PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA
Unidade II 5 PSICOLOGIA NA ERA DA TÉCNICA
Possibilidades de ação clínica na Era da Técnica Técnica e Téchne Bibliografia básica
POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. “A terapia e a era da técnica”. In: Os dos nascimentos do homem: escritos sobre terapia e educação edu cação na era da técnica. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011. 2011. p. 123-140. 123-1 40. Bibliografia complementar
SAPIENZA, B. T. Do desabrigo à confiança: Daseinsanalyse e terapia. São Paulo: Escuta, 2007. 6 A DASEINSANALYSE DE MEDARD BOSS
Apresentação da Daseinsanalyse desenvolvida por Medard Boss Indicação dos existenciais pertinentes ao Dasein Bibliografia básica
EVANGELISTA, P. P. A Daseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, p. 139-158. Bibliografia complementar
FEIJOÓ, A. M. A Existência para além do Sujeito. Cap. II, 2.2. “As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.”, p. 71-84. 7 PSICOLOGIA NA ERA DA TÉCNICA Possibilidades Possibilidades de ação clínica na Era da Técnica
A psicoterapia daseinsanalítica é uma prática psicológica bastante específica, cuja delimitação tem sido buscada por João Augusto Pompeia. E sua reflexão considera a psicoterapia como possibilidade de ação clínica na era da técnica. A especificidade da psicoterapia daseinsanalítica é 27
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tema desta disciplina e é mais detidamente focada nos módulos 4 e 7. Aqui, buscaremos entender o que é a Era da Técnica. Era da Técnicaé a expressão usada por Heidegger para se referir à nossa existência, à contemporaneidade. Os instrumentos técnicos e a tecnologia são uma manifestação dessa época histórica, mas não a essencial. Por esse termo, o filósofo se refere a um modo de ser no mundo (modo de habitar) por qual o ser, isto é, toda a realidade se mostra como fundo de reserva. A natureza é assumida como matéria-prima disponível para a produção. A produção torna-se um fim em si mesmo, pois o que interessa é a criação de novos produtos. Tudo é substituível. Também a existência humana é abarcada por esse modo de ser; tomado como ente natural, o homem também é recurso disponível, substituível e passível de produção. Esse modo de ser articula modos de habitar. Como tudo é tomado como produzido, isto é, gerado por uma intervenção, toda a existência é pensada como possível produto. A Psicologia habita um lugar complicado nessa época, pois, sendo uma possibilidade da Era da Técnica, assume o posto de ciência da produção do bem-viver: Ela diz o que e como fazer para otimizar sua produção, para ser alguém agregador, capaz de autocontrole, de liderança, apto para ir em busca de seus interesses. Ela ensina também que é importante que ele se valorize, e isso se chama autoestima, que ele seja dono de suas opiniões, e isso se chama pretensamente autenticidade, o ‘seja você mesmo’. (POMPEIA, 2012, p.125)
Na Era da Técnica, o controle é sentido principal da relação com outros, com as coisas e consigo mesmo. Isso aparece na procura pelo psicólogo. Os pacientes chegam pedindo métodos para controlar o que lhes escapa ao controle, seja seu corpo, sejam seus sentimentos, sejam as pessoas ao redor etc. Mas o psicólogo que fundamenta sua prática na Daseinsanalyse não pode prometer esse controle, pois não tem esse poder. A terapia daseinsanalítica “não dá garantia de um resultado, não visa à cura, e leva tempo” (p.123). Controlar é ter poder sobre algo, é dominar. Resgatando a etimologia de ‘dominar’, Pompeia (2012) mostra dominus , que significa “mestre”, “senhor”, vem de domus (casa, lar), isto é familiaridade. A terapia daseinsanalítica não pode, portanto, prometer o poder para se livrar daquilo que traz sofrimento para o paciente. Pode, outrossim, possibilitar que se aproxime e ganhe familiaridade com sua existência, que, neste momento, está restrita na luta por controlar o que faz sofrer. Atividades recomendadas
1. Leia os textos indicados. 2. Você encontra no livro Do desabrigo à confiança um relato de um processo psicoterapêutico. Descreva-o quanto aos procedimentos. A atitude da psicóloga do livro liga-se à técnica ou à techné ? Por que? 3. Acompanhe o exercício a seguir. 28
