FACULDADE SOCIAL DA BAHIA Curso de Psicologia Oficina I - A Profissão de Psicólogo
PSICOLOGIA DO ESPORTE UM NOVO CAMPO DE ATUAÇÃO PARA O PSICÓLOGO
Geraldo Natanael de Lima
Orientadora: Profª Luana da Silveira
Quem quer que esteja fisicamente bem preparado pode fazer coisas incríveis com seu corpo. Mas quem junta a um corpo em forma uma cabeça bem cuidada é capaz de feitos excepcionais. Alexander Popov, melhor nadador da Olimpíada de 1996.
Salvador-Ba Abril de 2007
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SUMÁRIO
1- Introdução.................................................................................................................................. 03 2- O que é psicologia no esporte?.................................................................................................. 03 3- Histórico, áreas de atuação e pesquisa...................................................................................... 04 4- Benefícios da prática esportiva.................................................................................................. 05 5- Inseguranças dos atletas e do psicólogo.................................................................................... 06 6- Formação do psicólogo do esporte............................................................................................ 07 7- Estudo das características psicológicas dos atletas................................................................... 08 8- Interação social e trabalho em equipe....................................................................................... 10 9- Métodos utilizados na psicologia do esporte?........................................................................... 11 10- Referências Bibliográficas....................................................................................................... 15
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1- Introdução. Esta resenha foi elaborada com o objetivo de pesquisarmos o que é Psicologia do Esporte, como um novo campo de atuação dos psicólogos, realizando uma análise em cima de diversos artigos sobre esse tema. Abordaremos também algumas idéias, comentários e associações da Professora Luana da Silveira que foram enriquecidas com a bibliografia que consta no final desta pesquisa. Para Kátia Rubio, é cada vez maior o número de psicólogos que têm escolhido o esporte como campo profissional, incentivados pela regulamentação dessa especialidade profissional pelo Conselho Federal de Psicologia e pela procura crescente de atletas e clubes pela psicologia, uma vez que as exigências impostas pelo esporte de alto rendimento aumentam incessantemente. Outro indicador do aumento de interesse pela área é a organização de cursos em nível de pósgraduação, visto que a grande maioria dos cursos de graduação em Psicologia não conta em seus currículos com a disciplina Psicologia do Esporte. Ela conclui que é possível afirmar que no início do século XXI a Psicologia do Esporte no Brasil já se firma como especialidade, como área de conhecimento e como campo profissional. Não nos prenderemos a conceitos estabelecidos, entretanto esta resenha é fruto de argumentos desenvolvidos durante a pesquisa realizada. Logo, este texto expressa a nossa opinião que foi construída através de uma reflexão do visto e quem sabe, re-significado.
2- O que é psicologia no esporte? Realizamos uma pesquisa e encontramos algumas definições do que é psicologia do esporte. Para Eduardo Cillio, a psicologia do esporte é a “inserção de intervenções psicológicas visando a saúde e a satisfação dos atletas, e demais envolvidos”, “é a utilização de práticas psicológicas que visam a melhoria de desempenho, sem nos esquecermos do compromisso com a saúde”. Para Adriana Lacerda, o psicólogo do esporte é “o responsável pela preparação psicológica do atleta”. Kátia Rubio pesquisa J. Azevedo Marques & S. Junishi, 2000; S. Figueiredo, 2000; M. Markunas, 2000; S. Martini, 2000 e que afirma que: A Psicologia do Esporte tem como meio e fim o estudo do ser humano envolvido com a prática de atividade física e esportiva competitiva e não competitiva. Esses estudos podem abarcar os processos de avaliação, as práticas de intervenção ou a análise do comportamento social que se apresenta na situação esportiva a partir da perspectiva de quem pratica ou assiste ao espetáculo (1999).
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Rubio citando O. Feijó acredita que a psicologia no esporte é a transposição da teoria e da técnica das várias especialidades e correntes da Psicologia para o contexto esportivo, seja no que se refere a aplicação de avaliações para a construção de perfis, seja no uso de técnicas de intervenção para a maximização do rendimento esportivo.
