RAJAGOPALAN, RAJAGOPALAN, kanavillil. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão ética. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. No livro por uma lingüística crítica Rajagopalan preocupa-se em divulgar os avanços da linguística para um público mais geral: “é preciso, convencer o leigo de que vale a pena investir no estudo da linguagem e de que pensar sobre a linguagem implica , em última análise, indagar sobre a própria natureza humana e sobre a questão da cidadania . O desconhecimento sobre o que o
linguista faz leva ao público geral achar que somos acadêmicos com ideias estranhas sobre a língua. A autoridade do lingiista não amplamente aceita pela sociedade ampla, mas precisa ser conquistada e isso exige a persuasão e não o de convencimento ou divulgação das pesquisas realizadas na área em linguagem acessível; para tanto é preciso rever alguns postulados fundadores da disciplina. No lugar de divulgação deve haver uma maior interação entre o lingüista e o leigo, pois a divulgação é monológica monológica e unilateral e a interação é dialógica, dialógica, uma conversa de mão dupla. dupla. Quando me refiro a uma linguística crítica, quero me referir a uma linguística voltada para questões práticas, tendo em consideração o fato de nosso trabalho ter relevância para as nossas
vidas, para sociedade em geral. É preciso escutar o leigo e prestar mais atenção à sabedoria popular, se quisermos manter um diálogo profícuo no qual contextos aparentemente diferentes possam mostrar interação. Linguagem e ética
O pressuposto que sustenta grande parte das discussões entorno da ética é que só se pode falar em ética quando estão em discussão ações intencionais praticadas por agentes humanos no exercício de sua livre e espontânea vontade. Se enxergarmos a língua como um fenômeno ou produto natural, é difícil levar a diante qualquer discussão sobre questões éticas, mas se a encararmos como um produto ou fato social é possível. Teorizamos na tentativa de dar sentido ao mundo real e é normal que as teorias que defendemos reflitam os anseios do momento histórico , havendo compatibilidade entre a ciência e um posicionamento político-ideológico, estes que podem se abrigar por trás de teorias
aparentemente neutras; assim se torna possível perguntar os motivos secretos que estão por trás de certas teorias e que as ajudam a ganhar destaque e aceitação tanto dos membros da academia quanto fora dela. No campo da linguística os pesquisadores que lidam com a pesquisa pura tendem a relegar a um segundo plano qualquer discussão a respeito das consequências éticas de suas discussões teóricas ou mesmo negar que elas existem. Não se discute a ética dos fatos da natureza porque ela simplesmente inexiste justamente pelo fato de o linguista relegar a ética à esfera da prática.
Independente do estatuto conferido à teoria não se deve negar que a atividade formular teorias faz parte de uma prática social , por pessoas que fazem parte de comunidades específicas. As pessoas reagem umas as outras e propõem teorias atendendo certos interesses, muitas vezes ignorados por elas mesmas. Se considerarmos que a produção teórica é realizada sob certas condições sociológicas específicas, não há como excluir o fato destas refletirem os anseios e as inquietações que se mover por trás dessas des sas reflexões. Ao perguntar as considerações éticas, ideológicas e políticas que subjazem a determinadas posturas teóricas, estamos perguntando perguntando em que condições o novo saber se produz e reproduz, destacando os recortes teóricos e quais exclusões legitimam. Linguagem e identidade
O objeto da linguística é complicado de se definir. A linguística para compreender a linguagem recorre à própria linguagem enquanto outras áreas recorrem à linguagem para explicar objetos outros. Nossos conceitos relativos à linguagem foram em grade parte herdados do século XIX: Lema uma nação, uma língua, uma cultura que atualmente não corresponde a um contexto cada vez mais globalizado e de interação entre as culturas que interferem diretamente no comportamento cotidiano inclusive nosso hábitos e costumes linguísticos. Inicialmente os linguistas adotaram o princípio de que todas as línguas são funcionalmente equivalentes e essa língua
