portanto devemos ensinar a nossos alunos em sala de a importância que tem a cooperação e viver em união. Até porque existem indivíduos que não gostam de cooperar e quando cooperam são porque vêem a melhor forma de atender os seus próprios interesses. Competição São grupos de indivíduos que competem entre si para ganhar algum premio. Ex: os times de futebol, grupos de alunos em sala de aula em prol de notas. A competição é um desestímulo para os que perdem e pode até gerar conflitos entre si. Conflito Conflitos são ações negativas de competidores que busca obter recompensas pela eliminação ou enfraquecimento dos rivais. Em geral o conflito pode causar prejuízos materiais ou sociais ao oponente, como a demissão do emprego e outros, ou quando se torna mais intenso pode gerar até guerras, assassinatos e mortes. Acomodação
É um dos processos sociais mais adotados na busca pela superação do conflito, ou seja, maneira de evitar o conflito. Sendo a tolerância uma das formas de acomodação, utilizada principalmente em sociedades que convivem com muitas religiões. Assimilação Com esse processo reduz-se o conflito entre grupos sociais, onde eles vão se misturando, um assimilando a cultura do outro até se tornarem um único grupo, com características culturais comuns. 3. Os motivos da interação Sabemos que as pessoas são diferentes uma das outras. Por isso, os indivíduos procuram grupos e organizações também por serem diferentes. Existem três tipos de motivos: a realização, a afiliação e o poder. No motivo de realização têm-se a necessidade de fazer as coisas, de atuar, sentir-se úteis socialmente. No motivo de afiliação consiste no desejo de estar junto com outras pessoas e com elas se relacionar de forma amiga e afetuosa. Enquanto no motivo de poder as pretensões são de influenciar as pessoas, sobrepor-se. Surgi então o líder, alguém que sabe ouvir e interpretar as necessidades e aspirações do grupo. Grupos, Instituições e Classes Sociais
1. Inúmeros grupos formam a sociedade Temos dois tipos de grupos: os grupos aos quais eu faço parte e os grupos externos, aos quais eu não faço parte. Além disso, temos também os grupos primários (onde os relacionamentos são íntimos, pessoais e tendem a ser informais e descontraídos) e os secundários (onde os relacionamentos são impessoais, parciais e utilitários). 1. Dos grupos às instituições sociais
Partindo do pressuposto que as instituições sociais é um conjunto de regras e procedimentos que regem a vida das pessoas que compõem os grupos sociais. Para isso temos a Família (lugar onde a criança nasce e que muitas vezes não dispõe de um lar organizado. Ao longo do tempo, o grupo familiar evoluiu muito desde a família consanguínea até em vários casos, à família nuclear. Sem falar nas diversas formas de casamento existente atualmente como: endogamia e exogamia, esquecendo-se da função básica das famílias que é a de educar os filhos no seio familiar); a Igreja (desde o início a igreja sempre esteve presente na história da humanidade. Onde no decorrer dos tempos, muitas religiões foram sendo organizadas tornando-se importantes e ao mesmo tempo poderosas) e o Estado (originou-se a partir do desenvolvimento e da organização de todos os setores que compõem a sociedade. Temos também os poderes: legislativo (que faz as leis); executivo (que executa as leis e administra o país) e judiciário (que julga se as leis estão sendo cumpridas ou não). 2. A estratificação social e suas formas A estratificação social é o processo através do qual os indivíduos estão agrupados de forma hierárquica, ou seja, por meio de camadas. Apresenta-se se três formas: por casta (camada social hereditária e endógama); por estamento (predominante nas sociedades feudais, é uma forma de estratificação mais aberta do que a casta) e por classe (definida economicamente, ou seja, pela quantidade de riquezas que o individuo possui). Conforme Max Weber, o sistema de estratificação faz-se mediante três ordens: econômica, social e política. 3. Marx e as classes sociais A teoria de Karl Marx sobre as classes sociais resumiu-se em seis elementos: a origem das classes sociais; a polarização; a classe objetiva e a classe subjetiva; o domínio de classe e luta de classes; classes progressistas e reacionárias e o fim do sistema de classes.