3- Histórico, áreas de atuação e pesquisa. Érika Höfling Epiphanio, inicia seu artigo Psicologia do esporte: apropriando a desapropriação , afirmando que a psicologia do esporte teve início no final do século XIX e inicio
do século XX, devido a uma crescente demanda do meio esportivo. Verificou-se que devido ao alto índice de desenvolvimento técnico dos atletas, “percebeu-se que haviam atitudes psicológicas que favoreciam alguns atletas, o que motivou o início das investigações dos fenômenos psicológicos relacionados à prática esportiva” (1999, p.70). O início da psicologia do esporte no Brasil ocorreu em 1954 com um trabalho realizado para seleção de juízes da Federação Paulista de Futebol. Logo em seguida, em 1958 o psicólogo João Carvalhaes iniciou um trabalho de acompanhamento psicológico dos jogadores do São Paulo Futebol Clube, que disputou o Campeonato Mundial e ganhou o primeiro título mundial. No time do São Paulo Futebol Clube (SPFC), Carvalhaes tinha foco de trabalho a psicotécnica. Ele estudava os estados tensionais como fato que cria condições às distensões musculares. Em outra frente, pesquisava a prática e interpretação de testes de personalidade e inteligência; a organização e orientação de cursos que visem à preparação psicológica dos atletas; a orientação e instalação do laboratório de futuras experimentações e pesquisas – com recursos para medir visão estereocópica (binocular), reação psicomotora a estímulos visuais e a estímulos auditivos; cálculo de velocidade relativa; cálculo de espaços em largura e sensação quinestésica. No entanto, seu trabalho não se limita a esse estudo que parece ser mais cientifico. Caravalhaes olhava o atleta como uma pessoa e tinha preocupações sobre o lado sócio econômico, emocional, social dos atletas. O objetivo da psicologia do esporte busca uma melhor interação entre corpo e mente, buscando uma melhoria da saúde física e mental. Isso possibilita uma melhoria no desempenho dos atletas, inclusive na recuperação dos esportistas lesionados. Kátia Rubio no início do seu artigo A psicologia do esporte: histórico e áreas de atuação e pesquisa,
afirma que a “Psicologia do Esporte vem se somar à Antropologia, Filosofia e
Sociologia do esporte compondo as chamadas Ciências do Esporte” (1999, p.60). Ela enumera
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também a medicina, fisiologia e a biomecânica do esporte como profissões que atuam nesta área e defende que todas devem trabalhar em conjunto através da interdisciplinaridade. A área de atuação da psicologia do esporte inicialmente, estava voltada para os aspectos biológicos, entretanto mudou seu enfoque para a “motivação, personalidade, agressão e violência, liderança, dinâmica de grupo, bem-estar de atletas” (Ibidem), complementando as áreas social, educacional e clínica. Atuando em equipes esportivas ou junto a atletas individualmente, elaborando “os conflitos que possam prejudicar o rendimento do atleta” (1999, p.71). Existem outras áreas de atuação do enumerada por Rubio, como ... o especialista em psicodiagnóstico – faz uso de instrumentos para avaliar potencial e deficiências em atletas; o conselheiro – profissional que atua apoiando e intervindo junto a atletas e comissão técnica no sentido de lidar com questões coletivas ou individuais do grupo; o consultor – busca avaliar estratégias e programas estabelecidos, otimizando o rendimento; o cientista – produz e transmite o conhecimento da e para a área; o analista – avalia as condições do treinamento esportivo, fazendo a intermediação entre atletas e comissão técnica; o otimizador- com base numa avaliação do evento esportivo busca organizar programas que aumentem o potencial de performance (1999, p.62).