que os estudiosos adotaram não admite que as línguas l ínguas possam evidenciar instabilidades estruturais e constitutivas. O que torna o conceito clássico de língua cada vez mais difícil de lidar é que ele abriga não apenas a ideia de auto-suficiência, mas também faz vistas grosas às heterogeneidades que marcam todas as comunidades de fala. Então língua ideal e não como ela é no mundo real. Do mesmo modo que a língua é classificada em termos de tudo ou nada os falantes de uma língua também são classificados como nativos e não-nativos, excluindo a possibilidade de haver categorias mistas e indo de encontro ao fato de que o multilinguísmo tem cada vez mais se difundo. A crença de que existem dados teoricamente neutros e inocentes é um mito que ainda circula. O aumento de casos de multilinguísmo se deve a ondas migratórias envolvendo grandes massas de população no cenário mundial pós-guerra, à popularização da informática, e ao encurtamento de distancias entre os continentes, resultando res ultando no contato crescente entre povos. Linguística e a política de representação
A ideia de que a principal função a linguagem é representar o mundo é muito presente em todas as teorias. Acreditava-se que a forma declarativa da sentença exprimisse um pensamento
completo que podia ser cotejado com a realidade extralinguística para saber se era verdadeiro ou falso. A gramática gerativa postulava regras para transformar sentenças declarativas em interrogativas e imperativas, mas nunca direção oposta, pois a ideia era que a declarativa deve ser considerada como a forma canônica. A abordagem funcionalista, no modelo proposto por Halliday destaca a função ideacional da língua, a qual se refere a significado relacionado a consciência cognitiva ou aos estados de coisas verificáveis no mundo externo. Na tradição lógica, também se concentrou na forma declarativa como aquela que melhor exprime uma proposição completa. As abordagens teóricas mais atuais como a teoria do ato da fala é possível ver também uma preocupação de privilegiar a força ilocutória de asserção, esta que deveria ter o compromisso com a verdade da proposição afirmada. As teses do representacionalismo estão presentes em todas essas abordagens e “as línguas não podem escapar as suas funções representacionais e expressivas para não deixar de ser língua. Para compreender a importância do representacionalismo deve-se reconhecer que este é ao mesmo tempo uma lamentação, por afirmar a incapacidade dos seres humanos de a preenderem o mundo numeral, e uma expressão do desejo, pois elege a transparência como a condição total da
linguagem. A tese do representacionalismo se fundamenta no que Derrida chama de metafísica da presença: o lamento é, no fundo, a impossibilidade de os significados se apresentarem sem qualquer intermediação. As nossas teorias da linguagem, erguidas em sua maioria, sobre a tese do reresentacionalismo são, no fundo desejos inconfessos de superar a própria linguagem. A tese da representação também foi precursora da nossa concepção de democracia. A democracia de Atenas era o supra-sumo da representação (apresentação), pois cada cidadão representava a si próprio, se apresentava na assembleia. A implicação clara é que boa parte das deficiências dos sistemas democráticos de hoje é o fato de o povo não estar representado adequadamente. O paralelismo gritante é: exigimos transparência na conduta dos políticos do mesmo modo que procuramos tornar claro o uso da linguagem. Outra forma de pensar o paralelismo seria concluir que a representação política e a representação linguística, são apenas duas faces de uma mesma moeda. Ou seja, tese do representacionalismo é uma questão tanto política quanto linguística, ou ainda a questão linguística e a questão política seriam uma só. Assim, ao falar uma língua estaríamos nos comprometendo e participando de uma atividade eminentemente política e toda a atividade política também passaria pela questão da linguagem. Segundo a tese do representacionalismo descrita por Williams, podemos escolher entre as nossas crenças uma que possa ser reivindicada como representação do mundo independente de nossas perspectivas. Representação passa por certas escolhas conscientes, ou seja, o ser cognoscente, o ser ético estão presentes no mesmo ato de maneira inseparável.