Cultura e Organização Social 1. O que é cultura? A cultura pode ser definida como a herança que determinada sociedade transmite aos seus membros por meio da educação sistemática e da convivência social. A mesma pode ser material (refere-se aos objetos transformados pelo trabalho humano) e não material (atribui significados aos objetos da cultura material). 2. Etnocentrismo X relativismo cultural O etnocentrismo considera o próprio grupo como o mais importante (centro) e as suas normas como as corretas, como meio de julgamento dos outros grupos sociais. Já o relativismo social opõe-se ao etnocentrismo, pois o mesmo não considera que nenhuma cultura seja superior ou inferior a outra. 3. Formas de organização social Trata-se de um dos aspectos da cultura de um povo, com o objetivo de conseguir os meios que garantam a sobrevivência do grupo. No passado predominou-se o comunismo primitivo (estágio que se produziu somente o necessário para a sobrevivência do grupo); o escravismo (com desenvolvimento dos grupos sociais, das técnicas e dos instrumentos de trabalho começou a haver o excedente de produção, onde algumas pessoas passaram a controlar esse excedente e a explorar o trabalho dos outros) e o feudalismo (predominou na Idade Média com o poder enfraquecido do rei multiplicaram-se os feudos havendo uma relação de reciprocidade entre o senhor e o servo). 4. Sociedade capitalista O sistema capitalista surgiu a partir do desenvolvimento do comércio e com o aumento da produção. Onde os comerciantes ou burgueses compravam as mercadorias de um preço e a revendia a preços mais altos, obtendo com isso o lucro e também o acúmulo de riquezas. O capitalismo comercial foi à
primeira fase do capitalismo, onde comprava-se de um preço e revendia-se com outro. O capitalismo industrial foi à segunda fase, que ao invés de comprar as mercadorias dos artesãos os comerciantes burgueses passaram manter suas próprias oficinas. O capitalismo monopolista foi à terceira fase, momento que aconteceu a luta pelos mercados fornecedores de matérias primas e pelos mercados consumidores. As principais características do capitalismo são: os meios de produção como objetos de apropriação individual; a regulagem da economia é descentralizada; há separação entre os empregadores e os empregados; o móvel predominante é o lucro e, os preços flutuam de acordo com mercado consumidor. No que diz respeito às críticas desse sistema irei abordar as seguintes: é um dos responsáveis pela exploração dos trabalhadores; baseia-se somente no lucro; promove a desigualdade social e é dominado pelo sistema anarquista. 5. Sociedade socialista O socialismo se opõe ao capitalismo, pois prega a reorganização social por meio da estatização dos bens e dos meios de produção. O socialismo utópico foi à primeira etapa do socialismo, porque os escritos e propostas não se basearam numa análise científica da sociedade. Foi através da obra Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels que surgiu o socialismo científico. As principais características desse sistema são: a apropriação coletiva dos meios de produção; a economia é centralizada; não há patrões e nem empregados; o móvel da economia é o bem da coletividade e os preços são controlados. Como todo e qualquer sistema também tem as suas críticas, como: os limites impostos à liberdade individual; os governantes não seriam escolhidos pelo povo e sim pelo Partido; a burocratização do Estado com a formação de uma nova classe dominante entre outras. Controle e Mudança Social 1. Controle social: o que é e como se processsa É o mecanismo utilizado por um determinado grupo ou sociedade com o
objetivo de garantir a obediência de seus membros aos padrões de comportamentos já existentes. Esse mecanismo pode ser interno (a socialização) ou externo (a pressão social e a força). Na socialização o indivíduo internaliza os padrões sociais como o agir, o pensar e o sentir. Já a pressão social influencia decisivamente o comportamento das pessoas, onde nos grupos primários ela é informal, espontânea e não planejada enquanto nos grupos secundários a mesma é formal. O controle pela força é uma das características dos sistemas autoritários, onde qualquer desvio do comportamento é tido como severidade. 2. Marginalização e controle social É através da marginalização social que acontece a exclusão dos indivíduos dos processos de tomada de decisões a respeito de sua própria vida e sobre seu país. Dentre os processos de marginalização destaca-se: o cultural (onde a herança é transmitida para seus membros por meio da aprendizagem e da convivência social; o econômico (neste caso há o controle dos processos econômicos, tendo como consequência à concentração da terra e da renda, baixos salários) e o político (neste caso a participação política dos cidadãos é limitada pela própria Constituição Federal, outras leis e as condições sociais, ou seja, não permitem que os povos participem do governo de seu próprio país). 3. A mudança social e seus processos Todo e qualquer grupo humano vive em constante mudança. Em alguns essa mudança é lenta (os menores e mais fechados), já em outros ela é rápida (os maiores e mais abertos). Portanto a mudança social resulta do trabalho humano produzindo modificações nas estruturas sociais e relação entre os membros da sociedade. Dos muitos fatores que produzem a mudança social irei elencar sobre a descoberta (conhecimento de algo já existente, mas que até então não era conhecido), a invenção (consiste numa nova combinação de elementos já