4- Benefícios da prática esportiva. Érika Epiphanio ressalta que o esporte além de prazeroso cria uma perspectiva de futuro para crianças e adolescentes carentes, que com o incentivo do governo poderão desenvolver uma profissão de esportista, retirando-os das ruas e encaminhando-os para ter uma melhor qualidade de vida. Além de tudo, os esportes são uma ótima maneira de ensinar valores importantes para o futuro, como honestidade, respeito e amizade. Com jogos e brincadeiras, até a escola fica mais prazerosa. As atividades físicas também estimulam a criatividade, alimentam os sonhos, desenvolvem o raciocínio e a coordenação motora das crianças desde os primeiros anos de vida. A pratica o esporte é muito importante e não devemos utilizar a psicologia limitadamente como ciência do comportamento. Muito mais do que isso, a psicologia pretende desenvolver e discutir com os atletas todas outras áreas de sua vida: valores pessoais, motivações e percepções. Um atleta completo não é só um homem em seu perfeito estado físico, como ser humano ele é um conjunto de corpo e mente. A prática de esportes continuamente favorece a boa circulação sanguínea e o fortalecimento do coração, além de constituir excelente opção para quem deseja não só melhorar seu condicionamento físico, mas também relaxar, divertir e trabalhar novos estímulos emocionais e corporais. Reduz as taxas sangüíneas de mau colesterol (LDL) e estimula a produção do bom
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colesterol (HDL). Fortalece ossos prevenindo osteoporose. Ajuda a controlar o estresse, torna o sono mais agradável e diminui a ansiedade O organismo melhor condicionado, melhor oxigenado permite uma vascularização do cérebro muito mais eficiente e por conseqüência aumentando o grau de agilidade do raciocínio e sua função intelectual, levando a um melhor desempenho nas tarefas e atividades que exigem discernimento, reflexão, análise e solução de problemas, maior agilidade para tomadas de decisão. Além disso o individuo praticante dos esportes, adquire longevidade, conseqüentemente uma saúde diferenciada. É de vital importância para o individuo que vai praticar exercícios, fazer um check-up médico preventivo, preferencialmente com um médico da área esportiva. Para que tudo seja bem feito é também importante o acompanhamento, o follow-up de um professor de educação física devidamente credenciado. A função do médico é a de liberar o individuo para a atividade física, dando parâmetros pra o Professor de Educação Física exercer toda a atividade com segurança.
5- Inseguranças dos atletas e do psicólogo. Benno Becker chama a atenção para a condição que algumas crianças, principalmente as carentes, no processo de seleção das escolinhas de futebol, são submetidas a pressões psicológicas e de competitividade. Eduardo Cilllio afirmou que o esporte de alto rendimento é caracterizado basicamente pela competição. Todos os esforços das pessoas envolvidas estão voltados justamente para a preparação para a competição. Quando a vitória não vem todos estes esforços são questionados e o fantasma da demissão passa a afetar os envolvidos. Um exemplo é as demissões e contratações dos técnicos e de suas comissões ao longo de uma temporada no futebol. Cillio continua sua análise relatando que quando o psicólogo chega a um clube, se ainda não tiver experiência nessa área, irá experimentar o fio da navalha por diversas vezes, se conseguir sobreviver ao primeiro corte. Não é esperado do psicólogo uma contribuição para a saúde e felicidade dos atletas, mas uma substancial melhora de rendimento. Infelizmente a figura do psicólogo ainda á associada a situações de desespero e descontrole. A contratação de um psicólogo ocorre na maioria das vezes, quando a equipe não está conseguindo ganhar, e ninguém de dentro do clube consegue explicar porque. Aí se recorre ao psicólogo esperando-se dele uma grande e objetiva solução. É bastante comum que a sua atuação ocorra sob forte pressão.
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Eduardo Cillio demonstra que a prática do esporte de alto rendimento se dá por meio de muitas cobranças voltadas à obtenção da vitória imediata. Para se atingir este objetivo passa-se por cima da saúde dos envolvidos sendo comum aumentar a carga de treinamento e forçar um atleta a jogar machucado. Ouvir o que ele quer, então, nem pensar. Para aqueles que se recusarem a partilhar destas práticas coercitivas a conseqüência mínima é a “geladeira”. O atleta vive na fronteira do desequilíbrio emocional, pois existem muitas inseguranças, medos, ansiedades, estresses, agressões humanas e somatizações no atleta. Outra questão presente na vida do esportista é a aposentadoria, pois essa é uma carreira de curta duração.