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Leia as duas afirmações a seguir e indique a alternativa que apresenta corretamente a relação entre elas. “Podendo se aproximar de si mesmo como uma história que está acontecendo, que está em aberto, é possível que surja um espaço para a esperança” (p.136). POIS
“[...] a pessoa ao chegar expressa seu desejo de que o terapeuta seja capaz de livrá-la de alguma coisa que está atrapalhando e precisa ser extirpada de sua vida... e depressa!” (p.130). A) As duas asserções são verdadeiras e a segunda é uma justificativa correta da primeira. B) As duas asserções são verdadeiras e a segunda não é uma justificativa correta da primeira. C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira e a segunda é uma proposição falsa. D) A primeira asserção é uma proposição falsa e a segunda é uma proposição verdadeira. E) Tanto a primeira como a segunda são proposições falsas. Se você leu atentamente os textos indicados, entendeu que o pedido do paciente quando chega ao psicólogo é um pedido atravessado pelas características da Era da Técnica – controle, poder, eficácia – e que o psicólogo fenomenológico existencial (Daseinsanalyse ) não corresponde a esse pedido, pois entende a história humana como possível, isto é, o futuro é aberto. Assim, ambas as afirmações estão corretas, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. A alternativa correta é a B. Bibliografia básica
POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. “A terapia e a era da técnica”. Na Presença do Sentido: uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas. São Paulo: EDUC, 2010. p. 123-140. Bibliografia complementar
SAPIENZA, B. T. Do desabrigo à confiança: Daseinsanalyse e terapia. São Paulo: Escuta, 2007. Técnica e Téchne
Discutindo a Psicoterapia na Era da Técnica (nossa contemporaneidade), Pompeia (2012) resgata a etimologia do termo técnica. Atualmente ‘técnica’ significa um conjunto de procedimentos claramente definidos para atingir um objetivo previamente delimitado. A precisão é sua principal característica. Porém, a técnica assim entendida torna-se autônoma em relação a quem a utiliza. Na filosofia grega antiga, techné era associada a todas as artes, significando a produção de algo que ainda não existia como realidade. ‘Produção’ vem de pro-ducção, levar adiante, que em grego se diz poiesis (de onde vem nosso termo ‘poesia’). A techné é uma intervenção que propicia o surgimento de algo, mas o 29
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produzido não é totalmente determinado pelos procedimentos. Critelli (2003) oferece como exemplo disto a culinária; por mais que se siga a receita, o resultado final nunca é o mesmo. Por isso, a techné está ligada ao artesanato; quem a realiza está implicado no processo de produção. A terapia daseinsanalítica não é ‘técnica’ nesse sentido contemporâneo; está mais próxima techné . O terapeuta não é alguém que realiza um conjunto de procedimentos visando um objetivo, mas sim um “parceiro na procura pela verdade da história” (p.131) do paciente. Com cada um isso pode acontecer de um modo. A ação clínica do psicólogo reconhece que os desdobramentos futuros são possibilidades, resguardando esse caráter. A história (biografia) do paciente está em aberto. Cabe ao terapeuta desvelar com ele sua história, possibilitando que os nós se mostrem e possam se desmanchar. Assim, Pompeia conclui que: O que a terapia pode fazer por alguém é aproximá-lo da verdade de sua vida, de si mesmo, e isso significa possibilitar que ele se aproprie de sua história. Apropriar-se de sua história é aceitá-la como a sua, retomar e rever os significados e os sentidos do já vivido, do que está sendo vivido agora e poder ver que o tempo está sempre aberto. (p.138) Referências bibliográficas
CRITELLI, Dulce Mara (2003) O simples milagre da vida . Folha de São Paulo , 25 de setembro de 2003. Atividades recomendadas