Do ponto de vista histórico , a alternativa à tese do representacionalismo tem sido a tese da
casualidade, segundo a qual o mundo da materialidade pode ser apreendido enquanto causa de nossas sensações sensoriais. A ligação da mente com o mundo se dá por nomeação, sendo dispensado o uso de uma descrição para nomear o referente; o referente sempre se daria mediante o sentido e nunca ao contrário. A teoria causal também tem cunho ideológico-político e se destaca, entre outras coisas, como resposta política a vertente do representacionalismo que nega qualquer possibilidade de certeza. A teoria causal não nega necessariamente a tese do representacionalismo, mas põe em cheque suas teses para por em dúvida a existência material, pois ela parte de um forte compromisso com a metafísica. A alternativa mais radical à tese do representacionalismo tem sido a proposta neopragmatista, esta que diz desconhecer qualquer conotação política. Todas as formas f ormas de representação acabam tendo t endo certos desdobramentos políticos. Relevância social da linguística
Com a crise na área da linguística, há uma diminuição de verbas, fechamento de unidades e migração de profissionais para outras áreas e assim surgem diferentes questões: como por que esse desgaste, as causas são externas ou internas, é possível reverter o quadro? A primeira pergunta tem a ver com o modo como a disciplina tem se conduzido em questões sobre a linguagem. A saúde de uma disciplina se mede pela presteza com que ela consegue responder as novas realidades no mundo em que vivemos e pelo interesse que ela evidencia em atender aos anseios e preocupações típicas de cada época. Pesquisadores tomam atitudes de acordo com interesses acadêmicos sem se importar com o que o mundo lá fora pensa. No século XX houve dois momentos significativos para a linguística, a publicação da obra de Saussure na década de 1910 e o estouro da revolução chomskiana nos últimos anos da década de 1950. Isso aconteceu devido a um certo esgotamento dos arcabouços vigentes. Nesse período, a linguística viveu grandes debates sobre questões de interesses para estudiosos de diferentes áreas. De acordo com Rajagopalan, a proposta de Lyons nos fornece uma excelente pista para a estagnação que se verifica no campo da linguística: a falta de diálogos com outros domínios. Repesar os velhos caminhos em face da nova realidade que vem despontado. O imperialismo linguístico que alguns teóricos dizem ser prejudicial à sobrevivência das línguas minoritárias, deve-se as novas formas de comunicação com crescimento da informática e da comunicação satelital. O que precisa ser repensado é a tendência que se observa em alguns setores da nossa disciplina de se fechar, de se recolher dentro de si e pouco se preocupar com questões que se passam no mundo lá fora. fora.
A linguística enquanto campo de saber e de pesquisa foi criada e moldada pelo homem e esta pode sempre ser redesenhada e refeita de acordo com os anseios da época. Ou seja, a constituição da linguística como área de estudo não está em seu objeto de estudo, e a linguística enquanto área de estudo, sempre será uma atividade humana. Isto aponta para a responsabilidade do cientista, do pesquisador, e uma resposta imediata poderia ser que o único compromisso do pesquisador é com a verdade das coisas que ele estuda, não maquiando as conclusões ou omitindo dados relevantes que poderiam enfraquecer nossas hipóteses. Em seguida viria à questão do código de conduta que nos ensinaria a não plagiar, a citar todas as fontes e dar os devidos créditos a outros autores etc. Acontece que a responsabilidade do cientista não se esgota nesse bom samaritanismo acadêmico. Existe algo tão sério quanto o compromisso com a verdade que é a responsabilidade do pesquisador com a sociedade. Estes têm que que conceber investigações socialmente relevantes. relevantes. Sobre a dimensão ética das teorias linguísticas
Neste texto, o autor procura formular hipóteses de que a questão ética estaria presente no nível teórico e argumentar que a sua aceitação aceit ação tem um preço alto. A questão ética se encontra presente na própria escolha do objeto de estudo e no caso da linguística tudo começa pela definição de linguagem. A escolha teórica para responder as questões de pesquisa é determinada pela f iliação do teórico a essa ou aquela ideologia, mas isso é