6- Formação do psicólogo do esporte. Érika Epiphanio afirma no seu artigo que existe uma deficiência na formação do psicólogo do esporte, pois a grande maioria das faculdades e universidades não possuem uma disciplina no currículo básico voltada para esta área de atuação. A psicologia do esporte ainda é uma ciência muito nova, já nas faculdades de Educação Física ela tem um tratamento diferenciado até com aulas especificas nas grades de ensino. Entretanto, ela ainda não é tratada como deveria ser nas faculdades de psicologia que deveriam ter pelo menos uma disciplina optativa que desse uma melhor noção do que esse tipo de psicólogo faz. A maioria dos artigos publicados nesta área no mundo (40 a 54%), ainda são elaborados por educadores físicos e somente (19 a 33%) por psicólogos, sendo o restante por outros profissionais como os médicos. Epiphanio ressalta que o curso de educação física prepara melhor este profissional do que o psicólogo no esporte. Hoje os psicólogos nessa área ainda encontram problemas como a raridade de materiais informativos sobre o que está acontecendo, poucos livros, má remuneração e trabalhos mal desenvolvidos por psicólogos inexperientes que trabalharam com atletas. Para executar esse trabalho é importante que o psicólogo faça um curso de extensão na área. Para Kátia Rubio, a formação de um psicólogo do esporte, são necessárias noções de anátomo-fisiologia, biomecânica e conhecimento das modalidades esportivas, regras e a dinâmica dos grupos esportivos. Kátia cita Samulski, destacando uma necessidade de uma “formação abrangente apontando como sendo quatro os campos de aplicação da Psicologia do Esporte” (Ibidem, p.62). Descreveremos abaixo então o campo de atuação profissional do psicólogo do
esporte:
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O esporte de rendimento: busca a otimização da performance numa estrutura formal e institucionalizada. Nessa estrutura o psicólogo atua analisando e transformando os determinantes psíquicos que interferem no rendimento do atleta e/ou grupo esportivo. O esporte escolar: tem por objetivo a formação, norteada por princípios sócio-educativos, preparando seus praticantes para a cidadania e para o lazer. Neste caso, o psicólogo busca compreender e analisar os processos de ensino, educação e socialização inerentes ao esporte e seu reflexo no processo de formação e desenvolvimento da criança, jovem ou adulto praticante. O esporte recreativo: visa o bem-estar para todas as pessoas. É praticado voluntariamente e com conexões com os movimentos de educação permanente e com a saúde. O psicólogo, nesse caso, atua na primeira linha de análise do comportamento recreativo de diferentes faixas etárias, classes – sócio econômicas e atuações profissionais em relação a diferentes motivos, interesses e atitudes. O esporte de reabilitação: desenvolve um trabalho voltado para a prevenção e intervenção em pessoas portadoras de algum tipo de lesão decorrente da prática esportiva, ou não, e também com pessoas portadoras de deficiência física e mental. Como crítica à psicologia do esporte, Kátia Rubio conclui seu artigo afirmando que a prática clínica é insuficiente para uma intervenção no campo da psicologia dos esportes e que é necessária uma maior abertura para o entendimento da psicodinâmica de atletas e grupos esportivos. Logo, os psicólogos do esporte devem buscar conciliar os diversos papéis, como educador, disseminando o conhecimento; como pesquisador, com interesse nas descobertas; e como clinico, para ajudar os atletas a desenvolverem estratégias psicológicas que os levem ao alto rendimento esportivo.
7- Estudo das características psicológicas dos atletas. Kátia Rubio dá continuidade a exploração do campo profissional e analisa o tipo de intervenções junto a atletas individuais e com as equipes esportivas, através das medidas de avaliação e caracterização psicológica, então ela cita Silva e destaca três perspectivas de estudo
da personalidade, que transcreveremos abaixo: A determinista: pouco adotada em Psicologia do Esporte, próxima da psicodinâmica que tem como referência autores como Freud, Jung, Adler. O traço: a personalidade dotada de características relativamente constantes que diferencia uma pessoa das demais, baseando-se em autores como Allport.