1. Leia os textos indicados. 2. Pompeia (2012) recorre a conceitos da filosofia antiga grega. Você já deve ter reparado que outros autores da psicologia fenomenológica existencial fazem o mesmo. Qual é o sentido disso? 3. Responda: Se a Psicologia fenomenológica não é técnica, ela deixa de ser ciência? Fundamente sua resposta na bibliografia da disciplina. 4. Acompanhe o exercício a seguir. Leia o trecho da crônica escrita por Dulce Mara Critelli para o jornal Folha de São Paulo e indique a alternativa correta, recorrendo à compreensão de técnica e de tempo descritos por Pompeia (2012). A alquimia da transformação dos alimentos no fogo tem um espírito. E esse espírito começou a ocupar a minha casa, criando aconchego e a sensação de uma casa com vida própria. Quando se usa um micro-ondas, não se cozinha. A relação que temos com o alimento é bastante impessoal. Na comida congelada, o sabor já vem decidido e é o mesmo para todos. Os cheiros ficam embutidos. O tempo é programado. Mas, quando se trata de usar o fogão, nossos sentidos são todos instigados e nos envolvem no cuidado do alimento, no cuidado do que nos alimenta. Obrigam-nos à proximidade e à intimidade com tudo com que lidamos. Cozinhamos com os olhos - que comparam e procuram cores, movimentos, 30
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texturas -, com os ouvidos - que acompanham os sons da fervura, da cebola fritando -, com as mãos que descobrem as consistências e as temperaturas -, com a boca e o nariz - que orientam na dosagem dos temperos e no ponto do aprontamento. Cozinhamos com a imaginação e com curiosidade. E o tempo não é mais a duração fria e programada controlada pelos timers e relógios nem o da nossa mera expectativa. É um tempo de espera, em que nos empenhamos ativamente na preparação de um acontecimento. É um advento. CRITELLI, D. M.. O simples milagre da vida . Folha de São Paulo, 25 de setembro de 2003. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2509200320.htm
I. Critelli se refere à sua atividade de cozinhar como uma técnica, isto é, conjunto de procedimentos descritos nos livros de receita para produzir o prato. II. A afirmação “E o tempo não é mais a duração fria e programada controlada pelos timers e relógios nem o da nossa mera expectativa.” aponta para a concepção de tempo da Era da Técnica, que é mensurável e programável. III. A frase “Obrigam-nos à proximidade e à intimidade com tudo com que lidamos.”, de Critelli (2003) sobre os alimentos, corresponde à atitude que o terapeuta daseinsanalítico propõe ao paciente em relação à sua vida. Estão corretas apenas as afirmações: A) I. B) II. C) III. D) II e III. E) I e II.
Se você leu atentamente os textos, entendeu que Era da Técnica é o termo usado por Heidegger para se referir à nossa época história. Já o termo técnica indica um conjunto de procedimentos para a produção de um fim planejado. Diferencia-se de seu sentido original – a palavra grega techné – que significa uma ação que propicia algo. A terapia daseinsanalítica não é técnica, pois não é possível prever e planejar desdobramentos existenciais. Esta terapia cuida para que o tempo seja ocasião de novos acontecimentos e isso exige que se assuma o futuro como possibilidade. Tempo, neste contexto, é ocasião. Na técnica, tempo é cálculo, permitindo o planejamento. Critelli (2003) se refere ao cozinhar como uma techné , pois o pro-duzido não depende exclusivamente dos procedimentos. Por isso, a afirmação I está incorreta e as II e III, corretas.
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Bibliografia básica
POMPÉIA, J. A.; SAPIENZA, B. T. “A terapia e a era da técnica”. In: Os dos nascimentos do homem: escritos sobre terapia e educação na era da técnica. Rio de Janeiro: Via Verita, 2011. p. 123-140. Bibliografia complementar
SAPIENZA, B. T. Do desabrigo à confiança: Daseinsanalyse e terapia. São Paulo: Escuta, 2007. 8 A DASEINSANALYSE DE MEDARD BOSS Apresentação da Daseinsanalyse desenvolvida por Medard Boss