algo ignorado frequentemente. Atualmente, porém no lugar de posições ideológicas nitidamente delineadas, encontramos com frequência no cenário político de hoje as posturas mistas sem os grandes ismos de uma época. Vemos o surgimento de ideologias hibridas, fato que torna difícil a caracterização das hipóteses levantadas e complica a tarefa de detectar as implicações ideológicas das teorias linguísticas veiculadas. Agora a questão é: porque ética não tem sido devidamente enfocada na literatura pertinente, havendo algumas das principais tendências da filosofia de ciência que desautorizam a hipótese? Existem três posturas em relação à teoria e a ética que serão destacadas no contexto da filosofia da ciência: racionalistas pragmatista e marxista. O primeiro termo refere-se à teoria anti-historicista. Corrente Corrente racionalista: Toda postura científica pode ter consequências éticas, ou seja, pode
provocar efeitos concretos, mas se os benefícios podem ser maléficos ou não, vai depender do uso que se faz da teoria e não da própria teoria, a qual é neura, pois não há ética no nível teórico e sim no momento de aplicar a teoria. Assim o teórico seria isento de qualquer obrigação moral relacionada ao uso efetivo de suas descobertas científicas, as quais teriam sido feitas no intuito de desvendar verdades e não de transformar o mundo. Assim, a postura racionalista se apresenta como uma racionalidade não voltada para interesses práticos.
Resposta pragmatista: De acordo com Rorty, nenhuma teoria tem alguma consequência,
pois a ideia de que a teoria possa moldar os acontecimentos não passa de sonho o qual acabou, juntamente com esperança de fundamentar uma ética com base base na metafísica. Alternativa marxista: Marx se posicionou contra a corrente racionalista, contra a tese de que
a razão seja atemporal, supra-histórico e do pensamento incorpóreo. A razão se constitui através da história, e uma filosofia não voltada para a práxis e não interessada em transformar o mundo não tem serventia. Esta última, diferentemente das duas anteriores, acredita que a teoria deve estar voltada para fins práticos que incluem a transformação da realidade. Vale destacar, porem que esta também prevê a existência de teorias descompromissadas, fato que vai contra a nossa hipótese de que todas as teorias possuem marcas de determinado posicionamento ideológico, tendo então também implicações éticas. Na medida em que o posicionamento envolve a defesa de certos valores em oposição a outros, existe uma hierarquia que que sugere distinções como: língua vs dialeto, língua vs fala, etc. Viver num mundo globalizado é, entre outras coisas, compreender que os diferentes povos do mundo estão interligados, fenômeno que tem sido chamado de transnacionalização de nossa via cultural e econômica. O outro lado dessa mesma moeda se chama desterritorialização das pessoas e suas práticas identitárias. Essa relação nasce como conseqüência do rompimento das barreiras comerciais, econômicas, culturais e a circulação de informações entre os países. Mas é ingênuo acreditar que o imperialismo e o colonialismo seja um fato histórico, pois ainda existem pretensões imperialistas e um certo discurso que serve ao acobertamento das verdadeiras intenções de certos governantes. Nunca na história a identidade linguística sofreu tanta influência estrangeira. A linguagem está sujeita a influências externas, principalmente com o avanço das tecnologias. Hoje só vive desinformado quem quer se isolar do resto do mundo. Estamos vivendo a era da informação e a linguagem está no centro. Se a identidade lingüística está em crise, isso se deve ao excesso de informação que circunda e pelas instabilidades e contradições que caracterizam não apenas a linguagem na era da informação quanto as próprias relações entre os povos e as pessoas. Vale destacar, porém, que em alguns setores é possível constatar duas tendências: a globalização e a regionalização. A segunda segunda se processa à revelia ou em resposta à primeira. Ou seja, ao mesmo tempo em que se fala em interesses globais, as nações estão procurando cada vez mais cuidar dos interesses regionais. Como indica Huntington, a política mundial esta configurada segundo linhas culturais e civilizacionais e os conflitos mais importantes não se darão entre classes sociais, ricos, e pobre etc., mas entre povos pertencentes a diferentes etnias culturais. Essa visão tem muito a ver com a identidade linguística que esta se formando a qual mostra marcas de globalização