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A interacional: que busca compreender a personalidade a partir da integração das influências pessoais com as do meio em que a pessoa está inserida, tendo em Bandura um dos teóricos referenciais. Essa é a perspectiva que tem sido mais adotada nas pesquisas na última década. Estas perspectivas tomam aspectos próprios quando são avaliados os requisitos de conquista, êxito, autoconfiança, melhor concentração, preocupação positiva pelo esporte, determinação e compromisso dos atletas e da equipe, pois esses traços na personalidade nos indivíduos são considerados importantes na prática da competição esportiva. Não existe uma “personalidade ideal do atleta”, pois varia de acordo com o tipo de esporte como o individual, coletivo, esporte de contato, esporte de não contato. Rubio afirma que a motivação é a direção e intensidade de um esforço, sendo que: No contexto esportivo a direção do esforço refere-se tanto à busca individual de um objetivo quanto aos atrativos de determinadas situações. Já a intensidade do esforço refere-se ao grau de energia que uma pessoa despende no cumprimento de uma situação particular (SAGE apud RUBIO, 1999, p.64).
Ela ressalta que a motivação é uma característica específica de cada indivíduo, pois depende de fatores pessoais como a personalidade, necessidades, interesses e habilidades, assim como “fatores situacionais específicos como facilidade na prática, tipo de técnico ou orientação para a vitória ou fracasso da equipe” (RUBIO, p.64). Cada atleta reage a orientações de uma determinada maneira, pois alguns “podem se sentir mais motivados se criticados ou punidos enquanto outros podem se frustrar, deprimir ou mesmo exprimir grande raiva” (Ibidem). Kátia cita Samulski que realiza uma análise dos traços internos e externos do que pode levar um atleta se motivar. A motivação intrínseca são fatores de ordem subjetiva, que consiste na capacidade desenvolvida pelo atleta para realizar determinadas atividades, cujos determinantes são designados como vontade, desejo e determinação. A motivação extrínseca está relacionada ao meio social, a fatores externos como incentivos através de reconhecimentos, elogios, premiações que influenciam na conduta do atleta. A ativação é o nível de disposição para competir, representada pelo nível de ansiedade ou excitação antes e durante as competições, o que influencia diretamente na melhor performance do atleta. A ansiedade é a dimensão cognitiva da ativação ou o impacto emocional que apesar de indicar uma ameaça, é necessário para a pronta prontidão na execução de algumas tarefas. O
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estresse, entretanto é uma forma de ansiedade, porém com um desequilíbrio entre a demanda do meio e a capacidade de resposta. O trabalho do psicólogo é fazer com que o atleta busque o equilíbrio, tanto físico quanto mental. O psicólogo do esporte trabalha no sentido de desenvolver no atleta uma maior percepção e interação de seu corpo com a mente. Os resultados são muitos, como aumento da concentração durante jogos, diminuição do estresse, automatização de cuidados básicos, velocidade de raciocínio para melhores respostas durante o jogo, entre outras.
8- Interação social e trabalho em equipe. Kátia Rubio define que grupo é um conjunto de indivíduos que se reúne por ou para alguma coisa, através de problemas comuns e com conhecimento entre as pessoas. Ela acredita que uma equipe busca ser coesa, eficiente e eficaz, e para que isso ocorra, tem de compreender o objetivo de executar uma determinada tarefa, procurando conhecer e aprimorar suas habilidades de comunicação, cooperação e de convivência. Para se formar uma boa equipe é necessário a soma das qualidades individuais, a capacidade de coordenação do grupo, relações humanas, determinantes biológicos e aspectos técnicos e táticos. Kátia cita Carron que propõe quatro categorias para o desenvolvimento da coesão que sintetizaremos abaixo:
Determinantes situacionais: são variáveis impostas pelo meio que interferem diretamente na coesão como as renovações de contrato e mudanças de regras.
Fatores pessoais: são características individuais dos membros do grupo que podem interferir na coesão como a automotivação e a identificação com as tarefas.
Determinantes grupais: são as características da tarefa identificadas nas modalidades individuais e coletivas, às normas de produtividade do grupo, desejo de sucesso e estabilidade da equipe.
Estilos de liderança: é a interação entre a liderança desempenhada pelo técnico e os atletas. Ela é determinada pelo estabelecimento de objetivos e metas concretas, construção de um ambiente social e psicológico favorável, instrução e motivação dos membros para atingir as metas traçadas e uma boa comunicação entre os atletas e técnico. Muitas vezes possui dupla liderança complementar sendo o líder externo, o técnico e o líder interno o capitão.