conhecidos) e a difusão (transmissão de elementos culturais de um grupo para outro). 4. Reforma e revolução Por meio dos fatos sociais podemos assumir quatro posições distintas na sociedade: a reacionária (é daquele indivíduo que acredita nos antigos padrões culturais e luta para restabelecê-los novamente); a conservadora (defende as coisas como elas estão na tentativa de atrapalhar a mudança social); a reformista (propõem pequenas mudanças nas estruturas sociais vigentes para também se beneficiar das mesmas) e a revolucionária (é sem dúvida a mais radical de todas e acarreta na mudança das próprias estruturas vigentes). Sociologia e Educação 1. O que é sociologia? Conforme o que já estudamos, podemos dizer que a Sociologia é uma das Ciências Sociais, tendo como objetivos: descobrir a estrutura básica da sociedade humana; identificar as principais forças que mantêm os grupos unidos ou enfraquecidos e verificar as condições necessárias para transformar a vida social. Abordarei alguns conceitos importantes em Sociologia como o fato social (fato anterior e posterior à existência humana); a interação social (ação coletiva entre dois ou mais indivíduos com objetivos em comuns e que os faça viver ou trabalhar juntos); o grupo social (conjunto de pessoas que se relacionam durante certo período de tempo); a estratificação social (processo que coloca os indivíduos de uma sociedade em camadas sociais); a classe social (é cada uma das camadas sociais que constitui a sociedade); a comunidade (grupo social bastante integrado com predominância de contatos primários, sendo a cultura geralmente tradicional e homogênea); a sociedade (conjunto de pessoas, grupos e instituições cujos relacionamentos são impessoais); o status social (corresponde à posição que um indivíduo ocupa num grupo ou sociedade) e papel social (conjunto de funções que cada indivíduo desempenha devido ao status que ocupa).
A sociologia tornou-se uma ciência autônoma e independente somente no século XIX, ao lado das ciências modernas. O primeiro a empregar o termo sociologia em sua obra foi Augusto Comte. Logo em seguida veio o Herbert Spencer que relacionou às sociedades humanas com a teoria da evolução de Charles Darwin. Em 1890, começou os primeiros cursos de Sociologia em universidades. Émile Durkheim contribuiu decisivamente para tornar mais rigoroso o método científico em Sociologia. Para ele o princípio fundamental da Sociologia é considerar os fatos sociais como coisas. Já Karl Marx e Friedrich Engels não se dedicaram ao desenvolvimento da Sociologia enquanto disciplina específica, eles trabalharam com elementos de outras disciplinas interligados para uma explicação geral da sociedade. 2. Sociologia e seus métodos O sociólogo utiliza vários métodos em seus estudos, dentre eles podemos citar: a experimentação (modifica uma das variáveis que influenciam o comportamento de um grupo mantendo as outras constantes); a observação (observa e registra o maior número possível de detalhes sobre os comportamentos dos grupos); o questionário (é composto de uma série de perguntas a serem respondidas por um número maior ou menor de pessoas); a entrevista (estabelece uma relação mais pessoal entre o entrevistador e o entrevistado) e o estudo do caso (utilizam-se vários métodos a fim de obter o maior número de informações sobre o fato social que está sendo estudado). O sociólogo pode dar aulas de Sociologia no ensino médio; organizar o trabalho e as relações entre os diversos grupos; orientar estudos e pesquisas de opinião pública entre outras funções. 3. A Sociologia e o trabalho pedagógico A escola não está isolada da comunidade ou sociedade que está inserida, onde a escola até certo ponto reflete as exigências estabelecidas pela sociedade. Partindo desse pressuposto, podemos dizer que a contribuição da Sociologia abrange ao menos dois pontos: o estudo dos processos e das
influências sociais envolvidas na atividade educativa e a aplicação dos conhecimentos e descobertas da Sociologia à atividade educativa.
FUNDAÇÃO ÁGORA BRASILEIRA-FUNABRA TIAGO COSTA SILVA OBS. RESENHA DESSE LIVRO