RESUMO SOBRE COGNIÇÃO
A cognição é a capacidade mental de compreender e resolver os problemas do cotidiano. É constituída por um conjunto de funções corticais, formadas pela memória (capacidade de armazenamento de informações), função executiva (capacidade de planejamento, antecipação, sequenciamento e monitoramento de tarefas complexas), linguagem (capacidade de compreensão e expressão da linguagem oral e escrita), praxia (capacidade de executar um ato motor), gnosia (capacidade de reconhecimento de estímulos visuais, auditivos e táteis) e função visuoespacial (capacidade de localização no espaço e percepção das relações dos objetos entre si). No paciente idoso, a avaliao cognitiva tem como um de seus objetivos
principais diferenciar o en velhecimento normal do patolgico, isto , determinar se o desempenho observado em tarefas cognitivas est dentro da faixa da normalidade para a idade e para a escolaridade do paciente, ou se indica declnio alm do esperado, o que poderia sinalizar indcios de compro- metimento. A avaliao cognitiva documenta: a presena ou ausncia de dficits cognitivos para as principais funes; o perfil do declnio em cada funo, estabelecendo a correlao anatomofuncional; e a magnitude do dficit para o indivduo na vida
real. É importante fazer a diferenciação entre a avaliao neuropsicolgica e a cognitiva. A avaliao neuropsicolgica mais abrangente e inclui a avaliao cogni- tiva, pois a primeira inclui a avaliao da personalidade, das alteraes psicolgicas e sociais que podem estar ocorrendo, enquanto a segunda ocupase, especificamente, da avaliao das funes cognitivas.
Além disso, é válido distinguir avaliao cognitiva e rastreio cognitivo. A avaliao cognitiva compre- ende avaliao ampla e aprofundada das principais funes cognitivas enquanto que o objetivo do rastreio cognitivo fazer um breve levantamento, a partir de provas rpi- das e de fcil aplicao, para que o profissional da sade possa julgar se h a indicao para a avaliao cognitiva.
Principais funções cognitivas
Atenção
A atenção é dividida em 3 componentes: a ateno sustentada (ou concentrao), a ateno seletiva e a ateno dividida. A primeira refere-se
capacidade do indivduo de manter o foco atencional em um estmulo particular e manter um padro de resposta mantendo margem possveis distraes. A ateno seletiva a capacidade de selecionar um tipo de informao mediante a excluso de out ras. E, a ateno dividida observada quando duas tarefas so realizadas simultaneamente ou quando duas fontes de informao concorrentes so selecionadas como relevantes para processamento (por
exemplo quando tentamos seguir duas conversas paralelas). As áreas do cérebro relaciondas a cada componente são: - Atenção seletiva: córtex parietal superior (representação espacial exterior); córtex pre-motor lateral (orientação e movimentos de exploração); giro do cíngulo anterior (monitoração da resposta); córtex pre-frontal (controle voluntário da atenção); córtex fronto-parietal e núcleos da base (acoplamento de novos estímulos) e núcleo pulvinar (filtro de informações relevantes das irrelevantes, localização do alvo visual, engajamento). - Atenção sustentada: tálamo e córtex frontal anterior - Atenção dividida: córtex parietal anterior, cortez pré-frontal e tálamo. Dentre as provas comumente utilizadas para avaliar os processos atencionais encontram-se os testes Dgitos Ordem Direta, Dgitos Ordem Inversa, e Cdigos da Escala de Inteligncia Wechsler para Adultos – WAIS-III, o teste de Trilhas A e B, o teste de Stroop, em suas diversas verses, e testes de Cancelamento de letras, dgitos ou figuras. Tambm utilizada a prova Controle Mental da Escala de Memria Wechsler – WMS-III.
Função executiva
Esse termo utilizado atualmente para denominar um conjunto de habilidades necessrias para o desempenho de muitos comportamentos
complexos. O sis tema executivo um conjunto cognitivo hipottico que estaria envolvido no processamento de tarefas, como planejamento, organizao, na
flexibilidade mental, no pensamento abs trato, na inibio de aes imprprias e
de informao sensorial irrelevante. Tambm esto entre as incumbncias do
sistema executivo adequar o comportamento para a resoluo de situaes do dia a dia, como: iniciativa; gerenciamento de alternativas; avaliao das consequncias; tomada de deciso; implementao; monitoramento da ao; e correo ou ajustes, quando necessrios. Alteraes das funes executivas supem comprometimentos dos lobos frontais ou desconexo com outras reas cerebrais. As mudanas no circuito frontoestriatal so, possivelmente, as causas mais significativas de reduo da
capaci- dade da funo executiva em pessoas idosas sem demncia. Na avaliao das funes executivas, so frequentemente utilizados: testes de fluncia verbal, de restrio semntica, como o da categoria animais,
quando se pede ao paciente para dizer o maior nmero possvel de animais em um minuto; ou o de restrio fonolgica, quando se solicita ao paciente dizer o maior nmero possvel de palavras comeando com as letras F, A, S, sendo um minuto para cada letra; Teste do Desenho do Relgio, que avalia funes visuoespaciais, mas tambm avalia o planejamento e a autorregulao durante a execuo; Trilhas A e B, devido ao gerenciamento e controle das aes que essas tarefas exigem; Teste de Classificao de Cartas de Wisconsin, talvez o mais clssico teste de funoes executivas, o qual exige que o paciente combine 48 cartas, dadas uma a uma, com uma entre quatro cartas modelo que variam de acordo com vrios critrios, tais como cor, forma e nmero de figuras.