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9- Métodos utilizados na psicologia do esporte? Erick Conde acredita que a prática da psicologia esportiva sofreu influência da teoria psicanalítica de Freud, a teoria Reichiana, a teoria analítica de Jung, Eric Fromm e Henry A. Murray, entre outros. Com suas raízes no behaviorismo metodológico, o modelo cognitivo foi desenvolvido por Aaron T. Beck durante a década de 60, em decorrência de estudos e da insatisfação pessoal de Beck com as formulações psicodinâmicas a respeito da depressão. A partir da observação de pacientes deprimidos, Beck notou que os conteúdos dos pensamentos e dos sonhos de tais pacientes assumiam o mesmo conteúdo negativista. Sofrendo influências da fenomenologia, do estruturalismo, da psicologia cognitiva e da teoria das emoções, o modelo cognitivo e a terapia cognitiva, surgem junto a outras formas de terapias cognitivo-comportamentais, tais como a terapia racional-emotiva de Albert Ellis, a terapia multimodal de Arnold Lazarus e a modificação cognitivo-comportamental de Donald Meichenbaum. Para Kátia Rubio a psicologia do esporte sofreu também influências diversas, sendo que ela realiza uma pesquisa com L. Angelo, 2000; E. N. Cillo, 2000; G. Franco, 2000, F. Matarazzo, 2000 e afirma que: O resultado dessa busca pela alteridade pode ser observado na diversidade de formas de atuação. Partindo da psicanálise, do cognitivismo, do behaviorismo radical, do psicodrama, da psicologia social, da psicologia analítica ou da gestalt como referencial teórico, um grupo crescente de psicólogos tem se dedicado a desenvolver a Psicologia do Esporte brasileira, considerando as particularidades das modalidades no país e dos atletas que convivem com uma realidade específica (1999).
No modelo cognitivo aplicado ao esporte, o trabalho psicológico vai focar principalmente os pensamentos automáticos disfuncionais, e os comportamentos e emoções deles derivados. O modelo cognitivo tem como objetivo em ensinar ao atleta que seus pensamentos irão influenciar suas emoções e o seu desempenho dentro do campo. Assim controlando suas emoções, proporcionará uma importante vantagem em cima de seu adversário.As crenças intermediárias e centrais não serão abordadas diretamente, pois isso só seria possível através da terapia. Logo, elas sofrerão intervenção somente nos casos em que aparecerem no formato de pensamentos automáticos (p. ex.: "eu não presto"), mas mesmo assim, tais crenças certamente sofrerão certa reestruturação em decorrência das intervenções realizadas em cima dos pensamentos disfuncionais.
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Segundo Erick Conde, após identificar um pensamento acompanhado de aflição e de reações emocionais, comportamentais e fisiológicas importantes, o próximo passo seria avaliar o pensamento, pois não se pode saber se o pensamento é realmente distorcido antes de avaliá-lo. Algumas perguntas sugeridas, denominadas de questionamento socrático, tais como: “Qual é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar isso? O que de melhor poderia acontecer? Qual é o resultado mais realista? Qual poderia ser o efeito de mudar meu pensamento? O que eu deveria fazer em relação a isso? O que eu diria a um amigo se ele estivesse na mesma situação?”. Essas perguntas além de possibilitar uma avaliação do pensamento automático, irão favorecer a reestruturação do pensamento, caso ele realmente seja distorcido, e ainda poderão ser utilizadas como intervenções em diferentes situações. Conde vai mais longe e cita Falcone: O continuum cognitivo é uma técnica que pode auxiliar muito na modificação de pensamentos polarizados (p. ex.: "eu sou o pior jogador do mundo"). A técnica consiste na construção de um continuum que vai de um extremo ao outro (de 0% a 100%), e a seguir se solicita ao atleta que especifique as características de cada extremo. Logo depois é pedido para atleta que se coloque no continuum, assim como alguns outros exemplos. Para ilustrar teríamos um suposto atleta que se considerava o pior jogador do Brasil. Quando questionado sobre as características do jogador que assume o posto de 100%, ele respondeu que seria um jogador em perfeitas condições físicas, mentais e com um nível técnico e tático acima do normal. Já, o jogador da outra extremidade do continuum, seria um jogador completamente fora de forma, com inúmeros problemas pessoais e sem nenhum conhecimento técnico e tático. Ele colocou na melhor posição o seu ídolo, um jogador profissional que já foi até campeão do mundo. Na outra ponta do continuum, o atleta colocou um jogador que atua nas categorias de base de um time pequeno, e em seguida se permitiu ocupar o posto de 50%. Esta técnica ajudará o sujeito a se avaliar de uma forma menos disfuncional (FALCONE apud RANGÉ, 2001).