que, segundo alguns críticos, não passam de estadunização ou uma nova ordem sob a égide norteamericana. O avanço da língua inglesa como meio preferido tem afetado as demais línguas do mundo; Philposn discute o imperialismo linguístico e fala da invasão linguística a que vem sendo submetidas as demais nações devido ao grande empréstimo linguístico. Ha quem fale de linguicídio, glotofagia, genocídio lingüístico etc.. “tanto a língua inglesa quanto a linguística estão impregnadas de ideologia de colonização. Existem também sinais de reação, com tendências contraditórias e opostas de globalização e regionalização. A identidade lingüística também esta afetada, e o traço mais visível da identidade lingüística nesses tempos é a mestiçagem. A linguística moderna ainda acredita que as mudanças na língua ocorrem por causas intrasistêmicas, por fatores internos, genéticos. Essa é uma herança da lingüística comparativa do século XIX, sendo essa uma ideia preconceituosa que é alimentada pelo desejo de pureza e pelo medo de mestiçagem. O linguista ainda não aceita acei ta a ideia de o falante ser influenciado pela globalização. Língua estrangeira e auto-estima
Quem domina uma língua estrangeira é admirado e considerado uma pessoa culta. A palavra estrangeira é comumente reservada para qualificar um língua respeitável enquanto outras são consideradas ecléticas ou dialetos. Na primeira metade do século XX a linguística quase se resumiu ao estudo de línguas exóticas. A diferença entre língua estrangeira e língua nativa depende de uma escala de valores. A lingüística encontra-se com resquícios da ideologia colonialista do século XIX oriundos de sua disciplina mãe (antropologia). A meta de domínio da língua estrangeira é de equiparar-se ao falante nativo e com a revolução chomskiana, essa afirmação tornou-se redundante: falante nativo é igual a competência perfeita e o aprendiz deve aproximar-se. A ideia de falante nativo é ideologicamente suspeita. Contrariamente a figura de nativo ou bom selvagem, o nativo que emergiu do modelo chomskiano era onipotente, fato que contribuiu para a ideologia nacionalista. A existência das línguas mistas corresponde a miscigenação crescente entre os povos e culturas do mundo. As identidades estão sendo cada vez mais percebidas como precárias e mutáveis e suscetíveis a negociação constante. As identidades acabam sofrendo o processo de renegociação, realinhamento derivado do contato com outras culturas. As línguas são a expressão da própria identidade de quem delas se apropria, logo, quem transita em diversos idiomas está redefinindo a sua própria identidade. É na linguagem e através dela que as nossas personalidades são
constantemente submetidas a um processo de reformulação.
Construção de identidades
As identidades estão sendo constantemente reconstruídas e a única forma de definir uma identidade é em oposição a outras em jogo. A identidade diz respeito não apenas aos seres vivos ou objetos concretos, pois nada impede de englobar e nglobar conceitos abstratos como o de cores. Uma disciplina também tem sua identidade e é através da reivindicação de uma identidade própria que uma disciplina nasce. Esse nascimento, porém só ocorre com a separação definitiva do campo de estudos que a abrigava até então, como é o caso da ciência moderna da linguagem que se firmou ao se desvincular da filologia ou da chamada ciência diacrônica. O surgimento da lingüística como a nova ciência da linguagem faz surgir também a figura do linguista como cientista. O discurso do linguista da recém-inaugurada disciplina reivindicando para si o titulo de cientista, é um exercício de construção de uma identidade e nessa empreitada foi necessário identificar um outro, neste caso a figura do gramático/filólogo e até hoje o linguista se auto-define em oposição a esta figura. A construção da identidade do linguista passa pela questão da política da representação.