Memória
De curta duração Operacional: refere-se ao arquivamento tem porrio e manipulao da informao necessria para o desempenho de uma di versidade de tarefas
cognitivas. O desempenho desse sistema requer a integridade do crtex frontal. Imediata: compreende a manuteno da informao por um breve perodo de tempo na ausncia de processamento.
De longa duração:
Memria explcita (ou memria declarativa): refere-se ao acesso consciente ao contedo da informao que pode, portanto, ser descrita verbalmente. Esse tipo de memria depende da integridade de estruturas do sistema nervoso, situadas no lobo temporal medial (incluindo o hipocampo) e diencfalo.
Memria implcita (ou memria de procedimentos): é aquela que manifesta-se por me io do desempenho, no havendo acesso consciente ao contedo da informao. Relaciona-se a execuo de tarefas que dependem de treinamento repetitivo e cuja aquisio gradual.
Habilidades visuoespaciais
Envolvem percepo na modalidade visual, auditiva, ttil e olfatria. A percepo visuoespacial parece depender da regio parietal de ambos os hemisfrios, agindo de modo complementar e coordenado já que foi
observada uma diferenciação entre os dois hemisférios cerebrais quanto suas capacidades no processamento das informações. As áreas corticais sensitivas primárias são: lábios do sulco calcarino (visão), giro temporal transverso anterior (audição), giro pós-central (sensibilidade somática geral) e parte anterior do úncus e do giro parahipocampal (olfato). As áreas de associação sedundárias sensitivas são: lobos occipital e temporal (visão), lobo temporal (audição) e lóbulo parietal superior (sensibilidade somática geral). Já as áreas terciárias compreendem todo o lóbulo parietal inferior, na região temporoparietal – também denominada área do esquema corporal.
Linguagem
Vocabulário, comunicação, fluência, nomeação e compreensão são componentes da linguagem. No idoso, um dos objetivos de se avaliar essa funo cognitiva detectar a presena ou ausncia de afasia, que compreende a inabilidade de falar apesar da presena de mecanismos vocais e compreenso preservados.
O estudo das habilidades lingusticas, como o de outras funes, marcado pela tentativa de localizar dficits em r eas cerebrais responsveis pela
compreenso e pela fala. Tradicionalmente, a produo da linguagem associada rea de Broca, localizada no lobo frontal esquerdo e a compreenso associada rea de Wernicke, no lobo temporal esquerdo. Assim, o termo afasia de Broca refere-se incapacidade de expresso da linguagem oral e/ou da escrita. Pode se manifestar como linguagem telegrfica (os vocbulos
encontram-se drasticamente reduzidos, e os com ponentes gramaticais desaparecem) ou como ausncia total de expresso de fala. Já na afasia de Wernicke, o indivduo consegue produzir um discurso normal fonologicamente, mas que no apresenta contedo, com palavras desconectadas, ou mesmo inventadas, sugerindo prejuzo da compreenso.
No modelo de linguagem mais recente, Wernicke- Geschwind, é proposto que existem conexes neurais entre as reas visuais e auditivas do crebro com a rea de Wernicke, as quais possibilitam a compreenso das informaes sensoriais que atingem o crebro; entre a rea de Wernicke e a rea de Broca; e da rea de Broca com o crtex motor. Esse modelo prev processamento
sequencial das informaes lingusticas e, consequentemente, a existncia da afasia da conduo, que ocorreria com a desconexo das reas de Broca e de
Wernicke, e que se caracterizaria pela impossibilidade de o paciente compreender a sua prpria produo lingustica.
Referências:
MACHADO, Angelo B. M. Estrutura e funções do córtex cerebral. In: MACHADO, Angelo B. M. Neuroanatomia funcional. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2006. Cap.27. p.257-74. PIRES, Emmy Uehara. Funções Cognitivas: bases neuroanatômicas e circuitarias. In: PIRES, Emmy Uehara. Ontogênese das funções cognitivas: uma abordagem neuropsicológica. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. Cap. 3. p.24-34. Disponível em:< http://www2.dbd.pucrio.br/pergamum/tesesabertas/0812172_10_cap_03.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2016.
YASSUDA, Mnica Sanches; ABREU, Viviane Peixoto Salgado. Avaliao
Cognitiva do Idoso. In: FREITAS, Elizabete Viana de (Org.). Tratado de geriatria e gerontologia. 3.ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2011. Cap. 133. p.1486-93.