Para Conde, o levantamento histórico seria uma maneira de levantar evidências contra, e a favor do pensamento ou crença disfuncional do atleta, e assim ajudá-lo a avaliar mais adequadamente determinadas situações. Por exemplo: um atleta desmotivado acha que nunca vai conseguir a titularidade, e anda pensando em desistir da carreira no esporte. Após uma análise do seu passado viu que já obteve muitos méritos importantes devido a sua dedicação. Dessa maneira, ele reavaliou seus pensamentos e passou a perceber a situação não mais como um grande problema, mas sim como um desafio a ser superado. Para Conde é necessária também uma boa capacidade de concentração. Para ajudá-lo o psicólogo pode ensinar duas estratégias muito úteis: a técnica da distração ou a da refocalização. Na refocalização, de acordo com Beck, o psicólogo ensina o atleta a voltar a sua atenção à tarefa realizada. Para exemplificar teríamos um jogador passando por problemas familiares, o qual relata desviar sua atenção para eles durante o jogo. O psicólogo deveria ensiná-lo a, assim que
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notasse sua concentração se desvanecendo, refocalizar o jogo do qual participa. Já, a técnica da distração faria com que o jogador selecionasse os eventos nos quais se atentaria, por exemplo, em um jogo realizado no campo do adversário a equipe deveria tentar se desligar da fervorosa torcida oposta, a qual provavelmente traria importantes prejuízos ao time se este interiorizasse suas provocações. Erick Conde afirmou que a visualização, mentalização ou imaginação é uma técnica que pode ser utilizada em diversas situações. Uma delas seria no atendimento individual, onde a técnica serviria para ajudar o atleta a se recordar e identificar alguns pensamentos ou emoções, ou seja, a visualização de determinada situação e seus mínimos detalhes vai ajudar o atleta a descobrir quais pensamentos automáticos estão atrapalhando sua performance, e a partir disso, corrigir tais pensamentos. Orientar o jogador ou a equipe a visualizar momentos de glórias seria uma outra forma de utilizar a mentalização, agora em prol de melhorar a auto-estima e a motivação. Conde destaca duas outras técnicas que podem ajudar aos atletas, a dramatização e as técnicas de relaxamento. O Relaxamento Progressivo de Jacobson, também chamado de Relaxamento Neuromuscular, é, segundo Becker Jr. e Samulski, uma das técnicas de relaxamento mais conhecida e aplicada no mundo. Esse método, apesar de abordar também aspectos cognitivos, é mais direcionado para a fisiologia do sujeito, o qual aprende a avaliar suas tensões em algumas musculaturas específicas e, depois, a relaxá-las. A ênfase fisiológica faz esse tipo de relaxamento se aplicar muito bem ao esporte, podendo ser usado para amenizar estados ansiosos e para auxiliar na recuperação do atleta depois de um treinamento intensivo ou de uma competição acirrada. O estabelecimento de uma aliança segura com o atleta e o trabalho colaborativo, serão fundamentais para a obtenção do êxito na preparação psicológica, portanto, a atenção, a cordialidade, a empatia e o respeito devem fazer parte do relacionamento entre o psicólogo e os atletas. João Ricardo Cozac em outro artigo defende os exercícios de visualização e técnicas visomotoras com a e laboração de análise dos dados com levantamento das demandas psicológicas. O psicólogo deve procurar informações acerca dos problemas que afetam o atleta em diferentes esferas, como na família, nas amizades, na escola e no próprio meio esportivo, com a comissão técnica e com a equipe que trabalha. Deve buscar informações sobre a condição financeira, a saúde, e a moradia e os possíveis problemas pessoais que estão refletindo no