Designação:
arma secreta, porém incrivelmente poderosa, da mídia em conflitos
internacionais
As guerras de hoje são verdadeiros shows de audiência. Na guerra do Afeganistão ficou claro a questão da censura e a maneira como a mídia manipula a notícia. A mídia imprime certas interpretações pelo simples ato de designação em determinados acontecimentos.
É no uso
político dos nomes o primeiro passo para a mídia influenciar a opinião pública a favor ou contra
algo. No momento em que é nomeado, nomeado, o objeto deixa de ser exclusivo ou único, pois o próprio ato de nomeação se encarrega de emprestar-lhe um atributo que é publicamente disponível e apto a ser aplicado a outros objetos. Se descrições são nada mais que representações verbais de atributos e se atributos são da ordem do acidente, é no nome que podemos encontrar algo pertence ao objeto de forma inalienável. O nome próprio deve estar grudado ao objeto de maneira inseparável.
Toda notícia começa com um ato de designação, de nomeação, fato comum na própria gramática que indica que primeiro se identifica o sujeito da frase para depois falar algo sobre ele. Então é preciso primeiro nomear para então dizer algo sobre o objeto. Apesar das controvérsias, as pessoas acreditam que o nome próprio está livre de qualquer marca de predicação. É no uso de nomes próprios que o ato jornalístico imprime seu ponto de vista. Quem tem a mídia ao seu lado escolhe não só os termos para designar as forças de cada lado, mas determina que é bom e mal. É a
sociedade do espetáculo. Mas eles também são sucessivos de erro, pois ao saber que uma palavra carrega em si uma carga semântica, ao usá-la, automaticamente está se invocando uma memória histórica que pode ser também contraria ao que se quer como denominação. O uso de eufemismo acaba minimizando a culpara de quem está diretamente responsável pelos atos, ao menos de quem é ludibriado pela mídia. Ao fazer uma caracterização, a imprensa também emite uma opinião sobre si, o problema então esta em o publico desavisado confundir termo como referencial e opinião com fato consumado. Tudo Tudo o que se fala depende do ponto de vista, ou seja, das filiações político-ideológicas que defende. Linguagem e xenofobia
A palavra Xenos pode significar tanto estrangeira como estranho. A ideia do outro faz parte constitutiva da maneira como conceituamos. Para os falantes de qualquer idioma, o estranho/estrangeiro é aquele com quem não se entende, ao menos com a facilidade com que se supõe para compreender a fala dos seus. É justamente a possibilidade de comunicar-se com o outro que nos leva a afirmar que falamos a mesma língua, mas não é comum alguém dizer que alguém fala outra língua simplesmente pelo fato de não nã o ter havido compreensão mesmo na mesma língua. A linguagem por si só não garante a comunicação, pois o interesse, a disposição e a vontade para interagir também estão em jogo. j ogo. Com o desenvolvimento da sociedade, foi-se criando regras de convívio, entre essas regras coercitivas estão as regras da gramática que é um esforço prescritivo para cercar o comportamento lingüístico do outro. Ninguém duvida da necessidade de regras do tipo constitutivo e regulador , sendo que o primeiro se refere a regras que constituem o comportamento e o segundo engloba todas as regras que se destinam a encobrir comportamentos indesejados. A problemática se encontra na forma como são impostas as regras do tipo regulador que são formuladas e impostas em nome de uma autoridade que nem sempre é universalmente aceita, e dai o seu caráter ca ráter arbitrário. Existe uma crença arraigada de que as línguas vivem um processo ate atingir o ponto máximo e começar a decrescer ate sumir, dando origem a outras. Ha preconceitos quanto às línguas havendo uma de prestigio e uma vulgar. vulgar. A língua é muito mais que um simples código ou instrumento de comunicação ela é uma das principais marcas da identidade de uma nação, ela e la é uma bandeira política e como todas as demais bandeiras políticas, um símbolo que está sujeito a exploração em prol de interesses obscuros. A língua é o alvo do colonizador e a bandeira do colonizado.