Como já vimos, a fenomenologia-existencial é um movimento filosófico identificado com a obra de Martin Heidegger, Ser e tempo , publicada em 1927, ‘utiliza’ a metodologia fenomenológica de Husserl para mostrar e fazer ver o fenômeno da existência humana a partir de si mesmo e não de teorias. Assim, os existenciais são uma descrição fenomenológica da existência. Antes da publicação de Ser e tempo , a fenomenologia de Husserl já tinha sido ‘importada’ para as ciências psicológicas. Foi Karl Jaspers (1883-1969), psiquiatra e aluno de Husserl, que primeiramente se propôs a descrever a experiência vivenciada por pacientes internados em hospital psiquiátrico. Seu importante livro Psicopatologia geral (1913) é um marco na Psicopatologia. Nele, Jaspers segue o método fenomenológico husserliano para descrever a vivência psicopatológica como fenômeno . Além disso, manifesta uma crítica ao emprego da metodologia científico-natural na compreensão dos fenômenos humanos. A psicopatologia do começo do século XX fundamentava-se na medicina organicista e, em centros de vanguarda, na psicanálise freudiana. Ambas as perspectivas são causais e explicativas. A fenomenologia de Husserl aparece, então, como um método descritivo da experiência humana. Esse passo inicial dado por Jaspers é seguido por outros psiquiatras nas décadas seguintes, como o francês Eugene Minkowski (1885-1972) e os alemães Erwin Straus (1891-1975) e Von Gebsatel (18831974). A publicação de Ser e tempo , em 1927, traz novas possibilidades de compreensão dos fenômenos humanos, inaugurando uma ‘segunda fase’ do pensamento fenomenológico na compreensão dos fenômenos psicológicos. O termo “daseinsanalyse” aparece pela primeira vez no tratado de Heidegger. Lá, como vimos, significa uma descrição dos ‘existenciais’, que são a constituição ontológica do ser que somos. O primeiro psiquiatra a reconhecer a importância da concepção de Dasein para a psicopatologia foi Ludwig Binswanger. Em 1941, Binswanger elabora uma daseinsanalyse psiquiátrica como novo método de investigação dos fenômenos psiquiátricos. Percebe-se uma modificação no significado do conceito, que na filosofia de Heidegger era ontológico (descrição do ser) e agora se torna ôntico (descrição de modos concretos). Binswanger apóia-se em Ser e tempo para desfazer a dicotomia sujeito-objeto que, para ele, é um “verdadeiro câncer da ciência” (Boss, “Análise existencial – daseinsanalyse”).
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Segundo Binswanger, “Uma psicoterapia de base analítico existencial investiga a história de vida do doente e tratamento […]. Explica a biografia e suas particularidades patológicas […] como uma modificação da estrutura total do ser-no-mundo […]” (Binswanger, “Análisis existencial y psicoterapia”, p.459, tradução própria). Segundo Boss, a compreensão que Binswanger desenvolve de Ser e tempo é equivocada, pois confunde ôntico e ontológico, vindo a sentir a necessidade de acrescentar a relação de amor ao existencial “cura”. Revelada sua confusão, Binswanger mesmo deixa de considerar suas investigações daseinsanalíticas, preferindo considerá-las uma “antropologia fenomenológica”. Daseinsanalyse torna-se o termo para se referir ao esforço de Medard Boss, com auxílio de Heidegger,
para compreender os fenômenos humanos saudáveis e patológicos a partir da compreensão da existência humana como Dasein. Atividades recomendadas
1. Leia os textos indicados, prestando atenção para a história da fenomenologia e da fenomenologiaexistencial nos contextos clínicos. 2. Pesquise na bibliografia e pela internet sobre os autores Binswagner e Boss. Descreva a abordagem aos fenômenos psicológicos chamada de Daseinsanalyse. 3. Acompanhe o exercício a seguir. A fenomenologia-existencial inicia-se em 1927, com a publicação de Ser e tempo. Surge como filosofia, mas tem enorme repercussão nas ciências humanas, tornando-se fundamento para a compreensão dos fenômenos humanos. Na psicologia, essa influência se verifica em: a) A ênfase na descrição da vivência do outro. b) Uma nova formulação de aparelho psíquico. c) Um novo método de mensuração do comportamento humano. d) Um método de explicação da relação da consciência com o inconsciente. e) O aperfeiçoamento do método científico-natural de pesquisa na psicologia.