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comportamento do atleta, dentro e fora do ambiente esportivo. Os pensamentos e crenças disfuncionais podem fazer com que o atleta apresente comportamentos disfuncionais. Kátia Rubio no seu artigo cita a Comissão de Esporte do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo que afirma que: O processo de avaliação psicológica no esporte é conhecido como psicodiagnóstico esportivo e está relacionado diretamente com o levantamento de aspectos particulares do atleta ou da relação com a modalidade escolhida. No esporte de alto rendimento, o psicodiagnóstico está orientado para a avaliação de características de personalidade do atleta, para o nível de processos psíquicos, os estados emocionais em situação de treinamento e competição e as relações interpessoais. Com o resultado do diagnóstico pode-se chegar a conclusões referentes a algumas particularidades pessoais ou grupais que oferecem subsídios para se fazer uma seleção de novos atletas para uma equipe, para mudar o processo de treinamento, individualizar a preparação técnico-tática, escolher a estratégia e a tática de conduta em uma competição e otimizar os estados psíquicos. Os métodos utilizados para esse fim podem ser tanto da categoria de análise de particularidades de processos psíquicos nos quais se enquadram os processos sensórios, sensórios-motores, de pensamento, mnemônicos e volitivos como os de ordem psicossociais nos quais são estudadas as particularidades psicológicas de um grupo esportivo, buscando revelar e explicar sua dinâmica (Comissão de Esporte do CRP-SP, 2000; A. Luccas, 2000).
Erick Conde conclui seu artigo afirmando que “existem centenas de outras contribuições teóricas muito importantes para a psicologia esportiva” e não devemos nos restringir a uma determinada técnica. Como o indivíduo é único e subjetivo devemos analisar cada caso e adequar as técnicas à realidade vivida.
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10- Referências Bibliográficas. BOCK, Ana Mercês Bahia (org.). Psicologias : uma introdução ao estudo de psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. CHEMAMA, Roland. Dicionário de Psicanálise Larousse. Rio Grande do Sul: Artes Médicas, 1995. EPIPHANIO, Érika Höfling. Psicologia do Esporte: Apropriando a Desaproriação. In: Revista Psicologia:
Ciência e Profissão. São Paulo: Ano 19, nº 3, 1999.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O Dicionário Aurélio Eletrônico-Século XXI. SP: Lexikon Informática e Editora Nova Fronteira, 1999. FREUD & LACAN. Dicionário de Psicanálise . Bahia: Ágalma, 1997. HANNS, Luiz. Dicionário Comentado do Alemão de Freud . Rio de Janeiro: Imago, 1996. JAPIASSÚ, Hilton & MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. KAUFMANN, Pierre. Primeiro Grande Dicionário Lacaniano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996. LAPLANCHE & PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise . São Paulo: Martins Fontes, 2000. ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de Psicanálise . Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. RUBIO, Katia. Psicologia do Esporte: Histórico e Áreas de Atuação e Pesquisa. In: Revista Psicologia:
Ciência e Profissão. São Paulo: Ano 19, nº 3, 1999.
SILVEIRA, Luana da. Anotações em sala de aula da disciplina oficina I - a profissão de psicólogo. Bahia: FSBA, 2007.
ZIMERMAN, David E. Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise . Rio Grande do Sul: Artmed, 2001.
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Observações: Para realizar este trabalho, foram acessados também os sites na Internet no dia 28.02.07, abaixo mencionados, para realização desta pesquisa.
Benno Becker Junior http://psicoesporte.web.zaz.com.br/
Psicologia_Esportiva http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_Esportiva
Erick Conde http://www.pauloribeiro.com.br/site/html/artigos/artigos_erick_conde.htm
Eduardo Cillio http://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/article.php?articleID=7
Adriana Lacerda http://www.pauloribeiro.com.br/site/html/artigos/artigos_adriana_lacerda.htm
João Ricardo Cozac http://www.pauloribeiro.com.br/site/html/artigos/artigos_joao_ricardo_cozac.htm
Benefícios da Prática Esportiva http://www.andi.org.br/noticias/templates/boletins/template_radiopi.asp?articleid=4831&zoneid= 25 http://www.copacabanarunners.net/perg0608.html http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=3232&ReturnCatID=1774#Benefícios %20da%20prática%20esportiva