Se você leu atentamente os textos e compreendeu a contribuição da obra de Heidegger para a psicologia, pôde reconhecer a alternativa A como correta. A alternativa B propõe que a fenomenologiaexistencial realiza uma nova formulação do aparelho psíquico. Isso está incorreto, pois esta abordagem compreende os fenômenos psicológicos à luz do conceito de existência como ser-no-mundo. O mesmo vale para a afirmação D, pois a compreensão da existência como ser-no-mundo torna desnecessários os conceitos de consciente e inconsciente teorizados por Freud. A afirmação C está incorreta, pois considera a 33
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mensuração dos comportamentos como influenciada pela fenomenologia. A ideia da mensuração como garantia da certeza do conhecimento está presente nas ciências naturais, de modo que há psicologias que mensuram o comportamento. Por esse mesmo motivo, a afirmação E está incorreta. Bibliografia básica
EVANGELISTA, P. A Daseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, p. 139-158. Bibliografia complementar
FEIJOÓ, A. M. A Existência para além do Sujeito. Cap. II, 2.2. “As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.”, p. 71-84. Indicação dos existenciais pertinentes ao Dasein
A descrição fenomenológica da existência como ser-no-mundo possível é o fundamento da compreensão fenomenológico-existencial. O psicólogo que fundamenta o seu trabalho nesta abordagem está interessado em compreender junto ao(s) outro(s) como é seu mundo e como se lança nesse que é o seu mundo, resgatando sua condição ontológica de ser-possível. A fenomenologia-existencial não é uma teoria. Teorias são construtos hipotéticos utilizados para explicar as causas não observáveis de fenômenos observáveis. A fenomenologia é o oposto disso, pois se propõe a compreender o modo de ser do fenômeno tal como aparece. Na psicologia, isso significa compreender a existência do(s) outro(s). A descrição da existência em Ser e tempo serve como parâmetro para nortear essa compreensão. Os existenciais são coordenadas para a compreensão. Por exemplo, a vivência de um paciente será compreendida à luz de como é com-os-outros, como espacializa, temporaliza, assume sua existência como própria e singular, etc. A fenomenologia-existencial abole a noção de consciência em prol do ser-aí, que é a existência enquanto abertura de mundo. Com isso, abandona a primazia cognitiva que fundamenta grande parte da psicologia do século XX. Deixa de lado também noções preconcebidas de saúde e doença. Assim, o psicólogo fenomenológico-existencial aproxima-se da existência do outro como um ser-possível responsável por seu ser-no-mundo. Atividades recomendadas
1. Leia os textos indicados, prestando atenção para a história da daseinsanalyse e como esta fundamenta o trabalho do psicólogo. 2. Pesquise na bibliografia e pela internet artigos escritos sobre a abordagem fenomenológicoexistencial. 3. Acompanhe o exercício a seguir. 34
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA Leia o trecho a seguir, extraído do livro Psychoanalysis and Daseinsanalysis, de Medard Boss. Há boas razões para supor que a ‘análise do dasein’ de Martin Heidegger é mais apropriada para uma compreensão do homem do que os conceitos que as ciências naturais introduziram na medicina e na psicoterapia. [...] Se o pensamento daseinsanalítico de fato se aproximar mais da realidade humana do que o pensamento científico natural, poderemos encontrar algo que até hoje não encontramos na teoria sobre a psicoterapia: uma compreensão do que estamos realmente fazendo (e por que o estamos fazendo dessa maneira) quando tratamos um paciente psicanaliticamente, estando tal compreensão baseada em intuições sobre a essência do ser humano. (Boss, p.29) A compreensão de homem “mais apropriada” à qual Boss faz menção é a descrita por Heidegger através dos “existenciais”. Os “existenciais” são: a) Os aspectos cooriginários do ser-aí, tais como ser-no-mundo, ser-com-os-outros, cuidado, abertura, clareira, ser-para-a-morte. São determinações ontológicas. b) Os momentos em que o ser-aí se sente angustiado por saber que vai morrer. c) As situações em que o ser-aí descobre sua finitude, o que o leva a tomar decisões. d) Os aspectos concretos que determinam cada situação fáctica do ser-aí. e) Os momentos em que o dasein se apercebe de si mesmo como abertura para a significância.
Se você leu atentamente os textos, pôde compreender o que são os existenciais descritos por Heidegger e como aparecem na psicologia fenomenológico-existencial. São os aspectos constitutivos cooriginários da existência. Identificou, portanto, a alternativa A como a correta. A afirmação B associa os existenciais com momentos de angústia e a C, com momentos de possível singularização do ser-aí. Estão incorretas. A alternativa D identifica os existenciais a ‘aspectos concretos’, como se fossem exteriores ao ser-no-mundo, determinando-o. A alternativa E também está incorreta, pois associa os existenciais a ‘momentos’. 4. Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa de saná-las.Caso elas persistam, apresente-as ao professor nas aulas presenciais. Bibliografia básica
EVANGELISTA, P. A Daseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, p. 139-158. Bibliografia complementar
FEIJOÓ, A. M. A Existência para além do Sujeito. Cap. II, 2.2. “As tonalidades afetivas e a daseinsanalyse: Medard Boss.”, p. 71-84. 35